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Referência
Lévi-Strauss, Claude. (1949) “O Princípio de Reciprocidade” & “Os Princípios
do Parentesco”. In: As estruturas elementares do parentesco, Petrópolis:
Vozes, pp.92-107; pp.519-537.
Capitulo 5
O capitulo se inicia com o autor comentando sobre a obra ensaio sobre a
dádiva de Mauss.
“Mauss propôs-se mostrar primeiramente que a troca se apresenta nas
sociedades primitivas menos em forma de transações que de dons recíprocos,
e em seguida que estes dons recíprocos ocupam um lugar muito mais
importante nessas sociedades que na nossa. Finalmente, que está forma
primitiva das trocas não tem somente, nem essencialmente, caráter econômico,
mas coloca-nos em face do que chama, numa expressão feliz, "um fato social
total", isto é, dotado de significação simultaneamente social e religiosa, mágica
e econômica, utilitária e sentimental, jurídica e moral.”(p.92).
O autor fala sobre as cerimonias celebradas na costa do Pacífico ao noroeste
do Canadá e do Alasca, todas as cerimônias celebradas por ocasião de
acontecimentos importantes são acompanhadas por uma distribuição de
riquezas.
Depois ele comenta sobre o Potlach, que é o ritual em que ocorre em
ocasiões especiais ,em que ocorre um banquete seguido pela troca de
presentes que são trocados pelos bens equivalentes ou recebidos que devem
dar presentes de um valor igual ou maior .essas cerimônias têm uma tríplice
função segundo o autor:
1- Proceder à restituição dos presentes anteriormente recebidos, acrescidos de
juros convenientes, que podem chegar a cem por cento;
2-Estabelecer publicamente a reivindicação de um grupo familiar ou social a
um título ou a uma prerrogativa, e ainda anunciar oficialmente uma
mudança de situação;
3-Finalmente, superar em munificência um rival, esmagá-lo, se possível, pela
perspectiva de Obrigações de retorno que se espera não poderá satisfazer, de
maneira a arrancar do rival privilégios, títulos, categoria, autoridade, prestígio.
“Hogbin observa que nem um nem outro dos parceiros retira dessas
trocas qualquer benefício material verdadeiro. "Com efeito, em certos
momentos os presentes trocados são da mesma natureza.” (p.94).
Depois o autor comenta que não é apenas nas sociedades primitivas que
acontecem as trocas reciprocas, dando primeiramente o exemplo dos índios do
Alasca, mas esta distinção está sempre em vigor na sociedade moderna,
existindo certos tipos de objetos especialmente próprios, na maioria das vezes
pelo caráter não utilitário, para serem dados como presentes.
Ele dá o exemplo dos países ibéricos e as “gifs shops”, onde são encontrados
artigos de luxo, portanto, demonstrando um domínio da reciprocidade na
sociedade moderna, dando como exemplo também o natal que seria um
gigantesco potlatch.
“Tudo se passa, em
nossa sociedade, como se certos bens, de valor de consumo não essencial,
mas aos quais ligamos grande apreço psicológico, estético ou sensual,
como as flores, os bombons, e os "artigos de luxo", fossem considera
dos como devendo convenientemente ser adquiridos em forma de dons
recíprocos, e não em forma de troca ou de consumo individual.” (p.96)
O autor fala que talvez se tenha uma objeção ao argumento e diz que está
aproximando dois fenômenos que não são da mesma natureza, porém ele
argumenta que o dom ,sem duvida constitui uma forma primitiva de troca
,mas desapareceu precisamente em proveito da troca ,exceto algumas
sobrevivências, como os convites, as festas e os presentes, que foram
abusivamente postos em relevo.
“A troca pode não ser diferentemente da exogamia nem explícita nem Imediata.
Mas o fato de que posso obter uma mulher é em última análise consequência
do fato de um irmão ou um pai terem renunciado a ela. Apenas, a regra não diz
em proveito de quem é feita a renúncia.” (p.102).
A troca aparece como uma operação à vista, ou a curto prazo (com a troca é
explícita e, ora implícita visto no exemplo uma operação a prazo mais dilatado
como nos casos em que os graus proibidos englobam os primos em primeiro
grau e às vezes em segundo grau ora, a troca das irmãs e das filhas, e o
casamento avuncular), ora, como do pretenso casamento por compra).
A troca é fechada quando o casamento deve satisfazer a uma regra especial
de aliança entre classes matrimoniais ou de observância de graus
preferenciais, ora é aberta quando a regra da exogamia reduz-se a um
conjunto de estipulações negativas, deixando a escolha livre além dos graus
proibidos Ora é caucionada por uma espécie de hipoteca sobre categorias
reservadas (classes ou graus), E no caso da proibição do incesto simples,
como é encontrada em nossa sociedade.
“Mas, seja em forma direta ou indireta, seja em forma global ou especial,
mediata ou postergada, explícita ou implícita, fechada ou aberta, concreta ou
simbólica, é a troca, sempre a troca, que aparece como base fundamental e
comum de todas as modalidades da instituição matrimonial.” (p.519).
“O valor funcional da exogamia, definida em sentido mais amplo, foi com efeito
sendo determinado e afirmado nos capítulos precedentes. Este valor é a
princípio negativo. A exogamia fornece o único meio de manter o grupo como
grupo, de evitar o fracionamento e a divisão indefinidos que seriam o resultado
da prática dos casamentos consanguíneos.”(p.520).
O autor diz que a regra da exogamia, que determina as modalidades de
formação desses pares, confere-lhes caráter definitivamente social e cultural,
mas o social poderia não ser dado senão para ser, logo em seguida,
fragmentado.
E Este perigo é evitado pelas formas mais complexas de exogamia, como o
princípio da troca generalizada, e também as subdivisões das metades em
secções e subsecções, onde grupos locais, cada vez mais numerosos,
constituem sistemas indefinidamente mais complexos.
O autor ainda diz que a endogamia tem a tendência de impor um limite ao
grupo e a criar discriminações no interior deste, portanto, a exogamia é um
permanente esforço para uma maior coesão e uma solidariedade mais eficaz e
articulação mais flexível.
Diante disto, a troca não vale somente o que valem as coisas trocadas. A troca,
e a regra de exogamia que a expressa, tem por si mesma um valor social,
fornecendo o meio de ligar os homens entre si e de superpor aos laços naturais
do parentesco os laços daí em diante artificiais, porque libertados do acaso dos
encontros ou da promiscuidade da existência familiar, da aliança governada
pela regra.
Ele dá o exemplo do casamento como essa “conjugalidade “artificial e
temporária que se estabelece em certos colégios entre jovens do mesmo sexo,
esse fato que foi observado por Balzac, que mostrou que nunca se superpõe
aos laços de sangue, mas os substitui.
O autor observa que algumas teorias da exogamia, criticadas no inicio do
trabalho, encontrou um valor e uma significação. e coloca que se a exogamia e
a proibição do incesto possuem um valor funcional permanente e coextensivo a
todos os grupos sociais, como as interpretações que lhe foram dadas pelos
homens, por mais diferentes que possam ser, não possuiriam todas uma
sombra de verdade? Assim, as teorias de McLennan, de Spencer e de Lubbock
têm, pelo menos, um sentido simbólico.
“a exogamia teria encontrado origem em tribos que praticavam o infanticídio
das filhas, sendo por conseguinte obrigadas a procurar fora esposas para seus
filhos. De maneira análoga, Spencer sugeriu que a exogamia deve ter
começado entre tribos guerreiras, que raptavam mulheres nos grupos vizinhos.
Lubbock apresentou a hipótese da oposição primitiva entre duas formas de
casamento, o casamento endogâmico, no qual as esposas são consideradas
propriedade' comum dos homens do grupo e o casamento exogâmíco, que
equipara -as mulheres capturadas a uma espécie de propriedade individual do
vencedor, dando assim nascimento ao casamento individual moderno .”(p.521).
Chegando a ideia fundamental que a exogamia tem um valor menos negativo
do que positivo, afirma a existência social de outrem, e só proíbe o casamento
endógamo para introduzir e prescrever o casamento com um grupo diferente
da família biológica certamente não é porque algum perigo biológico se ligue ao
casamento consanguíneo, mas porque do casamento exógamo resulta um
benefício social.
A exogamia deve ser reconhecida, como o elemento mais importante desse
conjunto solene de manifestações que, contínua ou periodicamente,
asseguram a integração das unidades parciais no interior do grupo total, e
exigem a colaboração dos grupos estrangeiros.
Tais são os banquetes, as festas, as cerimônias de diversas espécies que
formam a trama da existência social.
“Mas a exogamia não é apenas uma manifestação incluída no meio de muitas
outras, pois as festas e as cerimônias são periódicas, e a maior parte delas
correspondem a funções limitadas.”(p.521).
“ A lei da exogamia, ao contrário, é onipresente, atua de maneira permanente e
contínua, e, ainda mais, refere-se a valores as mulheres que são os valores por
excelência, tanto do ponto de vista biológico quanto do ponto de vista social, e
sem os quais a vida não é possível, ou pelo menos fica reduzida piores formas
de abjeção. .”(p.521).
“Não é, portanto, exagerado dizer às que essa lei é o arquétipo de todas as
outras manifestações com base na reciprocidade, que fornece a regra
fundamental e imutável mantenedora existência do grupo enquanto
grupo. .”(p.521).
“A proibição do Incesto menos uma regra que proíbe casar-se com a mãe, a
irmã ou a filha do que uma regra que obriga a dar a outrem a mãe, a Irmã ou a
filha. É a regra do dom por excelência. É realmente este aspecto,
frequentemente demasiado desconhecido, que permite compreender o caráter
dela. .”(p.522).
O autor diz que todos os erros de Interpretação da proibição do incesto derivam
da tendência a ver no casamento um processo descontínuo, que tira de si
próprio, em cada caso Individual, seus limites e possibilidades.
O autor observa que uma relação não pode ser isolada arbitrariamente de
todas as outras, e também não é possível que o indivíduo se mantenha aquém
ou além do mundo das relações. O meio social não deve ser concebido como
um quadro vazio no interior do qual os seres e as coisas podem ser ligados, ou
simplesmente justapostos.
“O meio é inseparável das coisas que nele habitam. Em conjunto constituem
um campo de gravitação onde as cargas e as distâncias formam um conjunto
coordenado, e onde cada elemento, ao se modificar, provoca a alteração do
equilíbrio total do sistema.” (p.523).
“Não existe, portanto, Solução possível para o problema do incesto no interior
da família biológica, mesmo se supusermos esta última já situada em um
contexto cultural que lhe impõe suas exigências especificas” (p.526).