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PENSARA IMAGEM
Georges Didi-Huberman
Jacques Rancière
w.J.T. Mitchell
Horst Bredekamp
Hans Belting
Emanuele Coccia
Jean-Luc Nancy
Marie-José Mondzain
Gottfried Boehm
Emmanuel Alloa
Traduçao
Carla Rodrigues lcoordenaçãol
Fernando Fragozo
Alice Serra
autêntica
Marianna Poyares
As imagens querem realmente viver?
Jacques Rancière
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somente pelo cNercício dialético. Segundo essa logica, as imagcns
Cxibiriam ao nmesnmo tempo a 11nconsistencia das aparencias sensíveis
a dissipar c a consistência de um mundo de dOminação reversível
pelos explorados, armados pela dialética. As imagens não seriamn nada
somente simulacros sem vida - e seriam tudo: a realidade da vida
alienada. a consisténcia do mundo das ligaçocs sociais fundadas sobre
a exploraçào. A operaçao que desvelaria seu nada estaria garantida
por uma aposta ao mesmo tempo na calma do conhecimento que
a
desqualificação da imagem visível (MiTCHELL, 2009). Ele esclareceu
forma em que uma certa modernidade
pode se construir, privile-
a
escolhida por Mitchell. Isso quer dizer que ele escolheu responder.
de uma torma privilegiada, a uma certa critica das imagens, aquela
194 FILOESTETICA
aquela do corpo orgânico estruturado por uma lógica da falta; a outra
é a do virus proliferador
A vida que Mitchell reivindica para as imagens oscila entre
dois polos. ) desejo que ele lhes atribi oscila da mesma maneira
entre a expressao de uma falta e de uma vontade e a afirmaçio scho-
penhauriana de unma vida que prolifera sem finalidade. Em um polo,
há uma vida que se prova por sua falta de vida: a imagem é vivente
precisamente porque a ela falta vida, ela precisa de nós para ser o
organismo do qual ela ainda é a sombra desencarnada. Assim como
esse Tio Sam que reclanma o sangue dos jovens americanos. Ele não
o reclama como unpai que usaria seus velhos direitos de patriarcas
ou da màce påtria-revolucionária sobre a vida de seus filhos. O tio
necessita desse sangue precisamente porque ele nào é um
pai e por-
que seu próprio sangue está seco, portanto, ele não pode simbolizar
o organismo comunitário sem fazé-lo com a sua carne e o seu san-
gue (MITCHELL, 2005, p. 37). O jovem tio se torna um vampiro, e a
imagem em falta se aproxima de outra figura da imagem vivente, a
imagem como vírus proliferante, se amparando na vida dos indivíduoos
como essa cortina americana que, sobre a fotografia de Robert Frank,
corta as cabeças
dos habitantes de Hoboken. Mas o vírus se
hospeda
na cabeça dos artistas e encontra sua imagem matricial nessas nuvens
gue tazem com que o corpo de William Blake pareça em turbilhão.
Eo virus de nossos computadores aparecem menos como artefatos e
como falhas das máquinas, tormas de vida
as uma orgnica que
retomam seus direitos sobre o código informático.
O pictorial tun é, então, menos um retorno imaginário do pen-
samento contemporâneo do que uma volta da máquina dialética, a
transtormar as imagens e a vida em linguagem codificada. Tal será,
no fundo, a tese de Mitchell: a máquina que quer produzir a vida
artificialmente produz de fato um novo tipo de imagens, que detine
uma nova potência da vida, de uma vida que não se deixa separar de
imagens e de seus monstros, de suas doenças e de suas mitologias.
E que, em todo caso, ele ilustra com a figura de um clone. A vida
produzida pelo artificio dos sábios não é qualyuer vida. Ela é aquela
de uma ovelha, do animal oferecido em sacriticio, mas tanmbém do
anmal simbolizando o Deus que morre e ressuscita por realizaão
do corpo da lgreja e da ressureição final dos mortos.
196 FILOESTETICA
lhavia absorvido a energia, cla mesma se tornou ficção. E a derrubada
das torres havia sido antecipada em sua existência como duble, que
fazia de cada uma o clone da outra. A queda das torres comprovaria
que elas eram imagens às quais toda nossa realidade atual se volta. Elas
atestariam a tendéncia suicida carregada por essa realidade. Mitchell
retoma o argumento da equivalência entre imagem e realidade. O
terrorismo nào é o vírus da irrealidade que leva a realidade a con-
trontar sua propria morte.
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FILOESTÉTICA
experincia estética, de uma experiêincia livre do jogo e da indiferença
oferecida a todos. E a virtude política dessa indiferença que Hegel
consagra quando ele exalta, em um quadro de Murillo que representa
a inocencia olímpica desses pequenos mendigos de Sevilla, crianças
esfarrapadas, que nào fazem nada e com nada se preocupam. Nada
fazer, tal é a virtude paradoxal, a virtude indissoluvelmente estética
e política das imagens.
E ainda essa virtude da indiferença da imagem que oferece sua
força na imagem de Barbara Kruger. O rosto de uma mulher com
raiva franzindo a sobrancelha e lançando um olhar violento ao homem
agressor pode ser eticaz "na vida". Não tem nenhuma eficácia como
imagem. As feministas que querem denunciar o estatuto da mulher
no mundo da arte preferem, não sem razão, a máscara do gorila. Mas
o gorila de Guerrilla Girls se dá como emblema, não como obra. O
perfil de mármore de Barbara Kruger se dá como obra politica. Mas
se ele pode fazè-lo, é por unir dois estatutos oposto da imagem. O
artista construiu sua imagem articulando duas ambiguidades: a do
perfil do qual não se sabe se ele distorce a dignidade do olhar ou se
ele afirma imediatanmente sua independência em relação a ele; a do
texto, do qual não se sabe se ele denuncia a agressäo que ainda bate
no perfil que escapa ou se ele afirma que ele estará sempre ao lado de
sua mira. Mas essa construç o de imagem como operação polêmica é
uma faca de dois gumes, e só é possível apoiada sobre uma primeira
camada imagética, sobre uma indiferença, uma ""ociosidade" funda-
mental da imagem. A operação polêmica pode fiuncionar porque a
imagem neutraliza o que distingue a mulher - aqui permanecendo
e de pensamentoS
concentrados presentes à mesma
corpos viventes
Referências
MITCHELL, W. T.J. Picture Theory. Chicago: Chicago University Press, 1994.
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