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Agricultores espoliados
Aquela terça-feira, na verdade, não foi exatamente o início da Coopavel. Era só o
resultado final de inúmeras tratativas que vinham já desde 1953.
Produzidas pelas alterações no sistema de vida rural e o desenvolvimento do
capitalismo no campo, uma série de dificuldades sugeriam aos agricultores a
impossibilidade de continuarem produzindo e negociando a produção de forma
isolada.
Humildes, sem acompanhar as cotações de mercado, os produtores ficavam
sujeitos ao preço ofertado pelo cerealista ou às condições impostas pelos
compradores esporádicos ou periódicos.
Ofereciam preços defasados, combinando o pagamento após a venda dos
produtos nas centrais de compra e davam calote, arruinando as famílias de
agricultores que confiaram e acabavam no desespero, sem meios de sobreviver até a
próxima colheita.
Por um voto
Em novembro de 1952, o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos perdeu por um
voto a eleição para a Prefeitura. A vitória coube ao agropecuarista José Neves
Formighieri. Para manter unido o grupo derrotado em torno de uma causa, Tarquínio
idealizou a Associações Rural de Cascavel, criada em 3 de janeiro de 1953.
A ARC nasceu tendo por metas a defesa dos agricultores e pecuaristas, já com a
intenção de plantar os alicerces do cooperativismo, na época acusado de ser “coisa de
comunista” pelos atravessadores que exploravam os agricultores desunidos e
desinformados.
Polarização rural
O prefeito Neves Formighieri, ao contrário de ver a ARC como adversária,
apresentou-se para se associar e apoiar a entidade em seus propósitos.
Encontrou lá o presidente da ARC, Antônio Simões de Araújo, mediando um forte
debate deflagrado entre o ex-presidente Antônio Reis, que já havia acompanhado o
processo de formação da Copacol, e o segundo vice-presidente da ARC, Lindolfo
Limberger, a respeito da viabilidade do cooperativismo no Oeste.
Reis suponha que o cooperativismo, sendo polêmico, iria desunir os agricultores, o
que traria prejuízos para a entidade. A perseguição política no pós-1964 esvaziou a
entidade, que passou a ser vigiada por uma tutela militar. Por isso Reis estava cético
em relação aos rumos cooperativistas. Disse que “o povo do Oeste não tem cultura
suficiente para ter uma cooperativa”.
O desânimo de Reis com a ditadura não lhe permitiu ver que dentro do regime
havia tensões e disputas internas. O cooperativismo, na verdade, era cogitado tanto
pelos novos governantes quanto pela oposição.
Problemas e limitações
Vários membros da Associação Rural já entendiam que o cooperativismo poderia
ser melhor, porque todos os dias apareciam pessoas bem vestidas e com propostas
de lucros fáceis em investimentos imediatos, resultando em mais prejuízos.
O cooperativismo já se apresentava como a salvação dos colonos, mas muitos
humildes agricultores que perderam muito por confiar em terceiros preferiam tocar
os negócios dos sítios apenas com o controle absoluta da família.
No início de 1967 as propostas cooperativistas de Queiroga foram derrubadas por
uma questão de direito: a Associação Rural não podia criar uma cooperativa, que
precisaria ter a chancela do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (Inda),
atual Incra, ao qual cabia autorizar a criação e funcionamento de cooperativas no
país.
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Fonte: Projeto Livrai-Nos!
(Leia amanhã: Um primeiro ano desafiador)
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02 (AI Coopavel)