Outra avaliação válida para o hipertenso é o exame de fundoscopia óptica. A classificação
mais utilizada divide a retinopatia hipertensiva em 4 graus, de acordo com a severidade do acometimento. O Grau I relaciona-se mais com níveis pressóricos passados, enquanto os de Graus II e III se relacionam mais com níveis pressóricos atuais. O Grau IV se correlaciona com urgências/emergências hipertensivas. Estabelecido o diagnóstico de HAS, a avaliação deve ser focada em 3 aspectos: 1. Estratificação de risco de DCV: é feita considerando-se vários fatores – os níveis pressóricos, a presença de fatores de risco para DCV e a lesão de órgãos-alvo. A partir da estratificação (risco cardiovascular), estabelece-se a abordagem terapêutica. 2. Avaliação complementar – seus objetivos são: a) Confirmar o diagnóstico de HAS; b) Avaliar lesões de órgãos-alvo; c) Identificar fatores de risco para DCVs; d) Diagnosticar doenças associadas à HAS; e) Diagnosticar causas secundárias. 3. Determinação da probabilidade de causa secundária: deve-se suspeitar de hipertensão de causa secundária nos casos de início precoce (antes dos 30 anos), tardio (após os 50 anos), ausência de história familiar, descontrole inesperado da PA e hipertensão refratária. Outros sinais que podem estar presentes são: a) Início da hipertensão antes dos 30 anos ou após os 50; b) Hipertensão arterial grave (estágio 3) e/ou resistente a terapia; c) Tríade de feocromocitoma: palpitações, sudorese e cefaleia em crises; d) Uso de medicamentos e drogas que possam elevar a PA; e) Fácies ou biótipo de doença que cursa com hipertensão: doença renal, hipertireoidismo, acromegalia e síndrome de Cushing; f) Presença de massas ou de sopros abdominais; g) Assimetria de pulsos femorais; h) Aumento da creatinina sérica ou taxa de filtração glomerular estimada diminuída; i) Hipopotassemia espontânea, não relacionada a uso de diuréticos; j) Exame de urina anormal (proteinúria ou hematúria); k) Sintomas de apneia durante o sono.
A doença parenquimatosa renal é a principal causa de HAS secundária, em especial a
glomerulopatia diabética e a glomeruloesclerose segmentar focal idiopática. Antes de investigar causa secundária, devem-se excluir medida inadequada da PA, tratamento inadequado (não adesão) e interação com medicamentos. Deve-se suspeitar de doença renovascular em casos de início precoce (antes dos 30 anos), tardio (após os 50 anos), presença de sopro abdominal (epigástrico), presença de insuficiência arterial periférica e piora de função renal com inibidores da enzima conversora. O exame de eleição para o diagnóstico é a arteriografia; testes não invasivos, como a ultrassonografia com Doppler de artérias renais, a cintilografia renal com DTPA (com ou sem teste do captopril) e a angiorressonância, também podem ser utilizados. Para a doença fibromuscular, o tratamento de escolha é a angioplastia com stent. Na doença aterosclerótica, grande parte dos indivíduos permanece hipertensa, mesmo após restauração do fluxo renal. A angioplastia está indicada apenas quando houver hipertensão refratária ou perda de função renal. O feocromocitoma, caracteristicamente, apresenta-se de forma episódica e é acompanhado de intensos sinais de ativação adrenérgica. O diagnóstico pode ser feito por meio da dosagem de catecolaminas na urina, ou no plasma, ou de seus metabólitos, como a metanefrina. O hiperaldosteronismo primário ocorre, geralmente, por adenoma de suprarrenal ou hiperplasia. Deve-se suspeitá-lo na presença de hipocalemia e baixo nível de renina plasmática. Antes considerado causa rara de hipertensão, alguns acreditam ser a principal causa de hipertensão secundária atualmente. Outros distúrbios endócrinos, como a síndrome de Cushing, a acromegalia, o hipertireoidismo e o hipotireoidismo também podem iniciar sua apresentação com hipertensão arterial. O hipotireoidismo está associado a elevação do valor diastólico da PA pelo aumento da resistência vascular periférica, redução do débito cardíaco e da frequência cardíaca, causando a convergência dos valores pressóricos sistólico e diastólico (PA convergente). No hipertireoidismo, é comum a elevação do valor da PA sistólica pelo aumento do débito cardíaco e da frequência cardíaca e pela redução da resistência vascular sistêmica (PA divergente). A coarctação da aorta é uma situação rara em adultos, e a hipertensão arterial associada à gestação também caracteriza uma forma secundária de hipertensão. A síndrome da apneia obstrutiva do sono também pode ser causa de hipertensão arterial por aumento do tônus adrenérgico determinado pelo sono de má qualidade e quebra do ritmo circadiano fisiológico, em que ocorre redução dos valores tensionais durante o sono. Algumas drogas podem determinar elevação da PA, como ciclosporina, prednisona, eritropoetina e outras.
Solicitação e Interpretação de Exames Laboratoriais: Uma visão fundamentada e atualizada sobre a solicitação, interpretação e associação de alterações bioquímicas com o estado nutricional e fisiológico do paciente.