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Efeitos do envelhecimento e do exercício físico

sobre o colágeno do músculo esquelético humano


*
Effects of aging and physical exercises
on the collagen of human skeletal muscle
Satiko Tomikawa Imamura
1

, Marta Imamura
1

e Elda Hirose-Pastor
2

ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE


RESUMO

O significativo aumento da expectativa de vida e o crescente interesse por programas


de exercícios terapêuticos e atividade física para idosos despertaram o interesse para o
estudo dos efeitos destes últimos sobre o aparelho locomotor, especialmente sobre o
colágeno muscular. No passado, acreditava-se que o tecido conjuntivo era composto
basicamente por substâncias inertes, cuja função principal seria a de fornecer suporte
para os tecidos do organismo. Sabe-se, atualmente, que o tecido conjuntivo é uma
estrutura viva, biologicamente ativa, que realiza funções biomecânicas, capaz de
adaptar-se e alterar sua estrutura em resposta aos estímulos externos, como a
atividade física, por exemplo. O colágeno muscular desempenha uma variedade de
funções mecânicas, imunológicas e de reparação tecidual. Exerce, ainda, um papel
importante na transmissão da força produzida pela contração muscular ativa em
músculos com diferentes funções. No idoso ocorre o aumento na quantidade do
colágeno, que se torna mais firme e estável em decorrência da maturação
das ligações cruzadas intermoleculares. Essas variações contribuem para a melhoria
das propriedades físicas e mecânicas do tecido. Na presente revisão são descritos
aspectos relacionados aos efeitos do envelhecimento e da atividade física sobre o
colágeno muscular humano.

Palavras-chaves: envelhecimento, colágeno, matriz extracelular, exercícios físicos,


músculo

Trabalho realizado na Disciplina de Reumatologia e Departamento de Ortopedia e


Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo. Recebido em 10/9/98. Aprovado, após revisão, em 26/1/99.
1. Assistente Doutora do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
2. Professora Doutora em Reumatologia pela FMUSP.

Endereço para correspondência:


Natalino Hajime Yoshinari
Av. Dr. Arnaldo, 455 – 3ª andar – Reumatologia
01246-903 – São Paulo

ABSTRACT

The significant increase in life expectancy and the progressive interest on physical training
programs for elderly people encour-
aged the authors to study the effects of aging and of physical activity in musculoskeletal
collagen. In the past, connective tissue was believed to be basically made of inert
substances to allow support for the structures. Today it is known that connective tissue is a
living structure, biologically active, with a biomechanical function, able to adapt and
change its structure according to external aggressors such as physical activity. Muscular
collagen has many structural functions and takes part in a variety of mechanical,
immunologic and tissue repairing functions. Collagen is also important in force
transmission during active muscular contraction. In the elderly there is an increase in
collagen content which turns to be firmer and more stable due to intermolecular cross-
linking maturation. All these variations contribute to the increase in tissue physical and
mechanical
properties. In this review the authors describe the effects of aging and physical activity in
human muscular collagen.

Key words: aging, collagen, extracellular matrix, physical exercises, muscle

Nas últimas décadas, o melhor conhecimento das doenças e os progressos terapêuticos


decorrentes dos avanços tecnológicos têm levado a significativo aumento da expectativa de
vida e, em conseqüência, da população acima de 65 anos. Assim, recente pesquisa da ONU
estima que, já nos primeiros anos do novo milênio, o Brasil terá a sexta maior população
idosa do mundo. Esses dados alertam para a necessidade urgente de direcionar os estudos e
as pesquisas relacionadas com a fisiopatologia e a prevenção das alterações e das doenças
próprias do envelhecimento, que, como se sabe, podem atingir qualquer estrutura do corpo
humano.
No aparelho locomotor, a deterioração funcional que ocorre com o progredir da idade
envolve alterações morfológicas e bioquímicas. Dessa forma, a atrofia muscular
concomitante ao aumento dos tecidos conjuntivo e gorduroso parece atingir com maior
intensidade as fibras musculares de contração rápida

Outras alterações do envelhecimento incluem a perda da massa muscular sem gordura, o


declínio da força muscular absoluta e a redução do uso de determinados grupos musculares.
Esta última determina a queda no desempenho muscular, evidenciada pela menor
resistência à fadiga e prejuízo na coordenação fina e na velocidade dos movimentos.
Porém, estudos em seres humanos demonstram que a manutenção de atividade física pode
retardar e até mesmo reverter a deterioração muscular decorrente do envelhecimento

Cabe ressaltar que o tecido conjuntivo que envolve o músculo esquelético pode interferir de
várias maneiras em sua função mecânica. Recentes pesquisas demonstram que as fibras
musculares estão intimamente associadas à complexa matriz do tecido conjuntivo em que o
colágeno é a proteína fibrilar mais abundante, constituindo 1 a 9% da massa seca sem
gordura do músculo estriado. Atualmente, são conhecidos pelo menos 19 tipos diferentes de
colágeno. Destes, cinco foram identificados apenas por seu mapa gênico, através do DNA
complementar, não tendo sido isolados em nenhum tecido. No músculo estriado foram
identificados os tipos I, III, IV e V, localizados basicamente em três estruturas: no epimísio,
que circunda a totalidade do músculo; no perimísio, que recobre os feixes de fibras
musculares e contém a maior parte do colágeno muscular; e no endomísio, que circunda as
fibras musculares individualmente.A rede de tecido conjuntivo intramuscular, formada por
bainhas endomisiais e perimisiais, é contínua e estende-se pelo músculo, a partir da
membrana basal, até o tendão. Estudos utilizando técnicas de imunofluorescência de
imuno-histoquímica
e de bioquímica permitiram localizar, no tecido muscular, os colágenos I, III e IV. O
colágeno do
tipo I foi encontrado principalmente no epimísio e, em menor proporção, no perimísio. O
colágeno do tipo III foi o predominante no perimísio muscular, mas também esteve
presente nas finas bainhas ao redor das microfibrilas do tendão. O colágeno do tipo IV
localiza-se na membrana basal propriamente dita, e o colágeno V, no endomísio. Este
último é o colágeno que se encontra em menor quantidade, representando 5% do colágeno
total(6,7,9).
Os colágenos dos tipos I e III podem existir como co-polímeros e, provavelmente, formam
as maiores fibras colágenas conhecidas, as fibras reticulares do endomísio. O rastreamento
através da microscopia eletrônica revela que essas fibras do colágeno conectam os miócitos
entre si e estes aos capilares. O colágeno do tipo IV e a laminina têm sido localizados,
através de microscopia de imunoelétrons, na membrana basal do sarcolema
(11,14).
Apesar da identificação de diversos tipos de colágeno, o papel exato de suas funções
estruturais em vários tecidos, particularmente no músculo, não está plenamente
esclarecido(3).
Sabe-se, no entanto, que o colágeno, no músculo estriado, desempenha principalmente uma
função estrutural, ligando as fibras musculares, de modo a garantir um alinhamento
apropriado, uma vez que a força de tensão do colágeno decorre da estrutura única de suas
fibras, fibrilas e moléculas. Em particular, ela decorre das ligações cruzadas
intermoleculares e intramoleculares, da orientação, da densidade e das forças de fricção
entre as fibrilas, além de suas interações físicas e químicas com os outros componentes
estruturais da matriz extra- celular.
Dessa forma, a composição e a morfologia do tecido conjuntivo permitem que o músculo
funcione como uma unidade, de modo que as forças de contração sejam efetivamente
transmitidas ao osso e à articulação.
Assim, a flexibilidade muscular é parcialmente fornecida pelo colágeno, devido
fundamentalmente à organização das fibras colágenas. Uma vez que as moléculas, as fibras
e as fibrilas do colágeno são inextensíveis per se, sua extensibilidade resulta, então, do
alinhamento de fibras e de fibrilas curvas
(4,9,15). Razão pela qual, qualquer tecido pode ser estendido, sem ruptura, até o ponto no
qual todas as fibras de colágeno curvas estejam totalmente estendidas em direção à linha do
estresse.
Em decorrência de sua alta força de tensão, as fibras colágenas no tecido conjuntivo
intramuscular estão adaptadas à transmissão da força produzida durante a contração
muscular ativa. A transmissão da força é possível graças à continuidade que as fibras e as
fibrilas de colágeno formam, a partir da membrana basal muscular, através do endomísio e
do perimísio, até o tendão (14,16). Dessa forma, o colágeno dá coerência e
força mecânica ao músculo e faz parte de um sistema de tolerância ao estresse que também
preenche o pré-requisito de absorção de choques (17).
Como no idoso ocorre o aumento da quantidade do colágeno, que se torna mais firme e
estável em vários tecidos, inclusive no muscular, em decorrência da maturação das ligações
cruzadas, tais variações contribuem, de certo modo, para alterar as propriedades físicas e
mecânicas do tecido. De outra parte, a perda da capacidade de criar força, que ocorre nos
músculos estriados senescentes, é, até certo ponto, um reflexo
da diminuição da massa muscular. Essa perda pode representar também a substituição do
tecido muscular por tecido conjuntivo(17-23).
Apesar do grande número de pesquisas nas áreas básicas e clínicas, ainda são poucos os
estudos relacionados com as funções e características do colágeno do músculo estriado, em
particular, com os efeitos do exercício físico e do treinamento sobre a síntese e degradação
do colágeno muscular. Sabe-se, no entanto, que o treinamento físico exerce influência sobre
as propriedades do tecido conjuntivo dos músculos e de várias outras estruturas (24-27).
Anteriormente se acreditava que o tecido conjuntivo era composto basicamente por
substâncias inertes, cuja função principal seria a de fornecer suporte para os tecidos do
organismo. Entretanto, atualmente se sabe que o tecido conjuntivo é uma estrutura viva,
biologicamente ativa, que realiza funções biomecânicas, capaz de adaptar-se e de alterar
sua estrutura, em resposta aos agressores externos.

TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES

Técnicas histoquímicas com coloração pela adenosinatrifosfatase (ATPase) miofibrilar


permitiram identificar quatro tipos de fibras musculares: I, IIA, IIB e IIC (8,28). As fibras
do tipo I (vermelhas) são inervadas por motoneurônios freqüentemente ativos, que podem
disparar em freqüências baixas têm reduzida velocidade de condução. São as chamadas
“fibras de contração lenta”. Essas fibras musculares demonstram menor fadiga e podem
sustentar a tensão muscular por longos períodos de tempo. Apresentam menor atividade
específica
da miosina ATPase e estão adaptadas à produção de energia aeróbia, através de enzimas
oxidativas(5).
As fibras do tipo II (brancas) são inervadas por raros moto- neurônios ativos, que podem
disparar em freqüências elevadas e apresentam rápida velocidade de condução. Essas fibras
musculares, ditas de contração rápida, mantêm atividade apenas por curtos períodos de
tempo. As fibras do tipo II apresentam alta atividade da ATPase miofibrilar. Duas
subclasses (tipos IIA e IIB) podem ser reconhecidas, de acordo com a via metabólica
energética predominante. Tanto as fibras do tipo IIA quanto as do tipo IIB apresentam alta
atividade enzimática para a glicólise, enquanto as fibras do tipo IIA mostram, ainda,
capacidade oxidativa, qualidade que é responsável pela resistência à fadiga. As fibras do
tipo IIC são intermediárias entre as fibras dos tipos IIB e IIA(3).
Estudos de microscopia eletrônica demonstraram diferenças evidentes entre os músculos de
contração rápida e lenta no que diz respeito ao arranjo do tecido conjuntivo intramuscular
(9,29). Assim,no perimísio dos músculos de contração lenta, o colágeno aparece como
feixes espessos ondulantes, ao contrário dos feixes de pequeno diâmetro encontrados nos
músculos de contração rápida. Da mesma forma, a concentração do colágeno no endomísio
é maior ao redor de fibras do músculo estriado de contração lenta do que naqueles de
contração rápida(9,29).

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO NO MÚSCULO HUMANO

A literatura especializada consigna poucos trabalhos nesse sentido, provavelmente devido


às dificuldades inerentes à realização de pesquisas seriadas na musculatura humana, razão
pela qual a grande maioria de trabalhos é realizada em modelos animais(30). Cabe ressaltar
que, apesar da grande utilidade desses modelos, os resultados obtidos não podem ser
interpretados como o que realmente acontece no ser humano. O músculo estriado
senescente apresenta certa perda da capacidade de desenvolver força de contração. Essa
perda representa, até certo ponto, a redução da massa muscular, principalmente nos
músculos de contração rápida
(9,29). A diminuição da massa muscular pode decorrer, em parte, da redução no número de
unidades motoras ou da substituição do tecido muscular por tecido conjuntivo (9). Outros
estudos (29,31,32) sugerem que a manutenção de um alto nível de atividade física pode
retardar e até mesmo reverter os efeitos deletérios relacionados ao envelhecimento
muscular humano. Outro estudo interessante foi realizado por Campbell et al. (17), que
verificaram o músculo extensor curto dos dedos em indivíduos normais, com idades entre
60 e 96 anos, demonstrando que o principal fator responsável pelo enfraquecimento
muscular é a redução no número de unidades motoras funcionais. A gravidade do processo
de desnervação varia consideravelmente entre os indivíduos, porém, de forma geral, não se
inicia antes dos 60 anos de idade. MacLennan et al.(19) estudaram a força de preensão e a
massa muscular sem gordura em idosos, observando um surpreendente declínio na força de
preensão tanto de homens como de mulheres.

EFEITOS DO EXERCÍCIO NO MÚSCULO ESTRIADO HUMANO

Os programas de treinamento incluem uma variedade de exercícios, cuja realização implica


a produção e o consumo de energia. A maioria das pesquisas realizadas nessa área diz
respeito aos efeitos que os exercícios aeróbio e anaeróbio produzem na fibra muscular.
Assim, por exemplo, DeVries (29) avaliou as respostas fisiológicas a um programa de
treinamento físico em homens, com idades entre 52 e 87 anos, através de exercícios de
alongamento, aquáticos, calistênicos e jogging durante 6, 18 e 24 semanas. Concluiu que o
potencial de treinamento de homens mais velhos com respeito à capacidade de trabalho
físico era maior do que se suspeitava e parecia ser independente do treinamento vigoroso
realizado na juventude. A melhora na função muscular dos idosos provavelmente ocorreria
devido à melhor ativação do sistema nervoso central e,
em menor proporção, devido à hipertrofia muscular.
Outros autores (33) estudaram a estrutura molecular do músculo esquelético humano,
comparando biópsias da porção média do músculo vasto lateral de indivíduos treinados e
não treinados. Evidenciaram que o consumo máximo de oxigênio de um indivíduo é
limitado não apenas pela capacidade de seu sistema de transporte de oxigênio, mas também
pela capacidade oxidativa da mitocôndria em músculos estriados que ocorreria como
resposta ao treinamento físico (33). Também observaram que o músculo estriado de atletas
treinados continha uma quantidade muito maior de lípides intracelulares (como um
substrato imediatamente disponível para a produção de energia), do que o músculo de
indivíduos não treinados.
Por outro lado, foi demonstrado por Holloszy(34) e Holloszy e Booth (35) que o exercício
regular e de certa intensidade leva a respostas de adaptação muscular de dois tipos. A
natureza do estímulo (tipo de exercício) determina o tipo de adaptação. Um envolveria a
hipertrofia das células musculares com o aumento da síntese de proteínas miofibrilares e até
a proliferação de fibras musculares (34,35), com o conseqüente aumento da
força, exemplificado pelos levantadores de peso. O segundo tipo envolveria aumento na
capacidade muscular para o metabolismo aeróbio, com elevação da resistência à fadiga,
sendo encontrado de maneira mais desenvolvida nos músculos de corredores de longas e
médias distâncias, ciclistas e nadadores. Dessa forma, e em face da adaptação muscular, os
esforços aeróbios não alteram as taxas basais de lactato no sangue (36,37). Os valores
encontrados imediatamente após os esforços constituem um indicativo seguro da maior ou
menor
produção de ácido lático durante o exercício. Em recente revisão, Booth et al.(24)
compararam os valores
máximos do consumo de oxigênio, o trabalho de resistência à fadiga, a força muscular, a
área total de secção transversa muscular, o número das fibras musculares, o número de
neurônios motores espinais e o número de unidades motoras em função da idade, em seres
humanos. Verificaram que o decréscimo do consumo máximo de oxigênio e da área total de
secção transversa do músculo da perna inicia-se precocemente na fase adulta. Entretanto,
uma perda acelerada da área muscular total e um declínio no número de fibras musculares
iniciam-se em torno dos 50 anos. Perdas dos motoneurônios espinais e das unidades
motoras tornam-se aparentes ao redor dos 60 anos. Apesar de a atrofia muscular decorrente
do envelhecimento ser atenuada pelo treinamento de resistência à fadiga, pouco se conhece
a respeito dos efeitos desse treinamento em relação à perda de motoneurônios espinais, às
unidades motoras, bem como ao número de fibras musculares.

EFEITOS DO ENVELHECIMENTO E DO EXERCÍCIO NO COLÁGENO DO


TECIDO MUSCULAR

O colágeno é um dos principais componentes do tecido conjuntivo, cujo metabolismo e


propriedades mecânicas demonstram alterações evidentes no processo de envelhecimento
(2,17,22,24,38). Assim, a atividade das enzimas envolvidas em sua síntese é bastante
exuberante nos tecidos embrionário e jovem, decaindo rapidamente até o final da
maturação, após o que mantém um nível relativamente constante (39-42).
Várias pesquisas foram realizadas, em modelos animais, visando estabelecer a influência da
idade sobre o colágeno muscular (20,21,23,43). Esses estudos demonstraram o aumento do
conteúdo do colágeno com o passar da idade. Assim, observou-se que ratos com 24 meses
de idade apresentam maior quantidade de colágeno do que quando tinham três semanas (2).
Por outro lado, foi demonstrado também que, tanto nos músculos de contração rápida,
como nos de lenta, o conteúdo de colágeno insolúvel aumenta entre cinco e 25 meses (21).
Durante o envelhecimento, Golspink et al.(18) observaram a redução da degradação da
fibra colágena, enquanto Mays etal.(44) demonstraram a redução na taxa de síntese do
colágeno. A alta resistência e a estabilidade do colágeno às injúrias mecânicas e/ou
químicas são decorrenes das ligações cruzadas covalentes mediadas pela lisil-oxidase. O
colágeno neoformado não apresenta força mecânica e é facilmente extraído de moléculas
monométricas, em soluções salinas neutras (9,45). Estudos realizados em outros tecidos,
como o tegumento e o pulmão, demonstraram a diminuição do número de ligações cruzadas
com a idade (22). O alto nível de ligações cruzadas redutíveis nos tecidos de recém-
nascidos reflete sua taxa de síntese do colágeno. Daqui,é possível concluir que a queda na
quantidade de ligações cruzadas redutíveis com a idade está relacionada com a
estabilização dessas ligações. As alterações nas propriedades mecânicas das fibras
paralelas do colágeno relacionadas com o envelhecimento guardam relação com o
comportamento das ligações cruzadas do colágeno (9,29,46). Durante a maturação, tanto a
força mecânica quanto a rigidez aumentam e, ao mesmo tempo, o componente plástico
diminui, melhorando o desempenho mecânico. Na fase final da vida de um animal, as fibras
tornam-se frágeis, ou seja, a rigidez continua aumentando, enquanto a força tênsil diminui.
Reiser et al.(22) demonstraram menor número de ligações cruzadas totais por molécula de
colágeno em animais velhos. Resta esclarecer se essas alterações quantitativas do colágeno
são próprias do envelhecimento, per se, ou se refletem alterações associadas à
senescência, uma vez que algumas condições, que sabidamente alteram o metabolismo do
colágeno, como a imobilização (47-49), a desnervação (50) , ou as doenças crônicas, são
freqüentes em indivíduos com idade avançada (51).
Por outro lado, a disposição anatômica do tecido conjuntivo exerce influência sobre a
fisiologia muscular. Alguns autores (9,52) afirmam que o músculo pode sofrer a influência
da sobrecarga, tanto durante a contração ativa, quanto durante o alongamento passivo.
Kovanen (16,53) sugere que a ação benéfica do colágeno em
músculos treinados possa ser decorrente da orientação mais paralela das fibras colágenas,
ao longo do eixo do estresse aplicado. Nas idades avançadas e em conseqüência do
aumento do desuso muscular em indivíduos sedentários, há perda da orientação das fibras
colágenas, fato que pode alterar o funcionamento da matriz extracelular. A ação benéfica
do colágeno deverá ocorrer quando houver o equilíbrio entre a fibra muscular e o tecido
conjuntivo. Quando essa relação fisiológica não for respeitada, acreditamos que possa
ocorrer um quadro patológico de substituição cicatricial. Cooper (54) , em 1972,
demonstrou que o tecido conjuntivo freqüentemente substitui as fibras musculares
degeneradas. Portanto, é possível inferir que a síntese do colágeno pode aumentar na atrofia
muscular. Estudos experimentais demonstraram que a duração do treinamento constitui
fator importante para as alterações do conteúdo do colágeno muscular. O treinamento de
resistência à fadiga de curta duração, de três, dez e 20 dias e de até três ou quatro semanas,
não influenciou no conteúdo do colágeno muscular (36) . Porém, o treinamento de longa
duração, de 15 meses, provoca aumento do colágeno muscular tanto no exercício aeróbio
como no anaeróbio (35) .
A resposta do colágeno muscular ao aumento da carga já foi demonstrada em hipertrofias
experimentais (55-57) , nas quais a ativação de fibroblastos parece conduzir ao aumento de
seu conteúdo total. A aceleração da síntese do colágeno, com subseqüente acúmulo no
músculo estriado, foi observada durante a regeneração de lesões musculares induzidas pelo
exercício (58,59). Por outro lado, o tecido muscular, sob a ação de um esforço excessivo,
pode sofrer necrose de seus componentes, que podem ser reparados, fisiologicamente, por
tecido cicatricial. É possível que o colágeno do tecido cicatricial possa ser de estrutura
molecular diferente.
Dessa forma, consideramos importante salientar que o exercício físico, realizado de modo
extenuante e inadequado, pode induzir efeitos deletérios no sistema músculo-esquelético.

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