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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ

CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU – CCO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

DIEGO CARLOS ANDRADE PEREIRA

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA TRANSMISSÃO DE LEISHMANIOSE


VISCERAL CANINA NO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO – MINAS GERAIS.

DIVINÓPOLIS-MG
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ
CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU – CCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

DIEGO CARLOS ANDRADE PEREIRA

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA TRANSMISSÃO DE LEISHMANIOSE


VISCERAL CANINA NO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO – MINAS GERAIS.

Dissertação apresentada ao Programa


de Pós Graduação em Ciências da Saúde, da
Universidade Federal de São João Del-Rei,
como requisito parcial para obtenção do grau
de mestre

Orientador: Eduardo Sérgio da Silva


Co-orientador: Gustavo F. Paz

DIVINÓPOLIS-MG
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI – UFSJ
CAMPUS CENTRO-OESTE DONA LINDU – CCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Defesa da dissertação de mestrado do Diego Carlos Andrade Pereira, intitulada


“Aspectos epidemiológicos da transmissão de Leishmaniose Visceral Canina no
município de Brumadinho – Minas Gerais, orientado pelo prof. Dr. Eduardo Sérgio da
Silva, apresentado à banca examinadora designada pelo colegiado do Programa de
Pós Graduação em Ciências da Saúde da UFSJ, em __ de ___ de 2016.

Os membros da Banca Examinadora consideram o candidato __________.

Banca Examinadora:

________________________________________________

________________________________________________

________________________________________________

ii
Resumo

As Leishmanioses são enfermidades zoonóticas com grande distribuição


mundial e endêmica em vários países do mundo. A estimativa é que sua incidência
anual seja de cerca de 2 milhões de casos, destes aproximadamente 1,5 milhões
causados por formas tegumentares e 500 mil pela forma visceral. Nas Américas, o
agente causador da forma visceral são os protozoários da espécie Leishmania
(Leishmania) infantum e a transmissão ao hospedeiro ou reservatório vertebrado
ocorre através da picada de dípteros da espécie Lutzomyia longipalpis. O cão tem
sido apontado o principal elo da transmissão de Leishmania (L.) infantum aos seres
humanos, devido ao grande número de cães infectados e o parasitismo cutâneo que
ocorre nestes animais. Essa importância é evidenciada quando observa-se que
casos humanos geralmente ocorrem em locais com grande prevalência canina de
LV e que a infecção destes animais precede a humana. O Município de Brumadinho
está situado na região metropolitana de Belo Horizonte, com uma população de
33.973 habitantes segundo dados de 2010 do IBGE. Brumadinho apresentou 13
casos de LV humana nos anos de 2007 a 2013, sendo considerada de transmissão
esporádica pelos critérios do Ministério da Saúde. Durante a realização do estudo,
foram avaliados 1413 cães, destes 672 (47,6%) machos e 741 (52,4%) de fêmeas e
deste total 60 cães identificados como infectados por LVC, sendo 34 (56,7%)
machos e 26 (43,3%) de fêmeas. A prevalência global identificada neste estudo foi
de 4,25%, com a variação entre os setores de 1,82% (mínima) no estrato 01 e
superior a 10% no estrato 07 (máxima). A avaliação clínica realizada em 28 cães
dos 60 positivos indicou que 20 (71,42%) apresentaram pelo menos um sinal clínico
da LVC e 8 (28,57%) não apresentaram qualquer sinal da doença e em todos eles
os protozoários pertenciam a espécie Leishmania infantum. A análise da distribuição
espacial dos casos de LVC na cidade de Brumadinho auxiliada pela ferramenta
densidade de Kernel aponta duas áreas principais para a estratégia de
controle/combate dessa doença no município. Os resultados obtidos neste trabalho
poderão direcionar as ações de controle à LV no município, contribuindo para uma
possível redução da expansão da Leishmaniose Visceral.

Palavras chave: Leishmaniose Visceral Canina, Prevalência, Distribuição espacial.

iii
Abstract

The Leishmaniasis are zoonotic diseases with major global and endemic
distribution in countries around the world. It is estimated that the annual incidence is
about 2 million cases, of these approximately 1.5 million caused by cutaneous forms
and 500,000 by the visceral form. In the Americas, the causative agent of visceral
leishmaniasis (VL) are protozoa of the Leishmania (Leishmania) infantum and
transmission to the host or vertebrate reservoir occurs through the bite of flies of the
species Lutzomyia longipalpis. The dog has been appointed the main link in the
transmission of Leishmania (L.) infantum to humans due to the large number of
infected dogs and the presence of the parasite in the skin. This importance is
evidenced when it is observed that human cases usually occur in areas with high
prevalence of canine VL with the infection of these animals preceding the
human. The municipality of Brumadinho is located in the metropolitan region of Belo
Horizonte, with a population of 33,973 inhabitants according to 2010 data from the
IBGE. Brumadinho presented 13 cases of human VL in the years 2007 to 2013 which
is considered sporadic transmission by the Ministry of Health criteria. During this
study, 1413 dogs were evaluated, of these 672 (47.6%) males and 741 (52 , 4%)
females. 60 dogs were identified as infected with LVC, 34 (56.7%) males and 26
(43.3%) females. The overall prevalence identified in this study was 4.25%, with
variation between sectors of 1.82% (minimum) in the stratum 01 and more than 10%
in those 07 (maximum). Clinical evaluation in 28 of 60 positive dogs indicated that 20
(71.42%) had at least one clinical sign of CVL and 8 (28.57%) showed no signs of
disease. All parasites detected belonged to protozoa species Leishmania infantum.
Analysis of the spatial distribution of cases of LVC in the city of Brumadinho aided by
Kernel density tool points to two main areas for the control strategy/combat of this
disease in the municipality. The results of this work will direct the actions of
control/anti-VL in the city, contributing to a possible reduction of the expansion of
Visceral Leishmaniasis.

Keywords: Canine Visceral Leishmaniasis, Prevalence, spatial distribution.

iv
Sumário

1. Introdução....................................................................................................................... 12
2. Revisão da literatura........................................................................................................ 13
2.1 As leishmanioses......................................................................................................... 13
2.2 Aspectos Gerais da Leishmaniose.............................................................................. 15
2.3 Leishmaniose Visceral Humana.................................................................................. 18
2.4 No cão......................................................................................................................... 19
2.5 Urbanização das Leishmanioses................................................................................ 21
2.6 Controle e profilaxia da LV.......................................................................................... 21
3. Justificativa...................................................................................................................... 23
4.Objetivos........................................................................................................................... 23
5. Materiais e métodos........................................................................................................ 24
5.1 Área de estudo............................................................................................................ 24
5.2 Aspectos éticos............................................................................................................ 25
5.3 Delineamento do estudo.............................................................................................. 25
5.4 Estudo dos reservatórios domésticos.......................................................................... 25
5.5 Cálculo amostral.......................................................................................................... 26
5.6 Coleta de dados........................................................................................................... 26
5.7 Coleta de amostras biológicas..................................................................................... 27
5.8 Diagnóstico parasitológico........................................................................................... 27
5.9 Caracterização da espécie de LVC............................................................................. 28
5.9.1 Extração de DNA...................................................................................................... 28
5.9.2 Reação em Cadeia da Polimerase........................................................................... 29
5.10 Avaliação dos sinais clínicos..................................................................................... 29
5.11 Georreferenciamento................................................................................................. 30
5.12 Densidade Kernel...................................................................................................... 30
6. RESULTADOS................................................................................................................ 31
6.1 Prevalência.................................................................................................................. 31
6.2 Diagnóstico parasitológico........................................................................................... 33
6.3 Caracterização da espécie.......................................................................................... 33
6.4 Avaliação Clínica......................................................................................................... 35
6.5 Distribuição espacial da LV......................................................................................... 36

v
6.5.1 Leishmaniose Visceral Humana............................................................................... 36
6.5.2 Leishmaniose Visceral Canina................................................................................. 38
6.5.3Densidade de Kernel................................................................................................. 39
7. Discussão........................................................................................................................ 41
8. Conclusão........................................................................................................................ 46
9. Anexos............................................................................................................................. 47
10. Referências.................................................................................................................... 50

vi
Lista de figuras

Figura 01: Mapa de localização da área de estudo, município de Brumadinho -


Minas Gerais..............................................................................................................24

Figura 02: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por
Leishmania (L.) infantum. PM = Peso Molecular, B1, B2, B3, B4, B5, B6, B7, B8, B9,
B10, B11, B13, B14, B15, B16 amostras de DNA proveniente do baço. Lb =
Leishmania braziliensis. Li = Leishmania
infantum......................................................................................................................34

Figura 03: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por
Leishmania (L.) infantum. PM = Peso Molecular, B17, B19, B20, B22, B23, B25,
amostras de DNA proveniente do baço. Lb = Leishmania braziliensis. Li =
Leishmania infantum. La = Leishmania
amazonensis..............................................................................................................34

Figura 04: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por
Leishmania (L.) infantum. PM = Peso Molecular, P12, P18, P24, P26, P27, P28
amostras de DNA proveniente de pele de orelha. L21 amostra de DNA proveniente
de linfonodo poplíteo. Lb = Leishmania braziliensis. Li = Leishmania infantum. La =
Leishmania amazonensis...........................................................................................34

Figura 05. Série histórica de casos de LV no mapa do município de Brumadinho


MG. Os pontos em laranja representam os casos humanos no período de 2007 a
2013............................................................................................................................37

Figura 06. Distribuição de cães pesquisados durante o estudo realizado entre Abril e
Agosto de 2014. Os pontos verdes representam os cães não reagentes e os pontos
vermelhos os cães positivos para Leishmaniose Visceral
Canina........................................................................................................................38

Figura 07. Georreferenciamento de cães positivos no município de Brumadinho,


MG. Os pontos vermelhos demonstram as amostras positivas para
LVC.............................................................................................................................39

Figura 08. Mapa do município de Brumadinho – MG. Sobreposição de cães


positivos e densidade de Kernel gerada a partir dos casos positivos e negativos
georreferenciados. No mapa os pontos vermelhos representam os cães positivos e
as zonas quentes (hotspots) a densidade de Kernel.................................................40

vii
Figura 9. Mapa do município de Brumadinho – MG. Em destaque a densidade de
Kernel demonstrando as zonas quentes “hotspots” referente aos casos caninos de
LV...............................................................................................................................40

Figura 10. O mapa demonstra a sobreposição de casos caninos, casos humanos e


densidade de Kernel. Os pontos vermelhos representam os casos caninos, os
laranjas representam os casos humanos (ajustados por localidade de ocorrência) e a
zona quente a densidade de Kernel...........................................................................41

viii
Lista de tabelas

Tabela 01: Prevalência de Leishmaniose visceral canina no município de


Brumadinho – MG. 2014............................................................................................31

Tabela 02: Prevalência de LVC no município de Brumadinho-MG, distribuídas por


setores e bairros 2014................................................................................................32

Tabela 03: Número de amostras biológicas coletadas para caracterização de


espécie e avaliação de sinais clínicos de acordo com sexo e sintomas. Brumadinho-
MG. 2015....................................................................................................................35

Tabela 04: Número de sinais clínicos apresentados por cães infectados por LVC no
município de Brumadinho, MG – 2014.......................................................................36

ix
Lista de anexos

Anexo 01: Tabela para cálculo amostral segundo a prevalência e população


canina.........................................................................................................................47

Anexo 02: Tabela de números aleatórios para sorteio de


quarteirões..................................................................................................................48

Anexo 03: Ficha clínica de acompanhamento em cães infectados com


Leishmaniose Visceral................................................................................................49

x
Lista de abreviaturas e siglas

CCO – Campus Centro-Oeste.

CCZ – Centro de Controle de Zoonoses.

CEUA – Comissão de Ética no Uso de Animais.

CONCEA – Conselho Nacional de Experimentação Animal.

DNA (ADN) – DeoxyriboNucleic acid (Ácido Desoxisribonucleico).

DPP – Dual Plath Platform.

ELISA – Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay.

GPS – Global Positioning System.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

L. infantum – Leishmania infantum.

LabDip – Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias.

LTA – Leishmaniose Tegumentar Americana.

Lu. longipalpis – Lutzomyia longipalpis.

LV - Leishmaniose Visceral.

LVC – Leishmaniose Visceral Canina.

MS – Ministério da Saúde.

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde.

PCLV – Programa de Controle Da Leishmaniose Visceral.

PCR – Reação em Cadeia da Polimerase.

SIG – Sistema de Informações Geográficas.

SMS – Secretaria Municipal de Saúde.

SUS - Sistema Único de Saúde.

WHO (OMS) – World Health Organization (Organização Mundial de Saúde).

xi
1. Introdução

As Leishmanioses são enfermidades zoonóticas, com grande distribuição


mundial sendo endêmica em vários países do mundo. Estão entre as seis doenças
consideradas prioritárias pela Organização Mundial de Saúde. A estimativa é de que
a incidência anual seja de cerca de 2 milhões de casos, destes aproximadamente
1,5 milhões causados por formas tegumentares da doença e 500 mil relacionados a
forma visceral (WHO, 2015).
A Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença com amplo espectro clínico e
considerada grave, especialmente nos casos humanos não tratados, podendo
apresentar altos índices de letalidade. A LV está presente em 88 países, sendo 22
nas Américas. No continente Americano o Brasil aparece como o responsável pelo
maior número de casos.
Nas Américas, os agentes causadores da forma visceral, são os protozoários
da espécie Leishmania (Leishmania) infantum e a transmissão ao hospedeiro ou ao
reservatório vertebrado, ocorre através da picada de dípteros pertencentes à família
Psychodidae, subfamília Phlebotomínae, da espécie Lutzomyia longipalpis,
conhecidos como flebotomíneos (OPAS, 2015).
Descrita inicialmente como uma doença de âmbito rural, a LV vem
apresentando há alguns anos uma mudança no perfil epidemiológico. Estudos
realizados em grandes cidades como Rio de Janeiro (RJ), Araçatuba (SP), Corumbá
(MS), Natal (RN), São Luís (MA), entre outros, demonstram a urbanização da
Leishmaniose Visceral. Em Minas Gerais a urbanização já foi demonstrada em
cidades como Belo Horizonte, Montes Claros, Governador Valadares e Divinópolis.
O cão aparece como um dos responsáveis pela urbanização da LV, uma vez que
este animal é considerado o principal reservatório doméstico da LV (MS, 2006).
O combate e controle da LV no Brasil é baseado em três medidas: tratamento
dos casos humanos, combate ao vetor e identificação e eliminação do reservatório
doméstico. Para que o controle da LV seja eficiente é necessário conhecer as
características epidemiológicas de cada município (MS, 2006).
O Município de Brumadinho situado na região metropolitana de Belo
Horizonte, apresentou 13 casos de LV humana nos anos de 2007 a 2013 e é

12
considerado como sendo de transmissão esporádica segundo estratificação
baseada do Ministério da Saúde.
Este estudo tem a finalidade de identificar as características da transmissão
de Leishmaniose Visceral no município, enfocando especialmente no reservatório
canino, importante elo da cadeia de transmissão da Leishmaniose.
As ações de controle e combate à LV no município, realizadas pelo Serviço
de Controle de Zoonoses poderão ser direcionadas baseadas nas informações
coletadas neste estudo como a prevalência de LVC, espécie circulante de LV e a
distribuição espacial destes cães naturalmente infectados por Leishmaniose.

2. Revisão da literatura.

2.1 As leishmanioses.

As leishmanioses são doenças infecciosas causadas por parasitos do gênero


Leishmania (Ross, 1903) consideradas um grave problema de saúde pública. Os
protozoários causadores destas doenças pertencem à família Trypanosomatidae,
ordem Kinetoplastida.
Apresentam duas formas evolutivas distintas, as encontradas nos vetores são
alongadas, flageladas e móveis, enquanto as formas encontradas no interior dos
macrófagos de hospedeiros vertebrados se apresentam esféricas e sem flagelo
aparente (Lainson & Shaw, 1987).
A transmissão das leishmanioses ocorre através do repasto sanguíneo de
fêmeas de dípteros pertencentes à família Psychodidae, subfamília Phlebotomínae,
conhecidos como flebotomíneos (Baneth et al., 2008).
A ampla distribuição geográfica e alta incidência fazem com que as
leishmanioses se tornem uma doença de grande importância, além da possibilidade
de assumir formas graves com taxas elevadas de mortalidade em casos não
tratados na forma visceral e alta morbidade na sua forma tegumentar (Melo &
Gontijo, 2004).

13
As diferentes manifestações clínicas causadas pela infecção por Leishmania
spp. dependem de interações complexas entre os parasitos e a resposta imune dos
hospedeiros. As leishmanioses são reconhecidas pela Organização Mundial de
Saúde (OMS, 2015) como sendo divididas em quatro tipos clínicos: a forma visceral,
a forma cutânea, a forma mucocutânea e cutânea difusa (WHO, 2015).
Estas doenças acometem 98 países em cinco continentes (Alvar et al., 2012),
sendo todos eles tropicais ou subtropicais. Dados da OMS indicam que
aproximadamente 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de contrair
estas enfermidades. Estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas estejam
infectadas com alguma forma de leishmaniose no mundo, e que sua incidência anual
seja de aproximadamente 2 milhões de casos, destes 500.000 relacionados à
leishmaniose visceral e 1,5 relacionado às formas cutâneas da doença (WHO,
2015).
A forma cutânea é a mais disseminada das formas de leishmaniose, foram
notificados oficialmente mais de 200.000 casos por ano, sendo que destes cerca de
70-75% ocorreram em apenas dez países: Afeganistão, Argélia, Colômbia, Brasil,
Irã, Síria, Etiópia, Sudão do Norte, Costa Rica e Peru. No continente Americano as
formas cutâneas da doença (Leishmaniose cutânea, leishmaniose mucocutânea e
leishmaniose difusa), são denominadas como Leishmaniose Tegumentar Americana
(LTA) e nestes são apresentados cerca de 66.000 casos/ano. (Alvar et al., 2012;
WHO, 2014)
No novo mundo, várias espécies do gênero leishmania são responsáveis pela
transmissão de LTA, sendo nove do subgênero Viannia: Leishmania (Viannia)
braziliensis, L. (V.) colombiensis, L. (V.) guyanensis, L (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L.
(V.) panamensis, L. (V.) peruvina, L. (V.) shawi e L. (V.) lindenbergi e quatro do
subgênero Leishmania: Leishmania (Leishmania) amazonensis, L (L.) mexicana, L
(L.) pifanoi e L. (L.) venezuelensis. (Lainson, 2010).
A forma visceral, considerada a mais grave das formas clínicas, apresenta
alta taxa de mortalidade, em especial em casos não tratados, estes parasitos
possuem tropismo por células do Sistema Mononuclear Fagocitário (SMF) do baço,
fígado, medula óssea e linfonodos. Neste continente, é causada pela espécie
Leishmania (L.) infantum (Maurício, 2000) e será o objeto deste estudo.

14
2.2 Aspectos Gerais da Leishmaniose Visceral.

A Leishmaniose Visceral (LV) é considerada primariamente como uma


zoonose, pois ocorre naturalmente entre animais, podendo eventualmente acometer
os seres humanos quando este entra em contato com seu ciclo de transmissão. Esta
doença figura entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo.
A LV pertence ao complexo Donovani, que compreende todas as espécies
ditas viscerotrópicas. É considerada a forma mais grave da doença estando
presente em 88 países, destes, 66 no velho mundo e 22 no novo mundo
acometendo aproximadamente 300.000 pessoas e causando cerca de 20.000
mortes todos os anos. (WHO, 2015; Alvar et al., 2012)
Nas Américas a LV é autóctone em 12 países com o registro de 45.490 casos
e média anual de 3.499 casos no período de 2001 a 2013. Somente no ano de 2013
foi registrado um total de 3.389 casos espalhados por oito países e distribuídos em
798 municípios. Em todo o continente sul-americano, o Brasil apresentou o maior
número de casos, 3.253 (96%), seguido por Paraguai 107 casos (3,2%) e Colômbia
13 casos (0,4%). Considerando apenas a população em área de transmissão, a
incidência da doença nesta região foi de 2,59 casos por 100.000 habitantes e no
Brasil a incidência foi de 4,35 casos por 100.000 habitantes (OPAS, 2015).
O ciclo biológico da LV é do tipo heteroxênico, pois necessita de dois tipos de
hospedeiros, um vertebrado (homem, canídeos, marsupiais) e um hospedeiro
invertebrado. Os hospedeiros invertebrados e vetores da doença, são dípteros
pertencentes à família Psychodidae, subfamília Phlebotomínae, conhecidos como
flebotomíneos (Baneth et al., 2008; Lutz & Neiva, 1912).
No Brasil, o Lutozomyia longipalpis é a espécie de flebotomíneos considerada
mais envolvida na transmissão da LV (Baneth et al., 2008; Lutz & Neiva, 1912).
Embora outras espécies sejam apontadas como potenciais vetores da doença como
o Lutzomyia cruzi e Lutzomyia migonei (Santos et al., 1998; Salomon et al., 2010;
Carvalho et al., 2010) os dípteros pertencentes à espécie Lu. longipalpis são
considerados um importante elo no ciclo de transmissão da LV, isso porque esta
espécie reúne fortes evidencias da sua capacidade vetorial, além da grande
distribuição geográfica nas Américas (Lainson & Rangel, 2005).

15
Essa espécie pode ser encontrada em todo o território nacional, resiste a
variadas temperaturas e se adapta facilmente ao ambiente domiciliar podendo ser
encontrado também nos abrigos de animais domésticos.
Os flebotomíneos são conhecidos popularmente por “mosquito-palha”,
“birigui”, “asa-branca”, dentre outros nomes. São insetos pequenos com cerca de 1 a
3 mm, possuem dois pares de asas que lhes permitem deslocar através de saltos,
são pilosos e com atividade noturna ou crepuscular. Apresentam em seu ciclo de
vida as fases de ovo, larva, pupa e inseto adulto sendo, portanto considerados
holometabólicos. (Lainson & Rangel, 2005)
Em condições favoráveis a eclosão dos ovos ocorre de 7 a 17 dias após a sua
postura e o seu desenvolvimento completo leva em torno de 30 a 100 dias, variando
conforme a espécie e as condições do ambiente, nos flebotomíneos da espécie
Lutzomya longilpalpis esse desenvolvimento leva de 30 a 45 dias em condições
artificiais de laboratório. As larvas se alimentam da matéria orgânica disponível no
solo e se desenvolvem em locais úmidos. Os adultos, como já citado, apresentam
hábitos noturnos e crepusculares se escondendo durante o dia em locais
sombreados como fendas de arvores, abrigo de animais, etc. (Lainson & Rangel,
2005; Killick-kendrich, 1999). Ambos os sexos se alimentam de seiva de plantas,
porém apenas as fêmeas são hematófagas.
A infecção do invertebrado ocorre quando fêmeas dos flebotomíneos, em
busca de sangue, se alimentam de um hospedeiro vertebrado infectado. Durante o
repasto sanguíneo formas amastigotas de Leishmania são ingeridas pelo inseto
vetor. Segundo Bates (2007) o mecanismo de obtenção de sangue pelos
flebotomíneos seria um dos fatores responsáveis pela ingestão desses parasitos. As
fêmeas de Lu. longipalpis ao encontrarem um animal vertebrado, fonte de alimento,
inserem seu aparelho bucal na pele, como uma serra e começam a agitá-lo
produzindo um pequeno ferimento. O dano causado ao tecido, o sangue de
capilares periféricos juntamente com células fagocitárias liberadas, permitem a
posterior ingestão de formas amastigotas de L. infantum.
Depois de ingeridas, as formas amastigotas são estimuladas a se diferenciar
devido à mudança de condições entre o até então hospedeiro mamífero e o atual
intestino do inseto invertebrado (queda de temperatura e alteração no pH) essas
formas amastigotas passam por várias mudanças morfológicas e fisiológicas dando

16
origem as formas promastigotas, processo conhecido como metaciclogênese que
culmina no aparecimento de promastigotas metacíclicas (que é a fase infectante
para o hospedeiro vertebrado), estas migram para o tubo o tubo digestivo anterior do
vetor. (Bates, 2007; Secundino et al., 2005; Barata et al., 2005). Após estas
mudanças, ao realizar um novo repasto sanguíneo a fêmea estará apta a transmitir
os protozoários ao hospedeiro vertebrado.
Durante a realização do repasto, a fêmea infectada, inocula as formas
promastigotas metacíclicas, que penetram no organismo do hospedeiro vertebrado.
Dentro deste hospedeiro os parasitos são internalizados por células fagocitárias,
principalmente macrófagos, o flagelo até então aparente, fica interiorizado
conferindo ao protozoário um aspecto arredondado ou ovóide e este passa a ser
denominado como amastigota. Nestas células, as amastigotas se reproduzem por
fissão binária e esta proliferação de parasitos favorece o rompimento da membrana
plasmática das células e conseqüentemente a liberação de amastigotas que serão
internalizadas por outras células fagocitárias iniciando uma nova fase de
multiplicação celular. (Chang, 1983; Baneth et al., 2008)
A infecção de um animal não é suficiente para que ele possa ser considerado
um reservatório. Um animal infectado, a principio, é um hospedeiro, porém seu papel
na manutenção do ciclo de transmissão de uma determinada doença dependerá das
peculiaridades da interação parasito-hospedeiro e isto irá determinar a competência
da espécie na manutenção ou transmissão do parasito definindo assim seu papel
como reservatório (Guerin et al., 2002; Desjeux et al., 2004).
No ciclo biológico da Leishmaniose Visceral, animais silvestres como as
espécies de canídeos Cerdocyon thous e Dusicyon vetulus e de marsupiais como
Proechimys canicollis, Didelphis albiventris e Didelphis marsupialis são consideradas
possíveis reservatórios silvestres da doença, portanto contribuem para sua
manutenção no ambiente silvestre. Com relação aos roedores, mesmo com a
presença do parasito sendo encontrada em alguns destes animais, confirmada
através de PCR, a infecção experimental por Lu. longipalpis alimentados em
espécies de roedores torna-se fundamental para confirmação dessa hipótese
(Lainson & Rangel, 2005). O cão (Canis familiares) é considerado o mais importante
reservatório domestico da LV, sendo o principal responsável pela manutenção do
ciclo de leishmaniose no âmbito rural e urbano (Lainson & Rangel, 2005).

17
Apesar de contrair a doença, o homem aparece apenas como hospedeiro da
Leishmania infantum, pois mesmo infectado é incapaz de transmitir a doença aos
flebotomíneos.

2.3 Leishmaniose Visceral Humana

O período de incubação da LV pode ser bastante variável, tão breve quanto


10 dias ou tão longo quanto 24 meses, apresentando média de 2 a 6 meses (MS,
2006). Stone e colaboradores (1952) demonstraram em seu trabalho um caso onde
esse período foi de 34 meses.
A infecção por L. infantum é caracterizada por um amplo espectro clínico,
variando de infecção assintomática e oligossintomática até o quadro clássico
(sintomático) da doença, progressiva e potencialmente fatal em casos não tratados
(Pearson & Sousa, 1996)
A maioria dos indivíduos infectados não apresenta sintomas da doença,
estima-se que apenas 20% dos indivíduos infectados em áreas endêmicas
desenvolvam a forma clássica de LV (sintomática). O aparecimento das
manifestações clínicas depende da capacidade do parasito em evadir-se dos
mecanismos de defesa do hospedeiro mediante uma complexa interação parasito-
hospedeiro. As condições ambientais, a idade, estado nutricional e resposta imune
do indivíduo acometido podem estar relacionados à gravidade destas manifestações
clínicas. (Badaró et al., 1986; Caldas et al., 2002). A forma oligossintomática é de
difícil diagnóstico devido à sintomatologia inespecífica e apresenta um quadro clínico
mais discreto geralmente com curta duração e freqüentemente evolui para cura.
A forma sintomática da doença é evidenciada pela presença dos sintomas:
febre recorrente, palidez, emagrecimento, hepatoesplenomegalia, anemia, além de
outros como leucopenia, plaquetopenia, vômitos, tosse seca. Destes sintomas os
achados mais freqüentes são febre, anemia e hepatoesplenomegalia (Brasil, 2011;
Oliveira et al., 2010).

18
2.4 No cão

O cão tem sido apontado como sendo o principal elo da transmissão de


Leishmania infantum aos seres humanos, principalmente pelo grande número de
cães infectados e o grande parasitismo cutâneo que ocorre nestes animais. Essa
importância fica ainda mais evidenciada quando se observa que os casos humanos
geralmente ocorrem em locais com grande prevalência canina de LV, além do mais
até o presente momento, não há registro de casos humanos de LV sem a presença
de cães infectados, o que reforça a hipótese que a infecção por LV em humanos
geralmente apresenta uma dependência espacial com a LVC (Teixeira-Neto et al.,
2014).
No cão, a exemplo dos humanos, a doença é de evolução lenta e insidiosa e
o período de incubação também é bastante variável. Os sintomas aparecem, em
média, entre três a sete meses após a inoculação do agente, porém estes sintomas
poderão levar anos para se manifestar (Brasil, 2011). Durante este período o
protozoário (parasitando células fagocitárias) se dissemina por meio do sistema
vascular e linfático para diversos órgãos, principalmente o sistema mononuclear
fagocitário (Alves et al., 2010; Rigo et al., 2013)
Animais infectados com Leishmaniose Visceral Canina (LVC) podem
apresentar manifestações clínicas diferentes, isto devido à resposta imunológica do
hospedeiro além da interação que ocorre entre ele e o parasito, interferindo direta ou
indiretamente nos sinais clínicos.
Os cães infectados com LVC normalmente são classificados de acordo com
os sinais clínicos em: assintomáticos, oligossintomáticos e sintomáticos. Os
assintomáticos se caracterizam por cães infectados, mas sem a presença de
manifestações clínicas; oligossintomáticos, cães que apresentam adenopatia
linfóide, discreta perda de peso e pelo opaco e sintomáticos como aqueles
infectados e que apresentam todos os sinais clínicos da doença ou os mais comuns
como alopecia, ulceras, hiperqueratose, onicogrifose, emagrecimento,
ceratoconjuntivite e paresia dos membros posteriores (Brasil, 2011).
Apesar de cães assintomáticos não apresentarem manifestações clínicas da
LVC, eles são tão competentes quanto os sintomáticos na infecção de flebotomíneos
e, portanto participam da manutenção do ciclo da leishmaniose. Estima-se que entre

19
40-60% dos cães soropositivos no Brasil sejam assintomáticos, o que impossibilita o
diagnóstico clínico desses animais, aliás, o diagnóstico clínico de LVC, mesmo cães
oligossintomátios e sintomáticos deve ser baseado em informações referentes à
sintomatologia apresentada pelo animal, aliada a epidemiologia da área e a
confirmação de circulação do parasito, pois estes sinais podem estar relacionados a
outras enfermidades (Palis et al., 2007; Bevilacqua & Alves, 2004).
Assim, para que haja uma confirmação definitiva da infecção por LVC
técnicas laboratoriais devem ser empregadas. Para o diagnóstico de LVC existem
basicamente três categorias: métodos parasitológicos, sorológicos e moleculares
(Gontijo & Melo, 2004; Nogueira & Silva, 2009).
O diagnóstico parasitológico se baseia na demonstração microscópica do
parasito e ainda é considerado o padrão ouro para diagnóstico da doença. É
realizado através da analise citológica de lâminas com esfregaços ou imprints de
tecidos. Esse método possibilita a identificação direta do parasito na sua forma
amastigota em tecido animal (MS, 2006). Contudo, algumas desvantagens estão
relacionadas com o emprego desta técnica, entre elas a baixa carga parasitária
apresentada por alguns animais, além da necessidade de pessoal capacitado para a
leitura das lâminas (Faria, 2007).
Os testes sorológicos normalmente são mais empregados pelos programas
de controle devido ao seu menor custo e maior rapidez, seu uso é recomendado em
inquéritos amostrais e censitários para avaliar a prevalência de LVC. A utilização de
técnicas sorológicas para a detecção de anticorpos circulantes anti-leishmania,
constitui um importante instrumento no diagnóstico da LVC. No entanto, testes
sorológicos devem ser avaliados com cautela, pois não são 100% sensíveis. Os
principais métodos sorológicos utilizados para a identificação de anticorpos
circulantes anti-leishmania são, entre outros, a imunofluorescência indireta (RIFI), o
ensaio Imunoenzimático (ELISA) e o DPP® (Kiral, 2004; MS, 2006).
Atualmente o Ministério da Saúde recomenda o uso do teste DPP® em
inquéritos sorológicos para a triagem de cães e o material biológico dos animais
reagentes ao DPP® é submetido ao teste ELISA para confirmar a infecção por LVC.
Quanto aos testes moleculares, a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
apresenta grande especificidade e sensibilidade para a detecção de DNA
Leishmania e conseqüente diagnóstico de LVC. A técnica de PCR permite a

20
amplificação de seqüências especificas do genoma de Leishmania e pode ser
realizada a partir de vários tipos de tecidos, sangue, fluidos biológicos ou amostras
histopatológicas (Solano-Gallego et al., 2009).
Em relação aos métodos sorológicos e parasitológicos a PCR se apresenta
muito mais sensível e especifica, além de possibilitar a identificação da espécie
causadora da infecção, o que pode ser útil em áreas onde diferentes espécies de
tripanosomatideos co-existem. A importância dessa técnica tem sido demonstrada
em vários trabalhos, porém o custo, a disponibilidade de equipamentos sofisticados
e reagentes tem sido apontada como algumas de suas limitações (Romero &
Boelaert, 2010).

2.5 Urbanização das Leishmanioses

Descrita inicialmente como uma doença de âmbito rural, a Leishmaniose


Visceral vem apresentando uma mudança no seu perfil epidemiológico desde a
década de 80. Diversos estudos apontam que a urbanização da leishmaniose é um
fato consolidado inclusive em cidades de médio e grande porte (Moura et al., 2012;
Leite & Araújo 2013; Silva et al., 2001). Dados do Ministério da Saúde divulgados em
2006 já demonstravam a urbanização e periurbanização da leishmaniose,
destacando os surtos ocorridos nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), Belo horizonte
(MG), Araçatuba (SP), Santarém (PA), Corumbá (MS), Teresina (PI), Natal (RN),
São Luís (MA), Fortaleza (CE), Camaçari (BA), Três Lagoas (MS), Campo Grande
(MS) e Palmas (TO).
Impactos ambientais como secas prolongadas e periódicas, migração
desordenada e conseqüente urbanização, além do aumento no número de cães
infectados, poderiam justificar esta transição epidemiológica e permitir a adaptação
da doença a um novo nicho ecológico (Oliveira et al., 2005; Melo & Gontijo, 2004).

2.6 Controle e profilaxia da LV

Segundo a OMS, as leishmanioses estão entre as seis enfermidades


consideradas prioritárias em relação ao controle. O Brasil contribui com cerca de
90% dos casos de leishmaniose que ocorrem em todas as Américas e é o único país

21
do endêmico do mundo a manter um programa epidemiológico e profilático regular
no combate a essa doença (Palatnik-De-Sousa et al., 2001). Segundo a política de
saúde atual no nosso país, o controle da leishmaniose é de responsabilidade do
Sistema Único de Saúde (SUS) e após a descentralização das endemias as ações
do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral (PCLV) ficaram a encargo dos
estados e municípios.
O PCLV é baseado em três medidas, que buscam atingir cada elo da cadeia
epidemiológica da doença, são eles: diagnóstico e tratamento dos casos humanos;
combate ao vetor através da aplicação de inseticidas; identificação e eliminação dos
reservatórios domésticos (cães) infectados (MS, 2006). É importante salientar que
estas ações devem ser adotadas de forma integrada.
Dentre estes elos, um dos mais importantes a ser eliminado para a redução
da doença é o vetor, sendo que atualmente o controle químico é a medida mais
objetiva disponível, ainda que insuficiente e complexa. A indicação do uso de
inseticidas para o controle vetorial depende da situação epidemiológica de cada
localidade. Esta medida é direcionada apenas ao flebotomíneo adulto (alado) tendo
como objetivo reduzir o contato entre vetor e hospedeiro susceptível,
conseqüentemente reduzir o risco de infecção pela doença.
O controle químico é recomendado em áreas com o primeiro registro de caso
autóctone de LV humano, em áreas de transmissão moderada e intensa e em áreas
com surto de LV. O controle químico, na zona rural, deve ser realizado em todos os
domicílios onde ocorreu transmissão e apenas em áreas previamente delimitadas
indicadas pela classificação epidemiológica na zona urbana (MS 2006).
Quanto às ações relacionadas ao reservatório, o Ministério da Saúde
recomenda a prática da eutanásia em todos os cães com sorologia positiva e/ou
exames parasitológicos positivos para Leishmania. Esta recomendação se apóia na
consideração de que o cão é um dos principais reservatórios domésticos da doença
e que a infecção canina, normalmente precede a infecção humana.
Por fim, como medida profilática, o manejo ambiental através da modificação
do ambiente, promovendo a limpeza urbana e domicílios com a retirada de
substratos orgânicos que propiciam o desenvolvimento do ciclo biológico do inseto
vetor, se mostra bastante promissor (MS 2006).

22
3. Justificativa

A Leishmaniose Visceral é uma doença em franca expansão, sendo considerada


a forma mais grave entre os tipos desta doença especialmente em casos humanos
não tratados, pois pode alcançar altas taxas de mortalidade.
Brumadinho já registrou vários casos autóctones de LV humana, além de
apresentar grande ocorrência de casos caninos. Além disso, o município recebe um
grande número de turistas, pois tem como atrativo o Parque de Inhotin, conhecido
internacionalmente, esses visitantes podem estar susceptíveis à infecção por LV no
município.
Portanto, para que não haja a expansão da doença no município e aumento dos
casos humanos, o conhecimento das áreas com maior risco de transmissão de
Leishmaniose Visceral Canina através da identificação da prevalência de cães
naturalmente infectados, a análise espacial destes casos e a identificação da
espécie circulante, é necessária para a tomada de decisões quanto ao controle da
doença.

4. Objetivos

4.1 Objetivo geral

 Estimar a prevalência e distribuição espacial dos casos de


Leishmaniose Visceral Canina no município de Brumadinho – MG.

4.2 Objetivos específicos

 Estimar a prevalência da LVC no município de Brumadinho


 Caracterizar a espécie circulante de LVC
 Descrever os sinais clínicos apresentados por cães infectados.
 Identificar através de pontos referenciados a distribuição espacial da
LVC.

23
5 Materiais e métodos

5.1 Área de estudo

O estudo foi realizado no município de Brumadinho - Minas Gerais, que está


localizado na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte porção central,
microrregião Belo Horizonte (Figura 01). O município se encontra a 749 metros
acima do nível do mar com área de 639.434 Km² e clima subtropical úmido com
temperatura média de 21ºC.
Segundo dados do IBGE (Censo de 2010), a população do município é de
33.973 habitantes e a densidade demográfica é de 53,13 hab/Km². Destes, 28.642
(84,3%) são residentes em área urbana e 5.331 (15,7%) são residentes em área
rural.
O município de Brumadinho, de acordo com a estratificação do Ministério da
Saúde é considerado de transmissão esporádica, quando analisado os dados dos
últimos anos em que ocorreram casos de Leishmaniose Visceral Humana.
Brumadinho apresentou de 2007 à 2015 um total de 13 casos de LV humana, sendo:
01 caso de LV em 2007; 04 casos em 2008; 02 casos em 2009; 02 casos em 2010;
03 casos em 2011; 01 caso em 2012 (notificado na cidade mas por se tratar de um
caso importado, não será considerado neste estudo) e 01 caso em 2013. Nos anos
de 2014 e 2015, não houve registro de casos confirmados (SMS – Brumadinho-MG,
2015)

Figura 01: Mapa de localização da área de estudo, município de Brumadinho - Minas Gerais.
24
5.2 Aspectos éticos

O projeto foi submetido para análise e aprovado pela Comissão de Ética no


Uso de Animais (CEUA) da Fundação Oswaldo Cruz, sob protocolo P-16/13.4.
Todos os procedimentos envolvendo animais foram realizados de acordo com as
determinações e convenções da legislação vigente.

5.3 Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo observacional analítico do tipo transversal para a


identificação da prevalência e LVC no município de Brumadinho – MG, identificados
através de inquérito sorológico amostral realizado no período de 08 de abril a 04 de
Agosto de 2014.

5.4 Estudo dos reservatórios domésticos

Para a determinação da prevalência e distribuição espacial dos casos de LVC


no município de Brumadinho, um inquérito amostral foi realizado durante o ano de
2014, onde alíquotas de sangue periférico foram coletadas da orelha de cães para
realização do diagnóstico sorológico, realizada por agentes do Programa de
Controle de Leishmaniose Visceral (PCLV) do município. Foram utilizados dois
testes para essa confirmação, o teste rápido DPP® e o ensaio imunoenzimático
(ELISA). O teste DPP® foi utilizado como triagem e as amostras dos cães reagentes
a este teste, foram submetidas ao teste do ensaio imunoenzimático (ELISA), para
confirmação da infecção por LVC conforme orientação do Ministério da Saúde.
Para este estudo o município contou com um total de 08 setores, sendo
divididos da seguinte maneira: Conceição do Itaguá e Creche, Setor 01; Sol
Nascente, São Judas Tadeu, Dom Bosco, Residencial Bela Vista, Setor 02; Grajaú,
Progresso, Cohab, Setor 03; Carmo, São Sebastião, Santa Efigênia, Lourdes, Setor
04; Estela Passos, Centro, Jota, Bela Vista, Silva Prado, Setor 05; José Henriques,
São Bento, Planalto, Varjão; Setor 06; São Conrado, Santo Antônio, Santa Cruz,
Setor 07; Casa Branca, Alberto Flores, Parque da Cachoeira, Piedade do
Paraopeba, Córrego do Feijão, Setor 08. Este último estrato foi agrupado de acordo

25
com a característica das localidades que se encontram distantes da região central
do município.

5.5 Cálculo amostral

Para o cálculo do tamanho da amostra de cada setor, foi utilizada a tabela


indicada pelo Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral do
Ministério da Saúde (Anexo 01). Segundo essa tabela para cada setor a amostra de
cães deve ser determinada levando em consideração a prevalência esperada e o
número de animais em cada um dos setores (MS, 2006).
A prevalência estimada (esperada) foi de 10%, baseada em um estudo piloto
realizado pela equipe do PCLV da Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho,
levantamento este realizado em um local específico do município. Para indicar a
população de cães pesquisada de cada setor foi utilizado o censo canino, realizado
no município antes do início do inquérito sorológico amostral. Este censo canino
identificou aproximadamente 8000 cães, distribuídos por todas as localidades do
município.
O sorteio dos quarteirões para coleta de amostras em cada setor foi baseado
na utilização de uma tabela de números aleatórios. (Anexo 02).

5.6 Coleta de dados

No momento da coleta do sangue periférico para avaliação sorológica dos


cães pesquisados foi preenchida uma ficha contendo informações sobre a data da
coleta, dados dos proprietários como endereço, localidade, quarteirão e estrato,
além disso, os cães pesquisados receberam um número de identificação. Após a
coleta realizada em campo, esses dados foram transferidos para um banco de
dados criado exclusivamente para esse fim. Esse banco de dados foi alimentado
com informações posteriores a coleta, como resultado do teste DPP® e ELISA. A
data de captura e eutanásia dos cães reagentes aos dois testes também foi inserida
em cada um dos casos.

26
5.7 Coleta de amostras biológicas

Do total de 60 cães identificados como reagentes para LVC, foram extraídas


amostras biológicas de 28 (46,7%) animais. Essa coleta de amostras biológicas foi
realizada pela equipe do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LabDip)
da Universidade Federal de São João Del-Rei (Campus Centro-Oeste) preparada e
treinada para esse procedimento. Porém, vários fatores impediram a coleta de
amostras de todos os cães infectados e identificados durante o trabalho, dentre
esses fatores podemos destacar o deslocamento até a cidade, a política de
eutanásia de cães adotada pelo município, que não permite o acondicionamento de
animais com LVC nas dependências do Centro de Controle de Zoonoses (a
eutanásia é realizada logo após a captura do animal) as mudanças ocorridas na
liderança do PCLV do município, neste caso representado pelo médico veterinário,
além da eventual morte natural de cães antes da captura dos mesmos.
Os cães foram submetidos à eutanásia pelo médico veterinário do município,
sendo administrado tiopental (Thionembutal®), derivado dos barbitúricos, para
alcançar o estado de inconsciência e após a perda do reflexo corneal foi
administrado solução de Cloreto de Potássio (KCL) obedecendo às determinações
da legislação vigente, Resolução Normativa nº 13, de 20 de Setembro de 2013,
intitulada “Diretrizes da Prática de Eutanásia do Conselho Nacional de
Experimentação Animal” – CONCEA. Após confirmação da morte pelo médico
veterinário, foi realizada a coleta de amostras biológicas. Foram coletados tecidos
como pele da orelha, baço e linfonodo poplíteo, além da coleta de sangue punção de
medula óssea. Estas amostras foram utilizadas para a caracterização da espécie
circulante através da técnica de PCR e para a montagem de lâminas citológicas para
realização de diagnóstico parasitológico.

5.8 Diagnóstico parasitológico

O diagnóstico parasitológico é considerado o padrão ouro para confirmação


da infecção, pois permite a visualização direta de formas amastigotas do parasito.
Neste estudo o diagnostico sorológico foi realizado através da leitura de lâminas

27
citológicas confeccionadas pela técnica chamada de imprint, ou citologia de
decalque.
Essa técnica consiste na aplicação do material coletado em uma lâmina
limpa, para tal é necessário retirar o excesso de sangue da amostra utilizando papel
filtro e depois pressionar o material sobre a área da lâmina (por aposição), após esta
etapa as lâminas foram coradas através de um conjunto para coloração rápida
(Panótico Rápido). Este conjunto é composto por um fixador e duas soluções
corantes. As amostras são submetidas a imersões de 5 segundos em cada um
destes compostos e ao final da última a lâmina se encontra pronta para a leitura.
Para cada um dos 28 animais, foram confeccionadas três lâminas dos
tecidos: baço, pele (de orelha) e linfonodo poplíteo.

5.9 Caracterização da espécie de LVC

5.9.1 Extração de DNA

A extração de DNA das amostras biológicas coletadas foi realizada segundo o


“Protocolo de Extração de DNA pelo Fenol-Clorofórmio” do LabDIP da Universidade
Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Campus Centro Oeste. Foi retirado 50mg dos
tecidos (baço, pele e linfonodo) de cada uma das 28 amostras e colocado em uma
placa de petri, a amostra foi cortada em fragmentos pequenos com auxilio de uma
lâmina de bisturi e transferida para um tubo de 1,5 ml estéril, 500µl de solução de
lise foi adicionada ao tubo e neste a mesma foi macerada. Após esta etapa o tubo foi
agitado e a proteinase K adicionada, a amostra foi novamente agitada e incubada
em banho-maria a 55ºC por uma noite.
Após a incubação o tubo foi agitado a fim de homogeneizar o seu conteúdo
(lisado) e adicionado a ele um (01) volume de Fenol-Clorofórmio. A amostra foi
agitada lentamente por inversão por dez minutos e centrifugada a 13000 rpm’s
(Rotações por Minuto) por cinco minutos. Ao final desta etapa, o sobrenadante foi
transferido para um novo tubo e as últimas etapas repetidas, a partir do acréscimo
de um (01) volume de Fenol-Clorofórmio.
Para a etapa final da extração do DNA um (01) volume de clorofórmio e álcool
isoamílico foi adicionado à amostra e o tubo agitado de forma lenta por inversão por

28
dez minutos. Por fim, o tubo foi centrifugado 13000 rpm’s e o sobrenadante
transferido para um novo tubo.
O isolamento do DNA no tubo foi feito por precipitação. Para tal, 100µl de
Acetato de sódio foi adicionado à amostra, juntamente com um (01) volume de
isopropanol (95-100%) gelado e incubado a -80ºC por vinte minutos. Após esta
etapa, o tubo foi centrifugado a 13000 rpm’s e o sobrenadante descartado, 500µl de
etanol gelado foi adicionado ao tubo e o mesmo invertido de forma lenta por dois
minutos e centrifugado a 13000 rpm’s por quinze minutos. Novamente, o
sobrenadante foi descartado e adicionado ao tubo Água MiliQ para a hidratação do
DNA. Por fim, a amostra foi incubada a 37ºC por trinta minutos e depois
acondicionada no freezer até o seu uso.

5.9.2 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)

A Reação em Cadeia da Polimerase do alvo ITS1 foi utilizada nas 28


amostras, para a caracterização da espécie circulante de Leishmania. Para que
ocorresse a amplificação do fragmento foram adicionadas as amostras uma solução
tampão 1x (200mM Tris-HCl pH8,4, 500 mM KCL), 1,5 mM de MgCl2 , 200µM de mix
de dNTP’s, 0,5 pmol de Primer F (LITS1R), 0,5 pmol de Primer R (L5.8S), 1,25 U de
Taq Polimerase e 2µl de DNA “template” para um volume final de 25µl.
Após os reagentes terem sido adicionados as amostras, estas foram
acondicionadas no termociclador automático para a amplificação do DNA alvo,
alternando em 32 ciclos de 95ºC por dois minutos, 95ºC por vinte segundos, 53ºC
por trinta segundos, 72ºC por um (01) minuto, 72ºC por seis minutos.

5.10 Avaliação dos sinais clínicos

Para a avaliação dos sinais apresentados por cães sintomáticos infectados


por LVC, dos 60 cães positivos, 28 cães (dos quais foram coletas as amostras
biológicas para a determinação da espécie e demonstração do parasito), passaram
por uma avaliação clínica conduzida pelo veterinário responsável do Serviço de
Controle de Zoonoses do município de Brumadinho - MG. Esta avaliação seguiu
uma ficha especialmente preparada para este estudo (Anexo 03). O veterinário

29
responsável avaliou nove sinais clínicos descritos na literatura e que poderiam ser
apresentados por cães infectados por LVC, além de avaliar a presença de
ectoparasitas, sexo, raça e estado nutricional geral. Cada um destes cães recebeu
uma identificação especifica na ficha Clinica de Acompanhamento. Sinais clínicos
como hepatoesplenomegalia e linfonodos aumentados, foram avaliados durante a
necropsia e anotados em um espaço reservado na ficha.
Neste presente estudo, classificamos os cães como sendo assintomáticos, ou
seja, aqueles que não apresentaram sinais clínicos da LVC e sintomáticos, aqueles
que apresentaram qualquer um dos sintomas da LVC.

5.11 Georreferenciamento

Os cães pesquisados durante a execução do inquérito e todos os casos de LV


humana do município de Brumadinho, foram georreferenciados utilizando o sistema
de posicionamento global GARMIM GPSMAP 76 (Olathe, KS, USA) e as
coordenadas geográficas ajustadas para a região próxima de onde as mesmas
ocorreram com a ajuda do programa Google Earth® (Mountain View, CA, USA). Um
banco de dados foi utilizado para armazenar e organizar estas informações.
Após o georreferenciamento, estes dados foram utilizados no programa
ArcGIS™ versão 10.0, para a confecção dos mapas e análise espacial da ocorrência
da doença.

5.12 Densidade Kernel

O mapeamento digital vem apresentando diversas vantagens quando


comparado aos métodos tradicionais, entre elas a possibilidade da geração de
mapas de densidade, conhecidos como Mapas de Kernel ou Densidade de Kernel.
O termo “kernel” em inglês significa núcleo e nesse contexto esse termo faz
referência a um método estatístico de estimação de densidades. O núcleo, valor
central é a referência para cada uma das observações que serão indicadas. No
mapa é plotado a intensidade pontual de determinado fenômeno em toda a região
do estudo, portanto a densidade de Kernel é uma boa alternativa para análise
geográfica do comportamento de padrões, proporcionando uma visão geral da

30
intensidade do processo nas regiões do mapa. Este produto cartográfico é uma
poderosa ferramenta de análise espacial (Fernanda et al., 2014).
Neste estudo o programa ArcGIS™ foi utilizado para a geração dos mapas e
densidade de Kernel.

6 Resultados

6.1 Prevalência.

Foram avaliados 1413 cães, 672 (47,6%) machos e 741 (52,4%) fêmeas.
Deste total 60 (4,2%) cães foram identificados como sororeagentes por LVC, sendo
34 (56,7%) machos e 26 (43,3%) fêmeas. A prevalência no inquérito sorológico foi
de 4,25%, conforme demonstrado na tabela abaixo (TABELA 01). A diferença entre
gêneros não foi estatisticamente significativa.

Tabela 01
Prevalência de Leishmaniose visceral canina no município de Brumadinho – MG. 2014.

N % Cães + % Prevalência P*

Sexo

Macho 672 (47,6%) 34 (56,7%) 2,4% 0,18

Fêmea 741 (52,4%) 26 (43,3%) 1,8%

Total 1413 100% 60 100% 4,2%

Fonte: Serviço de controle de zoonoses do município de Brumadinho – MG.


*Nível de significância de 0,05 (x²).

O inquérito sorológico foi realizado em todo o município de Brumadinho e a


distribuição das prevalências dos bairros e setores podem ser observadas na tabela
a seguir (TABELA 02).

31
Tabela 02
Prevalência de LVC no município de Brumadinho-MG, distribuídas por setores/bairros. 2014.
Localidade Cães examinados Cães positivos % (total de positivos) Prevalência

SETOR 01 110 02 3,3 1,82


Creche 50 0 - -

Conceição do Itaguá 60 2 3,3 3,33

SETOR 02 96 03 5,0 3,13

Sol Nascente 9 0 - -

Dom Bosco 12 0 - -

R.B.V 75 3 5 4

SETOR 03 167 06 10,0 3,59


Grajaú 84 3 5 3,57

Progresso 52 2 3,3 3,84

COHAB 31 1 1,7 3,22

SETOR 04 108 05 8,3 4,63


Carmo 23 0 - -

São Sebastião 32 3 5 9,37

Santa Efigênia 40 2 3,3 5

Lourdes 13 0 - -

SETOR 05 92 03 5,0 3,26


Estela Passos 7 0 - -

Centro 11 0 - -

Jota 29 0 - -

Bela Vista 23 2 3,3 8,69

Silva Prado 22 1 1,7 4,54

SETOR 06 105 07 11,6 6,67


José Henriques 23 2 3,3 8,69

São Bento 11 0 - -

Planalto 28 3 5 10,71

Varjão 43 2 3,3 4,65

SETOR 07 99 10 16,6 10,10


São Conrado 67 8 13,3 11,94

Santo Antônio 17 1 1,7 5,88

Santa Cruz 15 1 1,7 6,66

SETOR 08 636 24 40,0 3,77


Casa Branca 251 10 16,7 3,98

Alberto Flores 47 2 3,3 4,25

Parque da Cachoeira 160 5 8,3 3,12

Piedade da Paraopeba 76 4 6,8 5,26

Córrego do Feijão 57 2 3,3 3,5

Monte Cristo 45 1 1,7 2,2

TOTAL 1413 60 - -

32
6.2 Diagnóstico parasitológico

Para cada um dos 28 animais, foram confeccionadas três lâminas dos


tecidos: baço, pele (de orelha) e linfonodo poplíteo e em pelo uma destas lâminas de
cada animal pudemos visualizar as formas amastigotas de Leishmania, confirmando
assim a infecção do animal.

6.3 Caracterização da espécie

Para tentar identificar a espécie de Leishmania circulante em Brumadinho, as


amostras biológicas coletadas dos 28 cães foram submetidas à amplificação do
material genético e posterior visualização em gel (2,5%). Na maioria das amostras o
material genético amplificado foi extraído do baço dos cães, com exceção da
amostra L21 proveniente do linfonodo poplíteo e as amostras P12, P18, P24, P26,
P27 e P28 provenientes da pele de orelha, nestas últimas não foi possível a
amplificação a do material genético a partir da amostra do baço, por isso, a
necessidade da amplificação através dos outros tecidos. Todas as amostras
demonstraram padrão semelhante à amostra Leishmania (L.) infantum (Li) utilizada
como referência, conforme demonstrado nas figuras abaixo. (FIGURAS 02, 03 e 04)

33
Figura 02: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por Leishmania (L.)
infantum. PM = Peso Molecular, B1, B2, B3, B4, B5, B6, B7, B8, B9, B10, B11, B13, B14, B15, B16 amostras de DNA
proveniente do baço. Lb = Leishmania braziliensis. Li = Leishmania infantum.

Figura 03: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por
Leishmania (L.) infantum. PM = Peso Molecular, B17, B19, B20, B22, B23, B25, amostras de
DNA proveniente do baço. Lb = Leishmania braziliensis. Li = Leishmania infantum. La = Leishmania
amazonensis

Figura 04: PCR-RFLP – ITS1, das amostras de cães naturalmente infectados por
Leishmania (L.) infantum. PM = Peso Molecular, P12, P18, P24, P26, P27, P28 amostras de
DNA proveniente de pele de orelha. L21 amostra de DNA proveniente de linfonodo poplíteo.
Lb = Leishmania braziliensis. Li = Leishmania infantum. La = Leishmania amazonensis

34
6.4 Avaliação Clínica

A avaliação clínica realizada antes da coleta das amostras biológicas indicou


que dos 28 cães, 20 (71,42%) apresentaram pelo menos um sinal clínico da LVC e 8
(28,57%) não apresentavam qualquer sinal da doença. Destes, 15 (53,6%) machos
e 5 (17,8%) fêmeas apresentaram algum sinal da doença.(TABELA 03)

Tabela 03.
Número de amostras biológicas coletadas para caracterização de espécie e avaliação de sinais
clínicos de acordo com sexo e sintomas. Brumadinho-MG. 2015.
Característica Clínica
Sexo Sintomático % Assintomático % TOTAL % P*
Machos 15 53,6 % 4 14,3 % 19 67,9 % 0,40
Fêmeas 5 17,8 % 4 14,3 % 9 32,1 %
TOTAL 20 71,4 % 8 28,6 % 28 100 %

Distribuição entre animais do mesmo sexo

Machos 15 78,9 % 4 21,1 % 19 100 % 0,40


Fêmeas 5 55,6 % 4 44,4 % 9 100 %
Fonte: LabDip. Universidade Federal de São João del-Rei. CCO.
*Nível de significância de 0,05.

Os principais sintomas apresentados nos cães sintomáticos foram: linfonodo


ativado, descamação, onicogrifose e hiperceratose. (TABELA 04)

35
Tabela 04.
Número de sinais clínicos apresentados por cães infectados por LVC no município de Brumadinho,
MG – 2014.
Sinal Clínico Cães examinados
N (Sintoma) % (Por sintoma)

Descamação 12 42,9%

Alopecia 7 25%

Secreção ocular 2 7,1%

Opacidade córnea 6 21,4%

Conjuntivite 5 17,8%

P. Patas 1 3,6%

Onicogrifose 11 39,3%

Mucosa pálida 6 21,4%

Hiperceratose 11 39,3%

Linfonodo ativado 14 50%

6.5 Distribuição espacial da LV

6.5.1 Leishmaniose Visceral Humana

Os casos humanos notificados e confirmados do município de Brumadinho


foram georreferenciados e identificados no mapa (FIGURA 05). Os pontos no mapa
foram ajustados para que representem apenas a localidade (bairro) onde ocorreram
não sendo, portanto, o local exato de sua ocorrência. Esta medida foi tomada para
evitar qualquer identificação e/ou constrangimento dos afetos por LV humana. O
mapa abaixo demonstra os casos de LV humana no período de 2007 a 2013.

36
Figura 05. Série histórica de casos de LV no mapa do município de Brumadinho MG. Os pontos em
laranja representam os casos humanos no período de 2007 a 2013.

37
6.5.2 Leishmaniose Visceral Canina

Todos os cães pesquisados durante o estudo foram georreferenciados e


receberam um ponto no mapa (FIGURA 06).

Figura 06. Distribuição de cães pesquisados durante o estudo realizado entre Abril e Agosto de 2014.
Os pontos verdes representam os cães não reagentes e os pontos vermelhos os cães positivos para
Leishmaniose Visceral Canina.

Os cães reagentes aos testes DPP® e ELISA, considerados positivos, foram


georreferenciados e plotados no mapa (FIGURA 07). Durante o estudo foram
identificados 60 cães sororeagentes para Leishmaniose Visceral conforme
demonstrado na figura abaixo.

38
Figura 07. Georreferenciamento de cães positivos no município de Brumadinho, MG. Os pontos
vermelhos demonstram as amostras positivas para LVC.

6.5.3 Densidade de Kernel

A densidade de Kernel realizada com dados deste estudo demonstrou que a


LVC está concentrada principalmente em duas regiões do município de Brumadinho,
a região central e bairros que a circundam e a região de Casa Branca, onde se
encontram alguns dos condomínios fechados da cidade. Estas zonas quentes
indicam que essas regiões citadas podem ser prioritárias para a estratégia de
combate e controle da LV no município.

39
Figura 08. Mapa do município de Brumadinho – MG. Sobreposição de cães positivos e densidade de
Kernel gerada a partir dos casos positivos e negativos georreferenciados. No mapa os pontos
vermelhos representam os cães positivos e as zonas quentes (hotspots) a densidade de Kernel.

Figura 09. Mapa do município de Brumadinho – MG. Em destaque a densidade de Kernel


demonstrando as zonas quentes “hotspots” referente aos casos caninos de LV.

40
Figura 10. O mapa demonstra a sobreposição de casos caninos, casos humanos e densidade de
Kernel. Os pontos vermelhos representam os casos caninos, os laranjas representam os casos
humanos (ajustados por localidade de ocorrência) e a zona quente a densidade de Kernel.

7 Discussão

No nosso estudo realizado em Brumadinho, identificamos cães infectados


pela LVC e sua distribuição espacial no município através do inquérito sorológico.
Nos cães sororeagentes, identificamos a espécie causadora da infecção e
descrevemos os principais sinais clínicos.
A prevalência global apresentada em Brumadinho foi de 4,25%. Muitos
trabalhos realizados no Brasil tem se dedicado ao levantamento de dados
epidemiológicos sobre a leishmaniose, em especial aos dados referentes à
soroprevalência dos cães infectados por LVC. Isso se deve ao fato de o cão ser
considerado o principal reservatório doméstico da doença, representando um elo
fundamental na cadeia de transmissão da doença (Moreno, 2002).

41
Dentre estes estudos podemos citar no estado de Minas Gerais os trabalhos
desenvolvidos por Silva et al., (2001) em Belo Horizonte que identificou a
prevalência de 3,6%, Teixeira-Neto et al.,. (2014) em estudo realizado na cidade de
Divinópolis, descreveu uma prevalência de 4,63%, na cidade de Montes Claros a
prevalência foi de 4,9% segundo Monteiro et., al; (2005). O trabalho de Borges et
al.,. (2014) demonstrou uma prevalência de 10,6% no município de Juatuba – MG e
em Governador Valadares, Barata (2013) apontou uma prevalência acumulada de
30,2% em seu estudo realizado ao longo dos anos de 2008 a 2011.
Em outras regiões do país estudos como o de Almeida (2012) e Oliveira
(2015) identificaram as prevalências de 22,1% e 15,5%, respectivamente, nas
cidades de Cuiabá – MT e no distrito de Jacaré em Niterói – RJ. Na região Nordeste
Barbosa et al., (2015) identificou uma prevalência de 10,30% em Natal – RN. Em
Campina Grande – PB, 4,3% dos cães pesquisados eram sororeagentes (Brito et al.,
2016), enquanto Fernandes et al., (2016).
A prevalência de LVC no município de Brumadinho identificada no nosso
estudo se apresenta muito próximo da maioria dos trabalhos realizados em diversas
regiões do estado e do país e apresentados acima, porém, ele se distancia de
valores encontrados por alguns outros autores.
As diferenças nos valores encontrados entre os estudos podem estar
relacionadas às características de cada município, uma vez que existem diferentes
fatores de risco relacionados à transmissão da LVC que podem variar de uma região
para outra. Os principias fatores são a degradação do ambiente, os fluxos
migratórios, a ocupação desordenada, o saneamento precário, as características
socioeconômicas de cada região, e a interrupção das ações de controle da LV
(Missawa; Borba, 2009; Gontijo & Melo, 2004; MS, 2006)
Além disso, as características individuais dos cães pesquisados devem ser
levadas em consideração. Desde seu estilo de vida que pode favorecer a exposição
a vetores (Santos, 2010), até uma possível via alternativa de transmissão, como
proposto por Paz (2013), sugerindo a participação de ectoparasitas como vetores
mecânicos de LVC. Entretanto essas características individuais não são, até o
momento, totalmente claras em relação ao impacto na epidemiologia da doença.
A disparidade encontrada entre os estudos pode ainda, ser resultado da
inexistência de um padrão para o levantamento dos dados em diferentes

42
localidades, diferenças nas áreas pesquisadas que muitas vezes não representam
todo o município, nos métodos de diagnóstico utilizados e na metodologia
empregada na seleção das amostras, por exemplo, em áreas previamente
identificadas como de maior transmissão de LV e com casos de LV humana,
representando, portanto um viés.
As amostras coletadas dos 28 cães (dentre os positivos) foram submetidas à
amplificação do material genético pela técnica de PCR e posterior avaliação em gel
de agarose 2%.
Todas as amostras, independentemente do local de onde o cão era
domiciliado, apresentaram um padrão semelhante à amostra de referência utilizada
de Leishmania infantum, isto sugere que a espécie responsável pela infecção de
cães em Brumadinho é de fato a L. infantum a exemplo do que é amplamente
descrito na literatura (Zuben et al., 2013; Santis et al., 2011; Silva et al., 2001;
Teixeira-Neto et al., 2014).
Os sinais clínicos mais freqüentes encontrados na população canina
sintomática avaliada neste estudo foram: linfonodo ativado, descamação,
hiperceratose, onicogrifose, alopecia, mucosa pálida e opacidade córnea. Estes
sinais são semelhantes com o que foi encontrado em outros estudos. Oliveira et al.,
(2015). No trabalho realizado por Gonçalves (2010) as manifestações mais
freqüentes foram descamação, alopecia caquexia, onicogrifose, mucosa
hipocoradas (pálidas). Dantas-Torres et al., (2006) encontrou no município de
Paulista os sinais dermatite, alopecia, úlceras cutâneas, conjuntivite e onicogrifose.
Em área urbana de Cuiabá Almeida et al., (2010) relatou a alopecia, descamação,
onicogrifose e conjuntivite como sendo as manifestações clinicas mais comuns,
Barros (2011) identificou em cães infectados no Distrito Federal sinais como
linfonodos ativados, alopecia e mucosas pálidas como mais freqüentes e Castro-
Junior et al., (2014) descreveu em seu trabalho a onicogrifose como sinal clínico
mais prevalente.
Assim como em Brumadinho, as manifestações cutâneas (sinais
dermatológicos) estiveram presentes na maioria dos animais avaliados nos mais
diversos trabalhos, estando entre os sinais mais comuns (Penaforte, 2013; Oliveira,
2015; Castro-junior, 2014; Barros, 2011). A presença deste grande número de sinais
clínicos, que se manifestam em freqüências diferentes, reforça a idéia que os testes

43
laboratoriais se tornam indispensáveis para a determinação da infecção de cães por
LV uma vez que, não existe sinal patognomônico desta doença em cães.
Atualmente, diversos trabalhos sobre as leishmanioses têm incorporado
ferramentas que contribuem para a análise da identificação, da distribuição e da
posterior tomada de decisões referentes ao controle e/ou combate da LV. Dentre
essas ferramentas está a utilização de diversas tecnologias que permitem o
mapeamento dos casos utilizando um dos tipos de SIG (Sistema de Informações
Geográficas), como exemplo o GPS. Muitos autores incluíram em seus trabalhos
essas ferramentas que permitem a analise espacial da distribuição da LV, seja
canina ou humana (Maia et al., 2014; Matsumoto, 2014; Borges et al., 2014).
A análise da distribuição espacial dos casos de LVC na cidade de
Brumadinho, auxiliada pela ferramenta densidade de Kernel aponta duas de maior
transmissão da LVC no município. A primeira área é composta por setores na área
urbanizada da cidade a exemplo do que foi anteriormente demonstrado em outros
estudos (Silva, 2001; Monteiro, 2005; Teixeira-Neto, 2014; Brito et al.; 2016). A
segunda área de maior transmissão de LVC é a localidade Casa Branca com o
maior número de ocorrências de infecção canina no estudo.
É importante ressaltar que essas áreas apontadas no mapa, correspondem
ao maior número de cães positivos. Quando observadas as prevalências
encontradas nos setores, estas se mostram com valores muito próximos com
exceção do setor 07 que apresenta uma maior prevalência de 10,1%. Isso
demonstra que todos os setores merecem atenção no planejamento das estratégias
de controle da LVC no município de Brumadinho.
Apesar de este estudo apontar as localidades onde a transmissão de LVC
ocorreu com maior intensidade, as informações colhidas não indicam os principais
fatores que levam esses cães a contrair os protozoários. Muitos fatores contribuem
para que uma área seja mais propensa a transmissão de LV que outra entre estes
fatores devem ser destacados as condições ambientais da localidade, das
residências, presença de outros animais no intra ou peridomicilio e ainda a presença
de animais silvestres que podem ser reservatórios da doença (Oliveira et al., 2005;
Melo & Gontijo, 2004). Portanto faz-se necessário um estudo complementar a estes
com base nas observações obtidas neste trabalho.

44
As informações colhidas na realização do trabalho como a prevalência, a
identificação da espécie circulante e os pontos indicados nos mapas tornam-se
fundamentais para o direcionamento da estratégia de combate a LVC no município.
A partir destas informações, as ações de controle como identificação e eutanásia de
cães positivos, bem como a aplicação de inseticidas podem ser direcionadas para
estes locais. Isso poderá contribuir com o controle da doença e conseqüentemente a
redução do número de infecções por LV humana.

45
8 Conclusão

A prevalência global identificada em Brumadinho foi de 4,25%. Entre os


setores os valores se apresentaram próximos.
Em todas as amostras submetidas à técnica de PCR, a espécie identificada
foi a Leishmania infantum, o que sugere que esta é a espécie circulante no
município.
Os cães apresentaram como principais sintomas clínicos alterações
dermatológicas, a exemplo do que é amplamente descrito na literatura.
A distribuição espacial aliada à ferramenta de Kernel aponta duas áreas com
maior número de casos de infecção por LVC. A primeira área no perímetro urbano
da cidade e outra em uma área constituída principalmente por condomínios.
Em conclusão, nossos resultados permitiram uma melhor compreensão da
dinâmica de transmissão da leishmaniose visceral canina no município de
Brumadinho. Apesar das limitações impostas por um estudo transversal, foi possível
a identificação das áreas que podem ser consideradas de maior relevância na
transmissão da leishmaniose. As ações de combate e controle da LVC no município
podem ser direcionadas com base nas informações obtidas através deste estudo a
fim de tentar diminuir o risco de infecção humana. Por fim, para que os todos os
fatores envolvidos no risco de infecção por LV tanto canina quanto humana no
município, sejam conhecidos, faz-se necessário a realização de outros estudos.

46
9 Anexos

Anexo 01
Tabela para cálculo amostral segundo a prevalência e população canina.

47
Anexo 02
Tabela de números aleatórios para sorteio de quarteirões.

48
Anexo 03
Ficha clínica de acompanhamento em cães infectados com LV.

49
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