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Revista Saberes da Faculdade São Paulo – FSP

ABORDAGEM SOBRE A ANATOMIA E FISIOLOGIA DO NERVO FACIAL

Eduardo Kailan Unfried Chuengue1


Tais Sena da Rocha2
Jéssica Jamali Lira3
Neide Garcia Ribeiro Castilho 4

Resumo
O nervo facial consiste no VII par de nervo craniano, e sua ação predominantemente motora,
permite a realização das expressões faciais. Este trabalho utilizou os meios eletrônicos, bancos
de dados específicos (PUBMED, SCIELO, LILACS) e o acervo da biblioteca da Faculdade São
Paulo (FSP). Selecionou-se um total de 17 trabalhos (3 livros, 7 artigos, 5 monografias e 2
documentos eletrônicos), os quais contemplaram o assunto e atenderam aos requisitos de
inclusão. O nervo facial origina-se no sulco bulbo-pontino (tronco encefálico) e percorre um
caminho tortuoso até os locais de sua inervação – face e pescoço. No decorrer do seu trajeto, o
nervo facial subdivide-se em duas porções: temporafacial e cervicofacial, os quais emitem
ramos terminais que inervam os músculos faciais. Portanto, a compreensão da anatomia e
fisiologia do nervo facial, permite, mediante as circunstâncias patológicas, a aplicação ou
utilização de recursos terapêuticos de forma mais específica e adequada para cada caso.

Palavras-Chave: Nervo Facial. Anatomia. Neuroanatomia. Sistema Nervoso.

Abstract
The facial nerve consists of the VII cranial nerve pair, and its predominantly motor action,
allows the realization of facial expressions. This work uses electronic means, applicable
databases (PUBMED, SCIELO, LILACS) and the collection of the library of Faculdade São
Paulo (FSP). Select a total of 17 papers (3 books, 7 articles, 5 monographs and 2 electronic
documents), which are the issues covered or the subject and met the inclusion requirements.
The facial nerve originates in the bulb-pontine groove (brain stem) and travels a tortuous path
to the sites of its innervation - face and neck. In the course of its traffic, the facial nerve is
divided into two parts: temporafacial and cervicofacial, which emit terminal branches that
innervate the facial muscles. Therefore, understanding the anatomy and physiology of the facial
nerve allows, using pathological conditions, the application or use of therapeutic resources in a
more specific and appropriate way for each case.

Key-Words: Facial Nerve. Anatomy. Neuroanatomoy. Nervous System.

_______________________________________________
1
Acadêmico do 8º Período do Curso de Bacharelado em Odontologia da Faculdade São Paulo – FSP – Rolim de
Moura-RO. E-mail: eduardokailanrm@gmail.com.
2
Acadêmica do 5º Período do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo – FSP – Rolim de
Moura-RO. E-mail: taissenarm@gmail.com
3
Mestra em Ciências Ambientais, Coordenadora do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo
– FSP – Rolim de Moura-RO, E-mail: jessicajlira@gmail.com.
4
Mestra em Fisioterapia Cardiorrespiratória, Professora da Faculdade São Paulo – FSP – Rolim de Moura-RO. E-
mail: n_g_ribeiro@hotmail.com.
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INTRODUÇÃO

Os nervos cranianos constituem um total de 12 pares de nervos enumerados em


algarismos romanos na sequência crânio-caudal, sendo que o VII par corresponde ao nervo
facial (CORRÊA, 2011). Este par de nervo craniano origina-se na região anterior do tronco
encefálico, mais precisamente no sulco bulbo-pontino e, posteriormente percorre um trajeto
tortuoso para alcançar seus locais de inervação – os músculos da face e do pescoço
(JANUÁRIO, 2011).
Adicionalmente, ao percorrer o aqueduto de falópio, emite diversos ramos nervosos, tais
como: nervo estapédio, corda do tímpano, ramos musculares e nervo auricular posterior
(CAUÁS, 2004). Ao emergir do espaço intracraniano, através do processo estilomastoideo, o
nervo facial passa anteriormente ao ventre do músculo digástrico e lateralmente à artéria
carótida externa e processo estiloide do osso temporal. Na sequência, percorre para o interior
da parótida e, divide-se em duas partes: superior ou temporofacial e inferior ou cervicofacial,
os quais emitem ramos terminais que fazem a inervação dos músculos da expressão facial
(ABOUDIB-JÚNIOR, 2017).
A constituição deste par de nervo craniano é mista (motora, sensitiva e parassimpática),
porém, a sua porção motora é a mais representativa, sendo responsável pela inervação dos
músculos motores da face e pescoço, os quais permitirão aos indivíduos a realização das
expressões não verbais produzidas durante o processo de comunicação (CAUÁS, 2004).
O VII par de nervo craniano é imprescindível para a regulação das expressões faciais a
fim de auxiliar na comunicação não verbal, possibilitando a apresentação do ser ao mundo e,
sobretudo, a exposição de suas variadas emoções ou sensações (SANTOS; GANDA;
CAMPOS, 2009; ROBERTO, 2015), bem como, executar as funções de mastigação, deglutição
e fala (TESSITORE; MAGNA: PASCHOAL, 2010).
Partindo deste pressuposto, e considerando que os distúrbios que acometem este par de
nervo craniano podem alterar a estrutura e a sua função e, portanto, necessitar de recursos
terapêuticos específicos, requerendo do profissional da saúde um conhecimento mais amplo
desta estrutura, objetivou-se com a realização deste trabalho descrever os aspectos anatômicos
e fisiológicos inerentes ao VII par de nervo craniano com suas respectivas características de
inervação sobre os músculos das expressões faciais.

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1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Considerações sobre o sistema nervoso

O tecido nervoso compreende basicamente dois tipos de células: os neurônios – que


corresponde a unidade fundamental, cuja função básica é receber, processar e enviar
informações, e as células gliais ou neuroglia – consiste de células que ocupam os espaços entre
os neurônios e tem funções de sustentação, revestimento ou isolamento, modulação da atividade
neuronal e também proporciona a defesa deste tecido (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Os neurônios são células elementares básicas que constituem o sistema nervoso e,
sobretudo, compreendem células altamente excitáveis e apresentam variações quanto ao
tamanho e à forma e, além disso, cada neurônio recebe influências múltiplas em todo momento,
exibindo uma conduta complexa, a qual se manifesta pelas ações que exercem sobre outros
neurônios (comunicam entre si) ou com células efetuadoras (células musculares e/ou
secretoras), usando basicamente uma linguagem elétrica por meio de alterações do potencial de
membrana (CASTRO, 2010; SNELL, 2013; MACHADO; HAERTEL, 2014).
Estruturalmente, Coli (2007); Siqueira (2007); Snell (2013); Machado; Haertel (2014);
Luiz (2015) descreveram que os neurônios são constituídos por três partes distintas: corpo
celular ou soma; dendritos e axônio. Referente à localização, eles podem ser encontrados no
encéfalo, na medula espinhal e nos gânglios e, ao contrário da maioria das outras células
corporais, os neurônios normais no indivíduo maduro não sofrem divisão e replicação (SNELL,
2013).
De acordo com Castro (2010) o sistema nervoso de um indivíduo adulto jovem contém
aproximadamente cem bilhões de neurônios, associados a uma quantidade ainda maior de
células gliais e, para a sua classificação leva-se em consideração o número, comprimento e
modo de ramificação dos neuritos ou dendritos, podendo se apresentar de formas distintas:
unipolar, bipolar, multipolar e pseudounipolar (SNELL, 2013; LUIZ, 2015).
No que diz respeito à função, Castro (2010) e Luiz (2015) descreveram que os neurônios
podem ser classificados de formas distintas, como: sensitivos ou aferentes; interneurônios e
neurônios motores ou eferentes, os quais forma feixes de fibras nervosas.
A fibra nervosa compreende um axônio com os seus respectivos envoltórios de origem
glial, quando presentes, sendo que a bainha de mielina é o principal envoltório e funciona como

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um isolante elétrico. Além disso, quando a fibra nervosa é envolvida por bainha de mielina, os
axônios são denominados de fibras mielínicas (diâmetro maior, entre 1 e 20 m, a condução
ocorre de maneira mais rápida, sendo de aproximadamente 100m/s) e, na ausência desta, as
fibras nervosas são nomeadas de amielínicas (apresentam um diâmetro entre 0,5 e 2 m a
condução se propaga em uma velocidade média de 10m/s). Ressalta-se que ambas as fibras
estão presentes tanto no sistema nervoso central e periférico, porém, no primeiro a bainha de
mielina é formada por células do oligodendrócito, enquanto que no segundo são as células de
Schwann (CASTRO, 2010; PARREIRAS et al., 2010; ROBERTO, 2015).
Os feixes de fibras nervosas, que correspondem aos nervos periféricos, formam cordões
esbranquiçados envolvidos por tecido conjuntivo e, funcionalmente e morfologicamente,
permitem a conexão entre o sistema nervoso central e sistema nervoso periférico e demais
estruturas orgânicas (PARREIRAS et al., 2010).
Referente aos envoltórios que suportam estruturalmente e nutrem regionalmente os
nervos periféricos, eles são denominados como: Epineuro (camada externa); Perineuro (camada
intermediária) e Endoneuro (camada interna) (COLI, 2007; SIQUEIRA, 2007; LUIZ, 2015;
TEIXEIRA; ALMEIDA, YENG, 2016).
Em suma, a função dos nervos, encontra-se estritamente relacionada à condução de
impulsos nervosos, através de seus componentes funcionais ocorrendo no sentido bidirecional
(aferente e eferente) (LIMA et al., 2013).

2. METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica a qual utiliza-se de fontes


secundárias que contempla referenciais bibliográficos que sejam públicos e, sobretudo, que
alcançam o tema de estudo sobre determinado assunto (MARCONI; LAKATOS, 2017).
Adicionalmente, contempla uma abordagem qualitativa, buscando um melhor entendimento do
assunto, preocupando-se em entendê-lo a partir dos símbolos ou significados a eles atribuídos
(MEDEIROS, 2006).
Para a coleta de referenciais bibliográficos considerou as publicações dos últimos 10
anos (artigos / livros / teses / dissertações, entre outros) publicados na íntegra e disponíveis em
meios eletrônicos e bancos de dados específicos (PUBMED, SCIELO, LILACS), bem como,
através da consulta ao acervo da biblioteca da Faculdade São Paulo (FSP) de Rolim de Moura,

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Estado de Rondônia – José Mastrangelo Alves, onde foram incluídos os livros que abordaram
o contexto do trabalho em questão.
Para a busca nos bancos de utilizou-se como palavras-chave os descritos em ciência da
saúde (DeCS) nos idiomas português e inglês, sendo elas: Nervo Facial / Facial Nervo;
Anatomia / Anatomy; Neuroanatomia / Neuroanatomy; Sistema Nervoso / Nervous System.

3. RESULTADOS

No presente estudo foram utilizados um total de 17 referências bibliográficas, as quais


contemplaram o contexto abordado e, atenderam os pré-requisitos de pesquisa propostos na
descrição da metodologia. Assim, desse total, 3 tratavam-se de livros do acervo da Biblioteca
da Faculdade São Paulo de Rolim de Moura-Estado de Rondônia, 7 eram artigos publicados em
revistas e periódicos, 5 monografias (1 de especialização e 4 de mestrados), e, 2 documentos
dispostos em meios eletrônicos online.
Com essa busca foi possível descrever os aspectos inerentes à morfologia e fisiologia
do VII par de nervo craniano – facial.

4. DISCUSSÃO

Os nervos cranianos são aqueles que estabelecem conexão direta entre o encéfalo e as
estruturas periféricas e, correspondem à um total de 12 pares de nervos enumerados em
algarismos romanos em sequência crânio-caudal, sendo que a maioria deles (10 pares – do III
ao XII) originam-se no tronco encefálico, e os demais [(olfatório (I par) e óptico (II par)]
emergem a partir do telencéfalo e diencéfalo, respectivamente (Figura 1) (CORRÊA, 2011).
O presente trabalho deu enfoque ao VII par de nervo craniano – Facial e, este origina-
se na região ventral do tronco encefálico, especificamente a partir do sulco bulbo-pontino e,
percorre um caminho tortuoso para alcançar seus locais de inervação na face. Além disso,
constitui-se de um nervo misto, por desenvolver as seguintes funções: a) motoras (responsável
por 80% das expressões faciais), b) sensitivas (através do nervo intermediário de Wrisberg, o
qual emerge entre a raiz motora do nervo facial e o nervo vestibular) que estão relacionados
com a gustação) e, c) parassimpáticas (autonômicas) – consiste de neurônios colinérgicos que
originam fibras parassimpáticas pré-glanglionares eferentes viscerais gerais e relaciona-se com
a inervação de glândulas salivares e lacrimais (JANUÁRIO, 2011).

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Figura 1 - Apresentação dos pares de nervos cranianos com destaque para o VII par – Nervo facial.

Fonte: Corrêa, 2011, p. 17.

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De acordo com Cauás et al. (2004) o nervo facial e o nervo intermediário de Wrisberg
embora são descritos em conjunto, suas funções são diversas e, além disso, o nervo
intermediário não pode ser identificado em cerca de 20% dos casos, visto que encontra-se
aderido ao nervo acústico em todo seu percurso até juntar-se ao nervo facial no interior do canal
do facial.
Os componentes funcionais do nervo facial incluem: a) Fibras eferentes viscerais
especiais – são denominadas braquiomotoras, emergem do núcleo do VII par de nervo craniano
e, portanto, constitui o próprio nervo e, após sua origem distribui-se para a musculatura da face,
pescoço e couro cabeludo, bem como, ao músculo estilohioideo e ao ventre posterior do
músculo digástrico; b) Fibras eferentes viscerais gerais: constituem a inervação parassimpática
das glândulas lacrimais, submandibulares, sublinguais e pequenas glândulas presentes na
mucosa nasal e bucal; c) Fibras aferentes viscerais especiais: são responsáveis por conduzirem
impulsos condizentes à sensação gustativa dos 2/3 anteriores da língua e de algumas regiões da
orofaringe, por meio do nervo lingual, corda do tímpano, nervo intermédio e trato solitário,
onde terminam e, d) Fibras aferentes somáticas: conduzem impulsos nervosos exteroceptivos
conexos à sensibilidade profunda da face através de seguimentos centrais constituintes do nervo
intermediário e parte do trato solitário, finalizando neste trato (CAUÁS et al., 2004;
SIQUEIRA; COSTA, FLORENTINO, 2017).
Lima e Cunha (2011) descreveram que o VII par de nervo craniano apresenta duas
partes, sendo uma parte maior, responsável pela inervação dos músculos da expressão da face,
e a parte menor – denominada nervo intermédio ou glossopalatino – contém fibras gustatórias
para os 2/3 anteriores da língua e também fibras secretomotoras destinadas às glândulas
lacrimais e salivares, principalmente a glândula parótida.
O VII par de nervo craniano emerge da borda inferior da ponte (tronco mesencefálico)
denominado angulopontocerebelar, surgindo lateral à saída do VI nervo craniano (abducente) e
medialmente ao VIII nervo craniano (vestibucoclear) e, posteriormente, junto com o nervo
vestíbulo-coclear, adentra o meato auditivo interno na parte petrosa do osso temporal, e forma
o gânglio genicular ou facial (contém células gustatórias, fibras secretoras para as glândulas
lacrimais e nasais) ou tronco único com o nervo intermédio. Em seguida, perfura as meninges
e transfere seu trajeto para o canal de mesmo nome ou aqueduto de falópio, onde percorre um
trajeto de pelo menos 35 milímetros estando propenso a processos infeciosos e compressivos
variados; nesta posição, o nervo facial caminha até sua terminação no forame estilomastoideo,
tornando-se em extracraniano (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2015).

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Salienta-se que o nervo facial, ao percorrer o aqueduto de falópio, dá origem aos


diversos ramos nervosos, sendo: a) nervo estapédio (inerva o músculo homônimo); b) a corda
do tímpano (fibras associadas ao gosto e à sensibilidade da língua e do palato mole; fibras
secretórias e vasodilatadoras); c) ramos musculares (inerva o estilo-hioídeo e o ventre posterior
do digástrico) e, d) nervo auricular posterior (inerva parte dos músculos da orelha e o occipital)
(CAUÁS et al., 2004).
De acordo com Siqueira, Costa e Florentino (2017), ao considerar o núcleo do nervo
facial, há um grupo celular dorsal que destina-se ao ramo superior (músculos: frontal, orbicular
do olho e elevador da sobrancelha) e vários grupos ventrais que encarregam-se da inervação do
músculo estapédio, platisma e músculos orbicular dos lábios e bucinador.
A fim de facilitar o estudo de ocasionais problemas que possam ocorrer com o nervo
facial Madeira (2016) e Netter (2012), descreveram que este é dividido em segmentos, a partir
da sua origem no tronco cerebral até suas terminações na musculatura facial esta divisão pode
ser visualizada no Quadro 1.

QUADRO 1 - Classificação dos segmentos do nervo facial e suas características.


Segmentos Características

Passa entre o labirinto coclear e o vestibular, tendo início no meato


terminando em uma curvatura (joelho do nervo facial), onde há um
Segmento Labiríntico
gânglio sensitivo chamado gânglio geniculado emergindo três ramos do
nervo facial: nervo petroso maior, externo e menor.

Continua sobre a janela oval e se aproxima do segmento mastoideo,


Segmento Timpânico
sendo que nenhum ramo é originado deste segmento.

Inicia a partir da segunda volta que o nervo faz dentro do canal facial,
quando segue o curso inferior para atingir o forame estilomastolideo.
Segmento Mastoideo
Este segmento forma três outros ramos do nervo facial: nervo para o
músculo estapédio; um ramo sensitivo e um nervo da corda do tímpano.
Fonte: Madeira (2016), p. 194; Netter (2012), p.60.

Ressalta-se que a partir do forame estilomastoideo, o nervo facial passa anteriormente


ao ventre posterior do músculo digástrico e lateralmente à artéria carótida externa e processo
estiloide do osso temporal. Em seguida, adentra a glândula parótida e faz uma cisão na mesma,
a qual passa a ser dividida em lobos superficial e profundo e, divide-se em duas partes: a)
superior ou temporofacial que emite de 5 a 7 ramos que formam anastomoses entre si (um ramo
para região frontal, dois para região orbital, dois para a região bucal e três para a zigomática)
dando destaque ao ramo bucal em se tratando de inervação e, b) inferior ou cervicofacial que é

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quase sempre menor, emitindo de 3 a 5 ramos (um bucal, três marginais mandibulares e um
cervical) que também criam anastomoses entre si e todos apresentam o mesmo comprimento
(Figura 2) (ABOUDIB-JÚNIOR, 2017).

Figura 2 – Apresentação do nervo facial com seus respectivos ramos principais.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/590745676101335573/.

De acordo com Colossi (2016) as primeiras referências dirigidas para a anatomia do


nervo facial e seus ramos ocorreram em virtude das cirurgias de paratidectomias, onde
concentraram a atenção para a origem e trajeto deste nervo e seus ramos, afim de dirimir as
lesões e sequelas nervosas. O anatomista alemão, Hubert von Luschka (1820-1875) descreveu
em 1862 sobre a anatomia topográfica da glândula parótida, detalhando o percurso do nervo
facial e as características inerentes à distribuição periférica de seus ramos.
Neste contexto, enfatiza-se sobre a pesquisa realizada por R. A. Davis; B. J. Anson e J.
M. Budinger no ano de 1956 que estudaram a partir da dissecção de 350 hemifaces de cadáveres
a distribuição periférica extraparotídea do nervo facial (Surgical anatomy of facial nerve and
parotid gland basead upon a study of 350 cervicofacial halves). O resultado da pesquisa
permitiu agrupar as peças anatômicas em 6 padrões diferentes de ramificação e anastomose do

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nervo facial, distribuídos entre os lobos superficial e profundo da glândula parótida, conforme
segue descrição na Figura 3 (COLOSSI, 2016; ABOUDIB-JÚNIOR, 2017).

Figura 3 – Variação dos ramos extratemporais do nervo facial.

Legenda – T = temporal; Z = Zigomático; B = Bucal; M = Mandibular e C = Cervical.


Fonte: Colossi (2016), p. 30.

Embora o VII par de nervo craniano (nervo facial) seja misto, 80% de sua função condiz
com a regulação da atividade motora da face e pescoço, sendo, portanto, um nervo
imprescindível para a expressão facial como auxílio na comunicação não verbal, possibilitando
a apresentação do ser ao mundo e, sobretudo a exposição de suas distintas emoções (SANTOS;
GANDA; CAMPOS, 2009). O controle preciso da musculatura facial permite variações sutis
na fisiologia muscular, necessárias para a expressividade facial e para as funções de mastigação,
deglutição e fala (TESSITORE; MAGNA; PASCHOAL, 2010).
Todos os músculos faciais são inervados pelo VII par de nervo craniano (Facial), exceto

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o músculo levantador da pálpebra superior, o qual é inervado pelo nervo óculo-motor (III par
de nervo craniano) (TESSITORE; PFELSTICKER; PASCHOAL, 2008).
Para a realização de uma expressão facial simétrica, espontânea e apropriada é
necessária a interação de treze pares musculares distintos arranjados em quatro camadas, todos
inervados pelo nervo facial. Esse intrincado sistema neuromuscular com conexões
supranucleares do nervo facial, em múltiplas regiões cerebrais, permitem contrações musculares
voluntárias e involuntárias que tornam possível a expressão através da face (RIOS, 2014).
Os músculos faciais ou também denominados como mímicos, apresentam sua origem
nos ósseos do víscerocrânio e a sua inserção ocorre na camada profunda da pele. Deste modo,
eles promovem a mobilidade da pele do escalpo e, sobretudo, da face, modificando as
expressões faciais que decorrem ações combinadas da contração concomitante de vários
músculos, levando em consideração o estado emocional (Quadro 2) (PARREIRAS et al., 2010).

QUADRO 2 - Apresentação dos músculos faciais responsáveis pela mímica inervados pelo VII par de nervo
craniano, com suas respectivas funções.
Músculo Facial Função

Elevar o supercílio e a pele sobre a raiz do nariz em direção ao


Occipito-Frontal. escalpe, projetando a pele da testa em rugas transversais, como
uma expressão de medo ou de surpresa.

Corrugador ou Enrugador do Produzir as rugas verticais na região glabelar, como na


Supercílio. expressão de sofrimento, severidade ou desaprovação.

Fechar as pálpebras firmemente formando rugas que irradiam


Orbicular dos olhos ou orbicular
na região lateral dos olhos, considerado o esfíncter das
da pálpebra.
pálpebras.

Tracionar medialmente para baixo a sobrancelha produzindo


Piramidal ou Prócero. rugas transversais sobre o osso do nariz, na expressão de
atenção.

Nasal – porção alar Dilatar as narinas, como na respiração forçada ou difícil.

Mirtiforme ou Depressor do Septo Atrair as aletas nasais para baixo e diminuir a abertura das
Nasal narinas.

Levantador do lábio superior e Elevar o lábio superior e a asa do nariz, como ocorre numa
aletas nasais situação de “nojo”.

Levantador do ângulo da boca ou Elevar a comissura labial, acentuando o sulco naso-labial,


músculos caninos. como na expressão de arrogância, desprezo ou desdém.

Elevar o lábio superior, como ocorre mediante tristeza ou


Zigomático menor.
choro.

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Zigomático maior. Elevar o canto da boca, numa situação de sorriso.

Tracionar o canto da boca para trás e comprimir a bochecha,


Bucinador. mantém o alimento sob pressão das bochechas durante o
processo de mastigação.

Retrair a comissura labial lateralmente ao realizar sorriso com


Risório.
tração lateral, riso sardônico.

Tracionar o lábio inferior para baixo (comprime os lábios) e


Depressor do lábio inferior.
levemente para o lado, como ocorre nas expressão de ironia.

Tracionar as comissuras labiais para baixo e lateralmente,


Depressor do ângulo da boca.
correspondendo com a expressão de tristeza ou sofrimento.

Tracionar a pele do queixo para cima, ao fazer a expressão de


Mentoniano.
desdém, dúvida ou indecisão.

Fechar os lábios firmemente (esfíncter da boca) e realizar o


Orbicular da boca.
movimento de protusão da boca

Retrair e deprimir o ângulo da boca, a mandíbula e eleva e


Platisma.
enruga a pele do pescoço.
Fonte: Januário (2015); Parreiras et al. (2010); Tamura (2010), adaptado pelos autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os movimentos faciais relacionam-se com uma vasta gama de comportamentos


humanos que envolvem as atividades fundamentais referentes à comunicação dos estados
afetivos, permitindo que o rosto humano seja um importante marcador para estados afetivos
endógenos, diretamente relacionados com os estímulos internos ou externos.
Os vários músculos que participam ativamente das expressões faciais serão ativados ou
não, consciente ou inconscientemente, obedecendo a uma ordem e com o propósito de
transmitir as emoções por meio da expressão facial.
Portanto, a compreensão da anatomia (origem, trajeto, estruturas inervadas) e fisiologia
do VII par de nervo craniano – facial – torna-se fundamental para reconhecer os aspectos
funcionais inerentes à estas estruturas e, mediante as circunstâncias patológicas, que alteram o
funcionamento normal, é possível aplicar ou utilizar os recursos terapêuticos de forma mais
específica e adequada para cada caso.

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REFERÊNCIAS

ABOUDIB-JÚNIOR, J. H. C. Bases anatômicas para a cirurgia de rejuvenescimento facial.


Memória apresentada à Academia Nacional de Medicina como parte dos requisitos para
concorrer à cadeira de no. 40, Secção de Cirurgia. Rio de Janeiro, 2017.

CASTRO, J. A. Capítulo 3: O neurônio e a transmissão nervosa. in PINTO, L. C.


Neurofisiologia Clínica: princípios básicos e aplicações. Editora Atheneu. 2010.

CAUÁS, M. et al. Paralisia facial periférica recorrente. Revista de Cirurgia e Traumatologia


Buco-Maxilo-Facial. v.4, n.1, p. 63-68, jan./mar. 2004.

COLI, B. O. Aspectos gerais das lesões traumáticas agudas dos nervos periféricos. 2007.
Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4176024/mod_resource/content/6/
texto1.pdf>. Acesso em 22 de maio de 2020.

COLOSSI, M. J. G. Revisão sistemática das variações anatômicas do nervo facial.


Monografia de Conclusão de Curso do Componente Curricular – Conclusão do curso de
medicina. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia, fundada em 18 de
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