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Uma coluna do Wall Street Journal sobre gestão trouxe recentemente a interessante
manchete: “Os melhores chefes são humildes”. O artigo afirmava que esses líderes
“estimulam o trabalho colaborativo, o aprendizado rápido e o alto desempenho em
suas equipes”, além de revelar que uma consultoria de RH planeja adotar uma
avaliação destinada a identificar traços de personalidade como “sinceridade,
modéstia, senso de justiça, franqueza e despretensão”, influenciada, até certo ponto,
pelo que dois professores de psicologia denominam fator H (“uma combinação de
honestidade e humildade”).
O apreço por essa última qualidade pode parecer algo muito positivo (e não deixa de
ser), no entanto vai de encontro às manchetes que se leem todos os dias no Journal e à
realidade concreta das culturas empresarial e política. Por exemplo, absolutamente
ninguém descreveria como “humilde” o ex-ocupante da Casa Branca, Trump. Elon
Musk, CEO da Tesla, pode até ser o líder mais conhecido, influente e poderoso do Vale
do Silício, mas é difícil imaginar alguém menos “modesto” ou “despretensioso” que
ele. No mundo dos esportes, Jerry Jones, impetuoso dono do Dallas Cowboys,
franquia esportiva mais valiosa do mundo, nunca perde a chance de vangloriar-se
apesar de sua equipe não ter vencido nem uma grande partida sequer há décadas.
Isso tudo enseja uma pergunta óbvia: se a humildade é tão importante, por que tantos
líderes atuais, em especial os mais famosos, são tão arrogantes? Ou posto de outra
forma: apesar de todas as provas de que os dirigentes humildes apresentam melhor
desempenho que os prepotentes, por que os chefes de todos os níveis têm tanta
dificuldade de controlar o ego ao entrar no escritório?
Há outro grande motivo, relacionado ao primeiro, pelo qual é tão difícil para os líderes
adotarem uma postura de humildade: essa virtude pode passar uma impressão de
brandura em uma época na qual os problemas são graves de forma que os
dirigentes podem parecer vulneráveis enquanto se anseia por respostas e
segurança. Sem dúvida, é exatamente essa a qualidade em questão: as lideranças
empresariais mais eficazes não fingem ter todas as respostas – o mundo é complicado
demais para isso –, mas estão cientes de que seu trabalho consiste em obter as
melhores ideias das pessoas certas, não importando quem elas sejam ou onde
estejam.
Nesse sentido, Edgar Schein faz revelações de grande utilidade. Em um livro muito
interessante intitulado Humble Inquiry, no qual explora “a sutil arte de perguntar em
vez de dizer”, identifica três manifestações diferentes da humildade. A primeira,
aquela “que sentimos na presença de pessoas mais idosas e grandes autoridades”, é
parte importante da vida social. Já a segunda, a “que sentimos diante daqueles que
admiramos por suas realizações”, é corriqueira no ambiente profissional.
Contudo, também tenho outra opção. Posso não me comprometer com aquilo que
me torna dependente dos outros, bem como negar essa dependência, evitando sentir-
me humilde, e, dessa forma, não conseguir aquilo de que preciso e não realizar a
tarefa ou até mesmo sabotá-la de maneira inconsciente. Infelizmente, as pessoas
muitas vezes preferem fracassar a admitir que dependem de alguém.
Vivemos em um mundo no qual o ego atrai atenção, mas a modéstia traz resultados;
no qual a arrogância gera manchetes, mas a humildade, faz diferença. Isso significa
que todos nós, líderes ou aspirantes a essa posição, enfrentamos nossos próprios
questionamentos: somos confiantes o suficiente para permanecermos humildes?
Somos fortes o bastante para admitir que não temos todas as respostas? Escrevo na
esperança de que cheguemos às respostas certas.