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1. Introdução
Este trabalho é resultado de uma pesquisa mais ampla, desenvolvida na
Universidade Estadual da Paraíba no período de agosto de 2006 a Maio de 2007, com o
objetivo de analisar o impacto das políticas públicas em Educação a Distância na formação
de professores da rede pública do Estado, especificamente em municípios distantes dos
principais eixos econômicos com maior acessibilidade ao Ensino Superior. A criação e
implementação de um curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade a distância,
provocam mudanças na estrutura da formação do professor que vivencia em seu processo
de formação o impacto de conceitos como globalização, flexibilidade tempo/espaço,
construção de rede de informações, entre outros processos.
Vygotsky (1991) afirma que a aprendizagem se realiza sempre em um contexto de
interação, através da internalização de instrumentos e signos levando a uma apropriação do
conhecimento. Esse processo promove o desenvolvimento e a aprendizagem precede o
desenvolvimento. Ao compreender desta forma as relações entre aprendizagem e
desenvolvimento Vygotsky confere uma grande importância à escola (lugar da
aprendizagem e da produção de conceitos científicos); ao professor (mediador desta
aprendizagem); às relações interpessoais (através das quais este processo se completa). A
aprendizagem é um processo de construção compartilhada, uma construção social. Assim, a
alternativa que nos parece válida para o nosso objeto de estudo é uma perspectiva sócio-
histórica para a prática de nossa pesquisa que foi desenvolvida em dois eixos: a análise da
construção e implementação do projeto político-pedagógico do Curso de Geografia na
modalidade a distância desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba e a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte no âmbito do Pró-Licenciatura. O outro eixo
está centrado na prática e na aprendizagem do professor, entendido agora como sujeito e
principal agente com a possibilidade de uma reflexão que parte do que o professor faz, para
CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de
Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades
Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói.
uma reconstrução do que pode ser feito, confrontando-o com o seu contexto social e
político.
2. Referencial Teórico
O sistema de organização da EAD é espelhado na organização do modelo fordista e
conseqüentemente sofre o impacto das transformações ocorridas nele, incorporando sua
reestruturação muito mais rapidamente de que outros segmentos da educação (muito mais
complexos, rígidos e resistentes as mudanças).
Belloni (2003) ressalta que os modelos industriais de produção já penetraram em
todas as esferas sociais e o setor educacional não é uma exceção. A idéia é que com o
avanço tecnológico e as transformações no processo de trabalho, a tendência em longo
prazo é que a educação como um todo; incluindo EAD e o ensino convencional, vá se
transformando num complexo organismo de educação aberta. Mas que transformações
seriam essas neste modelo de acumulação?
O fato de existir articulação sincronizada com a sociedade é um dos elementos
chaves que contribuiu para a solidez do regime fordista durante todos estes anos. Nesse
regime, todos os segmentos sociais estavam vinculados à base, e muitas vezes o regime
controlava as insatisfações de um determinado grupo, cedendo em um ponto menos
importante a fim de que o modelo continuasse funcionando. Embora não haja uma
harmonia no funcionamento, a existência de um equilíbrio é fundamental, mesmo que o
regime seja sacudido por algumas crises periodicamente.
A idéia de progresso está profundamente arraigada ao modelo fordista: o progresso
da técnica (que permite aumento de produtividade), o progresso da melhoria de vida (e
conseqüente aumento do consumo) e o progresso do Estado, que cada vez mais deveria
desenvolver sua capacidade de prover e garantir o pleno-emprego e o aumento do consumo.
A “quebra” deste modelo aconteceu pela ocorrência de diversos fatores simultâneos. A
baixa produtividade, a revolta dos trabalhadores em relação à alienação, a
internacionalização dos mercados, o surgimento de uma nova forma de produção mais
eficiente (o modelo japonês). Esses foram fatores determinantes que comprometeram a
vigência do modelo.
A mudança no padrão de acumulação está estreitamente vinculada não apenas a uma
mudança no setor produtivo, mas em mudanças na própria sociedade e em todos os
elementos a ela ligados. Surge nesse momento a expressão flexibilidade que parece resumir
CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de
Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades
Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói.
o conceito essencial desse novo paradigma de acumulação. A flexibilidade está relacionada
com as alternativas encontradas pelas firmas para a superação dos problemas que a rigidez
do fordismo não conseguiu resolver. É a flexibilidade na versatilidade dos produtos
fabricados, em sua quantidade, em seus estoques, nos projetos, etc. Trabalha-se com
estoques menores, produtos segmentados e diferenciados, o que faz com que a qualidade e
a versatilidade desses produtos sejam primordiais.
A introdução das novas tecnologias pode ser caracterizada pela revolução
tecnológica com novos produtos que “redefinem o próprio significado de automação”
(Lipietz, 1990). A conceituação desse novo paradigma tecnológico faz-se necessária para
entendimento do que realmente mudou com a introdução dessas tecnologias no processo de
produção e desenvolvimento do trabalho. A introdução das inovações tecnológicas
transforma o processo de trabalho, tornando-o incompatível com o fordismo. O taylorismo
separou o desenvolvimento do trabalho intelectual do manual, mas como se operariam
esses métodos quando são introduzidas máquinas sofisticadas para serem operadas por
trabalhadores desqualificados? Obviamente, a inserção das novas tecnologias tem de ser
acompanhada de um mínimo de capacitação do empregado que será o usuário do sistema.
Trata-se de juntar o que o taylorismo separou, ou seja, os aspectos manuais e intelectuais do
trabalho (Leborgne e Lipietz, 1990). A única alternativa viável para permitir esta
reunificação seria uma reeducação da força de trabalho.
As novas tecnologias não são simplesmente substituidoras da força de trabalho. Se
assim o fossem, não haveria muitas dificuldades na análise desse processo. Para Castells
(1999), a designação de alta tecnologia não se refere a uma indústria, a uma atividade ou a
um invento. É preciso entender que é um processo, uma forma específica de produzir, a
partir da base fundamental, que é a informação. As inovações traduzidas em produtos de
ponta de microeletrônica processam as informações muito mais velozmente, reduzindo o
custo de transmissão e permitindo descentralização e personalização no modo de trabalho e
produção.
7. Conclusão
A necessidade de consonância entre os processos produtivos da economia moderna
e o processo de formação na educação brasileira, vem originando a criação de programas
específicos para a melhoria da qualidade da Educação Básica, especificamente na formação
do professor.A disseminação da informação é o elemento essencial para o entendimento das
transformações ocorridas no trabalho. Estas mudanças se traduziram em um modelo de
organização do trabalho e da produção que acabaram por impactar a educação aberta.
As demandas na formação inicial e continuada mudam substancialmente, apontando
para duas grandes tendências, a reformulação radical dos currículos e métodos de educação
privilegiando a multidisciplinaridade e a aquisição de habilidades de aprendizagem e oferta
de formação continuada ligada aos ambientes de trabalho, numa perspectiva de
aprendizagem ao longo da vida. Lévy (2001) sintetiza esta necessidade ao afirmar que “o
uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e
amplifica uma profunda mutação na relação com o saber”.
A formação do professor em uma modalidade com inserção tecnológica embutida
na própria metodologia do curso será capaz de fazer uma diferença significativa em sua
atuação na Educação Básica. Ao fazer o curso de Licenciatura na disciplina em que
CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de
Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades
Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói.
efetivamente atua, o professor que já exerce essa atividade, possivelmente acumulará não
apenas o conteúdo específico que leciona, mas também inúmeras possibilidades
pedagógicas que permitam uma atuação mais efetiva, inserida realmente em uma sociedade
de informação e conhecimento. Assim, os professores atuantes no mais remoto município
do interior da Paraíba, por exemplo, travarão conhecimento com a Internet, software livre,
descobrindo as inúmeras possibilidades que o acesso à informação permite, ao mesmo
tempo em que desenvolvem um conceito de autonomia na aprendizagem na construção de
sua própria aprendizagem.
O que se discute aqui é ainda mais profundo, a escola não precisa modificar-se para
acompanhar o novo modo de produção, e sim porque as formas de aprendizagem se
modificaram, e todos os paradigmas anteriores não funcionam mais e quando aplicados
dificultam a ação fim da escola: possibilitar a aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS