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REDAÇÃO ENEM

Profº Wesley Pontes 2021

Curso de Redação

ENEM Profº Wesley Pontes

eV nha ceostnuodsacro!
(32) 9 9118 8172
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REDAÇÃO ENEM
Profº Wesley Pontes 2021 Curso de Redação

ENEM
Profº Wesley Pontes

Alunos

NOTA do Profº
Wesley

1000 Pontes

Bárbara Lima
2017
Caio Lim
a
újo 2014
lara Ara
Maria C
2013

(32) 9 9118 8172


cursoderedacaoparaoenem
REDAÇÃO ENEM
Profº Wesley Pontes 2021
‘‘Lutar contra a pobreza
não é um assunto
“Uma criança, de caridade, mas
um professor, de justiça”.
Nelson Mandela
um livro e um lápis
podem mudar o mundo.”
Malala Yousafzai

"O maior inimigo do


conhecimento não é a
ignorância, é a ilusão
do conhecimento."
Stephen Hawking ‘'Os homens são como as
moedas; devemos tomá-los pelo
seu valor, seja qual for o seu cunho.''
Carlos Drummond de Andrade

"Se a educação sozinha


não transforma a sociedade, ‘‘Eu acredito que às vezes
sem ela tampouco a são as pessoas que ninguém
sociedade muda." espera nada que fazem as coisas
Paulo Freire que ninguém consegue imaginar.’’
Alan Turing

‘'Meu sofrimento
se transformou em luta''
Maria da Penha Maia Fernandes

‘‘Nenhuma sociedade que


esquece a arte de questionar pode
esperar encontrar respostas para os
problemas que a afligem.’’
Zygmunt Bauman

"Não tem resposta melhor


para os que me agrediram
do que ganhar uma
medalha de ouro "A reconciliação étnica só pode
dentro de casa." acontecer se nós reconhecermos
Rafaela Silva nossas ações passadas,
ainda que dolorosas."
Elizabeth Eckford
Todos nós, desde muito pequenos, sabemos argumentar. A arte de convencer (ou, pelo
menos, tentar) acompanha toda a nossa trajetória, pois faz parte das nossas mais diversas
formas de interação cotidiana.
Nossa tarefa, ao longo desse curso, é mostrar para você que é possível trazer essa
competência, tão praticada oralmente, também para a modalidade escrita da língua.
Nossa tarefa é lapidar sua persuasão nata, já que toda a tomada de posição é instintiva e
humana, mesmo que isso não lhe pareça natural.
Nossa tarefa é aguçar sua capacidade de defesa em escrita, mostrando-lhe que você é
plenamente capaz de fazer isso, aliás, já o faz muito bem em suas conversas nas redes sociais,
por exemplo.
Nossa tarefa é mostrar que, nesse lugar de interação chamado texto, você pode despertar
a autoria crítica diante do que lhe for proposto no tema de redação do ENEM.
Enfim, fazemos a você o convite feito por Drummond: “Chega mais perto e contempla as
palavras./ Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra.”

Wesley Pontes da Costa

REDAÇÃO 3
Professor Wesley Pontes
CONHECENDO MELHOR A GRADE DE
CORREÇÃO DO ENEM

A seguir, selecionamos alguns trechos (originais e


adaptados) da “Cartilha do participante ENEM 2018.

Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_particip
ante/2018/manual_de_redacao_do_enem_2018.pdf
Acesso em 11/01/2019

A prova de redação exigirá de você a


produção de um texto em prosa, do tipo
dissertativo- argumentativo, sobre um tema
de ordem social, científica, cultural ou
política. Os aspectos a serem avaliados
relacionam-se às competências que devem
ter sido desenvolvidas durante os anos de
escolaridade. Nessa redação, você deverá
defender uma tese – uma opinião a respeito
do tema proposto –, apoiada em
argumentos consistentes, estruturados com
coerência e coesão, formando uma unidade
textual. Seu texto deverá ser redigido de
acordo com a modalidade escrita formal da
língua portuguesa. Você também deverá
elaborar uma proposta de intervenção social
para o problema apresentado no
desenvolvimento do texto que respeite os
direitos humanos.

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A seguir, vamos esclarecer algumas dúvidas sobre o processo de avaliação.

• Quem vai avaliar a redação?

O texto produzido por você será avaliado por, pelo menos, dois professores, de forma
independente, sem que um conheça a nota atribuída pelo outro.

• Como a redação será avaliada?

Os dois professores avaliarão seu desempenho de acordo com os critérios apresentados


posteriormente.

• Como será atribuída a nota à redação?

Cada avaliador atribuirá uma nota entre 0 e 200 pontos para cada uma das cinco
competências. A soma desses pontos comporá a nota total de cada avaliador, que pode chegar a
1.000 pontos. A nota final do participante será a média aritmética das notas totais atribuídas pelos
dois avaliadores.

• O que é considerado discrepância?

Considera-se discrepância quando as notas atribuídas pelos avaliadores:

◦ Diferirem, no total, por mais de 100 pontos.


◦ Obtiverem diferença superior a 80 pontos em qualquer uma das competências.

• Qual a solução para o caso de haver discrepância entre as duas avaliações iniciais?

◦ A redação será avaliada, de forma independente, por um terceiro avaliador.


◦ A nota final será a média aritmética das duas notas totais que mais se aproximarem.

• E se a discrepância ainda continuar depois da terceira avaliação?

A redação será avaliada por uma banca presencial composta por três professores, que atribuirá
a nota final do participante.

• Quais as razões para se atribuir nota 0 (zero) a uma redação?

A redação receberá nota zero se apresentar uma das características a seguir:

◦ Fuga total ao tema.


◦ Não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa.
◦ Extensão de até 7 linhas.
◦ Cópia integral de texto(s) motivador(es) da Proposta de Redação e/ou de texto(s)
motivador(es) apresentado(s) no Caderno de Questões.
◦ Impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação (tais como números ou sinais
gráficos fora do texto).
◦ Parte deliberadamente desconectada do tema proposto.

REDAÇÃO 5
Professor Wesley Pontes
◦ Assinatura, nome, apelido ou rubrica fora do local devidamente designado para a assinatura
do participante.
◦ Texto predominantemente em língua estrangeira.
◦ Folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito na folha de rascunho.

• O que são partes deliberadamente desconectadas do tema proposto?

São trechos como: reflexões sobre o próprio processo de escrita, bilhetes destinados à banca
avaliadora, por exemplo, mensagens de protesto, orações, mensagens religiosas, trechos de
música, de hino, de poema ou de qualquer texto, desde que estejam desarticulados da
argumentação feita na redação. Isso quer dizer que a constatação de algum problema social, por
exemplo, não é, por si só, avaliada como um protesto e, consequentemente, como parte
desconectada, se estiver devidamente articulada à argumentação construída ao longo da redação.
Em suma, para ter sua redação anulada por esse critério, é preciso que você insira, de forma
proposital, pontual e desarticulada, elementos estranhos ao tema e ao seu projeto de texto, ou que
atentem contra a seriedade do exame.

• Como será avaliada a redação de participantes com dislexia?

Serão adotados critérios de avaliação que levem em conta questões linguísticas específicas
relacionadas à dislexia.

IMPORTANTE!

Para efeito de avaliação e de contagem do mínimo de linhas escritas, os trechos que


representarem cópia dos textos motivadores ou de questões objetivas do caderno de questões serão
desconsiderados em relação ao total de linhas escritas, valendo somente as que foram produzidas
pelo participante.

IMPORTANTE!

Procure escrever sua redação com letra legível, para evitar dúvidas no momento da avaliação.
Redação com letra ilegível poderá não ser avaliada.

IMPORTANTE!

O título é um elemento opcional na produção da sua redação e será considerado como linha
escrita, porém não será avaliado em nenhum aspecto relacionado às competências da matriz de
referência.

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MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO
Apresentamos, a seguir, o detalhamento das cinco competências
a serem avaliadas na sua redação. Nosso objetivo é explicitar os
critérios de avaliação, de modo a ajudá-lo a se preparar para o exame.
Tendo em vista que o texto é entendido como unidade de sentido em que
todos os aspectos se inter-relacionam para constituir a textualidade, a
separação por competências na matriz tem a finalidade de tornar a
avaliação mais objetiva.

1.1 COMPETÊNCIA 1

Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa

A Competência 1 avalia se o participante domina a modalidade escrita formal da língua


portuguesa, o que inclui o conhecimento das convenções da escrita, entre as quais se encontram
as regras de ortografia e de acentuação gráfica regidas pelo atual Acordo Ortográfico. Este já
está em vigor e deve ser seguido, na escrita formal, por todos, inclusive pelo participante do Enem.
Além disso, o domínio da modalidade escrita formal será observado na adequação do seu
texto em relação tanto às regras gramaticais quanto à fluidez da leitura, que pode ser prejudicada
ou beneficiada pela construção sintática.
Para que você tenha mais clareza a respeito das expectativas que se têm de um concluinte do
ensino médio em termos de domínio da modalidade escrita formal, apresentamos, a seguir, os
principais aspectos que guiam o olhar do avaliador no momento de definir o nível do texto quanto
à Competência 1.
Em primeiro lugar, você deve se atentar ao fato de que a escrita formal é a modalidade da
língua associada a textos dissertativo-argumentativos. Assim, você será alertado sobre a
obrigatoriedade de usar a modalidade formal já́ na proposta de redação: “A partir da leitura dos
textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija
texto dissertativo- argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o
tema...”.
Desse modo, o avaliador corrigirá sua redação, nessa Competência, considerando os
possíveis problemas de construção sintática e a presença de desvios (gramaticais, de convenções
da escrita, de escolha de registro e de escolha vocabular).
Em relação à construção sintática, você deve estruturar as orações e os períodos de seu texto
sempre buscando garantir que eles estejam completos e contribuam para a fluidez da leitura.
Quanto aos desvios, você deve estar atento aos seguintes aspectos:

• Convenções da escrita: acentuação, ortografia, separação silábica, uso do hífen e uso de


letras maiúsculas e minúsculas.
• Gramaticais: concordância verbal e nominal, flexão de nomes e verbos, pontuação, regência
verbal e nominal, colocação pronominal, pontuação e paralelismo.
• Escolha de registro: adequação à modalidade escrita formal, isto é, ausência de uso de
registro informal e/ou de marcas de oralidade.
• Escolha vocabular: emprego de vocabulário preciso, o que significa que as palavras
selecionadas são usadas em seu sentido correto e são apropriadas para o texto.

REDAÇÃO 7
Professor Wesley Pontes
O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar
a Competência 1 nas redações do Enem 2017:

Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da língua


portuguesa e de escolha de registro. Desvios gramaticais ou de convenções da
200 pontos
escrita serão aceitos somente como excepcionalidade e quando não
caracterizarem reincidência.

Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e


de escolha de registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções da
160 pontos
escrita.

Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da língua


portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de
120 pontos
convenções da escrita.

Demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da língua


portuguesa, com muitos desvios gramaticais, de escolha de registro e de
80 pontos
convenções da escrita.

Demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da língua


portuguesa, de forma sistemática, com diversificados e frequentes desvios
40 pontos
gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.
Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da língua
0 ponto
portuguesa.

1.2 Competência 2

Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para
desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa

O segundo aspecto a ser avaliado no seu texto é a compreensão da proposta de redação,


composta por umtema específico a ser desenvolvido naforma de texto dissertativo-argumentativo
– ou seja, a proposta exige que o participante escreva um texto dissertativo-
argumentativo, que é o tipo de texto que demonstra, por meio de argumentação, a assertividade
de uma ideia ou de uma tese. É mais do que uma simples exposição de ideias; por isso, você deve
evitar elaborar um texto de caráter apenas expositivo, devendo assumir claramente um ponto de
vista. Além disso, é preciso que a tese que você irá defender esteja relacionada ao tema definido
na proposta. É dessa forma que se atende às exigências expressas pela Competência 2 da matriz
de avaliação do Enem. Trata-se, portanto, de uma competência que avalia as habilidades
integradas de leitura e de escrita.
O tema constitui o núcleo das ideias sobre as quais a tese se organiza e é caracterizado por
ser a delimitação de um assunto mais abrangente. Por isso, é preciso atender ao recorte temático
definido para evitar tangenciá-lo ou, ainda pior, desenvolver um tema distinto do determinado
pela proposta.

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Seguem algumas recomendações para atender plenamente às expectativas em relação à
Competência 2:

◦ Leia com atenção a proposta da redação e os textos motivadores, para compreender bem o
que está sendo solicitado.
◦ Evite ficar preso às ideias desenvolvidas nos textos motivadores, porque foram apresentadas
apenas para despertar uma reflexão sobre o tema.
◦ Não copie trechos dos textos motivadores. Lembre-se de que eles foram apresentados apenas
para despertar seus conhecimentos sobre o tema. Além disso, a recorrência de cópia é
avaliada negativamente e fará com que seu texto tenha uma pontuação mais baixa.
◦ Reflita sobre o tema proposto para definir qual será o foco da discussão, isto é, para decidir
como abordá-lo, qual será o ponto de vista adotado e como defendê-lo.
◦ Utilize informações de várias áreas do conhecimento, demonstrando que você está atualizado
em relação ao que acontece no mundo. Essas informações devem ser usadas de modo
produtivo no seu texto, evidenciando que elas servem a um propósito muito bem definido:
ajudá-lo a validar seu ponto de vista. Isso significa que essas informações devem estar
articuladas à discussão desenvolvida em sua redação. Informações soltas no texto, por mais
variadas e interessantes, perdem sua relevância quando não associadas à defesa do ponto
de vista desenvolvido em seu texto.
◦ Mantenha-se dentro dos limites do tema proposto, tomando cuidado para não se afastar do
seu foco. Esse é um dos principais problemas identificados nas redações. Nesse caso, duas
situações podem ocorrer: fuga total ou tangenciamento ao tema.

• o que é fuga total ao tema?


Considera-se que uma redação tenha fugido ao tema quando nem o assunto mais amplo nem o
tema proposto são desenvolvidos.

IMPORTANTE!

Para evitar que seja atribuída nota 0 (zero) a seu texto por fuga ao tema, é importante que
você desenvolva uma discussão dentro dos limites do tema definido pela proposta. Mencioná-lo
apenas no título, por exemplo, ou deixá-lo subentendido, supondo que a banca irá saber sobre o
que você está falando, não é suficiente. Por isso, muita atenção à abordagem do tema, que deve
ser clara e explícita.

• o que é tangenciar o tema?


Considera-se tangenciamento ao tema uma abordagem parcial baseada somente no assunto
mais amplo a que o tema está vinculado, deixando em segundo plano a discussão em torno do
eixo temático objetivamente proposto.

• o que é não atender ao tipo textual?


Não atende ao tipo textual a redação que esteja predominantemente fora do padrão
dissertativo-argumentativo, apresentando poucos ou nenhum indício de caráter dissertativo
(explicações, exemplificações, análises ou interpretações de aspectos dentro da temática
solicitada), ou de caráter argumentativo (defesa ou refutação de ideias dentro da temática
solicitada).

REDAÇÃO 9
Professor Wesley Pontes
O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar
a Competência 2 nas redações do Enem 2018.

Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, a partir de um


200 pontos repertório sociocultural produtivo e apresenta excelente domínio do texto
dissertativo-argumentativo.
Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente e apresenta bom
160 pontos domínio do texto dissertativo-argumentativo, com proposição,
argumentação e conclusão.
Desenvolve otema por meio de argumentação previsível e apresenta
domínio mediano do texto dissertativo-argumentativo, com proposição,
120 pontos
argumentação e conclusão.
Desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos motivadores ou
apresenta domínio insuficiente do texto dissertativo-argumentativo, não
80 pontos atendendo à estrutura com proposição, argumentação e conclusão.
Apresenta o assunto, tangenciando o tema, ou demonstra domínio precário
40 pontos do texto dissertativo-argumentativo, com traços constantes de outros tipos
textuais.
Fuga ao tema/não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa.
0 ponto Nestes casos a redação recebe nota 0 (zero) e é anulada.

FIQUE ATENTO!
Se sua redação apresentar fuga ao tema ou não atender à estrutura dissertativo- argumentativa,
ela não será avaliada em nenhuma das competências.

1.1 COMPETÊNCIA 3
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em
defesa de um ponto de vista
O terceiro aspecto a ser avaliado é a forma como você, em seu texto, seleciona, relaciona,
organiza e interpreta informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa do ponto de vista
escolhido como tese. É preciso, então, elaborar um texto que apresente, claramente, uma ideia a
ser defendida e os argumentos que justifiquem a posição assumida por você em relação à temática
da proposta de redação. A Competência 3 trata da inteligibilidade do seu texto, ou seja, de sua
coerência e da plausibilidade entre as ideias apresentadas, o que é garantido pelo planejamento
prévio à escrita, ou seja, pela elaboração de um projeto de texto.
A inteligibilidade da sua redação depende, portanto, dos seguintes fatores:

• Relação de sentido entre as partes do texto.


• Precisão vocabular.
• Seleção de argumentos.
• Progressão temática adequada ao desenvolvimento do tema, revelando que a redação foi
planejada e que as ideias desenvolvidas são, pouco a pouco, apresentadas, de forma
organizada, em uma ordem lógica.
• Desenvolvimento dos argumentos, com a explicitação da relevância das ideias apresentadas
para a defesa do ponto de vista definido.

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• O que é coerência?

A coerência se estabelece por meio das ideias


apresentadas no texto e dos conhecimentos dos
interlocutores, garantindo a construção do sentido de
acordo com as expectativas do leitor. Está, pois, ligada ao
entendimento e à possibilidade de interpretação dos
sentidos do texto. O leitor poderá compreender esse texto,
refletir a respeito das ideias nele contidas e, em resposta,
reagir de maneiras diversas: aceitar, recusar, questionar e
até mesmo mudar seu comportamento em face das ideias
do autor, partilhando ou não da sua opinião.

• O que é projeto de texto?

Projeto de texto é o planejamento prévio à escrita da redação. É o esquema que se deixa


perceber pela organização estratégica dos argumentos presentes no texto. É nele que são
definidos quais argumentos serão mobilizados para a defesa de sua tese, quais os momentos de
introduzi-los e qual a melhor ordem para apresentá-los, de modo a garantir que o texto final seja
articulado, claro e coerente. Assim, o texto que atende às expectativas referentes à Competência
3 é aquele no qual é possível perceber a presença implícita de um projeto de texto, ou seja, aquele
em que é claramente identificável a estratégia escolhida por quem está escrevendo para defender
seu ponto de vista.

Seguem algumas recomendações para atender plenamente às expectativas em relação à


Competência 3:

• Reúna todas as ideias que lhe ocorrerem sobre o tema e depois selecione as que forem
pertinentes para a defesa do seu ponto de vista, procurando organizá-las em uma estrutura
coerente para usá-las no desenvolvimento do seu texto.
• Verifique se informações, fatos, opiniões e argumentos selecionados são pertinentes para a
defesa do seu ponto de vista.
• Na organização das ideias selecionadas para serem abordadas em seu texto, procure definir
uma ordem que possibilite ao leitor acompanhar o seu raciocínio facilmente, o que significa
que a progressão textual deve ser fluente e articulada com o projeto do texto.
• Examine, com atenção, a introdução e a conclusão para ver se há coerência entre o início e
o fim. Também observe se o desenvolvimento de seu texto apresenta argumentos que
convergem para o ponto de vista que você está defendendo.
• Evite apresentar informações, fatos e opiniões soltos no texto, sem desenvolvimento e sem
articulação com as outras ideias apresentadas.

REDAÇÃO 11
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Resumindo: na organização do texto dissertativo-argumentativo, você deve procurar atender às
seguintes exigências:

• Apresentação clara da tese e seleção dos argumentos que a sustentam.


• Encadeamento das ideias, de modo que cada parágrafo apresente informações coerentes
com o que foi apresentado anteriormente, sem repetições ou saltos temáticos.
• Desenvolvimento dessas ideias por meio da explicitação, explicação ou exemplificação das
informações, fatos e opiniões, de modo a justificar, para o leitor, o ponto de vista escolhido.

O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar a
Competência 3 nas redações do Enem 2018:

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de


200 pontos forma consistente e organizada, configurando autoria, em defesa de um
ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma
160 pontos organizada, com indícios de autoria, em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos
argumentos dos textos motivadores e pouco organizados, em defesa de um
120 pontos
ponto de vista.

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas


desorganizados ou contraditórios e limitados aos argumentos dos textos
80 pontos
motivadores, em defesa de um ponto de vista.

Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou


40 pontos incoerentes e sem defesa de um ponto de vista.

Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem


0 ponto defesa de um ponto de vista.

1.3 COMPETÊNCIA 4

Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da


argumentação

Os aspectos a serem avaliados nesta Competência dizem respeito à estruturação lógica e


formal entre as partes da redação. A organização textual exige que as frases e os parágrafos
estabeleçam entre si uma relação que garanta a sequenciação coerente do texto e a
interdependência entre as ideias. Essa articulação é feita mobilizando-se recursos coesivos que
são responsáveis pelas relações semânticas construídas ao longo do texto, por exemplo, relações
de igualdade, de adversidade, de causa-consequência, de conclusão etc. Preposições, conjunções,
advérbios e locuções adverbiais são responsáveis pela coesão do texto, porque estabelecem uma
inter-relação entre orações, frases e parágrafos. Cada parágrafo será composto por um ou mais
períodos também articulados; cada ideia nova precisa estabelecer relação com as anteriores.

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Assim, na produção da sua redação, você deve utilizar variados recursos linguísticos que
garantam as relações de continuidade essenciais à elaboração de um texto coeso. Na avaliação
da Competência 4, será considerado, portanto, o modo como se dá o encadeamento textual.
Você viu que as Competências 3 e 4 consideram a construção da argumentação ao longo do
texto, porém avaliam aspectos diferentes. Na Competência 3, é avaliada a capacidade de o
participante “selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista”, ou seja, trata-se da estrutura mais profunda do
texto. Já a coesão, avaliada na Competência 4, atua na superfície textual, isto é, ela avalia as
marcas linguísticas que ajudam a chegar à compreensão profunda do texto.
Assim, você deve, na construção de seu texto, demonstrar conhecimento sobre os mecanismos
linguísticos necessários para um adequado encadeamento textual, considerando os recursos
coesivos que garantem a conexão de ideias tanto entre os parágrafos quanto dentro deles.

• Encadeamento textual

Para garantir a coesão textual, devem ser observados determinados princípios em diferentes
níveis:

• Estruturação dos parágrafos – um parágrafo é uma unidade textual formada por uma ideia
principal à qual se ligam ideias secundárias. No texto dissertativo- argumentativo, os
parágrafos podem ser desenvolvidos por comparação, por causa- consequência, por
exemplificação, por detalhamento, entre outras possibilidades. Deve haver uma articulação
entre um parágrafo e outro.
• Estruturação dos períodos – pela própria especificidade do texto dissertativo- argumentativo,
os períodos do texto são, normalmente, estruturados de modo complexo, formados por duas
ou mais orações, para que se possa expressar as ideias de causa-consequência, contradição,
temporalidade, comparação, conclusão, entre outras.
• Referenciação – As referências a pessoas, coisas, lugares e fatos são introduzidas e, depois,
retomadas, à medida que o texto vai progredindo. Esse processo pode ser realizado mediante
o uso de pronomes, advérbios, artigos ou vocábulos de base lexical, estabelecendo relações
de sinonímia, antonímia, hiponímia, hiperonímia e de expressões resumitivas, metafóricas ou
metadiscursivas.

RECOMENDAÇÕES

Procure utilizar as seguintes estratégias de coesão para se referir a elementos que já apareceram
no texto:
a) Substituição de termos ou expressões por pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos,
advérbios que indicam localização, artigos.
b) Substituição de termos ou expressões por sinônimos, hipônimos, hiperônimos ou expressões
resumitivas.
c) Substituição de verbos, substantivos, períodos ou fragmentos do texto por conectivos ou
expressões que resumam e retomem o que já foi dito.
d) Elipse ou omissão de elementos que já tenham sido citados ou que sejam facilmente
identificáveis.

REDAÇÃO 13
Professor Wesley Pontes
Resumindo: na elaboração da redação, você deve evitar:

• Sequência justaposta de palavras e períodos sem articulação.


• Ausência total de parágrafos na construção do texto.
• Emprego de conector (preposição, conjunção, pronome relativo, alguns advérbios e locuções
adverbiais) que não estabeleça relação lógica entre dois trechos do texto e prejudique a
compreensão da mensagem.
• Repetição ou substituição inadequada de palavras sem se valer dos recursos oferecidos pela
língua (pronome, advérbio, artigo, sinônimo).
• O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar
a Competência 4 nas redações do Enem 2018:

Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de


200 pontos recursos coesivos.

Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório


160 pontos
diver- sificado de recursos coesivos.

Articula as partes do texto, de forma mediana, com inadequações, e


120 pontos
apresenta re- pertório pouco diversificado de recursos coesivos.

Articula as partes do texto, de forma insuficiente, com muitas inadequações e


80 pontos
apre- senta repertório limitado de recursos coesivos.

40 pontos Articula as partes do texto de forma precária.

0 pontos Não articula as informações.

1.4 COMPETÊNCIA 5

Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos

O quinto aspecto a ser avaliado no seu texto é a apresentação de uma proposta de


intervenção para o problema abordado. Por isso, a sua redação deve apresentar uma tese sobre
o tema, apoiada em argumentos consistentes, e uma proposta de intervenção para o problema
abordado. Considerando seu planejamento de escrita, ou seja, seu projeto de texto (avaliado na
Competência 3), sua proposta deve ser coerente em relação à tese desenvolvida no texto e aos
argumentos utilizados, já que expressa sua visão, como autor, das possíveis soluções para a
questão discutida. Além disso, é necessário, ao idealizar sua proposta de intervenção, respeitar os
direitos humanos, ou seja, não romper com os valores de cidadania, liberdade, solidariedade e
diversidade cultural.

14
• Como saber se o participante está ferindo os direitos humanos na redação?

A prova de redação do Enem sempre assinalou a necessidade de o participante respeitar os


direitos humanos (DH), e essa determinação está na matriz de referência da redação do Enem.
Conforme a matriz, as redações que apresentarem propostas de intervenção que desrespeitem os
direitos humanos serão penalizadas na Competência 5.
Pode-se dizer que determinadas ideias e ações serão sempre avaliadas como contrárias aos
DH, tais como: defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de “justiça com
as próprias mãos”, isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o
governo, as autoridades, as leis, por exemplo); incitação a qualquer tipo de violência motivada
por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica;
explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).
Em resumo, na prova de redação do Enem, quaisquer que sejam os temas propostos para o
desenvolvimento do texto dissertativo-argumentativo, constituem desrespeito aos DH propostas
que incitam as pessoas à violência, ou seja, aquelas em que transparece a ação de indivíduos na
administração da punição – por exemplo, as que defendem a “justiça com as próprias mãos”. Por
isso, não caracterizam desrespeito aos DH as propostas de pena de morte ou prisão perpétua,
uma vez que conferem ao Estado a administração da punição ao agressor. Essas punições não
dependem de indivíduos, configurando-se como contratos sociais cujos efeitos todos devem
conhecer e respeitar em uma sociedade.
A proposta de intervenção também deve refletir os conhecimentos de mundo de quem a
redige e, quando muito bem elaborada, deve conter não apenas a exposição da ação interventiva
sugerida, mas também o ator social competente para executá-la, de acordo com o âmbito da
ação escolhida: individual, familiar, comunitário, social, político, governamental e mundial. Além
disso, a proposta de intervenção deve conter o meio de execução da ação e o seu possível efeito,
bem como algum outro detalhamento.
Ao redigir seu texto, evite propostas vagas ou muito genéricas; busque ações mais concretas,
mais específicas ao tema e consistentes com o desenvolvimento de suas ideias. Antes de elaborar
sua proposta, procure responder às seguintes perguntas: o que é possível apresentar como
proposta de intervenção para o problema apresentado pelo tema? Quem deve executá-la? Como
viabilizar essa proposta? Qual efeito ela pode alcançar? Resumindo: seu texto será avaliado,
portanto, com base na composição e no detalhamento da proposta que você apresentar.

REDAÇÃO 15
Professor Wesley Pontes
O quadro a seguir apresenta os seis níveis de desempenho que serão utilizados para avaliar a
Competência 5 nas redações do Enem 2018:

Elabora muito bem proposta de intervenção, detalhada, relacionada ao


200 pontos
tema e articulada à discussão desenvolvida no texto.

Elabora bem proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à


160 pontos
discussão desenvolvida no texto.

Elabora, de forma mediana, proposta de intervenção relacionada ao tema e


120 pontos
articulada à discussão desenvolvida no texto.

Elabora, de forma insuficiente, proposta de intervenção relacionada ao


80 pontos
tema, ou não articulada com a discussão desenvolvida no texto.

Apresenta proposta de intervenção vaga, precária ou relacionada apenas ao


40 pontos
assunto.

Não apresenta proposta de intervenção ou apresenta proposta não


0 ponto
relacionada ao tema ou ao assunto.

O QUE É UM TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO?

1) Conceito1

O texto dissertativo-argumentativo se organiza na defesa de um ponto de vista sobre


determinado assunto. É fundamentado com argumentos, para influenciar a opinião do leitor,
tentando convencê-lo de que a ideia defendida está correta. É preciso, portanto, expor e explicar
ideias. Daí, a sua dupla natureza: é argumentativo porque defende uma tese, uma opinião, e é
dissertativo porque se utiliza de explicações para justificá-la.

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_de_redacao_do_enem_20
18.pdf Acesso em 12/01/19

16
O objetivo desse texto é, em última análise, convencer o leitor de que o ponto de vista em
relação à tese apresentada é acertado e relevante. Para tanto, mobiliza informações, fatos e
opiniões, à luz de um raciocínio coerente e consistente.
A sua redação atenderá às exigências de elaboração de um texto dissertativo- argumentativo
se combinar os dois princípios de estruturação, explicitados a seguir.

I – Apresentar uma tese, desenvol- TESE – É a ideia que você vai defender no seu texto. Ela
ver justificativas para comprovar deve estar relacionada ao tema e apoiada em
essa tese e uma conclusão que dê argumentos ao longo da redação.
um fechamento à discussão
elaborada no texto, compondo o ARGUMENTOS – É a justificativa para convencer o
processo argumentativo (ou seja, leitor a concordar com a tese defendida. Cada
apresentar introdução, desen- argumento deve responder à pergunta “por quê?” em
volvimento e conclusão). relação à tese defendida.

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS – São recursos


utilizados para desenvolver os argumentos, de modo a
convencer o leitor:

• exemplos;

• dados estatísticos;

• pesquisas;

• fatos comprováveis;

• citações ou depoimentos de pessoas especializadas


no assunto;
II – Utilizar estratégias • pequenas narrativas ilustrativas;
argumentativas para expor o
problema discutido no texto e • alusões históricas; e
detalhar os argumentos utilizados.
• comparações entre fatos, situações, épocas ou
lugares distintos

2) Linguagem1
Por ser um texto, que se desenvolve por meio da análise de diversos aspectos associados à
questão central, a dissertação apresenta algumas características bem definidas com relação à
linguagem.
O presente do Indicativo não tem, no caso de uma análise, uma conotação temporal, ou seja,
ele não faz referência a acontecimentos que ocorrem no momento da enunciação. Sua função é
permitir a generalização própria do encaminhamento analítico. Nesse sentido, assume um valor
atemporal.
Outra característica distintiva da linguagem das dissertações é a preferência por substantivos
abstratos. Isso se explica pela necessidade que temos, quando analisamos, de definir, de comparar,
de argumentar, sempre buscando a construção de um discurso mais generalizante.
Também como uma necessidade decorrente da construção de um discurso mais abrangente,
deve-se evitar o uso das formas de 1ª pessoa do singular no texto dissertativo. É preferível o uso

REDAÇÃO 17
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da terceira pessoa, caracterizando o texto argumentativo objetivo. Esse cuidado se explica pelo
desejo de fazer com que o texto seja encarado não como expressão de um olhar subjetivo,
particular, mas sim como uma argumentação racional, válida para todas as pessoas. Por suas
características, o texto argumentativo requer uma linguagem mais sóbria, denotativa. O uso da
figura de linguagem deve ser com valor argumentativo.
As orações devem se dispor, de preferência, em ordem direta. Trabalha-se com períodos
compostos, com o encadeamento de ideias; nesse tipo de construção, o adequado emprego dos
conectores (preposições, conjunções e pronomes relativos) é fundamental para obter um texto claro,
coerente, coeso e elegante.
Pelo mesmo motivo, espera-se que as dissertações sejam redigidas respeitando as regras da
variedade escrita de prestígio do português.
1http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_de_redacao_do_enem_20
18.pdf Acesso em 12/01/19
3) Estrutura

18
A seguir, apresentamos uma adaptação do texto de estudante Raphael de Souza, do Rio de Janeiro,
um dos 104 candidatos a tirar nota máxima no exame de 2015 e também um dos 250 alunos que
gabaritaram o texto em 2014:

Equilíbrio Aristotélico
Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI,
o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de
maneira mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como
inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930,
com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero
dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela
insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
Ém primeiro plano, é indubitável que a questão constitucional e sua aplicação
estejam entre as causas do problema. Nesse aspecto, de acordo com Aristóteles, a política
deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na
sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a
mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora a Lei Maria da Penha tenha sido
um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a
ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por
serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do reforço da prática da
regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a
mulher. Nessa perspectiva, segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva
de agir e de pensar, dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo
essa linha de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado
na teoria do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse
comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, o
fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração,
funciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.
Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na
contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do
machismo como intenso fato social. Nesse contexto, a fim de atenuar o problema, o
Governo Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias
especializadas nessa forma de agressão. Isso pode ocorrer através de alianças com
a esfera estadual e municipal do poder, com atuação, principalmente, nas áreas que
mais necessitem e com a criação de campanhas de abrangência nacional junto às
emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes.
Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será
gradativamente minimizado no país.1
A seguir, você lerá o texto da aluna Bárbara Lima, candidata que ganhou nota 1000 na edição
do ENEM de 2017, cujo tema foi “Desafio para a formação educacional de surdos no Brasil”.

1
Extraído de: http://guiadoestudante.abril.com.br/enem/estudante-que-tirou-1000-duas-vezes-na-redacao-da-dicas-
para-ir-bem-no-enem. Acesso em 13/01/2019

REDAÇÃO 19
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Atente-se às observações a respeito da estrutura da dissertação de caráter argumentativo. Lembre-
se, entretanto, de que existem outros modelos possíveis para esse gênero, entretanto, para fins
didáticos, adotaremos o esquema apresentado.

2
Texto gentilmente cedido pela própria aluna.

20
4) O planejamento do texto dissertativo-argumentativo
Para a construção de um bom texto argumentativo, é necessário que, antes mesmo de iniciar
a escrita efetiva, seja mobilizada uma série de habilidades cognitivas de modo a garantir que a
finalidade comunicativa do texto dissertativo-argumentativo — convencer o leitor de que seu ponto
de vista sobre aquele tema/assunto é o melhor — seja atingida.
Um critério decisivo para as boas notas no ENEM corresponde ao conceito de projeto de texto,
definido como um esquema geral da estrutura de um texto, no qual se estabelecem os principais pontos
pelos quais deve passar a argumentação a ser desenvolvida. Nele também devem ser determinados
os momentos de introduzir argumentos e a melhor ordem para apresentá-los, de modo a garantir que
o texto final seja articulado, claro e coerente. Trata-se de um planejamento prévio à escrita da redação,
e que se mostra subjacente no texto final. Isto é, não é um rascunho ou um esquema explícito no texto,
mas um esquema que se deixa perceber pela organização dos argumentos presentes no texto. Portanto,
o projeto de texto será alcançado a partir do planejamento textual.
Um dos principais problemas enfrentados pelos candidatos na prova de redação é a falta de
organização e de planejamento.
Antes de colocar sua opinião no papel, leia a questão atentamente, entenda qual é o tema
tratado, organize as várias ideias e faça um questionamento do assunto. Veja as etapas para
preparar uma boa dissertação:

1 – LEIA COM ATENÇÃO


Na prova de redação, você vai deparar com a exposição de uma coletânea, que pode incluir
textos verbais e textos não verbais (ilustrações, fotos e gráficos). Tal coletânea se estabelece em
torno do tema e, muitas vezes, conduz entre seus textos, abordagens divergentes até mesmo
contraditórias. O primeiro desafio é fazer uma leitura cuidadosa e dar atenção a todas as
informações, antes de tomar qualquer decisão sobre sua redação.

2 – ANALISE
Determine quais são os principais elementos, ou subdivisões, que compõem o tema
apresentado. Para não ser perder nas ideias, você pode sublinhar trechos ou anotar no rascunho.
Por exemplo, se a proposta tratar de relação dos adolescentes com as drogas, anote em poucas
palavras os pontos principais expostos, que podem ser: o crescimento do consumo de drogas nas
escolas; as campanhas de conscientização; o papel dos pais etc. Esse material o ajudará a sustentar
sua opinião mais tarde.

3 – QUESTIONE
Antes de procurar as respostas, é preciso fazer perguntas. Indagar é a melhor maneira de
começar a abordar um assunto, pois isso vai expor com clareza os problemas que estão ligados a
ele. Afinal, sua dissertação precisará propor questões para depois poder apresentar respostas.
Assim, elabore um breve questionamento com base nos próprios dados apresentados na prova.
Isso vai ajudá-lo, depois, a apresentar seus argumentos de forma ordenada.

REDAÇÃO 21
Professor Wesley Pontes
4 – USE SEU CONHECIMENTO

Anote as ideias que lhe vêm à cabeça sobre o tema. Filmes que você viu, livros, conceitos, fatos
que aprendeu em aulas de geografia, história, filosofia. Relacione pensamentos, autores e obras
artísticas reconhecidas. Deixar esse repertório pronto será útil quando você precisar de exemplos
para ilustrar a opinião que defenderá na redação. Para uma preparação ainda melhor, organize
essas ideias de modo progressivo, ou seja, dos argumentos mais simples para os mais complexos.

5 – ESCOLHA SEU CAMINHO


Decida qual ponto de vista você pretende defender. Será uma possível solução para o
problema apresentado? Ou uma crítica ao modo como as pessoas encaram a situação descrita?
Identifique nos textos da coletânea e em seu repertório os argumentos favoráveis e contrários.
Então, faça um esquema do caminho analítico que planeja percorrer.

– Como introduzir a questão?


– Quais aspectos abordar para tornar a questão bem clara para o leitor? Em que ordem?
– Quais argumentos serão necessários para conduzir o leito até a conclusão pretendida?
– Procure criar um título claro, abordando o tema e seu ponto de vista sobre ele.3

3
Guia do Estudante – Redação - 2011

22
6- PROPOSTA DE REDAÇÃO

REDAÇÃO 23
Professor Wesley Pontes
24
REDAÇÃO DESENVOLVIDA
A locomotiva de Marx4

De acordo com Albert Camus, escritor argelino do século XX,


se houver falhas na conciliação entre justiça e liberdade, haverá
intempéries de amplo espectro. Nesse sentido, a intolerância
religiosa no Brasil fere não somente preceitos éticos e morais, mas também constitucionais
estabelecidos pela Carta Magna do país. Dessa forma, observa-se que a liberdade de crença
nacional reflete um cenário desafiador seja a partir de reflexo histórico, seja pelo descumprimento
de cláusulas pétreas.
Em primeiro plano, ao avaliar a intolerância religiosa por um prisma estritamente histórico,
nota-se que fenômenos decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na atualidade. Nesse
contexto, segundo Albert Einstein, cientista contemporâneo, é mais fácil desintegrar um átomo do
que um preconceito enraizado. Sob tal ótica, é indubitável que inúmeras ojerizas religiosas,
presentes no Brasil hodierno possuem ligação direta com o passado, haja vista os dogmas católicos
amplamente difundidos no Brasil colônia do século XVI. Assim, criou-se ao longo da historiografia,
mitos e concepções deturpadas de religiões contrárias ao catolicismo, religião oficial da época,
instaurou-se, por conseguinte, o medo e as intolerâncias ao diferente. Desse modo, com intuito de
atenuar atos contrários a prática da religiosidade individual, cabe ao governo, na figura do
Ministério da Educação, a implementação na grade curricular a disciplina de teorias religiosas,
mitigando defeito histórico.
Além disso, cabe ressaltar que a intolerância às crenças burla preceitos constitucionais. Nessa
perspectiva, a Constituição Brasileira promulgada em 1988, após duas décadas da Ditadura
Militar, transformou a visão dos cidadãos perante seus direitos e deveres. Contudo, quase 20 anos
depois de sua divulgação, a liberdade de diversos indivíduos continua impraticável. À vista de tal
preceito, a intolerância religiosa configura-se uma chaga social que demanda imediata resolução,
pois fere a livre expressão individual. Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses
coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento desrespeitoso
e, até mesmo violento, às crenças religiosas.
Portanto, depreende-se que raízes históricas potencializam atos inconstitucionais no Brasil.
Torna-se imperativo que o Estado, na figura do Poder Legislativo, desenvolva leis de tipificação
como crime hediondo aos atos violentos e atentados ao culto religioso através de consulta popular
e elaboração de propostas de lei no âmbito legislativo, visando à coerção desse problema social.
Ademais, urge que a mídia, por meio de novelas engajadas, seriados e programas de entrevistas,
transmita e propague a diversidade religiosa, com propósito de elucidar e desmistificar receios
populacionais. Apenas sob tal perspectiva, poder-se-á respeitar a liberdade e combater a
intolerância de crença no Brasil, pois como proferido por Karl Marx: as inquietudes são a locomotiva
da nação."

4
Texto nota 1000 de Vanessa Soares no Enem 2016, disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-
redacoes-nota-mil-do-enem-2016.ghtml. Acesso em 14/01/2019

REDAÇÃO 25
Professor Wesley Pontes
AS PARTES DA DISSERTAÇÃO: ALGUMAS SUGESTÕES

O parágrafo introdutório
O primeiro parágrafo de uma dissertação é sempre muito importante: sua leitura determinará
o tipo de envolvimento que o leitor terá com aquele texto. Assim, um início que desperte o interesse
para a análise a ser desenvolvida favorece a aceitação do caminho expositivo/ ou argumentativo
que será proposto pelo autor.
Além de estabelecer o primeiro contato com o leitor, o parágrafo inicial de uma dissertação
também cumpre outra função fundamental para o texto que introduz: indica o percurso analítico
escolhido pelo autor para tratar do tema abordado.
Conheceremos, a seguir, algumas estratégias clássicas de construção do primeiro parágrafo
de uma dissertação e veremos de que modo, feita uma escolha sobre o tipo de introdução a ser
utilizado, o caminho expositivo-analítico dos parágrafos seguintes já está também predeterminado.
Lembre-se, entretanto, de que o texto não apresenta uma única forma de ser produzido, por isso
não se atenha apenas aos modelos apresentados aqui. As possibilidades de escrita são infinitas.

a) Alusão histórica

Introduzir um texto por alusão histórica é recortar um fato, um período histórico, um hábito
antigo a fim de comparar com o presente. Essa comparação evidenciará uma permanência, ou
não, de determinada situação e isso será base para a problematização do que o tema apresentou
para discussão. Esse tipo de introdução permite que o autor apresente domínio de uma área de
conhecimento de relevância, a história, o que contribui para o objetivo final de um texto dissertativo-
argumentativo: defesa de um ponto de vista.

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2016.ghtml Acesso em 13/01/2019

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2017.ghtml Acesso em 13/01/2019

26
b) Referência a artes (cinema, literatura, música, pintura, escultura...)

É um tipo de introdução na qual o candidato explora seu repertório sociocultural de modo


bastante evidente, tendo em vista que ele aciona os conhecimentos escolares e/ou seculares
obtidos sobre o universo das artes. Caso seja feita com propriedade, correção e
informatividade, essa estratégia aprimora consideravelmente a qualidade do texto, imprimindo
a ele uma bagagem capaz de diferenciá-lo dos demais.

https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/melhores-redacoes-da-fuvest-2010-escher-platao-e-o-real-imaginario/

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2017.ghtml Acesso em 13/01/2019

REDAÇÃO 27
Professor Wesley Pontes
c) Comparação / contraste

Nesse tipo de introdução, o aluno pode comparar, convergente ou divergentemente, dois


elementos: pensamentos, momentos históricos, dados, situações reais ou fictícias, governos, países,
obras. Tudo dependerá da bagagem sociocultural de que o candidato dispuser.

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2017.ghtml Acesso em 13/01/2019

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2015.ghtml Acesso em 13/01/2019

d) Citação

Esse recurso consiste em fazer referência a ideias de outros autores a fim de que o seu ponto
de vista seja fortalecido, sua opinião será destaque mesmo quando você desconstruir a opinião do
autor citado, uma vez que terás mostrado conhecimento crítico aos leitores.
Há duas possibilidades de citação: a direta e a indireta. A citação direta é quando é
apresentado no texto a ideia com as palavras do próprio autor. Exemplo: Segundo Marx, “A história
da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”. A citação indireta é quando, com
as suas palavras, são apresentadas as ideias do autor que será citado. Exemplo: “Sakamoto
evidencia a necessidade de uma formação educacional em que o senso crítico e o bom senso sejam
instigados nas crianças. ”

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2015.ghtml Acesso em 13/01/2019

28
Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2016.ghtml Acesso em 13/01/2019

e) Dados concretos

O uso de dados concreto é outra forma de demonstrar à banca corretora seu grau de repertório
sociocultural. Chamamos aqui de dados completos notícias, reportagens, documentários,
pesquisas, estudos científicos... Isso expõe seus conhecimentos secular e escolar de modo que lhe
garante uma boa apreciação por parte dos examinadores. Para isso, entretanto, é fundamental a
leitura constante e diversificada de textos que circulam na esfera jornalística e na científica. Seja um
leitor assíduo!

Extraído de: https://g1.globo.com/educacao/noticia/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2015.ghtml Acesso em 13/01/2019

Redação gentilmente cedida pela aluna Luana Rinco, do Curso Apogeu.

REDAÇÃO 29
Professor Wesley Pontes
Tipos de tese

A tese corresponde à frase do texto que traduz seu ponto de vista ou a ideia principal que você
defenderá. Ela compreende um período objetivo e sintético, uma vez que essa ideia será esmiuçada
na redação. Para fins didáticos, adotaremos aqui o método de defesa no qual se expõe a tese na
introdução, desse modo a tese estará ao fim da introdução, sendo, literalmente, o último período
deste parágrafo.

Modelo:

Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização


Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização
Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização
Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização Contextualização. Tese tese
tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese tese
Algumas observações:

 Para achar a tese, faça as seguintes perguntas: “O que eu penso sobre isso?” / “Qual a minha
opinião a respeito desse tema? ”;
 Lembre-se que a tese deve estar coerente com a contextualização. Evite, portanto, fazer com
que sua tese pareça desconexa da introdução, pois isso prejudicará a coerência do seu
parágrafo;
 Não se esqueça de que a tese sempre será concatenada à introdução por um conectivo cujo
valor semântico deve traduzir o que você quer enquanto autor: você fará uma oposição ao
período anterior? Você está concluindo a ideia? (Há conectivo adequado para cada situação);
 Seja claro e se coloque no lugar de seu corretor fazendo a si mesmo a seguinte pergunta: “Por
meio dessa tese, eu consigo saber previamente o caminho que será traçado nos parágrafos
seguintes?”.

30
A seguir, há alguns modelos de tese. Leia-os e use em suas redações aquele com o qual você
demonstrou ter mais facilidade.

a) Tese genérica: Frase curta na qual se aponta, de modo mais generalizador, a ideia central do
texto. Exemplos:

“O ornamento da vida está na forma como um país trata suas crianças'. A frase do sociólogo Gilberto
Freyre deixa nítida a relação de cuidado que uma nação deve ter com as questões referentes à
infância.

Dessa forma, é válido analisar a maneira como o excesso de publicidade infantil pode contribuir
negativamente para o desenvolvimento dos pequenos e do Brasil.”

A propaganda é a principal arma das grandes empresas. Disseminada em todos os meios de


comunicação, a ampla visibilidade publicitária atinge seu principal objetivo: expor um produto e
explicar sua respectiva função.

No entanto, essa mesma função é distorcida por anúncios apelativos, que transformam em sinônimos
o prazer e a compra, atingindo principalmente as crianças.

"Desde o fim da Guerra Fria, em 1985, e a consolidação do modelo econômico capitalista, cresce
no mundo o consumismo desenfreado. Entretanto, as consequências dessa modernidade atingem o
ser humano de maneira direta e indireta: através da dependência por compras e impactos
ambientais causados por esse ato.

Nesse sentido, por serem frágeis e incapazes de diferenciar impulso de necessidade, as crianças
tornaram-se um alvo fácil dos atos publicitários. ”

REDAÇÃO 31
Professor Wesley Pontes
b) Tese proposta: é uma frase também genérica, mas que aponta para as medidas que precisam
ser tomadas a fim de se reverter o quadro denunciado na redação.

Exemplos:
"A Revolução Industrial, ocorrida inicialmente na Inglaterra durante o século XVIII, trouxe a
necessidade de um mercado consumidor cada vez maior em função do aumento de produção. Para
isso, o investimento em publicidade tornou-se um fator essencial para ampliar as vendas das
mercadorias produzidas. Na sociedade atual, percebe-se as crianças como um dos focos de
publicidade.

Tal prática deve ser restringida pelo Estado para garantir que as crianças não sejam persuadidas a
comprar determinado produto.”

A Revolução Técnico-Científica do século XX inaugurou a Era da Informação e possibilitou a


divulgação de propagandas nos meios de comunicação, influenciando o consumo dos indivíduos de
diferentes faixas etárias. Nesse contexto, a publicidade destinada ao público infantil é motivo de
debates entre educadores e psicólogos no território nacional.

Assim, a proibição parcial da divulgação de produtos para as crianças é essencial para um maior
controle dos pais e para um menor abuso de grandes empresas sobre os infantes.”

"Em meio a uma sociedade globalizada, é evidente o crescimento dos recursos capazes de estimular
a adesão ao consumo. Em meio a esse contexto, encontram-se as propagandas destinadas às
crianças, que, por possuírem seu caráter em processo de formação, tornam-se alvos fáceis desses
anunciantes.

A regulamentação da publicidade infantil constitui, assim, um fator imprescindível, visando à


preservação da integridade mental desse público.”

c) Tese binária: é caracterizada por apresentar, de antemão, os pontos posteriormente


discutidos nos argumentos. É um modelo que pode auxiliar o candidato com problemas de
organização de ideias, tendo em vista que, com essa estratégia, ele se vê condicionado a
desenvolver tão comente os pontos elencados em sua tese.

"A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no
número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças. No Brasil, o debate sobre a
publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos.

Nesse contexto, o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças pode trazer prejuízos
físicos e psicológicos.”

32
“Cenas de pais constrangidos em lojas em virtude do choro de crianças cujos desejos não foram
atendidos são muito comuns em nosso cotidiano. Uma causa para tais episódios são as propagandas
voltadas para o público infantil, que têm sido alvo de discussões entre vários setores da sociedade,
por seu poder de influência.

Então, nota-se que o problema se apresenta como uma falha na educação familiar e como uma
ação desmedida do marketing empresarial.”

“Desde o final de 1991, com a extinção da antiga União Soviética, o capitalismo predomina como
sistema econômico. Diante disso, os variados ramos industriais pesquisam e desenvolvem novas
formas e produtos que atinjam os mais variados nichos de mercado.

Esse alcance, contudo, mostra-se como um grande desafio tanto às famílias quanto ao Estado.”

Observação: Alguns candidatos optam por usar a chamada tese-pergunta. Ela consiste em um
questionamento que instiga o leitor a manter a leitura do restante do texto. Entretanto, por ser um
tipo de tese que gera discordância de aceitação entre avaliadores, sugere-se que ela seja evitada.
A seguir, veja um exemplo:

É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens


famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa
faixa etária cresce de forma nunca vista antes.

No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam
preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?

Exemplos extraídos de: http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/noticia/2015/05/leia-redacoes-do-enem-que-


tiraram-nota-maxima-no-exame-de-2014.html. Acesso em 13/01/2019

REDAÇÃO 33
Professor Wesley Pontes
AS PARTES DA DISSERTAÇÃO: ALGUMAS SUGESTÕES

Os parágrafos mediais
Durante o desenvolvimento ou argumentação defenda a sua tese apresentando ideias que a
justifiquem, de forma consistente e apresente seus argumentos. Essa parte é importante porque
possui mais critérios avaliados, por isso argumente com clareza e objetividade para que o
leitor/avaliador compreenda seu ponto de vista.
Para contribuir com a sua organização textual, reserve um parágrafo para cada argumento,
analisando todos os aspectos que quer salientar. O objetivo do desenvolvimento é reforçar e
comprovar o ponto e vista.
Utilize sempre argumentos que consiga justificar, pois o seu objetivo é convencer e, além disso,
procure mostrar pontos positivos e negativos. Os diversos argumentos deverão se sustentados com
exemplos e provas que os validem, tornando-os indiscutíveis, como:

 fatos comprovados;
 conhecimentos consensuais;
 dados estatísticos;
 pesquisas e estudos;
 citações de autores renomados;
 depoimentos de personalidades renomadas;
 alusões históricas;
 fatores sociais, culturais e econômicos.

Argumento aqui será então usado em sentido lato. Observemos a origem do termo: vem do
latim argumentum, que tem tema argu, cujo sentido primeiro é “fazer brilhar”, “iluminar”. É o
mesmo tema que aparece nas palavras argênteo, argúcia, arguto etc. Pela sua origem, podemos
dizer que argumento é tudo aquilo que faz brilhar, cintilar uma ideia. Assim, chamam os argumento
a todo procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi
comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto.

Nesse sentido, todo texto é argumentativo, porque todos são, de certa maneira, persuasivos.
Alguns se apresentam explicitamente como discursos persuasivos, como a publicidade, outros se
colocam como discursos de busca e comunicação do conhecimento, como o científico. Aqueles
usam mais a argumentação em sentido lato; estes estão mais comprometidos com raciocínios
lógicos em sentido estrito. Seja a argumentação considerada em sentido mais amplo ou mais
restrito, o que é certo é que, quando bem feita, dá consistência ao texto, produzindo sensação de
realidade ou impressão de verdade. Achamos que o texto está falando de coisas reais ou
verdadeiras. Acreditamos nele.

São inúmeros os recursos linguísticos usados com a finalidade de convencer. Trataremos de


alguns tipos de argumento.

34
1. ARGUMENTO DE AUTORIDADE

É a citação de autores renomados, autoridades num certo domínio do saber, numa área da
atividade humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. O uso de citações, de um lado,
cria a imagem de que o falante conhece bem o assunto que está discutindo, porque já leu o que
sobre ele pensaram outros autores; de outro, torna os autores citados fiadores da veracidade deum
dado ponto de vista. Observe a introdução de um texto de Ulisses Guimarães, em que invoca
a autoridade da Bíblia, do padre Antônio Vieira, de provérbios e de Camões, para reprovar a falta
de palavra do presidente Collor, que lhe prometera manter-se neutro na votação de emenda
constitucional que estabelecia o sistema parlamentarista e, na surdina, trabalhou pela sua rejeição.

Se é verdade que o argumento de autoridade tem força, é preciso levar em conta que
tem efeito contrário a utilização de citações descosturadas , sem relação c om o tema,
erradas, feitas pela metade , mal compreendidas.

2. ARGUMENTO BASEADO NO CONSENSO

As matemáticas trabalham com axiomas, que são proposições evidentes por si mesmas
e, portanto, indemonstráveis: o todo é maior do que a parte; duas quantidades iguais
a uma terceira são iguais entre si, etc. Outras ciências trabalham também com máximas e
proposições aceitas como verdadeiras, numa certa época, e que, portanto, prescindem de
demonstração, a menos que o objetivo de um texto seja demonstrá-las. Podem-se usar, pois, essas
proposições evidentes por si ou universalmente aceitas, para efeitos de argumentação. Por
exemplo:

A educação é a base do desenvolvimento.

Os investimentos em pesquisa são indispensáveis, para que um país supere sua condição de
dependência.

REDAÇÃO 35
Professor Wesley Pontes
Não se deve, no entanto, confundir argumento baseado no consenso com lugares-comuns
carentes de base científica, de validade discutível. É preciso muito cuidado para distinguir o que é
uma ideia que não mais necessita de demonstração e a enunciação de preconceitos do tipo:
o brasileiro é indolente, a aids é um castigo de Deus, só o amor constrói.

3. ARGUMENTOS BASEADOS EM PROVAS CONCRETAS

As opiniões pessoais expressam apreciações, pontos de vista, julgamentos, que exprimem


aprovação ou desaprovação. No entanto, elas terão pouco valor se não vierem apoiadas em fatos.
É muito frequente em campanhas políticas fazerem-se acusações genéricas contra candidatos:
incompetente, corrupto, ladrão etc. O argumento terá muito mais peso se a opinião estiver
embasada em fatos comprobatórios. Se dissermos A administração Fleury foi ruinosa para o Estado
de São Paulo, um partidário do ex-governador poderá responder simplesmente que não foi. No
entanto, se dissermos A administração Fleury foi ruinosa para o Estado de São Paulo, porque deixou
dívidas, junto ao Banespa, de 8,5 bilhões de dólares, porque deixou de pagar os fornecedores,
porque acumulou dívidas de bilhões de dólares, porque inchou a folha de pagamento do Estado
com nomeações de afilhados políticos, porque desestruturou a administração pública etc., o
partidário do ex-governador, para argumentar, terá que responder a todos esses fatos.

Os dados apresentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos. Por


exemplo, se alguém disser que um determinado candidato não é competente administrativamente
porque não sabe português, estará fazendo um raciocínio falacioso, porque o fato de saber
português não é pertinente para a conclusão de que alguém seja competente para administrar,
uma vez que não há implicação necessária entre o conhecimento linguístico de alguém e a
qualidade de bom administrador. Por outro lado, se alguém diz que todo político é ladrão, porque
a imprensa divulgou que dezenas de deputados fizeram emendas ao orçamento para tirar proveito
pessoal, os dados são insuficientes para fazer a generalização, pois do fato de alguns (ou muitos)
terem sido apontados como desonestos não decorre necessariamente que todos o sejam. Aliás, é
preciso tomar muito cuidado com esses argumentos que fazem apelo a uma totalidade
indeterminada, pois basta um único caso em contrário, para derrubá-los. Se alguém diz Nenhum
europeu toma banho todos os dias, basta que se cite um que o faça, para que o argumento deixe
de ter validade. No geral, essas generalizações feitas com base em dados insuficientes revelam
apenas nossos tabus e preconceitos. Se um determinado candidato diz que seu adversário é racista,
porque, quando era diretor de uma certa companhia, não permitia que se contratassem
funcionários negros, essa afirmação, a menos que venha acompanhada de provas, será
considerada não fidedigna, pois quem a veicula tem interesse em desmoralizar a pessoa que está
sendo acusada. Se o prefeito de São Paulo diz que é preciso investir em pontes, viadutos, túneis e
alargamento de ruas e avenidas, para melhorar o transporte coletivo, uma vez que, se o fluxo do
tráfego aumentar, crescerá também a velocidade dos ônibus, seu argumento é fraco. Veja que se
pode rebatê-lo, dizendo que nele não se relacionam dados adequados, visto que a melhoria da
velocidade do transporte coletivo se faria, na verdade, com um custo mais baixo, implantando-se
corredores exclusivos de ônibus e restringindo-se a circulação do transporte individual.

36
Não se podem fazer generalizações sem apoio em dados consistentes, fidedignos, suficientes,
adequados, pertinentes. As provas concretas podem ser cifras e estatísticas, dados históricos, fatos
da experiência cotidiana etc. Esse tipo de argumento, quando bem feito, cria a sensação de que o
texto trata de coisas verdadeiras e não apresenta opiniões gratuitas. Veja este texto, em que se
acusa a Central Brasileira de Medicamentos de realizar compras com preços superfaturados e se
comprova o superfaturamento com publicações do Diário Oficial e com notas de empenho
assinadas pelo presidente do órgão:

É o que acaba de fazer, com dinheiro da Central de Medicamentos, Antônio Carlos dos Santos,
presidente dessa estatal apanhado em flagrante de compras irregulares com custo bilionário. O
leitor que me desculpe, mas se trata, ainda, da compra de 1.600 litros de inseticida por Cr$
2.169.115.200,00, ao preço, portanto, de Cr$ 1.355.697,00 por litro. Notícia cuja veracidade está
comprovada no Diário Oficial de 19 de abril e na “nota de empenho” com que o presidente da
Ceme liberou a verba.

Jânio de Freitas. Folha de S. Paulo, 14 maio 1991. p. 1-5.

Afirmações generalizantes exigem dados ou fatos que lhes sirvam de suporte. Por outro lado,
não se podem fazer generalizações indevidas. Um tipo de generalização indevida é tomar o que é
acidental, ou seja, acessório, ocasional, como se fosse essencial, isto é, inerente, necessário.
Mostrar um erro médico (ou vários) e concluir que todos os médicos são charlatães é generalizar
indevidamente, porque o erro por descuido, negligência ou imperícia não é inerente à profissão
médica. Também não o é a corrupção à atividade política etc. A maioria das sentenças judiciosas
do senso comum são generalizações indevidas. Usar argumentos desse tipo (por exemplo, político
não presta, brasileiro não sabe votar, pobre não gosta de trabalhar, engenheiro é bitolado, artista
vive num outro mundo, jornal só conta mentira, funcionário público não trabalha, roqueiros são
todos drogados) revela um autor acrítico, preso a lugares-comuns, imerso num universo conceitual
muito pobre.

No caso de argumentos por provas concretas, podem-se muitas vezes usar casos singulares
para comprovar verdades gerais. Tem-se a argumentação por ilustração, quando se enuncia um
fato geral e, em seguida, narra-se um caso concreto para comprová-la; na argumentação pelo
exemplo, parte-se de um exemplo concreto e daí se extrai uma conclusão geral. Temos o primeiro
caso, quando se diz que, no Brasil, há políticos que se valem de fraude para eleger-se e, em
seguida, conta-se o caso de um esquema montado por um candidato a deputado para alterar os
mapas eleitorais durante as apurações. Nesse caso, o que não se pode é dar à afirmação geral
um alcance que a ilustração não permite. Por exemplo, se tivéssemos dito que todos os deputados
se valem de fraude para eleger-se, a ilustração com um único caso não serviria para comprovar o
alcance da proposição geral.

Temos argumentação pelo exemplo, quando partimos de casos de fraude contra a previdência
social, para chegar à afirmação de que o sistema previdenciário brasileiro está sujeito a esse tipo
de ilícito e, por isso, precisa passar por profundas reformulações saneadoras. Nesse tipo de
argumentação, é preciso cuidado para não chegar a generalizações indevidas, a conclusões que
nada têm a ver com os fatos relatados, a conclusões que são contrárias aos fatos relatados. Vamos
dar apenas um exemplo. Um narrador conta que foi a uma festa, onde não conseguiu conversar
com ninguém, não se divertiu, ficou sozinho e, em seguida, diz que é muito bom ir a festas, pois
novos relacionamentos sempre nos enriquecem.

REDAÇÃO 37
Professor Wesley Pontes
4. ARGUMENTOS COM BASE NO RACIOCÍNIO LÓGICO

Embora no item anterior já tenhamos tratado disso, ao dizer que não se podem tirar conclusões
incompatíveis com os dados apresentados, ilustrar afirmações gerais com dados inadequados etc.,
o que chamamos aqui argumentos com base em raciocínio lógico diz respeito às próprias relações
entre proposições e não à adequação entre proposições e provas. Vejamos um exemplo. Num
artigo intitulado “Todo poder aos professores”, Otávio Frias Filho discute a filosofia pedagógica de
estímulo à criatividade, que se implantou em nossas escolas a partir da década de 60. Depois de
analisar o lado positivo dessa proposta, desvela o seu lado perverso. Num certo ponto do artigo,
mostra a comodidade de organizar um curso com base em seminários, a dificuldade de reverter
esse processo, a necessidade de rever grande parte das mudanças do ensino nestes trinta anos. Dá
depois de cada uma dessas proposições as razões que motivam sua afirmação. A argumentação
baseia-se nas relações de causa e consequência.

Um dos defeitos na argumentação com base no raciocínio lógico é fugir do tema. Esse
expediente é muito usado por políticos, para evitar questões embaraçosas, ou advogados, quando
não têm como refutar as acusações imputadas a seu cliente. Um prefeito da capital paulista a quem
perguntaram por que, em seu governo, uma determinada obra pública estava custando tão caro,
respondeu que ela seria muito importante para a cidade, porque eliminaria as enchentes numa
dada região. Um homem matou sua mulher por ciúmes, como ficara comprovado. Seu advogado,
para comover os jurados, começa a dizer que o acusado era um homem trabalhador, um cidadão
exemplar, um pai dedicado, uma pessoa sempre disposta a ajudar os amigos. Cabe lembrar
enfaticamente que esse procedimento é um defeito de argumentação apenas do ponto de vista
lógico. Da perspectiva da persuasão em sentido amplo, pode ser eficaz, pois pode convencer os
ouvintes, levando-os a relacionar aquilo que não tem relação necessária.

Outro problema é a tautologia (erro lógico que consiste em aparentemente demonstrar uma
tese, repetindo-a com palavras diferentes), que ocorre quando se dá, como causa de um fato, o
próprio fato exposto em outras palavras. Apresenta-se, nesse caso, a própria afirmação como
causa dela mesma, toma-se como demonstrado o que é preciso demonstrar. Por exemplo: o fumo
faz mal à saúde porque prejudica o organismo (prejudicar o organismo é exatamente fazer mal à
saúde); essa criança é mal-educada porque os pais não lhe deram educação.

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Outro problema é tomar como causa, explicação, razão de ser de um fato o que, na verdade,
não é causa dele. Uma causa é alguma coisa que ocasiona outra. Por isso, é preciso que haja uma
relação necessária entre ela e seu efeito. Frequentemente, usa-se como causa de um fato algo que
veio antes. Ora, o que vem depois não é necessariamente efeito do que aconteceu antes. Quando
se passa debaixo de uma escada e, depois, se cai e se quebra uma perna, não se pode concluir que
passar debaixo da escada é causa do acidente. As superstições baseiam-se nessa falsa causalidade.
Nada é pior para convencer do que um texto sem coerência lógica, que diz e desdiz-se, que
apresenta afirmações que não se implicam umas às outras, que está eivado de contradições.

5. ARGUMENTO DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA


Em muitas situações de comunicação (discurso político, religioso, pedagógico etc.) deve-se usar
a variante culta da língua. O modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz. Utilizar também um
vocabulário adequado à situação de interlocução dá credibilidade às informações veiculadas. Se
um médico não se vale de termos científicos ao fazer uma exposição sobre suas experiências,
desconfiamos da validade delas. Se um professor não é capaz de usar a norma culta, achamos
que ele não conhece sua disciplina. Além disso, contribui para persuadir a utilização de diferentes
mecanismos linguísticos (alguns deles serão estudados nas próximas duas lições).
Hélio Schwartsman, num artigo intitulado “FHC, o filme”, publicado na Folha de S. Paulo de
10/1/1995, p. 1-2, quer convencer o leitor de que foi um equívoco do presidente Fernando
Henrique Cardoso ter sancionado a lei de biossegurança, porque ela “consegue, a um só tempo,
proibir no Brasil a principal aplicação da terapia genética (...), dificultar a vida dos casais que
desejam um bebê de proveta (...) e não criar nenhum mecanismo efetivo contra abusos no campo
da engenharia genética”. Observe, no trecho que vem a seguir, o valor argumentativo do uso, em
latim, de uma expressão vulgar em português:

Lições de texto: leitura e redação. [S.l: s.n.], 2006. APA. Fiorin, J. L., & Savioli, F. P. (2006).

Espera-se que, nessa etapa do texto, você seja capaz de avaliar a pertinência de seus
repertórios, selecionar os argumentos mais adequados em relação à temática e ao seu ponto de
vista, relacioná-los, organizá-los de forma clara e estratégica, além de interpretá-los,
desenvolvendo-os para uma efetiva defesa do ponto de vista.
Para auxiliar sua escrita, sugerimos uma estrutura para os parágrafos de argumentação:

Conectivo . Tópico frasal Tópico frasal Tópico frasal Tópico frasal Tópico frasal Tópico frasal
Tópico frasal Tópico frasal. Conexão Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação
Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação
Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação
Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação
Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação
Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação Sustentação.

REDAÇÃO 39
Professor Wesley Pontes
O conectivo usado no início do parágrafo dependerá da relação semântica que ele estabelece com
o trecho anterior. Evite decorar! Analise a relação entre as partes do texto.

1) O tópico frasal é a ideia central ou nuclear do parágrafo, ou seja, uma espécie de resumo do
ponto a ser explorado no parágrafo que segue. Cada parágrafo tem um tópico frasal próprio, o
que equivale a dizer que não se deve escrever parágrafos com mais de uma ideia nuclear. Além
disso, cada ideia nuclear determina a criação de um parágrafo próprio. Normalmente, o tópico
frasal é expresso em uma única frase, podendo, eventualmente, ser constituído de até duas
frasesurtas. O tópico frasal pode ser explicitado logo no início do parágrafo, garantindo maior
clareza e coerência ao texto e facilitando a leitura. Nesse caso, ele se dá através de:
DECLARAÇÃO INICIAL – uma afirmação ou negação que será seguida de explicação,
fundamentação, exemplos, evidências, etc.
DEFINIÇÃO: Esse é um método didático por meio do qual, como já se pode supor, o autor
apresentará uma definição.
DIVISÃO: É um processo didático, caracterizado pela objetividade e pela clareza. O tópico frasal é
apresentado sob forma de divisão ou descriminação de ideias.
INTERROGAÇÃO: Pode-se iniciar o parágrafo com uma interrogação direta, mas o autor não se
pode esquecer de que o desenvolvimento deverá responder ou esclarecer a indagação feita no
tópico frasal.

2) A conexão entre o tópico frasal e a sustentação visa dar melhor fluidez ao raciocínio. Os
elementos responsáveis por essa função serão abordados mais à frente.

3) A sustentação pode ser considerada como o embasamento do tópico frasal, sendo a


argumentação propriamente dita. Aqui, o redator faz uso de seu repertório sociocultural e das
estratégias argumentativas visando à persuasão de seu leitor. Veja, a seguir, um exemplo de um
parágrafo argumentativo:

Conexão
Em primeiro plano , a ineficiência governamental na

efetivação dos direitos fundamentais, previstos no artigo V da


constituição, fomenta na população um discurso impetuoso e
Tópico frasal Conexão
descontente . Sendo assim , o corpo social

demonstra grande irritabilidade e descrença, convergindo sua


concepção ideológica de justiça para um conceito agressivo que, por
muitas vezes, vai contra os princípios da Declaração Universal dos
Direitos humanos. Nesse contexto, cria-se um ambiente caótico e
Sustentação
propício para a difusão de um modelo de princípios violentos, que
acaba retirando o foco das questões de caráter social, como
educação e saúde, causando um ciclo vicioso de revolta e violência.

Texto gentilmente cedido pelo aluno Lucas Malta.

40
Algumas formas relacionar os parágrafos de argumentação

1) Oposição:
A argumentação pode ser construída a partir da oposição entre dois lados de um mesmo fato.
Nessa construção, normalmente, apresenta-se o lado positivo e o lado negativo.

OBS: Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você já imagina quais serão os possíveis
posicionamentos contrários de alguns leitores. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar
essas visões diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-
argumentação.

http://seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/2-ano/01-lp/aula-ead/5-8.pdf

REDAÇÃO 41
Professor Wesley Pontes
2) Adição: é uma estratégia simples, pois basta que os parágrafos se complementem por meio
de uma soma. Para isso, faz-se uso de operadores argumentativos de adição. Essa estratégia é
ideal para teses binárias, pois, em cada parágrafo, é possível trabalhar um tópico da tese.

Redação gentilmente cedida pela aluna Jade Brum

3) Causalidade : nessa estratégia, o aluno pode apresentar um parágrafo com a causa de


um problema e outro com sua consequência ou vice-versa. Vale lembrar, entretanto, a
importância dos elementos conectores, tendo em vista que eles deixarão clara a ideia
pretendida.

Redação gentilmente cedida pela aluna Milena Campista.

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AS PARTES DA DISSERTAÇÃO: ALGUMAS SUGESTÕES

O PARÁGRAFO DE CONCLUSÃO

Se a dissertação for bem planejada, com uma clara delimitação do tema,


uma escolha consciente do ponto de vista a ser defendido e uma argumentação
coerente com essa opinião, o texto conduzirá naturalmente à conclusão. Esse
desfecho também faz parte do planejamento, pois é a confirmação da tese, encerrando o raciocínio
lançado na introdução. Existe mais de uma maneira de concluir uma dissertação. A mais comum é
a síntese das ideias apresentadas, para reafirmar o ponto de vista.

SÍNTESE
O autor reapresenta as ideias do texto resumidamente, ou seja, sintetiza os argumentos para
retomar e reafirmar a tese. É comum a presença de um elemento coesivo (assim, portanto, desse
modo).

AGREGAÇÃO
O autor encerra o texto com uma ideia mais abrangente, que reúne os elementos apresentados no
desenvolvimento.

PROPOSTA
O autor sugere uma ou mais soluções para o problema em discussão. Esta é a forma como o Enem
pede que seja concluída a redação.

PERGUNTA
Uma indagação no fim do texto pode reforçar o ponto de vista do autor e estimular o
questionamento por parte do leitor. A pergunta tem apenas uma função retórica.

SURPRESA
Um elemento inesperado contribui para ilustrar de maneira mais marcante o ponto de vista
defendido. O autor pode recorrer a uma anedota, um trocadilho, uma citação ou uma construção
original que, pelo caráter surpreendente, torna ainda mais forte o apelo do pensamento
apresentado como conclusão.
Guia do Estudante, Linguagens, Códigos e Redação, ed. 2010

Para fins de prática em nosso curso, vamos adotar a estrutura do parágrafo de conclusão da
seguinte forma:

Conexão, Retomada da tese Retomada da tese Retomada da tese Retomada da tese Retomada da
tese Retomada da tese Retomada da tese. Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta
Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta
Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta
Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta
Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta Proposta. Frase de
fechamento Frase de fechamento Frase de fechamento Frase de fechamento Frase de fechamento.

REDAÇÃO 43
Professor Wesley Pontes
A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A prova de redação do Enem possui um


diferencial em relação à maioria dos
vestibulares do Brasil: a exigência de uma
proposta de intervenção.
É por meio da Competência V que se
observa se o participante construiu, ao longo
de sua formação, conhecimentos para a
produção de um texto em que, além de se posicionar de maneira crítica e argumentar a favor de
um ponto de vista, propõe uma intervenção com o objetivo de solucionar o problema abordado.
O participante deve “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado,
respeitando os direitos humanos”, o que significa que, ao propor uma intervenção para o
problema, ele não deve ferir os princípios estabelecidos nas Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos, demonstrando uma forma de atuar na sociedade com ética e
responsabilidade. É importante ressaltar que o desrespeito aos direitos humanos atende a princípios
estabelecidos em documentos que possuem força de lei, portanto esses comportamentos podem
ser considerados crimes, de acordo com o Código Penal Brasileiro.
As redações que desrespeitarem, na proposta de intervenção, de forma explícita e deliberada,
os direitos humanos receberão nota no nível 0 da Competência V apenas.

OS ELEMENTOS DA PROPOSTA

Objetivando interferir no problema proposto pelo tema da prova, a proposta de intervenção


deve exprimir, minimamente, o que deve ser feito de maneira ativa. Nesse sentido, a ação
interventiva é o elemento essencial, que auxiliará na identificação dessa proposta, ao qual se
relacionam o agente indicado para executar essa ação, seu modo/ meio de execução e seu efeito,
pretendido ou alcançado, e um detalhamento de um dos elementos anteriores. Portanto, a proposta
de intervenção muito bem elaborada, de forma detalhada, é aquela que apresenta os 4 elementos
+ detalhamento.

44
AÇÃO INTERVENTIVA (“O que deve ser feito?”)

Elemento que diz respeito à ação prática apontada pelo participante como necessária para a
solução do problema apresentado pelo tema. É a partir da ação que reconhecemos a intenção de
propor uma intervenção para o problema abordado.
Na avaliação da proposta de intervenção, a ação interventiva equivale a 1 elemento válido,
desde que tenha caráter interventivo. Ações que se distanciam desse caráter serão consideradas
“elemento nulo”, o qual se caracteriza por ser uma tentativa mínima de propor uma intervenção.
Esse elemento não é contabilizado na contagem dos elementos válidos para atribuição de nível à
proposta, pois se trata de uma ação normalmente pouco interventiva ou pouco prática, geralmente,
uma ação muito genérica ou situada no âmbito da conscientização.

AGENTE (“Quem?”)

Elemento que diz respeito ao ator social apontado para a ação interventiva que se propõe.
Para determinar o agente, o participante deve considerar o problema abordado pelo tema, sobre
o qual se deseja intervir, e a ação interventiva apresentada. Apesar de os atores sociais variarem
em função do tema e do problema, eles se enquadram em determinados níveis de ação: individual,
familiar, comunitário, social, político, governamental e mundial.

MODO/MEIO (“Como /Por meio de quê?”)

Elemento que diz respeito à maneira e/ou aos recursos pelos quais a ação interventiva é
realizada. Esse elemento dialoga com a exequibilidade da ação e revela o quanto esta é concreta
e interventiva, características indispensáveis à proposta de intervenção.

Expressões: “através de”, “por meio de”, “por intermédio de”, “a partir de”...

EFEITO (“Para quê?”)

Elemento que corresponde aos resultados pretendidos ou alcançados pela ação interventiva
proposta. Ele pode vir expresso por meio de uma estrutura indicativa de finalidade, consequência
ou conclusão.

Expressões: “para”, “com o intuito de”, “com a finalidade de”, “com o objetivo de”, “com o
fito de”, “a fim de “, “com o propósito de”, “com a função de”...

REDAÇÃO 45
Professor Wesley Pontes
DETALHAMENTO (“Que outra informação sobre esses elementos posso colocar?”)

Elemento que acrescenta informações à ação interventiva, ao agente, ao modo/meio ou ao


efeito. Ele tem papel fundamental para uma formulação mais concreta e mais elaborada da
proposta de intervenção e tem mesma relevância que os demais elementos. O detalhamento, por
sua vez, é um outro elemento, aquele que acrescenta informações à ação interventiva, ao agente,
ao modo/meio ou ao efeito.

Adaptado de: https://www.seias.com.br/download/19585/0--apos-red-3-criterios-correcaodocx.aspx

Algumas perguntas:

1) Preciso fazer quantas propostas?

Caso você tenha dois argumentos e eles tragam problemáticas distintas, você precisa propor
intervenção para os dois, pois, se faltar uma proposta, você poderá ser penalizado na competência
III, uma vez que seu projeto de texto apresenta uma falha.

2) As duas propostas precisam ser completas?

Não. Você pode fazer uma proposta mais básica, que não apresente detalhamento, por
exemplo, e outra completa, pois apenas uma é considerada para a avaliação da competência V,
no caso, a que tenha os 5 elementos.

3) Tem como algum elemento da proposta ser desconsiderado?

Sim. Caso você elabore algum elemento que apenas demonstre uma tentativa de concretizar
o agente, a ação, o meio ou o efeito, ele não será contabilizado. É o que o ENEM chama de
“elemento nulo”.

Exemplos de elementos nulos:

 Agente: nós, alguém, você, todos, todos nós, sujeitos ocultos....


 Ação: dar um primeiro passo, tomar uma medida, respeitar uns aos outros, entender o
próximo, espalhar amor...

46
Exemplos de propostas completas:

Logo, é perceptível que a suicidabilidade entre a população juvenil brasileira configura-se


como uma problemática que precisa ser combatida. Desse modo, objetivando-se oferecer apoio
psicológico a jovens que sofrem de depressão, é salutar a atuação mais efetiva da família, uma vez
que essa esfera social é, geralmente, a base afetiva desses indivíduos. Assim, tal ação pode ocorrer
por meio da observação de mudanças comportamentais dos filhos, bem como de constantes
diálogos.

Dessa forma, constata-se que as doenças de ordem mental apresentam-se como um entrave
à atual saúde pública brasileira. Assim, mostra-se imprescindível que as escolas abordem esse tema
em aulas, haja vista que a conversa sobre as psicopatologias é capaz de promover conhecimento
sobre esse quadro clínico. Nessa perspectiva, isso poderá ocorrer por meio de palestras com
especialistas da área a fim de que os alunos possam, futuramente, saber agir diante de
enfermidades, como depressão e ansiedade.

Portanto, observa-se que o compartilhamento de notícias falsas é um problema que precisa


ser enfrentado. Nessa ótica, com o fito de ajudar a população a identificar inverdades na rede, é
primordial a atuação da mídia televisiva. Assim, isso pode ocorrer através de estratégias específicas,
como entrevistas com especialista em checagem de fatos, debates com profissionais da área de
comunicação e propagandas educativas que ensinem à população métodos de detecção de
mentiras na internet.

Enfim, a promoção de atividades de cunho voluntário é, indiscutivelmente, uma ferramenta de


transformação social. Nesse viés, as ONG’s deveriam estimular maior participação da sociedade
em atividades filantrópicas a partir de publicações de campanhas de incentivo com tom mais
apelativo a fim de que um maior número de indivíduos se interesse por essa forma de atuação civil.
Dessa maneira, será possível a construção de uma sociedade mais participativa, na qual a empatia
seja um pilar de convivência entre todos.

Legenda:

 Agente
 Ação
 Modo/meio
 Finalidade/efeito
 Detalhamento

REDAÇÃO 47
Professor Wesley Pontes
COESÃO: ALGUMAS OBSERVAÇÕES
Segundo a Matriz de Correção do ENEM, os candidatos serão avaliados de acordo com
sua capacidade de “demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para
a construção da argumentação”, o que compreende a competência IV da grade. Os aspectos
a serem avaliados nesta Competência dizem respeito à estruturação lógica e formal entre as
partes da redação. A organização textual exige que as frases e os parágrafos estabeleçam
entre si uma relação que garanta a sequenciação coerente do texto e a interdependência entre
as ideias.

O QUE É COESÃO TEXTUAL?

Para discutir a questão, vamos ler o texto do exemplo 1, a seguir.

Os urubus e sabiás
(1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os
urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que,
mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto
fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir
diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e
teriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se
deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se
tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. (5) Tudo ia
muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta
foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam
serenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa,
e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.(8) “– Onde estão os
documentos dos seus concursos?” (9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca
haviam imaginado que tais coisas houvessem. (10) Não haviam passado por escolas de canto,
porque o canto nascera com elas.(11) E nunca apresentaram um diploma para provar que
sabiam cantar, mas cantavam, simplesmente... “(12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem
a titulação devida é um desrespeito à ordem.” (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da
floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás... (14)
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.
(Rubem Alves, Estórias de Quem Gosta de Ensinar.São Paulo: Cortez Editora, 1984, p. 61-62)

CONCEITO
Pode-se comprovar, observando o texto acima, que um texto não é apenas uma soma ou
sequência de frases isoladas. Veja-se o início: “Tudo aconteceu...”. Que “tudo” é esse? Que
foi que aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam? Em (3), temos o
termo isto: “E para isto fundaram escolas...”. Isto o quê? De que se está falando? Ainda em
(3), qual é o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o
mesmo de teriam? Fala-se em quais deles: deles quem? E quem são os outros? Qual é o
referente de eles em (4)? Em (5), tem-se novamente a palavra tudo: “Tudo ia muito bem... Será
que esta segunda ocorrência do termo tem o mesmo sentido da primeira? Em (7), a quem se
refere o pronome eles? E seus, em (8)? Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as
tais coisas? Elas, em (10), refere-se a pobres aves ou a tais coisas? De que passarinhos se fala
em (13)?

48
Se tais perguntas podem ser facilmente respondidas pelos eventuais leitores, é porque os
termos em questão são elementos da língua que têm por função precípua estabelecer relações
textuais: são recursos de coesão textual.
Assim, tudo, em (1), remete a toda a sequência do texto, sendo, pois, um elemento
catafórico. Por seu turno, isto, em (3),remete para o enunciado anterior; é, portanto, anafórico,
do mesmo modo que tudo, em (5). Deles, em (3), remete a urubus, de (2); são também os
urubus o sujeito (elíptico) da sequência de verbos em (3), mas não de teriam, cujo sujeito será
um subconjunto do conjunto dos urubus, que exclui o subconjunto complementar formado por
outros; e, em (4), eles pode remeter a urubus, de (2), ou ao primeiro subconjunto citado
anteriormente. Em (7), eles retoma os velhos urubus que, por sua vez, retoma os urubus citados
anteriormente. Seus, em (8), remete a pintassilgos, sabiás e canários. Tais coisas refere-se aos
documentos de que se fala em (8). Os passarinhos, em (13), remete a elas de (10), que, por
seu turno, remete a pobres aves, de (9) e esta expressão a pintassilgos, sabiás e canários de
(7) que retoma (6).
Note-se, agora, que há outro grupo de mecanismos cuja função é assinalar determinadas
relações de sentido entre enunciados ou partes de enunciados, como, por exemplo: oposição
ou contraste (mas, em (2) e (11)); mesmo, em (2); finalidade ou meta (para, em (3) e (11));
consequência (foi assim que, em (4); e, em (7); localização temporal (até que, em (5));
explicação ou justificativa (porque, em (9) e (10)); adição de argumentos ou ideias (e, em (11)).
É por meio de mecanismos como estes que se vai tecendo o “tecido” (tessitura) do texto. A
este fenômeno é que se denomina coesão textual.
KOC H, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.

A coesão é a forma como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se


interligam, se interconectam, por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um
tecido (tessitura), uma unidade de nível superior à da frase, que dela difere qualitativamente.
A conexão entre partes do texto pode acontecer de duas grandes formas:

• por remissão a referentes do texto ou ancorados no texto, como discutiremos mais


adiante (coesão referencial);
• por sequenciação (coesão sequencial).

A COESÃO REFERENCIAL

A coesão referencial é entendida como a forma pela qual podíamos


remeter um elemento linguístico a outros elementos no interior do texto.
A remissão podia ocorrer em um movimento retrospectivo (anafórico) ou
em um movimento prospectivo (catafórico). De outro modo, a forma
referencial com função coesiva podia remeter a um referente que lhe era
anterior (no caso da anáfora), ou a um referente que lhe era subsequente
(no caso da catáfora). Os recursos que promovem a coesão referencial
podem ser gramaticais ou lexicais, os quais serão descritos a seguir:

REDAÇÃO 49
Professor Wesley Pontes
Pronomes

EXEMPLO 4
A derrota do Minotauro

Quando os atenienses chegaram a Creta, a filha do rei Minos, Ariadne, apaixonou-se por Teseu. Ofereceu-lhe ajuda
em troca da promessa de casamento, dando a ele um novelo de cordel. Teseu amarrou uma das pontas na entrada
do labirinto e entrou, liberando a corda conforme caminhava.

No meio do labirinto, lutou contra o Minotauro e o matou.

(WilKinson, 2010, p. 62)

No exemplo 4, os pronomes destacados (pessoais do caso oblíquo “lhe” e “o”; pessoal do


caso reto: “ele”) são anafóricos: retomam e mantêm em foco os referentes: ”teseu” (“lhe”,
“ele”); “Minotauro” (“o”).

Numerais

EXEMPLO 5
Buda

Maria de Fátima da Silva, mãe do bailarino DG – assassinado em circunstâncias ainda não esclare- cidas –, é
medalhista de natação em águas abertas.

Andréa Beltrão, minha parceira em ‘Tapas e Beijos”, é colega dela na turma de nado do Posto 6 de Copacabana.

Andréa mora na Atlântica, Maria de Fátima no morro do Cantagalo, mas as duas desfrutam do mesmo mar; junto
com as tartarugas, os peixes e os sacos plásticos.

(torres, 2014)

A expressão “as duas”, que tem como núcleo um numeral cardinal, remete aos referentes
introduzidos anteriormente: “Maria de Fátima da silva” e “andréa beltrão”.

Artigos

EXEMPLO 6

Chico na Alemanha

“Não me ocorreria escrever esse livro com minha mãe viva”: diz Chico à Piauí deste mês, na única entrevista à
imprensa sobre o romance “O Irmão Alemão”: que frequentou o topo das listas de mais vendidos em 2014. A
revista acompanhou o escritor numa viagem à Alemanha após a des- coberta do irmão Sérgio Günther, filho de
um namoro da juventude de seu pai Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982).

(coZer, 2015)

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Nas formas nominais referenciais “a revista” e “o escritor”, o artigo definido indica que se
trata de referentes já apresentados no texto e facilmente identificados: (a revista – Piauí; o
escritor – Chico).

Advérbios locativos

EXEMPLO 7
Contra o hiperativismo parental

A seção de puericultura da Livraria Cultura traz 2.038 itens. Ali abundam títulos como “Criando Filhos Vitoriosos”
ou “Como Multiplicar a Inteligência do Seu Bebê”. Será que pais têm realmente todo esse poder sobre o futuro de
suas crianças?

(scHWartsMan, 2013)

EXEMPLO 8
Fui fazer faculdade nos Estados Unidos em 1995 e depois voltei pra mais dois anos de mestrado

lá. Saí mais otimista em relação ao Brasil do que quando cheguei.

(ioscHPe, 2012, p. 173)

O advérbio “ali”, no exemplo 7, e o advérbio “lá”, no exemplo 8, funcionam coesivamente,


pois remetem aos referentes antes introduzidos: “a seção de puericultura da livraria cultura” e
“nos estados unidos”, respectivamente.
Também a coesão referencial pode se constituir por elementos de ordem lexical. Algumas
estratégias que podem ser responsáveis por esse tipo de coesão, quando empregados com a
função de reiterar referentes textuais, são apresentadas a seguir.

Repetição (total ou parcial) de um mesmo item lexical

EXEMPLO 9
Desmantelo só quer começo

Onze controles remotos, eis o surpreendente saldo da minha faxina: 11 controles remotos que há muito já não
controlavam, mesmo que remotamente, coisa alguma.

(Prata, 2014)

Sinônimos ou quase sinônimos

EXEMPLO 10
Folia e foliões

Pensei em dois assuntos para esta crônica: o Carnaval e a estupefação da sociedade com a eleição dos novos
presidentes do Congresso. Refletindo com certa calma, verifiquei que os dois temas, aparentemente tão
conflitantes, no fundo são a mesma coisa: aquilo que em tempos idos chamavam de “folia”.

(conY, 2013)

REDAÇÃO 51
Professor Wesley Pontes
Nomes genéricos

EXEMPLO 11
Carne artificial é apresentada e degustada em evento em Londres Hambúrguer foi criado
a partir de células de músculo de vacas

O primeiro hambúrguer criado em laboratório foi apresentado e degustado ontem, em uma conferência em
Londres, acompanhado de pão, alface e tomate.

O produto, que saiu da placa de Petri e foi direto para a frigideira, foi provado por dois voluntários, que disseram,
em frente às câmeras de TV, que o sabor se aproximava ao da carne de vaca.

(Folha…, 2013)

A retomada do referente “o primeiro hambúrguer criado em laboratório” é feita por meio


da expressão nominal “o produto” que tem como núcleo um nome genérico ou inespecífico:
“produto”. enquadram-se nessa categoria outros nomes como coisa, pessoa, fato, fenômeno etc.

Expressões ou grupos nominais definidos

EXEMPLO 12
Da janela da pequena casa de madeira que dividia com os pais e os três irmãos, lagoara avistava seu quintal. As
árvores da floresta amazônica e as águas do rio funcionavam como cenário das brincadeiras do indiozinho da
etnia kambeba. Correr, subir em árvores, caçar, nadar e pescar eram as brincadeiras que faziam o tempo passar
para os curumins em sua tribo, a cerca de quatro horas de barco de Manaus, em uma área de proteção ambiental
do rio Negro.

(laJolo, 2015)

No exemplo, a expressão nominal definida “o indiozinho da etnia kambeba” serve para


retomar de forma descritiva o referente “iagoara”.

Nominalização

EXEMPLO 13
Uma vez anotei todas as senhas. Mas onde guardar a anotação? E como lembrar onde foi guardada, depois? Seria
preciso outra anotação, com o lugar onde foi guardada, mas onde guardá-la? Não. Anotar também não é
aconselhável. A conclusão é que o mais seguro de tudo é esquecê--las todas. Pronto. Estou completamente
blindado, inclusive contra mim mesmo. Não sou eu para nada. Não existo. Melhor assim.

(toledo, 2014, p. 104)

Podemos transformar verbos em formas nominais ou nomes deverbais e, assim, promover


a conexão entre enunciados. É o que acontece no exemplo com “a anotação”, uma
nominalização do verbo “anotar” que aparece anteriormente na forma do pretérito perfeito do
indicativo – primeira pessoa do singular: “anotei”.
Outra forma de remissão a referentes textuais é a elipse, ou seja, a omissão de um termo
que pode ser facilmente recuperado pelo contexto linguístico. Em outras palavras, é o caso de
uma substituição por zero.

52
EXEMPLO 14
Desmantelo só quer começo

Onze controles remotos, eis o surpreendente saldo da minha faxina: 11 controles remotos que há muito já não
controlavam, mesmo que remotamente, coisa alguma.

Ao longo dos anos, as TVs, aparelhos de som, DVDs e videocassetes (juro, até videocassetes) a que serviram foram
partindo e deixando-os para trás: órfãos, sem ocupação ou residência fixa, vagavam pela casa ao sabor do acaso;
erravam pelos planaltos das cômodas e acampavam nas cordilheiras dos sofás como paraquedistas caídos no
deserto; escondiam-se em gavetas e estantes como aqueles soldados japoneses que, décadas após o fim da guerra,
seguiam enfronhados na mata, temendo o inimigo.

(Prata, 2014)

No texto, o referente “onze controles remotos”, introduzido no primeiro parágrafo, se


mantém em foco, mas de forma elíptica, no segundo parágrafo. Basta observarmos no
contexto linguístico que as formas verbais “vagavam”, “erravam”, “acampavam”, “escondiam-
se” concordam com esse referente.
Nos casos até aqui exemplificados, vimos que a coesão se realiza por meio de recursos
de ordem gramatical ou lexical, operando a remissão a elementos textuais anafórica ou
cataforicamente.
Mas, com o avançar dos estudos de texto, chegou-se à conclusão de que nem sempre o
referente de uma forma coesiva pode ser apontado no texto. Vejamos um exemplo dessa situação.

EXEMPLO 15
Em lndaiatuba, um casamento pelo MSN

“Já realizei casamentos em casa, cadeia, hospital, fazenda… mas pela internet é a primeira vez’: conta o juiz de paz
Leonel Maciel, de 84 anos e 42 de profissão, antes de celebrar a união civil do engenheiro mecânico Winston
César Silva, de 32 anos, com a assistente administrativa Márcia Maria Lança, de 31.

O “sim” do casal foi ouvido pelos familiares e testemunhas via MSN. Winston e Márcia moram há 3 anos na Suíça
e precisavam formalizar o casamento para prorrogação do visto na Europa.

As imagens dos noivos foram enviadas por uma webcam e projetadas em um telão no Cartório de lndaiatuba. Na
Itália, o casal também recebia as imagens. “Nossa preocupação era se haveria conexão”, comentou o pai do
noivo. Após algumas falhas, tudo correu bem.

(souZa, 2010)

E agora, qual é o referente das formas coesivas: “o juiz de paz”, “o sim”, “os noivos”?
Como é de nosso conhecimento, geralmente, os referentes, quando aparecem pela primeira
vez no texto, vêm acompanhados de artigo indefinido e, quando reaparecem, vêm com artigo
definido. Isso significa que uma das funções do artigo indefinido é introduzir um referente no texto.
Por sua vez, o artigo definido promove a reativação ou retomada desse referente,
sinalizando a mudança de status: de informação nova para informação conhecida, alocada
na memória do leitor/ouvinte, como podemos observar em:

Era uma vez um rei que tinha dois filhos. O rei vivia descontente porque os filhos brigavam demais.

REDAÇÃO 53
Professor Wesley Pontes
Voltando ao exemplo 15, vimos que os referentes “o juiz de paz”, “o sim”, “os noivos”
são introduzidos sob a capa do dado, do conhecido, daí o uso do artigo definido. O
procedimento não causa estranheza nem dificulta a compreensão do texto, porque facilmente
relacionamos esses referentes ao frame ou modelo mental que temos de casamento.

Dizendo de outro modo: os referentes “o juiz de paz”, “o sim”, “os noivos” são introduzidos
e compreendidos como alguns dos elementos que compõem o nosso modelo mental de
casamento, termo que, no texto, serve de gatilho ou âncora para a introdução daquelas
expressões nominais definidas e sua compreensão.

Trata-se de um tipo de anáfora indireta, porque, diferentemente do que ocorre no caso


das anáforas diretas, como vimos nos exemplos anteriores, não há correferencialidade. O
procedimento, pelo qual o referente de uma forma anafórica necessita ser extraído de nossos
conhecimentos ou modelos mentais, é muito comum em produções textuais (orais ou escritas)
e vem ganhando espaço nos estudos do texto na perspectiva sociointerativa, bem como na
reflexão sobre o uso e ensino da língua.

A COESÃO SEQUENCIAL

A coesão sequencial diz respeito a procedimentos linguísticos por meio dos quais se
estabelecem entre segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos,
sequências textuais) diversos tipos de relações semânticas ou pragmático-discursivas, à medida
que se faz o texto progredir, nos ensina Koch (2004).
A coesão sequencial pode ocorrer com a reiteração de formas linguísticas. Nesse caso,
podem ser destacados na progressão textual os seguintes tipos de recorrências.

Repetição de termos

EXEMPLO 16

54
No anúncio, a repetição de “nem dela, nem dela, nem dela” é uma estratégia usada na
progressão textual que chama a atenção para o fato de que se repete a forma, mas não o
sentido, porque não há uma identidade total entre os elementos repetidos. No contexto do
anúncio, a repetição indica que não se trata da mesma pessoa, ou seja, o referente para o
pronome muda a cada repetição.

Paralelismo (recorrência de estruturas sintáticas)

EXEMPLO 17

REDAÇÃO 55
Professor Wesley Pontes
No exemplo, observamos uma identidade na estruturação dos enunciados:

“Descoberta por portugueses”, “colonizada pelos italianos”, “erguida pelos brasileiros. ”

Por quê? Porque eles começam sempre da mesma forma – uso de forma nominal do verbo
– “descoberta, colonizada, erguida + agente da passiva: pelos portugueses, pelos italianos,
pelos brasileiros, respectivamente.

A que essas formas se referem? À cidade de são Paulo. Essa cidade é que foi “descoberta”,
“colonizada” e “erguida” por agentes distintos. Daí o uso do feminino na forma nominal dos
respectivos verbos.

A esse tipo de repetição de uma mesma estrutura sintática que a cada vez é preenchida
com itens lexicais diferentes dá-se o nome de paralelismo: um recurso que promove a
progressão textual com função retórica ou persuasiva.

Paráfrase (recorrência de conteúdos semânticos)

EXEMPLO 18
Arroto dos bois esquenta o mundo e deixa pesquisadores pessimistas

Achar maneiras de minimizar o efeito dos arrotos de bois e vacas – por incrível que pareça, uma fonte importante
de gases que aquecem o planeta – pode ser mais difícil do que se imaginava, indica um novo estudo.

Esperava-se que, conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente – ou seja, com os animais ganhando o
mesmo peso, mas consumindo menos comida –, seria reduzida a emissão de metano (CH4), gás causador do efeito
estufa produzido durante a digestão dos bichos.

(loPes, 2015)

No exemplo, o segmento “ou seja, com os animais ganhando o mesmo peso, mas
consumindo menos comida” reapresenta com mais precisão o conteúdo do enunciado que o
ante- cede, “conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente”.

Trata-se, portanto, de um caso de paráfrase. Existem expressões linguísticas que


encabeçam a paráfrase. Além da que observamos no exemplo (“ou seja’’), há outras que
assumem essa função: “isto é”, “quer dizer”, “ou melhor”, “em outras palavras”, “em síntese”
etc. contudo, é bom ressaltar, como o faz Koch (2004), que a alteração no conteúdo pode
indicar ajustamento, reformulação, desenvolvimento, síntese ou, ainda, maior precisão.

Também a coesão sequencial pode ocorrer sem a reiteração de formas linguísticas. Nesse
caso, as estratégias de coesão textual são usadas para garantir a continuidade do tema, o
estabelecimento de relações semânticas ou pragmáticas entre segmentos maiores ou menores
do texto, a ordenação e articulação de sequências textuais. No conjunto dessas estratégias,
destacam-se a progressão temática e o encadeamento.

56
Progressão temática

A progressão temática diz respeito ao modo como se encadeiam os temas (aquilo que se
toma como base da comunicação, aquilo de que se fala) e os remas (aquilo que se diz a res-
peito do tema) em frases sucessivas.

Nos estudos de danes (1970), recuperados por Koch (2004), são apresentadas algumas
formas de progressão temática. Vamos tratar de algumas dessas formas a seguir.

Progressão temática com tema constante

EXEMPLO 19
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar
sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou
fazendo. Estou pensando. ”

(lisPector, 2010, p. 53)

No exemplo, o tema “o bobo” se mantém de forma explícita ou implícita, à medida que


progride o texto. Esquematicamente, esse tipo de progressão pode ser assim representado:

PROGRESSÃO TEMÁTICA COM TEMA CONSTANTE


por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver,
B ouvir e tocar o mundo.

é capaz de ficar sentado quase sem se mexer


O bobo C
por duas horas.
A
Se perguntado por que não faz alguma coisa responde:
D “Estou fazendo. Estou pensando. ”

PROGRESSÃO TEMÁTICA COM DIVISÃO DO TEMA (OU TEMAS VARIADOS)


EXEMPLO 20
Quando crescer, vou ser… botânico!

Para não esquecer, anote: botânica é a ciência que estuda os vegetais em todos os sentidos. Ela se divide em
alguns ramos, como a botânica sistemática ou taxonomia, que ordena e classi- fica as plantas descobertas; a
fisiologia vegetal, que analisa os processos vitais da planta, como a nutrição e a reprodução; a morfologia vegetal,
que leva em conta a forma e a estrutura das plantas; a fitopatologia, que verifica as doenças que atingem os
vegetais; a paleobotânica, que estuda a flora já extinta do planeta; a fitogeografia, que descreve e explica, por
exemplo, a distri- buição das plantas segundo o clima e o relevo; a sociologia vegetal, que estuda as comunidades
de plantas que formam as diferentes espécies; e a ecologia vegetal, que se ocupa da relação das plantas com o
meio ambiente.

(vários autores, 2007, p. 12-13)

REDAÇÃO 57
Professor Wesley Pontes
Também a progressão temática pode ocorrer com a divisão ou explosão do tema. no
exemplo, o tema “botânica” se divide em muitos outros, que, esquematicamente, repre- sentamos
conforme a figura a seguir:

PROGRESSÃO TEMÁTICA COM DIVISÃO DO TEMA

T1 botânica sistemática ou taxonomia

T2 fisiologia vegetal

T3 morfologia vegetal

T4 fitopatologia

Botânica
T T5 paleobotânica

fitogeografia
T6

sociologia vegetal
T7

ecologia vegetal
T8

PROGRESSÃO TEMÁTICA LINEAR

EXEMPLO 21
Tofu é a ricota oriental.

A ricota [,] o chuchu dos queijos.

E o chuchu é o quarto estado da água.

(JaiMe, 2010)

Como notamos no exemplo 21, a coesão sequencial é garantida por meio


da estratégia que transforma o rema em tema do enunciado seguinte. vamos
representar esquematicamente, na figura abaixo, como isso acontece no exemplo.

58
PROGRESSÃO TEMÁTICA LINEAR

A B
Tofu é a ricota oriental

B C
A ricota o chuchu dos queijos

C D
E o chuchu é o quarto estado da água

Encadeamento

O encadeamento diz respeito à interconexão de enunciados sucessivos, sem elementos


explícitos de ligação (encadeamento por justaposição) ou com esses elementos de ligação ou
conectores (encadeamento por conexão).

EXEMPLO 22 notamos no exemplo:


Recebeu, não leu…

WhatsApp passa a avisar usuários quando mensagem é lida e causa irritação e ansiedade; ‘recurso’ não pode ser
desativado

(roMani, 2014)

• enunciados encadeados por justaposição como em: “recebeu, não leu…”;


• enunciados encadeados por conectores: “quando” (tempo) e “e” (adição) em “Whatsapp
passa a avisar usuários quando mensagem é lida e causa irritação e ansie- dade; ‘recurso’ não
pode ser desativado”.

EXEMPLO 23
Quero corar

Faz tempo que eu não coro. Acho que, atualmente, só fico vermelha nas minhas aulas de ioga,

quando insisto em tentar a posição invertida.

Será que, com o tempo, a gravidade não age só em nossa pele e nossos músculos mas também em nossa corrente
sanguínea, impedindo que o sangue nos chegue às faces, mesmo que numa situação constrangedora? Ou será que
não tenho tido motivos para corar? Não, sempre há motivos para corar.

(FraGa, 2015, p. 90)

No exemplo 23, destacamos o encadeamento que ocorre por meio do uso de conectores que
estabelecem relações lógico-semânticas ou discursivo-argumentativas.

REDAÇÃO 59
Professor Wesley Pontes
Por meio das relações lógico-semânticas, encadeiam-se conteúdos ou estados de coisas de que
falam os enunciados anteriormente apresentados. no exemplo, observamos que entre os
enunciados “acho que, atualmente, só fico vermelha nas minhas aulas de ioga, quando insisto em
tentar a posição invertida.”, a conjunção “quando” estabelece uma relação lógico-semântica de
temporalidade.

As relações discursivo-argumentativas têm como característica o fato de promover o enca-


deamento de atos de fala em que se enunciam argumentos a favor de determinadas conclusões,
como ocorre em “será que, com o tempo, a gravidade não age só em nossa pele e nossos músculos
mas também em nossa corrente sanguínea, impedindo que o sangue nos chegue às faces, mesmo
que numa situação constrangedora? Ou será que não tenho tido motivos para corar? Não, sempre
há motivos para corar.”

No trecho, o par correlato de conectores “não só… mas também” liga dois argumentos a
favor de uma mesma conclusão; por sua vez, o uso do “ou” indica disjunção argumentativa que
aponta para uma provocação ou convocação à concordância.
Resumidamente, apresentamos no quadro a seguir as estratégias de coesão textual
estudadas.

Estratégias de coesão referencial Estratégias de coesão sequencial

• uso de elementos de ordem • com reiteração de formas


gramatical: pronomes, numerais, linguísticas: repetição,
artigos, advérbios locativos etc.; paralelismo, paráfrase;
• uso de elementos de ordem • sem reiteração de formas linguísticas:
lexical: repetição de item lexical; - progressão temática (com tema
sinônimos ou quase sinônimos, constante, com temas variados,
expressões nominais definidas, com progressão do tema de
nominalizações, nomes forma linear etc.);
genéricos, etc.; - encadeamento (por justaposição e
• uso de elipse (substituição por zero). por conexão).

Textos dissertativo-argumentativos : subsídios para qualificação de avaliadores /Lucília Helena


do Carmo Garcez, Vilma Reche Corrêa, organizadoras. – Brasília :Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.

60
QUADRO DE ELEMENTOS COESIVOS SEQUENCIAIS

Prioridade, relevância Em primeiro lugar, primeiramente, principalmente,


primordialmente, sobretudo, etc.
Tempo (frequência, Então, enfim, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio,
duração, ordem, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em
sucessão, seguida, afinal, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente,
anterioridade, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente,
posterioridade, etc.) sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente,
nesse meio tempo, enquanto, quando, antes que, depois que, logo
que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez
que, apenas, etc.
Como, consoante, segundo, da mesma maneira que, do mesmo
modo que, igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo
Semelhaça, modo, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, como,
comparação, assim como, bem como, como se, à medida que, à proporção que,
conformidade quanto (mais, menos, menor, melhor, pior)... tanto (mais, menos, menor,
melhor, pior), tanto quanto, que (do que), (tal) que, (tanto) quanto, (tão)
quão, (não só) como, (tanto) como, (tão) como, etc.
Se, desde que, salvo se, exceto se, contanto que, com tal que,
Condição, hipótese caso, a não ser que, a menos que, sem que, suposto que, desde que,
eventualmente, etc.
Além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima,
Adição, continuação por outro lado, também, e, nem, não só... mas também, não
apenas... como também, não só... bem como, etc.

Dúvida Talvez, provavelmente, possivelmente, quem sabe, é provável,


não é certo, se é que, a caso, por ventura, etc.

Decerto, por certo, certamente, indubitavelmente,


Certeza, ênfase inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza, etc.
Surpresa, imprevisto Inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente,
surpreendentemente, etc.
Ilustração, Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a
esclarecimento. saber, ou seja, ou melhor, aliás, ou antes, etc.
Propósito, Com o fim de, a fim de, com o propósito de, para que, a fim de
intenção, que, com o intuito de, com o objetivo de, etc.
finalidade.
Lugar, Perto de, próximo a ou de, junto a ou de, fora, mais adiante,
proximidade, além, lá, ali, algumas preposições e os pronomes demonstrativos, etc.
distância.
Resumo, Em suma, em síntese, em resumo, portanto, assim, dessa forma,
recapitulação, dessa maneira, logo, por isso, por consequência, etc.

REDAÇÃO 61
Professor Wesley Pontes
conclusão.

Por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por


Causa e consequência, causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito, tão (tanto,
explicação. tamanho)... que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez que, visto
que, como (=porque), portanto, logo, que (=porque), de tal sorte que,
de tal forma que, visto que, dado que, como, etc.
Pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, porém, menos,
Contraste, oposição, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, apesar de,
restrição, ressalva, ainda que, mesmo que, por menos que, a menos que, a não ser que,
concessão. em contrapartida, enquanto, ao passo que, por outro lado, sob outro
ângulo, etc.
Alternativa Ou... ou, ora... ora, quer... quer, seja ... seja, já... já, nem... nem, etc.

Negação Não, absolutamente, tampouco, de modo algum, nunca, etc.


Sim, certamente, efetivamente, realmente, seguramente,
Afirmação indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, decerto, por
certo, com certeza, etc.
Bem, mal, assim, depressa, devagar, como, alerta, melhor (mais
bem), pior (mais mal), às pressas, à toa, às escuras, à vontade, de
mansinho, em silêncio, em coro, face a face, às cegas, a pé, a cavalo,
Modo de carro, às escondidas, às tontas, ao acaso, de cor, de improviso, de
propósito, de viva voz, de uma assentada, de soslaio, passo a passo,
cara a cara, etc. Também exprimem modo a maioria dos advérbios
terminados em mente: suavemente, corajosamente, etc.
A, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para,
perante, por, sem, sob, sobre, trás, além de, antes de, antes de,
Referência aquém de, até a, dentro em, dentro de, depois de, fora de, ao modo
de, à maneira de, junto de, junto a, devido a, em virtude de, graças
a, a par de, etc.
Muito, pouco, assaz, bastante, deveras, menos, tão, tanto,
demasiado, mais, demasiadamente, meio, todo, completamente,
Intensidade profundamente, excessivamente, extremamente, demais, nada (Isto não
é nada fácil), ligeiramente, levemente, que (Que fácil é este exercício!),
quão, como (Como reclamam!), quanto, bem, mal, quase, etc.

Inclusão Até, inclusive, mesmo, também, ainda, ademais, além disso, de


mais a mais, etc.

Exclusão Apenas, salvo, senão, só, somente, exclusive, menos, exceto, fora,
tirante, etc.

62
OUTROS RECURSOS COESIVOS
a) e, além de, além disso, ademais, ainda, mas também, bem como, também - servem para
acrescentar ideias, argumentos.
b) embora, não obstante, apesar de, a despeito de, contudo - estabelecem relação de concessão,
de resignação.
c) mas, porém, entretanto, no entanto, sob outro ponto de vista, de outro modo, por outro lado,
em desacordo com - estabelecem oposição entre ideias
d) assim, dessa forma, portanto, desse modo, enfim, ora, em resumo, em síntese - servem para
complementar e concluir ideias
e) assim como, da mesma forma que, como, tal que - estabelecem relação de comparação de
semelhança.
f) de fato, realmente, é verdade que, evidentemente, obviamente, está claro que - são usadas
para fazer constatações ou para se admitir um fato.
g) porque, devido a, em virtude de, tendo em vista isso, face a isto - servem para introduzir
explicações.
h) sobretudo, principalmente, essencialmente - são usados para dar ênfase ou destaque a algum
fato ou ideia
i) antes que, enquanto, depois que, quando, no momento em que - estabelecem relação de
temporalidade.

PRONOMES RELATIVOS:
O pronome relativo em essência liga duas orações (por isso é um conectivo), sempre substitui
termo ou palavra antecedente . A depender da função, pode vir preposicionado por preposição.
Ex: Essa é a pessoa a quem me referi.
Ex: Essa é a pessoa de quem falei.
O pronome relativo “que”
Não traz marcas nem de número nem de gênero. Pode ser usado para referir-se à ideia de
pessoa, coisa, tempo, lugar, etc., ou seja, é universal.
Ex.: A revista que difamou o deputado foi processada.
O pronome relativo “o qual, a qual, os quais, as quais”
Em geral, traz equivalência de uso em relação ao pronome relativo “que”, mas, por haver as
marcas de gênero e número, muitas vezes desfaz ambiguidades.

Ex.: Foram solicitados os documentos, sem os quais a entrada era proibida.


O pronome “quem”
Refere-se somente a pessoas e, como pronome relativo, sempre estará preposicionado.
Quando se relaciona com verbos transitivos diretos, usa-se obrigatoriamente a preposição “a”
Ex.: A pessoa a quem você ama era meu irmão.
O pronome “cujo”
Tem como principais características:
Indica posse e sempre vem entre dois substantivos, possuidor e possuído;

REDAÇÃO 63
Professor Wesley Pontes
Não pode ser seguido de artigo, mas pode ser antecedido por preposição; (Para lembrar: nada
de cujo o, cuja a, cujo os, cuja as...)
Não pode ser substituído por outro pronome relativo.
Ex: Vi o filme cujo diretor ganhou o Oscar.
Ex: Vi o filme a cujas cenas você se referiu.
O pronome relativo “cujo” faz referência ao termo que aparece depois dele, então, tem função
catafórica.
O pronome relativo “onde”
Só pode ser usado quando o antecedente indicar lugar físico, com sentido de “posicionamento
em”. Então é utilizado com verbos que pedem “em”.
Ex: A academia onde treino não tem aulas de MMA.
Veja que é errado usar o onde para outra referência que não seja lugar físico.
Ex: Essa é a hora onde o aluno se desespera.
Ex: Essa é a hora em que/na qual o aluno se desespera.
O pronome relativo “aonde” é usado nos casos em que o verbo pede a preposição “a”,com
sentido de “em direção a”.
Ex: Vou aonde eu quiser.
O pronome relativo arcaico “donde”, que equivale a “de onde”, é usado nos casos em que o
verbo pede a preposição “de”, com sentido de “procedência”.
Ex: Volto donde eu quiser quando eu quiser.
O pronome relativo “como”
É usado quando o antecedente for palavras como forma, modo, maneira, jeito, ou outra, com
sentido de “modo”.
Ex: Não aceito o jeito como você fala comigo.
Ex: Não aceito o jeito com que você fala comigo.
O pronome relativo “quando”
É usado nos casos em que o antecedente tiver sentido de “tempo”.
Ex: Sinto saudade da época quando eu não tinha preocupações.
O pronome relativo “quanto”
É usado nos casos em que o antecedente tiver sentido de “quantidade”.
Ex: Consegui tudo quanto queria, exceto tempo para desfrutar.
Temos que ter atenção à preposição que o verbo vai pedir, lembre-se de que temos que
enxergar sintaticamente o relativo como o próprio termo a que se refere:
Ex: O menino a que me referi morreu. (referi-me “a” que= o menino=)
Ex: O escritor de cujos poemas gosto morreu. (gosto “de” cujos=poemas do escritor)
Ex: Esqueci o valor com quanto concordei (concordei “com” quanto=o valor).

64
REDAÇÃO 65
Professor Wesley Pontes
66
COMPETÊNCIA IV - MINIGLOSSÁRIO
Observação: Este miniglossário tem como objetivo compartilhar algumas decisões tomadas pela
banca, baseando-se em dúvidas frequentes, no intuito de tornar ainda mais operacional a
avaliação da Competência IV na redação do Enem. As definições pautam-se pelos dicionários
Aulete e Houaiss. O fato de alguns termos não serem aceitos como elemento coesivo não significa
que a presença deles no texto seja entendida como inadequação. Conforme exposto no Material
de Estudos, a inadequação se caracteriza pelo uso de um conectivo com função semântica que não
lhe cabe. Casos especiais não citados devem ser encaminhados como dúvida ao supervisor.

Termos NÃO aceitos Definição e exemplos

1. Realmente, que existe, que é efetivo.


Ex. A democratização do cinema está, de fato, longe de ser conquistada
no Brasil.
De fato
Ex. A democratização do cinema está, realmente, longe de ser
conquistada no Brasil.
Obs. Não será aceito como elemento coesivo, pois sua função é mais
predicar o referente do que retomá-lo.

1. Crescentemente (pode ser substituído pelo advérbio “muito”).


Ex. O acesso ao cinema está cada vez mais difícil.
Ex. O acesso ao cinema está muito difícil.
Cada vez mais
Obs. Não será aceito como elemento coesivo, tendo em vista sua
função como modalizador de um referente ou ação e não como um
articulador.

1. Intencionalmente, de propósito;
2. Previamente.
Adrede Ex. A indústria cinematográfica, de adrede, privilegia a exibição de
filmes de ação.
Ex. Adrede, o cinematógrafo era um experimento científico.

1. Sem resultado; inutilmente, em vão.


Debalde Ex. Debalde, os produtores independentes tentam popularizar seus
filmes no Brasil.
A priori (loc. adj.) (ant. a posteriori)
1. afirmado ou estabelecido sem verificação; pressuposto
2. relativo a ou que resulta de raciocínio cujas definições foram dadas
inicialmente
A priori / posteriori
Ex. O acesso à cultura é um direito a priori.
Ex. Os chamados filmes de arte, por sua liberdade de linguagem, não
são fáceis de compreender a priori. Podemos dizer que são melhor
assimilados a posteriori.
(loc. adv.)

REDAÇÃO 67
Professor Wesley Pontes
3. por dedução, a partir de elementos prévios

4. independentemente da experiência; intuitivamente


Ex.: A priori, acredito que possa realizar o trabalho.
Obs. Por desempenharem ora função adverbial, ora função adjetival,
ambas incidindo de modo localizado em relação ao termo/expressão
que predicam, não desempenham o papel de elemento coesivo tal
como se espera na construção da coesão. Portanto, quando
empregadas, respectivamente, no lugar de “em primeiro lugar” / “em
segundo lugar”, ou “primeiramente” / “posteriormente” não serão
aceitas como elemento coesivo, nem consideradas inadequação.
1. exprimem duração ou permanência de algo num tempo
determinado; em um momento no curso de.
Durante a... Ex.: Desde a primeira exibição pública realizada pelos os irmãos
Desde a... Lumière, o cinema sempre foi considerado uma arte para as massas.
Até a... Ex.: Até a segunda metade da década de 1970, a popularidade dos
cinemas de rua permaneceu incólume nas regiões mais afastadas dos
grandes centros.
O emprego de expressões como "antigamente" e "nos dias atuais" é
considerado meramente dêitico, articulando o texto mais com sua
exterioridade (geográfica/temporal) e menos com os argumentos no
interior do próprio texto. Portanto, para fins de avaliação, tais
expressões não são aceitas como operadores argumentativos. Entende-
se que o participante demonstra maior domínio da construção da
coesão ao empregar, por exemplo, “Antigamente, os homens
Antigamente/ costumavam....” e no parágrafo seguinte ele retoma o primeiro
Atualmente... articulando-o, argumentativamente, com “Por outro lado, hoje em dia,
as pessoas...” ou ainda “De modo semelhante, atualmente, as
pessoas...”. Nestes dois últimos casos, a presença de um operador
argumentativo (“por outro lado”, “de modo semelhante”) torna explícita
a articulação interparágrafos.
Obs. Outros exemplos de expressões semelhantes, também não aceitas,
podem ser citados, como: “Na Grécia Antiga / Na revolução Industrial
/ Hoje em dia ...”

68
Termos aceitos Definição e exemplos
À guisa de
conclusão, ...
São operadores argumentativos e podem ser empregados intra ou
Concluindo, ...
interparágrafos.
Conclui-se que...
Diante do exposto,
Além disso, ...
Isso posto, ...
São operadores argumentativos e podem ser empregados intra ou
Dito isso, ...
interparágrafos.
Com isso, ...
Outro fator, ...
Assim, …
São operadores argumentativos e podem ser empregados intra ou
Dessa forma /modo,
interparágrafos.
Com efeito, ...
Como / Em
consequência de…,
Consequentemente,
Concomitantemente São operadores argumentativos e podem ser empregados intra ou
interparágrafos.
Simultaneamente a
isso, …
Paralelamente, …
1. Embora, se bem que, não obstante.
Introduz uma oração subordinada que contém a afirmação de um fato
Conquanto contrário ao da afirmação contida na oração principal, mas que não é
suficiente para anular este último;
Ex.: Os filmes nacionais são preteridos nos cinemas brasileiros,
conquanto celebrados em grandes festivais pelo mundo todo.
1. Liga orações ou períodos que apresentam as mesmas propriedades
sintáticas; introduz o segmento que, basicamente, denota uma
Porquanto justificação, explicação para o que foi dito anteriormente: porque; visto
que, já que.
Ex.: As populações periféricas não têm acesso à sétima arte, porquanto
as salas de cinema estão restritas aos grandes centros urbanos.
(loc. conj.)
1. Embora; ainda que; se bem que; apesar de.
2. expressão que indica a razão, a causa, o motivo de; dado que; visto
Posto que que; pois; porque;
Ex.: Posto que existam políticas de acessibilidade para surdos e
cadeirantes, esses grupos ainda pouco frequentam os cinemas.
Ex: As realizações cinematográficas carecem de mais incentivo
financeiro no Brasil, posto que os custos de produção são altos.
1. Assim, desta maneira, dessarte.
Ex.: É papel da Ancine a regulação e o fomento ao audiovisual no país.
Dessarte /Destarte
Destarte, ela garante a democratização da produção e distribuição de
filmes nacionais para todos os brasileiros.

REDAÇÃO 69
Professor Wesley Pontes
1. Igualmente, do mesmo modo.
Ex.: Os filmes comerciais, de modo geral, representam em seus enredos
Outrossim uma pequena parcela da sociedade. Outrossim, os produtores dos
grandes estúdios não atentam para a diversidade cultural no roteiro
dessas produções.
1. A fim de; com o objetivo de. (geralmente precede um verbo no
infinitivo e, neste caso, é aceito como operador argumentativo).
* Lembramos que é sempre preciso avaliar se esse “para” com sentido
de “ a fim de” está sendo empregado de modo intra ou interparágrafos.
Ex. Para garantir a democratização do acesso ao cinema no Brasil, cabe
ao Ministério da Educação incluir a cultura cinematográfica nas escolas.
Ex. Para não aprovar novos financiamentos a produções
cinematográficas da região sudeste, a Ancine utilizou como argumentou
a necessária expansão do mercado em outras regiões do Brasil.
Obs. Os demais empregos desta preposição são legítimos e participam
da construção da coesão, embora não sejam operadores
argumentativos. Eles integram um nível mais básico da coesão, do
mesmo modo que outros coesivos apenas levados em consideração
Para ... para diferenciar os níveis zero e 1* (“com”, “e”, “por”).
“Para” não aceito como operador argumentativo:
Ex. “A democratização do cinema é importante para a sociedade”.
*Levando-se em conta a necessidade de distinguir os níveis de texto em
uma correção em larga escala e aquilo que se espera de um texto
dissertativo-argumentativo, elementos como "e", "com", "por", "pela",
“que”, “para” (sem sentido de “a fim de”), “de” etc., não são contados
como repetição penalizável, pois podem ser recorrentes em um dado
conjunto textual, mas, aliados a operadores argumentativos e a outras
formas de coesão, não prejudicam a articulação do texto (casos
esdrúxulos devem ser enviados como dúvida pedagógica). Não
contamos as ocorrências desses elementos coesivos na ideia de
presença (rara-pontual-regular-constante-expressiva), pois, embora
legítimos, operam em um nível muito básico na articulação do texto
argumentativo.

70
CITAÇÕES PARA EMPREGAR NA REDAÇÃO
Prezados alunos, prezadas alunas!

Nas páginas a seguir, vocês encontrarão diversos excertos, fragmentos,


sentenças e citações de intelectuais, historiadores, cientistas sociais,
filósofos, psicólogos. São especialistas! Após os trechos selecionados,
encontram-se uma pequena apresentação do autor e o conteúdo da ideia
em destaque. Também se apresentam algumas possibilidades temáticas para utilizarem nas
redações. Todavia, não fique restrito às possibilidades indicadas aqui. Por exemplo, um fragmento
sobre violência pode, conforme a maneira que você conseguir articular as ideias e argumentos,
harmonizar bem num tema sobre meio ambiente. Isso porque os corretores não levam em
consideração a especificidade à qual o excerto pertence e a relação que você fez. Um exemplo
claro disso está em uma redação nota 1000 em que o candidato usou a ideia de liberdade em
Sartre (uma questão existencial!) no tema “a manipulação do comportamento do usuário pelo
controle de dados na internet”. De modo estrito, tal relação não é pertinente. No entanto, o
candidato se valeu da relação entre liberdade e responsabilidade feita por Sartre, para, então,
apontar a irresponsabilidade no uso da liberdade por parte das empresas ao manipular os usuários
de internet. Enfim, tudo depende muito da maneira como você irá utilizar e justificar a ideia
apresentada. Tenha coerência!

Bons estudos!
Renato de Souza Alves.
Professor de História, Filosofia e Sociologia.
Graduado em História.
Mestre em História.
Especialista (latu senso) em Filosofia.

“[]

Ruth Benedict. Padrões de Cultura.

Ruth Benedict (1887 – 1948) é umas das mais importantes antropólogas americanas.
Vinculada à tradição do relativismo cultural, sua obra clássica, Padrões de Cultura, é uma referência
indispensável para se compreender como os costumes influenciam no modo como nós percebemos
o mundo. O fragmento destacado pode ser utilizado em temáticas relacionadas a família,
educação, globalização, coletividade social, relações sociais e cultura.


Edward Tylor.

REDAÇÃO 71
Professor Wesley Pontes
O britânico Edward Tylor (1832 – 1917) foi um grande professor e antropólogo na Universidade
de Oxford, além de responsável pelos estudos da corrente chamada de evolucionismo cultural.

“ ”
Conrad Kottak.
Um Espelho para a humanidade.
Kottak é um antropólogo estadunidense e professor da Universidade de Michigan. Possui
vasta publicação no campo da antropologia cultural.

“A biologia não é destino; as pessoas constroem suas identidades na sociedade”.


Conrad Kottak. Um Espelho para a humanidade.

O excerto se adequa bem aos temas: cultura; identidades; gênero;

“ ”
Cicero

Marcus Tullius Cicero (106 a.C - 43 a.C) foi um importante político da República romana, além
de grande escritor e filósofo. No excerto acima, Cicero nos revela sua defesa da Justiça, do Direito
e da sociedade civil como as grandes expressões de uma verdadeira república. Pode ser utilizado
em temas sobre cidadania, Estado, segurança.
“ ”
Jean-Paul Sartre

O francês Sartre (1905 – 1980), é a grande expressão filosófica da corrente existencialista. A


frase acima traduz bem a ideia máxima da liberdade humana. Para Sartre, “estamos condenados
a ser livres”, ou seja, não há distinção entre o Ser do Homem, sua existência e a liberdade. Outra
consequência dessa ideia é a negação de uma natureza humana, pois se há uma natureza isso
implica em uma essência, logo existência e liberdade não seriam correlatos.


Jean-Jacques Rousseau. Do Contrato Social.

Rousseau foi um grande pensador do século XVIII no contexto do movimento iluminista. Suas
obras contribuíram com a filosofia, a sociologia, a ciência política e a educação. O excerto destaca
a defesa do autor a liberdade humana como algo inexorável.

72


Nietzsche. Crepúsculo dos Ídolos

Nietzsche (1844 – 1900) é um dos mais importantes nomes da história da filosofia.

Suas obras deixaram marcas profundas não somente na filosofia, mas também no
desenvolvimento da psicologia. Considerado como um dos mais contundentes críticos à ideia de
modernidade. O fragmento nega a diminuição do homem a qualquer ideal, projeto, essência ou
natureza que lhe determine. Filósofos como Sartre, Foucault, Beauvoir dialogam com essa ideia.



Pierre Bourdieu. Questões de Sociologia.

Filósofo e Sociólogo francês, Bourdieu (1930 – 2002) desenvolveu profundas pesquisas nos
campos de cultura e comportamentos, estratificação social, status, gosto. O fragmento acima nos
revela como a tentativa de negar ou maquiar aquilo que já ocorreu (a História) revela os traumas
e as máculas que ela ainda conserva no presente. Por exemplo, negar o racismo, a homofobia, o
nazismo, o holocausto, os privilégios, a ditadura e a tortura na ditadura brasileira é a demonstração
mais viva de como esses eventos ainda influenciam no cotidiano.


Pierre Bourdieu. Questões de Sociologia

O fragmento em destaque pode ser utilizado em temas sobre racismos e preconceitos. Por
exemplo: a violência contra minorias como indígenas, negros, LGBT.


François Poulain de la Barre

REDAÇÃO 73
Professor Wesley Pontes
Poulain de la Barre (1647-1725), a respeito da condição da mulher na questão dos direitos.
Poulain, pensador francês influenciado pelos escritos de René Descartes, foi um dos poucos
defensores da causa feminina entre os séculos XVII e XVIII. Para ele, o desrespeito às mulheres era
um equívoco de inteligência e uma subversão da natureza. O trecho acima pode ser utilizado em
temas sobre gênero, dominação masculina, machismo patriarcalismo, feminismo, inclusão das
mulheres na política.

Eu não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens; mas sobre si mesmas.
Mary Wollstonecraf.

Wollstonecraf (1759 – 1797) é uma das pioneiras na luta por justiça e igualdade para as
mulheres. Além dos escritos sobre a condição da mulher na sociedade francesa, também escrevia
sobre política e educação. Suas principais obras foram “Pensamentos sobre a educação das filhas”
e “A reivindicação dos direitos das mulheres”.

“ ”
Simone de Beauvoir (1908-1986),
O Segundo Sexo.



Simone de Beauvoir

Beauvoir foi uma grande filósofa e escritora francesa. Ao contrário do que pensam muitas
pessoas, o livro não foi escrito com o propósito de ser um manifesto feminista. Ele foi o resultado
de uma vasta pesquisa. Um dos objetivos do livro é mostrar como a mulher se determina e se
diferencia em relação ao homem, e não o contrário. A mulher representa o inessencial, ao passo
que o homem se apresenta como o essencial. O homem é o neutro e o positivo; a mulher, o
negativo.


Simone de Beauvoir. O Segundo Sexo.

74
Essa frase, apesar de pertencer ao contexto relacionado à luta da mulher por liberdade,
pode ser utilizada em qualquer discussão sobre liberdade, conservadorismo, padronização,
opressão, determinismos. O excerto ilustra bem a importância de se combater tradições e
autoridades instituídas. Nada se justifica correto e bom simplesmente por sua existência longeva,
institucional ou legal.

“ ”
Simone de Beauvoir.

“ ”
Simone de Beauvoir.

Para usar em temas sobre relações humanas, sociedade, solidariedade.


Ideia que você pode explorar em temas sobre artes.


Simone de Beauvoir.

Em destaque, está um trecho de correspondência enviada a Sartre. Você pode relacionar


essas ideias destacando a importância da história, das tradições, etc. Ao mesmo tempo, demonstre
a necessidade de romper com certos pressupostos para que o indivíduo possa emergir,
transformando a si mesmo e a realidade.



Simone de Beauvoir.

REDAÇÃO 75
Professor Wesley Pontes
Fragmento de correspondência enviada a Sartre. Para falar sobre liberdade, identidade,
autonomia.

Simone de Beauvoir.

Fragmento de correspondência enviada a Sartre. Para falar sobre dominação masculina,


patriarcado, gênero. O segundo verso pode ser relacionado a assuntos sobre desejo de viver, luta,
coragem, engajamento, ideais.

“ – –

Nietzsche, O Crepúsculo dos Ídolos.

O fragmento dialoga com as expectativas e obrigações que a sociedade atribui de modo


impositivo às mulheres. Vale ressalvar que, como quase toda a tradição filosófica, os escritos de
Nietzsche são repletos de sexismo e depreciações à figura da mulher. O fragmento acima é mais
uma crítica ao masculino e seus frágeis ideais do que uma defesa da liberdade feminina.


Olímpia de Gouges (1748-1793),

Importante escritora francesa e precursora do feminismo. Durante a revolução francesa


escreveu a Declaração dos direitos das mulheres e do cidadão. Foi guilhotinada pelos mesmos
revolucionários que lutaram por igualdade e liberdade. A passagem em destaque serve para
assuntos relacionados a movimentos sociais; cidadania, sua história e contradições; a importância
de se lutar por direitos;

Imanuel Kant. Crítica da Razão Prática.

O prussiano Kant (1724 – 1804) é a maior expressão do pensamento iluminista. No livro


Crítica da Razão Prática, o filósofo desenvolveu uma densa reflexão sobre ética e moral. O
fragmento em questão é um dos imperativos categóricos do filósofo a respeito da ética. Significa
que não devemos utilizarmos dos outros como instrumentos úteis visando um interesse particular.
O imperativo se encaixa bem em temáticas relacionadas a relações sociais e solidariedade;
responsabilidade; compromissos; respeito ao próximo; pode usar de maneira análoga em relação
à preservação da natureza.

76

[]

Wilhelm Reich, Psicologia de massas do fascismo.

Médico, psicanalista e colaborador de Freud, Wilhelm Reich (1987 – 1957), define o fascismo
como uma atitude emocional e irracional do homem oprimido, de caráter frágil, instável e
maleável. A ideia apresenta no box se coaduna em temas relacionados a violência, opressão,
ideologias autoritárias.


Wilhelm Reich. A função do orgasmo.

Sobre a importância de uma educação libertadora, de ensinar as pessoas a serem livres,


responsáveis, conscientes e autônomas.



Wilhelm Reich. A função do orgasmo.

O fragmento pode ser explorado em temas sobre saúde, bem-estar, conflitos, construção de
identidade e personalidade.


Wilhelm Reich. A função do orgasmo.

Utilize a ideia acima (o trecho é longo, faça uma paráfrase ou recorte uma pequena parte)
para tratar sobre experiência, conflitos individuais, questões psíquicas.

REDAÇÃO 77
Professor Wesley Pontes


Wilhelm Reich. A função do orgasmo.

Para você dialogar com temáticas relacionadas a bem-estar, maneiras de se lidar com
problemas. Você pode usar a primeira parte para contextualizar a importância e o potencial da
classe média. Já a segunda parte, como uma contundente crítica ao seu conservadorismo, por
exemplo. Ressalto que o fragmento acima é parte de um parágrafo em que Wilhelm nos apresenta
a relação quase espontânea entre classes médias e fascismo.


Wilhelm Reich. Psicologia de Massas do Fascismo.

Sobre sociedade, classe social, costumes.


Wilhelm Reich. Psicologia de Massas do Fascismo.

Sobre o ímpeto de poder, controle e subjugação de setores de uma sociedade sobre os demais.
No caso apontado, os pressupostos moralizantes e conservadores típicos de classes médias se
coadunam com os discursos e propostas fascistas (mesmo que os próprios apoiadores sejam
cerceados, eles ainda se conservam em certo status acima de outros grupos mais vulneráveis ao
ódio característico de ideologias totalitárias). Sem uma massiva adesão das classes médias italianas
e alemãs o fascismo (Mussolini e Hitler,) não teria prosperado tão facilmente.

78


Nietzsche

Amor Fati é a proposta de Nietzsche para que o homem se reconcilie com a vida, com a
existência e consigo mesmo. Que não se paute por idealismos e perfeições que se encontram
sempre num horizonte a por vir ... sempre prometido, nunca atingível. É uma maneira de encarar
a vida como ela é: inconstante; amarga, mas também prazerosa. Essa ideia foi muito bem
traduzida pela poetisa russa Lou Salomé em Hino à Vida.


Wilhelm Reich. A função do orgasmo.

Excerto para relacionar com a importância da ciência no desenvolvimento humano e das


sociedades.

Erich Fromm (1900-1980)

Psicanalista, filósofo e sociólogo alemão vinculado a Escola de Frankfurt. O fragmento pode


ilustrar o modo como você é sensível ao fato de uma pessoa cometer suicídio. “Morrer sem ter
vivido” pode ser uma metáfora à depressão.

“ ”
Erich Fromm

Sobre a importância do conhecimento e seu compromisso com a verdade.



Erich Fromm

REDAÇÃO 79
Professor Wesley Pontes
Sobre construção de identidade, liberdade, luta por direitos.

“ ”
Erich Fromm

Você pode relacionar essa ideia com o Amor Fati em Nietzsche.

“ []
– ”
Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.

Ressalva para temas vinculados à moral, justiça, justiceiros, milícias. Não faltam exemplos no
Brasil de hoje!



Nietzsche, Crepúsculo do Ídolos.

Sobre a superficialidade ou mesmo desonestidade na proposição de fórmulas mágicas e


receitas para se viver (livros de autoajuda e coaching, por exemplo!).



Caetano Veloso, música Um Índio.

Para trabalhar diversidade, pluralismo. Você também relacionar com: violência; cultura do
estupro; feminicídio; fobias contra minorias e seu extermínio; destruição da natureza e seus recursos
(Mariana e Brumadinho, Belo Monte); miséria; déficit habitacional; crise na segurança e na saúde;
corrupção.


Max Weber

80
Weber foi um grande sociólogo, compondo a tríade clássica da Sociologia com Durkheim e
Karl Marx. O excerto faz parte da obra Política e Ciência: duas vocações.


Max Weber

Sobre o modo de reagir perante as relações e conflitos inerentes às sociedades.

“ ”
Weber

Para temas relacionados à Política, Estado e Violência: cabe o conceito de Weber de


“monopólio legítimo do uso da força”. Materializada num corpo de forças militares e policiais, o
Estado tem a capacidade de se proteger de outros Estados, manter a ordem interior e a sua
independência. O uso da violência é controlado pelo Direito e pela magistratura. O regime jurídico
deve equilibrar dois direitos fundamentais que são opostos um ao outro: a liberdade individual e a
segurança. Quando um Estado perde a sua autoridade legitima (para milícias, por exemplo) e, por
conseguinte, o monopólio da violência, a sociedade entra num estado que é vulnerável à
proliferação de violência privada que é exercida por uns grupos sobre outros. Nesse caso, o Direito
não se aplica e a sociedade sofre a violência arbitrariamente em função do desenrolar do conflito,
não podendo ser garantida aos cidadãos, nem a liberdade individual, nem a segurança efetiva.

“ ”
Hannah Arendt. A Condição Humana.

Hannah Arendt (1906 – 1975) é considerada por muitos como a maior filósofa do século XX.
O excerto deixa claro que não se pode esperar o fim da violência e a degradação do homem se
não fundarmos a sociedade a partir da liberdade e da dignidade. Negar essas premissas ao outro
é violar a sua e a minha dignidade, diminui a humanidade em ambos.



Hannah Arendt

REDAÇÃO 81
Professor Wesley Pontes
Sobre modelos educacionais opressores, violentos e autoritários que diminuem a autonomia do
sujeito os reduzindo a seres disciplinados, subservientes e incapazes de refletirem sobre si próprio.

“ ”
Sêneca

Pensador estoicista que viveu no Império Romano do século I. O trecho cabe para exaltar o
bom viver, dedicar-se a coisas significativas, cuidar de si mesmo.

“ ”
Saint-Evremond (1613 – 1703)

Charles de Marguetel de Saint-Denis, senhor de Saint-Évremond, foi soldado francês,


hedonista, ensaísta e crítico literário.

“ ”
Arthur Schopenhauer (1778-1860)

Sobre saúde e atividade física, corpo, bem-estar.

Cícero

Sobre saúde, autoconhecimento, preventivo, vacinação.


Arthur Schopenhauer

Fragmento em defesa do direito dos animais.

Mahatma Gandhi

Para saúde física e mental.

“ ”
Paulo Freire

82
A despeito das críticas pueris e demagógicas de alguns setores da intelligentsia nacional –
verdadeiros estelionatários do conhecimento cientifico alheio –, Paulo Freire é, seguramente, um
dos maiores educadores brasileiros e o mais reconhecido internacionalmente.



Paulo Freire
Crítica a um modelo educacional pragmático e preocupado somente com as necessidades
técnicas do mercado.



O juízo moral na criança. Jean Piaget

Use essa sentença para falar sobre educação e inovação. Jean Piaget (1896-1980) foi o nome
mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase
se tornar sinônimo de pedagogia. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget
foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição
de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança. (Cf. novaescola.org.br)

“ ”
Plotino

Filósofo neoplatônico do séc. III.



Darcy Ribeiro, 1982

Darcy Ribeiro foi um dos grandes cientistas socias e político do Brasil. Se engajou na luta pelos
direitos dos povos indígenas e em defesa da educação. A sentença acima é autoexplicativa e
vivemos os efeitos dela.

“ ”
Darcy Ribeiro

REDAÇÃO 83
Professor Wesley Pontes
Sobre a realidade do sistema educacional brasileiro e de como ele é feito para não dar certo. O
pouco êxito que produz deve-se ao trabalho intenso de vários profissionais da área. Para piorar a
situação, se ante esses profissionais não eram valorizados em suas atividades, agora são estigmatizados
como os responsáveis por todos os problemas, além de manipuladores, doutrinadores e outras
depreciações. O professor virou o inimigo nacional. E quem são os heróis? Isso deve explicar um pouco
a lastimável situação em que nos encontramos como sociedade e nação.



O cotidiano e a história, Agnes Heller.

Nascida em Budapeste (1929), a filósofa húngara Agnes Heller demonstra na sentença a


dificuldade de se combater preconceitos, comportamentos herdados via cultura. Coisas que nos
dão um lugar social supostamente superior, já que não estamos do lado de quem é inferiorizado.



Epicuro.

Para temas sobre Justiça, Civilização e Barbárie, Estado e a presença ou ausência de suas
instituições.



Mary Daly

Mary Daly (1928-2010), filósofa e feminista norte-americana. Sobre nossa responsabilidade


com o Planeta. Use também como uma paráfrase em temas sobre meio ambiente (preservação e
destruição).

“ ”
Nicolau Copérnico.

Grande cientista do século XVI, o prussiano Copérnico revolucionou a astronomia com a Teoria
Heliocêntrica. A sentença ressalta a magnificência da natureza. Nossa sobrevivência depende dela!

“ ”
Zygmunt Bauman

84
Um dos maiores intelectuais do século XX e XXI, o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman
nos explicita a frugalidade, a maleabilidade e a inconstância da vida e de tudo o que nos diz
respeito: das instituições aos afetos. Você também pode aproveitar essa ideia e aplicá-la, como uma
crítica, em outros assuntos como devastação do meio ambiente.

“ ”
Zygmunt Bauman

Use essa passagem para destacar a importância de estar conectado ou para criticar o excesso
de exposição em redes sociais. Buscamos conexões virtuais e nos isolamos de relações pessoais.
Outra possibilidade é olhar para propaganda de marcas e seus produtos.

“ ”
Zygmunt Bauman

Sobre a demasiada exposição da vida particular em redes sociais.


Zygmunt Bauman

Sobre exposição em demasia na internet; valorização do parecer em detrimento do pensar.


Zygmunt Bauman

Sobre relações sociais e internet.


Milton Santos

REDAÇÃO 85
Professor Wesley Pontes
O geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) é um dos críticos da globalização. Seu livro
Por uma outra globalização é um clássico sobre o assunto. Nele, Milton Santos nos apresenta os
três vieses da globalização: Fábula (o mundo como nos fazem crer), Perversidade (o mundo como
ele realmente é) e Possibilidade (como governos, empresas e sociedade podem construir um mundo
mais justo e igualitário).


Milton Santos

Crítica à globalização no sentido de que a mesma só ocorre efetivamente com produção e


mercadorias. Já a grande maioria das pessoas são privadas de usufruir das benesses globais, salvo
a exceção aos turistas potenciais consumidores.

“ ”
Albert Einstein

Sobre a importância da tecnologia desde que seja a serviço do bem-estar da humanidade.

Sobre patrimonialismo, corrupção, nepotismo.

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil.


Ensinamento budista. Para respeito, solidariedade, importância de ONG’s e movimentos


sociais.



Gilberto Freyre. Casa-Grande e Senzala

86
Para temas relacionados à Família, por exemplo, sua relevância na conformação das
sociedades, pode-se citar Gilberto Freyre e o destaque que ele atribui à “família patriarcal” e
“hibrida” de portugueses, índios e africanos como a grande responsável pela colonização do Brasil.
Atenção: faça a crítica pertinente!



Max Weber apud Baumam. Para que serve a sociologia?

Sobre o compromisso do intelectual e do cientista com a verdade e o conhecimento,


produzindo análises honestas e consistentes, não se curvando aos desejos audíveis da sociedade.


[] “
””
Gilberto Freyre. Casa-Grande e Senzala

Para demonstrar a histórica romantização da violência conta a mulher, principalmente negras;


o eufemismo para retratar a cultura do estupro.

“…

Condorcet (1743 – 1794)

Filósofo e matemático francês, participante do movimento Iluminista. Por se tratar de um


fragmento longo, busque fazer uma paráfrase ou utilize trechos específicos em temáticas sobre
direitos, justiça, igualdade, gênero.


Maria Lygia Quartim de Moraes

REDAÇÃO 87
Professor Wesley Pontes
Do livro História da Cidadania. Sobre o condicionamento comportamental na educação das
meninas que naturalizam a maternidade como um destino inexorável às mulheres.


Maria Lygia Quartim de Moraes

Sobre a importância da mulher no mercado de trabalho e a relação entre liberdade e


autonomia financeira no sistema capitalista.

“ ”
Rosa Luxemburgo (1871-1919)

Filósofa, economista, marxista e líder revolucionária (Liga Espartaquista) de movimentos em


defesa da socialdemocracia na Polônia e Alemanha.

“ ”
Hannah Arendt

O último livro publicado por Arendt, em 1963, traduzido no Brasil sob o título Sobre a
Violência, é inteiramente dedicado a compreender por que o mundo vivia (e ainda vive) uma
escalada de destruição e guerras. Ela mostra que a glorificação da violência não se restringe à
minoria de militantes e extremistas. E que a base do poder é, na realidade, convivência e
cooperação. Segundo Arendt, a violência destrói o poder, pois se baseia na exclusão da interação
e da cooperação entre as pessoas. ( Cf. Revista Galileu)

“[] ‐


Tavares dos Santos

Violência é um conceito polissêmico, ou seja, possui diversas definições e significados que


variam conforme a cultura e a história. De todo modo, os estudiosos sobre o assunto partem da
distinção feita por Hanna Arendt: violência não se confunde com o poder. Assim, a violência é um
instrumento, não um fim. Seus instrumentos são mudos, pois abdica do uso da linguagem que
caracteriza as relações de poder, baseadas na persuasão, influência ou legitimidade.

88
“[]


Marílena Chauí. Ética e Violência.

Para a filósofa e professora da USP, a violência reduz o indivíduo a condição de coisa.

Renato de Souza Alves.

TÓPICOS EM NORMA CULTA


ACENTUAÇÃO GRÁFICA
A partir de janeiro de 2009, passou a vigorar o NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO e algumas
mudanças ocorreram nas regras de acentuação gráfica, porém essas mudanças não foram tantas
como muitos imaginam. A maior parte continua como era.
Quando se fala em acentuação, é importante perceber que podemos estar nos referindo ao
acento da fala (acento prosódico) ou ao acento da escrita (acento gráfico).
Para se utilizar o acento gráfico é necessário seguir algumas regras. Vejamos:

a) Monossílabos Tônicos: são acentuados os que terminam em:


 a, as: pá, pás;
 e, es: pé, pés;
 o, os: pó, pós.

b) Oxítonas: são acentuados as que terminam em:


 a, as: Pará, sofá, estás, irás;
 e, es: você, sapé, jacarés, Urupês;
 o,os: cipó, avô, retrós, supôs;
 em, ens: alguém, parabéns, vintém, armazéns;

c) Paroxítonas: são acentuados as que terminam em:


 i, is: táxi, lápis, júri, grátis;
 us: vírus, bônus;
 um, uns: álbum, álbuns;
 l: incrível, útil, visível;
 r: éter, mártir;
 x: tórax, ônix;
 ps: bíceps, fórceps;
 ã, ãs: ímã, órfã, ímãs, órfãs;
 ão, ãos: bênção, órgão, órfãos, sótãos;
 ei, eis: vôlei, jóquei, amáveis, difíceis;
 ditongo crescente seguido ou não de s: colégio, histórias, relógio, ciências;
 n: próton, elétron, hífen, abdômen;

REDAÇÃO 89
Professor Wesley Pontes
Quanto à terminação em NS, há duas vertentes, ou seja, pode-se ver a questão pelo lado das paroxítonas
ou das oxítonas:

a. paroxítonas terminadas em ENS não são acentuadas: hifens, itens, germens, polens, abdomens,
imagens, jovens, nuvens, totens;
b. paroxítonas em ONS são acentuadas: elétrons, prótons, nêutrons;

ou:

c. oxítonas em ENS são acentuadas: parabéns, conténs, armazéns, nenéns.


d. oxítonas em ONS não são acentuadas: maçons, garçons, acordeons.

d) Proparoxítonas: são todas acentuadas. É o caso de: lâmpada, Júpiter, relâmpago, lúdico,
Atlântico, tecnológico, psicológica, pássaro, pêssego, autêntico, óculos, período.

e) Ditongos Abertos Tônicos:

Agora veja o quadrinho abaixo:

Eram acentuados os ditongos tônicos abertos: éi, ói, éu, seguidos ou não de s. Agora ficou assim:

 O ditongo aberto éu, seguido ou não de s, é acentuado. É o caso de chapéu e céus. Cuidado:
não haverá acento se o ditongo aberto não for tônico: aneizinhos, chapeuzinhos, heroizinho.

 Some o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima
sílaba mais forte):

Antes
européia, idéia, heróico, apóio, bóia, asteróide, Coréia, estréia, jóia, platéia, paranóia, jibóia,
assembléia

Depois
europeia, ideia, heroico, apoio, boia, asteroide, Coreia, estreia, joia, plateia, paranoia, jiboia,
assembleia

90
Agora preste atenção: herói, papéis, troféu mantêm o acento (porque têm a última sílaba mais forte).
f) Hiatos:
 I / U: quando a segunda vogal do hiato for i ou u, tônicos, acompanhados ou não de s, haverá
acento: saída, faísca, carnaúba, viúva, país, baú, Jaú, balaústre, caíste.

Obs.: Quando o I ou U tônicos do hiato vierem seguidos de outra letra (que não o s) na mesma
sílaba, não se acentuam: Sa-ul, a-in-da, ru-im, ca-ir-mos, ju-iz, ca-iu.
Quando o I tônico do hiato vier seguido de nh na sílaba seguinte, não se acentuam: ra-i-
nha, ta-i-nha, mo-i-nho.

Agora veja o quadrinho:

Some o acento no i e no u tônicos depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras


paroxítonas:

Antes
Baiúca, bocaiúva, feiúra

Depois
Baiuca, bocaiuva, feiura

Agora preste atenção: Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em:
tuiuiú ou Piauí.

REDAÇÃO 91
Professor Wesley Pontes
 Os hiatos ÔO e ÊEM eram acentuados, mas perderam o acento. Veja quadrinho:

Portanto, some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos):

Antes
crêem, dêem, lêem, vêem, prevêem, vôo, enjôos

Depois
creem, deem, leem, veem, preveem, voo, enjoos

g) Verbos TER, VIR e seus derivados: são acentuados na 3ª pessoa do plural do presente do
indicativo para diferenciá-los da 3ª pessoa do singular do mesmo tempo e modo:

ele tem – eles têm ele vem – eles vêm

Com os derivados desses verbos, é preciso lembrar que há acento agudo na 3ª pessoa do singular
e circunflexo na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo:

ele detém – eles detêm ele intervém – eles intervêm


ele mantém – eles mantêm ele provém – eles provêm
ele obtém – ele obtêm ele convém – eles convêm

h) Trema: colocava-se o trema nos grupos gue, gui, que, qui, quando o u era pronunciado e átono.
Agora, desaparece em todas as palavras:

Antes
freqüente, lingüiça, agüentar

Depois
frequente, linguiça, aguentar

Agora preste atenção: Fica o acento em nomes como Müller

Assim, resta divertir-se com esses quadrinhos:

92
i) Grupos (gue, gui, que, qui): quando a letra u era pronunciada tonicamente, havia acento agudo
como em apazigúe, argúi, obliqúe, averigúem, argúem, obliqúem. Com a reforma ortográfica, some
o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, destes verbos.

Antes
Averigúe, apazigúe, argúi

Depois
Averigue, apazigue, argui

j) Acentos diferenciais: algumas palavras que recebiam acento excepcional, para diferenciá-las, na
escrita, de suas homônimas. O acento diferencial sumiu em muitas delas, ficando apenas nos casos
do quadro abaixo:

 pôr (verbo) / por (preposição).


 pôde (pretérito perfeito do indicativo do verbo poder) / pode (presente do indicativo do verbo poder).
 fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo.

Portanto ficou assim:

Antes
Pára, péla, pêlo, pólo, pêra, côa

Depois
Para, pela, pelo, polo, pera, coa
Abaixo é o quadro dos casos de acento diferencial antes da reforma ortográfica:

REDAÇÃO 93
Professor Wesley Pontes
EMPREGO DA VÍRGULA
A pontuação é um outro fator importantíssimo na construção do sentido do texto. A pontuação
inadequada pode mudar completamente o significado daquilo que se deseja expressar.
Em relação aos sinais de pontuação, aquele que mais causa dúvidas, na construção textual, é
a vírgula, por isso daremos ênfase ao emprego dela nessa unidade. Além disso, esse é o único
sinal de pontuação que admite sistematização.

É PROIBIDO USAR VÍRGULA


A ordem canônica (direta) da frase na língua portuguesa é: sujeito + verbo + complementos,
por isso não se usa vírgula para separar esses termos. Observe:
Ex.: O aluno conversou com o professor. Ana foi ao baile ontem.
sujeito complemento sujeito compl. compl.

Se acrescentarmos algum elemento, especialmente entre os termos acima mencionados, a vírgula


deve ser usada. Observe:
Ex.: O aluno, semana passada, conversou com o professor.
Ana, muito satisfeita, foi ao baile ontem.

A VÍRGULA DEVE SER USADA

1) separando termos assindéticos compostos:


Era uma rapariga bonita, corada, forte.
Dispensava festas, visitas, passeios e bailes.
Ana, Andrea e Adriana foram estudar.

Observação: normalmente, não se separam palavras ligadas com as conjunções e, nem e ou:
Tragam cadernos, lápis e borracha.
Não trouxeram caderno nem borracha.
Tragam lápis ou caneta.

2) separando aposto explicativo:


Nós, brasileiros, consideramo-nos espertos.

3) separando vocativo:
Roda, meu carro, que é curto o caminho.

4) separando palavras ou expressões explicativas, conclusivas, retificativas, repetidas...


Joguei futebol, isto é, completei o time.
As meninas, aliás, não gostavam de sair.
Portanto, tudo tem seus limites.
O mar estava calmo, calmo.

94
5) separando locuções adverbiais antepostas ao verbo:
No aeroporto, esperavam-se as autoridades.
O povo, no ano passado, elegeu seus deputados.

Observações:
A vírgula será facultativa:

1) se a locução estiver posposta ao verbo:


O povo elegeu(,) no ano passado(,) seus deputados.

2) em relação aos advérbios:


Amanhã(,) visitaremos várias comunidades.
Visitaremos(,) amanhã(,) várias comunidades.

6) separando termos antepostos desde que repetidos (pleonásticos):


Os alunos, elogio-os sempre que mereçam.
Aos amigos, ofereci-lhes meu endereço.
Poderoso, há muito já não o é mais.

7) separando conjunções deslocadas:


Aluguei o carro; viajei, todavia, de ônibus.
Ele é o chefe; obedeça, pois, suas ordens.

8) separando o predicativo do sujeito:


Carlos, entusiasmado, corria e gritava...

9) separando datas:
Brasília, 31 de maio de 2003.
A Lei 314, de 18 de maio de 1987.

10) indicando zeugma (do verbo):


A vida é efêmera; o amor, fugaz.

11) separando as antíteses dos provérbios:


Pai ganhador, filho gastador.

12) separando orações coordenadas assindéticas e sindéticas, exceto as aditivas ligadas pela
conjunção “e”:

Estudas muito, logo tua aprovação é certa.


Estava perplexo, ora mexia-se na cadeira, ora olhava para a janela.
O dia estava quente e fora muito cansativo.

REDAÇÃO 95
Professor Wesley Pontes
Observações:
Usa-se a vírgula com a conjunção e:

a) em orações com sujeitos diferentes:


Chegaram os livros, e me senti melhor.
Veio o verão, e as chuvas minguaram.

b) com conjunção adversativa (e = mas):


Comprou passagens, e desistiu da viagem.

c) no polissíndeto:
Passaram os anos, e os amores, e a vida, e a felicidade...

d) para dar realce estilístico:


Procurou emprego, trabalho, e o achou.
13) separando orações adverbiais
a) obrigatoriamente, quando deslocadas:
Quando os tiranos caem, os povos se levantam.
Os povos, quando os tiranos caem, se levantam.
b) facultativamente, para dar ênfase, quando pospostas:
Farei meu trabalho(,) conforme prometi.

14) separando orações interferentes:

Idéias, como dizia Silveira Martins, não são metais que se fundem.

15) separando orações adjetivas explicativas:


Os Lusíadas, que é um poema épico, narra as grandes navegações portuguesas.

16) separando orações adverbiais reduzidas:


Pegados pela chuva, corremos para casa.

Os erros de pontuação (“os sete pecados capitais”)


1) separar sujeito e verbo:
Os deputados amanhã votarão o projeto.
Convém que se confie nas pessoas de bem.
Observação:
Uma vírgula separa; vírgulas intercalam:
Os deputados, amanhã, votarão o projeto.
2) separar verbo e objeto direto:
Alguns analistas não conferiram todos os dados.
Os brasileiros esperam que a vida melhore.
3) separar verbo e objeto indireto:
Os eleitores já desconfiam de tantas promessas.
Eles desconfiam de que foram enganados.

96
4) separar verbo e agente da passiva:
Os animais foram afugentados pelo vento.
A ópera fora composta por quem já esteve inspirado.

5) separar verbo de ligação e predicativo:


Ninguém mais parece entusiasmado com o jogo.
O essencial é que as pessoas tenham emprego.

6) separar nome e adjunto adnominal:


A economia brasileira é muito vulnerável.
Pedra que muito rola não cria limo.
7) separar nome e complemento nominal:
Há os alunos que têm aversão aos estudos.
Tenho esperança de que tudo volte ao normal.

O ponto-e-vírgula
Assinala uma pausa maior que a da vírgula. O seu emprego varia muito de autor para autor.
Emprega-se ponto-e-vírgula nos seguintes casos:

1) separar as partes principais de um período, cujas secundárias já tenham vírgula(s):


À noite, após o jantar, saímos ambos a caminhar; a lua, quase cheia, iluminava nossos passos.

2) separando os termos de uma enumeração:


A gramática da língua portuguesa estuda:

a) fonética; b) morfologia; c) sintaxe.

3) separando orações com conjunção deslocada:


O jogo terminou; vamos, portanto, sair logo.

4) separando orações com conjunção adversativas subentendida:


Há muitos modos de afirmar; há um só de negar.

Os dois-pontos
Assinalam uma pausa suspensiva para indicar que a frase não está concluída.
Empregam-se os dois-pontos nos seguintes casos:
1) antes de citações:
Diz um velho provérbio: “A agulha veste os outros, e anda nua”.

2) antes do aposto enumerativo:


O homem, para ver a si mesmo, precisa de três coisas: olhos, luz e espelho.

3) explicações com a conjunção subentendida:


Você fez tudo errado: gritou quando não podia e calou quando não devia.

4) nas orações apositivas:


Só te peço uma coisa: honra tua palavra.

REDAÇÃO 97
Professor Wesley Pontes
REGÊNCIA VERBAL ASSISTIR (v.t.d. - v.t.i. ou v.i.)
1) = ver, presenciar (v.t.i. c/prep. a):
Regência é, em gramática, sinônimo de Amanhã quero assistir ao jogo.
dependência, subordinação. Assim, a sintaxe Observação: não aceita o pronome lhe.
de regência trata das relações de Assististe ao jogo? Sim, assisti a ele.
dependência que as palavras mantêm na 2) = dar assistência, auxiliar (v.t.d. ou v.t.i.
frase. c/prep. a):
As enfermeiras assistem os doentes.
Termos regentes Amar, amorInsistiu,
insistênciaObediente, obediênciaCuidado, As enfermeiras assistem aos doentes.
cuidadoso Termos regidosa Deus.em falar. à 3) = caber, pertencer (v.t.i. c/ prep. a):
lei.com a revisão. Assiste aos alunos o dever de estudar.

REGÊNCIA DOS PRINCIPAIS VERBOS 4) = morar, residir (v.i. - adj. adv. c/ prep. em):
Naquele tempo, assistia em planaltina.
AGRADAR / desagradar (v.t.d. ou v.t.i.
ATENDER (v.t.d. ou v.t.i.)
c/prep. a)
1) = fazer carinho, amimar (v.t.d.): 1) = dar atenção a "coisas" (v.t.i. c/prep. a):
Fazia serão para agradar o chefe. Por favor, atenda ao telefone.
2) = ser agradável, satisfazer (v.t.i. c/prep. Atenderei ao chamado do chefe.
a): 2) = dar atenção a "pessoas" (v.t.d. ou v.t.i.):
A notícia não agradou aos investidores. No intervalo, atendo os alunos.
No intervalo, atendo aos alunos.
ACONSELHAR (v.t.d.i. c/prep. a)
1) aconselha-se algo a alguém: 3) = deferir, conceder (v.t.d.):
Aconselhei prudência aos compradores. Deus atenderá meus pedidos.
2) aconselha-se alguém a algo:
Aconselhei o comprador a ser prudente. AUTORIZAR (v.t.d.i. c/prep. a)
(autoriza-se alguém a algo):
ADMIRAR (v.t.d.) Autorizamos o gerente a pagar o cheque.
Sempre admirei seus quadros.
Observação: admirar-se (v.t.i. c/prep. de):
Sempre me admirei dos seus quadros. AVISAR (v.t.d.i. c/prep. a ou de)
(avisa-se algo a alguém, ou alguém de
AGRADECER (v.t.d.i. c/prep. a) algo):
(pagar algo a alguém, obj. direto "coisa", Avise o resultado aos alunos.
obj. indireto "pessoa"): Avise os alunos do reultado.
Agradeceu a compreensão aos amigos. Observação: têm a mesma regência os
verbos: certificar, comunicar, impedir,
ASPIRAR (v.t.d. ou v.t.i. c/prep. a)
1) = sorver, cheirar (v.t.d.): proibir, informar, incumbir, notificar...
É gostoso aspirar seu perfume.
2) = desejar, pretender (v.t.i. c/prep.a): ANUNCIAR (v.t.d.i. c/ prep. a)
Todos aspiram a um bom cargo. (anuncia-se algo a alguém):
Anunciaremos o resultado ao povo.

98
CHAMAR (v.t.d. - v.t.d. ou v.t.i.) ESQUECER (v.t.d.)
1) = convidar, convocar (v.t.d.): Nunca esqueço o seu aniversário.
Chamei os alunos para a sala. Observação: esquecer-se (verbo pronominal,
2) = considerar, tachar v.t.i. c/prep. de):
a) v.t.d. + predicativo: Nunca me esqueço do seu aniversário.
Chamei o aluno de esperto.
Chamei-o de esperto. IMPLICAR (v.t.i. - v.t.d. e v.t.d.i.)
Chamei o aluno, esperto. 1) = ter implicância (v.t.i. c/prep. com):
Chamei-o esperto. A professora implica com meu filho.
b) v.t.i. c/prep. a + predicativo: 2) = acarretar, gerar conseqüência (v.t.d.):
Chamei ao aluno de esperto. Contratação de pessoal implica despesas.
Chamei-lhe de esperto. 3) = envolver (v.t.d.i. c/prep. em):
Chamei ao aluno, esperto. Implicaram o rapaz em vários crimes.
Chamei-lhe esperto.
IR (v.i.)
CHEGAR (v.i. - adj. adv. c/prep. a) 1) direção e retorno (v.i. c/prep. a):
Chegamos cedo à repartição. Pretendo ir a Blumenau.
Ontem, cheguei muito tarde a casa. 2) direção e transferência (v.i. c/prep. para):
Observação: é vício de linguagem usar-se No final do ano, irei para Curitiba.
com preposição em. Observação: é vício de linguagem usar-se
COMPARECER (v.t.i. ou v.i.) com preposição em.
1) atividades (v.t.i. c/prep. a):
Procure comparecer a todas as aulas. LEMBRAR (v.t.d.)
2) lugares (v.i. - adj. adv. c/prep. a ou em): Sempre lembro o seu aniversário.
Poucos compareceram à ou na secretaria. Observação: lembrar-se (v.t.i. c/prep. de):
Sempre me lembro do seu aniversário.
CONVIDAR (v.t.d.i. c/prep. a ou para)
(convida-se alguém a ou para alguma
coisa): MORAR (v.i. - adj. adv. c/prep. em):
Convidei os fiscais a entrar. Ainda moramos na rua Porto Alegre.
Convidei alguns amigos para o jantar. Observação: têm a mesma regência os
verbos: residir, situar-se,
estabelecer-se - e as formas derivadas:
CUSTAR (v.t.d.i. ou v.t.i.) residente, sito, estabelecido:
1) = acarretar (v.t.d.i. c/prep. a): Tenho novo escritório, sito no Setor Bancário.
Imprudência custa acidentes aos operários.
2) = ser custoso (v.t.i. c/prep. a - obj. NAMORAR (v.t.d.):
indireto "pessoa" – sujeito oracional): Paula namorava todos os rapazes da rua.
Custa aos alunos (o.i.) gostar disso (suj.). Observação: é vício de linguagem usar-se
sem a preposição com.
Raimunda só foi feliz namorando com
DEPARAR (v.t.d. ou v.t.i. c/prep. com): Ricardo. (incorreto)
Deparei dois erros em sua carta.
Deparei com dois erros em sua carta.

REDAÇÃO 99
Professor Wesley Pontes
OBEDECER (desobedecer) (v.t.i. c/prep. a) SIMPATIZAR / antipatizar (v.t.i. - preposição
(desobedecer a algo ou a alguém): com).
As crianças devem obedecer aos pais. Alguns não simpatizavam com o treinador.
Não desobedeçam ao regulamento. Observação: é vício de linguagem usar-se
Observação: é vício de linguagem usar-se com pronome oblíquo.
sem a preposição a.
SOLICITAR (v.t.d.i. c/prep. a)
PAGAR (v.t.d.i. c/prep. a) (solicitar algo a alguém):
(pagar algo a alguém, obj. direto "coisa", Solicitei apoio aos companheiros.
obj.indireto "pessoa"):
Já paguei as duplicatas ao cobrador. VISAR (v.t.d. ou v.t.i. c/prep. a)
Observação: é vício de linguagem usar 1) passar visto ou fazer visada (v.t.d.)
"pessoa" como objeto direto. O cônsul visou os passaportes.
Os atiradores visavam os alvos.
PERDOAR (v.t.d.i. c/prep. a) 2) almejar, pretender (v.t.i. c/prep. a):
(pagar algo a alguém, obj. direto "coisa", Sempre visei ao bem-estar da família.
obj. indireto "pessoa"):
Jamais perdoou as traições ao marido. OBSERVAÇÕES FINAIS
Observação: é vício de linguagem usar
"pessoa" como objeto direto. Verbos pronominais são aqueles que

PREFERIR (v.t.d.i. c/prep. a) 1) não podem ser empregados sem pronomes


Prefere uma sandice inglesa a pérolas oblíquos: atrever-se, indignar-se, ufanar-se,
nossas. referir-se, queixar-se, arrepender-se, suicidar-
Observação: não aceita os reforços "antes, se, orgulhar-se...
mais, muito mais, mil vezes,
etc.; nem os comparativos "que ou do que": 2) mudam de significado: debater (discutir) /
debater-se (agitar-se),
QUERER (v.t.d. e v.t.i.)
dirigir (conduzir, guiar) / dirigir-se (ir a ou
1) = desejar, querer para si (v.t.d.):
Quero sua amizade e compreensão. falar a) / formar (compor) /
2) = amar, querer bem (v.t.i. c/prep. a): formar-se (doutorar-se), deparar (encontrar)
Muito queremos a nossos filhos. / deparar-se (apresentar-se
a)... e/ou de regência: lembrar, esquecer,
RECORDAR (v.t.d.) recordar, admirar (v.t.d.) /
Sempre recordo o seu aniversário. lembrar-se, esquecer-se, recordar-se,
Observação: recordar-se (v.t.i. c/prep. de):
admirar-se (v.t.i.)...
Sempre me recordo do seu aniversário.

RESPONDER (v.t.d., v.t.i. e v.t.d.i.) O pronome oblíquo lhe


1) O complemento é a resposta dada (v.t.d.): O pronome lhe é normalmente usado com
Respondeu que não gostava de queijo. v.t.i. (c/prep a) que tenham obj.
2) Resposta a algo/alguém (v.t.i. c/prep. a): indireto "pessoa". Os principais v.t.i. que
Respondeu ao questionário / ao professor. repelem o pronome lhe são:
3) Responder algo a alguém (v.t.d.i. c/prep.
aludir, anuir, aspirar, assentir, assistir,
a):
Respondeu as perguntas ao professor. presidir, proceder, referir-se,
visar...

100
Apto (a, para)
REGÊNCIA NOMINAL É apto ao / para desempenho das funções.
Ávido (de, por)
É a relação de subordinação entre os nomes Um homem ávido de / por novidades.
(substantivo, adjetivo, advérbio) Constituído (de, por)
e seus complementos, devidamente Constituído de / por várias turmas.
estabelecida pelas devidas preposições. Contemporâneo (a, de)
Contemporâneo ao / do Modernismo.
Acostumado (a, com) Devoto (a, de)
Estava acostumado a / com qualquer coisa. Um aluno devoto às / das artes.
Afável (a, com, para com) Falho (de, em)
Parecia afável a / com / para com todos. Um político falho de / em caráter.
Afeiçoado (a, por) Imbuído (de, em)
Afeiçoado aos estudos. Imbuído de / em vaidades.
Afeiçoado pela vizinha. Incompatível (com)
Aflito (com, por) A verdade é incompatível com a realidade.
Aflito com a notícia. Passível (de)
Aflito por não ter notícia. O projeto é passível de modificações.
Amizade (a, por, com) Propenso (a, para)
Amizade à / pela / com a irmã mais velha. Sejam propensos ao / para o bem.
Analogia (com, entre) Residente (em)
Não analogia com / entre os fatos. Os residentes na Capital.
Apaixonado (de, por) Vizinho (a, de)
Era um apaixonado das / pelas flores. Um prédio vizinho ao / do meu.

EMPREGO DA CRASE

CASOS GERAIS

CONCEITO

Crase é a fusão de duas vogais idênticas. No Português contemporâneo, assinalamos com o acento
grave a crase resultante de:

A (preposição) A/AS = artigo feminino


A/AS = pronome demonstrativo
+
AQUELE, AQUELA, AQUILO = pronomes
demonstrativos
Para que exista crase, portanto, são necessários dois as: um exigido por um termo regente – a
preposição “a” – e outro aceito pelo nome regido – o artigo “a”.

Preposição que vem Artigo que ocorre


depois da palavra antes de Resultado da soma dos dois
de sentido substantivo AA = À
incompleto feminino
dirigir-se a a fazenda Dirigia-se à fazenda.
condenado a a prisão Foi condenado à prisão.

REDAÇÃO 101
Professor Wesley Pontes
CRASE PROIBIDA

É bom lembrar que em muitos casos a crase é proibida. Ei-los:

Diante de nomes masculinos: andar a pé; agradecer a Deus.


Diante de verbos: estar a ouvir; ficar a observar.
Entre palavras repetidas: gota a gota; cara a cara.
Diante de pronomes de tratamento, pessoais e indefinidos em geral: a V. S.ª, a ela, a ninguém.
A no singular + nome do plural: O advogado só se dedica a causas trabalhistas.
Diante dos relativos cuja e quem.
Diante dos demonstrativos este/esta/isto/essa...

CRASE OBRIGATÓRIA

A crase será obrigatória nas seguintes situações:

01. Quando se puder trocar o nome feminino por um masculino e ocorrer a contração AO:
Referiu-se a(?) prima. Referiu-se ao primo = Referiu-se à prima.

À  FEM.
 
AO  MASC.

02. Diante de nomes geográficos em que se puder substituir o A por PARA A:


Você já foi a(?) Bahia? Você já foi para a Bahia? = Você já foi à Bahia?
Mas... Vou a Roma. Vou para Roma.
Atenção: nomes que não admitem crase, por não admitirem o artigo, passam a admiti-la quando
modificados por adjetivos: Referiu-se à grande São Paulo.

03. Diante de numerais que indicam horas determinadas (com a palavra “horas” expressa ou não)
Encontrá-lo-ei às três horas.
Sairemos às cinco (ou às 5)

04. Diante de locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas femininas:

às vezes à custa de às tontas


às claras à medida que à esquerda
à força às escuras à beira de
à moda à direita às gargalhadas
à beça à espera de à vista

Exceção: a prestação ( = em prestação)


O noivo comprou o terno a prestação.

102
05. Se usarem as expressões “à moda de” ou “à maneira de”, mesmo que elas não venham
expressas:

Decorou a casa com móveis à moda Luís XV.


Aos sábados, não dispensava uma feijoada à carioca.
Atenção: é o único caso em que se emprega crase diante de nome masculino.

06. Diante de “aquele”, “aquela” e “aquilo”, se puder substituí-los por “a este”; “a esta”; “a isto”:

Jamais fui àquele lugar. (a este lugar)


Não me referia àquela pessoa que vimos hoje. (a esta)
Mas... Vi aquele homem de quem falávamos. (vi este homem...)

07.Com os pronomes relativos a que e a qual. Nesse caso, localiza-se o termo antecedente e, se
feminino, aplica-se a regra geral.

À QUE = AO QUE À QUAL = AO QUAL

Sua idéia é igual à que tive.


Fem.

Seu pensamento é igual ao que tive.


Masc.

A cidade à qual me dirigia era pequena. O sítio ao qual me dirigia era pequeno.
Mas... A peça a que assisti foi ótima. = O filme a que assisti foi ótimo.

CASOS ESPECIAIS

CRASE CONDICIONADA

Ocorre com palavras que somente admitem o sinal indicativo da crase em situações especiais,
isto é, existe uma condição para que ocorra. Eis os casos mais comuns:

01.CASA = MODIFICADA (só admitirá a crase se vier acompanhada de termo que a especifique
ou precedida de um adjetivo).

Exemplos:
Voltamos cedo a casa ontem. (casa própria)
Voltou à casa paterna após longa ausência. (para a casa paterna)
Referia-se à bela casa que se erguia diante de nós.

REDAÇÃO 103
Professor Wesley Pontes
02. TERRA = NÃO SIGNIFICAR “TERRA FIRME”

Partindo-se do princípio de que quem está no mar ou a bordo de um navio continua na Terra, no
planeta, e que a expressão atribuída a quem não está no mar é de “estar EM terra”, não se craseará
o “a” que antecede a palavra terra se esta significar oposição a bordo, navio etc.
Exemplos:
Os marinheiros voltaram a terra, após dias no mar. (agora estão “em terra”)
Os pescadores voltaram à terra de seus ancestrais. (a uma “terra” em especial)
Todos voltaremos à terra de onde viemos. (ao barro)

03. À DISTÂNCIA DE

Tal expressão só pode ser craseada se vier especificada, ou seguida, necessariamente, da preposição
DE.
Veja as situações possíveis:
O garoto achava-se à distância de dez passos do seu ídolo.
Viu-o apenas a distância, mas não pôde tocá-lo, como queria. (não está especificada)
A mãe, com muito esforço, conseguiu levá-lo a uma distância de dois metros. (usou-se o artigo uma)

CRASE FACULTATIVA

01. PRONOMES POSSESSIVOS FEMININOS NO SINGULAR

Exemplos:
Nada conte a / à minha mãe. (a meu pai ou ao meu pai)
Mas:
Nada conte às suas amigas. (aos seus amigos... obrigatória)
Nada conte a suas amigas. (para suas amigas... não há)

02. NOMES PERSONATIVOS FEMININOS

Usar-se-á quando se quiser denotar intimidade; por isso não se deve usar com nomes históricos.
Exemplos:
Ofereci um chocolate a/à Maristela. (nada especifica se é íntima ou não – a João ou ao João)
Mas ...O professor de História referiu-se a Joana D’Arc, a heroína francesa. (personagem histórica)

03. LOCUÇÕES ADVERBIAIS FEM. DE INSTRUMENTO = MODO

Escrever a/à máquina.


Ferir a/à espada.
Receber a/à bala.
Em muitas dessas locuções, o acento da crase nem sempre representa uma contração: usa-se,
antes, como sinal declarador do adjunto adverbial ou para evitar a ambigüidade (crase opinativa)
Exemplos:
Matar à fome. (deixar alguém morrer por falta de comida)
Matar a fome. (dar de comer a alguém)

104
CONCORDÂNCIA

CONCORDÂNCIA NOMINAL
REGRA GERAL
O adjetivo e as palavras adjetivas (artigos, numerais, pronomes adjetivos) concordam em gênero
e número com o substantivo a que se referem.
Os nossos dois melhores livros são de ficção.

I. ADJETIVO  ADJUNTO ADNOMINAL

O belo ipê cobre-se de flores amarelas.


Quando um adjetivo se refere a dois ou mais substantivos, tem importância a posição do adjetivo.

a) Adjetivo anteposto a dois ou mais substantivos


 Concorda em gênero e número com o mais próximo.

Você escolheu mau lugar e hora para tratarmos desses negócios.


Adj. subst. subst.

Observação: Referindo-se a nomes próprios, a relações de parentesco ou a títulos, o adjetivo vai para
o plural.
Exemplos:
Li os clássicos Machado de Assis e José de Alencar na juventude.

b) Adjetivo posposto a dois ou mais substantivos


 Concorda com o mais próximo ou vai para o plural do gênero dominante.
Observação: Se os substantivos forem de gêneros diferentes, o adjetivo concorda no masculino plural.
 Com o mais próximo:

O noivo deu-lhe um beijo e um abraço demorado.


 Com o plural dominante:

O noivo deu-lhe um beijo e um abraço demorados.


m. m. masc. pl.

A Marinha e a Aeronáutica brasileiras estavam alerta.


f. f. fem. pl.

c) Concordância Especial
O adjetivo concordará com o substantivo mais próximo nos seguintes casos:
01. Adjetivo posposto a substantivos sinônimos:
O furor e a raiva santa tomaram conta do conselheiro.
02. Substantivos em gradação de idéias (ascendente ou descendente):
O seu zelo, seu carinho, sua dedicação total salvou a empresa do caos.
03. O adjetivo – por uma questão de lógica – refere-se a apenas um dos substantivos:
Avistava ao longe o cavalo e a casa destelhada.

REDAÇÃO 105
Professor Wesley Pontes
Observação:

Cores – Se um substantivo for usado com função de adjetivo, permanecerá invariável:


Trajava 1 calça e 2 camisas laranja. (cor de...)
Comprou camisas e calças cinza. (cor da...)

II. ADJETIVO  COM FUNÇÃO DE PREDICATIVO

a) Concordância do adjetivo predicativo com o sujeito: PS


O predicativo do sujeito (PS) ocorre quando o adjetivo vem após um verbo de ligação (VL)
explícito ou implícito.
A concordância realiza-se conforme as normas seguintes:

01. Com o sujeito composto, constituído por substantivos do mesmo gênero, o predicativo
concordará no plural e no gênero deles.

O céu e o mar estavam calmos.


m. m. =masc. pl.

Suj. comp. VL PS

02. Se o sujeito composto for constituído por substantivos de gêneros diferentes, o predicativo
concordará no masculino plural.

O menino e a menina ficaram mudos.


m. f. =masc. pl.

A montanha e o vale estavam desertos.


f. m. =masc. pl.

Atenção!
É possível a frase estar construída na ordem inversa, com o sujeito composto posposto. Aí,
existem duas possibilidades de concordância. Observe:
01.Se o verbo estiver concordando no plural, o adjetivo (PS) também concordará no plural do
gênero dominante.

Estavam desertos a montanha e o vale.


VL  pl. PS  pl. Suj. comp. posposto
02. Se o verbo concordar no singular com o primeiro núcleo do sujeito, com ele também
concordará o adjetivo.

Estava deserta a montanha e o vale.


VL  sg. PS  pl. Suj. comp. posp.

106
b) Concordância do adjetivo predicativo com o objeto: PO
01. O adjetivo concorda em gênero e número com o objeto quando este for simples:
Vi ancorados na baía os petroleiros.
PO ( m. pl.) OD ( m. pl.)

02. Se o objeto for composto e com substantivos do mesmo gênero, o adjetivo vai para o plural
no gênero correspondente.
O jornal chamou o Congresso e seus membros de criminosos.(m + m = m.pl.)
O jornal julgou criminosos o Congresso e seus membros.

03. Se o objeto for composto e formado de elementos de gêneros diferentes, o adjetivo vai para o
masculino plural.
O jornal julgou o Senado e a Câmara culpados.(m + f = m.pl.)
Encontrei rasgados o livro e a apostila.

Observação: Se o predicativo vier anteposto ao objeto, poderá concordar com o mais próximo.
Encontrei rasgado o livro e a apostila.

III. CONCORDÂNCIA DO PARTICÍPIO PASSIVO


Na voz passiva, o particípio concorda em gênero e número com o sujeito (tem valor de adjetivo).
Foi escolhida a rainha do carnaval.
Os livros para o vestibular já foram selecionados.
Passadas duas horas, saí a sua procura.

IV. UM SÓ SUBSTANTIVO E MAIS UM ADJETIVO


Quando um único substantivo vem qualificado por mais de um adjetivo, ocorrem duas
concordâncias:
a) substantivo fica no singular e repete-se o artigo diante de cada adjetivo:
O produto conquistou o mercado europeu e o americano.
Atualmente, estudo a língua inglesa e a francesa.
b) O substantivo vai para o plural e não se repete o artigo antes de cada adjetivo:
O produto conquistou os mercados europeu e americano.
Atualmente, estudo as línguas inglesa e francesa.

V. NUMERAIS ORDINAIS + SUBSTANTIVO

a) Se os numerais aparecem precedidos de artigo, o substantivo fica no singular ou no plural.


A primeira e a segunda série (séries) do segundo grau.

b) Se não houver a repetição do artigo, o plural será obrigatório.


A primeira e segunda séries do primeiro grau.
As primeira e segunda séries do primeiro grau.

c) Também será obrigatório o plural, se o substantivo anteceder os numerais.


As séries primeira e segunda do segundo grau.

Observação: Os cardinais, empregados após substantivo, não variam.


Página um, casa dois.

REDAÇÃO 107
Professor Wesley Pontes
CONCORDÂNCIA NOMINAL – II

CASOS ESPECIAIS

Termos em função de adjetivo ou advérbio


Há palavras que, na frase, funcionam ora com valor adverbial ora com valor adjetivo.
Pode-se descrever o comportamento da seguinte maneira:

a) São advérbios - invariáveis - quando se referem a verbos ou adjetivos:

Falaram bastante sobre o assunto.


ver. adv.

Suas opiniões são melhor colocadas por escrito.


adv. adj.
b) São adjetivos –variáveis –quando se referem a substantivos:

Havia bastantes razões para confiarmos.


adj. subst.

Venceram as melhores propostas.


adj. subst.

ANEXO, INCLUSO, JUNTO, LESO  VARIÁVEIS

Concordam com a palavra a que se referem:


Remeto-lhes anexas as certidões.
Observações:
1 – Em anexo é invariável:
Remeto-lhe em anexo as certidões.

2 – Junto, funcionando como advérbio ( = juntamente) ou compondo locução prepositiva (junto


com, junto de) é invariável:

Junto, remeto-lhe as certidões.


As mercadorias seguem junto com as fotocópias.
MESMO, PRÓPRIO, OBRIGADO  VARIÁVEIS
Concordam com a palavras a que se referem:
Ele mesmo; ela mesma.
Eu próprio; ela própria.
O rapaz disse “muito obrigado”.
A moça disse “muito obrigada”.

108
Observação: mesmo, quando significa de fato, realmente, é invariável.
Ele fará mesmo parte da banca examinadora?

PSEUDO, MENOS  INVARIÁVEIS


Elas se comportam como pseudo-amigas.
Sempre desprezou os pseudoprofetas.
Há menos alunas do que eu imaginava.
– Pseudo (prefixo) exige hífen antes de palavra iniciada por “h” e “o”.
ALERTA  Advérbio e Interjeição

a) Pela origem, alerta (= de sobreaviso, de prontidão, atentamente) é advérbio, portanto invariável.


Os soldados permaneceram alerta. ( = de sobreaviso)
Estamos alerta.
Alerta! (interj.) = atenção!, cautela!, cuidado!
ALERTA(S)  ADJ.

b)Há, porém, atualmente, o seu uso como adjetivo ( = vigilante, atento), admitindo flexão no plural.
Os soldados estavam alertas. ( = vigilantes)
As pessoas alertas ( = atentas) evitam acidentes.

SÓ, SÓS, A SÓS


a)Só, empregado como adjetivo, significando sozinho, desacompanhado, solitário, único, deve
concordar em número com a palavra que modifica:
Pedro e Teresa partiram sós. ( = sozinhos)
Vocês sós prepararam tudo?

b)Empregado como advérbio, como o sentido de somente, apenas, unicamente, permanece


invariável:
Só eles tiveram coragem. ( = somente)
Só vocês fizeram isso?

Observação: A sós é invariável.


Gostaria de ficar a sós por uns momentos.

QUITE – QUITES
Quite ( = livre, desobrigado), adjetivo, deve concordar com o nome a que se refere:
Eu e você estamos quites.
Você está quite com o serviço militar?

MEIO – MEIA
Concordam, normalmente, com o substantivo a que se referem:
Compramos meio quilo de alcatra.
É meio-dia e meia. (hora)

REDAÇÃO 109
Professor Wesley Pontes
Observação: Meio, advérbio, é invariável.
Encontrei-o meio triste.
Eles estavam meio nervosos.

Adj. = metade  acompanha SUBSTANTIVO


MEIO
Adv. = um pouco  acompanha ADJETIVO

BASTANTE – BASTANTES
pronome = muitos(as)
Bastante(s)  {
adjetivo = suficiente(s)

Bastante  advérbio = muito


Há bastantes apartamentos para alugar.
As alunas são bastante esforçadas.

Observação: Posposta ao substantivo, a palavra bastante significa suficiente.


Há razões bastantes para discordarmos. ( = suficientes)

O MAIS ... POSSÍVEL  OS MAIS ... POSSÍVEIS


A expressão o mais (menos, maior, menor, melhor, pior) possível fica invariável, a não ser que o
artigo esteja no plural, caso em que o adjetivo possível também vai para o plural:
Vencia obstáculos o mais difíceis possível.
Vencia obstáculos os mais difíceis possíveis.

TAL QUAL – TAIS QUAIS


Trata-se de dois termos independentes que formam uma locução e, de acordo com vários
autores, devem concordar com os termos a que se referem. Normalmente, tal concorda com o
antecedente, enquanto qual concorda com o subseqüente. Veja os exemplos:

Os filhos são tais qual o pai.


A garota é tal quais os garotos quando jogam futebol.

É PROIBIDO, É BOM, É NECESSÁRIO...


Nos predicados nominais em que ocorre o verbo ser mais um adjetivo, formando expressões do
tipo é bom, é necessário, é proibido, é claro etc., há duas construções possíveis:

a)Se o sujeito não vier precedido de artigo, ou qualquer outro modificador (numeral, pronome), a
expressão fica invariável ( = masc. sg.)
É necessário organização.
É proibido entrada de estranhos.

110
CONCORDÂNCIA VERBAL

Coletivo

Quando o sujeito for um substantivo coletivo, como, por exemplo, bando, multidão, matilha,
arquipélago, trança, cacho, etc., ou uma palavra no singular que indique diversos elementos,
como, por exemplo, maioria, minoria, pequena parte, grande parte, metade, porção, etc., poderão
ocorrer três circunstâncias:

A) O coletivo funciona como sujeito, sem acompanhamento de qualquer restritivo:


Nesse caso, o verbo ficará no singular, concordando com o coletivo, que é singular.
Ex.
• A multidão invadiu o campo após o jogo.
• O bando sobrevoou a cidade.
• A maioria está contra as medidas do governo.

B) O coletivo funciona como sujeito, acompanhado de restritivo no plural:


Nesse caso, o verbo tanto poderá ficar no singular, quanto no plural.
Ex.
• A multidão de torcedores invadiu / invadiram o campo após o jogo.
• O bando de pássaros sobrevoou / sobrevoaram a cidade.
• A maioria dos cidadãos está / estão contra as medidas do governo.

C) O coletivo funciona como sujeito, sem acompanhamento de restritivo, e se encontra distante do


verbo:
Nesse caso, o verbo tanto poderá ficar no singular, quanto no plural.
Ex.
• A multidão, após o jogo, invadiu / invadiram o campo.
• O bando, ontem à noite, sobrevoou / sobrevoaram a cidade.
• a maioria, hoje em dia, está / estão contra as medidas do governo.

Um milhão, um bilhão, um trilhão:


Com um milhão, um bilhão, um trilhão, o verbo deverá ficar no singular. Caso surja a conjunção
e, o verbo ficará no plural.
Ex.
• Um milhão de pessoas assistiu ao comício
• Um milhão e cem mil pessoas assistiram ao comício.
Mais de, menos de, cerca de...
Quando o sujeito for iniciado por uma dessas expressões, o verbo concordará com o numeral que
vier imediatamente à frente.
Ex.
• Mais de uma criança se machucou no brinquedo.
• Menos de dez pessoas chegaram na hora marcada.
• Cerca de duzentos mil reais foram surripiados.

REDAÇÃO 111
Professor Wesley Pontes
Quando Mais de um estiver indicando reciprocidade ou com a expressão repetida, o verbo ficará
no plural.
Ex.
• Mais de uma pessoa agrediram-se.
• Mais de um carro se entrechocaram.
• Mais de um deputado se xingaram durante a sessão.

Nomes próprios no plural

Quando houver um nome próprio usado apenas no plural, deve-se analisar o elemento a que ele
se refere:

A) Se for nome de obra, o verbo tanto poderá ficar no singular, quanto no plural.

Ex.
• Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram Camões.
• Os Sertões marca / marcam uma época da Literatura Brasileira.

B) Se for nome de lugar - cidade, estado, país... - o verbo concordará com o artigo; caso não haja
artigo, o verbo ficará no singular.

Ex.
• Os Estados Unidos comandam o mundo.
• Campinas fica em São Paulo.
• Os Andes cortam a América do Sul.

Obs.: Se o nome de lugar possuir artigo, mas este, por alguma razão, não for utilizado, a
concordância com o artigo permanecerá sendo a regra, ou seja, o verbo continuará concordando
com o artigo.

Ex.
• EUA vencem o México na oitavas de final da Copa do Mundo.

Qual de nós / Quais de nós


Quando o sujeito contiver as expressões ...de nós, ...de vós ou ...de vocês, deve-se analisar o
elemento que surgir antes dessas expressões:

A) Se o elemento que surgir antes das expressões estiver no singular (qual, quem, cada um, alguém,
algum...), o verbo deverá ficar no singular.

Ex.
• Quem de nós irá conseguir o intento?
• Quem de vós trará o que pedi?
• Cada um de vocês deve ser responsável por seu material.

112
B) Se o elemento que surgir antes das expressões estiver no plural (quais, alguns, muitos...), o verbo
tanto poderá ficar na terceira pessoa do plural, quanto concordar com o pronome nós ou vós.

Ex.
• Quantos de nós irão / iremos conseguir o intento?
• Quais de vós trarão / trareis o que pedi?
• Muitos de vocês não se responsabilizam por seu material.

Sujeito sendo pronome relativo


Quando o pronome relativo exercer a função de sujeito, deveremos analisar o seguinte:

A) Pronome Relativo que:


O verbo concordará com o elemento antecedente.

Ex.
• Fui eu que quebrei a vidraça. (Eu quebrei a vidraça)
• Fomos nós que telefonamos a você. (Nós telefonamos a você)
• Estes são os garotos que foram expulsos da escola. (Os garotos foram expulsos)

B) Pronome Demonstrativo o, a, os, as + Pronome Relativo que:


O verbo concordará com o pronome demonstrativo, ficando, então, na terceira pessoa do singular,
ou na terceira pessoa do plural.

Ex.
• Fui eu o que quebrou a vidraça. (O que quebrou a vidraça fui eu)
• Foste tu a que me enganou. (A que me enganou foste tu)
• Fomos nós os que telefonaram a você. (Os que telefonaram a você fomos nós)
• Fostes vós os que me engaram. (Os que me engaram fostes vós)

C) Pronome Relativo quem: O verbo ficará na terceira pessoa do singular.

Ex.
• Fui eu quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça fui eu)
• Foste tu quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça foste tu)
• Foi ele quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça foi ele)
• Fomos nós quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça fomos nós)
• Fostes vós quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça fostes vós)
• Foram eles quem quebrou a vidraça. (Quem quebrou a vidraça foram eles)

Um dos ... que


Quando o sujeito for iniciado pela expressão Um dos que, deveremos analisar o seguinte:

A) É certo que o elemento é o único a praticar a ação:


O verbo ficará no singular. Por exemplo, a frase O Corinthians é um dos times paulistas que mais
vezes foi campeão estadual tem o verbo no singular, pois é certo que, dos times de São Paulo, o
Corinthians foi mais vezes campeão - 24 vezes.

REDAÇÃO 113
Professor Wesley Pontes
B) É certo que o elemento não é o único a praticar a ação:
O verbo ficará no plural. Por exemplo, a frase Casagrande é um dos ex-jogadores de futebol que
trabalham como comentarista esportivo tem o verbo no plural, pois é certo que, além de
Casagrande, há outros ex-jogadores de futebol, trabalhando como comentarista esportivo - Falcão,
Júnior, Tostão, Rivelino...

C) Não se sabe se o elemento é o único a praticar a ação ou não: O verbo tanto poderá ficar no
plural, quanto no singular. Por exemplo, a frase São Paulo é uma das cidades que mais sofre /
sofrem com a poluição é facultativo, pois não há como medir se São Paulo é a que mais sofre, ou
se, além dela, há outras que sofrem tanto. Outra explicação também é a questão de se querer dar
ênfase ao elemento: se se quiser enfatizar o problema em São Paulo, coloca-se o verbo no singular.

Nenhum dos ... Que


Quando o sujeito for iniciado pela expressão Nenhum dos que, o primeiro verbo ficará no plural,
e o segundo, no singular.
Ex.
• Nenhum dos alunos que me procuraram trouxe o material.
• Nenhuma das pessoas que chegaram atrasadas tem justificativa.

Porcentagem + Substantivo
Quando o sujeito for formado por porcentagem e substantivo, existirão três regras:

A) Porcentagem + Substantivo, sem modificador da porcentagem:


Facultativamente o verbo poderá concordar com a porcentagem ou com o substantivo.
Ex.
• 1% da turma estuda muito.
• 1% dos alunos estuda / estudam muito.
• 10% da turma estuda / estudam muito.
• 10% dos alunos estudam muito.

B) Porcentagem + Substantivo, com modificador da porcentagem:


O verbo concordará com o modificador, que pode ser pronome demonstrativo, pronome
possessivo, artigo...
Ex.
• Os 10% da turma estudam muito.
• Este 1% dos alunos estuda mais.

C) Mais de, menos de, cerca de, perto de, antes da porcentagem:
O verbo concordará apenas com a porcentagem.
Ex.
• Mais de 1% dos alunos estuda muito.
• Menos de 10% da turma estudam muito.

114
Pronomes de Tratamento

Os pronomes de tratamento são pronomes de terceira pessoa, portanto tudo que se referir a
eles deverá estar na terceira pessoa.
Ex.
• Vossa Senhoria deve trazer seus documentos consigo.
• Vossa Excelência tem que se contentar com seus assessores.

Silepse de Pessoa

Também chamada de concordância ideológica, a silepse de pessoa é a concordância, não


com a palavra escrita, mas sim com o que ela significa. Por exemplo, nós somos brasileiros,
portanto, ao utilizarmos a palavra brasileiros, poderemos concordar o verbo com a idéia que essa
palavra nos evoca - nós – e dizer Os brasileiros estamos torcendo pelo sucesso do Presidente.
Ex.
• Os professores nos reciclamos anualmente. (Nós nos reciclamos)
• Os alunos deveis estudar mais. (Vós deveis)

Núcleos ligados pela conjunção "e"

01) Verbo após os núcleos:


Ficará no plural o verbo que estiver após o sujeito composto cujos núcleos sejam ligados pela
conjunção e:
Ex.
• O hotel e a cidade são maravilhosos.
• Machado de Assis e Guimarães Rosa estão entre os melhores escritores do mundo.

Obs.: Quando os núcleos forem sinônimos ou estiverem formando gradação, o verbo deverá ficar
no singular.

Ex.
• "A lisura e a sinceridade frequenta pouco o Congresso Nacional." lisura = sinceridade.
• "Cada rosto, cada voz, cada corpo lhe lembrava a amada."
• "Um olhar, um arquejar de sobrancelhas, um aceno com a cabeça bastava para a paquera ser
bem sucedida."

02) Verbo antes dos núcleos:


Facultativamente ficará no plural ou concordará com o núcleo mais próximo o verbo que estiver
antes do sujeito composto cujos núcleos sejam ligados pela conjunção e:
Ex.
• É maravilhoso o hotel e a cidade.
• São maravilhosos o hotel e a cidade.
• É maravilhosa a cidade e o hotel.

REDAÇÃO 115
Professor Wesley Pontes
Sujeito composto por pessoas diferentes

Se o sujeito for formado por pessoas diferentes (eu, tu, ele, ela ou você), o verbo ficará no
plural, concordando com a pessoa de número mais baixo na sequência (1ª, 2ª ou 3ª).
Não havendo a 1ª pessoa (eu ou ), e havendo a 2ª pessoa (tu ou vós), o verbo tanto poderá
ficar na 2ª pessoa do plural, quanto na 3ª pessoa do plural.
Continuam valendo as regras anteriores, ou seja, se o verbo vier depois do sujeito composto,
ficará no plural; se vier antes, concordará com o mais próximo ou ficará no plural.

Ex.
• Teté e eu passamos as férias em Águas de Santa Bárbara.
• Passei as férias em Águas de Santa Bárbara eu e Teté.
• Passamos as férias em Águas de Santa Bárbara eu e Teté.
• Tu e Walmor estais equivocados.
• Tu e Walmor estão equivocados.
• Estás equivocado tu e Walmor.
• Estais equivocados tu e Walmor.
• Estão equivocados tu e Walmor.

Núcleos ligados pela conjunção ou

Quando os núcleos do sujeito composto forem ligados pela conjunção ou, deve-se analisar se
há ou não exclusão, ou seja, analisar se um elemento, ao praticar a ação, impede que o outro
também a pratique.

01) Havendo ideia de exclusão:


Quando houver um elemento praticando a ação e, com isso, impedindo que o outro também a
pratique, o verbo ficará no singular.

Ex.
• Dida ou Marcos será o goleiro titular da seleção.
• O Presidente ou o Governador fará o discurso de abertura do Congresso.

02) Não havendo ideia de exclusão:


Quando não houver um elemento praticando a ação e, com isso, impedindo que o outro também
a pratique, o verbo ficará no plural.

Ex.
• Dida ou Marcos poderão ser convocados para a Copa de 2002.
• O Presidente ou o Governador estarão presentes na abertura do Congresso.

Núcleos ligados pela preposição "com"


01) Verbo após os núcleos:
Facultativamete ficará no plural ou concordará com o primeiro núcleo o verbo que estiver após o
sujeito composto cujos núcleos sejam ligados pela preposição com.

Ex.
• O gerente com os funcionários dará início à promoção de descontos.
• O gerente com os funcionários darão início à promoção de descontos.

116
02) Verbo antes dos núcleos:
Concordará com o núcleo mais próximo o verbo que estiver antes do sujeito composto cujos núcleos
sejam ligados pela preposição com.

Ex.
• Dará início à promoção de descontos o gerente com os funcionários.

Aposto resumidor / conectivos correlatos


O Aposto resumidor é normalmente representado por pronome indefinido (tudo, nada, ninguém,
alguém, todos...) ou por pronome demonstrativo (isto, isso, aquilo...), resumindo o sujeito
composto. O verbo, excepcionalmente, concordará com o aposto resumidor.
Ex.
• Brinquedos, roupas, jogos, nada tirava a angústia daquele jovem.
• Amigos, parentes, companheiros de trabalho, ninguém se incomodou com sua ausência.

Quando o sujeito composto tem os elementos ligados por conectivos correlatos: assim ... como,
não só ... mas também, tanto ... como, nem ... nem, o verbo ficará no plural. O singular é raro.
Ex.
• Tanto o irmão como a esposa ignoraram seu pedido de ajuda.
• Não só Pedro mas também Eduardo estão à sua procura.

Um e outro / um ou outro / nem um nem outro


Um e outro
Quando o sujeito for a expressão um e outro, o substantivo correspondente a ela ficará no singular,
o adjetivo no plural e o verbo facultativamente no singular ou no plural.

Ex.
• Um e outro aluno indisciplinados será punido.
• Um e outro aluno indisciplinados serão punidos.
Um ou outro
Quando o sujeito for a expressão um ou outro, o verbo ficará no singular.

Ex.
• Um ou outro esteve à sua procura.
Nem um nem outro
Quando o sujeito for a expressão nem um nem outro, o verbo ficará no singular, porém há
gramáticos que o admitem no plural.

Ex.
• Nem um nem outro terá coragem de se revelar.
• "Nem um nem outro compareceram."(Carlos Góis)

REDAÇÃO 117
Professor Wesley Pontes
Verbos Especiais

01) O verbo Ser:


A) Quando o verbo ser e o predicativo do sujeito forem numericamente diferentes (um no singular,
outro no plural), o verbo deverá ficar no plural.

Ex.
• O vestibular são as esperanças dos estudantes.
• Tudo são flores, quando se é criança.

B) Se o sujeito representar uma pessoa ou se for pronome pessoal, o verbo concordará com ele.
Ex.
• Aline é as alegrias do namorado.
• O Presidente é as esperanças do povo brasileiro.

C) Se o sujeito for uma quantidade no plural, e o predicativo do sujeito, palavra ou expressão como
muito, pouco, o bastante, o suficiente, uma fortuna, uma miséria, o verbo ficará no singular.

Ex.
• Cem reais é muito, por esse produto.
• Duzentos gramas de carne é pouco.

D) Na indicação de horas ou distâncias, o verbo concordará com o numeral.

Ex.
• Era meio-dia, quando ele chegou.
• São duas horas.
• É 1h58min.

E) Na indicação de datas, o verbo poderá ficar no singular, concordando com a palavra dia, ou
no plural, concordando com a palavra dias.

Ex.
• É 1º de outubro. = É dia 1º de outubro ou É o primeiro dia de outubro.
• É 15 de setembro = É dia quinze de setembro.
• São 15 de setembro = São quinze dias de setembro.

02) O verbo Haver:


O verbo haver é impessoal, no sentido de existir, de acontecer ou indicando tempo decorrido;
por isso fica na 3ª pessoa do singular - caso esteja acompanhado de um verbo auxiliar, formando
uma locução verbal, ambos ficarão no singular. Nos outros sentidos, concorda com o sujeito.

Ex.
• Havia um mês, nós estávamos à sua procura.
• Poderá haver confrontos entre os policiais e os grevistas.
• Os alunos haviam ficado revoltados.

118
Haja vista:

A) Com a prep. a: haver no singular; vista invariável;

Ex.
• Haja vista ao exemplo dado.
• Haja vista aos exemplos dados.
B) Sem a prep. a: haver no singular ou concorda com o substantivo; vista invariável.

Ex.
• Haja vista o exemplo dado.
• Haja vista os exemplos dados.
• Hajam vista os exemplos dados.

03) O verbo Fazer:


O verbo fazer é impessoal, indicando tempo decorrido e fenômeno natural; por isso fica na 3ª
pessoa do singular - caso esteja acompanhado de um verbo auxiliar, formando uma locução
verbal, ambos ficarão no singular. Nos outros sentidos, concorda com o sujeito.

Ex.
• Faz três meses que não o vejo.
• Faz 35º no verão, em Londrina.
• Deve fazer cinco anos que ele morreu.

04) Outros verbos impessoais:


Os outros verbos impessoais, que também ficam na terceira pessoa do singular, são os seguintes:
Fenômenos da natureza:

• Chove há três dias sem parar.


• Choveram pedras. Nesse caso, o verbo não é impessoal, pois o sujeito está claro.

Passar de, indicando horas:


• Já passa das 11h30.
• Já passava das oito horas, quando ela chegou.

Chegar de e bastar de, no imperativo:


• Chega de firulas! Vamos ao assunto.
• Basta de conversas, meninos!

05) Os verbos Dar, Bater e Soar:


Concordam com o sujeito, que pode ser:

A) o relógio, a torre, o sino...

Ex.
• O relógio deu quatro horas.
• O sino soou cinco horas.

REDAÇÃO 119
Professor Wesley Pontes
B) as horas.
O numeral que marca as horas funcionará como sujeito, quando o relógio, a torre, o sino
funcionarem como adjunto adverbial de lugar - com a prep. em, ou quando eles não aparecerem
na oração.

Ex.
• No relógio, deram quatro horas.
• No sino, soaram cinco horas.
• Bateram sete horas.

06) O verbo Parecer + infinitivo:


Quando o verbo parecer surgir antes de outro verbo no infinitivo, duas ocorrências podem
acontecer:

A) Pode ocorrer a formação de uma locução verbal. Nesse caso, o verbo parecer concordará com
o sujeito, e o verbo no infinitivo ficará invariável.

Ex.
• As meninas parecem estar nervosas.
• Os alunos parecem estudar deveras.

B) Pode ocorrer a formação de um período composto, com o verbo parecer na oração principal,
invariável, e o verbo no infinitivo, formando oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de
infinitivo, concordando com o sujeito.

Ex.
• As meninas parece estarem nervosas.
• Os alunos parece estudarem deveras.
• Nesses dois casos, se desenvolvermos as orações, teremos:
• Parece as meninas estarem nervosas. Proveio de Parece que as meninas estão nervosas.
• Parece os alunos estudarem deveras. Proveio de Parece que os alunos estudam deveras.

07) A Partícula Apassivadora:


O verbo na voz passiva sintética, construída com o pronome se, concorda normalmente com o
sujeito. A maneira mais fácil de se comprovar que a oração está na voz passiva sintética é
passando-a para a voz passiva analítica: Alugam-se casas muda para Casas são alugadas. Sempre
que for possível essa transformação, o se será chamado de Partícula Apassivadora. Para relembrar
esse estudo clique aqui.

Ex.
• Entregam-se encomendas. = Encomendas são entregues por alguém.
• Ouviram-se muitas histórias. = Muitas histórias foram ouvidas.
• Sabe-se que ele não virá. = Que ele não virá é sabido.

120
08) O Índice de Indeterminação do Sujeito:
O pronome se, sendo índice de indeterminação do sujeito, deixa o verbo na terceira pessoa do
singular; haverá I.I.S. quando surgir na oração VI, sem sujeito claro; VTI, com OI; VL, com PS e
VTD, com ODPrep. Para relembrar esse estudo clique aqui.
Ex.
• Morre-se de fome no Brasil.
• Assiste-se a filmes interessantes.
• Aqui se está satisfeito.
• Respeita-se a Robertoldo.

COLOCAÇÃO PRONOMINAL

A sintaxe de colocação ou topologia pronominal estuda a correta posição que os pronomes


átonos (o, a, os, as, lhe, lhes, me, te, se, nos, vos) e o pronome demonstrativo “o” (= aquilo) ocupam
em relação ao VERBO.

 PRÓCLISE = pronome antes do verbo → Não me irrite com suas futilidades!


 MESÓCLISE = pronome no meio do verbo →Irritar-me-ás sendo fútil assim.
 ÊNCLISE = pronome depois do verbo → Irrita-me sua futilidade.

O critério que orienta a colocação dos pronomes átonos é tanto de natureza sintática quanto
fonética.

FATORES DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL

I — ÊNCLISE = pronome após o verbo

1) Verbo no início do período:

Perdoe-me tudo o que lhe fiz.


Faço-lhe a gentileza de não falar alto.

2) Após vírgula ou ponto e vírgula:

Agora, passe-me o açúcar.


Já não é possível; vou-me embora.

II — PRÓCLISE = pronome antes do verbo

1) Com advérbios de negação (não, nunca, jamais...) e advérbios de modo geral (realmente,
agora, aqui, ontem, brevemente...):

A História mostra que Canudos não se rendeu jamais.


Nunca lhe pedira um favor sequer.
Aqui se vive tranquilamente.
Agora me passe o açúcar.

REDAÇÃO 121
Professor Wesley Pontes
2) Com a conjunção aditivo-negativa “nem”:

Não ouviu o que o outro lhe disse, nem lhe viu a cara.

3) Na sequência preposição em + verbo no gerúndio -ndo:

Em se tratando de política, é preciso que nos informemos continuamente.


Em o encontrando, abrace-o por mim.

4) Antes de verbos proparoxítonos → sílaba tônica → antepenúltima:

Nós o censurávamos por causa do seu mau comportamento.


Nós a fizéramos compreender por que estava errada.

5) Com a palavra que, explícita ou implícita:

Solicito que me entreguem os documentos necessários à elucidação do crime.


Solicito me entreguem os documentos necessários à elucidação do crime.
Marcelo esperava que o ajudassem a resolver os problemas de matemática.
Marcelo esperava o ajudassem a resolver os problemas de matemática.

A garota a que me refiro é sua colega de turma há muitos anos.


Que nos indagas?
A que te referes, rapaz?

6) Nas orações exclamativas (exprimem admiração, espanto, surpresa) e nas orações optativas
(exprimem desejo):

Como te odeio, velha bruxa! → oração exclamativa


Bons ventos o levem! → oração optativa

7) Com os seguintes pronomes:

— INDEFINIDOS (tudo, nada, ninguém, alguém, todos, algo, qualquer, etc)

Nada me decepciona mais do que a miséria a que é submetido o homem.


Tudo o aborrece nesta vida.
Ninguém lhe beijou a face.

— RELATIVOS (que, quem, onde, cujo, cuja, o qual, a qual, como, etc)

O local onde se encontraram os corpos era ermo.


Estes são os problemas aos quais me refiro: fome e miséria absolutas.

122
— INTERROGATIVOS (que, quem, quanto, quanta, qual)

Quem o condenou por tão pouco?


Quantos nos ajudarão diante de tantas dificuldades?

— DEMONSTRATIVOS (isto, aquilo, aquela, aquele, este, esse, etc)

Isto me pertence.
Tudo aquilo lhe falava fundo na alma.

III — MESÓCLISE = pronome no meio do verbo


Embora a mesóclise não seja corrente nem no português falado, nem no escrito, no Brasil, há
regra para o seu uso: quando o verbo estiver flexionado no futuro do presente ou no futuro do
pretérito do indicativo.
Mas não esqueça: só se usará a mesóclise nesse caso, se não houver fator de próclise no período.

1) FUTURO DO PRESENTE ( -rei ):

Encontrar-te-ei no cinema por volta das 20 horas. Não se atrase.


Far-me-ás feliz, se casares comigo.
Ajudar-te-ei a resolver todas as questões que se interpuserem.

Mas:

Não te encontrarei hoje. Portanto, não me esperes.


Nunca a abandonarei, mesmo que você queira.

2) FUTURO DO PRETÉRITO ( -ria ):

A Antônio, dir-lhe-ia a verdade, se o encontrasse ainda hoje.


Far-me-ias um favor?
Ajudá-lo-ia em quaisquer circunstâncias: noite e dia; sob sol ou chuva.

Mas:

Jamais lhe faria tal coisa. → com fator de próclise (jamais)


Isto me faria mal, caso eu insistisse em comer. → com fator de próclise (isto)
Em se tratando da colocação pronominal em locuções verbais (formadas por mais de um verbo),
sempre será correto colocar o pronome átono antes ou depois da locução, desde que se satisfaçam
duas condições básicas:

→ 1.ª = que o último verbo (o principal) esteja no infinitivo (- r) ou no gerúndio (- ndo);


→ 2.ª = que haja alguma palavra antes da locução verbal.

REDAÇÃO 123
Professor Wesley Pontes
Exemplos:

A) Com verbo principal no infinitivo (-r):

Ela pôde ajudar-me, quando dela eu mais precisei.


Ela me pôde ajudar, quando dela eu mais precisei.
Ela pôde me ajudar, quando dela eu mais precisei. → informal

Ela não pôde ajudar-me, embora quisesse muito.


Ela não me pôde ajudar, embora quisesse muito.
Ela não pôde me ajudar, embora quisesse muito. → informal
B) Com verbo principal no gerúndio (-ndo):

Os policiais estavam arriscando-se demasiadamente, ao entrarem na favela.


Os policiais se estavam arriscando demasiadamente, ao entrarem na favela.
Os policiais estavam se arriscando, ao entrarem na favela. → informal

Eu venho queixando-me reiteradamente do meu trabalho.


Eu me venho queixando reiteradamente do meu trabalho.
Eu venho me queixando reiteradamente do meu trabalho. → informal

Mas:

Venho queixando-me reiteradamente do meu trabalho.


Me venho queixando reiteradamente do meu trabalho. → ERRADO

Outras possibilidades:

Venho-me queixando reiteradamente do meu trabalho. → formal


Venho me queixando reiteradamente do meu trabalho. → informal

C) Com verbo principal no particípio (- do / -to): jamais se coloca pronome átono após particípio.

Ela tem-se queixado muito das dores de cabeça que vem sentindo. → CERTO
Ela se tem queixado muito das dores de cabeça que vem sentindo. → CERTO
Ela tem queixado-se muito das dores de cabeça que vem sentindo. → ERRADO

Eles não se têm dedicado aos estudos como deveriam. → formal


Eles não têm se dedicado aos estudos como deveriam. → informal
Eles não têm dedicado-se aos estudos como deveriam. → ERRADO

Feita-me a proposta, saí da sala, satisfeito. → ERRADO


Feita a mim a proposta, saí da sala, satisfeito. → CORRETO

Dada-me a explicação, não me contentei e redargui. → ERRADO


Dada a mim a explicação, não me contentei e redargui. → CORRETO

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