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O objetivo do autor do projeto está bem claro na sua fundamentação, qual seja,
propiciar aos advogados a possibilidade de descanso, paralisando o prazo processual
durante o feriado forense (situação que já resta prevista na Resolução/CNJ n. 08/2005)
(...)
Destarte, propõe então o ilustre Deputado Mendes Ribeiro que, a fim de
facilitar a atividade laboral destes profissionais e proporcionar-lhes seu merecido
período de descanso, que se considere que o período compreendido entre 20 de
dezembro e 6 de janeiro seja entendido como feriado no Poder Judiciário.
Com a devida vênia de meu amigo e conterrâneo permito-me discordar de sua tese e
proposição. Um dos maiores avanços da Reforma do Judiciário foi dar-lhe um caráter
de trabalho intermitente, facilitando a todos o acesso e a celeridade da justiça. A
dificuldade encontrada pelos advogados – bem entendido tratar-se de atividade da
iniciativa privada - no cumprimento dos prazos processuais dentro do período não pode
servir de abono para um retorno a situação de praticamente fechamento das Cortes.
Ou seja, não se pode cercear o serviço público em detrimento de um setor privado.”
(grifamos)”
(...)
Art. 2º O art. 175 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código
de Processo Civil, passa a vigorar com a seguinte redação:
‘Art. 175. (...)
Parágrafo único. Ficam suspensos todos os prazos, audiências e
quaisquer outras intercorrências processuais nos dias compreendidos
entre 20 de dezembro e 6 de janeiro. (NR)
Art. 3º o art. 62 da Lei nº 5.010, de 30 de maio de 1966, passa a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 62 (...)
I – os dias da Semana Santa, compreendidos entre a quarta-feira e o
Domingo de Páscoa;
II – os dias de segunda e terça-feira de carnaval; e
∗Glauce de Oliveira Barros é Pós Graduada em Direito do Trabalho; Assessora de Desembargador do TRT da 24ª
Região e Diretora Social da Anajustra
III – os dias 11 de agosto, 1 e 2 de novembro e 8 de dezembro.
Parágrafo único. Ficam suspensos todos os prazos, audiências e
quaisquer outras intercorrências judiciais nos dias compreendidos entre
20 de dezembro e 6 de janeiro. (NR)”
Data máxima vênia, com o respeito que tenho pelos nossos representantes eleitos,
analisando a questão pelo foco jurídico e buscando verificar qual o real objetivo a ser
atingido com a alteração legislativa que se propõe, chega-se à conclusão de que essa
mudança não trará a eficácia jurídica que se está a buscar.
Qual o critério utilizado para extinguir o feriado forense no âmbito do Judiciário Federal
quando o Judiciário Estadual fixa o mesmo período como feriado através de normas de
Organização Judiciária, com autorização do CNJ (Resolução n. 08/2005)?
O artigo 175 que se visa alterar, em sua redação originária prevê: “são feriados, para
efeito forense, os domingos e os dias declarados por lei.”
Art. 62. Além dos fixados em lei, serão feriados na Justiça Federal,
inclusive nos Tribunais Superiores:
Por outro lado, é bom ressaltar que o artigo 62 da Lei 5.010/66 só regulamenta os
feriados no âmbito do Poder Judiciário Federal, não se estendo ao Judiciário Estadual,
os quais têm regulamentação em normas de Organização Judiciária de cada Estado.
Lembramos aos Deputados e Senadores, que a lei deve sempre visar a finalidade
social. Ao contrário do que fundamenta o relator do Projeto Substitutivo, o feriado
forense com a suspensão do prazo processual não beneficia o interesse privado, mas
o público, pois proporciona o descanso, o direito à sadia qualidade de vida, que está
intrinsecamente ligado ao ambiente de trabalho saudável, cabendo ao poder público e
à coletividade em geral a sua preservação, artigo 225, da CF/88.
Como se constata, a Lei não pode ser editada sem que haja fundamento para o que
regulamenta. Ou seja, o prazo não pode ser suspenso se o Fórum estiver em pleno
funcionamento. Por isso o Legislador Processual, com todo o seu conhecimento
Jurídico e técnica legislativa, dispôs as questões na forma que se encontram
assentadas no CPC, pois que visualizou a lógica jurídica na norma posta à população.
Lembro ainda, que a questão do feriado forense não implica em situações que
abrangem apenas os advogados, mas toda a organização judiciária. Afirmo isto porque
o próprio Conselho Nacional de Justiça- CNJ, acabou por revogar o artigo 2º da
Resolução n. 03/2005, que vedava as férias coletivas no âmbito do Tribunal, conforme
pode ser constado na Resolução n. 24 de 2006. Os motivos da decisão revogatória,
∗Glauce de Oliveira Barros é Pós Graduada em Direito do Trabalho; Assessora de Desembargador do TRT da 24ª
Região e Diretora Social da Anajustra
que acabou por restaurar a situação anterior, podem ser consultados no endereço
eletrônico daquele Conselho.
Outra situação que também cabe aqui esclarecer na motivação trazida no PLC, é o fato
de haver confusão entre férias coletivas e feriado forense. Nas férias coletivas os
prazos se “interrompem”, e no feriado forense não há, até o momento, previsão legal
de interrupção ou de suspensão.
Assim, quando o projeto substitutivo fundamenta que não será permitido “o retorno da
situação de praticamente fechamento das Cortes”, ao argumento de o legislador
Constituinte, através da EC 45/2004, fez previsão da ininterrupção da atividade
jurisdicional, se olvida que a Emenda de reforma do Judiciário não revogou o artigo 62
da Lei 5.010/66 e tampouco o artigo 175 do CPC. Portanto, o Judiciário Federal,
embora tenha feriado forense no período estabelecido em lei, continua mantendo
ativamente os seus plantões para atendimentos emergenciais.
Por outro lado, em defesa do Judiciário, entendo pertinente lembrar aos nossos
representantes perante o Legislativo que o magistrado e seus auxiliares, também são
seres humanos e têm limitações físicas e psíquicas, merecendo ter qualidade saudável
de vida em seu ambiente de trabalho. O expediente do magistrado e auxiliares não
termina ao final de oito horas diárias, ou apenas se limita às audiências, esses seres
que proporcionam a prestação jurisdicional ao cidadão têm o dever de analisar o
processo, estudar uma solução justa e juridicamente possível ao caso posto em suas
mãos, se reciclar juridicamente, mormente quando se reforma a legislação de maneira
∗Glauce de Oliveira Barros é Pós Graduada em Direito do Trabalho; Assessora de Desembargador do TRT da 24ª
Região e Diretora Social da Anajustra
tão dinâmica, como ocorre em nosso ordenamento jurídico. Ainda, devem buscar nas
melhores doutrinas as novas teses jurídicas. Tudo isso não se faz em oito horas de
trabalho, mas durante a noite, final de semana, feriados, inclusive os forenses. Imagine
se esses trabalhadores, grupo em que me incluo, tivesses que atender o público 24
horas por dia: não haveria tempo para encerrar a prestação jurisdicional, e o conflito
jurídico se arrastaria pela eternidade, nunca se atingindo a pacificação social.
Após, constatarão que não precisa muito esforço para legalizar o que já esta
regulamentado pelo CNJ, basta apenas apresentar um novo substitutivo que altere a
redação do artigo 179, do CPC, que dispõe:
Para atender o interesse público e o bem estar social, altere a redação deste artigo,
para constar:
O mais, deve ficar como está, inclusive a redação do artigo 62, da Lei 5.010/66, pois
que sua alteração resultará situações jurídicas diferenciadas entre o Poder Judiciário
Federal e o Poder Judiciário Estadual.
Afronta, também, o artigo 93, XIII, da Carta Maior, que estabelece plantão permanente ,
com atividade ininterrupta. Assim, não se pode vedar a realização de audiências e
outras intercorrências judiciais, por simples legislação ordinária em evidente
inconstitucionalidade.
∗Glauce de Oliveira Barros é Pós Graduada em Direito do Trabalho; Assessora de Desembargador do TRT da 24ª
Região e Diretora Social da Anajustra