Você está na página 1de 92

2007

GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO


UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA

Leda Rouquayrol Guillemette


Santiago Herrero Villa
00 GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA

Leda Rouquayrol Lisboa-Portugal, na Faculdade de Direito


Guillemette é a Pre- da Universidade Federal do Ceará-
sidente de CEFICALE. Brasil, na Universidade Federal do Pará-
Ela é membro do Brasil, Universidad Católica Popular del
Conselho Científico Risaralda-UCPR-Pereira-Colômbia e
da Escola Superior Universidad Veracruzana-México.
de Comércio e De- Diplomada pela Universidade Paris
senvolvimento LYON 3 A e da Associação IX-Dauphine em estudos políticos e
Internacional Villes et Ports-AIVP. Doutora em civilização. Mestre em
Ela é Professora titular em Civilização Direito pela Faculdade de Direito da
latino-americana e membro do Grupo de Universidade Federal do Ceará.
Pesquisa Identidades e Culturas-GRIC da Especialista Nacional Destacada junto à
Faculdade de Relações Internacionais da Comissão Européia na Direção América
Universidade de LE HAVRE, onde é Diretora Latina da Direção Geral EUROPEAID-
do Master de Comércio com a América Serviço de Cooperação, onde era res-
Latina e Presidente do Departamento de ponsavel da elaboração do Relatório
linguas romanas. Anual da Comissão Européia sobre a
Ela ministra cursos sobre a Coopera- implementação da ajuda exterior na
ção no Institut des Hautes Etudes de América Latina, entre 2000 e 2003.
l’Amérique Latine-IHEAL e na UFR Foi Presidente do Comitê Francês
de Estudos Europeus da Universidade de Especialistas, constituido por
Sorbonne Nouvelle-Paris III, na Faculdade funcionários franceses destacados
de Direito da Universidade Católica de junto às Instituições européias.

Santiago Herrero ocupou diversos cargos na Comissão


Villa é jornalista européia, entre os quais o de res-
independente e es- ponsável pelas publicações em espan-
pecialista em co- hol (1982–1986). Chefe de imprensa da
municação sobre representação da Comissão européia
a União Européia. na Espanha (1987–1994) e responsável
Ele foi chefe da da ação de informação sobre o mercado
Informação e Comunicação do Serviço único “Citizens First” (1996–1997).
de Cooperação EuropeAid na Comissão Ele participou de numerosos seminários
Européia entre 1998 e 2004, responsável e encontros sobre a informação e a
pelo Relatório anual sobre a Ajuda comunicação da CE, em diversas
Exterior da CE. Universidades espanholas e européias
Ele organizou as redes de informação e foi Diretor da revista especializada
com as Delegações da CE na América em relações internacionais « Mundo
Latina e em outras regiões do mundo, Diplomático ». Atualmente é o Vice–
assim como o acompanhamento sis- Presidente de CEFICALE e professor no
temático da informação dos projetos Centro de Estudios de Posgrado para la
de cooperação com a adoção pela Administración de Empresas-CEPADE
Comissão do Manual de Visibilidade da Universidad Politécnica de Madrid
dos projetos financiados pela CE. Ele (Espanha).

02
GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA
00
Desde 1993, quando se lançou o primeiro
deles, o Al-Invest, estes programas
cobriram vários setores da cooperação
com um modelo representativo e
uma eficiência notável. Alguns dos
principais tópicos nasceram como fruto
do diálogo euro-latinoamericano no
mais alto nivel, através das Reuniões
de Cúpula bi-anuais entre a União
Européia, a América Latina e o Caribe.
Como exemplo de grande abrangência
citamos o programa EUROsocial,
APRESENTAÇÃO adotado na Reunião de Guadalajara
O ano de 2007 marca um novo realce em maio de 2004 e o mais recente de
nas relações de cooperação entre todos o EUROsoLAR, que responde ao
a União Européia (UE) e a América debate sobre problemas energéticos
Latina. Com a ampliação do número e ambientais, lançado na Reunião de
de Estados Membros para um total de Viena em 2006.
27, a União Européia inicia um novo
período financeiro plurianual (2007 – Esta terceira edição retoma, pois, os
2013) e sobretudo, entra em vigor este elementos acima mencionados, com o
ano o novo conjunto de bases legais mesmo estilo transparente e facilmente
que regem as relações de cooperação compreensivel que as anteriores.
da UE com o resto do mundo, incluindo Oferece, como seu próprio nome indica,
a América Latina. O novo instrumento um guia que permite ao acadêmico
de cooperação ao desenvolvimento é a e ao profissional do desenvolvimento
base jurídica principal, mesmo que não em qualquer de suas formas, adentrar-
seja a única, que regerá as relações se no mundo da cooperação entre a
de cooperação da UE com os outros Europa e a América Latina, compreender
países latino-americanos a partir de suas razões e seu funcionamento e
2007, levando-se em conta a declaração posteriormente, aprofundar através de
institucional “Consenso europeu sobre a estudo de casos concretos, graças às
política de desenvolvimento” de 2005. exaustivas referências bibliográficas em
formato eletrônico que conduzem aos
A mudança descrita no parágrafo documentos básicos para cada caso.
anterior, justifica a terceira edição desta O êxito das primeiras edições justifica
publicação, cujas edições anteriores a necessidade desta reedição corrigida
já se encontram esgotadas. Além do e atualizada.
mais, o ano 2007 é um bom período
para se fazer o balanço dos sucessos e
realidades dos chamados Programas Fernando Cardesa
Regionais, uma autêntica história de Diretor para a América Latina
êxito no âmbito da cooperação entre as Serviço de Cooperação EuropeAid
duas regiões. Comissão Européia

03
ÍNDICE

01 P.7
A União européia:
07
P.53
Os programas regionais na
breve resumo histórico. América Latina.
As instituições da União.

02 P.15
Uma política comum:
08 P.65
A gestão da cooperação:
a cooperação para o desenvol- os diferentes enfoques.
vimento ou ajuda exterior.
Seu alcance e importância.

03 P.21
As prioridades da 09 P.71
ajuda comunitária. O ciclo do projeto.

04 P.27
Os programas de 10 P.77
ajuda exterior. As fases do ciclo
do projeto: I

05 P.35
A tomada de decisões na 11 P.81
Comissão Européia. As fases do ciclo
A reforma da gestão da ajuda de projeto: II
exterior.

06 P.41
A situação atual da
12 P.85
Os resultados da cooperação
cooperação União União Européia América Latina:
Européia – América Latina. perspectivas de futuro.

A
P.87
Anexos :
Os documentos da cooperação
Glossário.
GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA
00
INTRODUÇÃO atividade. A sua articulação programá-
Esta publicação é uma reedição corrigida tica nas diferentes regiões do mundo
e atualizada em março de 2007 do livro e o processo de tomada de decisões
original, editado em maio de 2005 e ree- como instituição gestora desta ajuda,
ditado em fevereiro de 2006. Os critérios a Comissão Européia, ocupa os dois
de redação não foram modificados, mas capítulos seguintes, com uma particular
foram relacionadas todas as novidades atenção dada à reforma da assistência
importantes produzidas nestes últimos externa, lançada pela referida institui-
meses. A declaração interinstitucional ção em 2001 e seus resultados.
“Consenso Europeu para a política de
desenvolvimento” de 2005, as novas pers- A descrição da cooperação entre a UE e
pectivas financeiras 2007 - 2013 e suas a América Latina constitui um dos eixos
repercuções na cooperação da UE com fundamentais deste guia. A situação
a América Latina e muito especialmente relativa a cada uma das três grandes
a nova base jurídica desenvolvida nos regiões nas quais o continente caminha
novos programas horizontais e sobretudo para a integração, associada a uma
no novo Instrumento de cooperação breve descrição do estado das relações
para o desenvolvimento de 2007 que políticas, comerciais e de cooperação
substitui o famoso regulamento PVD/ALA. entre a UE e cada uma delas permi-
Foram também atualizados os documen- tirá ao leitor enquadrar devidamente
tos de referência e os Web Sites, corres- qualquer atividade bilateral, tanto nos
pondentes ao novo domínio eletrônico terrenos mais clássicos da luta contra
das instituições comunitárias. a pobreza como noutros setores mais
inovadores como o desenvolvimento
Como na primeira edição, esta publi- das novas tecnologias. São igualmente
cação começa também mostrando a descritos com detalhes nesta edição, os
configuração institucional vigente na chamados programas regionais que
União Européia de 27 membros e a sua veiculam uma boa parte da cooperação
evolução histórica. O primeiro capítulo européia na América Latina. Os objeti-
apresenta de uma forma clara e concisa vos, resultados alcançados e perspec-
as diversas instituições da União e tivas de cada um deles encontra uma
os mecanismos interinstitucionais que ampla descrição nesta edição.
permitem o seu funcionamento bem
como um relato da evolução dos seus O outro grande eixo é constituído por
mais de cinquenta anos de história. uma ampla introdução aos métodos de
Deu-se uma importância especial ao cooperação utilizados pelos grandes
campo da cooperação para o desenvol- doadores internacionais, entre os quais
vimento e às relações exteriores. a União Européia. O apoio orçamen-
tal, a abordagem setorial e, sobretudo,
Em seguida, explicam se as bases jurídi- o ciclo completo do projeto de coo-
cas e orçamentais que permitem à UE peração, a variante mais utilizada na
ser o primeiro contribuinte do planeta América Latina, aparecem pela pri-
no domínio da cooperação e enume- meira vez numa publicação que não
ram-se os campos prioritários desta se dirige a funcionários e gestores de

05
00 GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA

organismos internacionais. Cada fase Aproveitamos a ocasião para mos-


do referido ciclo é descrita de maneira trar nosso mais profundo agradeci-
compreensível para quem não faz disso mento à Fernando Cardesa, Diretor
o objeto central ou único do seu traba- para a América Latina no Serviço de
lho, juntamente com o método aplicado Cooperação EuropeAid, que compreen-
e a prioridade dos diferentes critérios deu a importância em dar continuidade
em jogo. Pensamos que estas páginas à publicação deste Guia tendo em vista
constituirão um importante contributo a sociedade civil e nos incitou a conti-
para o conhecimento universitário das nuar nosso trabalho em beneficio da
técnicas de cooperação mais utilizadas cooperação entre a União Européia e a
no mundo, para a sua melhor com- América Latina.
preensão e para o impulso do interesse
acadêmico pelo mundo da cooperação, Queremos registrar o nosso sincero agra-
bem como para uma maior oferta de decimento à Maria Sánchez-Gil Cepeda.
cursos sobre a matéria, lamentavel- Não podemos esquecer Vittorio Tonutti,
mente escassa atualmente. Mauro Mariani, Maria Esmeralda Almeida
Teixeira e Carla Cazzaniga que muito nos
Como anexos, figuram uma lista deta- ajudaram na compreensão dos meandros
lhada de todos os documentos (acordos, técnicos da cooperação comunitária para
acordos quadro, documentos de estra- o período de 2007-2013.
tégia por país e região, etc.) que servem
de base às relações entre a UE e cada Gostaríamos também de render homena-
país da América Latina e um glossário gem às prestigiosas Universidades euro-
que permitirá ao leitor mover se com péias e latino-americanas que souberam
maior comodidade entre os inúmeros compreender a importância de ter-se uma
acrônimos utilizados em monografias ferramenta didática atualizada.
e outras publicações da própria UE e Queremos expressar nosso reconheci-
de outros protagonistas neste campo, mento ao Consulado do Brasil em Le
desde a OCDE até ao Banco Mundial Havre. Sua ajuda logística possibilitou a
ou aos organismos especializados das confecção deste Guia.
Nações Unidas. Queremos aplaudir a ação de Benita
Ferrero-Waldner, responsável pelas
Nós, os autores deste livro, demos Relações Exteriores da Comissão Européia
muita importância ao acesso claro e que emprega toda sua energia para me-
direto aos documentos citados nas suas lhorar as relações entre a Europa e a
páginas. Em lugar de publicar uma América Latina. E à Peter Schweiger, seu
extensa bibliografia de textos difíceis de Chefe de Gabinete.
encontrar, preferimos utilizar o formato
electrônico que conduz diretamente ao Este Guia é também oferecido gra-
documento de referência, seja este um tuitamente no Web Site de CEFICALE,
Tratado internacional, um documento cujo endereço está na contracapa.
de estratégia por país ou um acordo
bilateral específico. Na era da Internet, Leda Rouquayrol Guillemette
esta é, no momento, a melhor opção. e Santiago Herrero Villa

06
01
A UNIÃO EUROPÉIA:
BREVE RESUMO HISTÓRICO.
AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO

INTRODUÇÃO nacional, dotada de capacidade para a


O que hoje conhecemos como União tomada de decisões na matéria, acima
Européia nasceu fundamentalmente dos governos dos seis Estados funda-
como uma grande aposta de paz numa dores. Acreditava Schuman que esta
Europa que se esforçava por esquecer comunidade das matérias estratégicas
as profundas marcas causadas por duas evitaria uma nova guerra entre a França
guerras mundiais. Em 9 de Maio de e a Alemanha. Além destes países, uni-
1950, Robert Schuman, ministro francês ram-se à CECA a Itália, a Bélgica, os
das Relações exteriores, pronunciou a Países Baixos e o Luxemburgo. Em 1957,
hoje famosa Declaração Schuman, que estes mesmos países ampliaram os seus
deu origem à um processo de integração horizontes de colaboração e assina-
continental que continua a avançar qua- ram o Tratado de Roma que instituiu a
litativa e quantitativamente. A primei- Comunidade Econômica Européia (CEE),
ra ferramenta escolhida para lançar o concebida tendo em vista a formação
processo de integração foi a partilha de de uma união aduaneira entre os Seis
recursos e políticas em torno das duas e a definição de uma série de políticas
grandes matérias primas estratégicas da comuns que seriam decididas e geridas
época. Nasceu assim, em 1951, com a pelas instituições de que este trata-
assinatura do Tratado de Paris que entrou do se dotava. Nascia também, com os
em vigor em 1952, a CECA (Comunidade mesmos fins e os mesmos participan-
Européia do Carvão e do Aço) que já tes, a Comunidade Européia da Energia
dispunha de uma Alta Autoridade trans- Atômica (EURATOM).

07
01 A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO

Em 1967, deu-se a chamada fusão maior ampliação da UE com a entrada


dos executivos pela qual a Comissão da Polônia, Hungria, República Checa,
Européia se converte na única insti- Eslováquia, Eslovênia, Lituânia, Letônia,
tuição responsável pela execução dos Estônia, Malta e Chipre.
três tratados e começa-se a falar das
Comunidades Européias, nomenclatura No primeiro dia do mês de janeiro
que se manteria até que com o Tratado de 2007, a Bulgária e a Romênia
de Maastricht, em 1992, se consti- elevaram à 27 o número de Estados
tuiu juridicamente a União Européia. Membros. A Croácia e a Turquia man-
Entretanto, os Seis tinham se convertido têm suas aspirações para entrar na
em Doze com as adesões do Reino União Européia. As demais repúblicas
Unido, Irlanda e Dinamarca em 1973, balcânicas surgidas da desintegração
Grécia em 1981, Portugal e Espanha da antiga Iugoslávia também podem
em 1986. converter-se em candidatos a médio
A primeira modificação importante prazo. O Conselho Europeu de 15 e 16 de
dos tratados fundadores produziu-se dezembro de 2005 tomou a decisão de
em 1987 com a adoção do Ato Único conceder o status de candidato à antiga
Europeu1 que possibilitou a consecução, República da Macedônia (FYROM).
em 1992, do Mercado Único Europeu,
um enorme esforço que requereu a
elaboração e aprovação de mais de AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO
trezentas normas jurídicas destinadas A União Européia foi frequentemente
a restabelecer e possibilitar na prática definida como “um estranho ser
as quatro liberdades fundamentais jurídico”, isto porque no seu longo
de circulação referentes a pessoas, caminho rumo à integração do velho
capitais, mercadorias e serviços por continente ela se dotou de um sistema
todo o território da UE. Estas liberdades institucional que não tem seu igual em
de base do Tratado de Roma tinham nenhuma organização internacional ou
sido afetadas como consequência da supra nacional. A Comissão, o Conselho
proliferação de respostas protecionistas e o Parlamento são as três principais
nacionais em reação à crise dos anos Instituições da UE, mas o trabalho e a
setenta, resultante do primeiro choque competência de cada uma difere da
petrolífero em 1973. tradicional repartição dos poderes nos
Estados democráticos e frequentemente
Em 1995, a Áustria, a Finlândia e a as informações que aparecem na midia
Suécia aderiram à União Européia. Em ou nas publicações acadêmicas mostram
1999, doze dos Quinze deram mais um um certo grau de desinformação sobre
passo para a integração ao criarem este assunto.
a União monetária e ao substituírem
as moedas nacionais pelo Euro, a A Comissão Européia2 executa as
moeda comum européia que entrou decisões políticas da UE, gere dire-
em circulação física a 1 de Janeiro de tamente parte do orçamento comu-
2002. Em 2007, a Eslovênia se uniu ao nitário, incluindo a ajuda exterior, e
euro. A 1 de Maio de 2004 teve lugar a tem o direito de iniciativa legislativa.

1 http://europa.eu.int/eur-lex/es/search/treaties_other.html
08 2 http://ec.europa.eu/
A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO
01
É formada atualmente por 27 membros larmente sensíveis como, por exem-
ou “comissários”, cada um procedente de plo, os assuntos fiscais ou as relações
um Estado Membro, que se comprome- internacionais, incluindo a relativamente
tem a atuar com total independência em recente Política Exterior e de Segurança
relação ao país de origem. A Comissão Comum (PESC) instaurada pelo Tratado
apresenta todo tipo de propostas ao de Amsterdã.
Conselho e ao Parlamento. É, ao mesmo Cada um dos Estados Membros da UE
tempo, a guardiã dos Tratados e assegu- dispõe de um número de votos atribuidos
ra o respeito dos Estados Membros pela em função de sua população, com uma
legislação comunitária vigente (Diretivas ponderação feita para os menores. Desde
e Regulamentos). Em caso de des- novembro 2007, a repartição dos votos é
cumprimento por parte destes últimos, feita da seguinte maneira:
pode-se inclusive impor-lhes pesadas
sanções econômicas. A Comissão é,
Alemanha,
pois, responsável pela elaboração de
França, Itália e Reino
todas as propostas de cooperação (prin- Unido : 29 votos
cipalmente os regulamentos de base
para cada região ou tema específico) e Espanha e Polônia : 27 votos
pela sua execução, uma vez aprovadas Romênia : 14 votos
pelo Conselho e pelo Parlamento. O
Paises Baixos : 13 votos
Presidente da Comissão é designado
por um período de cinco anos por con- Bélgica, República Tcheca, Grécia,
senso entre os Chefes de Estado e de Hungria e Portugal : 12 votos
Governo dos 27 e é responsável pela Áustria, Bulgária e Suécia : 10 votos
distribuição de competências entre os
Dinamarca, Irlanda, Lituânia, Eslovaquia,
membros da Comissão, escolhidos pelos
Filândia : 7 votos
Estados Membros.
A Comissão está organizada em dire- Chipre, Estônia, Letônia, Luxemburgo
ções gerais, cada uma responsável por e Eslovênia : 4 votos
uma área concreta de atividade, como Malta : 3 votos
a concorrência, o ambiente ou a pesca,
de forma análoga aos ministérios de TOTAL 345 VOTOS
qualquer Estado.

O Conselho de Ministros3 é o verda- Esta repartição, estabelecida pelo


deiro órgão legislativo da União Euro- Tratado de Nice, significa que a maioria
péia. Reúne-se por setores (Agricultura, qualificada para que o Conselho adote
Economia e Finanças, Relações Exterio- uma decisão é de 232 votos (73,9%
res, entre outros) e cada um dos Estados do total) que devem representar uma
Membros é representado pelo seu minis- maioria de Estados Membros (o que
tro do ramo. Discute e adota (ou rejeita) reforça as possibilidades dos Estados de
as propostas da Comissão por maioria menor porte) e supõe pelo menos 62%
qualificada em quase todos os campos da população total da União Européia.
e por unanimidade em alguns particu- Este triplo critério foi alvo de ataques

3 http://ue.europa.eu 09
01 A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO

desde o momento de sua adoção em ridades de atuação para a Comissão


Nice. Este é bem mais simples no e o Conselho. É importante evitar a
Tratado Constitucional (dupla maioria confusão entre o Conselho Europeu e o
dos Estados Membros e população), que Conselho da Europa, uma organização
atravessa atualmente uma problemática que não pertence às instituições da
fase de ratificação. União Européia, que trabalha funda-
mentalmente no campo dos direitos
O dia a dia do Conselho compõe-se de humanos e que compreende países que
diversas reuniões setoriais dos repre- não são membros da UE, incluindo, por
sentantes dos Estados Membros no exemplo, a Rússia e a Turquia.
chamado Coreper (Comité de Repre-
sentantes Permanentes) que, no setor O Parlamento Europeu (PE)5, eleito
da cooperação, controla a execução do por sufrágio universal direto de cinco em
orçamento por parte da Comissão. São cinco anos desde 1979, foi aumentando
também representantes dos Estados os seus poderes reais com os sucessivos
Membros os membros dos diversos tratados. É composto atualmente por
comitês de gestão e acompanhamento 785 eurodeputados6 eleitos em cada um
de todos os programas geográficos de dos 27 Estados Membros, reunidos em
ajuda exterior, que aprovam as pro- grupos políticos e não nacionais. Ainda
postas específicas de financiamento está longe das tradicionais funções
dos programas e projetos apresentadas legislativas dos parlamentos nacionais
pela Comissão. já que é o Conselho quem exerce este
poder. De qualquer maneira, e apesar
Desde 2003, a reunião específica “Con- da longa lista de setores em que o
selho e desenvolvimento” não mais se chamado procedimento de co-decisão
realiza. Em seu lugar os temas relativos lhe concede papel co-legislativo com
à cooperação e à assistência exterior o Conselho, o principal poder do PE
são discutidos no GAERC (Conselho de encontra-se na sua capacidade final
Assuntos Gerais e Relações Exteriores), para aprovar ou bloquear o orçamento
mesmo se a agenda destas reuniões anual da UE (cerca de cem bilhões de
reserva um lugar importante à política euros) e impor a sua opinião mediante
do desenvolvimento nos meses de abril emendas às propostas da Comissão
(plano de ação) e novembro (relatório e às posições dos Estados Membros.
anual). Quanto ao Coreper, as reuniões As decisões relativas à politica de
do grupo de trabalho sobre o desen- cooperação não são submetidas ao
volvimento se mantém com discussões procedimento de co-decisão do Parla-
assíduas com a Comissão. mento. Com efeito, o Conselho é a
Merece particular menção o Conselho Instituição que tem o autêntico poder
Europeu4, que reúne quatro vezes por de decisão. A Comissão é a responsavel
ano os Chefes de Estado e de Governo da execução, controlada à posteriori
dos Estados Membros e que estabelece pelos Comitês parlamentares citados
as grandes diretrizes políticas e as prio- mais adiante.

4 http://www.consilium.europa.eu/cms3_fo/showPage.asp?id=429&lang=ES&mode=g
5 http://www.europarl.europa.eu
6 http://www.europarl.europa.eu/members/expert.do;jsessionid=712FFFE108F7FCAE9BF1D
10 CBBD059BFDA.node2?language=PT
A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO
01
Desde a adoção do Tratado de Maas- O Comitê das Regiões da Europa
tricht, o PE aprova a composição de cada (CdRE)9 reúne representantes das mais
nova Comissão e pode retirar-lhe a sua de duzentas regiões que compõem
confiança, provocando a nomeação de os Estados Membros. Ambos emitem
um novo executivo comunitário. O PE pareceres de natureza diversa, sempre
exerce, igualmente, o poder de controle com carácter consultivo, que não são
sobre a Comissão, mediante as diversas vinculativos ou obrigatórios para as
comissões parlamentares. No campo da instituições principais.
ajuda exterior, são particularmente impor-
tantes as Comissões de Orçamentos O Tribunal de Justiça10 dirime os
(COBU), de Controle Orçamental pleitos interinstitucionais e fixa juris-
(COCOBU), de Desenvolvimento e de prudência comunitária na interpretação
Relações Exteriores. dos Tratados e na aplicação do direito
derivado dos mesmos. As suas senten-
As duas primeiras complementam o ças são de cumprimento obrigatório em
seu papel com o Tribunal de Contas7 todo o território da UE e delas não cabe
da UE, que aprova e emite críticas recurso. Normalmente não tem incidên-
anualmente à execução do orçamento cia direta nas relações externas da UE
comunitário, incluindo as rubricas salvo se houver uma denúncia por parte
destinadas à ajuda exterior, durante o de um agente europeu que considere
“procedimento de desencargo”. que a legislação fundamental da União,
ou os seus próprios direitos, foram
Por último, citemos aqui a capacidade lesados pela atuação da Comissão ou
do Parlamento Europeu para enviar do Conselho.
missões à países terceiros com o fim de
recolher informações sobre a situação O Banco Central Europeu11 foi criado
política interna em caso de conflito e a em 1998 a fim de garantir a gestão do
sua colaboração com a Comissão para a euro, a moeda única então adotada
realização das missões de observação de por doze dos quinze Estados Membros.
organização e modo de gerenciamento Esse organismo é o responsável pela
eleitoral. definição e pela execução da política
monetária, da chamada zona euro
O papel das restantes instituições da UE (formada dos 13 Estados Membros que
é relativamente modesto no campo da adotaram o euro) o que significa uma
cooperação para o desenvolvimento. importante cessão de soberania da
O Comitê Econômico e Social Euro- parte destes países.
peu (CESE)8 é um órgão representativo
das forças sociais e econômicas dos Por último, vale a pena citar o Banco
Estados Membros (organizações patro- Europeu de Investimento (BEI)12,
nais, sindicatos e outros representantes instituição financeira da UE que pode
da sociedade civil), que inspirou recen- também agir fora da União mediante
temente a criação de uma instituição a concessão de empréstimos ou
homônima no Brasil. bonificações de juros. A sua atividade,

7 http://www.eca.europa.eu 10 http://www.curia.europa.eu/pt/transipage.htm
8 http://www.ces.europa.eu 11 http://www.ecb.int
9 http://www.cor.europa.eu 12
11
http://www.eib.europa.eu
01 A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO

como a do Banco Mundial, é creditícia, aqui a política agrícola comum (PAC),


isto é, em nenhum momento concede surgida da necessidade de assegurar
subvenções a fundo perdido como a auto suficiência alimentar em tempos
os diversos programas de assistência difíceis e proporcionar rendimentos
geridos pela Comissão. Em alguns estáveis aos agricultores europeus para
casos, porém, o seu papel é muito evitar, como consequência, o abandono
importante especialmente tendo em vista do campo.
o desenvolvimento do setor privado de
um país receptor de ajuda comunitária. Outros exemplos seriam a política da
Entre 2000 e 2003, o BEI financiou concorrência, que concede à Comissão
projetos num montante de 1,104 bilhão Européia a capacidade de autorizar todo
de euros na América Latina. o tipo de fusões entre empresas a fim
de evitar situações de monopólio ou
oligopólio lesivas para os consumidores,
AMPLIACÃO E APROFUNDAMENTO ou a política comercial, que confere à
Nos últimos anos, a UE não cresceu mesma instituição o poder para negociar
somente quanto ao número de mem- e concluir acordos, em nome de todos
bros. Reforçou também a sua integra- os Estados Membros, na Organização
ção através dos Tratados de Maastricht Mundial do Comércio (OMC) ou com
(1992)13, de Amsterdã (1997)14, de Nice países terceiros ou organizações
(2001)15 e, mais recentemente, atra- regionais como o Mercosul.
vés do Tratado que estabelece uma
Constituição para a Europa, aprovado Quanto às relações exteriores, a
pelos 25 Estados Membros em Junho União Européia encontra-se a meio
de 2004, assinado em Roma a 29 de do caminho de vir a falar com uma só
Outubro do mesmo ano e atualmente voz nos diversos fóruns internacionais.
em fase de ratificação16. De particular Não esqueçamos que a maior quota
importância no caso que nos ocupa de poder real reside nas capitais dos
reveste-se o Tratado de Maastricht (em Estados Membros que se expressam
vigor desde 1993) estabelecendo pela no Conselho de Ministros, como já
primeira vez uma base jurídica especí- vimos. Se nos assuntos de comércio
fica para a política de desenvolvimento internacional a Comissão européia
da UE (artigos 130o U a 130o Y) se bem representa e fala em nome de toda a
que as bases de referência fundamen- UE, não se pode dizer o mesmo das
tais estivessem já contidas no primeiro relações internacionais strictu sensu
Tratado de Roma, assinado em 1957 onde existem discordâncias à volta de
(ver capítulo 2). alguns temas. Não obstante, a Comissão
negocia em nome da UE todo o tipo de
Os sucessivos tratados configuraram uma acordos internacionais, com conteúdos
série de áreas em relação às quais a UE não somente comerciais, que devem
se dotou de autênticas políticas comuns. depois ser aprovados pelo Conselho e
Como exemplo mais efetivo basta citar ratificados pelo Parlamento Europeu.

13 http://europa.eu.int/eur-lex/pt/treaties/dat/EU_consol.html
14 http://europa.eu/scadplus/leg/pt/s50000.htm
15 http://europa.eu/scadplus/nice_treaty/index_es.htm
12 16 http://www.europa.eu/roadtoconstitution/index_pt.htm
A UNIÃO EUROPÉIA: BREVE RESUMO HISTÓRICO. AS INSTITUIÇÕES DA UNIÃO
01
No que se refere à cooperação para o um Serviço Externo da UE que utilizará
desenvolvimento e à ajuda humanitária, esta ampla rede. As atuais delegações
o sistema da União Européia apresenta da Comissão converter-se-ão, passado
a coexistência de dispositivos comu- algum tempo, em delegações da União
nitários, geridos pela Comissão, com Européia.
organismos dos Estados-Membros.

O Serviço Humanitário da UE (conheci-


do ainda pela sua antiga sigla ECHO17)
é o primeiro doador a nível mundial
no setor. As suas contribuições com-
plementam-se com as dos diferentes
organismos humanitários dos Estados
Membros cada vez que uma catástrofe
natural assola um canto do planeta
(furacões, terremotos, fomes, etc.). Algo
semelhante sucede com a cooperação
para o desenvolvimento ou a ajuda
externa da União Européia.

A Comissão conta com serviços que


delineiam e definem a estratégia de
cooperação com mais de 140 países
e territórios repartidos por todos os
continentes. Conta também com uma
Direção Geral (Serviço de cooperação
EuropeAid) responsável pela gestão
integral da ajuda externa de cerca de
mais de 7 bilhões de euros por ano,
excluindo as ajudas prévias à adesão
concedidas aos países candidatos.

É importante mencionar aqui a existência


de uma centena de delegações da
Comissão Européia em quase todos
os países com que a UE coopera.
Como se verá posteriormente, o papel
destas delegações é fundamental
tanto nas relações bilaterais como no
desenvolvimento da ajuda externa da
UE, muito especialmente na América
Latina (ver guias ALFA e Alban). O
novo Tratado Constitucional da União
Européia prevê claramente a criação de

17 http://ec.europa.eu/echo/index_en.htm
13
BREVE CRONOLOGIA
DA UNIÃO EUROPÉIA
9 de Maio de 1950: Robert Schuman, ministro francês das relações exteriores
propõe a idéia de uma utilização comum européia de matérias essenciais. É a
chamada Declaração Schuman.

23 de Julho de1952: Começa o funcionamento da Comunidade Européia do


Carvão e do Aço (Tratado de Paris, assinado a 18 de Abril de 1951).

25 de Março de 1957: É assinado em Roma o Tratado CEE (Comunidade


Econômica Européia) que entra em vigor a 1 de Janeiro de 1958. Ao mesmo tempo
é assinado o Tratado da Comunidade Européia de Energia Atômica (EURATOM).

1968: Fusão dos executivos. A nova Comissão Européia converte-se na gestora e


guardiã dos três tratados.

1973: Ampliação das Comunidades Européias à Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.

1973: Primeiro “choque petrolífero”.

1981: A Grécia adere às Comunidades Européias.

1986: Espanha e Portugal aderem às Comunidades Européias.

1987: Assinatura do Ato Único Europeu que levará ao Mercado Único Europeu em 1992.

1989: Com a reunificação alemã, as Comunidades Européias acolhem a antiga


República Democrática Alemã.

1992: Assinatura do Tratado da União Européia (Tratado de Maastricht) que


refunde os tratados anteriores e dota a UE de personalidade jurídica própria no
plano internacional. Entrou em vigor a 1 de Novembro de 1993.

1995: Adesão da Áustria, Suécia e Finlândia.

1997: Assinatura do Tratado de Amesterdã, que possibilita a União Econômica e


Monetária (UEM). Entrou em vigor a 1 de Maio de 1999.

1999: Criação do euro, moeda única européia, passo decisivo para a UEM.

2001: Assinatura do Tratado de Nice que possibilita a ampliação da UE a leste


com uma nova distribuição de votos no Conselho e de lugares no Parlamento
Europeu. Entrou em vigor a 1 de Fevereiro de 2003.

2002: O euro entra em circulação física em doze dos Estados-Membros da União


Européia.
2004: Ampliação da União Européia a Chipre, Malta, Lituânia, Letônia, Estônia, Po-
lônia, Hungria, República Checa, Eslováquia e Eslovênia. Constitui-se a Europa dos 25.

2004: Assinatura em Roma do Tratado que estabelece uma Constituição para a


União Européia.

2005: Durante a fase de ratificação foram produzidos resultados negativos nos


referenda da França e dos Paises Baixos. Estes resultados criam algumas incerte-
zas sobre o futuro imediato da UE.

2007: A Bulgária e a Romênia entram na União Européia.


02
UMA POLÍTICA COMUM: COOPERAÇÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO OU AJUDA
EXTERIOR. SEU ALCANCE E IMPORTÂNCIA

Na sequência da adoção do Tratado da Todos estes princípios e orientações


União Européia (Maastricht), em 1993, a foram reforçados pelo Consenso de
ajuda ao desenvolvimento converteu-se Bruxelas e pela Declaração de Paris
formalmente em política compartilhada. sobre a eficiência da ajuda exterior18.
Os Estados-Membros devem coordenar
entre si as políticas de cooperação
nacionais, bem como com a Comissão BASES LEGAIS
Européia e com os outros grandes or- Como qualquer organização dotada de
ganismos de desenvolvimento. personalidade jurídica, as instituições
da UE necessitam de bases legais para
Os quatro grandes objetivos da política o seu funcionamento. No caso da assis-
européia de cooperação são: tência externa, existem dois tipos de
- Estimular o desenvolvimento político, bases legais, que mantêm a diferença
econômico e social sustentável; terminológica acima desenvolvida. Os
- Facilitar a integração dos países em países ACP têm como base legal o
desenvolvimento na economia mun- chamado Acordo de Cotonu, concluído
dial; em Fevereiro de 2000 e em vigor desde
- Reduzir a pobreza nos países em de- 2003. Este acordo substituiu sucessi-
senvolvimento; vas convenções, desde a Convenção
- Consolidar a democracia, o Estado de de Iaundé, passando pela primeira
Direito, o respeito pelos direitos huma- Convenção de Lomé (1) assinada em
nos e pelas liberdades fundamentais. 1975, da qual resultou a criação do

18 http://www1.worldbank.org/harmonization/Paris/ParisDeclarationSpanish.pdf
15
02 UMA POLÍTICA COMUM: COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO OU AJUDA EXTERIOR. SEU ALCANCE E IMPORTÂNCIA

grupo ACP, até à quarta e última revisão documentos estratégicos (ver capítulo 5)
desta (Lomé IV, 1989), que contou, e os planos de ação regionais e nacio-
nomeadamente, com a adesão do Haiti nais, documentos que são elaborados em
e da República Dominicana ao referido estreita colaboração entre a Comissão
grupo. Européia e as autoridades nacionais do
Como se verá no capítulo 4, o Acordo de país receptor.
Cotonu é um autêntico tratado interna-
cional no campo da cooperação, que Acrescem outras medidas legais que
liga os vinte e sete Estados-Membros enquadram atividades de cooperação
da UE a 77 países das três regiões. específicas da UE, como os direitos
A Assembléia Paritária UE – ACP é o humanos, a igualdade entre os gêneros
principal fórum de discussão e debate ou o ambiente. No total, a UE dispõe
político sobre a utilização dos fundos e atualmente de 11 bases legais que
sobre o desenvolvimento do Acordo de habilitam a Comissão Européia a exe-
Cotonu. O seu instrumento financeiro, cutar a assistência externa em repre-
o Fundo Europeu de Desenvolvimento sentação da UE.
(FED), não faz parte do orçamento Merecem uma mensão à parte, “os
comunitário, sendo constituído com planos de ação” ou conjunto de medidas
base em contribuições de cada adotadas pelas Instituições comunitárias
Estado-Membro, e é gerido mediante como resposta às situações de crise ou
complexos mecanismos nos quais estão a conclusões das Grandes Reuniões
representados os países beneficiários. de Cúpula internacionais. Em alguns
Pode-se visualizar a situação e o aporte casos, estes planos de ação podem
teórico de cada um dos 27 Estados chegar a dar lugar inclusive a bases
Membros ao FED, do ponto de vista legais específicas, dotadas de linhas
da ampliação da UE, através do site: próprias de financiamento, como foi o
http://ec.europa.eu/development/ caso da Conferência de Pequim sobre
body/publications/docs/brochure_ mulheres e desenvolvimento, que está
consequences_enlargement_en.pdf na origem da linha orçamentária “ações
de gênero”. No quadro da última página
As bases legais que regem a assistên- deste capítulo enumeramos as mais
cia da UE a todas as outras regiões do importantes destas reuniões de alto
mundo são regulamentos do Conselho nivel que deram lugar ao lançamento de
e do Parlamento Europeu, estabelecidos um plano de ação específico por parte
por proposta da Comissão. Estes regu- da União Européia.
lamentos (os atualmente em vigor para
cada uma das regiões são especificados
no capítulo 4) não têm o estatuto de PROCEDIMENTOS DE FINANCIAMENTO
acordos internacionais, mas constituem Acabamos de ver a moldura legislativa.
o aparelho jurídico que rege as relações Esta, porém, de pouco serviria se
de cooperação entre a UE e os Estados carecesse das adequadas dotações
receptores da cooperação comunitária. financeiras e dos procedimentos corres-
Cada regulamento «geográfico» prepara pondentes para proceder à autorização
as bases sobre as quais se erguem os e execução da despesa.

16
UMA POLÍTICA COMUM: COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO OU AJUDA EXTERIOR. SEU ALCANCE E IMPORTÂNCIA
02
O orçamento da UE, através do seu títu- ajuda exterior da Comunidade Européia,
lo IV, dedica anualmente cerca de 7,5 responsabilidade da Comissão, que gere
bilhões de euros à assistência externa. cerca de 7,5 bilhões de euros anuais
Grosso modo, a disponibilidade finan- neste domínio, incluindo o FED. Quando
ceira anual, dentro do orçamento, para se fala de União Européia no campo da
todos os países terceiros, à excepção ajuda ao desenvolvimento, referimo-
dos candidatos à adesão, situa-se em nos a esta contribuição comunitária
cerca de 4 bilhões de euros anuais, somada ao conjunto das contribuições
aos quais há que acrescentar cerca bilaterais dos Estados-Membros, geri-
de 3,5 bilhões do Fundo Europeu de das por cada um deles em função
Desenvolvimento para os países e terri- de critérios e mecanismos nacionais.
tórios da África, Caribe e Pacífico. Atualmente, trabalha-se na identificação
e melhoria de instrumentos precisos de
Os mecanismos de gestão destes fun- coordenação, de complementaridade
dos são semelhantes aos de qualquer e de coerência entre as ações geridas
administração pública. Com base nas pela Comissão (comunitárias/CE) e
previsões estabelecidas nos documen- as atividades financiadas diretamente
tos de estratégia regionais e nacionais pelos organismos nacionais de coope-
decidem-se as somas que se poderão ração dos Estados-Membros. O apoio
autorizar em cada exercício financeiro orçamentário na sua abordagem seto-
(de Janeiro a Dezembro para os pro- rial, do qual se falará mais adiante,
gramas originados por um regulamento é um dos mecanismos que permitirá
e de Maio a Abril para o FED). Estas melhorar as sinergias dos diferentes
quantidades integram-se no orçamento doadores, incluindo neste caso os
anual da UE, na coluna «dotações de restantes organismos internacionais
autorização». A evolução das autoriza- como o Banco Mundial ou os diferentes
ções anuais abertas e em vigor em cada organismos especializados das Nações
setor determina a segunda coluna do Unidas, principalmente o Programa das
orçamento comunitário, a das «dotações Nações Unidas para o Desenvolvimento
de pagamento», isto é, as quantidades (PNUD).
que se poderão desembolsar realmente
em cada exercício. A desconcentração da ajuda exterior
da CE, gerida a partir de agora pelas
Delegações da Comissão, pressupõe
UNIÃO EUROPÉIA E COMUNIDADE um passo em frente de indiscutível
EUROPÉIA NA AJUDA AO DESEN- importância no sentido da coordenação
VOLVIMENTO da ajuda ao desenvolvimento de toda
Em quase todos os campos de ativi- a comunidade internacional de forma
dade existe uma certa tendência a conseguir-se uma maior eficácia da
para confundir os conceitos de União mesma, que foi reconhecida como tal
Européia e Comunidade Européia. por todos os outros protagonistas e
No caso presente, a confusão não é pelos países que a recebem.
meramente um matiz terminológico Quanto à cooperação ao desen-
ou jurídico. Esta publicação trata da volvimento dos Estados Membros da

17
02 UMA POLÍTICA COMUM: COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO OU AJUDA EXTERIOR. SEU ALCANCE E IMPORTÂNCIA

UE, sua repartição é muito irregular, conjunto internacional e como veremos


assim como a porcentagem de seu PIB mais adiante a encruzilhada em que os
dedicado à esta finalidade. países latino americanos se encontram.
Estes são considerados como “Middle
A título19 de informação deve-se visitar Income Countries” ou países de renda
as páginas Web das diferentes agências média, em comparação com os grupos
de cooperação nacionais, assim como de países mais pobres do planeta.
as das diferentes organizações inter-
nacionais citadas nestas páginas espe- Outros dados para assimilar-se a
cialmente às dedicadas à Reunião de atividade comunitária no campo
Cúpula de 200520 das Nações Unidas, da assistência exterior e da ajuda
em que a ajuda ao desenvolvimento foi ao desenvolvimento podem ser en-
um dos temas importantes da agenda, contrados nos sucessivos informes
mesmo que os resultados não fossem anuais publicados pela Comissão
os pretendidos pela maioria dos países Européia desde 2001 até a presente
em desenvolvimento ali presentes. data22.

ALCANCE E IMPORTÂNCIA DA
AJUDA DA UE
Em seu conjunto a União Européia
(CE mais Estados Membros) constitui
o primeiro doador de ajuda oficial
ao desenvolvimento (AOD-ODA) do
planeta, com algo mais da metade dos
fluxos de AOD mundiais. Se isolarmos
as quantidades que se encontram sob a
gestão comunitária encontraremos que
a Comissão européia é responsavel por
quase a quinta parte da AOD mundial.

Em sua publicação EU Donor Atlas


(mapping Official Developpement
Assistence)21 publicado em fins de
2006, cuja leitura e compreenção é
fortemente aconselhada, a CE oferece
uma série de dados interessantes para
se entender melhor os fluxos de ajuda
oficial ao desenvolvimento incluídos
aqueles destinados à América Latina.
Lendo essa publicação compreende-se
a importância relativa de cada região no

19 Por exemplo: Espanha: www.aeci.es . Veja-se as demais na publicação "EU Donor Atlas"
20 Por exemplo, http://www.un.org/spanish/millenniumgoals/
21 http://ec.europa.eu/development/body/publications/descript/pub7_29_en.cfm
18 22 http://ec.europa.eu/europeaid/reports/index_en.htm
PLANOS DE AÇÃO ADOTADOS PELA UNIÃO EUROPÉIA COMO
CONSEQUÊNCIA DE CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DAS NAÇÕES
UNIDAS DESDE 1992

RIO 1992: Convenções sobre as Alterações Climáticas e a Biodiversidade.

VIENA 1993: Promoção e Proteção dos Direitos Humanos.

CAIRO 1994: População e Desenvolvimento.

PEQUIM 1995: Mulheres e Desenvolvimento.

COPENHAGEM 1995: Desenvolvimento Social.

ROMA 1996: Ajuda Alimentar.

ISTAMBUL 1996 (Habitat II): Compromisso para alcançar os objetivos do


Programa Habitat II das Nações Unidas.

NOVA IORQUE 1997: Ambiente – Reunião de Cúpula da Terra + 5.

NOVA IORQUE 1999: População e Desenvolvimento, centrado na saúde reprodu-


tiva e materna, redução do aborto e prevenção do HIV/SIDA.

GENEBRA 2000: Desenvolvimento Social + 5.

NOVA IORQUE 2000: Reunião de Cúpula do Milênio. Declaração “Objetivos de


Desenvolvimento do Milênio”.

BRUXELAS 2001: Terceira conferência das Nações Unidas sobre os países menos
desenvolvidos23 (LDC). Iniciativa da UE sobre a liberdade de comércio, exceto
armas, para os países menos desenvolvidos (Everything But Arms)24

MONTERREY 2002: Financiamento para o Desenvolvimento. Compromisso dos


Estados-Membros da UE no sentido de alcançar 0,33% do respectivo PIB para a
ajuda oficial ao desenvolvimento (ODA) a fim de atingir os 0,39% como média em
2006, a caminho do objetivo dos 0,7%25.

JOANESBURGO 2002: Reunião de Cúpula Mundial para o Desenvolvimento


Sustentável. O acesso à água potável, o saneamento e os assentamentos humanos
passam a formar parte das prioridades absolutas da política de desenvolvimento
das grandes organizações internacionais26.

23 http://www.unctad.org/sp/docs/aconf191d13.sp.pdf
24 http://ec.europa.eu/comm/trade/issues/global/gsp/eba4_sum.htm
25 http://www.un.org/spanish/conferences/ffd/
26 http://www.un.org/spanish/conferences/wssd/basicinfo.html


02 UMA POLÍTICA COMUM: COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO OU AJUDA EXTERIOR. SEU ALCANCE E IMPORTÂNCIA

20
03
AS PRIORIDADES DA
AJUDA COMUNITÁRIA

A história da cooperação para o desen- de medir os progressos conseguidos


volvimento da CE foi afetada, ao longo no caminho para a realização destes
dos anos, por várias mudanças de objetivos, a Comissão Européia definiu
orientação e de filosofia fundamental, – em estreita colaboração com os
que responderam à múltiplas razões. Estados-Membros e outras organizações
As estratégias regionais podem tam- internacionais, como o Banco Mundial28,
bém ver-se modificadas por acordos o Programa das Nações Unidas para o
concluídos por ocasião de reuniões de Desenvolvimento29 (PNUD) ou o Comitê
alto nível como, por exemplo, a Reunião de Assistência ao Desenvolvimento30
de Cúpula de Guadalajara em Maio de (CAD) da OCDE – um conjunto mínimo de
2004, que definiu a coesão social como 10 indicadores chave (ver quadro anexo),
uma prioridade para o desenvolvimento extraído da lista de 48 indicadores dos
sustentável da América Latina e lançou Objetivos do Milênio.
o programa EURosociAL destinado a
esta finalidade. A seleção destes indicadores foi
feita tendo muito particularmente em
Atualmente, toda a ajuda exterior da CE conta vários fatores tais como a sua
gira em torno da redução da pobreza no disponibilidade, fiabilidade e frequência
mundo expressada através dos Objetivos com que eram citados pelos países
de Desenvolvimento do Milênio27. A fim receptores de ajuda nas avaliações e

27 www.un.org/milleniumgoals
28 http://www.bancomundial.org/
29 http://www.undp.org/spanish/
30 http://www.oecd.org/department/0,2688,en_2649_33721_1_1_1_1_1,00.html
21
03 AS PRIORIDADES DA AJUDA COMUNITÁRIA

revisões periódicas dos seus documentos Alienação: fiabilidade dos sistemas


de estratégia de redução da pobreza31 nacionais, alinhamento dos fluxos de
(Poverty Reduction Strategy Papers - ajuda com as prioridades do país, refor-
PRSP). A evolução de seis dos dez ço de capacidades de gestão com apoio
indicadores (3, 4, 5, 7, 8 e 9) é medida de programas coordenados, utilização
anualmente, enquanto os outros quatro dos sistemas nacionais de provisão e
são medidos com uma periodicidade gestão de finanças públicas, reforço de
superior. Seis indicadores têm relação capacidade evitando estruturas parale-
direta com o bem-estar das crianças e las, porcentagem de desembolsos libera-
três deles têm uma dimensão específica dos com ajuste ao previsto e porcentagem
relacionada com o gênero. Além disso, da ajuda desligada.
leva-se em conta a evolução do PIB per Harmonização: uso de disposições,
capita e o crescimento bruto do país. procedimentos e metodologia de análise
comuns.
A citada Declaração de Paris de março Gestão orientada aos resultados:
de 2005 estabelece uma série de indi- número de países com marcos sólidos de
cadores específicos e metas para o ano avaliação transparentes e supervisionáveis.
2010 em torno dos seguintes temas: Mútua responsabilidade: número de
Apropriação: número de países com países que avaliam os resultados da ajuda
estratégias de desenvolvimento ope- seguindo os compromissos de eficácia da
rativas. ajuda incluídos os da Declaração de Paris.

INDICADORES CHAVE DOS OBJETIVOS DE


DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

1: Proporção da população com rendimentos


inferiores a 1 USD por dia.
2: Subnutrição infantil até aos 5 anos.
3: Taxa líquida de escolarização no ensino primário.
4: Percentagem de crianças que terminam o ensino primário.
5: Percentagem de jovens de ambos os sexos
no ensino primário, secundário e superior.
6: Taxa de mortalidade até aos 5 anos.
7: Proporção de crianças de 1 ano imuniza das contra o sarampo.
8: Proporção de crianças atendidas por pessoal sanitário qualificado.
9: Prevalência do vírus HIV entre a população com idades
entre 15 e 24 anos e entre as mulheres grávidas.
10: Proporção da população com acesso
sustentável à água potável.

31 http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/TOPICS/EXTPOVERTY/
22 0,,menuPK:336998~pagePK:149018~piPK:149093~theSitePK:336992,00.html
AS PRIORIDADES DA AJUDA COMUNITÁRIA
03
A fim de maximizar o impacto das suas a Comunicação33 relativa ao Comércio
ações no contexto do desenvolvimento e Desenvolvimento preparada pela
mundial, a Comunidade decidiu, em Comissão, o que deu lugar a uma série
Novembro de 2000, centrar a sua ajuda de iniciativas da CE. O objetivo chave
exterior em seis áreas nas quais suas ações da Comissão é garantir que os países
teriam um valor adicional especialmente em desenvolvimento, em especial os
importante. Estas prioridades eram: mais vulneráveis, obtenham benefícios
A) a relação entre comércio e desenvol- importantes da sua participação no sis-
vimento, tema mundial de comércio.
B) a integração e a cooperação regional, Em consequência, a Comissão vem tra-
C) o apoio a políticas macro-econômicas balhando para melhorar a coerência
e o acesso igualitário aos serviços entre as novas regras comerciais da
sociais (saúde e educação), OMC34 e os objetivos da política de
D) o transporte, desenvolvimento35.
E) a segurança alimentar e o desenvol- Atualmente, utilizam-se regularmente as
vimento sustentável e finalmente Avaliações de Impacto da Sustentabilida-
F) a construção institucional (Bom governo de para avaliar as eventuais repercussões
consolidação da capacidade institu- econômicas, sociais e ambientais dos
cional e Estado de Direito). acordos comerciais à escala bilateral ou
regional.
Em 2006 as três principais Instituições
da UE e os representantes dos Estados Praticamente todos os países da América
Membros produziram uma declaração Latina participam em projetos concebidos
conjunta na qual, sob a denominação para melhorar as suas capacidades
“o Consenso europeu”32 sentavam as comerciais tendo em vista o processo
bases para uma renovada política de de liberalização mundial em curso, a
cooperação ao desenvolvimento e estabe- chamada “Ronda de DOHA” da OMC.
leciam o que seria a nova arquitetura legal, A Assistência Técnica Relacionada com
a partir de 2007. Neste documento se o Comércio (TRTA) é uma atividade
renova a lista de prioridades enumeradas em expansão favorecida por todas as
anteriormente. Algumas delas simples- grandes organizações (UE, OCDE, OMC,
mente se ampliam ou mudam. Outras são etc). Por outro lado, o desenvolvimento
totalmente novas: da produtividade e da competitividade
dos setores produtivos, é um objetivo
Comércio e integração regional recorrente do financiamento comunitário.
Em Novembro de 2002, o Conselho de Em 2004, Argentina, Paraguay, Uruguay,
Ministros adotou as conclusões sobre Equador e El Salvador viram adotados

32 http://ec.europa.eu/development/body/publications/docs/consensus_en_total.pdf
33 Proposta política da Comissão aos Estados-Membros da UE e ao Parlamento Europeu.
34 http://www.wto.org/spanish/tratop_s/devel_s.htm
35 Ver também outras páginas web especialisadas em comércio exterior e integração:
UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em:
http://www.unctad.org/Templates/StartPage.asp?intltemD=2068.
COMUNIDADE ANDINA: http://www.comunidadandina.org/comercio.htm
ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS (ALCA): http://www.ftaa-alca.org/alca_s.asp
ALADI (Associação Latinoamericana de Integração) Normativa de comércio Exterior:
http://www.aladi.org/NSFALADI/SITIO.NSF/INICIO
23
03 AS PRIORIDADES DA AJUDA COMUNITÁRIA

programas com este objetivo. Nas páginas Combate a desertificação. A luta contra a
Web das respectivas Delegações da mudança climática também se converte
Comissão pode-se encontrar detalhes a em um dos conceitos básicos da coope-
esse respeito36. ração da CE em matéria ambiental.
Quanto a integração regional dos países
em desenvolvimento a UE considera como Desenvolvimento humano
um passo importante para a integração O Consenso europeu para o desenvolvi-
deles na economia mundial. A integração mento se amplia, dentro deste epígrafe,
regional constitui, portanto, um elemento a prioridade anteriormente definida como
fundamental do apoio da UE ao Mercosul, o acesso a serviços sociais (saúde e edu-
ao Mercado Comum Centro americano e cação) e passa a incluir também a cultura
à Comunidade Andina. Neste momento, e a igualdade de gênero como elementos
estão sendo executados em bom ritmo para melhorar a vida das pessoas nos paí-
vários programas destinados a melhorar ses em desenvolvimento. Neste sentido, o
a capacidade das alfândegas e a sua princípio da ajuda orçamental direta para
adaptação às novas normas internacio- auxiliar os países a implementarem as
nais. Na América Central trabalha-se no suas estratégias de redução da pobreza
estabelecimento de um quadro aduaneiro é utilizado com bastante êxito. A ajuda
e de um sistema estatístico comum (sis- orçamental e a assistência macroeconô-
tema de Integração da América Central) mica são dois métodos diferentes, ambos
que se complementa com outro pro- essenciais para reduzir a pobreza, apoiar o
jeto (PAIRCA – Programa de Apoio à gasto público nos serviços vitais de saúde
Integração Regional da América Central) e educação e poder medir os seus resul-
destinado a ajudar as Instituições implica- tados na prática. O trabalho da política
das e desenvolver o papel da Sociedade de desenvolvimento da CE no capítulo
Civil destes países rumo à integração. da educação se inscreve na estratégia
definida na Comunicação de Março de
Meio ambiente e gestão sustentável 2002 relativa à contribuição da educação
de recursos naturais e da formação no contexto da redução da
A CE apoiará todos os esforços dos pobreza nos países em desenvolvimento37.
países beneficiários de ajuda para A Comissão desempenhou um papel ativo
incluir considerações ambientais em seu na planificação e lançamento da cha-
desenvolvimento, assim como para me- mada Iniciativa Acelerada («fast-track»)
lhorar sua capacidade de cumprimento internacional Educação para Todos, cuja
dos acordos ambientais internacionais. A finalidade é acelerar o avanço no sentido
gestão sustentável e a conservação dos do ensino primário universal nos países
recursos naturais constituem uma nova em desenvolvimento. A formação profis-
prioridade para a CE que apoiará estra- sional tem uma particular relevância na
tégias nacionais neste sentido, espe- execução desta prioridade na América
cialmente aquelas que se destaquem Latina. A Nicaragua foi o primeiro país no
nas Convenções das Nações Unidas qual se lançou um apoio setorial para a
como a da biodiversidade biológica e do educação38.

36 Para ter acesso à lista das delegações da Comissão na Internet: http://ec.europa.eu/


external_relations/delegations/intro/web.htm
37 http://ec.europa.eu/development/Policies/9Interventionareas/HumanDev/HumanDeveduc_en.cfm
24 38 Ver na página da delegação: www.delnic.org.ni
AS PRIORIDADES DA AJUDA COMUNITÁRIA
03
Na estratégia da Comissão Européia portos e aeroportos) reveste-se de
foi atribuída uma grande prioridade menor importância na América Latina
aos progressos realizados relativamente do que noutras regiões do mundo
aos Objetivos de Desenvolvimento do como a África ou a Europa do leste.
Milênio relacionados com a saúde39, Contudo, a melhoria da estrada Santa
como a mortalidade infantil, a saúde Cruz-Puerto Suárez, na Bolívia, é um
materna e as doenças infecciosas. Até exemplo de projeto em execução que
agora, a CE contribuiu com 460 milhões ajudará não só o país receptor como
de euros, mais de metade de todos também a sua integração com o Brasil
os recursos desembolsados, ao Fundo e a interconexão entre a Comunidade
Mundial contra o SIDA (aids), tubercu- Andina e o Mercosul através desta
lose e malária, de que também beneficia importantíssima via.
a América Latina. A Bolívia e o Equador
trabalham atualmente em programas Desenvolvimento rural sustentável,
setoriais de saúde40. organização do território, agricultura
e segurança alimentar
Coesão social e emprego A agricultura e a organização do território
Articulada como uma nova prioridade, se incorporam na prioridade anteriormente
a CE apoiará a luta contra a exclusão consagrada à segurança alimentar e ao
social e a discriminação de qualquer desenvolvimento rural, como consequência
classe. Promoverá o diálogo social, a da experiência acumulada em anos de
proteção da igualdade de gênero e trabalho. A pobreza nas áreas rurais
os direitos das populações indígenas. continua a ser a característica dominante
Particular atenção ocuparão os direitos da incidência e profundidade da pobreza
da infância, especialmente sua proteção nos países em desenvolvimento. Em
contra qualquer tipo de abuso, como 2003, a Comissão presidiu a um Grupo
o tráfico de pessoas e a utilização de Especial de Estados-Membros da UE para
crianças em conflitos armados. Para por conceber uma nova política da terra em
em prática estes princípios a CE apoiará apoio aos países em desenvolvimento.
reformas sociais, fiscais e de segurança Nessa política definem-se os alicerces
social. Considerando o emprego como de políticas da terra sustentáveis,
um fator crucial para a coesão social e participativas e favoráveis aos pobres,
o desenvolvimento, a CE transformará a bem como a modernização dos regimes
criação de empregos em uma de suas de administração territorial baseados no
prioridades. reconhecimento de direitos existentes
nas culturas e sociedades locais. Este
Infra-estruturas, Comunicações e último conceito tem sido particularmente
transporte importante nos últimos anos em alguns
Os transportes são serviços essenciais países da América Latina, como o
para melhorar o acesso à saúde, à edu- Paraguai (Projeto Prodechaco). Quanto
cação, à água e à segurança alimentar. à segurança alimentar, a CE mantém as
A realização e modernização de infra- ajudas estruturais a vários países latino-
estruturas de transportes (estradas, americanos (ver capitulo 4).

39 http://ec.europa.eu/development/Policies/9Interventionareas/HumanDev/HumanDevhealth_en.cfm
40
Ver nas páginas da delegação: http://www.delbol.ec.europa.eu para a Bolivia e: 25
www.delcol.ec.europa.eu (Delegação na Colômbia, responsável no momento pelo Equador)
03 AS PRIORIDADES DA AJUDA COMUNITÁRIA

Bom governo, Democracia, Direitos Prevenção de conflitos e Estados


humanos e apoio às reformas frágeis
econômicas e Institucionais Outra nova prioridade a nível de declaração
Também neste caso a CE tem utilizado política que preocupava as instituições da
a experiência para explicitar como UE há muito tempo. Um conceito que
prioritário um largo campo de atuação foi pensado para outras regiões, mas
ao incluir as reformas econômicas neste que poderia ter uma certa repercussão
epígrafe que, até agora, aparecia como em alguma região da América Latina e
meramente institucional ou político. solapar-se com as reformas econômicas e
A comunidade internacional, incluin- institucionais vistas acima.
do a União Européia, definiu o bom
governo e a promoção da democracia Cooperação científica e tecnológica
como elementos críticos para alcançar em apoio do desenvolvimento
os Objetivos de Desenvolvimento do Embora a investigação não seja uma
Milênio. das prioridades definidas pela CE, o
Um número importante de Estados Sexto Programa Quadro de Investigação
latino-americanos, desde a Nicarágua e Desenvolvimento Tecnológico (2002-
ou a Guatemala ao Peru ou Paraguai, 2006) inclui uma componente de
realizou nos últimos anos programas de investigação para o desenvolvimento
reforma institucional com financiamento inteiramente baseada na cooperação
e assistência técnica comunitária. O com países em desenvolvimento que
processo de paz na Colômbia continua se podem associar a determinados
a ser, por outro lado, uma das tarefas programas de pesquisa da CE. O sétimo
prioritárias para a Comissão no conti- programa marco atualmente em vigor,
nente. mantém este compromisso.
Em 2004, Chile, Peru, Honduras e
Guatemala iniciaram novos programas de Estas prioridades são continuamente
reforma e modernização das estruturas adaptadas e atualizadas como resultado
do Estado. das decisões e dos planos de ação apre-
sentados em conferências internacionais,
Água e energia geralmente organizadas pelas Nações
Uma prioridade totalmente nova em seu Unidas, nas quais a UE participa (ver
enunciado, mas cujo conteúdo vinha o quadro no capítulo 2). A criação do
sendo assunto de trabalho da CE em Fundo Mundial contra o SIDA/Aids41 ou a
todo o mundo, há décadas. Iniciativa Mundial para a água42 recebem
O direito das pessoas à água potável o apoio político e financeiro da UE. Neste
de qualidade e aos adequados serviços último caso, existe um grupo de trabalho
sanitários vêm exercendo-se em nume- específico para o Caribe e um outro se
rosos projetos em quase todos os países encontra em fase de desenvolvimento
da América Latina, há tempos. para a América Latina.
O direito de dispor de fontes de energia
fiáveis e modernas, mais respeitosas
do meio ambiente, se soma agora às
prioridades de desenvolvimento da UE.

41 http://europa.eu/scadplus/leg/en/lvb/r12510.htm
26 42 http://ec.europa.eu/development/Policies/9Interventionareas/WaterEnergy_en.cfm#water
04
OS PROGRAMAS
DE AJUDA EXTERIOR

A Comunidade Européia manteve, funciona de maneira diferente dos res-


desde o início, uma política ativa de tantes programas de assistência exter-
cooperação para o desenvolvimento. na da UE e, atualmente, as instituições
Inicialmente, esta cooperação restringia- comunitárias procedem a uma reflexão
se às antigas colônias dos seis Estados e discussão sobre a integração da
fundadores, concentradas todas elas cooperação com os países ACP num
na África, Caraíbas e Pacífico (ACP). quadro jurídico e financeiro semelhante
Assim, após sucessivas atualizações ao do resto das regiões do mundo, isto
(Convenção de Yaundé e as sucessi- é, a transformação do FED em mais um
vas quatro convenções de Lomé), os programa, incluído nos orçamentos da
países destas regiões se beneficiam UE posto que dispõe de mecanismos e
hoje do chamado Acordo de Cotonu43, órgãos que lhe são específicos e que
que institucionaliza esta cooperação tem carater de Tratado internacional.
e estabelece uma série de órgãos de
decisão, com o a Assembléia Paritária A entrada da Espanha e de Portugal
CE-ACP. O instrumento de execução da na CE trouxe consigo o interesse des-
ajuda comunitária aos países ACP é o tes dois países pelo alargamento do
Fundo Europeu de Desenvolvimento 44 esquema de cooperação comunitária à
(FED), gerido pela Comissão Européia América Latina. As discussões internas
a partir de contribuições extra orça- para estabelecer a base jurídica desta
mentais dos Estados-Membros. O FED cooperação culminaram na adoção do

43 http://ec.europa.eu/development/Geographical/CotonouIntro_en.cfm
44
27
http://ec.europa.eu/eur-lex/accessible/es/lif/reg/es_register_11702020.html#content
04 OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR

regulamento PVD-ALA45 (Países em programa CARDS50 o instrumento ju-


Vias de Desenvolvimento da América rídico da CE para estabilizar e ajudar o
Latina e da Ásia), o instrumento de desenvolvimento econômico e político
referência obrigatória para a execução dos países desta região, com vocação
das ações da UE nesses dois continentes. para se converterem futuramente em
Este regulamento foi substituido pelo Estados-Membros de pleno direito
Instrumento de Cooperação ao Desen- da UE. Até aqui uma rápida visão
volvimento46 (ICD). Ao mesmo tempo, da evolução dos regulamentos da
o reforço do «bloco mediterrâneo» na cooperação comunitária nos últimos
CE possibilitou, com a Conferência de anos. A UE (Comunidade e Estados
Barcelona, o lançamento de um programa Membros) assegura mais da metade
de cooperação com os países do Sul (em torno de 30 bilhões de euros
do Mediterrâneo e do Oriente Médio, em 2003) de toda a ajuda oficial ao
resultando na adoção do regulamento desenvolvimento do planeta (AOD-ODA)
PVD-MED e do programa MEDA47. e cobre praticamente todos os Estados
e territórios em desenvolvimento de
A queda do muro de Berlim e o subse- todos os continentes (mais de 160),
quente desaparecimento dos regimes de exceção feita àqueles que ignoram os
economia de estado da Europa Central e direitos humanos ou as mínimas regras
Oriental introduziu uma nova região no de Democracia.
panorama da cooperação comunitária.
Cedo se desdobraria entre, por um lado,
as antigas repúblicas da URSS, para as A SITUAÇAO ATUAL: INSTRUMENTOS
quais se adotaria o programa TACIS48 GEOGRÁFICOS E TEMÁTICOS
(Assistência Técnica para a Comunidade Entre 2006 e 2007 a situação descrita
de Estados Independentes), e os países nos parágrafos anteriores mudou
candidatos à adesão à UE, beneficiários radicalmente de um ponto de vista
do Programa PHARE. Dez destes candi- regulamentar. A União européia dotou-
datos converteram-se a 1 de Maio 2004 se de um novo conjunto de regulamen-
em membros de pleno direito da UE. A tos, chamados “instrumentos”.
cooperação continua com os restantes
candidatos49, Croácia e Turquia (Turquia São sete os instrumentos de carater
é também beneficiária do programa geográfico ou de âmbito global que
MEDA). compõem junto ao FED, o arsenal
legislativo da UE para regular suas
Por último, a situação nos Balcãs, depois relações de cooperação com o resto do
das diversas guerras que se sucederam mundo. Estes instrumentos são51 :
na antiga Iugoslávia, deu lugar ao

45 http://eur-lex.europa.eu/smartapi/cgi/sga_doc?smartapi!celexapi!prod!CELEXnumdoc&nu
mdoc=31992R0443&model=guichett&lg=pt
46 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/
development_cooperation_es.pdf
47 http://ec.europa.eu/external_relations/euromed/cr2698_00_pt.pdf
48 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/tacis/publications/general/new_regulation_en.pdf
49 http://ec.europa.eu/dgs/enlargement/index_es.htm
50 http://ec.europa.eu./enlargement/key_documents/cards_reports_and_publications_en.htm
28 51 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/legislation/legal_bases/index_en.htm
OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR
04
Cooperação com países industria- 2006) Foi desenvolvida no contexto da
lizados e de renda alta52 (Regulamento ampliação de 2004 com o objetivo de
(CE) 1934/2006 do Conselho de 21 de evitar o aparecimento de novas linhas
dezembro de 2006) Prevê a cooperação divisórias entre a UE ampliada e nossos
e o intercâmbio de programas com vizinhos e de consolidar a estabilidade,
países industrializados como a Austrália, a segurança e o bem-estar para todos.
Nova Zelândia, Estados Unidos, etc. Desta maneira também aborda os
E tem uma previsão financeira de 25 objetivos estratégicos estabelecidos na
milhões de euros anuais. Estratégia Européia de Segurança.

Instrumento de Assistência para a A PEV inclui os países imediatos, com


pré-adesão - IPA53 (Regulamento (CE) fronteiras terrestres ou marítimas –
1085/2006 do Conselho de 17 de julho Argélia, Armênia, Azerbaijão, Bielorússia,
de 2006) O novo instrumento de pré- Egito, Georgia, Israel, Jordânia, Líbano,
adesão (IPA) entrou em vigor em 1 de Líbia, Moldávia, Marrocos, a Autoridade
janeiro de 2007. Reagrupa todas as ajudas Palestina, Síria, Tunísia e Ucrânia.
destinadas à países candidatos em um Substitui os antigos TACIS e MEDA.
só regulamento específico54 e substitui Em 2004 ampliou-se com base na sua
os anteriores Phare, ISPA e SAPARD, ao solicitação, para incluir também os paí-
instrumento de pré-adesão para a Turquia ses do Cáucaso do Sul com os quais
e ao instrumento financeiro para os a Bulgária, a Romênia ou a Turquia
Balcãs ocidentais, CARDS, EI, IPA abarca têm fronteiras marítimas ou terrestres
os países reconhecidos como candidatos (Armênia, Azerbaijão e Geórgia) Mesmo
(atualmente Croácia, a antiga República que a Rússia também seja um vizinho
Iugoslava de Macedônia e Turquia) e os da UE, as relações com este país se
reconhecidos como candidatos poten- desenvolvem mediante uma Associação
ciais (Albânia, Bosnia e Herzegovina, Estratégica56 que cobre quatro “espa-
Montenegro e Serbia incluindo o Kosovo ços comuns”. A PEV está coberta pelo
segundo o disposto na resolução 1244 regulamento correspondente que prevê
do Conselho de Segurança das Nações um orçamento de 11,2 bilhões de euros
Unidas, que dependerá do acordo final para o período 2007-2013.
sobre o estatuto definitivo do Kosovo). Sua
previsão orçamentária é de 1,6 bilhão de Instrumento para a promoção da
euros anuais entre 2007 e 2013. Democracia e os Direitos Humanos57
(Regulamento (CE) 1889/2006 do
Política Européia de Vizinhança e Parlamento Europeu e do Conselho de
Associação – PEV55 (Regulamento 20 de dezembro de 2006). Substitui o
(CE) 1638/2006 do Parlamento Europeu antigo regulamento do mesmo nome
e do Conselho de 24 de outubro de e como o anterior, tem cobertura uni-

52 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/
industrialised_es.pdf
53 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/
preaccession_es.pdf
54 http://ec.europa.eu/enlargement/financial_assistance/ipa/index_en.htm
55 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/enpi_es.pdf
56 http://ec.europa.eu/world/enp/pdf/oj_l310_es.pdf
57 http://ec.europa.eu/comm/europeaid/projects/gender/index_en.htm
29
04 OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR

versal58, exceto os países considera- Instrumento de Cooperação ao Desen-


dos como industrializados. Conta com volvimento(ICD)62 (Regulamento (CE)
1,1 bilhão de euros para o período 1905/2006 do Parlamento Europeu e do
financeiro de referência (2007-2013). Conselho de 18 de dezembro de 2006)
Publica dois convites à apresentação de Substitui os anteriores regulamentos
projetos por ano59 e financia os projetos geográficos TACIS (em parte), África do
selecionados nos mesmos, bem como Sul e ALA assim como a mais de dez
alguns outros por sua própria inicia- regulamentos temáticos. É o instrumento
tiva. O reforço e a modernização das que cobre entre 2007 e 2013, as ativida-
administrações da justiça, as missões des de cooperação da UE com a América
de observação dos processos eleito- Latina. Conta com uma dotação orça-
rais (Equador em 2002, Guatemala em mentária de 16,8 bilhões de euros dos
2003), a ajuda às vítimas da tortura ou quais 2,6 se destinarão a América Latina.
a proteção dos direitos das minorias Cuba entra, pela primeira vez na lista de
indígenas figuram entre os temas finan- países potencialmente beneficiários da
ciados na América Latina por esta ação região (até agora, Cuba aparecia como
da Comissão Européia. observador dos Acordos de Cotonou
como país do Caribe).
Instrumento de Estabilidade (IE)60 O regulamento ICD prevê a realização
(Regulamento (CE) 1717/2006 do Par- de ações de desenvolvimento geográfico
lamento Europeu e do Conselho de 15 de em torno da definição de prioridades
novembro de 2006). Substitui o anterior para cada uma das regiões que cobre
Mecanismo de reação rápida e cobre e detalha como temos visto, o destino
todos os países do mundo menos aqueles orçamentário para cada uma das regiões
considerados como “industrializados”. de aplicação (América Latina, Ásia, Ásia
Conta com uma dotação de 2,06 bilhões Central, Oriente Médio e África do Sul).
de euros para o período e seu âmbito de
aplicação se faz em resposta diante de As prioridades para a América Latina
situações de crise e desafios globais e são as seguintes:
transnacionais.
Promoção da coesão social: através de
Instrumento de segurança nuclear (ISN)61 políticas fiscais e de bem estar social o
(Regulamento (EURATOM) 300/2007 do fomento de investimento produtivo para
Conselho de 19 de fevereiro de 2007) criar mais e melhores empregos, as políticas
Substitui a uma parte do antigo progra- contra a droga, a educação e a saúde.
ma TACIS. Disporá de 525 milhões de
euros durante o período e cobrirá todos Apoio aos processos de integração regio-
os países terceiros não industrializados nal, incluindo a interligação de redes de
no âmbito da segurança nuclear e da infra-estruturas em coordenação com os
proteção contra a radiação. apoios do BEI e outras instituições.

58 Documento 57
59 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/eidhr/eidhr_en.htm#eidhr2
60 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/stability_es.pdf
61 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/nuclear_es.pdf
62 http://ec.europa.eu/europeaid/work/procedures/documents/legislation/legal_bases/
30
development_cooperation_es.pdf
OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR
04
Apoio ao reforço das instituições públicas Graças à este financiamento podem
para o bom governo e a proteção dos existir algumas instituições especia-
direitos humanos. Incluem-se os direitos lizadas no tratamento destas doenças
das crianças e das populações indígenas. nos países da África, Ásia e América
Latina. Também inclui a antiga linha
Apoio a criação de uma área comum de igualdade de gênero64, conceito de
educação superior UE-América Latina. importância primordial na preparação
e no desenvolvimento de qualquer pro-
Promoção do desenvolvimento susten- grama ou projeto tradicional. Qualquer
tável com particular atenção a proteção projeto clássico de cooperação ao
dos bosques e da bio-diversidade. desenvolvimento social ou local deve
contemplar o impacto que sua realização
O ICD prevê também, uma série de terá na situação das mulheres da
“Programas temáticos” aos quais destina região. No caso de haver suspeita que
um orçamento global de 5,6 bilhões de o impacto do projeto será negativo, este
euros, sempre para o mesmo período não continuará sua tramitação. Além
financeiro. Alguns deles substituem as disso, desde 2002 existia uma dotação
antigas linhas temáticas de financiamen- orçamentária destinada a programas
to: sua cobertura financeira pode chegar que promovessem especificamente
a todas as regiões incluídas no presente a igualdade de oportunidades das
regulamento, com independência das mulheres.
destinações (assignação) consideradas
como geográficas. Entre 2000 e 2004 chegou-se a 770
milhões de euros em programas cujo
Investing in people objetivo principal, ou entre os principais,
- Programa de desenvolvimento social e era a igualdade de gêneros.
humano com uma dotação de 1,06 bilhão
de euros. Vai-se focalizar fundamental- Meio ambiente e gestão sustentável
mente em: de recursos naturais65
- Conseguir bons serviços básicos de A União européia utilizará neste
saúde para todos, conceito 804 milhões de euros para o
- Conseguir uma educação básica de período. De alguma maneira substitui
qualidade, e melhora a antiga linha orçamentária
- Promover a igualdade de gêneros, “meio-ambiente e bosques tropicais”
- Desenvolver a cultura e as indústrias para completar determinadas ações
culturais. financiadas pelas linhas geográficas
tradicionais. Permite um maior grau
De alguma maneira substitui as antigas de coordenação interna e com outras
linhas orçamentais como a dedicada à agências de desenvolvimento nacionais
saúde63, com particular incidência na luta ou internacionais na hora de enfrentar
contra o SIDA/Aids e as chamadas doen- problemas ambientais, por sua própria
ças infecciosas ligadas ao subdesenvol- natureza ultrapassam as fronteiras dos
vimento, como a malária e a tuberculose. países afetados.

63 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/health/index_en.htm
64 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/gender/index_en.htm
65 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/forests/index_en.htm
31
04 OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR

Pensemos, por exemplo, em alguns Segurança alimentar69


projetos na Amazônia (como o projeto Em contato próximo com o Programa
PPG7 no Brasil)66 ou nos bosques de Alimentação Mundial (PAM) das
indonésios. Em ambos os casos, existem Nações Unidas e de uma série de
agentes públicos (os governos) e Organizações não governamentais
privados (as companhias que exploram especializadas, permite garantir o envio
os recursos dos bosques) aos quais estável de alimentos a populações de 32
tem-se que implicar para que um países em todo o mundo70, fomentando
projeto de conservação tenha alguma o assentamento de redes de distribuição
possibilidade de êxito. locais. Qualquer nova situação de
catástrofe alimentar permanente, uma
Agentes não estatais e autoridades vez verificada pelo Serviço de Ajuda
locais67 Humanitária, provocará a ação da
Com 1,6 bilhão de euros previstos, UE no país afetado enquanto durar a
substitui e completa a antiga linha de co- necessidade deste país. Prevê-se um
financiamento das ONGs68. Desde 1998 gasto de 1,7 bilhão de euros para os 7
este co-financiamento se efetua sempre anos de referência.
mediante convite formal à apresentação
de projetos nas páginas Web da própria Migração e Asilo71
Comissão. Nestes convites à propostas, Recorre a regulamentos e ordena
estabelecem-se os critérios daqueles uma série de atividades que a UE
projetos que poderão aceder ao finan- vinha realizando sem uma clara base
ciamento comunitário. Existem três regulamentar. Prevê 384 milhões de
tipos de convites anuais. Por um lado, euros para o período 2007-2013.
se financiam ações de desenvolvimento
em países terceiros para as ONGs dos Países Protocolo Açúcar
Estados Membros da UE. Em segundo Substitui a um regulamento anterior
lugar, pode-se outorgar financiamento depois da reforma da Organização
para ONGs e parceiros não estatais dos Comum de mercados deste produto e
países em desenvolvimento e de países beneficia a 18 países ACP para darlhes
desenvolvidos para ações de reforço apoio na reestruturação de sua indústria
e apoio à sociedade civil naqueles açucareira. Prevê 1,2 bilhão de euros
países. Finalmente, as ONGs dos para os sete anos de referência.
Estados Membros da UE podem receber Finalmente também se consideram ins-
financiamento para ações dirigidas ao trumentos temáticos da ação exterior
fomento do conhecimento dos temas da UE a ajuda humanitária72 e o apoio
relacionados com o desenvolvimento macro financeiro73. Com respeito à situa-
por parte da sociedade européia e a ção anterior a 2006, ficam sem cober-
sensibilisação da mesma. tura legal certas linhas orçamentárias

66 http://ftp.mct.gov.br/prog/Default.htm
67 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/ong_cd/index_en.htm
68 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/ong_cd/index_en.htm
69 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/foodsec/index_en.htm
70 Deles formam parte Bolívia, Equador, Honduras e Nicaragua
71 http://ec.europa.eu/comm/external_relations/migration/intro/index.htm
72 http://ec.europa.eu/dgs/humanitarian_aid/index_pt.htm
32 73 http://ec.europa.eu/europeaid/reports/budget_support_en.pdf
OS PROGRAMAS DE AJUDA EXTERIOR
04
temáticas cujo conteúdo fará parte da zonas fronteiriças entre dois ou mais
paisagem dos instrumentos descritos. países. O financiamento de progra-
No entanto, elas continuarão “ativas” até mas e projetos através destas rubricas
terminarem os projetos ainda em desen- orçamentais programa-se por períodos
volvimento. As mais importantes são as anuais. A estratégia da UE neste último
referidas às populações desarraigadas e campo concretizou-se em um plano de
refugiados, as ações específicas de luta ação 2005-200775.
contra as drogas (que se incluiu como
prioridade em várias regiões do mundo,
incluindo a América Latina) ou o enlace ASSUNTOS TRANSVERSAIS
entre ajuda humanitária, reabilitação e A UE concede uma importância especial
desenvolvimento e a luta contra as minas ao bom governo, ao ambiente e à igualda-
antipessoais74. de entre os gêneros. Para além das suas
Os Instrumentos descritos aqui mostram rubricas orçamentais específicas, estes
a evolução da cobertura geográfica da temas têm um tratamento horizontal
cooperação comunitária até o momento na concepção de qualquer programa
atual. Os programas e os regulamentos ou projeto de cooperação financiado
mencionados constituem a base jurídica pelas rubricas orçamentais geográficas,
e o instrumento fundamental para a sua isto é, na ficha de identificação de
execução. um projeto (ou na definição de um
programa) devem incluir-se os dados
Em geral, cada regulamento prevê a e comentários relativos ao impacto
utilização de duas ou três rubricas do referido projeto no “bom governo”,
orçamentais baseadas nos critérios de no ambiente e na igualdade entre os
cooperação financeira, científica ou gêneros e as expectativas de melhoria
técnica, que se podem desenvolver em que o projeto pode originar nos três
programas ou projetos de interesse campos. Qualquer repercução negativa
nacional (num só dos países cobertos que se possa detectar implicará quase
pelo regulamento de referência) ou automaticamente a não aprovação do
regional em toda a região em causa (por projeto.
exemplo América Latina) ou numa das
«sub-regiões» estabelecidas em cada Atualmente os conceitos de prevenção
caso como o MERCOSUL, a Comunidade de conflitos e de gestão de crises têm
Andina (CAN) e a América Central uma importância crescente na definição
(SICA – Sistema de integração centro- daqueles projetos nos quais sejam
americana). relevantes.

Existem também programas específicos Por último, o bem estar das crianças
de âmbito regional e conteúdo especí- constitue um outro elemento horizontal
fico (desde Al-Invest até o OBREAL no na definição dos projetos intimamente
caso da América Latina) financiados ligados aos objetivos do Desenvolvimento
por estas rubricas orçamentais «geo- do Milênio e a situação da mulher neste
gráficas» e nada impede a adoção de contexto.
programas ou projetos que cubram

74 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/mines/index_en.htm
75 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/mines/strategy_mip_2005_2007_en.pdf
33
DISTRIBUIÇÃO PROGRAMÁTICA
DA ASSISTÊNCIA EXTERNA DA UE

A) Instrumentos da Cooperação

Países (77) da África, Caraíbas e Pacífico:


- Acordo de Cotonu. Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED)

Países industrializados:
- Instrumento de cooperação com países industrializados (ICI)

Países da América Latina e Ásia, Ásia Central, África do Sul:
- Instrumento de cooperação ao desenvolvimento (ICD)

Países candidatos ou pré-candidatos:
- Instrumento Pré-adesão (IPA)

Países da bacia sul e leste do Mediterrâneo, Europa do Leste, Cáucaso,
Oriente Médio:
- Instrumento europeu de vizinhança e Associação (IEVA)

- Instrumento para a promoção da democracia e dos direitos humanos

- Instrumento de estabilidade

- Instrumento de Segurança nuclear

B) Além disso, os incluídos no ICD:

- Investing in people (desenvolvimento social e humano)


- Meio ambiente e gestão sustentável de recursos
- Agentes não estatais e autoridades locais
- Segurança alimentar
- Migração e asilo
- Países Protocolo Açúcar
05
A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO
EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA
AJUDA EXTERIOR.

A cooperação é um dos setores que mais a instituição responsável pela gestão dos
e maiores mudanças organizacionais diferentes programas com os mesmos
sofreu no seio da Comissão Européia objetivos gerais e as mesmas regras de
durante os últimos anos. A ampliação de base.
regiões destinatárias da ajuda exterior da
UE, descrita no capítulo anterior, implicou A multiplicação de bases jurídicas, rubri-
geralmente modificações no organograma cas orçamentais e procedimentos especí-
da Comissão. De cada vez que se adotava ficos diminuía indubitavelmente a eficácia
um novo regulamento geográfico de da assistência comunitária. A distribuição
assistência externa, criava-se um novo interna de tarefas na Comissão também
serviço responsável pela sua execução e não contribuía para uma otimização da
por todas as infra-estruturas técnicas e atividade. Cada Direção-Geral responsável
de procedimentos necessários, incluindo pela assistência a uma região contava
as bases de dados financeiras. com serviços «geográficos» e serviços
«técnicos». Com certa frequência, estes
A publicação de concorrência à apresen- últimos recebiam os projetos identificados
tação de propostas para o fornecimento de e formulados pelos serviços geográficos
bens e serviços destinados aos programas sob critérios fundamentalmente políticos,
e projetos de cooperação não respondia sem que os diversos elementos técnicos
a critérios homogêneos, sendo diferente tivessem sido suficientemente avaliados,
para cada uma das regiões, apesar de, em incluindo por vezes a própria sustenta-
todos os casos, ser a Comissão Européia bilidade do projeto uma vez terminada

35
05 A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA AJUDA EXTERIOR.

a intervenção comunitária. Esta situação sido anulados por diversos motivos


dava lugar a uma elevada porcentagem mas cujo lançamento contabilístico não
de projetos financeiramente autorizados tinha sido convenientemente cancelado.
que, contudo, não entravam em fase de Quanto à simplificação, passou-se, por
execução ou faziam-no com um atraso exemplo, de cerca de oitenta formulários
significativo. diferentes para as concorrências de bens
A gestão integral de todo o ciclo em e de serviços para apenas oito (quatro
Bruxelas era outro fator que contribuía para os programas dentro do orçamento
para aumentar a imagem burocrática da e quatro para o FED).
UE e os atrazos na execução dos projetos.
Não devemos esquecer que a escassez A 1 de Janeiro de 2001, a Comissão deu
crônica de pessoal nos serviços especia- mais um passo no sentido da reforma.
lizados da Comissão Européia fazia com Na sequência da decisão de 16 de
que cada funcionário comunitário devesse Novembro de 2000, foi criado o Serviço
gerir mais do dobro de fundos que a de Cooperação EuropeAid76, responsável
média de todas as grandes organizações pela gestão integral do ciclo de projeto,
doadoras do mundo. incluindo a identificação individual e
a avaliação de resultados. As relações
«políticas» bilaterais com os países
A REFORMA DA COMISSÃO terceiros e a programação da assistência
Em 1998, a Comissão decidiu resolver ficaram nas mãos das duas Direções-
este problema e deu um primeiro passo Gerais «programáticas» anteriormente
significativo para a reforma dos serviços mencionadas, a do Desenvolvimento (DG
responsáveis pelo setor. Criou-se o Ser- DEV) para os países ACP e a das Relações
viço Comum de Relações Exteriores Externas (DG RELEX), responsável por
(SCR), responsável pela gestão financeira todas as restantes regiões, à exceção
de toda a ajuda exterior da Comunidade dos países candidatos à adesão que
européia. Além de assegurar a gestão ficaram sob a responsabilidade integral
corrente, o SCR procedeu urgentemente da nova Direção-Geral da Ampliação.
à harmonização e simplificação de pro-
cedimentos e à identificação das cha- O EuropeAid continua indo mais além em
madas «autorizações adormecidas», isto matéria de harmonização e simplificação
é, aqueles projetos que, desde a sua de procedimentos e progride na definição
identificação e a autorização financeira de novas técnicas de cooperação, além de
inicial, não tivessem registado movimen- manter contatos com os outros grandes
tos em mais de três anos. O inventário das doadores para assegurar um enfoque
autorizações adormecidas (conhecido comum e a necessária coordenação
pela sigla em francês RAL – resto a dos diferentes protagonistas nos países
liquidar) alcançou a impressionante cifra receptores.
de 20 bilhões de euros, alguns deles Por outro lado, o reforço nos recursos
autorizados desde meados da década humanos permitiu resolver o acúmulo
de oitenta. Há que esclarecer que de autorizações paralizadas e acelerar
aproximadamente um terço desta quantia de forma gradual a gestão financeira dos
correspondia a projetos que já tinham programas e projetos77.

76 http://ec.europa.eu/europeaid/
36 77 http://ec.europa.eu/europeaid/general/pdf/assessment-reform-ext-assist-sec2005963_en.pdf
A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA AJUDA EXTERIOR.
05
A SITUAÇÃO ATUAL Assim se produzem os chamados docu-
Segue-se uma explicação do processo mentos de estratégia por país ou regionais
decisório e das responsabilidades dos (Country Strategy Paper – CSP ou Regional
diferentes protagonistas no mesmo. Strategy Paper – RSP) negociados sempre
Como vimos, existem na Comissão duas com os países terceiros, onde se descreve
Direções-Gerais «políticas» ou «pro- a situação política e econômica do país
gramáticas» e o Serviço de Cooperação de referência, os seus problemas e difi-
EuropeAid, responsável pela execução culdades e os setores e zonas geográficas
da ajuda ao desenvolvimento em todo prioritários para o desenvolvimento da
o mundo, salvo os países candidatos às assistência da CE. Nestes documentos
futuras ampliações. também há informações sobre a ajuda de
outros doadores, incluindo os Estados-
A Direção-Geral das Relações Exteriores Membros e os outros grandes organismos
(DG RELEX) é responsável pelas relações e instituições de cooperação do mundo,
políticas e pela programação da ajuda e sobre as estratégias dos mesmos, com
às regiões do mundo em desenvolvimento, frequentes indicações sobre as possibili-
com excessão dos países da África, Caribe dades reais de coordenação das diferen-
e Pacífico (ACP). Neste último caso é a tes contribuições financeiras recebidas
Direção Geral de Desenvolvimento (DG pelo país em questão.
DEV), que assume estas mesmas funções.
A DG RELEX e a DG DEV mantêm um Por último, o CSP estabelece os setores
sistema de funcionários («desk-officers» de intervenção comunitária e fixa as
ou «desks») que acompanham a evolução quantidades globais que a CE investirá
de cada um dos países com os quais a no país durante o período de validade do
Comissão mantém relações. documento, atualmente 7 anos (2007-
2013). Nada impede uma revisão do
São estes «desk-officers» a pedra fun- documento de estratégia antes do final
damental destas relações, sempre em da sua validade sempre que existam
contato com as administrações dos circunstâncias que o aconselhem e que
países terceiros e as delegações da as duas partes (governo nacional e
Comissão em todo o mundo. Graças Comissão) estejam de acordo.
ao seu trabalho, são elaborados os
documentos que constituem a base da Os programas indicativos dos
cooperação da CE, sempre em estreita documentos de estratégia dão lugar
cooperação com os demais serviços aos programas de ação anuais (PAA).
da Comissão, especialmente os que Estes programas contém as fichas
têm alguma responsabilidade na ajuda técnicas de ação para cada projeto. Os
exterior (Comércio78, Orçamento79, novos documentos de estratégia para
Ampliação80, Ajuda Humanitária81 e o período 2007-2013, prevêem uma
Economia e Finanças82, além do Serviço revisão no ano 2010 e estão disponiveis
EuropeAid) e com os Estados Membros. através da página:

78 http://www.europa.eu/pol/comm/index_es.htm
79 http://www.europa.eu/pol/financ/index_es.htm
80 http://www.europa.eu/pol/enlarg/index_es.htm
81 http://www.ec.europa.eu/pol/hum/index_es.htm
82 http://europa.eu/pol/emu/index_pt.htm
37
05 A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA AJUDA EXTERIOR.

http://ec.europa.eu/europeaid/projects/ conceito de aplicação basicamente interna,


amlat/cooperation_bilaterale.htm significa que os resultados almejados por
No novo ciclo orçamentário e de uma ação de cooperação da CE não
programação (2007-2013) o processo devem entrar em contradição com os
de aprovação requer além da consulta objetivos estabelecidos na política exterior
e informe do Comitê correspondente comunitária, nem com outras políticas
(Comitê ICD) ao mesmo tempo que o comuns. Ademais da coordenação interna
exercício do escrutínio democrático por dos diferentes serviços da Comissão
parte do Parlamento europeu que dispõe descrita antes, cada proposta política
do prazo de um mês para pronunciar-se importante da Comissão traz consigo a
sobre os programas de ação anual (PAA) realização de uma avaliação de impacto
que realiza a Comissão. que compreende também as possiveis
repercussões desta proposta nos países
Durante as primeiras fases do ciclo de em desenvolvimento.
projeto (até a decisão de financiamento,
de apoio orçamentário ou de transferên- A complementaridade implica um
cia macro-econômica – ver capítulo 9) passo a mais na coordenação entre
as consultas entre todos os serviços da os diferentes doadores a um país ou
Comissão implicados são incessantes. região. Supõe um melhor aproveitamen-
to dos recursos disponíveis e implica
uma comunicação continua entre todos
OS TRES CS os atores. Evidentemente o papel do
Dentro do processo de reforma deu-se país beneficiário é muito importante
particular importância aos chamados três para o desenvolvimento máximo deste
Cs, o que significa coerência, coorde- conceito que para a Comissão e os
nação e complementaridade, conceitos Estados Membros começa no mesmo
que adquirem cada dia maior importância momento que a redação do documento
no ciclo completo da cooperação, seja de estratégia nacional (CSP). Numa
qual for o enfoque escolhido. declaração comum o Conselho aprovou
As razões para este fato são a procura de em novembro de 2005 a coordenação
uma maior eficácia da intervenção comu- da ação gerida pela Comissão com as
nitária(CE) e a pressão cada vez maior políticas de desenvolvimento de todos
dos Estados Membros sobre a Comissão os Estados Membros.
a procura de melhores resultados globais
da cooperação européia em um dado Quanto à coordenação, a Comissão
país. No passado deram-se alguns casos deu um passo a mais nas suas relações
nos quais a falta de comunicação entre com as outras grandes agências de
os projetos administrados pela Comissão desenvolvimento internacionais que por
e os projetos financiados por um Estado diversos motivos podem estar mais bem
Membro davam origem à ações as vezes equipadas em determinadas regiões ou
contraditorias tendo consequências nos setores.
resultados finais e na imagem da União
Européia no país beneficiário das ajudas. Citemos por exemplo o Banco mun-
A coerência deve ser entendida como um dial83 (programas de reconstrução no

83 http://ec.europa.eu/europeaid/reports/europeaid_financial_contributions_worldbank_0905_en.pdf
38
A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA AJUDA EXTERIOR.
05
Afeganistão, Iraque e Gaza, Fundo Global para catorze entre 2001 e 2003. Quanto
contra o Sida/Aids e outros) e as Nações à carga de trabalho, a média passou de
Unidas84 (missões eleitorais conduzidas 2,9 para 4,6 funcionários por cada dez
pela ONU, programa mundial para a ali- milhões de euros geridos87.
mentação, Organização Mundial da Saúde
e outros). Nas páginas 130 e seguintes O EuropeAid trabalha de uma maneira
do anexo do relatório anual da Comissão cada vez mais descentralizada. A descon-
para 2004, já citado85 , explica-se estas centração converteu as delegações em
intervenções com mais detalhes. autênticos motores da execução da
assistência externa. A frase «Tudo o que se
Outras Instituições cuja coordenação puder fazer in situ não se deve efetuar em
com a Comissão Européia é significativa Bruxelas» é o lema da ação comunitária
são o Banco Europeu de Investimentos neste momento. O papel da sede central
(BEI) e o Banco Europeu para a recons- evolui lentamente para o de um centro
trução e o Desenvolvimento (BERD). de assistência e apoio às delegações e
Quanto ao Banco Inter-americano de um intercambiador de experiências que
Desenvolvimento (BID) a situação é ajudem a chamada fertilização cruzada e a
de avanço paulatino se bem que não extensão das melhores práticas, de forma
se chegou ainda ao mesmo grau de que o aprendido numa região qualquer se
desenvolvimento das Instituições citadas possa utilizar quando parecer conveniente
anteriormente. O mencionado Consenso em qualquer outra região do mundo.
Europeu sobre a política de desenvolvi-
mento atualiza e define a maneira de se Este intercâmbio de informações que se
levar adiante estes três “Cs”. produz entre a sede central de Bruxelas e
as delegações é particularmente intenso
durante as primeiras fases do ciclo do
A DESCONCENTRAÇÃO projeto, até à formulação. Ao transferir
A pedra angular da reforma é, contudo, as responsabilidades de gestão para as
a chamada desconcentração86, pela qual delegações, aumenta de maneira radical
as delegações da Comissão em países a importância das tomadas de posição
terceiros receberam a capacidade de do país beneficiário que, graças a esta
gestão do ciclo completo do projeto, desconcentração, dá um grande passo no
acompanhada, naturalmente, do necessá- sentido da apropriação do programa ou
rio esforço em recursos humanos e projeto e da sua integração nos recursos
materiais e de um esforço persistente em nacionais, uma vez terminada a execução
formação. Foram criados mais de mil e e, portanto, o financiamento comunitário.
quinhentos novos postos nas delegações
entre 2001 e 2004, enquanto o pessoal A evolução das páginas Web das diferen-
da sede central de Bruxelas diminuiu tes Delegações da Comissão quanto ao
significativamente. O número de dias de seu conteúdo sobre a cooperação é uma
formação por pessoa aumentou de sete boa amostra deste avanço.
84 http://ec.europa.eu/europeaid/reports/final-statistiques-un-2004-vers9_en.pdf
85 http://ec.europa.eu/europeaid/reports/comm-sur-ra2005-annex_en.pdf
86 http://ec.europa.eu/europeaid/decentr/index_en.htm
87 Veja EU Donor Atlas páginas 81 y 82: http://ec.europa.eu/development/body/tmp_docs/Donor_
Atlas.pdf Edição 2006 em: http://ec.europa.eu/development/body/publications/docs/eu_donor_
atlas_2006.pdf
39
05 A TOMADA DE DECISÕES NA COMISSÃO EUROPÉIA. A REFORMA DA GESTÃO DA AJUDA EXTERIOR.

Atualmente, se conclui a desconcentração todas as informações atualizadas. Ao


das linhas orçamentárias correspondentes mesmo tempo, garante a transparência
aos programas temáticos, uma vez efetua- da gestão financeira e permite a atribuição
da completamente para a América Latina de responsabilidades, se necessário, em
as linhas dos programas geográficos. caso de problemas durante a execução
de um projeto.
A desconcentração não teria sido possí-
vel sem a existência de um sistema
de gestão informática que permite o
acompanhamento quotidiano da ativi-
dade fundamentalmente financeira mas
com vocação para ampliar as suas
possibilidades de informação a todos os
âmbitos do projeto, incluindo a avaliação
do impacto e resultados e a localização
de todos os documentos produzidos em
torno do projeto ou programa.

Este sistema de gestão recebe o nome


de CRIS («Common Relex Information
System» ou sistema comum de informa-
ção de relações exteriores) e unificou
as múltiplas bases de dados de gestão
financeira e outras, existentes antes da
reforma.

Seria importante citar aqui que, até 2001,


cada programa regional da CE geria a
informação administrativa e financeira de
maneira individual e isolada, com sistemas
contabilísticos tecnicamente incompatí-
veis entre si, o que dava lugar a situações
embaraçosas para a Comissão, incapaz
de extrair dados gerais sobre o conjunto
das suas atividades de cooperação no
mundo.

O CRIS permite que os responsáveis da


sede e da delegação trabalhem numa
mesma página e que, desta maneira,
cada um dos protagonistas intervenientes
no processo administrativo e financeiro
de qualquer programa ou projeto tenha
à sua disposição a qualquer momento

40
06
A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO
UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

A União Européia compartilha com constitui a base sobre a qual se construiu,


a América Latina numerosos valores ao longo dos últimos anos, toda uma
sociais, políticos e culturais. O respeito série de acordos específicos bilaterais e
pelos direitos humanos e pelos princípios «birregionais» que permitiram à UE, por
democráticos, o Estado de Direito e o exemplo, partilhar a sua experiência de
primado da lei, a economia de mercado, integração regional com o MERCOSUL
a distribuição equitativa dos benefícios ou a Comunidade Andina. No quadro
e dos ônus da mundialização, bem como adiante figura uma cronologia sucinta
das vantagens resultantes das novas das relações UE-América Latina.
tecnologias. Apesar da difícil história
recente de alguns dos países da região, Independentemente da cooperação
a UE desenvolveu e manteve vínculos pontual entre a UE e cada país ou
com a América Latina desde os anos grupo de países latino americanos, a
sessenta. Porém, é a partir da adoção do política global inscreve-se atualmente
já mencionado regulamento PVD-ALA, na chamada «Associação Estratégica
adotado em 1992 e substituido pelo Biregional» da UE com a América
ICD, que estas relações entre as duas Latina e os países das Caraíbas.
regiões se vão poder institucionalizar e Esta associação iniciou-se em 1999
aprofundar no terreno da cooperação com a primeira Reunião de Cúpula
política e comercial88 e da ajuda ao de Chefes de Estado e de Governo
desenvolvimento89. Este regulamento realizada no Rio de Janeiro90 (Brasil)

88 http://ec.europa.eu/external_relations/la/index.htm
89 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/amlat/information_generale.htm
90
41
http://ec.europa.eu/external_relations/andean/doc/rio_sum06_99.htm
06 A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

em 1999 e continuou com Reuniões figuram entre os mais baixos do mundo.


de Cúpula periódicas similares como Como afirmou Chris Patten, membro
a de Madrid91 (Espanha) em 2002 e a da Comissão Européia responsável
de Guadalajara92 (México) em 2004 e pelas relações externas em 2004, «a luta
a de Viena93 (Áustria) em 2006. Entre contra a desigualdade e a construção
os eixos desta associação figuram o de sociedades mais coesas e justas são
aprofundamento do diálogo político as prioridades supremas não só para
e a cooperação econômica, científica a América Latina como também para
e cultural. Também se consideram a UE.» Em 1999, 15% dos habitantes
objetivos prioritários desta associação da UE viviam próximo do limiar de
a consolidação dos laços comerciais pobreza e mais de metade deles (33
e a inserção harmoniosa de todos os milhões de pessoas nos quinze Estados-
protagonistas na economia mundial. Membros) viviam com este risco de
maneira persistente94. Contudo, os
Se no Rio, em 1999, se lançou a problemas de coesão social são mais
mencionada Iniciativa de Associação agudos na América Latina. Numa escala
Estratégica, em Madrid em 2002 de 0 a 100, em que 100 representa
puderam reforçar-se os laços políticos, a desigualdade absoluta, a América
econômicos e culturais através de Latina situa-se no nível 53,9, muito mais
uma declaração política assinada elevado do que a média mundial (38) e
pelos trinta e três países da América inclusive mais elevado do que na África.
Latina e das Caraíbas e pelos quinze Segundo estimativas do Banco Mundial,
da União Européia. Madrid foi também os 10% mais ricos da população da
uma oportunidade para a realização de América Latina desfrutam de 48% dos
negociações do Acordo de Associação rendimentos totais, enquanto os 10%
entre o Chile e a União Européia, mais pobres recebem apenas 1,6%.
que instaura um diálogo político e de Tal como manifestou o Banco Inter-
cooperação e, como novidade, contempla americano de Desenvolvimento95 (BID),
o estabelecimento progressivo de uma se a riqueza gerada na América Latina
zona de livre comércio. Também se estivesse distribuída como na Ásia, a
puseram em marcha os programas pobreza na região seria apenas um
«regionais» ALBAN e @LIS (ver capítulo quinto do que é na realidade.
seguinte) e renovou-se o apoio ao
chamado «Plano de Ação do Panamá» A importância destes dados não se refe-
(1999) de luta contra a droga, baseado re unicamente aos domínios humanitá-
na responsabilidade compartilhada. rios ou de justiça social. A redução da
população pobre pela metade signifi-
A Reunião de Cúpula de Guadalajara, caria duplicar o tamanho do mercado
como se disse, impulsionou a cooperação e aumentaria o grau de compromisso
estratégica no terreno da coesão social, social dos que são atualmente margina-
cujos indicadores para a América Latina lizados pelo sistema democrático.
91 http://ec.europa.eu/world/lac/conc_fr/decl.htm
92 http://ec.europa.eu/world/lac-guadal/declar/01_decl_polit_final_es.pdf
93 http://ec.europa.eu/world/lac-vienna/
94 Ver o discurso de Chris Patten em: http://ec.europa.eu/external_relations/news/patten/
speech04_61.htm
42 95 http://www.iadb.org/index.cfm?language=spanish
A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA
06
Não se pode esperar um crescimento América Latina e das Caraíbas tendo
persistente num ambiente de forte em vista a criação da Área de Livre
desigualdade social. Em Guadalajara Comércio das Américas (ALCA).
falou-se de medidas sociais e fiscais
que contribuam para «romper o curso A Reunião de Cúpula de Viena em
da história» como apontava um estudo maio de 2006 reforçou a Associação
do Banco Mundial sobre a região, estratégica entre as duas regiões e
publicado em Outubro de 200396. anunciou uma maior cooperação no âm-
bito da educação, especialmente entre
A necessidade de aprofundar as medidas Universidades, com o fortalecimento
de democratização, a aprendizagem político de um “espaço comum de
dos cidadãos a reclamarem os seus educação superior”. Na espera de um
direitos sem utilizar a violência, a novo instrumento de cooperação, esta
eficácia das instituições democráticas, última reunião de cúpula produziu
a independência do poder judicial e a expectativas significativas em matéria de
transparência dos processos eleitorais cooperação e se renovaram as intenções
são algumas das áreas inventariadas para conseguir avançar na liberalização
pela UE para que Guadalajara mostre do comércio, incluindo o de matérias
um caminho a percorrer em comum por energéticas. O novo programa regional
todos os países da América Latina e EUROsolar é fruto destas reflexões.
das Caraíbas com o apoio e a ajuda da
UE. São medidas que devem preceder A ampliação de 15 para 27 Estados-
o longamente esperado arranque Membros significa uma oportunidade
econômico da região e o cumprimento para os parceiros da UE na América
das expectativas que a maioria dos Latina. A UE ampliada conta com uma
países da região vem defraudando há população de quase 500 milhões de
demasiado tempo, apesar das riquezas pessoas e um PIB superior a 9,2 bilhões
naturais e do inegável capital humano. de euros. Representa uma quinta parte
de todo o comércio mundial, quase
Guadalajara também manifestou de metade do investimento direto estran-
novo a vontade comum de fomentar geiro e 30% da recepção de investimen-
um sistema internacional baseado nos tos diretos estrangeiros efetuados em
princípios do multilateralismo, vontade todo o mundo.
traduzida na prática pelas posições Continuará provavelmente a ser o pri-
convergentes de ambas as partes em meiro doador mundial em ajuda huma-
torno do Protocolo de Quioto ou do nitária e de urgência. Por último, a
Tribunal Penal Internacional, para citar aplicação automática a 27 países dos
os dois exemplos mais importantes atuais acordos de associação assinados
dos últimos anos. Reforçou-se também pela UE-15 com os diferentes Estados
o compromisso da UE em apoiar a latino-americanos, ampliará as possi-
integração regional, incluindo o bilidades comerciais destes últimos,
estabelecimento de Acordos de Parceria que beneficiarão de maior e mais fácil
Econômica (APE) e em colaborar no acesso aos mercados dos doze novos
reforço institucional dos países da membros da UE.

96 http://www.iadb.org/res/index.cfm?language=Spanish&FUSEACTION=Publications%
2EList&ID_SEC=1&PUB_TYPE_ID=NEW&PUB_TYPE_ID1=IDE&TYPE=pub%5Ftype
43
06 A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

A evolução das relações entre as ses da América Latina e a UE mostram


duas regiões descrita nos parágrafos o caminho que ainda falta percorrer:
anteriores deu origem a um novo os intercâmbios comerciais da UE com
documento estratégico da UE aprovado o Vietnã são maiores do que com a
pela Comissão em 2005. Trata-se da Venezuela, maiores com o Kazaquistão do
Comunicação da Comissão ao Conselho que com a Colômbia, com o Bangladesh
e ao Parlamento “Estratégia para uma do que com o Perú, com as Maurícias
associação reforçada entre a União do que com o Equador, com Aruba do
Européia e a América Latina”97 cujas que com a Bolívia. Estes dados tendem
novidades mais importantes são: a melhorar. A luta pela coesão social
- O desenvolvimento do diálogo sobre em toda a região é um primeiro passo
a coesão social e o meio ambiente, necessário para que estas comparações
- O reforço da associação estratégica passem a fazer parte do passado. A
através da multiplicação de acordos América Latina também se beneficia das
de associação comercial, remessas provenientes de seus emigran-
- A criação de um ambiente estável tes na Europa e em outras regiões do
que permita o aumento dos investi- mundo. Os recentes relatórios publicados
mentos europeus na América Latina, pelo Banco Mundial a esse respeito98
- A criação de um espaço comum de são bastante eloquentes (segundo as
ensino superior. últimas estimações a América Latina
recebe mais de 20% do fluxo mundial
de remessas). A paralização da chama-
AS RELAÇÕES UNIÃO EUROPÉIA da Ronda de Doha pela liberalização
– AMÉRICA LATINA HOJE do comércio mundial levou os países
Do ponto de vista do comércio da região à assinatura de numerosos
internacional, a União Européia é o Acordos de Livre Comércio (TLC) com
segundo parceiro da América Latina e muitos países de todo o mundo.
consolidou progressivamente as suas
relações econômicas e comerciais até No campo da cooperação, a UE destina,
conseguir duplicar os números de 1990. desde 1996, uma média de 450 milhões
A UE mantém um déficit comercial com de euros por ano (além das contribuições
a América Latina em produtos agrícolas bilaterais dos Estados-Membros) para
e energéticos, principais exportações programas e projetos na região. Quanto
latino-americanas para a Europa, enquan- ao financiamento concedido pelo Banco
to se registra um excedente comercial Europeu de Investimento (BEI), a dis-
no resto dos setores, fundamentalmente ponibilidade financeira para a América
maquinária, material de transporte e pro- Latina entre 2000 e 2007 corresponde a
dutos químicos. A UE tem sido tradicio- 2,48 bilhões de euros para apoiar projetos
nalmente o primeiro investidor na região. públicos e privados de infra-estruturas,
indústria, exploração mineira e serviços
Contudo, determinados dados atuais com especial ênfase na melhoria ou pro-
referentes ao comércio entre alguns paí- teção do ambiente.

97 http://ec.europa.eu/external_relations/la/doc/com05_636_pt.pdf
98 http://www-wds.worldbank.org/external/default/main?pagePK=64193027&piPK=641
87937&theSitePK=523679&menuPK=64187510&searchMenuPK=64187283&theSitePK=
44 523679&entityID=000016406_20070122114501&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523679
A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA
06
Quanto às relações políticas, a UE tentou O MERCOSUL é o quarto maior grupo
reforçar os laços políticos, econômicos econômico do mundo, com um PIB total
e culturais entre a América Latina e as de 606 bilhões de euros e uma população
Caraíbas, desde a Reunião de Cúpula de 217 milhões de habitantes. A UE apoia
do Rio em 1999, para desenvolver uma incondicionalmente os projetos e os
parceria estratégica que possa permitir objetivos de integração do MERCOSUL
um aprofundamento das relações entre desde os seus primórdios, em 1991.
ambas as regiões, apesar de estas Em 1995, foi assinado um acordo
relações estarem enquadradas, como já quadro de cooperação inter-regional
vimos, por diferentes bases jurídicas e para aprofundar as relações entre as
financeiras comunitárias. Uma parceria partes e preparar as condições para a
que melhorará a situação dos países da criação de uma parceria inter-regional.
América Latina e das Caraíbas. Durante a Reunião de Cúpula do Rio,
ambas as partes decidiram encetar
Como vimos, a América Latina se negociações de associação abrangendo
regerá através de um novo Instrumento a liberalização do comércio de bens e
de Cooperação ao Desenvolvimento. serviços, a intensificação da cooperação
Estas relações se mantém a três níveis e o aprofundamento do diálogo político.
fundamentais: Pela primeira vez na História, dois blocos
- Os projetos bilaterais com os países e comerciais negociaram este tipo de
as subregiões. Cooperação direta com acordo que esteve muito próximo da
os governos. assinatura em 2004, depois de dezesseis
- Os programas regionais com o con- séries de negociações.
junto das regiões latino americanas
diretamente com a sociedade civil e A UE é o principal parceiro comercial
em parceria (Instituições UE-AL) do MERCOSUL (representando quase
- Os programas temáticos de cobertura 23 %) com 18,2 bilhões de euros de
universal, dos quais a América Latina exportações comunitárias para os quatro
é grande beneficiária. países do MERCOSUL e 24,1 bilhões de
euros de exportações do MERCOSUL
É importante resumir, a seguir, a situa- para a UE em 2002. A UE é, igualmente,
ção das relações entre a UE e as três o principal investidor estrangeiro com
grandes regiões latino americanas: 16,4 bilhões de euros no mesmo ano100.
Em janeiro de 2004, a União Européia
e o Brasil assinaram um acordo de
MERCOSUL cooperação científica e tecnológica.
O MERCOSUL99 constitui um pro-
cesso dinâmico de integração regional Quanto à assistência ao desenvolvi-
entre a Argentina, o Brasil, o Paraguai mento, a UE é o principal doador de
e o Uruguai. Em 2005, a Venezuela ajuda ao MERCOSUL. Entre 2000 e
anunciou sua intenção de unir-se ao 2006, o financiamento concedido pela
MERCOSUL e atualmente se encontra CE no contexto da cooperação regio-
num curioso status de “Estado membro nal e bilateral chegou a quase 250
em fase de adesão”. milhões de euros, repartidos da seguin-
99 http://www.mercosur.int/msweb/
100 http://ec.europa.eu/trade/issues/bilateral/regions/mercosur/index_en.htm
45
06 A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

te forma: 48 milhões de euros para como a responsabilidade comum de


projetos MERCOSUL, 65,7 milhões para abordar este problema.
a Argentina, 64 milhões para o Brasil,
51,7 milhões para o Paraguai e 18,6 A União Européia é o segundo parceiro
milhões para o Uruguai. Além, como comercial da Comunidade Andina,
nos outros casos, das ações financiadas representando 12,3% do comércio total
pelos programas regionais analisadas desta última. Todavia, a CAN representa
no próximo capítulo. apenas 0,8% do comércio total da
UE. As relações comerciais entre as
duas partes baseiam-se no sistema
COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES de preferências generalizadas (SPG)102.
(CAN) Combinado com a cláusula da nação
A UE apoiou o processo andino de inte- mais favorecida, permite que 90% das
gração regional desde o nascimento da exportações andinas entrem na UE sem
CAN101 em 1969 com a assinatura do estarem sujeitas a direitos aduaneiros.
Acordo de Cartagena, que estabeleceu A UE é o principal investidor na CAN,
o chamado «Pacto Andino», posterior- representando mais de um quarto do
mente transformado na Comunidade investimento direto estrangeiro na
Andina graças ao Protocolo Trujillo de região103.
1996. Nesse mesmo ano, a Declaração
de Roma iniciou o diálogo político entre A Comunidade Andina é a primeira região
as duas partes e desde então realizaram- latino-americana que recebeu ajuda
se reuniões presidenciais e ministeriais ao desenvolvimento da UE. O primeiro
específicas. Em 2003, foi assinado um acordo de cooperação regional foi
acordo de diálogo político e cooperação assinado em 1983. Em 1993, um segundo
que permite o aprofundamento de todo acordo ampliou o seu alcance e definiu
o tipo de relações. Este acordo institu- mecanismos de acompanhamento. A
cionalizará o diálogo político e alargará UE é o principal doador de ajuda oficial
o seu alcance para incluir assuntos ao desenvolvimento à CAN. Entre 1996
como a prevenção de conflitos, a boa e 2002, esta ajuda subiu a um total de
governabilidade, a imigração, a lavagem 420 milhões de euros correspondentes
de dinheiro, a luta contra o crime orga- às rubricas financeiras de cooperação
nizado e o terrorismo. econômica, financeira e técnica, assim
distribuídos: 126 milhões para a Bolívia,
A luta contra os estupefacientes é um 86 milhões para o Peru, 38,5 milhões
dos temas prioritários no diálogo político para a Venezuela, 92 milhões para o
entre as duas regiões. É a única região Equador e 105 milhões para a Colômbia.
do mundo com a qual a UE mantém um No mesmo período, os programas
diálogo especializado contra a produção regionais receberam 29 milhões de
e o tráfico de drogas. Este diálogo euros. Contudo, a Comunidade Andina
iniciou-se em 1995 e realiza-se sob a é uma das regiões do mundo que mais
forma de reuniões anuais de alto nível, beneficiam das rubricas orçamentais
baseadas em princípios fundamentais, «temáticas» (ver capítulo 4).

101 http://www.comunidadandina.org/
102 http://ec.europa.eu/trade/issues/global/gsp/index_en.htm
46 103 http://ec.europa.eu/trade/issues/bilateral/regions/andean/index_en.htm
A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA
06
Alguns exemplos: a Colômbia com os A UE é o segundo parceiro comer-
«laboratórios de paz», a Bolívia com os cial da região centro americana, com
projetos de desenvolvimento alternativo, 10% do comércio total, superado pelos
um projeto de formação profissional no Estados Unidos (43% do total). Para
Peru, um projeto ambiental no Equador a UE, estes intercâmbios representam
e um projeto de prevenção de inunda- apenas 0,4% do seu comércio total105.
ções na Venezuela que, por si mesmo, As relações comerciais entre a UE e a
recebeu da rubrica orçamental horizontal América Central estão, como no caso da
«reabilitação» o montante de 25 milhões CAN, sujeitas ao sistema de preferên-
de euros. A soma dos dois tipos de cias generalizadas. A maior parte das
rubricas orçamentais (geográficas e exportações centro americanas entra
temáticas) para o período 1996 – 2002 na UE livre de direitos ou com direitos
ascendeu a 750 milhões de euros. A preferenciais. O regime atual incorpora
Bolívia recebeu 200 milhões, a Colômbia a acumulação regional entre os países
157 milhões, o Equador 80 milhões, o centro americanos e andinos.
Peru 200 milhões e a Venezuela 113 mi-
lhões. Em 2004 deu-se prioridade aos A cooperação da UE com a América
projetos de apoio ao comércio e de luta Central tomou corpo em importantes
contra a droga. programas de promoção dos direitos
humanos e da democracia, do desen-
volvimento das pequenas e médias
AMÉRICA CENTRAL empresas, da redução da pobreza, da
O elemento fundamental das relações proteção do ambiente e da ajuda ali-
entre a UE e a América Central104 é o mentar, do desenvolvimento rural e da
Diálogo de São José, fórum de discus- redução da dívida. O programa mais
são política iniciado em 1984 com o conhecido talvez tenha sido o destinado
fim principal de apoiar a resolução de à reconstrução da América Central após
conflitos, a democratização e o desen- a passagem devastadora do furacão
volvimento. Foi renovado em Florença Mitch pela região em 1998, programa
(1996) e em Madrid (2002), ampliando dotado de 250 milhões de euros.
o seu alcance a questões de integração
regional, segurança, ambiente e catás- As contribuições orçamentais entre
trofes naturais, relações biregionais e 2002 e 2006 chegam a outros 581
concertação política sobre assuntos milhões de euros, repartidos da seguinte
internacionais. A última versão deste forma: 31 milhões para a Costa Rica, 60
diálogo foi assinada em Dezembro de milhões para El Salvador, 72 milhões
2003 sob forma de um acordo político para a Guatemala, 138 milhões para as
e de cooperação que sucede ao diálo- Honduras, 176 milhões para a Nicarágua,
go de São José, embora conserve esta 24 milhões para o Panamá e 75 milhões
denominação, e aos anteriores acordos para programas à escala regional.
de cooperação, o primeiro dos quais Os principais objetivos desta ajuda
tinha sido assinado em 1985 e renovado são a integração regional (40 milhões
em 1993. de euros), a prevenção de catástro-

104 http://www.iadb.org/intal/tratados/mcca.htm
105 http://ec.europa.eu/trade/issues/bilateral/regions/central_america/index_en.htm
47
06 A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

fes naturais e a gestão ambiental (20 mexicanas para a UE são constituídas


milhões), o apoio à boa governabilidade por produtos industriais. Quanto aos
(150 milhões), a luta contra a pobreza e investimentos europeus no México pas-
a exclusão social, com especial atenção saram de 11 bilhões de euros em 1999
às minorias indígenas (110 milhões), o para 24 bilhões em 2001.
desenvolvimento local e rural, sobretudo
na Nicarágua (110 milhões) e a gestão Do ponto de vista da cooperação, o
viável dos recursos naturais, especial- Estado de Direito, o desenvolvimento
mente em Honduras (60 milhões). Além social e a cooperação econômica são
disso, em 2003, a Comissão aprovou o as principais prioridades da estratégia
seu primeiro programa de financiamen- de cooperação da UE com o México,
to setorial, com 52,5 milhões de euros com uma previsão de 56 milhões de
sob a forma de apoio orçamental para euros para o período 2002 – 2006. O
o setor da educação na Nicarágua. desenvolvimento dos programas regio-
As rubricas orçamentais temáticas são nais neste país assume uma especial
particularmente ativas na região como importância. Cerca de 3 700 empresas
o demonstram, entre outros projetos, mexicanas participaram de encontros
as missões de observação eleitoral organizados por Al-Invest. O México é
na Nicarágua (2002) e na Guatemala igualmente um dos três países declara-
(2003). dos prioritários na América Latina pela
Iniciativa Européia para a Democracia e
os Direitos Humanos.
MÉXICO E CHILE
Estes dois países não fazem parte de Em Fevereiro de 2004, o México e a UE
nenhum dos agrupamentos regionais assinaram um acordo de cooperação
da América Latina, o que não quer dizer científica e tecnológica que facilitará a
que as suas relações com a UE não se- participação de institutos de pesquisa
jam particularmente intensas. O México mexicanos no programa quadro comu-
foi o primeiro país latino-americano a nitário de pesquisa e desenvolvimento
assinar uma parceria privilegiada com a tecnológico.
UE, traduzida no Acordo de Associação
Econômica, Pacto Político e Cooperação, Relativamente ao Chile, existe um acordo
assinado em 1997. Este acordo estabe- de associação, assinado em 2002, arti-
lece a celebração de um diálogo político culado em torno de três componentes
de alto nível sobre os negócios bilate- básicos: o diálogo político para coorde-
rais e internacionais. nar posições nos fóruns internacionais, a
A UE é o segundo parceiro comercial106 cooperação e o comércio.
do México (7% do comércio total), depois
dos Estados Unidos da América, que A parte comercial do acordo de coope-
representam 77% do comércio mexica- ração UE – Chile é muito ambiciosa e
no. Em 2000, foi assinado um acordo de excede amplamente os seus compro-
livre comércio entre as partes. Desde missos respectivos na OMC. Estabelece,
então, os fluxos comerciais aumentaram por exemplo, uma zona de comércio
25,5 %. Cerca de 95% das exportações livre de bens mediante a liberalização

106 http://ec.europa.eu/trade/issues/bilateral/countries/mexico/index_en.htm
48
A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA
06
recíproca e progressiva durante um
máximo de dez anos, até se atingir uma
liberalização completa para 97, 1% dos
intercâmbios comerciais. Atualmente, a
UE é o principal parceiro comercial do
Chile e também o principal investidor
estrangeiro no país107.

A cooperação da UE com o Chile prevê


o financiamento comunitário num total
de 34,4 milhões de euros para o período
2002 – 2006. Os setores prioritários são
a cooperação e a inovação tecnológica
(59% do orçamento indicativo), o
desenvolvimento de capacidades para
a promoção da equidade social (32,5
%) e a protecção do ambiente e os
recursos naturais (8,5 %). Em 2002,
a UE e o Chile assinaram um acordo
para melhorar a cooperação científica e
tecnológica entre as partes e aumentar
os investimentos em capital humano
e institucional utilizando os recursos
disponíveis em diversos programas da
Comissão Européia.

Por último, os chamados programas


regionais permitiram avanços signi-
ficativos nos seus diversos campos de
aplicação como se verá no capítulo
seguinte.

107 http://ec.europa.eu/trade/issues/bilateral/countries/chile/index_en.htm
49
CRONOLOGIA DAS RELAÇÕES UNIÃO
EUROPEIA – AMÉRICA LATINA

1954: Começa a funcionar a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, ponto de


partida do processo de integração que deu lugar à União Européia em 1992.
1964: Criação do Mercado Comum Centro americano (MCCA).
1969: Criação do Pacto Andino, que originaria a Comunidade Andina de Nações
(Ato de Trujillo) em 1996.
1973: Criação do CARICOM, Comunidade e Mercado Comum das Caraíbas
(Tratado de Chaguaramas).
1974: Início das conferências bianuais do Parlamento Europeu e do Parlamento
Latino-americano (Parlatino).
1975: Criação do grupo ACP (África, Caraíbas e Pacífico) e assinatura da primeira
Convenção de Lomé (ACP – CE).
1976: Primeiras atividades de cooperação entre a CE, a América Latina e alguns
países das Caraíbas que não eram ainda membros do grupo ACP.
1983: Assinatura do primeiro acordo de cooperação entre a CE e o Pacto Andino.
1984: Início do Diálogo de São José entre a CE e os países da América Central.
1985: Assinatura do Acordo de Cooperação CE – América Central.
1986: Criação do Grupo do Rio, fórum de consulta política que reúne hoje todos
os países da América Latina.
1990: Declaração de Roma, que estabelece o diálogo político entre a CE e o Grupo
do Rio.
1990: Quarta Convenção de Lomé (Lomé IV) com a adesão do Haiti e da República
Dominicana.
1991: Assinatura do Tratado de Assunção, que criou o MERCOSUL (Mercado
Comum do Sul). Composto pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
1992: Criação do Cariforum, fórum de diálogo político dos países caribenhos.
1994: Assinatura do Protocolo de Ouro Preto, que consolida e institucionaliza o
processo do MERCOSUL.
1994: Quarta Reunião Ministerial entre a UE e o Grupo do Rio em São Paulo.
Adoção de uma declaração sobre a parceria.
1995: Comunicação da Comissão Européia “União Européia – América Latina:
atualidade e perspectivas do reforço da parceria 1996 – 2000”, COM (95) 495.
1996: Primeira reunião para estabelecer um diálogo de alto nível entre a UE e a
Comunidade Andina sobre a luta contra as drogas, após vários acordos sobre os
chamados «precursores químicos” em 1995.
CRONOLOGIA DAS RELAÇÕES UNIÃO
EUROPEIA – AMÉRICA LATINA

1997: Início da negociação do Acordo de parceria econômica, concertação política


e cooperação com o México.
1999: Comunicação da Comissão Européia: “Uma Nova Parceria União Européia-
América Latina na Alvorada do Século XXI”, COM (1999) 105.
1999: Reunião de Cúpula do Rio: lançamento da parceria estratégica UE, América
Latina e Caraíbas.
1999: Início das negociações sobre o acordo de parceria entre a União Européia
e o MERCOSUL.
2000: Comunicação da Comissão Européia sobre o seguimento da Reunião de
Cúpula do Rio: “Seguimento da Primeira Reunião de Cúpula entre a América
Latina, as Caraíbas e a União Européia», COM (2000) 670.
2000: Assinatura do Acordo de Cotonu entre a UE (15 países) e os Estados ACP
(77 países).
2000: Adesão de Cuba, como observador, ao grupo ACP.
2000-2001: Entrada em vigor progressiva do Acordo de Livre Comércio UE – México.
2002: Reunião de Cúpula de Madrid entre a América Latina, as Caraíbas e a UE.
2002: Assinatura do Acordo de Associação UE – Chile.
2002: Assinatura do Memorando de Entendimento entre a Comissão Européia e o
Banco Inter americano de Desenvolvimento (BID).
2002: Entrada em vigor das disposições comerciais provisionais do Acordo UE-
México.
2003: Entrada em vigor do Acordo de Cotonu.
2003: Entrada em vigor das disposições comerciais provisórias do Acordo UE – Chile.
2003: Assinatura do Acordo de diálogo político e de cooperação entre a UE e a
Comunidade Andina.
2004: Início das negociações dos acordos de parceria econômica (APE) com as
Caraíbas.
2004: Reunião de Cúpula de Guadalajara (México) entre a América Latina, as
Caraíbas e a UE.
2005: A Comissão adota uma nova comunicação estratégica sobre as Relações
entre a União Européia e a América Latina.
2006: Reunião de Cúpula de Viena (Áustria) entre a América Latina, as Caraíbas
e a UE. Proposta de início de negociações de acordos de Associação UE-CAN e
UE-América Central.
06 A SITUAÇÃO ATUAL DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA

52
07
OS PROGRAMAS REGIONAIS
NA AMÉRICA LATINA

A Comissão Européia começou a con- Estes programas dizem respeito ao


cepção dos chamados Programas ensino superior e investigação (αLFA e
Regionais para a América Latina em AlβAN), cooperação econômica entre
1993, com a adoção do primeiro deles, empresas (Al Invest), sociedade da
Al-Invest. Estes programas, particular- informação (@LIS), energia (ALURE),
mente ativos na região, complementam o desenvolvimento urbano (URB-AL) e
financiamento executado a nível nacional coesão social (EUROsociAL). Um últi-
ou sub-regional108. Em função do seu mo programa, o chamado Observatório
campo de atividade, são elegíveis as para as Relações União Européia
entidades, instituições ou empresas de – América Latina (OBREAL), estuda
todos os países da UE e da América e analisa as relações entre as duas
Latina, isto é, são geograficamente regiões. Em finais de 2006 foi aprova-
horizontais para as duas regiões. Em do o programa EUROsolar, firmado
geral, o seu método de trabalho passa em princípio, entre a UE e oito países
pela constituição de redes nas quais latino-americanos com a finalidade de
estão representados os dois lados do fomentar o uso de energias renováveis.
Atlântico. Ao longo dos últimos anos,
a UE criou e desenvolveu uma série Convém informar que os programas
de programas em vários setores em regionais respondem à prioridades
que participam de forma destacada as políticas e interesses comuns às duas
organizações representativas da socie- partes e obedecem à uma demanda
dade civil latino-americana e européia. de regionalização dos diferentes

108 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/amlat/regional_cooperation_pt.htm
53
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

protagonistas latino-americanos. Estes Constituem um exemplo de cooperação


programas favorecem a regionalização econômica, na qual os sócios das duas
através dos distintos estratos da regiões se beneficiam mutuamente, bem
sociedade civil. Para muitos dos países além do co-financiamento por parte
sócios da UE na América Latina, os dos diversos associados de ambos os
programas regionais constituem a mais lados do Atlântico, em um determinado
importante fonte de financiamento programa.
comunitário. Este produz-se geralmente
mediante a seleção de projetos de quali- Finalmente, sua gestão está centralizada
dade através de convites à apresentação na Unidade B2 do Serviço de Cooperação
de propostas (ver capítulos 8 e 9). É EuropeAid da Comissão Européia, em
interessante comparar a evolução dos Bruxelas.
programas regionais na América Latina
e seus homólogos na Ásia109. OS
PROGRAMAS
Todos os programas regionais latino- REGIONAIS: a con-
tribuição financeira da
americanos têm algumas características
UE (Em milhões de €) em
comuns, entre as quais cabe ressaltar: curso-março de 2007

A cooperação é descentralizada. Isto ALβAN : 88,5


αLFA II : 54,6
significa que se executa diretamente com
AL-INVEST III : 46,0
os protagonistas da sociedade civil das @LIS : 63,5
duas regiões: Universidades, autoridades URB-AL II : 50,0
locais, PMEs, no âmbito das prioridades EUROsociAL : 30,0
EUROsolar : 25,0
definidas geralmente nas Reuniões de
OBREAL : 1,3
Cúpula UE – ALC, antes mencionadas. O TOTAL : 358,9
trabalho se realiza através de redes espe-
cíficas para cada programa, o que lhes Não se inclui nesta repartição as
outorga uma grande flexibilidade e ao contribuições de AL-Invest I e II
(98 milhões de euros), de ALFA I
mesmo tempo facilita o reforço das capa- (32 milhões), de URB-AL I (14
cidades institucionais dos participantes milhões), nem as de programas
e a apropriação por parte dos próprios já concluídos como ALURE,
protagonistas das ações levadas adiante no setor da energia e
outros (29 milhões de
dentro dos programas em setores chave euros)
para o desenvolvimento da cidadania de
um país.
Alβan
Cobrem o conjunto das duas regiões, o Lançado oficialmente na segunda
que significa 18 países latino-americanos Reunião de Cúpula UE – ALC (Madrid)
e 27 europeus, pela sua própria natureza, em Maio de 2002, é um programa de
favorecem a cooperação Sul-Sul, um bolsas de estudos de alto nível. Os seus
dos objetivos de qualquer política de objetivos são o reforço da cooperação
desenvolvimento coerente. no campo da educação superior, o
aumento da mobilidade de cidadãos

109 http://ec.europa.eu/europeaid/projects/asia/regional_en.htm#wid
54
OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA
07
latino-americanos para os sistemas de especialização para profissionais expe-
ensino superior da UE e o reforço das rimentados, a formação de uma rede
capacidades dos recursos humanos, as com pontos focais de informação e
possibilidades de emprego e o aumento comunicação identificados na América
das competências dos cidadãos latino- Latina e a abertura de uma rede de ex-
americanos nos seus países de origem. bolsistas, aberta também aos bolsistas
Esta iniciativa se enquadra nas priori- de αLFA e de outros programas na
dades de ação identificadas no segui- América Latina. Aproximadamente 90%
mento da primeira Reunião de Cúpula dos recursos reservados para bolsas se
celebrada entre a América Latina e as outorga à bolsistas que se matriculam
Caraíbas e a União Européia no Rio de em mestrados ou doutorados, mesmo
Janeiro, em junho de 1999 (COM 2000) que os 10% restantes se reserve a
670 final, 31/10/2000. bolsas de alto nivel para profissionais e
futuros executivos latino-americanos.
A abertura do espaço européu de
Educação Superior aos cidadãos latino- A sua duração prevista vai até 2010 e o
americanos contribuirá a melhorar as orçamento total é de 113,5 milhões de
oportunidades para o emprego de euros. A contribuição da UE será de 88,5
pós-graduados e profissionais latino- milhões de euros, dos quais 75 milhões
americanos em seus países de origem. estão destinados exclusivamente às
bolsas mencionadas.
O Programa Alβan responde aos termos
expostos na Comunicação da Comissão Resultados até o momento
ao Parlamento Europeu e ao Conselho Nos dois primeiros convites à apre-
relativa ao reforço da cooperação sentação de propostas (2003 e 2004)
com países terceiros em matéria de foram selecionadas 1 030 candidaturas
Ensino Superior (COM 2001) 385 final, para um período médio de dois anos
18/07/2001. cada uma, o que significa um total de
2 060 bolsas anuais. A contribuição
Objetivos e atividades comunitária por este período chegou,
Aumentar as oportunidades de edu- portanto, a 26,9 milhões de euros. Os
cação e de formação de qualidade primeiros bolsistas do Programa Alβan
na Europa, para cidadãos da América iniciaram os estudos de pós-graduação –
Latina. Criar uma rede de informação mestrado e doutorado – ou de formação
e de comunicação sobre o programa superior especializada, à partir do início
Alβan e sobre a oferta de educação e do ano acadêmico 2003/2004. Os perío-
de formação na Europa. dos de educação e formação duram
de 6 meses até 3 anos, dependendo
A criação de uma rede de ex-bolsistas do nivel e programa educativo ou de
αlfa e Alβan. formação previsto. No quarto convite à
proposta ( ano acadêmico 2006 – 2007)
As suas atividades principais têm sido a foram selecionadas 462 mulheres e 468
concessão de bolsas de pós graduação homens. Os países com maior número
(mestrado e doutorado) e bolsas de de candidatos escolhidos foram o Brasil

55
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

(334) e o México (157). O país europeu Funcionamento


que acolhe o maior número de pessoas O Programa αlfa funciona através de
é a Espanha (282), seguida pelo Reino redes de Instituições de Ensino Superior
Unido (208). No momento, com o atual (IES). As redes são as únicas entidades
formato do programa, não se prevê que podem apresentar propostas de
outros convites à propostas. projetos à Comissão Européia, dentro
do Programa αlfa.
Informação adicional
Todos os dados dos quatro convites Podem integrar as redes:
realizados até agora, assim como os - As Instituições de Ensino Superior
documentos oficiais de referência reconhecidas como tal pelas autorida-
podem ser consultados em: www. des nacionais de seus respectivos
programalban.org e também em http:// países.
ec.europa.eu/europeaid/projects/alban/ - Outras Instituições: centros de educa-
index_pt.htm ção de adultos ou de formação conti-
nua, associações sem fins lucrativos,
autoridades nacionais e empresas
αLFA (América Latina - privadas.
Formação Acadêmica)
Como os demais programas regionais,
Objetivo os países elegíveis dentro do Programa
Impulsiona a cooperação entre as ins- αlfa são os Estados Membros da União
tituições de ensino superior das duas Européia e os 18 países da América
regiões. Os seus objetivos são: propor- Latina (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile,
cionar valor agregado às relações entre Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador,
a UE e os países da América Latina, El Salvador, Guatemala, Honduras,
estabelecer e reforçar os mecanismos México, Nicaragua, Panamá, Paraguai,
de cooperação universitários e melhorar Perú, Uruguai e Venezuela). Para
a qualidade dos recursos humanos e as participar no Programa αlfa a condição
instituições nos dois continentes com imprescindivel é fazer parte de uma
mobilidade tanto entre a UE e a América rede. Em caso algum o Programa αlfa
Latina como entre os diferentes países financia a título individual (que se trate
latino americanos. Este programa cons- de uma Instituição ou de pessoa física).
truiu uma rede de instituições de ensino
superior na UE e na América Latina na As redes devem reunir os seguintes
qual estão presentes a maior parte das requisitos:
universidades de ambas as regiões. Na - Serem formadas por no mínimo seis
sua segunda fase (2000 – 2005), que já IES (3 da União Européia e 3 da
assistiu à publicação e encerramento América Latina), de seis países dife-
de 10 convites à apresentação de pro- rentes.
postas, foram até agora aprovados 225 - Serem coordenadas por uma Insti-
projetos dos quais 93 correspondem a tuição (chamada Instituição coorde-
gestão acadêmica e institucional e 132 nadora), única interlocutora perante a
a formação científica e técnica. Comissão Européia.

56
OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA
07
Só as Instituições de Ensino Superior está em http://ec.europa.eu/europeaid/
podem desempenhar o papel de Ins- projects/alfa/index_pt.htm
tituição coordenadora.
- As Instituições não reconhecidas Através desta mesma página pode-se
pelas autoridades nacionais de seus acessar o boletim periódico ALFA-Flash,
respectivos países, não poderão ser com atualizações permanentes sobre os
maioria na rede. Além do mais, o nú- resultados do programa.
mero de Instituições de diferentes
países que formam uma rede deve
ser superior ao número de instituições URB-AL
de um mesmo país. Este programa estabelece laços diretos
entre as cidades da Europa e da América
Resultados até o momento Latina mediante a difusão, aquisição e
Até agora foram realizadas dez rondas aplicação de boas práticas em matéria
de convites a propostas. Dentro da UE, de políticas urbanas, através de ações
foi a Espanha que teve a maior partici- de cooperação entre cidades, províncias
pação (195 projetos). Portugal participa e regiões dos dois lados. Entre os objeti-
em 96 projetos e a França em 91, a vos figura também o apoio institucional.
Alemanha em 78, o Reino Unido em 72 Lançado em 1995, Urb-AL já reuniu
e a Filândia em 13 projetos. A média de mais de 680 entidades locais européias
participações na UE é de 47. e latino-americanas com projetos con-
tendo temas tais como a droga, o meio-
De igual modo e em relação à América ambiente, a participação cidadã, a luta
Latina, a Argentina (147 projetos) e o contra a pobreza, o transporte, a segu-
Brasil (136 projetos) são os países com rança, o urbanismo, o desenvolvimento
a maior participação. Colômbia partici- econômico, a sociedade da informação,
pa em 72, Nicaragua em 15 e Paraguai a democracia e o apoio institucional.
em 11 projetos. A média de participação
na América Latina é de 49. Objetivos
Mediante o intercâmbio e a participa-
No total, ao longo das dez rondas de ção das coletividades locais em projetos
ALFA II, têm participado 770 IES de comuns, o programa Urb-AL contribui a:
ambas as regiões. Cabe mencionar que - Reforçar as capacidades de ação das
a mesma instituição de um país pode coletividades locais no desenvolvimen-
participar de mais de um projeto e que to social, econômico e cultural das
várias instituições de um mesmo país zonas urbanas, incluindo a implemen-
podem participar da mesma rede de tação de equipamentos coletivos.
projetos. O número total de participa- - Desenvolver as capacidades estruturais
ções de IES nas 10 rondas de seleção das coletividades locais, em particular
tem sido de 2.114, com uma média de através da formação de recursos huma-
9,5 instituições por rede. nos.
- Promover a parceria entre coletividades
Toda a informação disponivel, for- locais e representantes da sociedade
mulários e documentos de referência civil.

57
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

- Desenvolver a capacidade de ação Moulineaux–França)


das pequenas e médias cidades 4. A cidade como promotora do de-
(PMC) no âmbito da internacionaliza- senvolvimento econômico (Madrid-
ção de suas relações. Espanha)
- Promover as “boas práticas” de 5. Políticas sociais urbanas (Inten-
desenvolvimento local européias e dência municipal de Montevidéu-
latino-americanas respeitando suas Uruguai)
especificidades locais. 6. Meio ambiente urbano (Malaga-
Espanha)
Resultados até a presente data 7. Gestão e controle da urbanização
Em suas duas fases, com dez anos (Intendência municipal de Rosario-
de funcionamento até a data presente, Argentina)
foram organizadas cerca de 40 reuniões 8. Controle da mobilidade urbana (Lan-
internacionais que reuniram na totalidade, deshauptstadt Stuttgart-Alemanha)
mais de 10.000 pessoas. Existem 13 redes 9. Financiamento local e orçamento
temáticas que coordenam mais de 2000 participativo (Prefeitura municipal
coletividades locais, associações, ONG, Porto Alegre-Brasil)
sindicatos, Universidades ou empresas. 10. Luta contra a pobreza urbana (Pre-
Foram realizados mais de 180 projetos por feitura de São Paulo – Brasil)
um montante total de 50 milhões de euros. 11. Promoção das mulheres nas instân-
Estes projetos comuns implicaram em cias de decisão locais (Diputacion de
mais de 1600 participações, favorecendo Barcelona-Espanha)
o intercâmbio direto de experiências 12. Cidade e sociedade da informação
entre conselheiros e técnicos territoriais “digital" (Cidade de Bremen-
dos dois continentes. Sua dotação Alemanha)
orçamentária foi de 14 milhões de euros 13. Segurança cidadã na cidade (Muni-
que chegaram até 50 milhões de euros cipalidad de Valparaiso-Chile)
na sua segunda fase (2001 – 2006).
Nesta segunda fase, se incluiram como Existem, além do mais um Centro de
temas novos o financiamento local e o documentação do Programa Urb-Al
orçamento participativo, a luta contra a que tem como objetivo principal coletar
pobreza urbana, o fomento à participação todos os resultados do programa e
de mulheres nas instâncias locais, a constituir uma biblioteca acessivel à
segurança cidadã e por último, a cidade todos (http://www.centrourbal.com/)
diante da sociedade da informação. e um Observatório da cooperação
descentralizada UE-AL (http://www.
As redes temáticas que finalizaram observ-ocd.org/) que realiza pesquisa
suas atividades recentemente são as sobre as atividades das coletividades
seguintes (entre parênteses, a entidade locais de ambos os continentes.
coordenadora de cada rede):
1. Droga e cidade (Santiago do Chile) Toda a informação disponivel, dados,
2. Conservação dos contextos históricos endereços, documentos e publicações
urbanos (Província de Vicenza-Italia) específicas se encontram em:
3. A Democracia na cidade (Issy-les

58
OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA
07
http://ec.europa.eu/europeaid/projects/ estreitando os laços entre as duas
urbal/index_fr.htm regiões no debate e na ação com uma
clara inclinação até os estratos menos
favorecidos da sociedade.
@LIS (Aliança para a socieda-
de da informação) Objetivos
Tem como finalidade a redução da Os objetivos do programa @LIS são:
chamada fratura digital ou numérica, - Estimular a cooperação entre os par-
fomentando o uso das novas tecnologias ceiros europeus e latino-americanos;
da informação e da comunicação (TIC). - Facilitar a integração dos países da
Foi lançado no Foro Ministerial sobre América Latina em uma sociedade da
a sociedade da informação (digital) informação global;
organizado em Sevilha em abril de - Fomentar o diálogo entre todos os
2002. O programa aspira responder às agentes e usuários da sociedade da
necessidades das coletividades locais, informação;
estimular o diálogo em matéria de - Melhorar a interconexão entre comu-
políticas e regulamentação e aumentar nidades de pesquisadores de ambas
a capacidade de interconexão entre regiões;
coletivos de pesquisadores das duas - Responder às necessidades dos cida-
regiões. dãos e das comunidades locais;

O setor das TIC conheceu um importante Por em prática aplicações inovadoras,


desenvolvimento durante os últimos mediante 19 projetos de demonstração.
anos na América Latina. Os países da Efetivamente, a partir de um primeiro
região estão dando passos consideráveis convite à propostas, realizado em 2003,
no sentido de adotar as tecnologias de se selecionaram 19 projetos de demons-
informação. Apesar disto, ainda resta tração, distribuídos em quatro campos
um longo caminho a percorrer para temáticos: e-governo local, e-educação
transformar em realidade o objetivo de e diversidade cultural, e-saúde pública
@LIS de reduzir a fratura numérica ou e e-inclusão social. Atualmente 103
digital para conseguir um acesso mais organizações da União Européia e 109
igualitário às novas tecnologias através da América Latina participam nestes
do fortalecimento da cooperação no projetos.
campo da sociedade da informação. A
avaliação a médio prazo levada adiante Em paralelo, @LIS apoia cinco ações
recentemente manifestou a vigência horizontais:
dos objetivos @LIS, assim como a - Um Diálogo Político e regulatório,
contribuição do programa à promoção coordenado pela CEPAL
de uma maior concientização sobre - Um Diálogo sobre standards e normas
a importância deste tema. Assim, o tecnológicas, coordenado pelo Insti-
programa @LIS tem um papel importante tuto Europeu de Standards de Teleco-
na coordenação para o desenvolvimento municações (ETSI)
da sociedade da informação entre a - Uma Rede de Reguladores latino-
América Latina e a União Européia, americanos (Regulatel)

59
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

- Uma Rede de infraestrutura avançada políticas públicas de educação, saúde,


conectando por internet com administração da justiça, fiscalidade
grande banda larga, as redes de e emprego de forma que podem ser
pesquisa latino-americanas com as autênticos vetores da coesão social.
européias (ALICE – América Latina A atividade principal do EUROsociAL
interconectada com a Europa), é o intercâmbio de experiências entre
coordenada pela redes DANTE na administrações dos países da União
Europa e CLARA na América Latina Européia e da América Latina, ou dos
- Uma Rede internacional de agentes países latino-americanos entre si.
participantes que estimula a cola-
boração entre parceiros políticos, A Comissão européia selecionou
sociedade civil e comunidade de em maio de 2005 quatro consórcios
pesquisa. Coordenada pelo Consórcio encarregados da execução do programa
@LIS-ISN – MENON, AHCIET, F212 durante 4 anos de duração prevista.
&VECAM. Estes quatro consórcios são:

Seu orçamento (2001-2006) é de 77,5 Setor Educação:


milhões de euros dos quais 63,5 corres- Coordenado pelo Centre International
ponde a participação financeira da UE. d’Etudes Pédagogiques (CIEP) – França,
Atualmente, o programa encontra-se seus sócios são:
finalizando sua fase de implementa- 1. Fundación Iberoamericana para la
ção, com uma numerosa participação Educación, la Ciencia y la Cultura -
de representantes de todos os setores OEI (Espanha)
implicados. 2. Comitato Internazionale per lo Sviluppo
dei Popoli (Itália)
Toda a informação, incluidos os rela- 3. Ministério da Educação (Brasil)
tórios de avaliação, lista de projetos e 4. Ministerio de Educación (El Salvador)
informações por tipo de participantes e 5. Secretaría de Educación Pública
nacionalidades, está disponivel através (México)
da página: http://ec.europa.eu/europeaid/ 6. Ministerio de Educación (Perú)
projects/alis/index_pt.htm 7. Instituto Internacional para el Desa-
rrollo y la Cooperación (Venezuela)

EUROsociAL Setor Fiscalidade:


Lançado oficialmente na terceira Reu- Coordenado pelo Instituto de Estudios
nião de Cúpula UE-ALC (Guadalajara, Fiscales (IEF) – Espanha, seus sócios são:
2004), conta com um financiamento 1. Fundación Centro de Educación a
comunitário de 30 milhões de euros Distancia para el Desarrollo Econó-
que devem contribuir para a redução mico y Tecnológico (Espanha)
das desigualdades sociais na região. O 2. Association pour le Développement
objetivo geral do programa EUROsociAL des Echanges en Technologie Econo-
consiste em contribuir para o aumento mique et Financière (França)
do grau de coesão social das sociedades 3. InWEnt Capacity Building International
latino-americanas atuando sobre as (Alemanha)

60
OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA
07
4. Institute of Fiscal Studies (Reino Unido) 4. Organización Iberoamericana de
5. Centro Interamericano de Adminis- Seguridad Social (Espanha)
traciones Tributarias (Multinacional) 5. Escola Nacional de Saúde Pública
6. Administración Federal de Ingresos Sérgio Arouca (Brasil)
públicos (Argentina) 6. Fondo Nacional de Salud de Chile
7. Secretaria da Receita federal (Brasil) (Chile)
8. Dirección de Impuestos y Aduanas 7. Instituto Nacional de Salud Pública
Nacionales (Colômbia) (México)
9. Servicio de Administración Tributaria 8. Fundación ISALUD (Uruguai)
(México)
Setor Emprego:
Setor Justiça: Este setor particular do programa
Coordenado pela Fundación Internacional EUROsociAL foi confiado à Oficina
y para Iberoamérica de Administración y Internacional del Trabajo (OIT) - Agências
Políticas Públicas (FIIAPP) – Espanha, seus de Turín e Lima. (http://lamp.itcilo.org/
sócios são: eurosocial-empleo/)
1. Consejo general del Poder Judicial A coordenação geral do programa foi
(Espanha) confiada também à FIIAPP - Espanha.
2. Ministère de la Justice (França) Toda a informação disponivel está em:
3. Ecole Nacional de la Magistrature http://www.programaeurosocial.eu/
(França) e em: http://ec.europa.eu/europeaid/
4. Fundación Alemana para la Coopera- projects/amlat/eurosocial_pt.htm
ción Jurídica Internacional (Alemanha)
5. Oficina de Consejo Nacional de la
Justicia de Hungría (Hungría) AL-Invest
6. Secretaría de Reforma do Judiciário Historicamente a Europa e a América
(Brasil) Latina mantêm relações estreitas.
7. Poder judicial (Costa Rica) Porém, resta ainda um longo caminho a
8. Consejo Superior de Judicatura percorrer para o aumento do intercâmbio
(Colômbia) comercial e dos investimentos, prin-
9. Centro de Estudios de Justicia de las cipalmente no que concerne as PMEs.
Américas (Chile) A fim de reforçar esta cooperação
10.Instituto Tecnológico y de Estudios econômica a Comissão européia lançou
Superiores de Monterrey (México) em 1993 o Programa Al-Invest em favor
das pequenas e médias empresas das
Setor Saúde: duas regiões.
Coordenado pelo Institut de Recherche
pour le Développement (IRD) – França, Desde então o programa apoiou com
seus sócios são : êxito milhares de PMEs e organizações
1. Instituto de Salud Carlos III (Espanha) de todos os setores econômicos facili-
2. Organización Mundial de la Salud tando o comércio e o investimento entre
(Internacional/Dinamarca) os dois continentes. Para consolidar
3. Fondazione Angelo Celli per una este sucesso lançou-se em 2004 o
Cultura della Salute (Italia) AL-Invest III com uma duração de 4

61
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

anos e um orçamento global de 52,5 AL-INVEST III que indica todos os deta-
milhões por parte da Comissão européia lhes técnicos, formatos de apresentação
e do Consórcio que representa o setor e o guia financeiro para a apresentação e
privado de ambos continentes. desenvolvimento de projetos.

O que oferece AL-INVEST III? Os operadores podem participar em


O programa apóia financeiramente as diversos projetos de forma simultânea
iniciativas conjuntas promovidas por oferecendo diariamente contatos
organizações empresariais da União privilegiados às suas empresas.
Européia e América Latina, que inten-
sifiquem a cooperação econômica Quem pode participar?
entre ambas regiões. Entre outra ações, Para participar, os operadores devem
incluem-se rondas de negócios, visi- primeiro ser membros de uma rede de
tas e feiras internacionais, eventos de cooperação AL-INVEST III. Na União
formação e desenvolvimento para as Européia os membros da rede se
PMEs e formação de tipo institucional denominam COOPECOs e na América
para organizações representativas do Latina EUROCENTROs.
setor privado.
As instituições seguintes podem ser
Como é organizado o Programa? membros da rede AL-INVEST III:
A Comissão européia confiou a Câmaras de Comércio e Indústria,
terceira fase do Programa Al-Invest Associações Industriais, Organizações
III a um Consórcio representado de comércio exterior, Agências de de-
por Eurochambres e integrado por senvolvimento e outros organismos
organizações empresariais da Europa e similares sem fins lucrativos.
da América Latina. O serviço executivo
do programa encarregado da gestão Unicamente os membros da rede tem
diária do mesmo é Eurochambres, que acesso aos fundos de AL-INVEST III. A
dispõe de uma equipe de funcionários rede reúne hoje mais de 250 organizações
dedicados à gestão dos projetos. na União Européia e América Latina que
contam com objetivos e métodos de
Como opera AL-INVEST III? trabalho comuns.
O programa recebe regularmente
dos operadores as propostas de A rede AL-INVEST III organiza uma
projetos que são avaliadas por peritos reunião anual chamada Connect, na
independentes. As propostas aceitas qual operadores podem compartilhar
recebem uma contribuição de 14.000 experiências, preparar novos projetos,
euros a 250.000 euros que cobre 80% intercambiar informações e conhecer
dos custos elegíveis do projeto. novos colaboradores.

As propostas são enviadas por um ope- Quais são os resultados da fase III
rador principal e dois ou mais sócios do Programa ?
colaboradores. As bases para elaborar Até 2007 o programa AL-INVEST finan-
ditas propostas estão contidas no Manual ciou 991 projetos com um total de mais de

62
OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA
07
80.000 PMEs e instituições beneficiadas difusão na Europa e na América La-
desde 1994. Os montantes respectivos à tina das informações pertinentes com
Al-Invest III são de 520 projetos e mais de uma visão estratégica das relações
35.000 empresas associadas. entre as duas;
4. Promover atividades específicas vin-
O sitio Web do programa oferece entre culadas a associação biregional sobre
outras coisas, informação em tempo real temas de interesse comum, levando
sobre os resultados, indicando quan- em conta as expectativas de cada
tas empresas participam, de que paí- região;
ses, setores, em que tipo de projeto, 5. Reunir os conhecimentos existentes
que acordos econômicos são gerados, nos âmbitos pertinentes das relações
quantos fundos são utilizados e outras entre a União Européia e a América
informações de interesse. Esta seção Latina com objetivo de participar
chama-se “resultados” e encontra-se no na reflexão que deve contribuir ao
seguinte site: www.al-invest3.org reforço da associação entre ambas
regiões;
6. Favorecer a divulgação através dos
Observatório para as relações meios adequados na União Européia
União Europeia – América e na América Latina da informação
Latina (OBREAL) relativa as relações entre ambas re-
Aprovado em Setembro de 2003, trata giões e uma visão estratégica de tais
de identificar e desenvolver todas as relações.
possibilidades de parceria entre as duas
regiões. Atividades desenvolvidas
Organização de Seminários e reuniões:
A necessidade em ter para os próximos organizam-se várias reuniões anuais
anos uma ferramenta especializada que sobre temas prioritários da associação
reúna as competências no âmbito das estratégica Europa - América Latina: a
relações UE-AL, conduziu a Comissão coesão social, a questão da droga, a
européia a criar o Observatório para as integração regional e sub-regional, o
Relações UE-AL (OBREAL-EURALO). comércio, a segurança e a associação
bi-regional União Européia – América
Objetivos Latina em um contexto multilateral.
Os objetivos do observatório são:
1. Contribuir para a reflexão sobre os Pesquisa e estudos: Realização de pes-
desafios comuns que a UE e a Amé- quisas de natureza econômica ou polí-
rica Latina devem enfrentar em con- tica, estudos de impacto social e de
junto; outros temas específicos de interesse
2. Levar em conta a relação de ambas mútuo.
regiões com outras regiões do mundo;
3. Reforçar as relações entre as insti- Intercâmbio de experiências e divulga-
tuições de ensino de ambas as regiões ção da informação: criação de ferramen-
dispostas a partilhar o seu potencial tas de comunicação específicas dirigidas
de estudo e informação e propiciar a ao mundo universitário e político.

63
07 OS PROGRAMAS REGIONAIS NA AMÉRICA LATINA

Componentes e grupos de trabalho Nos últimos meses, atendendo à


OBREAL é gerido por um consórcio necessidade de dar espaço à outros
coordenado pela Universidade de temas, foram criados dois grupos
Barcelona (Espanha) e composto pelas de trabalho adicionais: Resolução
siguintes entidades: de conflitos e Economia Social e
Solidária. Existe também uma área
Université Catholique de Louvain–UCL temática horizontal, que trabalha sobre
(Bélgica), Sciences Po, Chaire Mercosur as perspectivas de Gênero (Direitos
(França) Free University of Berlín–FUB Humanos, minorias e meio ambiente).
(Alemanha), ISLA, Università Bocconi- Sociedade Civil (Representação, par-
ISLA/UB (Italia), Università degli Studi ticipação e relações e sinergias com
di Bologna (USB), Buenos Aires Centre Organizações não Governamentais),
(Italia–Argentina), Foundation Institute of Pobreza e Impacto da Ampliação da
Public Affairs–FIPA (Polônia), Instituto de União Européia.
Estudos Estratégicos e Internacionais–IEEI
(Portugal), Royal Institute of International Toda a informação disponivel, ati-
Affairs RIIA–Chatham House (Reino vidades, publicações, etc. está em:
Unido), Universidad de San Andrés, http://ec.europa.eu/europeaid/projects/
Buenos Aires (Argentina), Instituto de amlat/oreal_es.htm e em: http://www.
Estudos Econômicos e Internacionais obreal.unibo.it/home.aspx
(IEEI), São Paulo (Brasil), Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS),
Rio de Janeiro (Brasil), Fundação Centro
de Estudos do Comércio Exterior, Rio de
Janeiro (Brasil), Universidad de los Andes,
Bogotá (Colômbia), Centro de Investigación
y Docencia Económicas–CIDE (México),
Instituto de Estudios Peruanos–EIP, Lima
(Perú) e Facultad Latino Americana de
Ciências Sociales–FLACSO (América
Latina).

Quanto às atividades, dividiu-se nos


grupos de trabalho seguintes:
- Relações Comerciais e Financeiras e
Integração Regional
- Democracia, Direitos Humanos e Es-
tado de Direito
- Cooperação Social e para o Desen-
volvimento
- Governabilidade Global e Multiregio-
nalismo
- Sociedade Civil e Construção Institu-
cional

64
08
A GESTÃO DA COOPERAÇÃO:
OS DIFERENTES ENFOQUES.

Nos capítulos anteriores descreveram- – por parte dos Estados receptores aos
se as bases políticas, jurídicas e quais a UE prefere chamar «parceiros»
financeiras sobre as quais assenta a a fim de deixar claro o conceito de
cooperação entre a União Européia e a responsabilidade compartilhada e o
América Latina. Nos próximos capítulos processo de interações sucessivas que
passa se em revista, a execução das dão lugar à definição de um programa
ações de cooperação, as formas que ou projeto. Um dos resultados desta
esta pode assumir e os processos atitude de co-responsabilidade é que
sucessivos necessários para que o o principal interlocutor da Comissão
programa ou projeto de cooperação Européia, no momento de definir e deci-
seja executado com êxito. dir as atividades de desenvolvimento que
receberão financiamento comunitário,
Nos capítulos 4 a 7 vimos como a é o Governo de cada um dos países
Comissão Européia mantém um diálogo parceiros. Em princípio, estas atividades
permanente com os países receptores selecionam-se, como já vimos, entre
no momento de estabelecer as priori- o Governo nacional e os serviços da
dades setoriais e geográficas e fixar as Comissão (as delegações em primeiro
modalidades de execução das ações lugar) e tomam forma nos documentos
de cooperação. A assistência externa a que se fez referência no capítulo 5
da UE caminha decididamente no e que são detalhados no Anexo 1. Ou
sentido da apropriação das ações – e, seja, a maior parte das atividades são
portanto, dos resultados das mesmas financiadas pela Comissão, através de

65
08 A GESTÃO DA COOPERAÇÃO: OS DIFERENTES ENFOQUES.

propostas enviadas pelas autoridades ou num país concreto, em qualquer


do país receptor. fase da realização de um programa ou
projeto. Através do mesmo site pode-se
A participação da sociedade civil tam- chegar também à todo um conjunto
bém se inclui no âmbito que acabamos de documentos de orientação que são
de sublinhar. A imensa maioria de especificados em http://www.ec.europa.
programas e projetos necessita da eu/comm/europeaid/tender/gestion/
participação ativa de pessoas, organi- index_pt.htm
zações e sociedades no momento da
sua execução. Desde empresas de Como se verá mais adiante, a fase de
engenharia civil (infra-estruturas) até formulação de um projeto de coopera-
organizações profissionais (desenvolvi- ção deve conter todas as contribuições
mento social) ou não governamentais necessárias para a boa execução do
(saúde, educação, ambiente) e peritos mesmo e a planificação das neces-
individuais em qualquer dos campos de sárias publicações de concorrência ou
atividade contidos em qualquer projeto. convite à apresentação de propostas.
Relativamente às rubricas orçamentais
A Comissão Européia dá grande temáticas, a imensa maioria das suas
importância à participação de todas dotações orçamentais é concedida a
estas entidades e pessoas na execução ONGs ou a organizações civis de todo o
dos projetos de cooperação que financia. tipo através de convites à apresentação
Convencida de que a transparência é de propostas, igualmente publicados
uma virtude em si mesma e contribui no referido website. O guia prático
significativamente para aumentar a para a interpretação dos procedimen-
eficácia da cooperação, a Comissão tos contratuais da ação externa da
Européia lançou em 1998 um website CE encontra se em http://ec.europa.
único em que são publicadas todas as eu/europeaid/tender/practical_guide_
oportunidades de cooperação oferecidas 2006/index_pt.htm
ao exterior, com o amplo leque O regulamento financeiro de aplicação
descrito anteriormente. Em http://www. geral, a que já se fez referência ante-
ec.europa.eu/comm/europeaid/tender/ riormente encontra-se em: Regulamento
index_pt.htm podem-se encontrar Financeiro das Comunidades Européias
todas as concorrências de obras e de (em vigor desde 1/1/2003), http://
fornecimento de bens e serviços assim ec.europa.eu/eur-lex/pri/en/oj/dat/2002/
como os convites à apresentação de l_248/l_24820020916en00010048.pdf
propostas que podem estar abertos Modificações ao regulamento finan-
a todo o tipo de organizações e cujo ceiro de 2005 e 2006: http://europa.
mecanismo é descrito no próximo eu/scadplus/leg/pt/lvb/l34015.htm
capítulo. Este website está dotado de
um motor de busca multifuncional que Uma vez feitos estes ajustes, descrevem-
permite ter acesso a todos os convites se a seguir as principais modalidades
à apresentação de propostas de um de execução da assistência externa
tipo determinado (obras, fornecimentos, financiadas ou co-financiadas pela
serviços e subvenções) numa região Comissão Européia. Existem atualmente

66
A GESTÃO DA COOPERAÇÃO: OS DIFERENTES ENFOQUES.
08
várias abordagens possíveis. A estratégia Existem duas modalidades de apoio
de apoio à projetos é a mais utilizada orçamental:
embora, num futuro próximo, possa 1) Apoio orçamental geral
ceder o lugar à chamada abordagem Dirige-se ao conjunto da política
setorial ou à ajuda orçamental. É nacional de desenvolvimento de um
importante recapitular de maneira país no quadro macroeconômico e
rápida estas estratégias: orçamental do mesmo ou de uma
estratégia política de reforma.
2) Apoio orçamental setorial
O APOIO ORÇAMENTAL Proporciona fundos adicionais a um
O apoio orçamental é a transferência de setor específico, apoiando uma
recursos de uma agência de financia- política setorial nacional e um
mento externo ao tesouro nacional do quadro de despesa acordado entre
Governo do país receptor. Os recursos o país receptor e o doador.
financeiros assim recebidos passam a
formar parte dos recursos globais do Sempre que as condições o permitam,
país receptor e consequentemente são a segunda é a preferida pela CE. Em
utilizados de acordo com o sistema de qualquer caso, a dotação do apoio
gestão das finanças públicas deste país. orçamental, dependerá da verificação
Uma vez comprovado que se cumprem de três áreas nas que devem produzir-
todas as condições contratadas, a se critérios básicos de elegibilidade:
transferência financeira se realiza, 1) Política e Estratégia nacional ou
em divisas, ao Banco Central do país setorial: é necessário que exista
beneficiário. Este credita ao Tesouro uma estratégia nacional ou setorial
Nacional a quantidade equivalente em bem definida ou uma reforma em
moeda nacional através do mecanismo curso;
“conta do tesouro”, “conta de ingressos 2) Âmbito Macro-econômico:
nacionais”. A partir deste momento, não o país receptor deve dispor de um
existe um seguimento destes fundos por quadro macro-econômico orientado
parte da CE, pois é a responsabilidade do para a estabilidade;
país beneficiário (supervisão, controle e 3) Gestão de finanças públicas:
auditoria dos fundos recebidos). deve existir ou estar em execução,
Como podemos ver, o apoio orçamental um plano de gestão de gasto público.
contribui ao financiamento da totalidade
do orçamento de um país e não à um As publicações técnicas sobre o apoio
grupo específico de gastos pré-estabe- orçamentário, assim como o manual
lecidos. Normalmente esta modalidade de capacitação institucional encontram-
de cooperação é acompanhada de um se em: http://ec.europa.eu/europeaid/
diálogo sobre a política orçamental e reports/index_en.htm
de funcionamento da gestão financeira
pública em um contexto de harmonização
e alinhamento. Com muita fraquência, O PROJETO
este diálogo conduz à acordos em torno Segundo a definição clássica, um projeto
do desenvolvimento da capacitação. é uma série de atividades que conduzem

67
08 A GESTÃO DA COOPERAÇÃO: OS DIFERENTES ENFOQUES.

a objetivos claramente definidos dentro pode variar entre alguns milhares de


de um cronograma preciso e com um euros e muitos milhões. Em qualquer
orçamento específico. Um projeto deve caso, como se verá depois, um projeto
dispor de várias entidades parceiras deve fazer parte de uma programação
que incluam o grupo de população que responda a linhas políticas básicas
alvo e os principais beneficiários. Para adotadas pela CE e pelo país receptor.
a sua realização, devem concluir-se
acordos de coordenação, de gestão e de Esta abordagem por projetos individuais
financiamento. Deve existir um sistema foi a preferida por todos os organismos
de acompanhamento e avaliação que de cooperação do mundo durante
permita extrair lições para o futuro muitos anos. Contudo, os problemas
e um nível adequado de análise resultantes desta estratégia foram se
econômica e financeira que demonstre tornando mais evidentes ao longo dos
que os benefícios previstos serão anos, especialmente devido a:
superiores aos custos. Como se disse,
os grandes organismos internacionais Uma inadequada apropriação do
de cooperação estão de acordo em projeto, uma vez terminado, por parte
substituir a abordagem «projeto» pela do Governo receptor, com as evidentes
abordagem setorial a médio prazo. implicações negativas para a sustenta-
As características específicas de bilidade dos benefícios do projeto.
desenvolvimento econômico, social
e político de cada país/região serão O enorme número de projetos iso-
determinantes no calendário de lados, financiados por diferentes orga-
substituição de um método por outro. nismos e instituições num mesmo país,
Convém corroborar aqui que a maioria cada um deles com os seus próprios
dos peritos em cooperação pensa que métodos e procedimentos, produziu uma
a América Latina será provavelmente dilapidação de recursos, basicamente
a última região do mundo em que esta nos chamados custos de transação dos
mudança de estratégia se produzirá. países receptores de ajuda exterior.
Por esta razão, é importante deter-se
com mais atenção no desenvolvimento O estabelecimento de uma multiplici-
do ciclo do projeto, incluindo as dade de acordos de gestão, financia-
modificações e correções que a mento e avaliação de um mesmo país
Comissão Européia introduziu ao longo receptor com as diferentes entidades
dos últimos anos. doadoras contribuiu para minar a capa-
cidade e a responsabilidade local em
Os projetos de desenvolvimento são vez de a reforçar.
uma maneira clássica de definir e gerir
processos de investimento e mudança. Por último, a abordagem por projetos indi-
A abordagem por projetos individuais viduais pode contribuir para a chamada
pode efetuar-se numa série de setores: «fungibilidade» de recursos locais.
saúde, educação, infra-estruturas, Significa que, quando um organismo de
reforma institucional, etc. O seu custo, cooperação decide investir 100 milhões
o investimento financeiro necessário, de euros num setor primordial para o

68
A GESTÃO DA COOPERAÇÃO: OS DIFERENTES ENFOQUES.
08
desenvolvimento do país – saúde, por a atual abordagem por «programas e
exemplo – o Governo do país receptor projetos», se bem que com uma maior
pode desviar esses 100 milhões do seu coordenação e uma melhor coerência
próprio orçamento, previstos inicialmente entre as intervenções dos diversos
para esse setor, e investi-los em despe- protagonistas e das autoridades locais.
sas militares ou de qualquer outro tipo
considerado como não prioritário para o Nos capítulos seguintes, são desen-
desenvolvimento do país. volvidos elementos fundamentais de
compreensão sobre o funcionamento
Não obstante, a «abordagem por da técnica do projeto de cooperação, o
projetos» continua a ser majoritária chamado «ciclo do projeto»110.
na atividade de cooperação da CE.
Nos últimos anos, a Comissão Européia
avançou significativamente no seu
grau de coordenação com os demais
doadores e melhorou substancialmente
a eficácia dos projetos de última
geração se bem que, lentamente, se
vão ensaiando mesclas das diferentes
estratégias descritas. No momento de
conceber uma mistura entre elas, há que
se levar em conta quatro importantes
considerações:

- O grau de controle que os doa-


dores desejam conservar sobre os
seus recursos;
- A atribuição da responsabilidade
principal quanto aos recursos dis-
poníveis;
- O nível em que o doador e o receptor
desejam estabelecer o diálogo
político geral ou específico quanto ao
projeto;
- Por último, o nível de custos de
transação associados à gestão de
fundos do doador.

A maioria do orçamento de ajuda exterior


da CE (7,8 bilhões de euros em 2003)
continua a ser autorizada e executada
através de projetos e programas. A
cooperação com a América Latina pode
continuar ainda bastante tempo com

110 Para mais informações, pode consultar-se o manual do ciclo de projeto publicado em:
69
http://ec.europa.eu/europeaid/reports/pcm_guidelines_2004_en.pdf
08 A GESTÃO DA COOPERAÇÃO: OS DIFERENTES ENFOQUES.

QUANDO É ADEQUADO O PROJETO?

A prática de financiar projetos individuais continua a


ser a principal na cooperação da CE. Além disso, existem
casos em que é a melhor (ou mesmo a única) alternativa:

Cooperação descentralizada com entidades não estatais, como os


projetos geridos pelas ONG.

Intervenções de emergência e pós-crises.

Projetos de assistência técnica ou projetos piloto de reforço das capaci-


dades institucionais.

Projetos ambientais (ou outros) transfronteiriços.

Projetos de investimento com elevados custos de transação para


o Governo receptor (as grandes infra-estruturas como portos e
aeroportos).
Por último, sempre que as condições de um país
ou um setor não permitam a utilização de
outra estratégia.

70
09
O CICLO DO PROJETO

GENERALIDADES E CONTEXTO A duração e a importância de cada


A gestão operacional do projeto-tipo de fase do ciclo dependerão da natureza
cooperação da CE é constituída por um do projeto.
ciclo de cinco fases:
Um grande projeto de engenharia civil
- Programação. (traçado e construção de infra-estru-
- Identificação. turas de comunicações, por exemplo)
- Formulação. pode necessitar de vários anos para
- Execução. passar da identificação à execução,
- Avaliação e Auditoria. enquanto um projeto que consiste em
proporcionar a assistência a grupos de
Idealmente, os resultados desta última população afetados por uma situação
fase devem fechar o ciclo e realimentar de conflito pode necessitar somente de
a fase de programação seguinte, de algumas semanas antes de começar
forma que as lições extraídas durante as operações no terreno. Todavia, é
a execução do projeto, ou os próprios imprescindível assegurar-se de que se
resultados, se possam acrescentar ao autorizam os recursos e se dispõe do
volume de conhecimentos teóricos e tempo necessário nas primeiras fases
práticos existentes e melhorar a geração para que a execução se realize com
seguinte, setorial e/ou nacional de êxito e os resultados finais do projeto
projetos. sejam os esperados.

71
09 O CICLO DO PROJETO

OS TRÊS PRINCIPIOS
BÁSICOS DO CICLO DO PROJETO

- Em cada fase definem-se os critérios de tomada de


decisão e os procedimentos oportunos que devem incluir as
principais necessidades de informação e os critérios qualitativos
que permitam avaliar os resultados desta fase.

- As fases do presente ciclo são “progressivas”. Cada fase deve


realizar-se por completo para que a seguinte possa ser abordada
com êxito.

- Por último, a seguinte fase de programação e identificação


deve levar em conta os resultados do acompanhamento
(controle) e da avaliação como partes integrantes de um
processo estruturado de realimentação e aprendizagem
institucional.

Quanto à decisão financeira, unicamen- como as chamadas iniciativas globais


te se efetua depois de completar a para a água ou para a energia.
formulação do projeto.
Este tipo de procedimento difere do
normalmente utilizado nos projetos
O CICLO DO PROJETO E OS CONVITES de cooperação «clássicos». Através do
À APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS recurso aos convites à apresentação
Os convites à apresentação de de propostas, a CE transfere a respon-
propostas (Appels à propositions /Calls sabilidade da identificação, formulação
for Proposals) usam-se normalmente em e execução dos projetos para as
programas «temáticos» ou «horizontais», entidades não estatais que respondem
como, por exemplo, a ajuda alimentar aos referidos convites, desde que
ou o co-financiamento com ONG. cumpram os requisitos estabelecidos
É praticamente a única maneira de nos mesmos, fundamentalmente quanto
conceder subvenções a intervenientes ao tipo de projeto e aos critérios de
não estatais, de acordo com o novo «elegibilidade» para os candidatos.
regulamento financeiro. O uso deste
procedimento está aumentando nas Existe ainda outra exceção de procedi-
rubricas orçamentais «geográficas», mento ao projeto «clássico»: quando a
sobretudo nos chamados programas CE estabelece um acordo direto quer
regionais (como, por exemplo, Alfa) e porque, de alguma forma, existe uma
nas novas facilidades de financiamento situação de monopólio, quer porque

72
O CICLO DO PROJETO
09
o interlocutor da Comissão Européia forma realista dentro das dificuldades
é o Estado beneficiário. Nestes últi- do contexto em que se realizam
mos casos, contudo, a CE conserva um e tendo em conta a capacidade das
papel mais direto e a responsabilidade entidades executantes;
de gestão nas fases de identificação e - Os benefícios gerados pelo projeto
formulação do projeto. Porém, inclusive têm possibilidades reais de susten-
nestes casos, o acompanhamento das tabilidade.
diretrizes de gestão do ciclo do projeto
é útil dado que: Para a consecução destes resultados, a
- Todos os projetos de cooperação com gestão do ciclo de projeto:
financiamento comunitário podem ser - Requer a participação de parceiros
avaliados em função dos critérios de claramente identificados (stakeholders)
qualidade descritos nas páginas se- e promove a apropriação local do
guintes; projeto;
- Os princípios de boas práticas de - Usa, entre outras ferramentas, o
gestão podem ser aplicados por parte quadro lógico para apoiar uma série
de quem esteja a receber e gerir de opiniões e análises, incluindo os
fundos provenientes da CE. problemas e riscos, os objetivos e as
estratégias das entidades parceiras;
- Inclui critérios de avaliação qua-
O CICLO DO PROJETO E O QUADRO litativos em cada fase do ciclo;
LÓGICO - Necessita da produção de documentos
A gestão do ciclo do projeto (Project de qualidade em cada uma das fases,
Cycle Management, PCM) é um termo, de forma que as decisões partam de
já consagrado nas instituições doado- uma boa informação sobre a situação
ras de todo o mundo, utilizado para real e a sua evolução. Ver quadro
descrever as atividades de gestão e os anexo.
procedimentos de tomada de decisão
durante toda a vida do projeto de coo- O quadro lógico é uma ferramenta
peração. Inclui as tarefas básicas, a dis- de análise e gestão utilizada atual-
tribuição de papéis e responsabilidades, mente pela imensa maioria dos
os documentos chave e as diferentes organismos bilaterais e multilaterais
opções de decisão num dado momento. e outros protagonistas da cooperação
A utilização destas técnicas permite internacional. Normalmente, a CE
assegurar que: pede a criação de uma «matriz» de
- Os projetos estão em conformidade quadro lógico como parte integrante
com os principais objetivos políticos dos seus procedimentos de formulação
da CE e dos Estados beneficiários; do projeto. Quando se aplica de forma
- Os projetos são relevantes no inteligente, o quadro lógico é uma
âmbito de uma estratégia previamente ferramenta muito eficaz. Não substitui,
estabelecida e em relação aos proble- contudo, a experiência e a opinião
mas reais dos grupos beneficiários; profissional e deve complementar-se
- Os projetos são viáveis, isto é, os com a utilização de outras ferramentas
objetivos podem conseguir-se de como a análise econômica e financeira

73
09 O CICLO DO PROJETO

e a avaliação de impacto ambiental, Desta maneira, as decisões estarão razo-


bem como por técnicas de trabalho avelmente fundamentadas e garantirão a
que garantam a participação efetiva de boa utilização dos recursos autorizados.
todas as partes implicadas.

É importante destacar aqui que a O SISTEMA DE APOIO À QUALIDADE


preparação dos estudos de viabilidade, A partir da reforma da gestão da
a preparação dos planos operacionais assistência externa, introduzida em
anuais e os relatórios periódicos de 2001, a CE dotou-se de um sistema
acompanhamento são geralmente de apoio à qualidade dos projetos
da responsabilidade dos parceiros financiados com recursos comunitários.
executantes do projeto e não da CE, O seu instrumento fundamental é o
embora esta possa contribuir ou grupo de apoio à qualidade (Quality
proporcionar recursos para a realização Support Group, QSG).
dessas tarefas. Apesar de a CE não ditar
o formato exato destes documentos, há Os objetivos deste grupo são:
que garantir que a informação neles - Apoiar as melhorias necessárias na
contida é pertinente e adequada em documentação e as idéias um projeto
quantidade e qualidade. ou programa;

DOCUMENTOS CHAVE E
RESPONSABILIDADES NO CICLO
DO PROJETO
Os documentos fundamentais da CE e as fontes de informa-
ção que apoiam a gestão do ciclo do projeto são:

- A política de desenvolvimento da CE em vigor no momento de


início do ciclo;
- Os documentos de estratégia regional/nacional;
- Os documentos que comportam o Programa Indicativo Nacional (PIN);
- A ficha de identificação do projeto;
- A proposta de financiamento, quer para um projeto individual quer
para um grupo de projetos, em cujo o caso é costume denominar-se
“Programa de Ação”;
- O acordo de financiamento e os documentos técnicos e admi-
nistrativos associados, incluindo os termos de referência que se
utilizarão para os eventuais concursos posteriores;
- A informação contida no Sistema Integrado de Informação
e Gestão (CRIS: Common Relex Information System) ;
- Os relatórios de avaliação e auditoria.

74
O CICLO DO PROJETO
09
- Assegurar-se de que as revisões O quadro de qualidade compõe-se por
do projeto se realizam de forma três atributos básicos desenvolvidos
harmonizada mediante a utilização num total de dezesseis parâmetros:
de critérios de qualidade consistentes
e normalizados; A) RELEVÂNCIA: O projeto destina-se a
- Assegurar uma informação (reporting) solucionar necessidades demonstradas e
e um acompanhamento periódicos; de elevada prioridade:
- Identificar e facilitar o intercâmbio 1) É consistente e contribui para as
das «boas práticas» e das abordagens políticas de desenvolvimento e
inovadoras. cooperação da CE
2) É consistente e contribui para as
O grupo de apoio à qualidade fornece políticas do Governo parceiro e dos
consultoria em dois pontos-chave do programas setoriais existentes.
ciclo do projeto: 3) Foram identificados claramente os
- No final da fase de identificação, parceiros e os beneficiários princi-
momento em que é revista a ficha pais, foram analisadas as questões
(projetos individuais) ou a proposta de de igualdade entre os gêneros e
financiamento (programa ou conjunto de capacidade industrial e pôde de-
de projetos). monstrar-se a apropriação local.
- No final da fase de formulação, 4) Foi efetuada uma análise correta dos
quando o projeto de proposta de problemas.
financiamento foi já preparado 5) A experiência anterior e os eventuais
(projetos individuais) ou quando vínculos com outros projetos/progra-
se elaboraram as especificações das mas foram analisados e integrados
previsões técnicas e administrativas na seleção de estratégia.
(para projetos contidos num programa)
B) VIABILIDADE: O projeto está bem
concebido e produzirá benefícios sus-
QUADRO DE QUALIDADE tentáveis aos grupos alvo.
Existe um conjunto de critérios de 6) Os objetivos (geral, propósito e resul-
avaliação qualitativos para cada ponto tados) e o programa de trabalho são
de decisão principal na vida de um lógicos e claros e abordam necessi-
projeto. Estes critérios refletem-se nos dades claramente identificadas.
pedidos de informação de documentos 7) As implicações de custos e recursos
tais como a ficha de identificação ou são claras, o projeto é financeiramente
a proposta de financiamento. Para tal, viável e tem um retorno econômico
desenvolveu-se o chamado «quadro positivo.
de qualidade» que não implica, 8) Os acordos de coordenação, gestão
contudo, uma atitude de exclusão. As e financiamento são claros e apoiam
circunstâncias próprias e específicas o reforço institucional e a apropriação
de cada projeto impõem a aplicação, local.
a experiência, a apreciação e o critério 9) O sistema de acompanhamento
dos gestores do mesmo. (controle) e os acordos de auditoria
são claros e práticos.

75
09 O CICLO DO PROJETO

10) Foram identificadas corretamente as do Acordo de Financiamento entre a


hipóteses e os riscos e aplicadas as CE e a entidade e a execução parceira,
medidas adequadas para os gerir. incluindo as necessárias previsões
11) O projeto é firme e sustentável técnicas e administrativas de execução.
dos pontos de vista social, técnico e
ambiental. Seguidamente, o grupo de controle de
qualidade emite o seu parecer e, caso
C) GESTÃO EFETIVA E CORRETA: seja positivo, são concluídos acordos
O projeto está produzindo os benefícios de financiamento e execução. É apenas
previstos e está corretamente gerido. neste momento que as propostas
12) O projeto continua a ser relevante e de financiamento são enviadas aos
viável. Estados-Membros da CE, representados
13) Conseguem-se os objetivos do no Comité ICD. Emitido o necessário
projeto. parecer positivo por parte do Comitê,
14) A gestão do projeto por parte dos a Comissão adota, geralmente por
responsáveis pela sua execução é procedimento escrito, a decisão de
correta. financiamento que deve incluir todos
15) A sustentabilidade do projeto está os detalhes de execução de uma
sendo abordada de forma eficaz. forma suficientemente flexível para
16) Os gestores estão aplicando os não implicar em nenhum momento um
princípios de boas práticas. obstáculo à execução normal de um
projeto.
Como se verá mais adiante, os atributos
e parâmetros do quadro de qualidade
do projeto encontram paralelismo
nos critérios de avaliação e auditoria,
processos em que recebem uma
pontuação que permita resumir a
qualidade do projeto.

A DECISÃO FINANCEIRA
No caso da América Latina, a CE
(Comissão e Estados Membros através
do Comitê ICD) toma uma decisão de
financiamento, uma vez que o projeto
tenha passado a fase de formulação. A
tomada desta decisão costuma incluir:

- A redação de uma avaliação de


qualidade do projeto da proposta e a
adoção das alterações necessárias;
- A aprovação (ou rejeição) da proposta;
- A preparação, negociação e conclusão

76
10
AS FASES DO CICLO
DO PROJETO: I

1: PROGRAMAÇÃO como as possibilidades de ação em


A ajuda exterior da CE é programada função das prioridades indicadas por
em ciclos plurianuais. A instituição ambas as partes. O propósito destes
responsável pela programação é a documentos é a identificação dos
Comissão Européia em diálogo com as setores principais em que a colaboração
autoridades dos países beneficiários. entre as autoridades nacionais e a CE
O documento resultante deste diálogo pode estabelecer uma ação conjunta
é o documento de estratégia que faça a melhor utilização possivel
por país (ou regional) que inclui o dos recursos disponíveis no âmbito
programa indicativo plurianual. O de um programa pertinente e viável
período de validade deste documento, que permita a realização dos projetos
peça fundamental da cooperação e programas. A estrutura tipo deste
comunitária com um país terceiro, documento é a seguinte:
costuma ser de cinco anos a não 1) Uma descrição dos objetivos de coo-
ser que alguma alteração essencial peração da CE.
nas circunstâncias do país parceiro 2) Os objetivos políticos do país par-
exija modificações durante o período ceiro.
inicialmente previsto. 3) Uma análise da situação política,
econômica e social, incluindo a
Os documentos de estratégia por país sustentabilidade das políticas atuais
recolhem toda uma série de dados e e os desafios a médio prazo.
indicadores do país em questão bem 4) Uma revisão da atividade de coope-

77
10 AS FASES DO CICLO DO PROJETO: I

ração da CE no passado, com uma PIN é um instrumento de gestão que


análise da referida experiência e um cobre um período de vários anos (em
resumo do andamento dos progra- princípio, entre 3 e 5).
mas de cooperação nos Estados Identifica e define as ações e medidas
Membros da CE e de outros doadores adequadas para alcançar os objetivos
internacionais no país em questão. declarados.
5) A estratégia da CE, incluindo um O PIN deve decorrer integralmente
número estritamente limitado de das análises precedentes e deve ser
setores de intervenção que sejam coerente com as mesmas.
complementares das intervenções
de outros doadores
2 : IDENTIFICAÇÃO
Uma vez definida a referida estratégia, A fase de identificação consiste no se-
deve ser transferida para um programa guinte:
indicativo nacional (PIN) que como - Identificar as idéias do projeto que
se disse, pode ser parte integrante do sejam coerentes com as prioridades
documento de estratégia. da CE e do país beneficiário;

O QUE ESPECIFICA O
PROGRAMA INDICATIVO NACIONAL?

- Os objetivos globais e a seleção estratégica com base nas


prioridades do país e da CE, isto é, os setores de intervenção e as
modalidades de cooperação mais adequadas para atingir os objetivos
(projetos individuais, programas setoriais, ajuda orçamental e outros).
- As estimativas financeiras para cada área de cooperação definida indicando,
sempre que possível, um calendário indicativo das contribuições da CE bem como
o seu volume.
- Os objetivos específicos e os resultados esperados em cada área de coopera-
ção, incluindo qualquer tipo de condicionalidade.
- Os indicadores que permitam medir o adiantamento do projeto a médio prazo. No
caso de existir documento estratégico de redução da pobreza (Poverty Reduction
Strategy Paper, PRSP), os indicadores do PIN devem corresponder aos estabelecidos
naquele documento.
- Informação sobre os chamados assuntos transversais (gênero, ambiente,
etc.)
- Os programas e projetos que devem ser executados para alcançar
os objetivos definidos, bem como os beneficiários previstos e o tipo
de assistência escolhida. Também podem ser indicados alguns
critérios gerais como os prováveis parceiros para cada
projeto, a duração esperada ou uma primeira seleção
geográfica para a intervenção.

78
AS FASES DO CICLO DO PROJETO: I
10
INFORMAÇÕES RESULTANTES
DA FASE DE IDENTIFICAÇÃO

1) Contexto político e programático,


tanto do país beneficiário como da CE
2) Análise dos demais parceiros do projeto
3) Análise dos problemas para a realização do projeto,
incluindo os temas “transversais”
(especialmente direitos humanos, ambiente e igualdade entre os gêneros)
4) Aplicação da experiência acumulada (setorial e regional) e revisão
de iniciativas semelhantes em fase de planificação ou de execução
5) Descrição preliminar do projeto, incluindo as hipóteses básicas para
o seu bom funcionamento, a análise de riscos e a suas possíveis soluções
6) Implicações indicativas de custo e recursos necessários
7) Estimativa dos necessários acordos de coordenação,
de gestão e de financiamento
8) Verificação preliminar da sustentabilidade econômico-
financeira, ambiental, técnica e social do projeto
9) Plano de acompanhamento
para a fase de formulação

- Apreciar a relevância e a viabilidade autoridades nacionais. A descrição ini-


das referidas idéias; cial do projeto deve decorrer das priori-
- Preparar uma ficha de identificação dades identificadas no documento de
- Preparar uma decisão de finan- estratégia e no programa indicativo
ciamento ou determinar o alcance nacional.
do trabalho que se deverá realizar
ulteriormente durante a fase de for- Como regra geral, no final da fase da
mulação para os projetos individuais. identificação deve dispor-se de suficiente
informação em torno dos pontos recolhi-
As idéias iniciais para a identificação dos no quadro anexo. Esta informação
de um projeto podem vir de diversas deve incluir-se nos documentos de base
fontes como os Governos beneficiários, resultantes desta fase, isto é, os termos
protagonistas não estatais, organismos de referência para qualquer estudo de
de desenvolvimento multilaterais ou viabilidade financiado pela CE e a ficha
regionais, etc. de identificação do projeto. Uma vez
realizado todo este trabalho, a decisão
Elementos cruciais nesta fase são as fundamental consiste em preparar uma
possibilidades de apropriação local decisão de financiamento no final
do projeto e o compromisso das desta fase.

79
10 AS FASES DO CICLO DO PROJETO: I

Se a informação disponível reunir todos – incluindo a gestão financeira;


os requisitos mencionados anteriormen- - A capacidade das diferentes partes
te, o projeto pode considerar-se maduro para participar e financiar o processo
para passar à fase de formulação. Caso de formulação.
contrário, a CE pode pedir informações e
verificações complementares, ou rejeitar No final desta fase, devem existir
o projeto. Como se indicou, a relevância, suficientes elementos de informação
a viabilidade e a sustentabilidade do relativamente aos seguintes critérios:
projeto são elementos chave no mo- Análise da situação:
mento de tomar a decisão de passar à - Verificação do contexto do projeto e
fase seguinte. do programa.
- Análise das partes implicadas e veri-
ficação da capacidade institucional.
3 : FORMULAÇÃO - Análise de problemas.
Esta fase consiste no seguinte: - Aplicação de experiências passadas
- A confirmação da relevância e da e revisão de outras iniciativas em
viabilidade do projeto tal como foi execução ou planificação.
descrito na ficha de identificação; - Seleção da estratégia.
- A preparação de um esboço Descrição do projeto:
detalhado do projeto, incluindo a - Objetivo geral e propósito
identificação dos acordos necessários - Grupo alvo, localização e duração
para o desenvolvimento do mesmo, a previstas.
sua correta gestão e desenvolvimento, - Resultados previstos e indicação de
uma análise de custos/benefícios, a atividades.
gestão de riscos, o acompanhamento, - Custo e recursos necessários.
a avaliação e a auditoria posterior; Acordos de gestão:
- Por último, a preparação da proposta - Estruturas coordenação e gestão.
e decisão de financiamento. - Acordos de financiamento e gestão.
- Acompanhamento, avaliação e audi-
Tal como na fase de identificação, toria.
os eventuais parceiros e outros Viabilidade e sustentabilidade:
intervenientes locais devem assumir um - Financeira e econômica.
papel preponderante na formulação de - Ambiental.
um projeto. Podem participar também - Técnica.
outros doadores, contribuindo com - Social.
experiências utilizáveis. Os fatores - Gestão de riscos.
fundamentais no momento de distribuir
as responsabilidades são: Se o conjunto de todos estes elementos
- A vocação de integração do projeto for satisfatório, a CE aceitará a proposta
nas estruturas locais existentes e as de financiamento, lançará a decisão
suas possibilidades de desenvolver as correspondente e procederá à conclusão
capacidades locais; do acordo de financiamento, necessaria-
- Os acordos previstos quanto à mente prévio à execução do projeto, de
coordenação e à gestão do projeto acordo com os Estados Membros.

80
11
AS FASES DO CICLO
DE PROJETO: II

4 : EXECUÇÃO sobre bases sólidas as relações com


É nesta fase que o projeto se torna as diferentes partes implicadas, realizar
visível no terreno. O seu objetivo é obter workshops de lançamento e informação
os resultados previstos, mediante uma e rever o plano de trabalho em função
gestão eficaz dos recursos atribuídos. da realidade.
Paralelamente, deve estabelecer-se um
sistema de acompanhamento do pro- Além disso, é neste período que se
gresso através de relatórios periódicos. deve estabelecer o sistema adequado
de acompanhamento e avaliação de
A execução pode dividir-se em três resultados.
fases principais: lançamento, execução
propriamente dita e encerramento. Execução
As obrigações fundamentais durante
Lançamento o tempo de execução real situam-se
Neste período realiza-se todo o em torno da mobilização e gestão dos
trabalho administrativo e de preparação recursos de todo o tipo, a realização das
necessário para o bom funcionamento atividades planificadas no prazo previs-
do projeto. Entre outros, devem to, o acompanhamento das mesmas e a
preparar-se os necessários contratos de realização dos relatórios de progresso,
execução, planificar-se a mobilização a revisão dos planos operacionais à luz
de recursos que serão necessários da experiência e a respectiva correção
ao ongo da execução, estabelecer e alteração se necessário.

81
11 AS FASES DO CICLO DE PROJETO: II

Encerramento em vista o desenvolvimento do projeto.


A presença da CE vai progressivamente Estas decisões podem variar entre a
diminuindo até desaparecer uma revisão de todo o plano de trabalho
vez assegurada a continuidade do e o cancelamento do projeto. Os
projeto. Transferem-se todas as res- instrumentos de controle e informação
ponsabilidades para as entidades que serão desenvolvidos nos parágrafos
beneficiárias parceiras, assegurando-se seguintes podem também dar lugar a
previamente de que existe realmente importantes alterações de orientação
o plano de manutenção necessário durante a fase de execução111.
e de que as capacidades de gestão
foram efetivamente transferidas. Por
último, há que estar seguro de que 5 : ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
as necessidades financeiras para a Acompanhamento e avaliação são
manutenção do projeto foram previstas termos que se referem à coleta, análise
pelas entidades beneficiárias, que se e uso de informação pertinente para
convertem nas responsáveis únicas pela ajudar a tomar as decisões necessárias.
continuidade do projeto. Contudo, é conveniente compreender
as diferenças entre estes dois conceitos.
Os documentos fundamentais pro- As revisões periódicas e as auditorias
duzidos durante esta fase são os fazem também parte dos instrumentos
seguintes: de controle existentes.
- Planos de trabalho operacionais
(geralmente anuais); O acompanhamento (controle) e as
- Relatórios periódicos de progresso; revisões periódicas são da responsabi-
- Relatórios específicos de etapa lidade da equipe de gestão do projeto.
(incluindo, por exemplo, a avaliação Realizam-se durante toda a fase de exe-
intermediária); cução com a finalidade de comprovar o
- Relatório de encerramento (no final progresso realizado e compará-lo com
do projeto). as previsões, tomar medidas paliativas
se for necessário, e atualizar os planos
Todos estes documentos devem fazer iniciais. Em geral, deve contribuir para
referência aos conceitos básicos já uma melhoria na tomada de decisões
mencionados, objetivo, propósito, re- de gestão.
sultados, atividades, necessidades
de recursos e gestão financeira, bem A avaliação112 inclui geralmente ele-
como ao funcionamento dos acordos mentos externos ao projeto para garantir
alcançados quanto à gestão do projeto e a maior objetividade possível e realiza-se
ao cumprimento das responsabilidades com uma periodicidade prevista desde o
atribuídas a cada participante. princípio do lançamento do projeto (na
Durante a fase de execução podem metade do cronograma de execução
tomar-se importantes decisões, tendo previsto, uma vez finalizado o projeto).

111 As páginas web das Delegações da Comissão dão informações pontuais sobre o desevolvimen-
to dos projetos localizados em cada país. Para ter acesso à lista de Delegações da Comissão,
consultar o website : http://ec.europa.eu/comm/external_relations/delegations/intro/web.htm
112 Para ter acesso à metodologia, critérios e relatórios de avaliação setoriais, regionais ou nacionais,
82 consultar o seguinte website http://www.ec.europa.eu/comm/europeaid/evaluation/index.htm
AS FASES DO CICLO DE PROJETO: II
11
A sua finalidade é incorporar as experi- Em qualquer caso, todos estes sistemas
ências aprendidas durante a realização de controle e informação devem
do projeto no volume de conhecimento dar prioridade às necessidades de
das instituições participantes e propor- informação dos gestores no terreno e
cionar os elementos necessários para a proporcionar o retorno de informação
responsabilidade institucional da enti- adequada a todos os participantes,
dade doadora. Os critérios de base de incluindo os grupos de população alvo
qualquer avaliação são a verificação da do projeto.
relevância, do impacto, da eficácia,
da eficiência e da sustentabilidade Só desta forma será possível uma
do projeto. participação ativa e a posterior apro-
priação do projeto pela população
Existem, atualmente, relatórios de ava- beneficiária, finalidade última da
liação de conteúdos diferentes: projetos assistência externa da CE.
individuais, setores, atividades num dado
país e programa.

Por último, existem as auditorias (audits).


Incluem elementos externos ao projeto
e realizam-se antes de começar a exe-
cução e uma vez encerrado o projeto.
A sua finalidade é dar segurança aos
participantes em relação à boa gestão
e proporcionar recomendações para
melhorar projetos em curso ou em fase
de concepção.

Em qualquer dos processos informativos


anteriormente mencionados, é funda-
mental o conhecimento dos diferentes
níveis de informação requeridos por
cada uma das entidades participantes.

Atualmente, a CE utiliza um sistema de


acompanhamento externo que recolhe
informações sobre a evolução de todos
os projetos de cooperação em que
participa.

Este sistema concentra-se em questões


relativas aos princípios de relevância,
eficiência, impacto e sustentabilidade,
seguindo o padrão clássico dos relató-
rios de avaliação.

83
11 AS FASES DO CICLO DE PROJETO: II

84
12
OS RESULTADOS DA COOPERAÇÃO
UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA:
PERSPECTIVAS DE FUTURO

Ao longo das páginas precedentes pas- A revisão das autorizações adorme-


sou-se em revista a situação atual da cidas (ver capítulo 5) permitiu, desta
cooperação entre a União Européia e forma, esclarecer as razões pelas quais
a América Latina, mostrou-se a sua um volume relativamente importante de
evolução ao longo dos anos e apro- dinheiro113 não tinha ainda sido mate-
fundaram-se as formas e os métodos rializado em programas ou projetos
seguidos para a sua execução. É agora concretos. Ademais, levou à redefinição
o momento de avaliar sumariamente melhorada de projetos e ao lançamen-
os resultados obtidos e de referir qual to de iniciativas que já há bastante
pode ser a possível evolução futura tempo, inclusive anos, esperavam o
desta cooperação. início da sua execução no terreno. A
desconcentração de recursos para as
No campo da ajuda exterior, a Comissão Delegações da Comissão na América
presidida por Romano Prodi (2000/2004) Latina intensificou o trabalho conjunto
concentrou os seus esforços na refor- entre estas e os Ministérios nacionais,
ma, como se viu no capítulo 5. Graças, pondo em marcha novos métodos de
em parte, a esta reforma, foi possível trabalho em quase todos os Estados
obviar a falhas eventuais. latino-americanos.

113 Para recapitular os volumes financieros de la cooperacão UE – América Latina, ver


http://www.ec.europa.eu/europeaid/reports/europeaid_annual_report_2006_full_version_en.pdf
http://www.ec.europa.eu/comm/europeaid/reports/europeaid_ra2004_fr.pdf
http://www.ec.europa.eu/comm/europeaid/reports/COMM_PDF_COM_2004_0536_F_ES_ACTE.pdf
http://www.ec.europa.eu/comm/europeaid/reports/COMM_PDF_SEC_2004_1027_1_EN_
DOCUMENTDETRAVAIL.pdf e também http://www.ec.europa.eu/comm/europeaid/projects/
85
amlat/statfinances/charts.htm
12 OS RESULTADOS DA COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA – AMÉRICA LATINA: PERSPECTIVAS DE FUTURO

Durante os cinco anos da anterior permitirão defender melhor os interesses


Comissão, aumentou o relevo atribuído das suas populações. Esta questão
à temas como a Democracia, o Estado não é unicamente do interesse dos
de Direito ou a igualdade entre os Governos e das organizações regionais
gêneros, que tanta importância têm da América Latina, mas também dos
para o desenvolvimento de qualquer Estados-Membros da União Européia e
região ou país do mundo, mas muito das instituições comunitárias.
especialmente para a América Latina,
dado o grau de desenvolvimento humano A recente ampliação a doze novos
deste continente, superior ao de outras Estados-Membros permitirá, desta forma,
regiões. O fim das últimas ditaduras uma certa «liberação» de prioridades
na região deu lugar a numerosos pro- políticas externas e poderá prestar-se
gramas de reforma institucional, muitos uma maior atenção ao diálogo político
deles já concluídos (reforma do poder com os países das restantes regiões
judicial114 na Nicarágua) e outros ainda receptoras de assistência externa, prin-
em execução (reforma institucional no cipalmente a América Latina.
Paraguai115), que contribuirão para
aumentar a eficácia do Estado pe- As novas prioridades do “Consenso
rante os seus próprios cidadãos e, Europeu” descritas nas páginas anterio-
consequentemente, o seu peso na cena res e a nova arquitetura jurídica com a
internacional. qual a CE acaba de dotar-se permitem
prever uma nova era nas relações entre
A Reunião de Cúpula de Guadalajara, as duas regiões.
várias vezes mencionada nesta publica-
ção, esclareceu os objetivos prioritários Uma renovada União Européia que
da cooperação entre a UE e a América aposta seriamente no multilateralis-
Latina: a coesão social, a integração mo não pode deixar de melhorar e
regional e o multilateralismo no âmbito aprofundar as suas relações com a
internacional. América Latina na convicção de que o
Estes três objetivos já estão presentes a aprofundamento de fenômenos como
partir de agora nas novas bases legais a integração regional e a melhoria dos
da CE e em qualquer novo documento parâmetros de coesão social na região
político ou programático elaborado pelos serão tão benéficos, a médio prazo, para
Governos nacionais ou pelas instituições o conjunto da comunidade internacio-
regionais da América Latina em colabo- nal, incluindo a própria União Européia,
ração com a Comissão Européia ou como para os diferentes Estados da
qualquer outra instituição da UE. É América Latina.
necessário destacar aqui a importância
que estes três conceitos têm não só
para o desenvolvimento sustentável da
América Latina como também para a
configuração de uma ordem mundial
multipolar em que o subcontinente po-
derá ter acesso à posições que lhe

114 http://www.delnic.ec.europa.eu/es/eu_and_country/cooperation_desc/cooperation_desc_nic.htm
86 115 http://www.delpry.ec.europa.eu/contenidos/index.php?ld=120
A
ANEXOS

1. OS DOCUMENTOS DA COOPERAÇÃO MERCOSUL


Nestas páginas, reproduzimos a referência Documento de estratégia regional:
eletrônica de todos os documentos existentes http://ec.europa.eu/external_relations/
que estabelecem algum tipo de acordo entre mercosur/rsp/index.htm
a União Européia e os diferentes países e União Européia – Mercosul: uma parceria
regiões da América Latina. para o futuro (2002): http://ec.europa.eu/
Ficam fora desta lista os acordos bilaterais external_relations/mercosur/intro/bro02_es.pdf
de qualquer tipo assinados entre países Para um Acordo de Associação (2004):
isolados das duas áreas geográficas. http://ec.europa.eu/external_relations/
mercosur/bacground_doc/fca96.htm
AMÉRICA LATINA
Estratégia para uma cooperação reforçada ARGENTINA
(12/2005): Documento de estratégia por país:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/la/doc/com05_636_es.pdf relations/argentina/csp/csp04_en.pdf
Documento de estratégia regional:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ BRASIL
relations/la/rsp/02_06_pt.pdf Documento de estratégia por país:
Página de índice da Comissão Européia: http://www.ec.europa.eu/comm/external_
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ relations/brazil/csp/02_06en.pdf
relations/la/index.htm Acordo quadro de cooperação:
Página de entrada do Serviço de Cooperação http://eurlex.europa.eu/smartapi/cgi/sga_d
EuropeAid: http://www.ec.europa.eu/comm/ oc?smartapi!celexapi!prod!CELEXnumdoc&
europeaid/projects/amlat/index_fr.htm lg=en&numdoc=21995A1101(01)&model=
Página de entrada aos documentos “Fichas guichett
nacionais” da América Latina: Acordo sobre a cooperação científica e
http://ec.europa.eu/europeaid/projects/amlat/ tecnológica: http://register.consilium.eu.int/
regional_cooperation_fr.htm pdf/en/03/st11/st11680en03.pdf

87
A ANEXOS

PARAGUAI AMÉRICA CENTRAL


Documento de estratégia por país: Documento de estratégia regional:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/paraguay/csp/02_06en.pdf relations/ca/rsp/02_06_es.pdf
Acordo quadro de cooperação: Acordo de cooperação e diálogo político:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/paraguay/intro/fp_eu_par_91.pdf.pdf relations/ca/pol/pdca_12_03_en.pdf
Acordo quadro de cooperação:
URUGUAI http://www.ec.europa.eu/comm/external_
Documento de estratégia por país: relations/ca/doc/fca93_es.pdf
http://ec.europa.eu/external_relations/ Sistema de integração econômica centro
uruguay/intro/index.htm americana: http://www.sieca.org.gt/
Acordo quadro de cooperação: Programa Regional de Reconstrução da
http://ec.europa.eu/comm/external_relations/ América Central (PRRAC):
uruguay/intro/fp_eu_ur.pdf http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/ca/prrac.htm
COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES (CAN)
Documento de estratégia regional: COSTA RICA
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ Documento de estratégia por país:
relations/andean/rsp/02_06_es.pdf http://www.ec.europa.eu/comm/external_
Acordo de cooperação e diálogo político: relations/costarica/csp/02_06es.pdf
http://ec.europa.eu/comm/external_
relations/andean/doc/pdca_1203_en.pdf SALVADOR
Luta contra a droga: declaração de Documento de estratégia por país:
Cochabamba (1996): http://ec.europa. http://www.ec.europa.eu/comm/external_
eu/comm/external_relations/andean/doc/ relations/el_salvador/csp/02_06_es.pdf
cochabamba_en.htm
GUATEMALA
BOLÍVIA Documento de estratégia por país:
Documento de estratégia por país: http://www.ec.europa.eu/comm/external_
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ relations/guatemala/csp/02_06_es.pdf
relations/bolivia/csp/02_06en.pdf
Acordo quadro de cooperação: HONDURAS
http://ec.europa.eu/smartapi/cgi/sga_doc?s Documento de estratégia por país:
martapi!celexapi!prod!CELEXnumdoc&lg=EN http://www.ec.europa.eu/comm/external_
&numdoc=21998A0429(01)&model=guichett relations/honduras/csp/02_05_es.pdf

COLÔMBIA NICARÁGUA
Documento de estratégia por país: Documento de estratégia por país:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/colombia/csp/02_06en.pdf relations/nicaragua/csp/02_06_es.pdf
Laboratório de Paz de Magdalena Médio: Relatório estratégico de redução da
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ pobreza e de desenvolvimento sustentável:
relations/colombia/csp/02_06en.pdf http://www.imf.org/external/np/prsp/2001/
nic/01/index.htm
EQUADOR Plano nacional de desenvolvimento ope-
Documento de estratégia por país: racional: http://www.pnd.gob.ni/
http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/ecuador/csp/02_06_en.pdf PANAMÁ
Documento de estratégia por país:
PERU http://www.ec.europa.eu/comm/external_
Documento de estratégia por país: relations/panama/csp/02_06es.pdf
http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/peru/csp/02_06_en.pdf MÉXICO
Documento de estratégia por país:
VENEZUELA http://www.ec.europa.eu/comm/external_
Documento de estratégia por país: relations/mexico/csp/02_06_es.pdf
http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/venezuela/csp/02_06en.pdf

88
ANEXOS
A
Acordo de cooperação científico - técnica: ANEXO 2: GLOSSÁRIO
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ Apresentamos a seguir uma série de ter-
relations/mexico/doc/a1_02-12946_es.pdf mos e siglas utilizados nesta publicação e
Acordo de associação, cooperação e noutros documentos sobre o mesmo tema,
cooperação política: http://www.ec.europa. para maior facilidade de compreensão. No
eu/comm/external_relations/mexico/doc/a3_ final, o leitor poderá encontrar uma lista de
acuerdo_global_es.pdf endereços electrônicos úteis para a procura
Acordo de comércio livre de serviços: de documentos ou o aprofundamento de
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ conhecimentos.
relations/mexico/doc/a5_dec_02-2001_
en.pdf APE: Acordos de parceria econômica. Acordos
Acordo de comércio livre de mercadorias: comerciais entre a UE e as regiões ACP.
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ Compatíveis com as normas da OMC, estes
relations/mexico/doc/a4_dec_02-2000_ acordos têm por objetivo a eliminação progres-
en.pdf siva dos obstáculos ao comércio e o aprofun-
Primeira Reunião de Cúpula México – damento da cooperação em todos os domínios
União Européia (2002): http://ec.europa. relacionados com as trocas comerciais.
eu/comm/external_relations/mexico/intro/
ma05_02_es.htm ACORDO DE COTONU: Novo acordo de parceria
Primeiro Fórum da sociedade civil UE – ACP – UE, concluído em Fevereiro de 2000
México: http://ec.europa.eu/comm/external_ por um período de vinte anos (2000 – 2020).
relations/mexico/conf_en/index.htm Este acordo e o seu protocolo financeiro serão
revistos de cinco em cinco anos. Substitui a
CHILE quarta Convenção de Lomé (Lomé IV).
Documento de estratégia por país:
http://www.ec.europa.eu/comm/external_ ACP: África, Caraíbas e Pacífico. O grupo dos
relations/chile/csp/02_06en.pdf países ACP, com relações privilegiadas com
Acordo quadro de cooperação: a UE, foi constituído com a assinatura, em
http://ec.europa.eu/external_relations/chile/ 1975, da primeira Convenção de Lomé com
intro/index.htm a CEE. Em 2004 agrupava 79 países.
Acordo de associação (2002): http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2002/ ALBAN: América Latina. Programa de coopera-
l_352/l_35220021230en00031439.pdf ção regional no âmbito da educação superior.
Para um novo acordo de associação: Concede bolsas de estudos de alto nivel
http://www.ec.europa.eu/comm/external_
relations/chile/assoc_agr/index.htm ALC: América Latina e Caraíbas. Parceria
estratégica biregional promovida pela UE.

DECLARAÇÕES DAS REUNIÕES DE CUPULA ALFA: América Latina - Formação Acadêmica.


Programa de cooperação biregional América
DE CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO Latina – UE no domínio do ensino superior.
Rio de Janeiro (1999)
http://ec.europa.eu/comm/external_relations/ Al-Invest: Programa regional de cooperação
la/rio/sum_06_99.htm empresarial entre as PME européias e as
Madrid (2002) empresas da América Latina.
http://ec.europa.eu/comm/world/lac/
Guadalajara (2004) @LIS: Aliança para a Sociedade da Informação.
http://ec.europa.eu/comm/world/lac- Programa regional de cooperação destinado a
guadal/00_index.htm promover a sociedade da informação e a luta
Viena (2006) contra a fratura digital (gap informático).
http://ec.europa.eu/world/lac-vienna/
ALURE: Programa de cooperação regional no
domínio da energia.

ASEAN: Associação de Nações do Sudeste


Asiático constituída pela Birmânia/Myanmar,
Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Singapura,
Tailândia e Vietnã.

89
A ANEXOS

AUNP: Programa de cooperação universitária EUROSOCIAL: Programa de cooperação


entre a UE e a ANSEA. regional lançado na Cimeira de Guadalajara
(Maio de 2004) cujo objetivo é favorecer a
BEI: Banco Europeu de Investimento. coesão social na América Latina.

BERD: Banco Europeu para a Reconstrução e EUROSOLAR: Programa de cooperação regional


o Desenvolvimento. para a promoção de energias renováveies.

BID: Banco Inter americano de Desenvolvimento. FAO: Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura.
CAD/DAC: Comitê de Ajuda ao Desenvolvi-
mento da OCDE. FED: Fundo Europeu de Desenvolvimento.
O FED financia projetos e programas nos
CAN: Comunidade Andina de Nações. Estados ACP e nos países e territórios
ultramarinos. O nono FED, que abrange os
CARDS: Programa de assistência da CE cinco primeiros anos do Acordo de Cotonu,
para a reconstrução, o desenvolvimento e a tem uma dotação de 13,5 milhões de euros.
estabilização dos Estados dos Balcãs.
FLEX: Sistema que tem por objetivo compensar
CARICOM: Comunidade e Mercado Comum das os desequilíbrios financeiros nos países
Caraíbas, cujo objetivo principal é promover ACP causados por perdas significativas das
a integração econômica e regional. receitas de exportação.

CARIFORUM: Fórum de debate destinado a GRUPO DO RIO: Mecanismo de consulta política


promover a integração regional dos países que trata de assuntos de interesse comum
das Caraíbas membros do grupo ACP. para a América Latina e as Caraíbas.

CE: Comunidade Européia (ver UE) HIPC: países pobres altamente endividados.

CEPAL: Comissão econômica das Nações IEDDH: Iniciativa Européia para a Democracia
Unidas para a América Latina e os Direitos Humanos.

CICAD: Comissão Inter americana de Controle MDG-ODM: Objetivos de Desenvolvimento do


sobre o Abuso de Drogas. Milênio.

CONVENÇÃO DE LOMÉ: A primeira Convenção MEDA: Programa de cooperação regional


de Lomé, assinada em 1975, reunia os nove entre a UE e os países da margem sudeste
Estados-Membros da CE de então e 46 do Mediterrâneo.
países ACP. Esta convenção foi prorrogada
quatro vezes, entre 1975 e 2000, antes de ser MEMORANDOS DE ENTENDIMENTO: (Memo-
substituída pelo Acordo de Cotonu. randa of Understanding – MoU) Acordos
bilaterais concluídos entre a UE e os seus
CSP: Country Strategy Paper: Documento de parceiros que definem as prioridades e os
estratégia por país. Documento estabelecido orçamentos indicativos para a cooperação
entre a CE e o país parceiro que lança as bases para o desenvolvimento durante um
das atividades de cooperação por um período determinado período (atualmente, de 2000
determinado, em princípio cinco anos. a 2006). Realizam-se paralelamente aos
documentos de estratégia por país e utilizam-
DIPECHO: Programa do ECHO de preparação se para a elaboração final destes últimos.
para catástrofes.
MERCOSUL: Mercado Comum do Sul.
ECHO: Serviço de Ajuda Humanitária da Organização de integração regional.
União Européia. Primeiro doador do mundo
em ajuda humanitária e de urgência. OBREAL: Observatório das relações EU-América
Latina.
EURONAID: Associação de organizações não
governamentais européias para a ajuda OEA: Organização de Estados Americanos.
alimentar e de emergência.

90
ANEXOS
A
OCDE: Organização para a Cooperação e o Geral do Sistema de Integração da América
Desenvolvimento Econômicos. Agrupa as Central (SG-SICA).
economias mais desenvolvidas do mundo
SPG: Sistema de Preferências Generalizadas.
OECS: Organização dos Estados das Caraíbas Sistema que consiste na concessão das
Orientais. vantagens pautais preferenciais, sem limites
quantitativos, unilateralmente e segundo
OMC: Organização Mundial do Comércio. um princípio de não reciprocidade, a 180
países em desenvolvimento, economias
OMS: Organização Mundial da Saúde. em transição e territórios dependentes.
As preferências pautais são moduladas
ONG: Organizações não governamentais. em função da classificação dos produtos
importados (sensíveis e não sensíveis).
PAM: Programa Alimentar Mundial das Nações
Unidas. STABEX: Sistema utilizado até o 9o FED, o
STABEX servia para compensar, nos países
PCM: Project Cycle Management: Gestão ACP, as perdas das receitas de exportação,
do ciclo de projeto. Método utilizado pelos em virtude das flutuações de preços ou da
principais intervenientes na ajuda ao procura de produtos agrícolas.
desenvolvimento. Ver capítulo 9.
SYSMIN: Utilizado até o 9o FED, o SYSMIN
PESC: Política Externa e de Segurança Comum permitia atenuar os efeitos das flutuações
da União Européia, em construção desde o das receitas da produção e da venda de
Tratado de Maastricht em 1992. produtos da exploração mineira.

PHARE: Polônia e Hungria: Ajuda para a SWAP: Sector-Wide Approach. Abordagem


reestruturação econômica. Posteriormente específica para o desenvolvimento setorial.
ampliado à Bulgária, República Checa, Ver capítulo 8.
Estônia, Letônia, Lituânia, Eslováquia e
Eslovênia, serviu, juntamente com outros TACIS: Assistência técnica para a Comunidade
instrumentos, para ajudar estes países a de Estados Independentes. Programa de
prepararem-se para a adesão à UE. cooperação entre a União Européia e as
repúblicas da ex-União Soviética.
PNUD: Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. TRTA: Trade Related Assistence. Atividades
de Assistência Técnica destinadas à
PRRAC: Programa Regional de Reconstrução melhorar a capacidade comercial dos países
da América Central. Criado pela UE como beneficiários.
resposta à destruição causada pelo furacão
«Mitch» em 1998. UE: União Européia. Criada com base na
CEE (Comunidade Econômica Européia), na
REGULAMENTO PVD-ALA: Regulamento de CECA (Comunidade Européia do Carvão e do
Parlamento Europeu e do Conselho que Aço) e na EURATOM (Comunidade Européia
regia a cooperação da Comunidade Européia da Energia Atômica), a UE é constituída por
com os países da Ásia e da América Latina. 27 Estados-Membros (ver capítulo 1).
Substituido em 2007 pelo Instrumento de
Cooperação ao Desenvolvimento (ICD). URB-AL: Programa de cooperação regional
destinado a promover o desenvolvimento de
SAARC: Associação para a Cooperação laços entre as autarquias locais européias e
Regional do Sul da Ásia. Compreende o latino americanas, mediante um intercâmbio
Bangladesh, o Butão, a Índia, as Maldivas, o de experiências no domínio das políticas
Nepal, o Paquistão e o Sri Lanka. urbanas.

SICA: Sistema de Integração Centroamericano.


Composto por três orgãos: a Corte de Justiça
da América Central (CCJ), o Parlamento
Centroamericano (PARLACEN) e a Secretaria

91
GUIA SOBRE A COOPERAÇÃO UNIÃO EUROPÉIA - AMÉRICA LATINA

EDITOR : De acordo com a lei de 11 de março


Associação CEFICALE lei 1901 (França) de 1957 (artigo 41), o Codigo sobre a
propriedade intelectual de 1° de julho de
CONSELHO CIENTIFICO : 1992 e das disposições internacionais
Ver o Site: www.ceficale.org nesta matéria, fica estritamente proibida
toda reprodução parcial ou total da
EQUIPE DE PRODUÇÃO: presente publicação sem a autorização
JPB Communication : expressa dos autores.
florencebeauvais@jpb-communication.fr
www.jpb-communication.fr Informa-se que a este respeito que
Grafismo : Sophie Finn a utilização abusiva e coletiva de
Revisão: Hélène Vandeville Rouquayrol fotocopia põe em perigo o equilibrio
Imprensa Leclerc econômico do livro.

Impresso na França – 2007


ISBN 2-9524330-1-1
FOTOS:
© Communautés européennes 2004 -
2005 - 2006 - 2007
© Photos CE/R.Canessa
© CE/S.Herrero Villa
© Leda Rouquayrol Guillemette

Este documento foi realizado com a


ajuda financeira da Direção Geral EuropeAid
- Serviço de Cooperação. O conteúdo deste
documento é responsabilidade exclusiva dos
autores (Leda Rouquayrol Guillemette,
Santiago Herrero Villa) e em caso algum pode
ser tomado como expressão das posições da
União Européia.

92

Você também pode gostar