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As empresas de capital aberto instaladas no País tiveram aumentados seus níveis de
endividamento de 71%, em 1994, para 186%, no primeiro semestre deste ano. Igual
crescimento também se constata nas dívidas dessas empresas junto aos bancos, que subiu
de 15% para 75%, no mesmo período. Segundo o professor Alberto Borges Matias, da área
de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e
coordenador de projetos da Fundação Instituto de Administração (FIA), são os maiores
índices registrados desde a implantação do Plano Real.
Os dados referem-se a uma amostra de 32 empresas de grande porte de diversos
setores da economia, entre indústria, comércio, serviços e setores primários. A análise teve
como referência dados coletados pela consultoria Austin Asis. O professor ressalta que o
fato de as empre-sas não apresentarem capital de giro próprio para suas operações fez com
que elas recorressem a empréstimos bancários, desencadeando o aumento das despesas
financeiras dessas organizações. Segundo Matias, essas despesas também apresentam um
crescimento elevado, saltando de 5% (1994) para 31% (1999). "Com as altas taxas de juros,
isso foi um verdadeiro suicídio para as empresas, uma vez que um terço de suas receitas
estava comprometido com o pagamento de despesas financeiras", avalia.
Ao mesmo tempo, a rentabilidade patrimonial das empresas analisadas dimi-nuiu
gradualmente após a implantação do Plano Real, caindo de 5% em 94, para menos de 0%
no primeiro semestre deste ano. "Está havendo um estrangulamento da empresa nacional
em razão das altas taxas de juros", explica o professor. "Em outras palavras isso quer dizer
que a política de manutenção de altas taxas de juros acaba inviabilizando a atividade
empresarial no País". Esse estrangulamento, segundo Matias, pode ser comprovado pelo
crescente número de falências decretadas no Estado de São Paulo, que quase triplicou nos
últimos cinco anos: de 538, em 94, para pouco mais de 1600 neste ano. "Os números
refletem a situação do País, uma vez que todas as empresas analisadas têm atuação
nacional", justifica.
Para Matias, as empresas brasileiras estão atravessando um período muito difícil. "Se
por um lado precisam reduzir despesas, por outro necessitam se tornar competitivas e isso,
muitas vezes requer um aumento de despesas", analisa. "Com as atuais taxas de juros, as
empresas ficam acuadas e não conseguem se manter". Ele ressalta ainda a inexistência de
recursos para investimento a longo prazo. "Uma empresa de grande porte paga, em média,
45 % de taxa de juros por ano. Não há como recuperar um investimento como esse apenas
da atividade da empresa", exemplifica. Para Matias, a adoção de medidas que permitissem
o desenvolvimento, tanto das indústrias, como de empresas dos demais setores seria uma
saída. Até o final do ano, segundo o professor, o Brasil deverá pagar mais de US$ 80
bilhões de juros. "Trata-se de um valor inimaginável", con-sidera. "É necessário uma queda
na taxa de juros, caso contrário as empresas vão continuar quebrando, o que pode também
quebrar o caixa da União. Essa política de juros elevados não beneficia ninguém, nem
mesmo o governo".
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_Endividamente_e_seus_reflexos 19h51