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“SE NÃO SÃO ILUSÕES, ESTAMOS NUM TEATRO”:


a possibilidade da paisagem como cenário
„THIAGO ROCHA FERREIRA DA SILVA

RESUMO
ESTE TRABALHO TRATA DA INTENCIONALIDADE NA APROPRIAÇÃO DE SIGNIFICADOS PRESENTES NAS PAISAGENS URBANAS.
ASSUMINDO O CONCEITO SEMIÓTICO DE CULTURA DESENVOLVIDO POR GEERTZ, CONSIDERAMOS A DIMENSÃO DOS
SIGNIFICADOS CONSTRUÍDOS PELA CULTURA NO ESPAÇO. MAIS ESPECIFICAMENTE, BUSCAMOS COMPREENDER AS
MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS COMO MOVIMENTOS QUE PODEM SE ASSOCIAR AOS SIGNIFICADOS PRESENTES NAS PAISAGENS
PARA CONSTRUÍREM OS SEUS DISCURSOS, TOMANDO ESSAS PAISAGENS, EM UMA METÁFORA TEATRAL, COMO UM
CENÁRIO.
PALAVRAS-CHAVE: MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS; PAISAGEM; CENÁRIOS; DISCURSO.

INTRODUZINDO O TEMA _____________________ gem no teatro, através de autores como Calderón


“Se não são ilusões, estamos num teatro”. O tí- de La Barca, Shakespeare e, claro, Goethe. A partir
tulo deste trabalho é, antes, uma fala de Mefistó- do século XVII o theatrum mundi já pode ser conside-
feles no Fausto de Goethe. Eleger este pedaço de rado bastante popular, estando eternizado pela fra-
texto para dar nome ao nosso trabalho deve-se não se de Shakespeare, “o mundo é um palco”.
somente a uma citação ao grande autor alemão, Mais recentemente, contudo, alguns pensado-
mas também ao fato de ele representar exemplo res vêm incorporando essa tradição na tentativa
de uma tradição que pretendemos evocar. A apro- de compreender alguns fenômenos sociais. Entre
priação que fazemos da fala de Mefisto se dá pela estes autores podemos destacar trabalhos de soci-
sua inserção na tradição de se conceder uma or- ólogos, como Richard Sennett (1989), Erving
dem teatral ao mundo, tradição esta que ficou co- Goffmann (1985) e Jean Duvignaud (1973), an-
nhecida como theatrum mundi, ou teatro do mundo. tropólogos como Georges Balandier (1992), ou
Esta é, sem dúvida, uma tradição bastante antiga filósofos como Guy Debord (2000).
no pensamento ocidental, podendo ser identifica- Acreditamos que, com esse trabalho, possamos
da desde o classicismo greco-romano, passando por oferecer uma pequena contribuição para essa li-
algumas tradições cristãs, mas tornando-se, de fato, nha de pensamento, através de uma abordagem
célebre quando é incorporada como metalingua- geográfica. Se pretendermos perceber o mundo

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através de uma perspectiva teatral, é preciso ter dá pela necessidade de se romper com a visão do
em mente que não há teatro sem espaço cênico. E senso comum, que enxerga o cenário como um
se há espaço cênico, é possível que haja um certo fundo passivo diante do qual se desenrola o espe-
arranjo das coisas neste espaço cuja lógica e signi- táculo. Mais do que isso, o cenário responde pela
ficado sejam passíveis de uma interpretação. dimensão espacial deste espetáculo e é preciso
considerá-lo através da dualidade de uma dimen-
O CENÁRIO COMO UMA METÁFORA ALTERNATIVA PARA A são funcional e de uma dimensão simbólica. Para
PAISAGEM _________________________________ tanto, gostaríamos de apresentar algumas reflexões
SOBRE METÁFORAS que viemos desenvolvendo a respeito da dimen-
Antes de se iniciar a defesa teórica da nossa são espacial do teatro.1
análise, gostaríamos de refletir um pouco a respei-
to do uso de metáforas como recurso para a teoria. O CENÁRIO COMO UMA DIMENSÃO ESPACIAL DO ESPETÁCULO

Em primeiro lugar, Santos (1996) já nos adver- Conforme já nos ensinou Roubine (1998, p. 23):
tiu sobre a necessidade da cautela no uso de metá-
foras. Para ele, a metáfora é um elemento de dis- Existe uma relação de interdependênia entre o
curso que não deve substituir a teoria, o conceito, espaço cênico e aquilo que ele contém: e a peça
a explicação. Entretanto, a metáfora poderia cons- fala de um espaço, o delimita e o situa, por sua
tituir um recurso de estilo que facilitaria a com- vez esse espaço não é um estojo neutro. Uma vez
preensão de determinadas explicações. materializado, o espaço fala da peça (...). A
Por sua vez, Berdoulay (1989) nos ensina que partir do momento em que não se leva em conta
a metáfora pode ser um procedimento discursivo essa interdependência tudo fica confuso.
chave no discurso do geógrafo e é capaz de pro-
mover abordagens novas. Mais do que uma sim- A análise do espaço cênico pode ser dividida
ples comparação ou uma analogia, a metáfora se em dois campos maiores, a arquitetura cênica, que
direciona à emoção através de uma convocação se ocupa da ordem espacial do lugar teatral e seus
da imaginação. Seu objetivo não é explicativo, mas efeitos na relação entre o público e o espetáculo e
uma maneira de sugerir uma nova organização do a cenografia, que vai dar conta da análise do espa-
pensamento ou da informação. É um primeiro pas- ço da própria representação, do cenário. Em vir-
so intuitivo na direção da reconceituação, um pro- tude do objetivo deste trabalho, nos deteremos
cesso mental poderoso que leva à inovação. no campo da cenografia, de forma a compreen-
As reflexões destes dois autores nos instigam a dermos mais precisamente de que maneira relaci-
buscar o que uma metáfora para a paisagem através onar cenário e paisagem de uma forma condizen-
do cenário pode nos proporcionar de novo na te com os dois conceitos.
abordagem deste conceito, caminhando para além A palavra cenografia tem sua origem no grego
de uma alegoria ilustrativa que não acrescenta nada skenographein (skènè – grapheins), o que numa tradução
à teoria. Assim, o primeiro passo nessa direção se literal nos levaria a uma idéia de desenho da cena. A

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cena por sua vez corresponde à skènè. No teatro o vestuário, o acessório, o cenário, a iluminação, a
grego, a skènè era a parede (ou às vezes um pano) música e o ruído. Esses sistemas se complementa-
que separaria a cena dos bastidores. O surgimento riam, constituindo o sentido da encenação. Den-
de uma cenografia se dá através da decoração da tre os sistemas propostos por Kowzan, não resta
skènè como um complemento à encenação. Deste dúvida de que aquele que mais interessa a uma aná-
processo, surge o cenário. lise espacial da encenação é o cenário.
De uma maneira geral, os manuais de teatro con- A idéia de cenário vai além da noção de um
ferem ao cenário a função de informação, soman- fundo decorativo, bidimensional diante do qual
do-se esta função a algumas outras, que podem va- se desenrola e encenação, noção esta que parece
riar. Henning Nelms (1964), por exemplo, enume- impregnar o senso comum como única possibili-
ra as seguintes funções para o cenário: fundo, estilo dade. Sem dúvida, esta noção parece ser influen-
e informação. A respeito desta última, o autor ain- ciada pela prática recorrente do uso do cenário
da se aprofunda, comentando que o cenário deve pictórico, onde uma pintura de fundo responde-
informar acerca do tipo de lugar onde se situa a ria por todas as funções do cenário. Há que se
representação, a hora, a situação econômica, social considerar no entanto, a possibilidade de um ce-
e cultural, a atmosfera e os valores estéticos. nário estrutural, que assume uma dimensão espaci-
Essa noção do cenário como fonte de informa- al tridimensional. É preciso levar em conta como
ções que complementariam o texto, abriu cami- parte da cenografia todo o espaço utilizado para a
nho para uma abordagem bastante interessante nas representação, inclusive as formas que ocupam o
teorias teatrais: a do cenário como um sistema de palco, não somente o fundo.
significados. Essa abordagem é tributária sobretu- Essa perspectiva nos proporciona dois senti-
do daqueles teóricos que se dedicam à semiologia dos formadores indissociáveis do espaço cênico:
do teatro. um sentido material e outro simbólico. O sentido
Se, para textos a abordagem semiológica não material é aquele que se constitui através das for-
constitui nenhuma novidade de fato, estes teóri- mas que ocupam o espaço cênico e com as quais
cos apresentam como inovação a idéia de que a os atores irão interagir. Esta dimensão concede às
totalidade da prática teatral se funda em um siste- formas uma funcionalidade, uma participação físi-
ma de símbolos. Assim, se o texto é repleto de ca na ação dramática, através do seu uso pelos ato-
significados, outros elementos da encenação tam- res. Assim, poderia ser constituído por um sistema
bém o são e, juntos, cooperam como um sistema de objetos em relação indissociável com um siste-
comum cuja interação resulta no sentido maior da ma de ações, em uma aproximação da proposta de
encenação. espaço de Milton Santos (1996). O espaço cêni-
Tadeusz Kowzan (1978) enumera treze siste- co não é um simples receptáculo para a represen-
mas de signos que constituiriam uma encenação: a tação: a ordem, e aí se incluem as suas formas, os
palavra, o tom, a mímica facial, o gesto, o movi- objetos cênicos, orienta e dá sentido ao desenro-
mento cênico do ator, a maquiagem, o penteado, lar da representação neste espaço.

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Por outro lado, a cenografia se ocupa também O apoio que buscamos em Geertz se dá por
do sentido simbólico deste espaço cênico. É neste duas razões. A primeira delas diz respeito à nossa
momento que retomamos a função de informação, opção por uma abordagem semiótica do cenário,
ou ainda, a proposição do cenário como um siste- o que nos faz convergir para o conceito semióti-
ma de signos proposta por aqueles defensores da co de cultura da Antropologia Interpretativa. A
semiologia do teatro. Para Kowzan (1978, p. 111): segunda razão se dá pelo fato deste autor, como
nos mostram Cosgrove & Jackson (2000), ter se
A tarefa primordial do cenário, sistema de sig- tornado uma forte influência sobre uma boa parte
nos que se pode também denominar de dispositi- daqueles geógrafos que passariam a ser identifica-
vo cênico, decoração ou cenografia, é a de re- dos com a Nova Geografia Cultural, a partir da
presentar o lugar : lugar geográfico, lugar década de 1970. Sua concepção semiótica trans-
social, ou os dois ao mesmo tempo. forma a cultura em “textos” que podem ser “ l i -
dos” e interpretados pelo antropólogo, buscando
A idéia do cenário como um sistema de signos estabelecer o sistema de significados no qual de-
pode apresentar perspectivas bastante interessan- terminada cultura se contextualiza.
tes. Como vimos, o discurso do espetáculo teatral Uma das mais notáveis conseqüências da influên-
se constrói com mais do que sistemas lingüísticos: cia da antropologia interpretativa sobre a Geografia
este discurso é uma conjugação de diversos siste- foi a mudança na abordagem das paisagens culturais.
mas de significados dentre os quais o cenário é Se por um lado tradicionalmente elas estiveram liga-
legítimo representante da dimensão espacial do das à escola de pensamento saueriana, através das
teatro. formas como uma cultura molda o seu meio resultan-
do na paisagem-resultado desta dada cultura, a partir
A PAISAGEM COMO UM SISTEMA DE SIGNIFICAÇÃO da década de 1980 o estudo das paisagens culturais
De forma a dar continuidade à construção da recebe um enforque interpretativo. As paisagens
nossa metáfora, talvez seja preciso nos remeter- passam a ser vistas também como textos que podem
mos neste momento ao conceito de cultura de- ser sujeitados a métodos interpretativos, em uma
fendido por Clifford Geertz (1989) . Nas palavras perspectiva semiótica da paisagem.
do próprio autor: Este novo momento do estudo das paisagens
O conceito de cultura que eu defendo(...) é culturais encontra em Cosgrove (1998) e Duncan
essencialmente semiótico. Acreditando, como Max (1990) dois de seus mais dignos representantes.
Weber, que o homem é um animal amarrado a tei- Entretanto, nos apoiaremos, neste momento, mais
as de significados que ele mesmo teceu, assumo a fortemente no segundo, dado o aprofundamento
cultura como sendo essas teias e a sua análise, por- que podemos encontrar em sua obra da paisagem
tanto, não como uma ciência experimental em como um sistema de significados, uma noção que
busca de leis, mas como uma ciência interpretati- nos interessa diretamente neste trabalho. Para
va, à procura do significado. (GEERTZ, 1989:4) Duncan (1990, p.17):

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A paisagem, eu argumentaria, é um dos elemen- dos linguísticos e não linguísticos, incluindo a
tos centrais em um sistema cultural, uma vez que paisagem, considerando-a também como um sis-
como um conjunto ordenado de objetos, um tex- tema de significados. O discurso do espetáculo se
to, ela atua como um sistema de significados apropria dos significados relacionados às formas
através do qual um sistema social é comunica- espaciais deste cenário como o discurso político
do, reproduzido, experimentado e explorado. pode se apropriar dos significados que a socieda-
de atribui às formas espaciais da paisagem.
Além da concepção da paisagem como um sis-
tema de significados, que já se aproxima da con- OS ESPAÇOS PÚBLICOS COMO ESPAÇOS DO DISCURSO

cepção de cenário que apresentamos, um elemen- Ao tratarmos de discursos é preciso considerar


to fundamental no trabalho de Duncan vem a ser a que um discurso contém um princípio básico de
relação que se estabelece entre paisagens e dis- comunicação. Em outras palavras, é preciso que
curso. As paisagens no reino de Kandy são cons- haja, além de um receptor, um emissor desse dis-
truídas para consolidarem o discurso da ordem curso. Sem dúvida, o espaço capaz de dar conta
social monárquica, materializando imagens de tex- dessa necessidade para a realização do discurso é
tos míticos fundadores desta sociedade. o espaço público.
A partir daqui, devemos retornar à nossa metá- Como nos mostra Gomes (2002), a definição
fora. Não alimentamos com ela qualquer preten- de um espaço público pela negação, ou seja, pú-
são de superação da metáfora do texto construída blico é tudo aquilo que não é privado, não é ca-
por Duncan para a paisagem. Esta concepção cons- paz de suprir nossas necessidades conceituais. O
titui justamente uma das pedras fundamentais da Nova estatuto jurídico, por sua vez, também seria insufi-
Geografia Cultural e ainda suscita bastante polêmica ciente. Tanto porque não resta dúvida que a exis-
para que a consideremos esgotada. O que pretende- tência do objeto precede a lei quanto porque o
mos com nosso trabalho é dar uma pequena contri- texto legal é incapaz de abordar a diversidade fe-
buição para a análise da apropriação da paisagem como nomenológica que constitui este espaço. A sim-
elemento formador de um discurso. ples acessibilidade não é capaz de promover um
A noção de cenário se aproximaria, enfim, do estatuto público ao espaço, uma vez que diversos
conceito de paisagem precisamente através de locais públicos, como escolas e hospitais, por
processos de apropriação dos significados presen- exemplo, não oferecem livre acesso e nem por isso
tes na paisagem para a construção de um discurso. perdem sua qualidade de públicos.
Assim como o discurso do espetáculo se constrói O espaço público seria identificado por atri-
através da conjugação de toda uma diversidade de butos diretamente relacionados a uma vida pú-
sistemas de significados, dentre os quais o sistema blica. É o lugar da co-presença, do convívio, do
de significados espacial que corresponde ao cená- princípio da publicidade que garante à socieda-
rio, o discurso político pode se formar também de “apresentar sua razão em público sem obstá-
através da associação entre sistemas de significa- culos, confrontá-la à opinião pública e instituir

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um debate” (Gomes, 2002, p. 160). O espaço realizada em São Paulo por segmentos da oposição
público é o espaço onde se desenvolve a mise-en- como resposta ao primeiro movimento.
scène da vida pública. A escolha destas duas manifestações se dá a partir
A dimensão da visibilidade que o espaço pú- de um critério principal: a possibilidade, nos dois
blico proporciona é de vital importância para com- casos, de se evidenciar o uso da paisagem como
preender a dinâmica espacial das manifestações cenário, a apropriação dos significados socialmente
políticas. Para Gomes (2002, p. 165), “o espaço partilhados a respeito dos lugares de realização das
físico é preenchido por um vocabulário que se manifestações.
declina a partir de diferentes ‘lugares’ e de varia-
das práticas”. Para este trabalho, o diálogo públi- O COMÍCIO DA CENTRAL DO BRASIL

co que os discursos pretendem estabelecer se nu- Ao subir no pequeno palanque, de cerca de


tre não somente pela palavra, mas também por este 1,60 metros de altura, montado na Praça da Repú-
vocabulário geográfico. blica, por volta das oito horas da noite de 13 de
Março de 1964, uma sexta-feira, João Goulart ti-
CENÁRIOS, DISCURSOS E MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS ____ nha diante de si uma multidão de 100 ou até 500
A paisagem como cenário se apóia na visão de mil pessoas, dependendo de onde se buscasse os
que o cenário é um dos vários sistemas de signifi- números. Ao olhar para a direita, o então Presi-
cados que, juntos, se completam no discurso do dente da República veria o Palácio Duque de Ca-
espetáculo. Nesse sentido, mais uma vez nos apro- xias, sede do Comando Militar do Leste e, certa-
priamos da fala de Mefistófeles, quando ela separa mente, o mais importante edifício militar da cida-
o teatro da ilusão. O teatro é representação, é um de do Rio de Janeiro. Ao virar-se para a esquerda,
discurso construído para o qual o cenário, como contudo, seus olhos encontrariam a estação ferro-
sistema espacial de significados, tem uma grande viária Central do Brasil.
importância. O que queremos propor com esse A partir das três horas da tardem a concentra-
trabalho é a idéia de que a metáfora do cenário ção na Praça da República de pessoas afluentes de
pode nos ajudar a compreender o papel da paisa- toda parte da cidade e mesmo, sem exagero, de
gem na construção do discurso. várias partes do país, já era grande. Desde o dia 19
Mais especificamente, trataremos neste momen- de Fevereiro mobilizou-se a convocação popular
to da apropriação de significados da paisagem ur- através de diversas entidades sindicais e estudan-
bana para a construção do discurso político, atra- tis. A idéia principal da manifestação era mostrar
vés de análise de duas manifestações ocorridas em em praça pública a disposição do governo de im-
março de 1964. A primeira delas foi o Comício da plementar as chamadas Reformas de Base que os
Central do Brasil, realizado por partidários do en- setores populares vinham reivindicando face à ins-
tão presidente João Goulart, em 13 de março da- tabilidade política e econômica pelas quais o país
quele ano, na cidade do Rio de Janeiro; a segunda passava, bem como anunciar a mensagem pró-re-
foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, formas que seria enviada ao congresso na abertura

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do ano legislativo, alguns dias depois. João Gou- PTB, garantindo o total apoio do partido ao pre-
lart encontrava-se pressionado pela polarização sidente e às reformas. Mera formalidade antes do
política entre aqueles que pregavam a reformula- discurso que todos esperavam.
ção da constituição e a implementação da refor- Diante da multidão, Goulart discursou por 66
ma, sobretudo sindicalistas, comunistas e militares minutos, muitos dos quais em improviso providen-
de baixa patente, e aqueles ansiosos pela queda cialmente ajudado pelo Chefe do Gabinete Civil,
do Presidente, entre os quais se incluíam militares Darci Ribeiro, e recebendo com frequência co-
de alta patente e os setores mais conservadores da pos de água das mãos da Primeira-Dama Maria Te-
sociedade, sob forte influência do clero. resa. Assim como os doze outros oradores que o
Enquanto outros oradores já se esmeravam em precederam fez uma defesa apaixonada das refor-
levantar o ânimo daqueles que se espremiam en- mas e prometeu investir os maiores esforços para
tre a Praça da República, a Central do Brasil, a sua implementação.
lateral do Ministério da Guerra, chegando mes- Ao longe, na Praia do Flamengo, na janela de
mo às proximidades do túnel João Ricardo, fe- cerca de trinta apartamentos tremulava a fraca luz
chando completamente a Avenida Presidente de velas lá colocadas propositalmente, sugeridas
Vargas, no Palácio Laranjeiras o Presidente assi- pelo governador do Estado da Guanabara Carlos
nava o decreto da SUPRA, Superintendência da Lacerda, opositor de longa data de João Goulart.
Reforma Agrária, que desapropriava terras no A idéia era iluminar as fachadas da Praia do Fla-
entorno de 10km das rodovias federais, assim mengo até a Avenida Beira-Mar, já no Centro,
como aquele que dava início ao processo de es- como protesto contra o comício. Na escuridão,
tatização de refinarias privadas em território na- no entanto, permaneceu o fracasso do protesto
cional, os dois primeiros passos no longo cami- que pretendia causar mal-estar no Presidente ao
nho das reformas. subir no palanque. Palanque, aliás, que sofrera uma
O anúncio dos decretos aumentou ainda mais a outra tentativa fracassada de protesto na madruga-
expectativa pela presença do Presidente no comí- da do dia 12 para o dia 13 quando militantes de
cio. Assim, quando João Goulart teve sua chegada extrema direita tentaram incendiá-lo. A noite pa-
anunciada por volta das sete horas e quarenta mi- recia ser mesmo da multidão que ocupou a Cen-
nutos daquela noite, a multidão exultava, fogos de tral do Brasil.
artifício estouravam pelo céu escuro. Em meio à Frente à Central do Brasil dos trabalhadores e
massa, despontavam cartazes e bandeiras em defe- ao Palácio Duque de Caxias, dos militares, naque-
sa do Partido Comunista Brasileiro, posto na ile- la noite, João Goulart, um populista que nunca ti-
galidade, em apoio às estatizações ou mesmo de- vera efetiva intimidade com setores mais radicais,
monstrações de apoio à luta armada para garantir e que recebera o apelido de “ônibus elétrico” em
as reformas. Foices e martelos eram visíveis por virtude de suas guinadas ora para a direita, ora para
todos os lados. Naquele momento ainda discursa- a esquerda, definitivamente virou-se para a esquer-
va o deputado Doutel de Andrade, em nome do da, na direção da Central do Brasil.

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A MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE das Indústrias do Estado de São Paulo além de al-
A reação à movimentação no Rio de Janeiro, guns políticos ilustres de então, entre os quais Auro
contudo, não demorou e alguns dias depois seria de Moura Andrade, presidente do Senado, e Car-
realizada em São Paulo uma segunda manifestação los Lacerda, governador do estado da Guanabara
em resposta ao comício de João Goulart, manifes- e antigo opositor do governo de Vargas.
tação esta que ficou conhecida como a “Marcha Assim como no caso do comício da antiga Gua-
da Família, com Deus, pela Liberdade”, realizada nabara, o número de participantes da Marcha é
no dia 19 daquele mesmo Março de 1964, dia de bastante incerto. No dia seguinte à manifestação,
São José, padroeiro das famílias. ainda sob o calor dos acontecimentos, alguns jor-
De acordo com seus idealizadores, a Marcha nais chegaram a noticiar a presença de mais de um
constituiria justamente um movimento de rea- milhão de pessoas. Com o passar do tempo, no
ção. Mais do que apenas uma manifestação, a entanto, estimativas mais comedidas davam conta
idéia era promover uma série de outras manifes- de um número entre 200 e 500 mil participantes,
tações em várias capitais do país. Entretanto a o que poderia representar, no caso de 500 mil
primeira delas, a de São Paulo, tornou-se a mais manifestantes, até 10% da população da cidade
célebre e decisiva, uma vez que as outras mar- de São Paulo então.
chas se realizaram após a queda do Presidente A despeito desta polêmica, desde cedo milha-
Goulart e ficaram mais conhecidas como “mar- res de pessoas já se concentravam na Praça da Re-
chas da vitória”, incluindo a manifestação que pública, apesar da partida da marcha estar marcada
reuniu cerca de um milhão de pessoas no Rio de somente para as 16 horas. Se na Guanabara foices
Janeiro no dia 2 de Abril, dia seguinte ao anún- e martelos podiam ser vistos por toda parte, a
cio do golpe. multidão paulista ostentava símbolos religiosos e
O próprio nome já nos sugere os seus propósi- faixas com dizeres anticomunistas, como “Viva a
tos: seria um levante da “tradicional família brasi- democracia, abaixo o comunismo”, “Abaixo os im-
leira”, de acordo com os princípios católicos de perialistas vermelhos”, “Vermelho bom, só o ba-
seus organizadores, dentre os quais se destacavam tom”, “Verde, amarelo, sem foice nem martelo”.
como principais articuladores o deputado Antô- Finalmente quando se encontrou reunido o
nio Sílvio da Cunha Bueno e o governador Ade- maior número de pessoas visto até então para um
mar de Barros (que se fez representar no processo movimento de direita no país, a massa partiu da
de convocação pela sua esposa Leonor de Barros), Praça da República em direção à Praça da Sé, pas-
contra o “perigo comunista” alimentado por João sando pela rua Barão de Itapetininga, praça Ra-
Goulart. Preparada com o auxílio da Campanha da mos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça do Pa-
Mulher pela Democracia (Camde), da União Cí- triarca e rua Direita, até se represar ante as esca-
vica Feminina, da Fraterna Amizade Urbana e Ru- darias da catedral metropolitana, após cerca de
ral, entre outras entidades, a marcha paulista rece- duas horas de caminhada. De lá a multidão assis-
beu também o apoio da Federação e do Centro tiu a uma sequência de discursos, alternando-se

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no palanque autoridades políticas e eclesiásticas, ajudara a criar ainda como Ministro do Trabalho
culminando na celebração de uma missa “pela sal- de Getúlio Vargas. Assim, o Comício foi uma ten-
vação da democracia”. tativa de resgatar o discurso do trabalhismo popu-
lista de Vargas e tentar erguer um último pilar de
INTERPRETANDO OS CENÁRIOS apoio para um governo que já agonizava. É na di-
Finalmente, gostaríamos de concluir nosso tra- reção desse discurso que a estação da Central do
balho oferecendo uma interpretação para a rela- Brasil se faz cenário.
ção entre cenários e discursos nas manifestações Criada em 1858 sob o nome D. Pedro II, a par-
apresentadas. Contudo, a idéia que trabalhamos tir de 1889, com a proclamação da República, a
não é a da obra completamente aberta, disponível estação passou a chamar-se Central do Brasil de
a qualquer interpretação que se deseje. Esse é o forma a eliminar quaisquer referências ao império.
grande ponto em que se concentram as críticas à Além de atender aos anseios republicanos, o nome
semiologia na Geografia, como aponta Claval Central mostrou-se bastante adequado ao signifi-
(2004). Nos apoiamos na noção de economia da cado que a estação iria adquirir: a Central do Bra-
interpretação, proposta por Eco (1993), segundo sil constitui o ponto final da malha ferroviária que
a qual uma interpretação só é valida se houver, de liga os subúrbios cariocas ao centro da cidade.
fato, uma relação coerente entre a obra e a inter- Como aponta Abreu (1990), a expansão da ci-
pretação, cujas bases devem ser buscadas na pró- dade a partir de sua área central se deu, sobretu-
pria obra, sem extrapolar seus limites. Dessa for- do, por volta da virada do século XIX para o sécu-
ma, a semiologia deixa de ser uma busca por sinais lo XX, de acordo com duas vertentes, cada qual
ocultos e secretos, mas um olhar justamente sobre baseando-se em uma forma de transporte predo-
os signos evidenciados pelo autor. Esses signos, minante. O crescimento em direção à Zona Sul
para nós, estão na paisagem escolhida para a reali- apoiou-se na implementação das linhas de bon-
zação das manifestações. des, estimulando o desenvolvimento urbano de
No caso do Comício da Central do Brasil, dois áreas que já vinham sendo objeto de valorização
elementos do cenário chamam a atenção: a esta- imobiliária e consolidando a formação dos bairros
ção Central do Brasil e o Palácio Duque de Caxi- burgueses de alta renda. O crescimento em dire-
as. Mas de que forma eles estão relacionados ao ção à Zona Norte, principalmente às áreas subur-
discurso do Comício? banas, por sua vez, se deu em torno da malha fer-
O Comício da Central foi uma das últimas ten- roviária que passou a servir a região. A distância
tativas de João Goulart angariar apoio popular em em relação ao Centro, a falta de investimentos em
Março de 1964. Após quase três anos de um go- melhorias urbanísticas assim como a intensa valo-
verno que oscilou entre esquerda e direita, o pre- rização por parte da burguesia dos bairros da Zona
sidente se viu isolado pelos antigos aliados de cen- Sul, tornaram possível a ocupação da área pela
tro e da esquerda liberal e só lhe restava como população de baixa renda, formando os bairros
possível base de apoio a estrutura sindical que ele operários, que completam a oposição espacial en-

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tre burguesia e proletariado sugerida por Abreu Nesta Praça caíram aqueles que ficaram conheci-
(1990). dos como “os primeiros mártires” do movimento
A Central do Brasil representava em Março de constitucionalista de 1932, que se opunha ao re-
1964, como de certa maneira até hoje, o Rio de gime autoritário imposto pelos revolucionários de
Janeiro proletário e trabalhador. Trem, subúrbio e 1930 encabeçados por Vargas. Em uma manifesta-
população de baixa renda se constituíam sinôni- ção de estudantes e trabalhadores em Maio de
mos que se contrapunham à associação entre o 1932, quatro estudantes foram mortos em confron-
bonde, a zona sul e um estilo de vida moderno à to com partidários da revolução, marcando defi-
beira-mar simbolizado, sobretudo, pelo novo bairro nitivamente a Praça da República como um sím-
de Copacabana, cuja ocupação se deveu em gran- bolo espacial da resistência ao governo de Getú-
de parte à expansão das linhas de bonde, em uma lio Vargas que é reconhecido até hoje pelos vete-
estratégia muito bem sucedida das próprias com- ranos do movimento de 1932 e pela sociedade
panhias de bondes de preparação e revenda de paulista como um todo (Borges & Cohen, 2004).
áreas da zona sul que incorporou também Ipane- Enquanto Goulart tentava se erguer com o
ma e, posteriormente, o Leblon. apoio do trabalhismo, a Marcha paulista represen-
Além da associação da Central do Brasil com as tava uma nova tentativa de afundar este mesmo
classes trabalhadoras, encontramos ainda no cená- trabalhismo, como já havia se tentado em 1945.
rio do Comício o Palácio Duque de Caxias, então Contudo, o capital político deixado pelo suicídio
sede do Ministério da Guerra. Postar a massa de de Vargas talvez ainda permitisse uma sobrevida
trabalhadores diante do edifício chamado pelos ao seu legado. Talvez por essa razão o movimento
militares de “quartel general” era uma forma do pre- de oposição buscou aprofundar os ataques usando
sidente demonstrar força diante da alta oficialidade a força moral do catolicismo brasileiro, virando-se
que sempre lhe fizera oposição, desde o governo na direção das acusações de infiltração comunista
de Getúlio Vargas. A estação da Central do Brasil e no governo, o que, como nos mostra Moniz Ban-
o Ministério da Guerra compõem, assim, o cenário deira (1977), não tinha naquele momento qual-
do discurso trabalhista e de provocação aos milita- quer fundamentação séria.
res naquela noite de 13 de Março de 1964. O discurso anticomunista encontra seu cená-
A resposta para o Comício veio com a Marcha rio na chegada da Marcha aos pés da Catedral da
da Família, com Deus, pela Liberdade sob a forma Sé, sede da arquidiocese da cada vez mais orgu-
do discurso anticomunista e anti-Getúlio seis dias lhosa metrópole paulistana (Souza, 2004) e tem-
depois em São Paulo. Podemos privilegiar na nos- plo construído com o dinheiro da poderosa bur-
sa análise do cenário os pontos de partida e che- guesia paulista. A luta contra o suposto comunis-
gada da Marcha, cada qual como uma componen- mo do governo confundia-se ali, defronte ao mo-
te do discurso. numental edifício da Sé, com a luta pela defesa
A partida da Praça da República responde pela dos valores da família brasileira católica e rigida-
vertente de oposição ao trabalhismo getulista. mente tradicional.

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place. Bringing together geographical and sociological imaginations.
Desse confronto de discursos, a história nos Boston: Unwin Hyman, 1989.
mostra hoje a eficiência dos ataques da oposição e BORGES, V.P. & COHEN, I.S. A cidade como palco: os movimen-
tos armados de 1924m 1930 e 1932. In: PORTA, P.(org.) História
a força do discurso moralista em Março de 1964. da cidade de São Paulo. Volume 3: A cidade na primeira metade do
século XX – 1890 – 1954. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
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momento, apontava, ao mesmo tempo, aprovação COSGROVE, D. A Geografia Está em Toda Parte: Cultura e
Simbolismo nas Paisagens Humanas. In: CORRÊA, R.L. &
popular ao governo e às reformas de base por ele ROSENDAHL, Z.(orgs.) Paisagem, tempo e cultura. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 1998.
empreendidas e preocupação crescente com o “pe-
COSGROVE, D. & JACKSON, P. Novos rumos da Geografia
rigo comunista” em meio à guerra fria. A manipu- Cultural. In: CORRÊA, R.L. & ROSENDAHL, Z.(orgs.)
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lação do discurso anticomunista foi, sem dúvida, DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contra-
ponto, 2000.
fundamental para garantir a relativa estabilidade
DUNCAN, J. The city as a text. The politics of landscape interpre-
social que se viu imediatamente após o golpe mi- tation in the Kandyan Kingdom. Cambridge: University Press,
1990.
litar que ocorreria poucos dias depois. DUVIGNAUD, J. Les Ombres collectives. Sociologie du théâtre.
Paris: P.U.F., 1973.
Concluímos este trabalho tentando evidenciar
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a força de alguns símbolos presentes no espaço Fontes, 1993.
GOMES, P.C.C. A condição urbana: ensaios de geopolítica da
urbano das duas maiores cidades brasileiras em um cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
momento chave da nossa história. Ele é um pe- GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Editora
Ao Livro Técnico e Científico, 1989.
queno esforço no sentido de valorizar o espaço e
GOFFMANN, E. A representação do eu na vida cotidiana.
Petrópolis: Vozes, 1985.
a Geografia como elementos fundamentais para a
KOWZAN, T. Os signos no teatro – introdução à semiologia da
construção de discursos. Nossos cenários urbanos arte do espetáculo. In: Guinsburg, J., Coelho Netto, J.T. &
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são mais do que simples panos de fundos diante 1978.

dos quais desenrola-se a ação de maneira indepen- MONIZ BANDEIRA, A. O Governo João Goulart: as lutas
sociais no Brasil 1961-1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei-
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ABSTRACT
THIS PAPER CONCERNS THE INTENTIONALITY IN THE APPROPRIATION OF THE MEANINGS WHICH ARE PRESENT IN URBAN
LANDSCAPES. IF WE ASSUME THE SEMIOTIC CONCEPT OF CULTURE DEVELOPPED BY GEERTZ, WE SHALL CONSIDER THE
MEANINGS WHICH CULTURES BUILD AS ONE OF THE DIMENSIONS THAT CONSTITUTE SPACE. MORE SPECIFICALLY, WE
WANT TO COMPREHEND POLITICAL MANIFESTATIONS AS MOVEMENTS WHICH MAY TAKE THE MEANINGS THAT ARE PRESENT
IN URBAN LANDSCAPES TO BUILD ITS DISCOURSE, TAKING LANDSCAPE, IN A THEATRICAL METAPHOR, AS A SCENERY.
KEY-WORDS: POLITICAL MANIFESTATIONS; CULTURAL LANDSCAPE; SCENERY; DISCOURSE.

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