Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
As organizações estão sendo inseridas nos mercados mais competitivos devido a
alta concorrência, evolução tecnológica e de metodologias de gestão utilizadas por
seus concorrentes. Isso se potencializa quando se pensa na manutenção aplicada a
manufatura industrial, por impactar imediatamente o custo, qualidade, segurança do
trabalho e controle ambiental dessas organizações. Este trabalho analisou o avanço
da produtividade e principais indicadores referentes a manutenção industrial quando
se migra de uma estratégia puramente reativa para estratégias de manutenção
tradicionais. Atrelado a isso, ao notar oportunidades advindas da adoção de
estratégias de otimização de custo com manutenção ao reduzir-se os níveis de
serviços cíclicos com base no tempo e aumentar-se a incidência de tipologia de
manutenção com base na condição dos ativos. Foi percebido que há vantagens
estratégicas significativas ao fazer-se essa migração, por outro lado, notou-se um
aumento nas incertezas e necessidade de mudanças nas programações de
demandas planejadas. Com isso, o trabalho avalia a adaptabilidade e aplicabilidade
de métodos e ferramentas ágeis visando garantir maior assertividade nas tomadas
de decisões, planejamento, programação de serviços, assim como na resolução de
problemáticas. Por fim, apresenta-se a maneira que o Scrum, matriz de priorização e
ferramentas de gestão de backlog foram aplicados em uma indústria de reciclagem
de baterias de chumbo-ácido. Obtendo uma evolução significativa nos indicadores
de horas paradas, taxa de ocupação, MTTR, MTBF e clima organizacional.
1. Introdução
Direcionar equipes e organizações buscando evoluir no contexto de produtividade é
fundamental para que estas se tornem mais competitivas, eficazes e eficientes. No
segmento industrial é perceptível que quando a priorização dos recursos e a gestão
das demandas não estão alinhadas de uma forma coesa, os resultados acabam não
sendo satisfatórios e empresas acabam prejudicando sua lucratividade por estarem
aprisionadas a sistemas de manutenção reativos e ineficientes.
Nesse contexto, empresas conseguem resultados extremamente significativos ao
implantar e usar boas práticas de PPCM e Engenharia de Manutenção. Isso ocorre
devido a delimitação de escopos de trabalho bem definidos e bem executados entre
engenharia, planejador, supervisor e executantes. Ao se comparar essa estrutura
com cenários totalmente reativos, fica notório que o avanço nos resultados das
2
organizações e a produtividade dos times são brutalmente impactados. Isso faz com
que, independentemente do segmento, as empresas adotem estruturas bem
parecidas para tratar a problemática da gestão e profissionalização da manutenção
industrial. Porém, muitas vezes se planeja e se avalia a situação dos ativos de forma
determinística e sequenciada, empregando-se intervenções baseadas em
estratégias cíclicas por tempo ou não conseguindo acompanhar as condições e
necessidades das áreas.
Ao mesmo tempo, as organizações, devido a alta competitividade do mercado, estão
cada vez mais pressionadas pela redução de custos. Fazendo com que os times de
manutenção optem cada vez menos por intervenções e troca de peças
sobressalentes baseadas em estratégias cíclicas de tempo. Levando as empresas a
direcionarem esforços para adoção de estratégias de manutenção com base nas
condições dos ativos. Isto eleva significativamente a incerteza do planejamento e
execução, assim como o risco de reduzir-se a confiabilidade dos ativos na indústria
e por consequência a eficiência e produtividade dos times.
Deste modo, ao observar quando se trata de gerenciamento de projetos utilizando
práticas ágeis, são percebidos ótimos resultados na condução de rotinas com alto
volume de serviços, alto grau de mudanças e excelente performance na solução de
problemas crônicos e complexos. Ao comparar estas características com as que a
manutenção se insere ao reduzir atuação com base em tempo, percebe-se uma
provável aplicabilidade e grande risco de sucesso no incremento a produtividade e
eficiência dos times.
Dentre as principais ferramentas e práticas ágeis, nota-se que o Scrum tem uma boa
aplicabilidade em rotinas de times de manutenção com elevado volume de entregas
e necessidade de atuar em problemáticas crônicas de falhas e melhorias de
processos. A partir daí, este trabalho avaliou a utilização do Scrum, alinhado a
gestão de backlogs de manutenção e ferramentas de priorização de demandas, ao
mesmo passo que monitorou indicadores chave por um intervalo de 3 anos.
Podendo aferir grande evolução no que diz respeito a redução de horas paradas de
máquinas por corretivas não planejadas, taxa de ocupação dos técnicos, MTTR,
MTBF e clima organizacional.
2. Fundamentação teórica
2.1. Produtividade e sua importância para a manutenção
A produtividade é um parâmetro que direciona organizações a serem mais
competitivas, eficazes e eficientes. Nesse contexto não é incomum que pessoas
acreditem que a produtividade esteja unicamente ligada ao volume de entregas, ao
mesmo tempo que estudos relacionados ao tema consideram esta visão
equivocada. Por exemplo, segundo Clear (2020 n.p.) “Produtividade é fazer coisas
importantes de forma consistente”. Ou seja, produtividade é priorizar corretamente e
manter um nível de entregas satisfatório e constante.
A complexidade e burocracia nos fluxos de processos de algumas organizações,
alinhadas com a falta de sistemáticas enxutas e sem direcionamentos claros fazem
com que colaboradores se tornem lentos, façam entregas com baixa assertividade e
baixa produtividade. Um estudo realizado por Gottfredson e Mankins (2013 n.p.)
afirma que em grande parte das organizações as pessoas passam 25% do seu
tempo produtivo em atividades de baixo valor agregado ou em atividades
ineficientes. Isso se torna cada vez mais crítico no segmento ligado a manutenção
3
consegue resumir esse tema de maneira concisa e com poucas variações irrisórias
perante a literatura, conforme a seguinte classificação:
• Manutenção Corretiva
a. Execução de serviço após surgimento de pane que inibe total ou
parcialmente a função de um ativo
• Manutenção Preventiva
a. Execução de serviço antes do surgimento de pane que inibe total
ou parcialmente a função de um ativo e que tem objetivo de
restaurar ou melhorar as condições físicas e de confiabilidade do
equipamento.
• Manutenção Preditiva
a. São atividades de manutenção que visam acompanhar os ativos
através de monitoramento de parâmetros que vinculem variação de
grandezas físicas e químicas ao surgimento de falhas.
• Manutenção Autônoma
a. São atividades de manutenção de menor complexidade executadas
pelos operadores. Como por exemplo: reaperto, limpeza, inspeção
e lubrificação.
A Figura 3 decompõe as principais tipologias utilizadas em indústrias de manufatura
de uma forma mais completa a partir da estratificação descrita inicialmente.
CARACTERÍSTICAS
PREDITIVO Fixo Realizado uma vez para Entrega única Gerenciar custos
todo o projeto
INTERATIVO Dinâmico Repetido até está correto Entrega única Correção da solução
INCREMENTAL Dinâmico Realizado uma vez para Entregas Velocidade
determinado incremento menores
frequentes
ÁGIL Dinâmico Repetido até está correto Entregas Valor do cliente por
menores meio de entregas e
frequentes feedbacks frequentes
3. Metodologia e aplicação
O contexto de aplicação das práticas e ferramentas fundamentadas nos tópicos
anteriores é feito em uma unidade de trituração de baterias que tem como propósito
fornecer insumos e garantir a reciclagem, destinação ambiental correta de baterias
automotivas, tracionárias, náuticas e estacionárias vendidas por um importante
player no segmento nacional, assim como suprir a cadeia produtiva subsequente
para fabricação de novas baterias de chumbo ácido.
No início da implantação do Scrum na rotina da equipe, a manutenção do setor era
preponderantemente corretiva não planejada. Cerca de 97% do homem-hora
utilizado era para esse tipo de manutenção. O que indica um considerável volume de
problemáticas crônicas nos equipamentos, fazendo a equipe executante não
conseguir atuar planejadamente, nem preventivamente. O que reduz fortemente a
11
produtividade da manutenção.
Ao se utilizar o Scrum, tomou-se o cuidado de fomentar a interação entre os clientes
e time de manutenção. O backlog passou a ser montado a partir de entradas como
planos preventivos base-tempo, inspeções técnicas, etiquetas, solicitações de
melhorias de processos, ações provenientes de tratativas de falhas e modificações
para melhorias nos projetos das máquinas. A Figura 06 ilustra a interligação entre as
partes envolvidas e o papel fundamental da operação, como cliente principal, de
validar e seguir com inputs para revisão e correção das entregas.
5. Conclusões
Pode-se verificar claramente o impacto negativo que a adoção de estratégia
puramente reativa traz para as organizações. Tanto no contexto de produtividade
das equipes de operação e manutenção, como na utilização dos ativos e nas
questões de clima organizacional.
Ao se estruturar a engenharia de manutenção e o PPCM observa-se, de imediato,
resultados bem expressivos. Porém, quando se avalia o quesito de custo de
manutenção, faz sentido buscar reduzir-se o nível de manutenção com base no
14
tempo e migrar para serviços planejados e programados com base na condição dos
ativos, o que depende principalmente de inspeções técnicas e medições preditivas.
Isso aumenta a incerteza da assertividade nas programações das equipes, fazendo
com que o gerenciamento das demandas precise se adaptar ao novo cenário. Para
isso, percebe-se boas características relacionadas aos métodos e ferramentas
ágeis.
Desta forma, ao se utilizar o Scrum, ferramentas de gerenciamento do backlog e
matriz de priorização das demandas, em um intervalo de 3 anos, foi notado um
impacto significativo na redução de horas paradas de máquinas por corretivas não
planejadas, reduzindo-se de cerca de 580 para 50 horas por mês, elevação da taxa
de ocupação de 46% para 81%, redução no MTTR de 11 para 3,8 horas, aumento
do MTBF de 11 para 38 dias e uma evolução de 70 pra 87 pontos no clima
organizacional.
O compilado dessas métricas reforçam a assertividade na adoção das práticas ágeis
no contexto da manutenção, desde que consiga se criar um ambiente propício para
integração entre os times de operação, manutenção e processo. Apesar disso, é
necessário ter cuidado para não se aplicar o ágil em todas as atividades. Como
mencionado no estudo, demandas que possuem e precisam de alto nível de certeza
como gerenciamento de grandes paradas, montagens técnicas específicas e outros
serviços de características sequenciais precisam adotar práticas de gestão
direcionadas a plano e não a valor. Desta forma é importante que as lideranças, os
planejadores e os executores tenham conhecimento das diferentes práticas e
desenvolvam habilidades híbridas de trabalho nos diferentes modelos.
Referências
ABRAMAN, Associação Brasileira de Manutenção. Documento Nacional: Situação
da Manutenção no Brasil. Rio de Janeiro, 2019.
CLEAR, James. The Productivity Guide: Time Management Strategies That Work.
James Clear, 2013. Disponível em: <https://jamesclear.com/productivity> Acesso: 15
de abr. de 2022.
LAUER, William. O Manifesto Ágil e uma breve introdução ao Scrum. Edição Kindle.
São Vicente, 1999.