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Fonte: Wikipédia
MANUELA MARGARIDO
ao cheiro do andu
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a senzala;
ROÇA
a noite esculpe
é o sino da alvorada
E preciso não perder
que desperta o terreiro.
de vista as crianças que brincam:
E o feito que começa
a cobra preta passeia fardada
a destinar as tarefas
à porta das nossas casas.
para mais um dia de trabalho.
Derrubam as árvores fruta-pão
a cubata incendiada,
capinas o mato
o telhado de andala flamejando
com um machim de raiva;
e o cheiro do fumo misturando-se
abres o coco
ao cheiro do andu
com um machim de esperança;
e ao cheiro da morte.
cortas o cacho de andim
Nos nós conhecemos e sabemos,
corn um machim de certeza.
tomamos chá do gabão,
Penso que é necessário falar de cultura antes de liter- A responsabilidade e as tarefas são grandes.
atura. E vamos aproveitar esta excelente ocasião, para
examinar alguns aspectos essenciais sobre a nossa Por onde começar? Ou por onde continuar?
cultura.
Se os estimados camaradas e colegas me permitem,
Felizmente, já se criou entre os intelectuais angola- direi que não podemos cair em esquemas ou es-
nos, hesitação e dúvida sobre se a cultura portuguesa tereótipos como os teóricos do realismo socialista. A
que serviu algumas camadas angolanas desligadas do par da nossa capacidade nacionalista, teremos de in-
seu povo é ou não aquela que deveria ser apresentada tervir de modo a inscrever-nos no mundo, à medida
como a emanação cultural do povo angolano. que formos assumindo a realidade nacional.
Essa dúvida, levar-nos-á à afirmação. Na nossa primeira fase, e do ponto de vista cultural,
há que analisar. Não adaptar mecanicamente. Há
Evidentemente, a cultura não pode inscrever-se no que analisar profundamente a realidade e utilizar os
chauvinismo, nem pretender evitar o dinamismo da benefícios da técnica estranha, só quando estivermos
vida. de posse do, património cultural angolano. Desen-
volver a cultura não significa submete-la a outras. gação, dinamização e apresentação pública de todas
as formas culturais existentes no País, sem qualquer
Não possuímos ainda a suficiente produção material preconceito de carácter artístico ou linguístico.
para nos ocuparmos intensivamente da produção
espiritual. Precisaremos de mais tempo, mas, Cama- Façamos os artistas populares criar! Seria necessário
radas Escritores, esse tempo não pode ser dispensado longo tempo para dizer aqui que para falar para o
a uma acomodação a temas e formas importadas. povo angolano, é preciso ser um elemento do povo
angolano. Não é questão de língua, mas de qualidade
A cultura angolana é africana, é sobretudo angolana nacional.
e por isso sempre consideramos ultrajante a manei-
ra como o nosso povo foi tratado por intelectuais Caros colegas e camaradas:
portugueses. Se não possuímos ainda a capacidade
de transformar o escritor em profissional da literatu- Se se prolonga a atitude alheia em relação ao nosso
ra ou da pesquisa cultural, nós tenderemos para ai, e povo, não será possível interpretar o espírito popular,
algumas propostas feitas pelo Secretariado poderão saído do estudo, e da vivência.
ser atendidas para períodos excepcionais de férias de
fins-de-semana activos. Narrar a interpretação política do momento é fácil,
mas chegar ao íntimo do pensamento de várias ex-
Eu creio que dentro em breve, o escritor, o artis- nações é-o muito menos fácil.
ta, serão apenas escritor e artistas, para se poder-
em dedicar aos problemas que afloro neste fim Vamos no entanto tentar libertar os artistas das
de Assembleia de posse. Mas é, no meu entender, cargas do passado e torná-los aptos para uma alta
necessário aprofundar as questões que derivam da atitude compreensiva de todo este nosso processo de
cultura das várias nações angolanas, hoje fundidas reconstrução de uma cultura.
numa, dos efeitos da aculturação dado o contacto
com á cultura portuguesa e a necessidade de nos por- Desejo mais uma vez recordar a necessidade de estar
mos de acordo sobre o aproveitamento dos agentes com os artistas populares. Não para depois interpre-
populares da cultura e fazermos em Angola uma só tar folclore mas para compreender e poder interpre-
corrente compreensiva da mesma. tar a cultura, para os produzir.
Como o botânico, ou o zoólogo, o cientista ou o filó- Repetir os aspectos importados de cultura, é um acto
sofo, reunamos os elementos todos, analisemos, e ci- que ninguém certamente aprova. E já que tenho de
entificamente, dentro dos, próximos dois anos apre- exprimir uma opinião gostaria que tudo quanto fosse
sentemos os resultados. E chegaremos à conclusão expresso pelos agentes mais capazes da cultura ango-
que Angola tem uma característica cultural própria, lana, representasse o desejo e as formas de expressão
resultante da sua história ou das suas histórias. Seria do povo.
bom – mas se não for possível, não choremos por
isso – que o próximo Congresso do Partido pudesse Com, o fora a independência, como o é a linha políti-
já contar com as opiniões da União dos Escritores ca do Partido, as formas de actuação do Executivo, e
sobre esta matéria. por outro lado, o será a actividade espiritual do Povo.
Quanto a outros agentes da cultura, como os artistas Sugiro aos Caros Camaradas e Colegas, que sejam
plásticos e mesmo, nas nossas condições actuais, os aproveitadas ao máximo as condições para que os
órgãos de difusão de notícias junto das massas pop- escritores trabalhem e produzam e observem cada
ulares, penso ser normal que a nossa União assuma canto do espaço geográfico nacional, vivendo a vida
a responsabilidade de orientação a dar aos criadores do Povo. As condições materiais serão sempre cria-
e difusores de ideias, função que os organismos do das na medida do possível, até que possamos fazer do
Partido apenas podem definir através de textos, e que escritor, do artista, um profissional puro da cultura
o organismo estatal poderá dinamizar, fazendo de si ligada à realidade sociopolítico.
próprio o veículo dos resultados a obter dos organis-
mos pensantes. Por outro lado, espero que as condições criadas
possam ajudar a formação de uma literatura angola-
É necessário, o mais alargado possível debate de na abraçando as circunstâncias políticas e principal-
Ideias, o mais amplo possível movimento de Investi-
mente a própria vida do Povo. Quem há-de ser o timoneiro?
Ah as tramas que eles teceram!
Desejo ainda endereçar a todos os empossados as Ah as lutas que aí travamos!
minhas sinceras felicitações.
Mantivemo-nos firmes: no povo
A Luta Continua! buscáramos a força
e a razão
A Vitória é Certa!
Inexoravelmente
Do Povo Buscamos a Força como uma onda que ninguém trava
Agostinho Neto vencemos.
HTML: Fernando A. S. Araújo O Povo tomou a direção da barca.
Não basta que seja pura e justa Mas a lição lá está, foi aprendida:
a nossa causa Não basta que seja pura e justa
É necessário que a pureza e a justiça a nossa causa
existam dentro de nós. É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós
Dos que vieram
e conosco se aliaram
muitos traziam sobras no olhar
intenções estranhas.
Outros viemos.
Lutar pra nós é ver aquilo
que o Povo quer
realizado.
É ter a terra onde nascemos.
É sermos livres pra trabalhar.
É ter pra nós o que criamos
Lutar pra nós é um destino -
é uma ponte entre a descrença
e a certeza do mundo novo.
Eu sei, eu sei que sou um pedaço d’África No dia 17 de janeiro de 1961, há 57 anos, era assassi-
nado, sob bárbaras torturas, o líder da independência
pendurado na noite do meu povo. do Congo, Patrice Lumumba. Seu assassinato fora
ordenado – como depois comprovou a Comissão
Do fundo das senzalas de outros tempos Church, do Congresso dos EUA – pelo próprio presi-
dente dos EUA, Dwight Eisenhower.
se levanta o clamor dos meus avós -----------
que tiveram seus sonhos esmagados Poucos homens, na História, tiveram que enfrentar
tantas dificuldades – e, ao final, tanta crueldade – e
sob o peso de cangas e libambos portar-se com tanta dignidade e heroismo, quanto
Patrice Lumumba.
amando, ao longe, o sol das liberdades.
No dia da Independência do Congo, 30 de junho
de 1960, diante do rei da Bélgica (que pronunciou
um dos mais arrogantes discursos já ouvidos em
Eu sei, eu sei que sou um pedaço d’África qualquer lugar do mundo, elogiando seu avô, Leo-
poldo II, um cavalo batizado que tornara o Congo
pendurado na noite do meu povo. uma fazenda pessoal, escravizara toda a população
e instituíra o decepamento de braços como “castigo”,
Eu sinto a mesma angústia, o mesmo banzo inclusive para crianças, desde que fossem negras),
Lumumba fez um dos mais inesquecíveis pronuncia-
que encheram, tristes, os mares de outros séculos, mentos da História da Humanidade.
por isto é que ainda escuto o som do jongo “… esta independência do Congo”, disse ele, “nen-
hum congolês digno deste nome jamais poderá
que fazia dançar os mil mocambos… esquecer, foi conquistada pela luta, uma luta de todos
os dias, uma luta ardente e idealista, uma luta na
e que ainda hoje percutem nestas plagas. qual não poupamos nem nossas forças, nem nossas
privações, nossos sofrimentos, nem nosso sangue.
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura