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Fichamento aula 13 - Voto e os Limites da Representação Política

Júlia Valentin – 31910218


Texto: Luis Felipe Miguem -- Democracia e Represetanção
A accountability eleitoral e seus limites:
 Para os diversos desafios apresentados pela democracia representativa – “a separação entre povo e
governo, a formação de uma elite governante permanente separada da massa dos governados, a
autonomização da vontade dos representantes, a distância entre o momento do voto popular e o exercício
do mandato” – as instituições democráticas costumam responder com um conceito: a accountability, em
outras palavras “significa que devemos responder e ser responsabilizados por nossas ações”.
 “É crucial a distinção entre as ações que só dizem respeito à própria pessoa, pelas quais ela não é
accountable, já que não precisa responder a ninguém, e as ações que afetam interesses alheios ou
coletivos, pelas quais cada um deve ser accountable”.
 “O conceito pode ser estendido de indivíduos a empresas ou associações”.
 “A accountability política indica, então, a obrigação que os poderes públicos têm de se
responsabilizar por seus atos”.
 Accountability horizontal: “controle que os poderes estabelecidos exercem sobre os outros” – “freios e
contrapesos”.
 Accountability vertical: “necessidade que os representantes têm de prestar contas e se submeter ao
veredicto da população” – “interlocução permanente entre representantes e representados (a
answerability), com a realização do veredicto (enforcement) no momento da eleição”.
 Answerability: “obrigação de justificar seus atos, respondendo aos questionamentos sobre eles”;
Enforcement: “submissão ao veredicto daquelas a quem são prestadas contas” – no caso da democracia, o
povo.
 O fator mais importante da accountability vertical é a eleição, que, ocupando posição central na
democracia representativa, efetiva os dois requisitos centrais dessa – a autorização (povo transfere o
poder aos políticos) e a própria accountability. No entanto, o conceito de accountability vertical não se
traduz na prática exatamente como é na teoria, uma vez que a participação dos representados nas decisões
e a supervisão desses sobre seus representantes é reduzida devido à complexidade das questões políticas.
 Accountability e Responsividade: “A accountability diz respeito à capacidade de os constituintes
imporem sanções aos governantes, notadamente reconduzindo ao cargo aqueles que se desincumbem
bem de sua missão e destituindo os que possuem desempenho insatisfatório. Inclui a prestação de
contas dos detentores de mandato e o veredicto popular sobre essa prestação de contas. É algo que
depende de mecanismos institucionais - sobretudo da existência de eleições competitivas periódicas - e é
exercido pelo povo. Já a responsividade se refere à sensibilidade dos representantes à vontade dos
representados; ou, dito de outra forma, à disposição dos governos para adotarem as políticas
preferidas por seus governados”.
 Mandato imperativo: “considerar o representante como delegado de seus constituintes, cabendo-lhe
apenas expressar, nos fóruns decisórios, a vontade majoritária de sua base”; “Quando muito, ele poderia
negociar soluções de compromisso, que, no entanto, precisariam ser referendadas pelos representados” –
nesse modelo o representante é visto apenas como um emissário de seus representados, porém esse
modelo torna o processo decisório muito demorado, necessitando diversas rodadas de negociação e
assembleias, é inviável às sociedades contemporâneas (grandes e complexas).
 Mandato livre: dois argumentos:
1) Os deputados são representantes da nação, não apenas de seus distritos ou eleitores. “O
parlamento, diz ele, não é ‘um congresso de embaixadores que defendem interesses distintos e
hostis’, mas a ‘assembleia deliberante de uma nação, com um interesse: o da totalidade’”.
2) Competência: os deputados, além de serem eleitos por suas qualidades distintivas, estão numa
posição privilegiada que os permite entender melhor, através das informações a que têm acesso, as
questões públicas. “Legislador não age com base na vontade, mas na razão”.
* Esse modelo não permite, no entanto, uma interlocução entre representantes e representados.
 Accountability como um meio termo dos dois modelos. “O representante não está preso às preferências
expressas de seus constituintes, mas idealmente deve decidir da forma que eles decidiriam caso
dispusessem das condições – tempo, informação, preparo – para deliberar”.
 “É necessário abordar com mais cautela os diversos obstáculos à sua efetivação. Entre eles, as lacunas
de informação por parte do eleitorado; ou, então, a intermediação de grupos de interesse poderosos,
capazes de controlar o comportamento dos representantes em troca de financiamento de campanha ou
visibilidade, como grandes empresas, corporações profissionais ou conglomerados de mídia” – a
accountability não acontece na prática, exatamente como sua teoria a define, há diversos fatores que
devemos considerar quando implementado esse sistema, que a sua definição não leva em conta.
 O obstáculo crucial desse sistema está relacionado a multifuncionalidade da representação política
nas democracias contemporâneas. Os mandatários, tanto do legislativo quanto do executivo, possuem
diversas funções, são responsáveis por inúmeras decisões e participam de muitos processos deliberativos
ao longo de seu mandato. Assim, torna-se inviável para os representados – a população – que
acompanhem cada processo e decisão tomados pelos políticos, tornando também muito custoso a
produção e o acesso à essas informações. “A multifuncionalidade da representação implica múltiplas
prestações de conta; o eleitor deve não apenas ser capaz de acompanhá-las, na medida de seu interesse,
como de dar a cada uma seu justo peso no momento de produzir uma avaliação global do desempenho do
governante”.
 Duas estratégias para facilitar o exercício da accountability:

1) “Simplificar o jogo político”: tal modelo propõe que com menos agentes no jogo político torna-se
mais fácil atribuir a responsabilidade das decisões tomadas, facilitando o exercício da
accountability. Para isso exige alguns fatores, como “formação de maiorias governamentais
sólidas e uma alta capacidade de controle do poder executivo na formulação e aplicação de
políticas”. Indica-se um sistema bipartidário e voto distrital – cada eleitor tem de acompanhar
apenas um parlamentar. No entanto o modelo apresenta algumas falhas, “cidadãos que devem
escolher entre poucos candidatos têm mais chance de optar ‘corretamente’ com um mínimo de
informação, mas menos chance de encontrar alguma alternativa que se aproxime daquilo que
corresponde à sua visão de mundo e seus interesses” – ou seja, mais fácil eleger efetivamente com
menos informação, mas diminui a diversidade das opções.
2) Redução do “escopo da accountability, limitando-a, em particular, a formas de controle sobre a
corrupção”: “O papel dos cidadãos deixa de ser o de formulação da vontade coletiva para ser o
de fiscalização do Estado, a partir de um código moral compartilhado”; “São estratégias que
tornam mais fácil a efetivação da accountability, mas ao preço de rebaixar o sentido da
democracia, na medida em que abrem mão da ideia de governo popular”; “O bom funcionamento
da accountability vertical vai depender da existência institucional de sanções efetivas sobre os
representantes, da provisão de informação adequada e plural (não apenas sobre a atuação dos
governantes, mas sobre o mundo social de forma geral) e de interesse pela política disseminado
nos diferentes grupos da população”.
* Atualmente as democracias apresentam as sanções do tipo eleitoral, mas falham nos demais
quesitos. Em relação a provisão de informações “o pluralismo dos meios de informação é
limitado, seja pelos constrangimentos profissionais, seja pela pressão uniformizadora da
concorrência mercantil; ou, ainda mais importante, devido aos interesses comuns dos proprietários
das empresas de comunicação de massa, que, aliás, formam um mercado cada vez mais
concentrado” – ou seja, o a indústria midiática é um mercado demasiadamente fechado, e
monopolizado de certa maneira, somente os mais fortes e mais ricos, as empresas que possuem
mais influência permanecem no mercado, as demais são ou ‘destruídas’ ou são compradas por
essas (a informação está sujeita as impressões ‘pessoais’ de seus meios, que são limitados). Outro
fator muito importante proveniente da destruição informativa é o seu caráter desigual, “via de
regra, pessoas pertencentes aos grupos de menor poder político, como trabalhadores, mulheres ou
minorias étnicas, são também as que revelam menor interesse pela política” – uma vez que ou não
recebem as informações, ou as que recebem apresentam uma escrita muito complexa, de difícil
entendimento, impossibilitando que entendam e por conseguinte se interessem pela política,
processos e decisões a que estão sujeitos.

 “Os problemas da representação política nas democracias eleitorais têm levado ao surgimento de
propostas inovadoras”, as quais buscam atingir um ou mais dos seguintes objetivos:

1) “Ampliação da representatividade mimética do corpo decisório, isto é, tornar os governantes mais


parecidos com os governados”;
2) “Ampliação da pluralidade de vozes e perspectivas presentes nas esferas decisórias”;
3) “Ampliação da força política de grupos tradicionalmente marginalizados”;
4) “Ampliação da rotatividade nos cargos decisórios, impedindo a cristalização de uma elite
política”.

Todos os quatro se apoiam no seguinte fato: “A separação entre uma minoria governante (...) e a
massa governada gera vieses no processo de tomada de decisões que comprometem seu caráter
democrático e que os mecanismos formais de supervisão sobre os representantes não são capazes de
sanar”.

 No entanto, apresentam-se diversas críticas a esses objetivos, destacam-se três:

1) “Cerceamento da liberdade do eleitor-cidadão, já que sua escolha seria limitada por critérios
prévios de representatividade de determinados grupos ou mesmo descartada em favor de uma
seleção aleatória”.
2) “Provável redução da competência dos governantes, que levaria tanto à diminuição da efetividade
da ação governamental quanto à ampliação do poder das burocracias de Estado. (...) contra o
princípio democrático de rotação entre governantes e governados”.
3) Redução da accountability: “Na medida em que o acesso aos postos de decisão depende menos da
vontade dos governados – e mais de regras prévias de distribuição das vagas entre grupos ou
então, no caso de seleção lotérica, da sorte –, a responsividade dos governantes à vontade popular
estaria seriamente comprometida”.

 Seleção aleatória: “Sorteios garantiriam a igualdade absoluta entre os cidadãos”. “Muitas dessas
propostas [sorteio] guardam contato com a ideia de democracia deliberativa (...). Os corpos de cidadãos
selecionados aleatoriamente seriam espaços de trocas argumentativas sobre as questões públicas, que
resolveriam os problemas de escala, próprios da esfera pública ampla, sem cair nos vieses da escolha
eleitoral ou meritocrática. (...) nesses espaços seria possível saber aquilo que o povo pensaria se pudesse
refletir sobre as questões” – tais espaços não têm caráter decisório, não tem poder efetivo de modificar o
status quo, possuem a função de refletir sobre as vontades dos representados e obrigar os representantes a
responderem a essas vontades.

- Essas propostas encontram, no entanto, com quatro objeções:


1) Os sorteios não levam em conta o caráter desigual da população. Existem diferenças de
competência entre os cidadãos, que precisam ser levadas em conta na hora da escolha – caráter
seletivo das eleições. Critica platônica: “existem diferenças significativas de competência entre os
diversos indivíduos e que, portanto, a condução do governo deveria ser destinada aos melhores
dentre eles” – defesa de uma aristocracia.
2) A “eleição como autorização para que o representante aja em nome dos representados, o que a
seleção aleatória não contemplaria”, no entanto “não é uma objeção muito séria, já que hoje se
considera que a autorização é dada mesmo por aqueles que votaram nos candidatos derrotados”.
Participação no processo eleitoral indica concordância com a justeza do processo, o que também
poderia ocorrer no sorteio.
3) Accountability: “os representantes são responsáveis perante seus constituintes. Ela seria eliminada
se os governantes não devessem seus mandatos à vontade expressa da maioria da população, mas
ao simples acaso. Seria grave a ausência da disputa eleitoral quando os candidatos enunciam seus
pontos de vista, e, mais ainda, da sanção facultada aos cidadãos, que é a possibilidade da não
recondução de seus representantes ao cargo”. Essa crítica, no entanto, encontra uma reposta no
fato de que as eleições e reeleições não tornam os políticos sensíveis a opinião do cidadão comum,
mas sim dos grandes eleitores – “controladores de máquinas políticas locais, grupos de mídia e
financiadores de campanha” – os quais influenciam o sistema político e eleitoral de modo a
alinhar-se com suas preferências. Assim, com o sorteio o escolhido deixa de depender dos grupos
poderosos, que perdem sua influência.
“O contra-argumento é que, sem a sanção da não reeleição, o governante estaria muito mais
exposto às tentações da corrupção e do exercício do poder em benefício próprio”. O qual é
rebatido por outro benefício do sorteio: “o rodízio de cidadãos nos cargos de governo”. “Um dos
problemas relacionados à democracia representativa é precisamente o fato de que os
representantes, ao se especializarem nessa função, desenvolvem interesses particulares, diferentes
daqueles de seus constituintes (...). Com a escolha ao azar, deixa de existir o político profissional.
Cada mandato será, provavelmente, o único daquele indivíduo. Ou seja, seu interesse em médio e
longo prazos não é o interesse do governante, mas do governado que em breve voltará a ser”.
4) Falta de estimulo a qualificação política – “Se as eleições parecem ser um meio insuficiente de
estimular a qualificação política, a ausência delas representa um incentivo a menos para o debate
sobre as questões publicas entre os cidadãos comuns. São dois problemas estreitamente
vinculados. Por um lado, o desinteresse pelas formas de ação política que ocorrem fora das
instâncias representativas. Por outro, a premissa implícita de que há uma identificação automática
entre a posição social e os interesses que o indivíduo possui – qualquer representante de
determinada classe (mulheres, homens, negros, brancos, etc) representariam o interesse de todos
os pertencentes a esta.

- “Uma última vantagem da seleção aleatória seria a garantia de representatividade (no sentido mimético)
da população. Com base na lei grandes números, é possível afirmar que haveria uma proporcionalidade
aproximada dos diferentes setores no corpo governante”.

- “De todas as propostas de transformação dos mecanismos de seleção de representantes, o sorteio é a que
avança de forma mais decidida em direção aos quatro objetivos citados acima, embora ao custo de
maiores perdas de autoridade para a população comum”. “No entanto, a ausência de compromisso do
sorteado em relação àqueles que deveria" representar" torna a alternativa pouco atraente”.

 Cotas eleitorais: exigem uma decisão previa sobre quais grupos deverão ser beneficiados, no entanto,
ao determinar, esse mecanismo tende a atenuar as diferenças políticas que desejava extinguir.

- “As cotas eleitorais representam uma abordagem mais moderada, mas mais factível. Elas têm impacto
pequeno, embora não nulo, no quarto objetivo (ampliação da rotatividade entre governantes e
governados), mas prometem avanços significativos no que se refere aos outros três. Ao contrário da
seleção aleatória, que levaria à melhoria da representatividade mimética dos corpos decisórios, mas cujo
procedimento inicial é a atomização dos cidadãos, as cotas estão ligadas à ideia de representação de
grupos” – solucionam, ou pelo menos tentam solucionar um problema expressivo da democracia
representativa, que é a sub-representação de grupos sociais (minorias – mulheres, negros, indígenas, etc).

- “os mecanismos de ação afirmativa são a demonstração de que a mera igualdade formal é insuficiente;
que ela perpetua, recobre e, em última análise, legitima a desigualdade substantiva. Mas a defesa de cotas
eleitorais, em particular, revela também outro fato: a valorização dos mecanismos institucionais de
representação”.

 “A afirmação da relevância política dos grupos sociais leva a uma ruptura com o individualismo
abstrato que marca o pensamento liberal”.

 “O conflito dessa posição [cotas eleitorais] com o liberalismo político reside na defesa do direito das
mulheres ou de outra minoria - isto é, de um grupo - a terem seus interesses representados na arena
política. Embora a filosofia liberal clássica não negue, em abstrato, a possibilidade de um interesse de
grupo (sempre redutível aos interesses de seus integrantes), ela nega que os grupos possam ter direitos. O
único sujeito de direito é o indivíduo”.

 “qualquer justificativa para uma política de cotas implica o rompimento com a visão liberal-utilitarista
de formação dos interesses .Isso não significa que seja possível justificar políticas de cotas a partir de uma
compreensão simplista dos interesses compartilhados das integrantes de grupos minoritários”.

 “Contra a visão ingênua de coincidência imediata de preferências, há o fato de que os indivíduos


ocupam, ao mesmo tempo, diferentes "posições de sujeito" (...). As situações de representante e de
representado são, elas próprias, posições divergentes que podem impactar nos interesses dos agentes”.

 “Neste sentido, é útil o deslocamento proposto por Iris Marion Young (2000), que fala em "perspectiva
social" em vez de "interesse". O acesso das mulheres às deliberações públicas seria necessário não porque
elas compartilham das mesmas opiniões ou interesses, mas porque elas partem de uma mesma perspectiva
social, vinculada a certos padrões de experiências de vida” – ou seja, é importante que as mulheres, assim
como as demais minorias, exerçam seu direito ao exercício da deliberação pública, não porque partilham
de um interesse único e comum, mas porque advêm das mesmas dificuldades de serem ouvidos e levados
em conta. “sua abordagem é importante, pois mostra que a necessidade da presença das mulheres (como
de outras minorias) na arena política não é suprimida caso se encontrem outras formas de proteger seus
"interesses", qualquer que seja a forma pela qual eles sejam concebidos”.

 “Em vez de ser uma relação entre dois interlocutores, é uma relação entre múltiplos agentes, relativa à
produção dos interesses coletivos, na qual um deles ocupa a posição especial de ‘representante’” – a
dinâmica vertical da accountability não é um diálogo entre representante e representado, mas sim uma
conversa entre diversos agentes que influenciam os interesses singulares e coletivos dos indivíduos.
“Desta forma, a reserva de vagas para minorias políticas pode ser compreendida também como uma
maneira (mas não a única) de reconstruir os mecanismos de accountability vertical e dotá-los de
efetividade, garantindo que grupos socialmente significativos estejam presentes no processo. Mas, para
isso, é preciso avançar para além da primeira dimensão da representação política (a transferência formal
de poder decisório).

 “Em vez de pensar num critério com ambição universalizante, é mais interessante entender as políticas
afirmativas como reparadoras de padrões de injustiça concretos a serem identificados em cada formação
social”.
 Similitude: “as decisões políticas poderiam corresponder à vontade dos cidadãos comuns porque
seriam tomadas por pessoas similares a eles”.

- “No caso das cotas, a similitude é um complemento à accountability – os representantes continuam


dependentes do voto popular, mas as perspectivas de determinados grupos serão levadas em conta graças
à presença de um contingente de seus integrantes nos espaços decisórios”.

- “Já o sorteio, por sua lógica intrínseca, leva ao abandono completo da accountability vertical, então
substituída (e não apenas complementada) pela similitude. O sorteio reforça a similitude também na
medida em que promove a rotação nos cargos públicos. Isto é, quem exerce o poder decisório sabe que
em breve voltará à condição de cidadão comum; a posição de governante, sendo transitória, não criaria
interesses duradouros, diferenciados de sua posição enquanto integrante do povo”.

 “Quando a vida política é pensada apenas em termos da promoção de interesses, como em geral se faz,
fórmulas que visam garantir a presença de determinados grupos nas esferas de poder perdem força.
Afinal, os eleitores manifestam seu interesse através do voto. Aceita a premissa do interesse individual
esclarecido, os grupos hoje marginalizados elegeriam representantes para os cargos decisórios sem
necessidade de nenhuma medida além da mera igualdade política formal, caso isso fosse realmente a
vontade de seus integrantes” – ou seja, seria levado em conta pelos eleitores somente a igualdade formal,
e não a qualificação do candidato.

 “Mecanismos representativos adequados devem envolver essas três facetas” – “interesses (aquilo que
se considera necessário para agentes individuais ou coletivos alcançarem seus fins) e opiniões (valores e
princípios que fundam os julgamentos) quanto perspectivas”.

 “O bom funcionamento da accountability vertical, que exige formas de empoderamento dos cidadãos
comuns, é imprescindível para que interesses e opiniões dos diferentes grupos sociais estejam presentes
nas esferas decisórias; mas as perspectivas não são contempladas desta maneira. Elas demandam presença
política; se integrantes dos diversos grupos não participam do debate, os aspectos da realidade aos quais
eles se tornaram sensíveis, por conta de suas experiências de vida, não serão levados em consideração”.

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