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FORMAÇÃO EM GESTÃO

III CURSO DE FORMAÇÃO EM


GESTÃO DE UNIDADES DE SAÚDE
FOGUS III
2020/2022

MÉTODOS E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE


Temas:
Etapa 3 da inves0gação cien6fica: A problemá0ca
Etapa 4 da inves0gação cien6fica: A construção do modelo de análise
Etapa 5 da inves0gação cien6fica: A observação
A TÉCNICA DO INQUÉRITO
Docentes e Assistentes:
Rute Simões Ribeiro / Maria Helena Vitória Pereira
Tutores Locais:
Belchior Nogueira / Ermelindo Filipe / N ́Denga Tomás

Lisboa e Luanda, 5 a 9 de Abril de 2022


Rute Simões Ribeiro 2

1. Pergunta
de partida

RUPTURA
2.

Etapas do
Exploração

Procedimento 3.
Problemática

CONSTRUÇÃO
Científico
4. Modelo de
análise

5.
Observação

VERIFICAÇÃO
6. Análise

7.
Conclusões
Adaptado de Quivy e
Campenhoudt, 2008
Rute Simões Ribeiro 3

Autenticidade, Ruptura, Construção e


Curiosidade e Rigor Verificação
princípios do procedimento
na condução da investigação científico

MÉTODOS E Quantitativa, Qualitativa e Clareza, Exequibilidade e


TÉCNICAS DE Integrativa Pertinência
perspetivas metodológicas da pergunta de partida
INVESTIGAÇÃO
EM SAÚDE
Diversidade, Saturação e Tópico, Aplicabilidade e
Key Notes Directividade Perspetiva
(Notas Chave) princípios da construção de
na construção de perguntas
um inquérito

Leituras e Entrevistas Entrevista e Questionário


Exploratórias
duas formas de Inquérito
duas técnicas de exploração

Técnica de Grupo
Nominal e Painel Delphi
duas técnicas de consenso
Rute Simões Ribeiro 4

ETAPA 3 DA INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA: A
PROBLEMÁTICA
Rute Simões Ribeiro 5

1. Pergunta
de partida

RUPTURA
2.

Etapas do
Exploração

Procedimento 3.
Problemática

CONSTRUÇÃO
Científico
4. Modelo de
análise

5.
Observação

VERIFICAÇÃO
6. Análise

7.
Conclusões
Adaptado de Quivy e
Campenhoudt, 2008
Rute Simões Ribeiro 6

A problemática

• A problemática é a abordagem ou a perspectiva teórica


que decidimos adoptar para tratarmos o problema
formulado pela pergunta de partida.

Constitui uma etapa-charneira da investigação, entre a ruptura e a


construção (de transição)

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 7

A problemática
• Dois momentos:

1) Primeiro momento: Fazer o balanço e elucidar as


problemáticas possíveis

2) Segundo momento: Atribuir-se uma problemática

É uma forma de interrogar os fenómenos estudados.


Construir uma problemática (do nosso projecto) é responder à pergunta:

“Como vou abordar este fenómeno?”

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 8

A problemática
Como construir uma problemática?

• Por via das respostas às seguintes questões:

a) Quais são as diferentes abordagens do problema reveladas pelas minhas


leituras e pelas entrevistas exploratórias?
b) De que modos de explicação decorrem estas diferentes abordagens?
c) Quais são as diferentes perspectivas possíveis para o meu trabalho?
d) Que problemática considero mais adequada ao meu projecto e por que razão?
e) Em que contexto de investigação já foi explorada essa problemática? Quais
são os problemas conceptuais e metodológicos eventualmente encontrados
em investigações anteriores que se inspiraram nele?
f) Como explicitar a minha problemática? Quais são os meus conceitos e ideias-
chave? Como reformular a minha pergunta de investigação?
g) São necessárias leituras complementares? Se sim, deverei rever,
posteriormente, a problemática.

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 9

ETAPA 4 DA INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA: A CONSTRUÇÃO
DO MODELO DE ANÁLISE
Rute Simões Ribeiro 10

1. Pergunta
de partida

RUPTURA
2.

Etapas do
Exploração

Procedimento 3.
Problemática

CONSTRUÇÃO
Científico
4. Modelo de
análise

5.
Observação

VERIFICAÇÃO
6. Análise

7.
Conclusões
Adaptado de Quivy e
Campenhoudt, 2008
Rute Simões Ribeiro 11

A construção do modelo de análise


• Consiste em traduzir as perspectivas e ideias
novas obtidas na fase exploratória numa
linguagem e em formas que permitam conduzir o
trabalho sistemático de recolha e análise de
dados que se seguirá.

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 12

A construção do modelo de análise


1. Conceptualização
2. Operacionalização
Definição de variáveis
Rute Simões Ribeiro 16

ETAPA 5 DA INVESTIGAÇÃO
CIENTÍFICA: A OBSERVAÇÃO
Rute Simões Ribeiro 17

1. Pergunta
de partida

RUPTURA
2.

Etapas do
Exploração

Procedimento 3.
Problemática

CONSTRUÇÃO
Científico
4. Modelo de
análise

5.
Observação

VERIFICAÇÃO
6. Análise

7.
Conclusões
Adaptado de Quivy e
Campenhoudt, 2008
Rute Simões Ribeiro 18

A observação

• A observação compreende o conjunto das operações


através das quais o modelo de análise é confrontado com
dados observáveis. Nesta etapa são reunidas numerosas
informações, que serão sistematicamente analisadas na
etapa seguinte.

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 19

Observação
• Esta etapa concebe-se por via da resposta a 3 questões:
• OBSERVAR:

O quê?

Quem?

Como?

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 20

Observar
O quê? Quem? Como?
• Dados pertinentes (que • 1) Selecção das • Os instrumentos da
são úteis à unidades de observação e a recolha
investigação) observação (indivíduo, dos dados
empresa, associação, propriamente dita
• São determinados país, etc.)
pelos indicadores das • 2) Delimitação do • Compõe-se de 3
variáveis campo de análise (qual operações:
a zona geográfica;
quantos; o conjunto da • 1) Conceber o
população considerada
instrumento
ou, dependendo do
caso, apenas uma • 2) Testar o instrumento
amostra representativa • 3) Aplicar o instrumento
ou significativa dessa
população; qual o
período de tempo)
Resposta que tem também
em conta o prazo, os
recursos disponíveis e o
método de recolha de dados

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 21

Observar como?
• 3 operações:

1º Conceber o 2º Testar o 3º Aplicar o


instrumento instrumento instrumento

Conceber o instrumento Testar o instrumento Aplicar o instrumento


capaz de fornecer as antes de o utilizar sistematicamente e
informações adequadas e
sistematicamente, de proceder, assim, à
necessárias para testar as
hipóteses (ex. guião de
modo a assegurar-se de recolha dos dados
entrevista, questionário, que o seu grau de pertinentes
grelha de observação adequação e precisão é
directa) – é preciso ter em suficiente
conta as hipóteses de
trabalho, os dados
pertinentes, o tipo de
análise que daí decorrerá e
a sua própria formação
metodológica

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 22

PRINCIPAIS MÉTODOS E TÉCNICAS DE


RECOLHA DE DADOS
Rute Simões Ribeiro 23

A escolha do método de recolha de dados

• Apenas conhecemos correctamente um método de


investigação depois de o termos experimentado por nós
próprios.

• Antes de escolhermos um é, portanto, indispensável


assegurarmo-nos, junto de investigadores que o
dominem bem, da sua pertinência em relação aos
objectivos específicos de cada trabalho, às suas
hipóteses e aos recursos de que dispomos.

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2008


Rute Simões Ribeiro 24

O INQUÉRITO
Rute Simões Ribeiro 25

O inquérito
• O inquérito é uma das metodologias mais usadas e abrange
duas técnicas muito conhecidas:
• I) a entrevista e
• II) o questionário
• duas formas de inquérito, de “inquirir” as pessoas

• Realizar um inquérito é, pois, interrogar um determinado


número de indivíduos, tendo em vista uma generalização.

• Um inquérito consiste, portanto, em suscitar um conjunto de


discursos individuais, em interpretá-los e generalizá-los.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 26

O inquérito
ALGUNS “PROBLEMAS”:

• A "verdade" (ou representação)


• O inquirido diz-nos apenas o que pode e quer dizer-nos

• O sentido
• As palavras expressas pelo inquirido têm o mesmo sentido que lhe
damos?
• A agregação e a generalização
• Podemos juntar as diferentes respostas? E como podemos dizer que
são representativas?
• A causalidade
• As respostas estão relacionadas com o problema em estudo?

• A "psicologização" dos problemas


• Os inquiridos apresentam a sua perspectiva individual.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 27

O inquérito
• Por este motivo, Ghiglione e Matalon (1993) retêm duas ideias
principais:

1. Os fenómenos sociais não podem ser reduzidos ao que se


retira do que deles dizem os indivíduos:
• São necessárias outras informações que podem ser recolhidas por
diferentes métodos (como observação, experimentação, análise de
vestígios ou de documentos)

2. É preciso não confundir o inquérito, enquanto método muito


geral, com a sondagem com base numa amostra
representativa (uma das suas modalidades / técnicas) – os
inquiridos não representam a sociedade em que se inserem.
• Porém, utilizar pessoas bem colocadas como informantes (informadores-
chave), inquirir informadores privilegiados de qualidade, ainda que remeta
para outras abordagens, é muitas vezes indispensável para reconstituir e
analisar um processo social.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 28

O inquérito

Quem Quantos Como

Princípio da Princípio da Princípio da


diversidade saturação directividade
Rute Simões Ribeiro 29

Quem inquirir?
Quem inquirir?

Questão que se desdobra em duas:

a) Qual é a população (ou populações) que é necessário conhecer?


b) Como escolher, nessa população, as pessoas a inquirir
efectivamente, dado que, na maior parte dos casos, se exclui a hipótese
(inútil) de as interrogar a todas?

A questão b) cobre os problemas dos


métodos de amostragem e da dimensão da Remete-se para o Módulo
amostra, problemas para os quais os
Epidemiologia e Estatística
matemáticos e estatistas propõem soluções
concretas

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 30

Quem inquirir?
Princípio da diversidade

• Para assegurar a observação do princípio da diversidade,


deve garantir-se que os inquéritos se fazem considerando
a heterogeneidade dos sujeitos e dos fenómenos em
estudo, de forma a salvaguardar que a investigação
abordou a realidade tendo em conta todas as suas
múltiplas variações e especificidades (Guerra, 2008).
Rute Simões Ribeiro 31

Quem inquirir?
Princípio da saturação

• O número de inquéritos deve ser suficiente


mas não excessivo para que não se chegue a
um ponto em que já nada se recolhe de novo ou
diferente quanto ao objecto de pesquisa
(Guerra, 2008) – princípio igualmente associado
às entrevistas, entendidas como uma variante
do inquérito.
Rute Simões Ribeiro 32

Como inquirir?
Princípio da directividade
• A esta questão pode responder-se de forma diferente,
consoante as técnicas utilizadas, as quais podem ser
classificadas em função da maior ou menor liberdade
deixada à pessoa inquirida para escolher:
• o ponto de vista segundo o qual responderá;
• os temas que abordará;
• os termos que utilizará.

Isto é, as técnicas do inquérito serão


diferentes segundo a sua maior ou menor
directividade.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 33

Classificação das técnicas de inquérito


A directividade

É habitual reservar o termo entrevista para


as técnicas menos directivas e designar
por questionário as formas de inquirir em
que as questões são formuladas
antecipadamente. Mas, na prática, não há
consenso sobre os limites de cada um
destes termos (Ghiglione e Matalon, 1993).

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 34

Classificação das técnicas de inquérito


A directividade
A entrevista A entrevista O O
não semi- questionário questionário
directiva, directiva ou aberto fechado
livre ou em estruturada
profundidade
É proposto um tema O entrevistador A formulação e a Constituído por
que a pessoa conhece todos os ordem das questões questões sucessivas,
desenvolve à sua temas sobre os quais são fixas, mas a cuja ordem e
vontade, limitando-se tem de obter reacções pessoa pode dar uma formulação foram
as intervenções do por parte do inquirido, resposta tão longa fixadas
entrevistador a mas a ordem e a quanto desejar e pode antecipadamente e às
insistências ou forma como os ser incitada por quais a pessoa
encorajamentos, sem introduzirá são insistência do inquirida deve
acrescentar qualquer deixadas ao seu entrevistador. responder, escolhendo
informação ou nova critério, existindo numa lista também
orientação. apenas uma construída
orientação para o previamente, a
início da entrevista. resposta que melhor
lhe convém.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 35

Classificação das técnicas de inquérito


A directividade
• Na prática, é frequente recorrer a métodos
mistos, como, por exemplo, uma entrevista não
directiva imediatamente seguida de uma fase semi-
directiva, ou um questionário alternando questões abertas
e questões fechadas.

• Pode também recorrer-se a um questionário


“em árvore”, que se adapta às particularidades do
inquirido (é uma vantagem das técnicas pouco directivas). A
escolha de certas questões é, neste tipo de questionário,
determinada pelas respostas da pessoa às questões
precedentes, o que permite colocar a cada uma apenas as
questões pertinentes.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 36

O Paradigma TAP
• TAP é útil para lembrar as 3 principais preocupações que os
investigadores devem ter presentes ao construir perguntas
para entrevistas e questionários:
Tópico
• O tópico deve ser adequadamente definido de modo a que todos os
inquiridos entendam claramente de que se trata

Aplicabilidade
• A aplicabilidade de uma pergunta a cada um dos inquiridos deve ser
estabelecida: estes não devem ser solicitados a fornecer informação de
que não dispõem.

Perspectiva
• A perspectiva que os inquiridos devem adoptar ao responder às
perguntas deve ser especificada de modo a que todos forneçam o
mesmo tipo de resposta

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 37

A questão-chave:
A comparabilidade das respostas
• Para que uma sequência pergunta-resposta funcione:

A) a pergunta deve ser percebida pelo inquirido nos termos


pretendidos pelo investigador

B) e a resposta fornecida pelo inquirido deve ser entendida


pelo inquiridor nos termos em que o inquirido desejaria

Apesar de parecer uma questão óbvia, assenta numa grande


complexidade

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 38

A questão-chave:
A comparabilidade das respostas
• Foddy (2002) recomenda o seguimento de 4 etapas para que um processo de
pergunta-resposta seja eficaz:

1. O investigador deve ser claro relativamente à natureza da


informação pretendida e codificar o pedido dessa informação;
2. O inquirido deve descodificar o pedido nos termos em que o
investigador pretende que ele seja descodificado;
3. O inquirido deve codificar uma resposta que contenha a
informação solicitada pelo investigador;
4. O investigador deve descodificar a resposta nos termos que o
inquirido pretende que ela seja descodificada.

Os investigadores que utilizam o inquérito por questionário procuram assegurar esta


sequência, definindo os termos-chave e fornecendo conjuntos prévios de opções de
resposta. Noutras técnicas, menos directivas, espera-se que os termos-chave sejam
fornecidos e definidos pelos próprios inquiridos.

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 39

O INQUÉRITO POR
ENTREVISTA
Abordagem qualitativa do inquérito
Rute Simões Ribeiro 40

Objectivos das entrevistas

Obter informações de ordem cognitiva


• Como é que o indivíduo organiza o campo que lhe é proposto?
• Quais os limites que atribui a esse campo?
• Quais as relações que ele aí encontra?
• Que conceitos e que linguagem utiliza?
• De uma forma mais geral, quais são as suas representações da situação e as
normas em função das quais actua?

Obter informações de ordem afectiva


• Como é que o indivíduo sente o domínio em causa?
• Quais são as suas atitudes?
• Qual é a sua “vivência” a esse respeito?

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 41

Tipos de entrevistas
Classicamente, distinguem-se três tipos de entrevistas, em função do carácter de ambiguidade
(definida como ausência de um quadro de referência imposto):

Não-directivas (ou livres)


• O entrevistador coloca o tema da entrevista, de carácter alargado e ambíguo, que introduz a
conversa, mas que permite ao indivíduo interpretá-lo a partir do seu próprio quadro de
referência.

Semi-directivas
• Existe um esquema de entrevista, uma grelha de temas. A ordem é livre e se o entrevistado
não abordar espontaneamente um ou vários temas do esquema, o entrevistador pode
propor-lhe o tema. A ambiguidade é menor, na medida em que o esquema da entrevista
estrutura o indivíduo e, consequentemente, impõe-lhe um quadro de referência. No âmbito
de cada tema, os métodos aproximam-se dos da entrevista livre.

Directivas ou estandartizadas
• Muito próxima do questionário com questões abertas, não existe praticamente qualquer
ambiguidade. O conjunto do quadro de referência é definido e o entrevistado deve situar-se
relativamente a este quadro e entrar nele, a fim de responder correctamente. Os métodos
utilizados são comparáveis aos de um entrevistador clássico que coloca questões
delimitadas por um questionário.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 42

Características comuns às entrevistas


1) “A entrevista é uma conversa com um objectivo”
(Bingham e Moore, 1924, cit. por Ghiglione e Matalon,
1993)

2) Uma entrevista, ou a aplicação de um questionário, é


um encontro interpessoal que se desenrola num
contexto e numa situação social determinados,
implicando a presença de um profissional e de um
leigo (Ghiglione e Matalon, 1993)
Rute Simões Ribeiro 43

Técnicas utilizadas nas entrevistas


• As técnicas de entrevista devem ser compreendidas como o conjunto
dos meios necessários e empregues de forma sistemática pelo
entrevistador para levar a bom termo uma entrevista*, isto é, para
assegurar que o inquirido se exprime o mais completamente possível
sobre o tema que lhe tenha sido proposto.

• Pontos fundamentais (exigências):


• A linguagem utilizada deve ser acessível ao entrevistado, constituir um suporte com
um sentido para ele.
• O tema deve constituir um estímulo para o entrevistado, ser evocador de alguma
coisa, apelar a uma resposta.
• Os papéis do entrevistador e entrevistado devem ser claramente definidos pelo
entrevistador.
• O entrevistado deve ser motivado a responder.
• A informação recolhida deve ser o mais alargada possível.

*os autores referem-se, essencialmente, às entrevistas não-directiva e semi-


directiva

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 44

Guião de entrevista
• Os entrevistados poderão defender diferentes posições ou ter opiniões
heterogéneas relativamente a diferentes situações, mas a equipa de
investigação deve garantir que todos se focalizem nas mesmas situações,
aspectos e questões, utilizando, para este efeito um guião de entrevista.

• O guião de entrevista deve ser estruturado em grandes capítulos, com


introdução, caso necessário, de perguntas de lembrança e cruzamento.

• Poderá considerar-se, ainda, uma parte com questões fechadas e objectivas


para a caracterização de elementos fundamentais da pesquisa.

• A ordem das questões não é verdadeiramente importante, competindo ao


entrevistador, bom conhecedor do guião de entrevista, conduzir o entrevistado
pelos diferentes assuntos a abordar, tendo em conta a própria narrativa e o
discurso do inquirido, numa conversa informal e fluida.

• Na construção do guião de entrevista, importa, em primeiro lugar, clarificar os


objectivos, que decorrem da problemática em estudo, e as dimensões de análise
abrangidas pela entrevista.

Fonte: Guerra, 2008


Rute Simões Ribeiro 45

O INQUÉRITO POR
QUESTIONÁRIO
Abordagem quantitativa do inquérito
Rute Simões Ribeiro 46

Principais pressupostos
Principais pressupostos que têm orientado a inquirição por questionário:

1. O investigador pode definir com precisão o tópico relativamente ao qual


pretende informação;
2. Os inquiridos detêm a informação que o investigador pretende obter;
3. Os inquiridos podem disponibilizar a informação que é solicitada no quadro
das condições particulares impostas pelo processo de pesquisa;
4. Os inquiridos podem compreender todas e cada uma das perguntas
exactamente como o investigador pretende que elas sejam entendidas;
5. Os inquiridos querem (ou são susceptíveis de ser motivados para) fornecer a
informação solicitada pela investigação;
6. As respostas têm maior validade se os inquiridos não conhecerem as razões
pelas quais a pergunta é feita;
7. As respostas dos inquiridos a determinada pergunta têm maior validade se
não forem sugeridas pelo investigador;
8. A situação de pesquisa, por si só, não influencia as respostas fornecidas pelos
inquiridos;
9. Em si mesmo, o processo de responder às perguntas não interfere com as
opiniões, crenças e atitudes dos inquiridos;
10. As respostas de diferentes inquiridos a determinada pergunta podem ser
validamente comparadas entre si.

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 47

Objectivos do questionário

• Estimar certas grandezas “absolutas”


• Estimar grandezas “relativas”
• Descrever uma população ou sub-população
• Verificar hipóteses

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 48

Redigir bem perguntas


• Leia o texto distribuído “Redigir bem perguntas” (págs.
50-62 de Lockerbie e Lutz, 1986)
Rute Simões Ribeiro 49

Escalas de atitudes
• Por vezes, as questões podem ser colocadas sob a forma de uma
escala de atitudes, permitindo ao investigador medir atitudes e
opiniões do inquirido.
• Pede-se a um indivíduo para reagir positiva ou negativamente em
relação a uma série de proposições que dizem respeito a ele próprio,
a outros indivíduos, a actividades diversas, a instituições ou a
situações.
• Deste modo, características qualitativas podem posteriormente ser
trabalhadas de forma quantitativa.
• Existe uma grande variedade de escalas. Apresentamos duas mais
frequentemente usadas:

• Escalas de Likert
• Diferenciais semânticos

Fonte: Carmo e Ferreira, 1998


Rute Simões Ribeiro 50

Escalas de Likert
• Consiste na apresentação de uma série de proposições, devendo o inquirido, em relação a
cada uma delas, indicar uma de cinco posições:

q Concorda totalmente
q Concorda
q Sem opinião
q Discorda
q Discorda totalmente

• As respostas são seguidamente cotadas, respectivamente, com as cotações:

v +2
v +1
v0
v -1
v -2

• Ou com pontuações de 1 a 5

• Mas se a proposição é negativa, a cotação tem de ser invertida.


• Exemplo: concordar com a afirmação “não gosto de matemática” significa uma atitude negativa
relativamente à Matemática. Nesse caso, a resposta concorda totalmente recebe uma cotação de -2,
concorda será -1 e assim sucessivamente

Fonte: Carmo e Ferreira, 1998


Rute Simões Ribeiro 51

Diferenciais semânticos
• Consiste na apresentação de diversos pares de adjectivos
bipolares (antónimos) separados por uma linha geralmente
dividida em 7 ou 5 partes.
• O inquirido deverá colocar uma cruz no intervalo
correspondente à sua atitude relativamente a um determinado
tópico.
• Exemplo, e ainda relativamente à disciplina de Matemática:
• Interessante _ _ _ _ _ _ _ Aborrecida
• Útil _ _ _ _ _ _ _ Inútil
• É dada uma cotação a cada par de adjectivos (ex.: de 6 no
caso de assinalar o intervalo mais próximo do adjectivo
positivo, a 0, no caso oposto).
• Faz-se o somatório das cotações para ter uma apreciação
quantitativa relativa à atitude do inquirido face ao tópico
considerado.

Fonte: Carmo e Ferreira, 1998


Rute Simões Ribeiro 52

Verificar se as perguntas funcionam como


se pretende
A. NORMAS para uma boa formulação de perguntas

q Assegurar que o tópico foi claramente definido;


q Ser claro quanto ao tipo de informação que pretende obter e sobre
a razão pela qual a pretende;
q Assegurar que o tópico foi adequadamente definido aos inquiridos;
q Assegurar que a pergunta é relevante para os inquiridos;
q Assegurar que a pergunta não sofre enviesamento;
q Eliminar complexidades que diminuem a fácil apreensão do
significado da pergunta;
q Assegurar que os inquiridos percebem o tipo de resposta que é
solicitado.

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 53

Verificar se as perguntas funcionam como


se pretende

B. Procedimentos de TESTE de perguntas (não


confundidos com o pré-teste)

q Pedir aos inquiridos que reescrevam as perguntas por palavras


suas
q Depois da entrevista feita, colocar questões para detectam as
interpretações que os inquiridos deram aos conceitos-chave. Ex.:
“Como chegou a esta resposta?”, “O que o levou a responder
nestes termos?” (chamada dupla entrevista)
q Solicitar aos inquiridos que “pensem alto” enquanto respondem às
perguntas

Leia os textos distribuídos (6) (págs. 1 a 12 de Foddy, 2002) (7) (págs. 200 a 208 de Foddy, 2002).

Fonte: Foddy, 2002


Rute Simões Ribeiro 54

O pré-teste
• Quando uma primeira versão do questionário fica redigida (versão
provisória), é necessário garantir que é aplicável e que responde aos
problemas colocados pelo investigador. São os pré-testes.

• Todas as questões são compreendidas, e serão compreendidas da mesma forma por todos e da
forma prevista pelo investigador?
• Algumas questões não serão muito difíceis?
• As listas de respostas propostas às questões fechadas cobrem todas as respostas possíveis?
• Todas as respostas serão aceites pelas pessoas? Não haverá alguma que provoque muitas
recusas inutilizáveis?
• A ordem das questões é aceitável? Não haverá demasiadas rupturas, isto é, passagens
inesperadas e sem motivo de um assunto para outro? Algumas questões não poderão
influenciar as respostas às questões seguintes?
• Não haverá questões inúteis, seja porque faltarão informações complementares para a
interpretação das suas respostas, seja porque a quase totalidade das pessoas dará a mesma
resposta?
• Como é que as pessoas reagirão ao conjunto do questionário? Não o considerarão muito longo,
aborrecido, difícil, indirecto, parcial?

• Para além do questionário, podemo-nos interrogar sobre a forma de escolher a


amostra, de contacto com os futuros inquiridos, sobre as condiçoes da sua
aplicação, etc.

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 55

O pré-teste
• Duas fases:

1. Refere-se a cada questão considerada por si só


§ Aplicado a dez pessoas é suficiente, de meios diferentes dos autores
§ Colocam-se questões tal como estão formuladas, mas pedindo-lhes respostas
desenvolvidas ou comentadas e observações sobre o significado que atribuem à
questão
2. Refere-se ao questionário na sua totalidade e às condições da sua
aplicação
§ Fazer o plano de apuramento completo, isto é, prever até ao pormenor todas as
operações a efectuar com as respostas, depois de estas terem sido recolhidas
§ Experiência em pequena escala (ex. 50 pessoas). Uma primeira análise dos
resultados obtidos dará a possibilidade de avaliar, mesmo grosseiramente, o
valor de certas hipóteses ou de esboçar algumas interpretações
§ Podem preparar-se os entrevistadores com as dificuldades encontradas

Constrangimento: os orçamentos reduzidos para um


pré-teste de grande robustez

Fonte: Ghiglione e Matalon, 1993


Rute Simões Ribeiro 56

Recurso a questionários já construídos


• Utilizar somente questionários já validados
cientificamente, normalmente acessíveis em sítios da
internet (ex. RIMAS)
• Solicitar autorização ao autor do questionário (não aos
autores de trabalhos que utilizaram o questionário)
• Adaptar o questionário ao contexto cultural, idealmente
com o apoio do autor do questionário
• Saber que não devem ser feitas alterações aleatórias
Rute Simões Ribeiro 57

OUTROS MÉTODOS
Rute Simões Ribeiro 58

GROUNDED THEORY
Rute Simões Ribeiro 59

Grounded Theory
• A Grounded Theory, na tradução corrente Teoria Fundamentada ou Teoria Fundamentada
nos Dados, consiste num método sistemático indutivo, apresentado em 1967 pelos
sociólogos Glaser e Strauss.

• É também definida como uma metodologia geral para o desenvolvimento de teoria que é
fundamentada em dados sistematicamente coligidos e analisados.

• Apresenta-se como uma forma de pensar e concetualizar dados, ou como um ato de


abstração concetual, que, não tendo como objetivo a verificação de teorias ou de hipóteses,
procura que a teoria seja gerada a partir dos dados. Pretende oferecer, deste modo, uma
explicação concetualmente abstrata para um padrão de comportamento latente (um assunto
ou preocupação) no contexto social em estudo, uma explicação – e não somente uma
descrição – sobre o que está a acontecer. Hood alerta para que não se confunda uma
grounded theory com simplesmente agregar códigos a dados, sob pena de se desenvolver
antes um modelo qualitativo indutivo genérico.

• Uma grounded theory deve apresentar quatro características ou qualidades, segundo Glaser
e Strauss, nomeadamente, adequabilidade (fitness) à área substantiva a que será aplicável,
inteligibilidade pelas pessoas que trabalham na área substantiva, generalidade para que
possa ser aplicável e ajustável e controlabilidade pela pessoa que venha a aplicá-la.
Rute Simões Ribeiro 60

REVISÃO SISTEMÁTICA
Rute Simões Ribeiro 61

Revisão Sistemática
• É uma investigação científica que, com recurso a
métodos sistemáticos pré́ -definidos, identifica
sistematicamente todos os documentos relevantes
publicados e não publicados para uma questão de
investigação, avalia a qualidade desses artigos, extrai os
dados e sintetiza os resultados. (Siddaway, Wood e
Hedges, citados por Donato, 2019)

• Consultar documento distribuído: “Etapas na Condução de uma


Revisão Sistemática”
Rute Simões Ribeiro 62

Revisão Sistemática

Fluxo da informação nas diferentes


fases da Revisão Sistemática –
Prisma

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