Etec Cel.

Fernando
Febeliano da Costa

Além das ruas

Foto: http://twixar.me/5FXn

TRANSGÊNEROS NO
MERCADO DE TRABALHO

PIRACICABA - SP
JUNHO | 2019
 ETEC CEL. FERNAND0
FEBELIANO DA COSTA

Autores

Gabriela Gazana Caparós Rossi

GAZANAG@GMAIL.COM

Isabelly da Costa Gastaldello

ISABELLY.GASTALDELLO@ETEC.SP.GOV.BR

Matheus Santiago Pequeno

MATHEUS.PEQUENO@ETEC.SP.GOV.BR

Sérgio Henrique Santos da Cruz

SERGIO.CRUZ11@ETEC.SP.GOV.BR

Orientadoras

Rosângela do Carmo L. S.
Pereira
ROSANGELA.PEREIRA7@ETEC.SP.GOV.BR

Diana Leite Kochmanski Fuzetti

DIANA.FUZETTI@ETEC.SP.GOV.BR

IMAGEM: HTTP://TWIXAR.ME/KFGN
 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS NO
PÁGINA 1
MERCADO DE TRABALHO

RESUMO
O presente artigo trata de um breve estudo sobre as dificuldades enfrentadas por transgêneros dentro e fora do
mercado de trabalho. Foram realizadas entrevistas e pesquisas de campo para fundamentar a importância de
ações que promovam a diversidade de gênero dentro das empresas, pelas quais foi constatada a falta de
representatividade e as situações de constrangimento que um transgênero sofre para entrar e permanecer no
mercado de trabalho. Devido à inexistência de leis, a criação de políticas internas é essencial para que haja
compreensão e maior integração entre a equipe. O gestor é uma peça primordial neste processo de inclusão, pois
ele tem a responsabilidade de manter um ambiente harmônico, promovendo o pleno desenvolvimento dos seus
colaboradores. Este projeto tem como finalidade promover o diálogo sobre este tema pouco abordado que
marginaliza e estigmatiza a população transgênero, e mostrar que a inclusão é o único caminho para
proporcionar uma sociedade mais justa.
 

Palavras-chave: Transgênero, inclusão, mercado de trabalho, diversidade

 PÁGINA 2
DIVERSIDADE NO
MERCADO DE TRABALHO
D iante da grande dificuldade
de inserção do público LGBT
(lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais) no mercado de
trabalho, verifica-se a necessidade
de abordar questões sobre o tema.
Ao longo dos anos houve uma
maior aceitação das comunidades
“LGB”. Entretanto, na contramão
dessa ascensão de diversidade nas
empresas, o público transexual
não obteve acesso às
oportunidades como as demais
comunidades.
Ao identificar este problema de
inclusão e aceitação do
transgênero nas organizações, é
evidente que ainda há um longo
caminho a percorrer a fim de
minimizar esta dificuldade
enfrentada. Vem de encontro a
esta questão a necessidade de
desenvolvimento ações com foco
principal na inclusão, aceitação e
respeito entre os colaboradores.
Dentro das empresas, o respeito à
diversidade é algo crucial para o
desenvolvimento, com a
conscientização pode-se obter
melhorias na produtividade que
impacta diretamente no
desempenho operacional e
financeiro da instituição.
ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO
Como vantagem para a empresa,
há também a possibilidade de
melhorias pessoais para os
colaboradores, pois trabalhar em
um ambiente onde há aceitação e
respeito pode deixá-lo mais
motivado para cumprir as funções
do cargo que ocupa. Observa-se
que ações especializadas em
inclusão são pouco difundidas nos
meios organizacionais, pois sua
participação está presente, na
maioria das vezes, em grandes
empresas.
Desta forma é preciso evidenciar a
importância e a necessidade de
aplicar propostas que poderão
minimizar a exclusão no mercado
de trabalho, trazendo como
exemplos as grandes organizações
que promovem a diversificação no
quadro de funcionários.
TRANSGÊNERO
A exclusão de transgêneros no
mercado de trabalho é comum na
sociedade, grande parte das
empresas não possuem
mecanismos que facilitam a
inclusão deste público no
ambiente corporativo.
Entretanto, ainda que existam
indivíduos pertencentes ao
grupo ocupando postos de
trabalho, o rendimento de cada
um pode ser afetado, pois o
ambiente excludente dificulta o
desempenho das tarefas dentro
das organizações.
Justifica-se a escolha do tema
diante da grande necessidade de
inclusão de transagêneros no
mercado de trabalho formal,
promovendo o incentivo à
capacitação profissional e
consequentemente desenvolver
maiores oportunidades para este
público.
A diversidade dentro das
organizações vem sendo
explorada cada vez mais pelos
profissionais da área de gestão
de pessoas, dando a
possibilidade de trabalhar este
tema no ambiente
organizacional e tornando-o uma
tendência no ambiente
corporativo.
IMAGEM: HTTP://TWIXAR.ME/SMGN

CONCEITO LGBT
O conceito contemporâneo
do movimento de Lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros (LGBT+),
o que se conhece atualmente, teve
início em meados de 1969 nos
Estados Unidos. A partir desta
data é considerado o Dia
internacional do Orgulho LGBT+.
Porém, desde então, houve a
necessidade de trazer a
importância do ser LGBT a pautas
relacionadas a preconceito de
gênero. Com o passar do tempo
esta classe teve cada vez mais
espaço no mundo, fazendo com
que assim mais pessoas pudessem
se entender como LGBT+ (FERRAZ,
2017).
Entretanto, algumas dessas
classes não tiveram as mesmas
oportunidades. Dentre elas
existem os transgêneros que, por
conta de sua orientação, sofre com
segregação até mesmo pelas
demais classes. Transgêneros
podem ser definidos como:
[...] todos os indivíduos cuja identidade de
gênero não corresponde ao seu
sexo biológico. De maneira geral, essas
pessoas sentem um grande
desconforto com seu corpo por não se
identificar com seu sexo biológico.
(LEITE, s.d)
ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO
Quando se fala em
empregabilidade a situação se
torna ainda mais preocupante.
Segundo a Associação Nacional de
Travestis e Transexuais (ANTRA,
2018), estima-se que apenas 10%
das travestis e transexuais estão
empregadas dentro do regime de
Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT).
INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Observando o mercado de
trabalho atual é possível
identificar várias formas de
inclusão e exclusão baseadas em
gênero, raça, condição social,
orientação sexual e idade
A aceitação e a valorização da diversidade, a
cooperação entre diferentes e a aprendizagem
da multiplicidade são, assim, valores que
norteiam a inclusão social, entendida como o
processo pelo qual a sociedade se adapta de
forma a poder incluir, em todos os seus
sistemas [...] ( SILVA, 2009, p. 144)
A inclusão sempre foi um grande
desafio e até um tabu para as
grandes empresas, pois não é
simples conciliar a diversidade,
principalmente devido ao
preconceito matriarcal que
herdamos de gerações anteriores.
É possível perceber o crescimento
de teses sobre a inclusão da
mulher, de deficientes, de negros,
mas a inclusão de LGBTs tem se
mostrado um tema ainda mais
difícil de ser debatido,
principalmente quando nos
referimos a transgêneros.
Quando os transgêneros não são
incluídos no mercado de
trabalho, caracteriza-se uma
situação de exclusão, onde o
direito dessas pessoas de
participarem do ambiente
profissional é negado,
impactando diretamente no seu
desenvolvimento pessoal e
deixando-o numa situação social
desfavorável perante as demais
parcelas da população.
Já para as empresas a exclusão
gera uma situação de
etnocentrismo onde apenas uma
cultura ou comportamento é
adotado como certo, causando
insegurança nos funcionários
que pensam ou agem de uma
forma diferente. Essa exclusão
começa no processo seletivo
onde os funcionários são
selecionados já pensando no
padrão de colaboradores que se
deseja manter na empresa.
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PÁGINA 4 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO

RESPALDO JURÍDICO AO
TRABALHO
A pesar da inexistência de leis
específicas que promovam a
inclusão de transexuais no
mercado de trabalho, a
Constituição Federal (CF), lei
máxima de um país, dispõe em
seu Art. 6° que “São direitos
sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho[...]”
(BRASIL, 1988, p.18). Desta forma,
o trabalho é garantido a todos
como um direito social, não
havendo distinção entre os
indivíduos. Além da CF, a
Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) também
estipula que todos os homens
possuem direito ao trabalho. Em
2016, a ex presidenta Dilma
Rousseff assinou o Decreto n.
8.727, possibilita o uso do nome
social e o reconhecimento da
identidade de gênero de pessoas
travestis e transexuais na
administração pública federal
direta, autárquica e fundacional.
O nome social é uma forma de evitar ou
diminuir a transfobia e o constrangimento da
pessoa que se identifica e se apresenta
conforme determinada identidade masculina
ou feminina, e tem um nome que não
corresponde a ela. (ALMEIDA;
VASCONCELLOS, 2018, p. 313)
 No que compreende os direitos
e deveres dos cidadãos,
instituídos pela CF, o acesso ao
trabalho deveria ser, portanto,
igual a todos. Entretanto, tais
direitos sofrem interferência
direta pelo padrão cultural
instaurado na sociedade. O início
do problema que traz como
consequência a falta de
ocupação formal dos transexuais
no mercado de trabalho ocorre
antes mesmo da formação
acadêmica, a discriminação
enfrentada pelos indivíduos
implica no baixo desempenho no
aprendizado e posteriormente à
falta de qualificação profissional,
esta necessária para obter
oportunidades de trabalho.
A INCLUSÃO COMO
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
A responsabilidade social é um
tema que vem sendo abordado
com frequência no meio
corporativo. As empresas, além
do esforço para a maximização
dos lucros, precisam se adequar
ao que o mercado exige,
adotando ações afirmativas para
garantir a qualidade de vida dos
colaboradores, assim como
contribuir para o
desenvolvimento da
comunidade.
As empresas tornam-se componentes
fundamentais para retificar e implantar
mudanças satisfatórias na sociedade e
auxiliar no alinhamento das distorções que o
Estado não conseguiu sozinho realizar e que
possivelmente nunca realizaria se outros
personagens, dentre eles a própria sociedade
civil, não almejassem e buscassem um mundo
econômico, social e ambientalmente
sustentável (HAMZE, s.d., p.1)
É imprescindível que as
organizações adotem medidas
que possam integrar e oferecer
benefícios, além dos econômicos,
a todos os stakeholders. Sendo
assim, as relações humanas
causam impactos na
produtividade individual de cada
colaborador e afetam
diretamente o lucro da empresa.
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 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS PÁGINA 5
NO MERCADO DE TRABALHO

RELAÇÕES HUMANAS E
OS IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE

A o desenvolver um bom relacionamento entre

os colaboradores, sabe-se que a criatividade,
produtividade e oportunidades dentro da empresa
aumentarão. Ter um relacionamento interpessoal é
observar o próximo, buscar entender o que o
ambiente exige e oferece, e ter autoconhecimento
sobre as situações naquele local. O
autoconhecimento também é uma característica
da Relação Intrapessoal, que é o conhecimento do
próprio indivíduo.
Ao desenvolver um bom relacionamento entre os
colaboradores, sabe-se que a criatividade,
produtividade e oportunidades dentro da empresa
aumentarão. Ter um relacionamento interpessoal é
observar o próximo, buscar entender o que o
ambiente exige e oferece, e ter autoconhecimento
sobre as situações naquele local. O
autoconhecimento também é uma característica
da Relação Intrapessoal, que é o conhecimento do
próprio indivíduo.

O trabalho é também uma atividade que coloca as pessoas em relação umas com as outras, o que contribui para o desenvolvimento da
identidade delas [...] O fato de estar em contato com os outros, de manter relações numerosas, e às vezes intensas, age como um verdadeiro
estimulante para si mesmo, não somente para o desenvolvimento de sua identidade pessoal e social mas também para o desenvolvimento
de laços de afeição duráveis, procurando por vezes a segurança e a autonomia pessoal. (MORIN, 2001, p. 17)

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 PÁGINA 6 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO

O PAPEL DO GESTOR NO
PROCESSO DE INCLUSÃO
A tualmente, dentro das
organizações existe uma
preocupação com o
desempenho das tarefas. O
mercado se tornou cada vez mais
competitivo e para manter a
eficiência nas atividades é
necessário que haja bons líderes
de equipe aprimorando
constantemente a gestão dos
recursos humanos. Como
consequência do crescimento da
competitividade entre as
empresas, torna-se
imprescindível que cada
funcionário trabalhe motivado e
empenhado para que a
padrão cultural masculino,
hétero, branco, sem deficiência,
adulto, católico, magro,
informatizado, classe média é
predominante nas empresas e
influenciam diretamente na
interação entre os membros da
equipe.
Há ainda uma tendência dos líderes em
contratar seus iguais – simplesmente porque
dá bem menos trabalho comandar pessoas
cujas características lhes são familiares. Se a
maior parte dos cargos de gestão é ocupada
por homens, brancos e que se dizem héteros, é
esse perfil de profissional que eles vão
contratar e promover com mais facilidade.
(SÔNEGO; GRISOTTO, 2017, s.n)
Mesmo que as empresas
Os líderes podem exercer um
trabalho importante neste
âmbito, pois têm a
responsabilidade de lidar com
diversos subordinados a fim de
manter o departamento em
funcionamento. Entretanto, além
da necessidade de ser um bom
influenciador, é fundamental que
os gestores possuam capacidade
de incluir os funcionários dando
oportunidades iguais,
possibilitando assim o
aperfeiçoamento profissional a
todos.

organização possa obter possuam uma grande

melhores resultados. diversidade no quadro de

funcionários, parte deles não se
A questão da motivação se tornou de suma
importância para as organizações encaixam no padrão cultural
conhecerem meios de manter seus organizacional, prejudicando
funcionários motivados e comprometidos a
assim seu desenvolvimento
executarem seu trabalho e consequentemente
alavancarem o sucesso e os lucros da
profissional. As pessoas
organização. (PONTES, 2008, p. 9) transgênero, além de não se
enquadrarem nestes padrões,
Os transgêneros, quando
sofrem também pelo
possuem uma ocupação formal
preconceito, tendo como
no mercado de trabalho, por
consequência a rejeição e a falta
vezes sofrem com a falta de
de confiança enquanto sua
entrosamento com os demais
capacidade de evolução
companheiros de trabalho, pois o
profissional.
IMAGEM: HTTP://TWIXAR.ME/VGGN
 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS PÁGINA 7
NO MERCADO DE TRABALHO

PESQUISA
O QUE O PÚBLICO GERAL SABE E PENSA SOBRE
TRANSGÊNEROS E TRANSEXUALIDADE?

1. VOCÊ SABE O SIGNIFICADO DE TRANSGÊNERO?

Não
2% Dentre os 425 entrevistados, 98% afirmam saber
sobre o significado do termo “transexualidade” e
38% deles afirmam ter interesse em saber mais
Sim e gostaria de saber mais sobre o assunto enquanto apenas 2%
38%
desconhecem o termo.

Sim
Com esse gráfico é possível perceber que a
60% maioria dos entrevistados tem conhecimento
sobre o que é o transgênero.

2. NO MERCADO DE TRABALHO, VOCÊ CONHECE TRANSGÊNEROS ATUANDO EM QUE ÁREAS?

Os dados coletados evidenciam que 53% das
Com carteira assinada
9%
pessoas não conhecem nenhum transgênero,
enquanto 24% e 9% conhecem transgêneros que
Desempregados
14% ocupam, respectivamente, o mercado de trabalho
formal e informal, e 14% alegam conhecer, mas que

Não conheço estão desempregados.

53% Apesar da maioria dos entrevistados responderem
na questão 1 que tem conhecimento do que é ser
Sem carteira assinada
24% transgênero, a questão 2 mostra que mais da
metade afirma não conhecer nenhum transgênero.

3.    PARTINDO DO PRESSUPOSTO QUE EXISTE UMA GRANDE RESISTÊNCIA DA ENTRADA DE

TRANSGÊNEROS NO MERCADO DE TRABALHO, VOCÊ ACHA QUE:
Não
6%
Não sei opinar
A maior parte  das pessoas que responderam a
12%
pesquisa apoiam a criação de leis que auxiliem na
integração de transgêneros no mercado de
trabalho formal, mas ainda há uma relutância e
ignorância da parte de alguns entrevistados.

Sim
82%
GRÁFICOS: DOS AUTORES
 Entrevistas
Para uma trans conseguir ingressar no
mercado de trabalho ela tem que passar
por situações extremamente
desconfortáveis. Existe uma barreira
gigantesca. Mesmo para concluir o
ensino médio é muito difícil.

Eu queria estudar porque aquilo E é mais complicado ainda lidar

Sol dos Santos Rocha
Formada em Medicina
Veterinária na USP
Pirassununga  Na faculdade você tem que lidar
SOLRS152@GMAIL.COM
Como foi se identificar
como transgênero?
Foi complexo porque muita gente
não tem informação, mas quando
recebemos a informação nós
finalmente entendemos. Nós
transexuais sempre sabemos que
somos diferentes das pessoas,
que existe alguma coisinha que
não se encaixa, mas você não
sabe o que é exatamente. Quando
nós recebemos essa identificação
fica mais fácil saber que isso
existe, que é algo natural e que
existem outras pessoas passando
pelo mesmo que você, que as
pessoas que te excluem e te
xingam não estão certas, que está
tudo bem e que isso não é atual,
tem registros desde a
antiguidade, e o conhecimento é
essencial para esse processo.
Como o preconceito
influenciou sua vida
durante os estudos?
Uma coisa que eu posso falar em
relação aos estudos é que o
preconceito afeta muito, [...] Além
de toda sala ficar te "zoando",
você tem que responder seu
nome na chamada que nem é o
certo e isso é totalmente
frustrante.
era uma forma minha de proteção
e era a única coisa que eu poderia
fazer porque eu não saía com
ninguém, não falava com
ninguém (por conta do
preconceito), então eu ia estudar.
Eu peguei aquilo como um ponto
positivo, mas é desestimulante ir
para a escola.
com várias situações de
preconceito [...], As pessoas
dizem ”Nossa, que diferente uma
trans na faculdade “, sim, a única,
mas isso não quer dizer que eu
sou um objeto; os professores de
faculdade não sabem lidar com a
população trans, e tem várias
situações desconfortáveis,
professores dizendo que
transexualidade é uma doença,
um defeito biológico, falta de
conhecimento e tudo mais.
O preconceito
aumentou quando você
se assumiu trans no
trabalho?
Sim, sem sombra de dúvidas. Ele
ficou muito mais evidente.
Quando eu me assumi já estava
terminando a faculdade e o
mercado de trabalho era
extremamente complicado. Os
veterinários não querem
contratar, as pessoas não sabem
lidar, eu fui recomendada duas
vezes pela professora da
faculdade para uma vaga e eu não
passei, mesmo sendo totalmente
capacitada. O preconceito é
extremamente velado, as pessoas
te olham, te julgam, te
subestimam, elas não
acreditavam que eu sou formada
na USP.
com clientes. Eu sou formada em
veterinária mas também atuo na
área de beleza. Na veterinária eu
consegui fazer alguns plantões,
mas na clínica em que trabalho eu
tenho que me passar por um
homem cis, então eu não posso ir
vestida do jeito que eu me sinto
confortável e, além disso, uso um
nome que não corresponde a
mim, isso tudo para conseguir se
manter. Mas quando trabalho na
área da beleza, eu vou como sou
de verdade, é um público mais
inclusivo. Para uma trans
conseguir ingressar no mercado
de trabalho ela tem que passar
por situações extremamente
desconfortáveis. Existe uma
barreira gigantesca. Mesmo para
concluir o ensino médio é muito
difícil. Só 2% da população trans
trabalha com carteira assinada,
cerca de 88% está na
prostituição, nossa estimativa de
vida é de 35 anos enquanto a
população brasileira tem uma
estimativa de vida de 80 anos. A
maior parte da população trans
que morre são mulheres travestis
e negras, então é tudo desumano!
Quais são suas
perspectivas para o
futuro?
É uma pergunta bem complicada
porque a atual situação do país
não é muito positiva. Mas o que
eu queria mesmo era conseguir
minha estabilidade financeira, ter
minha independência e estar em
um lugar com regime CLT e
ganhar um salário adequado para
minha profissão num lugar onde
exista respeito por quem eu sou.

Algumas empresas vendiam a ideia de
que elas tem um programa de
diversidade mas nem todas elas tem esse
programa realmente implementado, a
única que eu senti que isso realmente
acontece é na empresa que eu trabalho
hoje.
Como o preconceito
influenciou sua vida
durante os estudos?
Eu nunca fui espancado por
várias pessoas como a gente vive
lendo por aí, mas sempre alguém
"esbarrava sem querer" em mim
ou me empurrava mesmo. Já tive
episódios inclusive de pessoas
que jogavam coisas (pedras, cacos
de tijolo etc.) pra me acertar e às
vezes conseguiam e também de
gente que já cuspiu em mim
simplesmente por eu estar ali.
Na escola, acabava que eu era o
que passava cola e colocava o
nome das pessoas no trabalho e
por isso eu não sofria nenhum
tipo de violência. Hoje eu
entendo que essa era uma forma
que eu encontrava de me
defender, o que era problemático
porque o medo fazia com que eu
me sujeitasse a muitas situações
que eu não queria. Fora que
xingamentos e agressões verbais
eram quase que rotina. A família
foi o único lugar de onde eu tinha
apoio e me sentia
verdadeiramente amada.
Como é o preconceito
no mercado de
trabalho?
Quando fui fazer os processos
seletivos percebi que as empresas
mais ligadas a engenharia tem
uma visão muito tradicional das
coisas, então quando eles fazem a
análise curricular eles também
analisam a aparência das pessoas.
Eu senti que o fato de ser LGBT
me prejudicou muito. Já nas
empresas de tecnologia, algumas
vendiam a ideia de que elas tem
um programa de diversidade, mas
nem todas tem esse programa
realmente implementado, a única
que eu senti que isso realmente
acontece é na empresa que eu
trabalho hoje, eles realmente
trabalham para tentar suprir esse
problema da diversidade, não só
com pessoas LGBT mas também
com pessoas negras e mulheres,
porque quando eu fazia
perguntas nesse sentido eles me
respondiam sem achar aquela
pergunta um incomodo então foi
a única que eu me senti a vontade
e é lá que eu estou trabalhando
hoje.
Entrevistas
Roma Nena
Formada em Tecnologia
da Informação
Campinas
Quais são as ações de
inclusão que a empresa
onde você trabalha
possui?
A empresa possui vários
programas de integração, não só
focados em diversidade LGBT.
Tem vários grupos específicos
para pessoas que gostam de jogar
futebol, de jogar vôlei e tudo
mais. Lá existe um grupo de
diversidade com diversos
programas dentro da empresa;
Por exemplo, nesse mês de março
teve a programação focada para
mulheres então no blog da
empresa saíram matérias sobre
problematização da mulher no
mercado de trabalho tecnológico,
e ai eles tem um programa que
dão cursos para os colaboradores
e os grupos foram ministrados
por mulheres o mês todo -
mulheres cis e trans -, e no
programa de diversidade eles
fazem encontros mensais como
interação, tem almoço, um happy
hour, então existe um grande
incentivo para a integração não
só do publico LGBT mas da
empresa como um todo.
 Entrevistas
Lilian Cristina de
Almeida
Psicóloga, Coach de
Carreira, Professora
Universitária, Palestrante
e Diretora Executiva da
LCA Consultoria e
Treinamento
Você já entrevistou
algum(a) transgênero?
São tantas definições!
Transgênero, homossexual,
transexual. Eu já entrevistei
mulheres que fisicamente se
apresentam com traços mais
masculinos e também homens
que fisicamente se apresentam
com traços mais femininos.
Enquanto eu conduzo
entrevistas, não faz parte do meu
repertório de perguntas
identificar se o candidato é
transgênero / homossexual /
transexual... Conduzo o processo
seletivo buscando identificar
competências técnicas para a
vaga e competências
comportamentais. Tenho
segurança em afirmar que a
identificação sexual e/ou
orientação sexual não interfere
nos resultados que o candidatos
trará para a vaga em questão.
Tenho segurança em afirmar
que a identificação sexual e/ou
orientação sexual não interfere
nos resultados que o candidatos
trará para a vaga em questão.
Como profissional da
área de Gestão de
pessoas, você acha que
alguma medida deveria
ser tomada caso um
transgênero fosse
contratado na empresa
em que trabalha?
Sim. Minha experiência com
inclusão foi atendendo cota para
pessoas com deficiência (PCD) e
faço aqui um paralelo. Nos anos
2000 eu tive a experiência de
contratar PCD´s atendendo a
cota. A empresa que atuava no
momento não tinha nenhuma
preparação para receber as
pessoas com deficiência. Antes da
admissão de PCD´s foram
realizadas: palestras explicando o
que são deficiências dentro da lei
de cota, estudo de acessibilidade
de toda empresa e mapeamento
das áreas possíveis de receber
PCD´s (as áreas sinalizadas como
impossíveis, a longo prazo
passaram por adaptações até ser
classificada como acessível para
qualquer deficiência).A
integração dos PCD´s foi
realizada pelos supervisores da
empresa.
Seguindo esse exemplo, as
empresas hoje ao receberem
pessoas transgêneros o ideal é
que se preparem, sensibilizando
os colaboradores que já atuam na
empresa assim quebrando
preconceitos.
Se você realizasse uma
entrevista com um
transgênero e só
notasse seu gênero de
nascença na hora da
contratação o que você
faria ?
Se for para trabalhar comigo, a
contratação ocorrerá
normalmente. Hoje eu tenho uma
consultoria de RH e atendo
diversas empresas e posso
afirmar que tenho clientes que
contratariam normalmente e
tenho clientes que iriam
questionar muito. Tenho um
exemplo real que participei à
distância: aconteceu exatamente
essa situação com um
profissional de RH e um coachee
meu. Na penúltima sessão de
coaching, o meu coachee relatou
que ao receber os documentos de
admissão identificou o candidato
como transgênero. Ele avisou a
diretoria do RH e a diretoria que
o transgênero atuará. A primeira
resposta foi: vamos seguir o
período de experiência (90 dias),
depois a empresa decide o que
fazer. Até o momento esse
transgênero atuou por 45 dias e a
empresa já preparou uma
palestra para SIPAT abordando o
tema preconceito – foi a maneira
que a empresa encontrou de
trabalhar a inclusão.
 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO
CONCLUSÃO
É necessário entender que a relação entre
colaborador e empresa deve ser harmoniosa, tendo
como consequência a obtenção de bons resultados
econômicos, além de promover a inclusão da
população transgênero oferecendo oportunidades
de exercerem atividades que agreguem valores e
competências profissionais, contribuindo assim para
seu desenvolvimento social, pessoal e profissional.
Mesmo nos dias de hoje, a falta de
representatividade é presente no meio educacional.
A dificuldade de encontrar estudos e informações
sobre o tema evidencia uma sociedade retrógrada
que inibe discussões acerca de assuntos como a
existência da população transgênero, refletindo
negativamente nas instituições de ensino.
Esperamos que com este artigo gerações futuras
venham a entender a necessidade de abordar estes
assuntos.
É essencial conscientizar os leitores sobre a
importância da representatividade e da inclusão do
público transgênero em todos os meios sociais, com
ênfase no mercado de trabalho pois ele é um dos
pilares da socialização e um importante meio para
que haja a diminuição de estereótipos que impeçam
a valorização e a compreensão do real significado do
que são os transgêneros.
PÁGINA 11
Sendo assim, concluímos que a falta de
representatividade é um problema latente que
abrange importantes meios sociais, criando barreiras
na área educacional que ainda não está preparada
para lidar com pessoas transgêneros; na área social
que estigmatiza e exclui todo aquele que difere dos
padrões majoritariamente impostos; e no meio
profissional onde a gestão de pessoas deveria
exercer maior participação na promoção da
diversidade na empresa. Acreditamos que com este
artigo não será possível a total reparação dos
problemas citados, porém temos convicção de que
este é um importante passo para que mais pessoas
tenham ciência de que os processos de inclusão
devem ser discutidos e implementados com maior
frequência para a formação de uma sociedade mais
justa.
IMAGEM: HTTP://TWIXAR.ME/DKWN
PÁGINA 12 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS
NO MERCADO DE TRABALHO

BIBLIOGRAFIA
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 ALÉM DAS RUAS: TRANSGÊNEROS PÁGINA 13
NO MERCADO DE TRABALHO

AGRADECIMENTOS

Nós agradecemos, primeiramente, às professoras orientadoras Rosangêla do Carmo

e Diana Leite por oferecer o auxílio necessário durante o desenvolvimento e
conclusão desse trabalho; à Sol dos S. Rocha e à Roma Nena por colaborar com as
entrevistas que nos ajudaram a ter uma visão mais ampla sobre a situação dos
transexuais frente ao mercado de trabalho; à Lilian Cristina de Almeida por nos
apresentar uma visão profissional do problema a que se refere este trabalho e ao
Sérgio de Jesus Henrique Junior por nos apresentar novas perspectivas e
oportunidades de abordar o assunto. Por último, porém não menos importante,
agradecemos aos nossos familiares por nos apoiarem desde o início de nossa
formação acadêmica.