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ÉTICA, VELOCIDADE E PROCESSO PENAL: APORTES CRÍTICOS

DESDE A CRIMINALIDADE ECONÔMICA

A POSIÇÃO DO DIREITO DIANTE DO DANO DE ORIGEM DIFUSA


DECORRENTE DA “CULTURA DO CANCELAMENTO”

THE RIGHT POSITION AGAINST THE DIFFUSED DAMAGE OF


ORIGIN ARISING FROM THE “CANCEL CULTURE”

José Bruno Aparecido da Silva1

RESUMO: O presente trabalho tem como escopo a análise da posição do direito


diante do dano de origem difusa decorrente da cultura do cancelamento, fenômeno
de expressão predominante no ambiente web, que consiste em denúncias (chamadas
de exposições) de fatos, comportamentos ou pensamentos de uma pessoa, com a
concomitante pressão, realizada normalmente em redes sociais, para que esta pessoa
se retrate, reveja sua postura, ou para que ela seja punida. O objetivo da pesquisa
realizada não foi o de atribuir valor positivo ou negativo à cultura do cancelamento,
mas de avaliar as ferramentas que o direito possui para agir quando este fenômeno
se confunde com o linchamento virtual e excessos ocorrem. Partindo da
compreensão da extensão do princípio da proteção da dignidade da pessoa humana
no ordenamento pátrio e da tutela dos direitos da personalidade, buscou-se avaliar a
eficácia dos dispositivos presentes tanto no direito material quanto no direito
processual, tendo como fundamento para a análise a teoria de Robert Alexy,
segundo a qual o Direito é constituído por três elementos: a legalidade conforme o
ordenamento, a eficácia social e a pretensão de correção material. Desta avaliação,
obteve-se como resultado a compreensão de que tais dispositivos têm sido
insuficientes, não apenas no caso dos excessos decorrentes da cultura do
cancelamento, mas de todos os casos envolvendo danos de origem difusa ocorridos
no ambiente web.

Palavras-chave: Autodeterminação informativa; Cultura do cancelamento; Direitos


da personalidade; Direitos fundamentais.

ABSTRACT: This work aims to analyze the position of the law in the face of
damage of diffuse origin resulting from the cancel culture, a phenomenon of
predominant expression in the web environment, which consists of denunciations

1
Graduando em Direito – FACISA/UNIVIÇOSA. Bacharel em Comunicação Social – FAGOC.
Especialista em Gestão da Comunicação nas Organizações – FAGOC. e-mail:
josebrunojb@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2776039816025075. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-0701-0925.
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Curitiba, 201x, vol. xx, n. xx, p. xxx-xxx, mês-mês, 201x.
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(called exposed) of facts, behaviors or thoughts of a person, with the concomitant


pressure, usually carried out on social networks, for this person to retract, review its
posture, or for them to be punished. The objective of the research carried out was
not to attribute a positive or negative value to the cancel culture, but to assess the
tools that the law has to act when this phenomenon is confused with virtual lynching
and when excesses occur. Starting from the comprehension of the extension of the
principle of protection of the dignity of the human person in the national order and
the protection of personality rights, we sought to assess the effectiveness of the
devices present in both material and procedural law, having as basis for analysis the
Robert Alexy’s theory, according to which Law is constituted by three elements:
legality according to the order, social effectiveness and the claim of material
correction. From this evaluation, it was obtained as a result the understanding that
such devices have been insufficient, not only in the case of the excesses resulting
from the cancel culture, but of all cases involving damages of diffuse origin that
occurred in the web environment.

Key-words: Cancel culture; Fundamental rights; Informational self-determination;


Personality rights.

Sumário: 1. Introdução; 2. A cultura do cancelamento; 3. O princípio da dignidade


da pessoa humana; 4. Os direitos da personalidade e a autodeterminação
informativa; 5. Instrumentos para a tutela dos direitos da personalidade; 6. Uma
breve análise dos instrumentos do direito à luz da teoria de Robert Alexy; 7.
Considerações finais; 8. Referências.

1. INTRODUÇÃO

A cultura do cancelamento (ou cancel culture) é um conceito relativamente


novo, que faz referência a uma situação em que um grupo de pessoas passa a
exercer pressão sobre um indivíduo para que seja tomado um posicionamento, para
que ele faça uma retratação referente a alguma ação ou inação, ou para que ele seja
punido. Esta pressão é exercida por meio do isolamento desta pessoa no ambiente
web, o que na prática consiste em deixar de segui-la nas redes sociais, não comprar
seus produtos, reduzir o alcance de suas postagens nas redes sociais, ou em
denunciar o perfil desta pessoa à rede social em que ele está cadastrado, o que pode
resultar em suspensão ou exclusão de sua conta.
Trata-se de um fenômeno midiático que, como dito, ocorre

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predominantemente no ambiente web e que normalmente vem associado ao


linchamento virtual, mas não se confunde com ele. O fenômeno começa com a
exposição (exposed no original) de um fato que, em tese, justifica o pedido para que
outras pessoas adiram à proposta de deixar de seguir ou de adquirir produtos
daquele indivíduo. Como normalmente as exposições são de fatos ainda não
apurados, injustiças de difícil reparação podem ser cometidas.
Dada a necessidade, decorrente de princípio constitucional, de que o Estado
atue para proteger a dignidade da pessoa humana, é necessário que se busque
instrumentos legais para que o dano causado pelas exposições seja sanado ou
indenizado. O fato deste tipo de dano ter origem e causas difusas conduz à
indagação se o direito material e o processual estariam preparados para enfrentá-lo.
Ainda que a dignidade da pessoa humana possua proteção constitucional, é
pertinente que se indague se existem no ordenamento os instrumentos adequados
para efetivar tal garantia, mesmo em situações que, dadas suas peculiaridades, o
enquadramento no direito positivado não ocorra de forma tão simples.
A relevância do tema se encontra também no fato de que se trata de assunto
que tem sido amplamente discutido na mídia e pela opinião pública, o que torna
ainda mais urgente a resposta adequada do Direito aos problemas decorrentes de tal
questão, sem que tal resposta acabe se confundido com mero ativismo judicial.
O objetivo do presente estudo consistiu em identificar disposições do direito
material e instrumentos processuais adequados ao exercício da jurisdição nos casos
de danos de origem difusa decorrentes da cultura do cancelamento. Para tal, buscou-
se: (a) compreender o alcance da proteção da dignidade da pessoa humana e da
autodeterminação informativa no ordenamento brasileiro; (b) revisar as teorias
acerca do dano e os tipos de métodos existentes de reparação; e (c) analisar a
legislação positivada que trata da proteção dos direitos da personalidade no
ambiente web.

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2. A CULTURA DO CANCELAMENTO

Em 2019 o termo cultura do cancelamento (cancel culture no original) foi


escolhido o termo do ano pelo Dicionário Macquarie, em uma seleção que busca
agrupar anualmente as palavras e expressões que mais moldaram o comportamento
humano naquele período (DEMARTINE, 2019). Contudo, por se tratar de
fenômeno relativamente novo, observa-se uma escassez de produção acadêmica
sobre ele, motivo pelo qual suas características e efeitos serão analisados a partir de
notícias e reportagens veiculadas pela imprensa e da associação com fenômenos
semelhantes como o cyberbullyng e o linchamento virtual.
Apesar de possuir características próprias, que serão abordadas mais adiante,
a cultura do cancelamento repete atos que não são novos, exemplo disso é o boicote
de artistas e personalidades que possuem projeção midiática por comportamentos ou
ações tidos como reprováveis sob determinada ótica. Casos deste tipo não faltam e
alguns nem são recentes, pelo menos dois podem ser recordados aqui: o de Wilson
Simonal e o de Tom Zé.
No início da década de 70, o cantor Wilson Simonal, que se encontrava no
auge de sua carreira, foi acusado de ter delatado para o Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS), órgão do governo militar, um contador que lhe prestava
serviços. O caso foi divulgado pela revista “O Pasquim” e ganhou repercussão
nacional rapidamente. As músicas do artista passaram a ser boicotadas nas
principais emissoras de rádio e televisão e não demorou até que ele caísse no
ostracismo (PAIVA, 2017).
Em 2013, o cantor Tom Zé, um dos grandes expoentes do movimento
tropicalista, participou de uma campanha publicitária do refrigerante Coca-Cola, a
participação foi vista como traição à postura de independência por parte dos fãs e se
tornou motivo de zombaria para detratores. Sua resposta à condenação advinda das
redes, no entanto, veio pouco mais de um mês depois, de forma inteligente, através
do EP intitulado “Tribunal do Feicebuqui”, que trazia um total de quatro músicas,
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nas quais o artista fazia referência de forma irônica e repleta de sarcasmo à tentativa
de boicote (NOBILE, 2013).
Como já exposto, há algumas diferenças relevantes entre os dois casos
relatados e o que tem sido chamado hoje de cultura do cancelamento. Apesar do
caso envolvendo o cantor Tom Zé ter acontecido há relativamente pouco tempo e
ter tido como lugar o ambiente web, a ele falta uma característica que tem sido
determinante no cancelamento: o fato de que este, ainda que espontâneo, visa
determinado fim e as suas ações são voltadas ao atingimento deste objetivo. Há,
portanto, não mera exposição de opinião ou mero somatório de cobranças e críticas
individualizadas, há um engajamento.
O caso do cantor Wilson Simonal, apesar de não ter acontecido no ambiente
web (o que é um fator determinante, como será visto adiante), possui mais
semelhança com o que ocorre na cultura do cancelamento. O rompimento de
contratos e o apagamento midiático, que foram vivenciados pelo artista, são hoje os
principais meios que o cancelamento usa para cobrar posições ou retratações e para
silenciar determinados discursos.
Em matéria publicada pela BBC News Brasil, a jornalista Mariana Sanches
(2019) explica como a cultura do cancelamento funciona:

O movimento hoje conhecido como "cultura do cancelamento" começou,


há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como
justiça social e preservação ambiental. Seria uma maneira de amplificar a
voz de grupos oprimidos e forçar ações políticas de marcas ou figuras
públicas. Funciona assim: um usuário de mídias sociais, como Twitter e
Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou
foto e posta em sua conta, com o cuidado de marcar a empresa
empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros
influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem. É
comum que, em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de
vezes.

O ato de revelar nas redes sociais comportamentos, opiniões ou ações


reprováveis é chamado de exposição (exposed), este ato constituiria uma espécie de
denúncia direcionada à opinião pública, empregadores, patrocinadores e

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contratantes. A exposição, como o próprio nome diz, visa dar visibilidade à conduta
condenável, e o que se busca é o engajamento do maior número de pessoas possível.
Neste processo pode-se identificar dois tipos de agentes, o que cria o conteúdo ou
variações dele e o que apenas o compartilha.
Há inegavelmente um aspecto positivo neste fenômeno, visto que em não
raras vezes empresas e indivíduos se viram pressionados a repensar posturas
reprováveis. Além disso, grupos antes excluídos do debate social ganharam
oportunidade de fala e suas reivindicações, somadas, umas a inúmeras outras,
passaram a chegar aos altos escalões de empresas e governos. Este é um aspecto do
fenômeno que merece ser estudado, mas não pela ciência jurídica. O aspecto que
necessita da atenção do Direito é o aspecto negativo, aquele que envolve um
possível dano causado ao indivíduo que se encontra na condição de vítima das
chamadas exposições.
Nem sempre as exposições são baseadas em fatos, pois a velocidade
característica do ambiente web nem sempre torna possível uma apuração adequada
daquilo que está sendo exposto. Elas podem ainda decorrer de uma interpretação
equivocada de um texto ou de uma fala e até mesmo de uma declaração retirada de
seu contexto original. A exposição pode causar danos de difícil reparação ao
indivíduo, danos estes que podem ser de natureza psicológica, moral e até mesmo
material.
Apesar da cultura do cancelamento distinguir em aspectos relevantes do
simples linchamento virtual e do chamado cyberbullyng, é importante compreender
estes conceitos, visto que a ocorrência deles não só pode ser confundida com o
cancelamento, como pode vir atrelada a ele. Karen Tank Mercuri Macedo (2016,
on-line), em relevante estudo sobre o tema, distingue inicialmente o linchamento
virtual do chamado cyberbullyng, fenômeno também ocorrido no ambiente web, que
foi conceituado por Patchin e Hinduja (2006, apud STELKO-PEREIRA &
WILLIAMS, 2010, p. 52) como:

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A forma pela qual um indivíduo ou grupo de indivíduos busca causar


dano a outro de modo repetitivo, com o uso de tecnologias eletrônicas,
como celular e computador. Nessa modalidade de violência os autores
superam a relação tempo-espaço, uma vez que agridem suas vítimas, por
meio de mensagens ou imagens, como vídeos e e-mails, em qualquer
horário do dia e em qualquer local.

De acordo com Macedo (2016), o que diferencia o linchamento virtual do


fenômeno descrito acima estaria na constatação de que os linchamentos envolvem
conceitos de justiçamento e de denúncia (aspecto que na cultura do cancelamento
fica ainda mais evidente). Há uma linha muito tênue entre a busca por justiça e o
justiçamento, este último ocorre quando se opta por fazer justiça com as próprias
mãos. Apesar da semelhança, é preciso distinguir a exposição fruto da cultura do
cancelamento do linchamento virtual, ainda que com frequência um apareça como
consequência do outro.
Ao menos em tese, a cultura do cancelamento se distanciaria do justiçamento
porque seu objetivo não seria a destruição da reputação do cancelado, mas um
reposicionamento ou uma assunção de culpa daquele que teve uma conduta ou
pensamento exposto, ou ainda evitar que a postura ou ato passível de ser exposto
venha a ocorrer novamente, o que reforçaria a percepção do cancelamento como ato
de justiça.
Todavia, a ocorrência do justiçamento (por meio do linchamento) tem sido
observada com frequência atrelada às exposições e aos demais atos decorrentes do
cancelamento. Em parte das vezes não se trata apenas da perda de seguidores em
redes sociais ou de contratos de trabalho, mas de ofensas profundas à privacidade e
à moral do cancelado, podendo até caracterizar tortura psicológica (AZEVEDO,
2021). O que se observa é que com a velocidade com que se atribui culpa a alguém,
este alguém é condenado e penalizado e nem sempre lhe é dada a oportunidade de
reposicionamento.
O filme Dúvida (2008), baseado em uma peça homônima, aborda o caso de
um padre que é acusado de pedofilia por uma freira. Em dado momento da trama,
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em um sermão, ele discursa sobre os efeitos da divulgação de uma acusação falsa.


No sermão, ele conta a história de uma mulher que confessara para um padre que
espalhara uma mentira. Este padre propõe que ela suba ao telhado de sua casa e
apunhale um travesseiro. Ao voltar ela conta que fizera como o que lhe fora pedido,
ele então a pede que junte novamente todas as plumas do travesseiro que o vento
levou. Ela diz que é impossível. Ele então afirma que assim são os efeitos de uma
fofoca.
A metáfora das plumas ao vento cabe perfeitamente no caso das exposições
que ocorrem na cultura do cancelamento. Se os efeitos de uma mentira contada em
uma comunidade formada por um número limitado de pessoas são tão difíceis de
serem revertidos, a situação piora quando o conteúdo da mensagem é exposto a uma
audiência formada por um número incontável de pessoas, espalhadas
geograficamente e com pouco ou nenhum vínculo entre si. Isto é o que ocorre no
caso dos fluxos de comunicação no ambiente web.
A comunicação na internet é caracterizada principalmente pela velocidade.
Um conteúdo viral - assim chamado aquele que acaba tendo um número muito
grande de visualizações/compartilhamentos em pouco tempo – pode atingir em
questão de minutos um incontável número de pessoas. A velocidade, no entanto,
não está associada apenas ao compartilhamento da informação, mas também à
forma como se dá o seu consumo. Tudo é muito rápido e sobra pouco tempo para
ser dedicado à verificação da veracidade do conteúdo consumido, isso faz com que
mensagens de conteúdo apelativo sejam tomadas como verdade, sem que sejam
adequadamente verificadas.
Antes mesmo da popularização das redes sociais, como Facebook, Twitter,
Linkedin, e outras, Manuel Castells (2011), em sua obra A era da informação:
economia, sociedade e cultura, lançada originalmente em três volumes, entre 1996 e
1998, já alertava sobre o modelo de consumo descrito acima. Ele anteviu ainda o
valor que o processamento de informações adquiriria nesta nova era: “A emergência

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de um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da


informação, mais flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se
torne o produto do processo produtivo” (CASTELLS, 2011, p. 119).
A rapidez característica do meio de propagação e do modelo de consumo faz
com que os fluxos de informação na web sejam de difícil acompanhamento e
controle. O controle a que se faz referência não é o que ocorre na censura prévia,
mas o que é realizado após a constatação judicial de que há direito sendo violado.
Tais peculiaridades do meio fazem com que em parte das vezes uma ação tardia seja
ineficaz. Quanto maior o potencial de viralização do conteúdo, maior a dificuldade
de reparar um possível dano.
É importante ressaltar que nem toda informação pessoal disponível nas redes
constitui lesão ao direito de seu titular. Há informações que, apesar de pessoais, não
podem ser classificadas como íntimas. Enquadram-se nesta situação os dados cuja
divulgação é garantida pela Lei da Transparência na Administração Pública (Lei nº
12.527, de 18 de novembro de 2011), como salários de servidores públicos; e as
informações cuja divulgação em modo público foi feita pelo próprio titular, o que
ocorre, por exemplo, no caso dos currículos divulgados na rede social Linkedin.
Considerando que o principal instrumento da cultura do cancelamento é a
exposição de fato, pensamento ou comportamento do sujeito a ser cancelado, é
relevante que se pondere acerca do risco que se encontra envolto em tais ações.
Ressalta-se, novamente, que não se trata de defesa de nenhum modo de censura
prévia, mas da indagação acerca da existência ou não dos instrumentos jurídicos
adequados à tutela de direitos que, por ventura, possam ser ofendidos.
Ao presente trabalho não é primordial a discussão se a cultura do
cancelamento é ou não um fenômeno positivo. À ciência do direito interessa o
excesso, o que provoca dano significativo, é relevante para ela apenas a conduta que
configura ato ilícito. Contudo, é relevante que se exponha posições distintas acerca
do movimento, pois interessa saber que se trata de um fenômeno novo, ainda pouco

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estudado e capaz de despertar críticas contundentes mesmo no espectro político em


que surgiu.
A cultura do cancelamento vem sendo objeto de contundentes críticas, não
apenas por parte daqueles que se tornaram vítima das exposições, mas também de
acadêmicos e de estudioso dos fluxos de comunicação na web. Tendo surgido
associada ao combate ao machismo, ao racismo, à homofobia e outras formas de
opressão, a cultura do cancelamento foi associada a pautas normalmente atribuídas
ao espectro político da esquerda E veio justamente da esquerda uma das primeiras
críticas formalizadas: Um grupo de intelectuais e artistas assinaram o manifesto A
Letter on Justice and Open Debate2.
O documento, que trazia, dentre outras, as assinaturas do filósofo Noam
Chomsky e de escritores como Salman Rushdie e Margaret Atwood, exaltava os
movimentos contrários aos efeitos do avanço de políticas de cunho neoliberal, mas
fazia duras críticas à cultura do cancelamento, apontada como “uma intolerância a
pontos de vista opostos, uma moda para a vergonha pública e ostracismo e a
tendência de dissolver questões políticas complexas em uma certeza moral cegante”
(HARPER´S, 2020).
O manifesto ainda alertou para o que fora visto como estreitamento do limite
do que pode ser dito em decorrência de ameaças. Observa-se que há um paradoxo
entre os limites do direito de expressão do indivíduo que pode ser cancelado e os
limites da mesma liberdade atribuída a aqueles que defendem a cultura do
cancelamento e as exposições de fatos, pensamentos ou comportamentos.
Outras vozes críticas emergem na medida em que vêm à tona casos de graves
erros provocados, em sua maior parte, por julgamentos apressados, sem o devido
processo legal e sem oportunidade para a ampla defesa. Tais críticas têm sido vistas
como tentativas de proteção dos cancelados, com isso os críticos passam a correr o
risco de também se tornarem alvos do cancelamento. Esta situação pode acabar

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Uma carta sobre justiça e debate aberto, em tradução livre.
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silenciando a crítica. Sem crítica as chances de defesa do cancelado se reduzem e o


cancelamento adquire caráter ainda mais autoritário.

3. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Para que possam ser abordados os dispositivos presentes tanto no direito


material quanto no direito processual que seriam cabíveis ao caso dos danos de
origem difusa decorrentes da cultura do cancelamento, é necessário que antes sejam
abordados aqueles que são os principais bens jurídicos tutelados nestes casos: os
direitos da personalidade. Para tal, é importante que primeiro seja abordada a fonte
axiológica e hermenêutica de tais direitos, que se encontra no princípio da dignidade
da pessoa humana.
Luís Roberto Barroso (2020, p. 63), apesar de reconhecer que a ideia de
dignidade da pessoa humana adquire contornos distintos dependendo do
ordenamento e da realidade sociocultural na qual este ordenamento está posto,
conclui que “há um razoável consenso de que ela constitui um valor fundamental
subjacente às democracias constitucionais de modo geral, mesmo quando não
expressamente prevista nas suas constituições”.
A ideia da dignidade como um atributo inalienável de cada ser humano não
foi concebida deste modo. O conceito de dignidade passou no decorrer do tempo
por diversas transformações, de ordem semântica, histórica e jurídica. Sarmento
(2020) identifica ao menos três grandes transformações, que mudaram
significativamente a compreensão do termo e sua função na sociedade e no
ordenamento jurídico, quais sejam: (a) da hierarquia à dignidade universal; (b) do
indivíduo abstrato à pessoa concreta; e (c) de valor religioso e filosófico a princípio
jurídico.
Estas mudanças são de grande relevância para o tema objeto do presente
estudo. A compreensão de tais transformações ajuda a entender a extensão que o
princípio da dignidade da pessoa humana adquire no ordenamento brasileiro. A
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dignidade à qual a Lei Maior faz referência é um atributo universal, voltado à


proteção da pessoa concreta, e que se encontra não apenas como um dentre tantos
princípios jurídicos presentes no constitucionalismo pátrio, mas como o principal
dentre estes princípios.
Ao abordar a aplicabilidade do princípio da dignidade da pessoa humana é
preciso evidenciar que, apesar de sua posição constitucional como fundamento da
república e de seu extenso campo de abrangência, ele não é absoluto. O que
significa dizer que quando em confronto com outros princípios, ele deve ser objeto
de sopesamento (ALEXY, 2008). Tal afirmação pode aparentar ser flexibilização ou
mesmo relativização da dignidade como atributo inalienável da pessoa. Contudo, a
prática mostra que tais conflitos existem e que nem sempre a solução deles é tão
simples, a ponto de bastar a apresentação do princípio como trunfo.
A situação mencionada acima ocorre, por exemplo, nos casos concretos que
envolvem dano de natureza moral decorrente de conteúdos publicados em qualquer
tipo de mídia. Há no caso do dano de origem difusa decorrente da cultura do
cancelamento um conflito entre os direitos da personalidade da pessoa cancelada,
que decorrem do princípio da dignidade da pessoa humana, e, o direito à liberdade
de expressão de quem postou ou compartilhou a “exposição”.
Mesmo no ordenamento da Alemanha, onde a dignidade da pessoa humana é
apresentada como um princípio absoluto pela Constituição, que traz expresso que “a
dignidade humana é inviolável” (ALEXY, 2008, p. 113), é admitida a possibilidade
de sopesamento, situação na qual o conflito entre princípios é resolvido não pela
invalidade de um deles, mas pela definição de em qual medida cada um será
aplicado.
A questão é, portanto, como saber quando o princípio da dignidade da pessoa
humana prevalecerá. Para tal, é preciso que se investigue o conteúdo do princípio e
suas limitações. É necessário, deste modo, que se recorra à ideia do “consenso
sobreposto”, baseada na ideia da dignidade como valor intrínseco de toda pessoa,

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defendida por McCrudden (2018, apud SARMENTO, 2020, P. 105).


Sabendo-se que o princípio da dignidade da pessoa humana não é absoluto e
que se deve repelir aquilo que insurge como adversário da dignidade como valor
intrínseco, resta abordar em quais situações o princípio pode ser sacado como
trunfo.
Há, em todo o caso em que o princípio da dignidade da pessoa humana é
aplicado, uma ponderação necessária acerca da autonomia do agente, visto que a
autonomia decorre do mesmo princípio, pressuposto com o qual tanto Barroso
(2020) quanto Sarmento (2020) concorda. Uma resposta que pode auxiliar nesta
ponderação foi dada por John Stuart Mill (1971, apud SARMENTO, 2020, p. 163):
“a única finalidade que pode justificar o exercício legítimo de autoridade sobre
qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é impedir que
cause dano a outras pessoas”.
Sarmento (2020, p. 165), no entanto, lembra que nem todo desconforto
causado a alguém pelas escolhas alheias pode ser considerado dano, da mesma
forma que também não o é toda a frustração de um interesse, ainda que legítimo.
Ele ressalta que a ideia de dano tem sentido normativo: "dano é uma violação de um
direito”. Ele, contudo, apresenta algumas ressalvas: (a) nem sempre o dano contra
terceiros poderá justificar a imposição de restrições à liberdade (deve ser feita, de
acordo com ele, uma ponderação de interesses); e (b) há situações em que a
restrição da liberdade é admissível ainda que sem a ocorrência de dano contra
terceiro (ele cita o exemplo da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança).
No caso do objeto deste estudo, é necessário que se responda a dois
questionamentos: (a) se os atos de exposições de informações, particulares ou não,
referentes a terceiros no âmbito da cultura do cancelamento constituem violação de
direito; e (b) se a intensidade do dano causado justifica a restrição da liberdade de
expressão do agente que publicou ou compartilhou o conteúdo da exposição.
O capítulo seguinte tratará dos direitos da personalidade e dos danos

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passíveis de serem causados a eles. Espera-se que esta tratativa traga as respostas
para os dois questionamentos formulados no parágrafo anterior.

4. OS DIREITOS DA PERSONALIDADE E A AUTODETERMINAÇÃO


INFORMATIVA

O direito à privacidade se encontra disposto no artigo 5º, inciso X, da


Constituição Federal de 1988, juntamente com os demais direitos da personalidade.
Evidentemente, o direito à honra interessa sobremaneira a esta pesquisa e não
deixará de ser abordado - o que será feito adiante. O direito à privacidade (ou direito
à vida privada), no entanto, merece atenção prioritária, visto que, dadas as
exposições, ele é normalmente o primeiro direito violado pela cultura do
cancelamento.
Regina Linden Ruaro (2015) destaca que quando se fala em direito à
privacidade há duas dimensões a serem consideradas: A primeira é a social-
individual, onde se encontram os comportamentos do indivíduo que são facilmente
percebidos pela sociedade, esta é a esfera protegida pelo direito à honra. A outra
dimensão é a privada, nela se encontram os comportamentos que o indivíduo busca
manter afastados da interferência alheia. Surge então a seguinte dúvida: Como
definir se uma dada informação pertence à primeira ou à segunda dimensão? Um
princípio surgido na jurisprudência alemã mostra qual o critério para esta definição.
O princípio citado é o da autodeterminação informativa. O entendimento da
corte suprema da Alemanha acerca deste princípio evoluiu no tempo, através de
diversos julgados que tratavam do direito à privacidade. A consolidação veio
através do caso que tratou da obrigatoriedade da população fornecer dados de
natureza pessoal a um recenseamento (MENDES, 2020).
A primeira aparição neste mesmo processo ocorreu em um parecer feito por
Steinmüller et al. (1971, p. 88; 93, apud MENDES, 2020), no qual foi defendido
que da leitura da disposição constitucional que trata do livre desenvolvimento da

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personalidade “resulta um direito de autodeterminação do cidadão, segundo o qual


ele pode decidir quais informações individuais ele fornece a quem e sob quais
circunstâncias”.
O Tribunal Constitucional da Alemanha confirmaria a existência deste direito
na sentença proferida naquele mesmo processo, classificando-o como uma
resultante da combinação do livre desenvolvimento da personalidade com o
princípio da dignidade humana (MENDES, 2020). Por influência do Direito alemão,
o direito à autodeterminação informativa adentrou no ordenamento brasileiro
através da doutrina e da jurisprudência.
Ruaro (2015) defende que, apesar de não haver previsão específica do direito
à autodeterminação informativa na Constituição Federal de 1988, tal direito pode
ser aferido através de simples leitura dos incisos X, XI e XII do art. 5º. A autora
ainda destaca que no ordenamento infraconstitucional, este direito pode ser
percebido no capítulo do Código Civil de 2002 que trata dos direitos da
personalidade. A presença deste direito também pode ser constatada, desta vez de
forma expressa, no art. 2º, inciso II, da Lei Nº 13.709 de 14 de agosto de 2018, na
condição de fundamento da disciplina da proteção de dados pessoais.
A autodeterminação informativa consiste na faculdade do próprio titular da
informação decidir se determinado dado é privado, devendo neste caso ser afastado
da intervenção alheia, ou se não, situação em que não haveria ilicitude no mero
compartilhamento. A faculdade que é outorgada ao titular da informação lhe
permite decidir acerca de sua proteção, e quando ele opta pelo compartilhamento ele
não está abrindo mão do direito, pois a renúncia voluntária constituiria regular
exercício deste mesmo direito (RUARO, 2015).
Ainda que reconhecido como direito fundamental, a autodeterminação
informativa, tal como todos os outros direitos fundamentais, não é absoluta. E isso
ocorre porque há conflitos entre ela e outros direitos fundamentais, por exemplo,
aquele que é o mais comum, o que se dá entre a vontade do indivíduo de manter em

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sigilo os dados que entende como íntimos e a liberdade de expressão garantida a


todos também pela Constituição Federal de 1988 em seu art. 5º, incido IX.
Considerando que tanto a autodeterminação informativa, quanto a liberdade
de expressão decorrem de um mesmo princípio, o da dignidade da pessoa humana,
mas que ambos os direitos fundamentais decorrem de atributos diferentes da
dignidade, pode-se concluir que há na verdade um conflito entre princípios, que
conforme o defendido por Alexy (2008) não se resolve no campo da validade, como
um conflito entre regras.
Alexy (2008, p. 95) defende que o conflito entre princípios ocorre na
dimensão do peso e que só pode ser resolvido por meio do procedimento que ele
chamou de sopesamento, cujo objetivo seria “definir qual dos interesses – que
abstratamente estão no mesmo nível – tem maior peso no caso concreto”. Neste
caso, um dos princípios deverá ceder, o que não quer dizer que ele se tornará
inválido ou que será aberta uma cláusula de exceção, o princípio cedente em um
caso concreto pode ser o mesmo que terá prevalência em outro.
Este sopesamento deve ser observado nos casos de danos decorrentes da
cultura do cancelamento. O judiciário deve avaliar se no caso concreto o direito à
liberdade de expressão justifica a manutenção nas redes da informação exposta, ou
se, dada a ocorrência de lesão a direito de terceiro, a publicação deve ser deletada e
o dano reparado ou indenizado na forma que será abordada adiante. Neste ponto,
cabe lembrar que nem sempre a cultura do cancelamento será em si algo danoso e
que inexistindo dano, ou sendo este irrelevante, não há justificativa para se cercear o
direito à expressão livre.
Conforme o já mencionado, o direito à honra também está expresso no inciso
X do art. 5º da Constituição Federal de 1988, ao lado do direito à privacidade e
demais direitos da personalidade. Peña de Moraes (2010, p 533) aponta que o
direito à honra diz respeito “aos atributos ou predicados da pessoa, que a fazem
merecedora do apreço no convívio social”. De acordo com este autor, a honra pode

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ser qualificada como subjetiva ou interna, quando ela trata do decoro e da estima
própria; ou como objetiva ou externa, quando ela diz respeito ao juízo que o olhar
alheio faz de um individuo e da forma com que este olhar valora a personalidade
deste indivíduo.
Clayton Reis (2019, p. 110) observa que a constitucionalização dos danos
extrapatrimoniais teria deslocado o eixo “do excessivo patrimonialismo do passado
para, na pós-modernidade, realçar a pessoa humana como centro de valores que
devem ser protegidos contra ofensas”. Deste modo, a possibilidade de indenização
dos danos extrapatrimoniais ou morais constitui uma “ampla proteção ao patrimônio
imaterial do sujeito de direito” (REIS, 2019, p. 115).
Maria Helena Diniz (2014, p. 108) conceitua o dano moral como “a lesão de
interesses não patrimoniais de pessoa natural ou jurídica (CC, art. 52; Súmula 227
do STJ), provocada pelo fato lesivo”. O que distingue o dano moral do dano
patrimonial para a autora é o critério do interesse ou do efeito da lesão jurídica. Esta
definição permite que se aceite como dano moral o dano que decorre indiretamente
de outro dano de natureza material.
Já Carlos Riberto Gonçalves (2019, p. 247) define o dano moral como aquele
“que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio”. Ele acrescenta
ainda que é o tipo de lesão que afeta “os direitos da personalidade, como a honra, a
dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc. [...] e que acarreta ao lesado
dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação”.
Gonçalves (2019) defende que o que se deve reputar como dano moral é a
dor, o vexame, o sofrimento ou a humilhação que ao fugir da normalidade interfira
no psicológico do indivíduo. Diniz (2014, p. 111) pontua, no entanto, que apesar
destes males serem requisitos do dano moral, este não se confunde com eles, pois “o
direito não repara qualquer padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que forem
decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a vítima teria interesse
reconhecido juridicamente”.

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A reparação do dano moral teria para Diniz (2014) dupla natureza, penal e
compensatória, compensatória em relação à vítima e penal por constituir encargo a
ser suportado pelo causador do dano. Reis (2019) leciona que a função primordial é
a compensatória, porém, de acordo com ele, dadas as novas demandas e a
plasticidade/mobilidade da responsabilidade civil no tempo, a reparação acaba por
adquirir também a condição de instrumento de desestímulo de comportamentos
ofensivos.
Para que se possa compreender o desafio que os danos de origem difusa
representam para o ordenamento, é pertinente que se avalie também as formas
existentes de reparação do dano. Reis (2019) reconhece que o condão da reparação
do dano moral não é o de reconstituir um patrimônio da vítima, o que se busca é
proporcionar a ela alguuma satisfação, por isso, em regra, a modalidade de
reparação usada é a pecuniária, o que não obsta que se recorra a outras formas de
reparação, como, por exemplo, a retratação pública feita pelo ofensor.
No caso do dano de origem difusa decorrente da cultura do cancelamento,
tão importante quanto a reparação de natureza pecuniária é a adoção de medidas
outras que façam cessar o fato gerador do dano, ou que ao menos atenue os seus
efeitos. Dadas as características dos fluxos de comunicação no ambiente web, é
importante que tais medidas desincentivem novas ocorrências do fato danoso e,
quando se tratar de calúnias ou informação falsa sobre a pessoa cancelada, que elas
façam com que a informação correta ou o contradito tenham tempo similar de
exposição e alcance o mais próximo o possível do obtido pelo conteúdo danoso.

5. INSTRUMENTOS PARA A TUTELA DOS DIREITOS DA


PERSONALIDADE

Neste capítulo serão analisadas as disposições presentes no direito material e


processual que digam respeito à tutela dos direitos da personalidade, em especial
sobre os casos ocorridos no ambiente web. A proposta de se fazer este apanhado não

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é a de esgotar o assunto listando todas as disposições concernentes, o que seria um


trabalho dispendioso e tangencial ao projeto de pesquisa. O que se fará é uma
análise dos principais diplomas e disposições, tendo como referencial as
formulações de Robert Alexy (2018) acerca dos elementos constitutivos do direito,
o da legalidade conforme o ordenamento, o da eficácia social e o da pretensão de
correção material.
Na construção teórica proposta por Alexy (2018), a legalidade conforme o
ordenamento diz respeito à conformidade da norma em relação à Constituição; a
eficácia social se refere à produção de efeitos daquela norma no meio social ao qual
ela se destina, ou à probabilidade de que isso aconteça; e a pretensão de correção
material guarda relação com a vontade de que a norma produza no meio social o fim
a que ela se destina, o que pressupostamente tornaria aquele meio mais justo.

5. 1. AS GARANTIAS PRESENTES NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Ainda que as disposições constitucionais acerca dos direitos da personalidade


já tenham sido abordadas neste trabalho, é válido relembrá-las aqui, pois delas
decorrem toda a legislação infraconstitucional sobre o tema. A proteção de tais
direitos poderia ser deduzida do princípio da dignidade da pessoa humana, assumido
como fundamento da república no art. 1º, inciso III, da carta constitucional,
contudo, a constituinte optou por deixá-lo expresso no rol dos direitos
fundamentais.
Esta proteção se encontra positivada no art. 5º da Constituição, mais
precisamente no inciso V, que assegura “o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”, e no inciso X,
que dispõe que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.

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5. 2. OS DISPOSITIVOS PRESENTES NO CÓDIGO CIVIL DE 2002

As disposições constitucionais emanam para o ordenamento


infraconstitucional e no Código Civil de 2002 se materializam no capítulo que trata
dos direitos da personalidade (arts. 11 a 21) e nos títulos que tratam dos atos ilícitos
e da responsabilidade civil. O art. 11 dispõe sobre a intransmissibilidade e
irrenunciabilidade dos direitos da personalidade, o que impede que haja renúncia
voluntária da parte do titular. O art. 12 trata sobre a possibilidade de fazer cessar “a
ameaça, ou a lesão, a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei”.
O art. 17 dispõe sobre a proteção do nome da pessoa natural, que não pode
ser empregado por outros em situações que configurem exposição ao desprezo
público, ainda que a finalidade não seja a difamação. O art. 20 trata de uma proteção
mais ampla, que vai além do nome da pessoa:

Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à


manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da
palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a
respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais (BRASIL, 2002).

Já o art. 21 trata da inviolabilidade da vida privada da pessoa natural,


dispondo que a requerimento do interessado, o juiz poderia fazer cessar ato que
contrariasse esta disposição. Os artigos 20 e 21 foram, no ano de 2015, objetos de
Ação Declaratória de Inconstitucionalidade de número 4.815 (SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, 2015) que versava sobre a necessidade de autorização para
a produção de biografias. Na decisão o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu
pela dispensabilidade de autorização prévia para a produção deste tipo de obra. A
Ministra Carmem Lúcia, responsável pela relatoria, decidiu através do sopesamento
que nestes casos o direito à informação e à liberdade de expressão deveriam
prevalecer, contudo, ela ressalvou o direito do biografado a indenização no caso de

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transgressão de seus direitos.


Já no título que trata dos atos ilícitos, o Código Civil traz, em seu art. 186,
que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito”. Já no título que trata da responsabilidade civil, o diploma garante, em seu
artigo 927, que “aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo” (BRASIL, 2002). No tocante à indenização está disposto no art. 944 que
ela “mede-se pela extensão do dano” e no art. 953 que “a indenização por injúria,
difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao
ofendido”.
Da análise das disposições acima, pode-se observar que na elaboração do
código buscou-se de fato materializar o direito previsto na Constituição de 1988. O
diploma de 2002 é claro ao tratar destes direitos, ao mencionar como ilícitos o ato
atentatório contra eles e ao mencionar a possibilidade de indenização. Contudo, uma
crescente popularização do acesso à internet aliada às significativas mudanças nos
fluxos de comunicação, devido ao surgimento das redes sociais e aplicativos de
mensagens instantâneas, fez com que a mera positivação de tais dispositivos se
tornasse insuficiente para a tutela.

5. 3. OS DISPOSITIVOS PRESENTES NO MARCO CIVIL DA INTERNET

Uma significativa evolução no que diz respeito aos ilícitos cometidos na


internet foi a aprovação da Lei nº 12.965 de 23 de abril de 2014, o Marco Civil da
Internet, que regulamentou e impôs limites, ao mesmo tempo em que garantiu
direitos aos usuários da rede mundial de computadores.
Tendo como alguns de seus princípios a proteção da privacidade e a proteção
de dados pessoais na forma da lei, o Marco Civil da Internet assegurou, dentre
outros, os seguintes direitos: (I) a inviolabilidade da intimidade e da vida privada,
sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
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(II) inviolabilidade do sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por
ordem judicial, na forma da lei; e (III) inviolabilidade e sigilo de suas comunicações
privadas armazenadas, salvo por ordem judicial.
Na Sessão que trata da proteção aos registros, aos dados pessoais e às
comunicações privadas, a Lei nº 12.965 dispõe em seu art. 10 sobre “a
obrigatoriedade da observância da preservação da intimidade, da vida privada, da
honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas” (BRASIL, 2014),
e ainda que o provedor responsável pela guarda de tais dados estaria obrigado a
fornecer tais registros em caso de determinação judicial e somente nesta hipótese.
Conforme o art. 11 da mesma lei, todos os provedores que exercessem no
Brasil ao menos uma das seguintes atividades: coleta, armazenamento, guarda e
tratamento de registros; estariam obrigados a cumprir o disposto na legislação
nacional sobre a matéria, estando sujeitos, no caso de descumprimento, conforme
art. 12, às sanções previstas nesta lei (advertência, multa, suspensão e proibição),
sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas.
De acordo com o art. 18, o provedor, no entanto, “não será responsabilizado
civilmente por dano decorrente de conteúdo gerado por terceiro” (BRASIL, 2014,
on-line), salvo quando não tornar o conteúdo indisponível em duas hipóteses: no
prazo determinado por decisão judicial específica (art. 19), ou após o recebimento
de notificação do participante ou de seu representante legal quando se tratar de
divulgação sem autorização de material contendo cenas de nudez ou de ato sexual
de caráter privado (art. 21).
Nas disposições que tratam de questões processuais, o Marco Civil da
Internet traz a necessidade de que o conteúdo apontado como infringente seja
identificado de forma clara e específica, de modo que se permita sua localização
inequívoca (art. 19, § 1º).
As causas que tratarem de dano à honra ou aos direitos da personalidade
poderão ser apresentadas nos juizados especiais (art. 19, § 3º), sendo que nestes

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casos o juiz poderá conceder tutela antecipada parcial ou total se existir prova
inequívoca do fato, desde que presentes os requisitos de verossimilhança do que se
alega e receio fundado que ocorra dano irreparável ou de difícil reparação, devendo
o juiz considerar também o interesse social na manutenção do conteúdo publicado
(art. 19, § 4º).
A lei traz ainda a possibilidade de processo coletivo no polo ativo para a
defesa dos direitos assegurados por ela, todavia é silente em relação à possibilidade
de processo coletivo no polo passivo, que poderia ser útil no caso de danos de
origem difusa.

5. 4. OS DISPOSITIVOS PRESENTES NA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE


DADOS PESSOAIS

Tal como o Marco Civil da Internet, a Lei Geral de Proteção de Dados


Pessoais (BRASIL, 2018), representou um significativo avanço na tutela dos
direitos da personalidade, em especial na materialização do princípio da
autodeterminação informativa, já abordado no capítulo anterior, que figura art. 2º
como um dos fundamentos do diploma, ao lado de outros como o respeito à
privacidade, a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem e os direitos
humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da
cidadania pelas pessoas naturais.
O avanço mencionado não se deu apenas pelo fato de ter trazido de forma
expressa o princípio da autodeterminação informativa, mas também por delimitar a
abrangência do direito à privacidade, o que se tornou possível através da
classificação dos dados trazida pelo art. 5º, como dados pessoais, pessoais sensíveis
e anomizados, sendo que quem determina o que é sensível ou não são os próprios
titulares da informação a quem é facultado deliberar sobre quais de seus dados
devem ou não ser protegidos. A lei traz ainda uma conceituação necessária, que
abrange a cadeia de tratamento de dados e os procedimentos aos quais eles são

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submetidos.
No capítulo que trata dos direitos dos titulares, o diploma dispõe, mais
precisamente no art. 17, que “toda pessoa natural tem assegurada a titularidade de
seus dados pessoais e garantidos os direitos fundamentais de liberdade, de
intimidade e de privacidade” (BRASIL, 2018, on-line) e ainda que o titular dos
dados pessoais tem o direito a obter do controlador, pessoa a quem compete as
decisões sobre o tratamento dos dados, mediante requisição, dentre outras coisas, a
anomização, bloqueio ou eliminação de dados desnecessários, excessivos ou
tratados em desconformidade com o disposto na lei, eliminação dos dados pessoais
tratados com o consentimento do titular após o término da relação, salvo nas
hipóteses previstas na própria lei, conforme art. 18, §§, V e VI.

5. 5. OS DISPOSITIVOS PRESENTES NO CÓDIGO PENAL E EM OUTROS


DIPLOMAS DE CONTEÚDO PENAL

No Código Penal a tutela dos direitos da personalidade está materializada no


capítulo que trata dos crimes contra a honra, que são a calúnia (art. 138), a
difamação (art. 139) e a injúria (art. 140). De acordo com a tipificação, a calúnia
consistiria em atribuir a alguém um fato definido como crime; a difamação se daria
com a imputação de fato ofensivo à reputação, enquanto que a injúria ocorreria
quando fosse ofendida a dignidade ou o decoro de alguém. O art. 140, § 3º prevê
qualificadora para o crime de injúria quando esta utilizar de elementos referentes a
raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência.
Existe ainda previsão de tipos penais específicos no Código Penal Militar
(Decreto-lei 1.001/1969) e no Código Eleitoral (Lei 4.737/1965). No Código Penal
Militar há a previsão da calúnia no art. 214, da difamação no art. 215, da injúria no
art. 216 e ainda da injúria real no art. 2017. Esta última ocorre quando a injúria
“consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo

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meio empregado, se considera aviltante” (BRASIL, 1969, on-line).


Já o Código Eleitoral (BRASIL, 1965, on-line) dispõe em seu art. 243, IX,
que não será tolerada propaganda eleitoral que “caluniar, difamar ou injuriar
quaisquer pessoas, bem como órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública”,
sendo, conforme art. 243, § 3º, garantido ao ofendido o direito de resposta e, de
acordo com o art. 243, § 1º, a indenização pelo dano moral sofrido, devendo
responder pelo dano o ofensor e, solidariamente, o seu partido. Tais práticas
reaparecem no mesmo diploma no capítulo que trata dos crimes eleitorais, com as
seguintes tipificações:

Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda,


imputando-lhe falsamente fato definido como crime [...].
Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de
propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação [...].
Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de
propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro [...]. (BRASIL, 1965,
on-line).

O código eleitoral traz ainda no rol de crimes eleitorais a tipificação do crime


de compartilhamento de notícias falsas, as fake news: “Divulgar, na propaganda,
fatos que sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de
exercerem influência perante o eleitorado”. Projetos de lei que se encontram
atualmente em trâmite tratam da criminalização das fake news fora do contexto
eleitoral.

6. UMA BREVE ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS DO DIREITO À LUZ DA


TEORIA DE ROBERT ALEXY

Tendo como referencial a posição de Robert Alexy (2008) acerca dos


princípios como mandados de otimização, é pertinente que se busque, por meio da
análise da legislação material e da processual abordadas no capítulo anterior,
identificar qual seria a maior medida possível de aplicação dos princípios da
dignidade da pessoa humana e da autodeterminação informativa, considerando as

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possibilidades fáticas e jurídicas.


Ao se analisar os dispositivos elencados, é possível constatar que em todos
eles estão presentes os três elementos constitutivos do direito ( ALEXY, 2018). Todos
estão em conformidade com as disposições constitucionais sobre a matéria, o que
lhes confere legalidade conforme o ordenamento. Há em todos eles uma pretensão
de correção material, visto que se destinam à garantia de direitos fundamentais que
o são em razão de um princípio elevado à condição de fundamento da república. O
problema reside é no aspecto da eficácia social, pois apesar deste aspecto estar
presente na maior parte das situações em que os dispositivos precisam aplicados, há
circunstâncias específicas em que estes não têm produzido os efeitos esperados,
como é o caso dos danos de origem difusa.
É possível notar que as disposições presentes no direito material são
satisfatórias para a tutela dos direitos da personalidade. O ordenamento pátrio prevê
a possibilidade de dano de natureza moral e que este tipo de dano possa ser
indenizado quando não for possível a reparação de outra forma. O ordenamento
prevê ainda a possibilidade de direito de resposta, retratação e outras medidas que
visam reduzir a intensidade do dano. Há, conforme o abordado, a criminalização de
condutas que atentam contra a honra e ainda a possibilidade de que o próprio
indivíduo determine quais de seus dados pessoais são sensíveis e que, por isso,
devem ser mantidos em sigilo.
É pertinente que se indague o porquê de ser ainda tão complexo para o
ordenamento lidar com os casos de danos com origem difusa, como os decorrentes
da cultura do cancelamento e de outros fenômenos que culminem em linchamentos
virtuais. Pode-se concluir que não se trata de lacunas ou de insuficiência no direito
material, mas de falta de instrumentos adequados no direito processual.
As disposições do direito processual tem se mostrado insuficiente para o
exercício da jurisdição nos casos que envolvem uma multiplicidade de fontes de
propagação de um conteúdo danoso, principalmente quando os responsáveis por

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esta propagação estão geograficamente distantes entre si, o que tem sido uma
realidade comum dada a já abordada natureza da comunicação no ambiente web.
Algumas perguntas permanecem sem resposta satisfatória: como precisar
quantas vezes um assunto que se torna viral foi publicado ou compartilhado por
veículos de imprensa e por indivíduos atomizados? Como definir quem será ou não
processado? Como identificar todos os responsáveis? Como evitar que o mesmo
conteúdo continue a ser propagado? E, o mais importante, como recorrer ao
judiciário nestes casos?
Surge então outro questionamento: pode-se falar em eficácia social das
normas presentes no direito material? Alexy ajuda a responder a esta última
pergunta, ao defender que a validade social de uma norma “pode ser reconhecida
com o auxílio de dois critérios: o da observância e o da punição da não
observância”. Ao tratar deste elemento do direito, Alexy (2018, p. 102) defende
que:

A eficácia social e, por conseguinte, a validade social de uma norma é


uma questão de grau. Assim, uma norma que é observada em 80% de
todas as situações de aplicação e cuja não observância é punida em 95%
dos casos tem um grau de eficácia muito alto. Em contrapartida, é muito
insignificante o grau de eficácia de uma norma que só e observada por
5% de suas situações de aplicação e cuja não observância é punida em
apenas 3% dos casos.

Não é objetivo deste trabalho calcular os percentuais de observância e de


inobservância punida das normas acima. Contudo, da própria natureza da
comunicação na web associada ao modo de agir na cultura do cancelamento,
permite inferir que nesta situação específica, a dos danos de origem difusa, as
normas não têm demonstrado uma eficácia satisfatória, visto que, dada as múltiplas
fontes do dano, a imposição de encargos por força judicial sobre uma parcela delas
não repara o dano, tão pouco impede que ele continue a ser praticado por outras
fontes.
Alexy (2008, p. 116) defende a tese da máxima proporcionalidade, segundo a

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qual o nível de aplicação dos princípios deve ser o máximo possível considerando
três máximas: “da adequação, da necessidade (mandamento do meio menos
gravoso) e da proporcionalidade em sentido estrito (mandamento do sopesamento
propriamente dito)”.
Conforme o que já se mostrou, o problema da eficácia social das normas de
direito material que conferem proteção aos direitos da personalidade no caso
específico dos danos de origem difusa não está relacionado ao conflito com outros
princípios, trata-se, neste caso, da falta de instrumentos processuais adequados.
Deste modo, há uma evidente limitação das possibilidades jurídicas, que, contudo,
não deve ser analisada como algo já determinado, como ocorreria no caso do
conflito com outro princípio que limitasse a extensão daquele protegido por estas
normas.
A limitação jurídica, que decorre da falta de instrumentos processuais
adequados, também não deve ser analisada como um fenômeno isolado, as
possibilidades fáticas devem ser levadas em consideração e isso inclui o
reconhecimento das peculiaridades dos fluxos de comunicação na web. A oferta de
uma solução viável para a questão que se encontra posta passa necessariamente pelo
reconhecimento da insuficiência de dispositivos processuais e pela compreensão de
que o ordenamento pode preencher a lacuna existente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura do cancelamento, que consiste no ato de expor posturas ou


condutas reprováveis e exigir reposicionamento, retratação ou punição, tem
conseguido resultados importantes, principalmente quando os cancelados são
pessoas dotadas de poder midiático ou institucional, situação na qual o
cancelamento resulta em um equilíbrio de forças que dificilmente aconteceria de
outra forma. Contudo, há situações em que das exposições ou da pressão posterior
resultam danos de difícil reparação, nestes casos a cultura do cancelamento passa a
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interessar ao direito.
Quando os limites são extrapolados, a cultura do cancelamento se confunde
com o linchamento virtual, um tipo de justiçamento que se aproveita da velocidade
das comunicações nas redes e de um relativo anonimato. A própria natureza da
comunicação na web torna a reparação um tanto difícil, principalmente quando o
conteúdo danoso viraliza. A rapidez com que a informação é disseminada, aliada à
multiplicidade de emissores, faz com que seja necessário agir rápido para minimizar
os efeitos danosos daquele conteúdo.
A análise da posição do direito diante do dano de origem difusa decorrente
da cultura do cancelamento passa necessariamente pela investigação da extensão do
efeito dos princípios da dignidade da pessoa humana e da autodeterminação
informativa no ordenamento pátrio.
O princípio da dignidade da pessoa humana pressupõe que cada indivíduo
seja tratado não como meio, mas como fim em si mesmo, tendo reconhecido e
protegido o valor intrínseco, que decorre do simples fato dele ser humano. Alçado
pela Constituição de 1988 à condição de fundamento da república, a dignidade
humana emana da carta maior para todo o ordenamento.
O segundo princípio, o da autodeterminação informativa, é em si uma
decorrência do primeiro, ele trata da liberdade que cada indivíduo deve ter de
decidir quais, dentre os seus dados pessoais, são sensíveis e devem ser protegidos.
Deste princípio decorre parte dos direitos da personalidade, dentre eles o direito à
privacidade, e os dispositivos presentes no ordenamento para a tutela de tais
direitos.
Da análise dos dispositivos presentes tanto no direito material quanto no
direito processual, percebe-se que a dificuldade em reparar o dano de origem difusa
não decorre de carência ou lacuna no direito material. Os dispositivos presentes,
tanto em diplomas civis quanto penais, abarcam pela abrangência os diversos tipos
de danos e preveem tipos adequados de reparação ou indenização do dano causado.

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O problema reside na carência de dispositivos processais que possuam


aplicabilidade em um contexto no qual o dano tem origens múltiplas e
geograficamente dispersas.
Diante disso, é possível concluir que a validade social das normas de direito
material analisadas não tem sido satisfatória em algumas situações, não por falha
decorrente delas em si, mas em decorrência da dificuldade encontrada pelo
judiciário no exercício da jurisdição. Considerando os princípios como mandados de
otimização, é necessário que se busque a máxima aplicação deles, principalmente
nas situações em que injustificavelmente eles deixam de produzir efeitos
perceptíveis, o que tem ocorrido no caso do objeto deste trabalho não por conflito
com outros princípios e nem tão somente por limitações fáticas, mas por lacunas
que podem vir a ser preenchidas.
As soluções, portanto, precisam ser buscadas no campo da lege ferenda, com
a ciência de que o Direito deve acompanhar as transformações sociais e culturais,
sob pena de se tornar inócuo. A investigação de tais soluções não é objetivo deste
trabalho, que se resume a fazer um breve diagnóstico do problema, tal investigação,
todavia, merece ser tema de novas pesquisas, que terão a favor de sua relevância a
urgência com a qual o Direito precisa oferecer tais soluções.

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