Você está na página 1de 88

INTERPRETAÇÃO DE EXAMES

LABORATORIAIS

FELIPE PEREIRA – MÉDICO DO ESPORTE


RESIDÊNCIA MÉDICA EM MEDICINA ESPORTIVA – UNIFESP
ESPECIALIZAÇÃO EM NUTROLOGIA – ABRAN / HIAE
POR ONDE MEU PACIENTE
ESTÁ (OU PODERÁ)
PERDENDO SAÚDE E/OU
DESEMPENHO?
POR QUAIS VIAS PODE
MELHORAR?
INTRODUÇÃO
BIOMARCADORES NO EXERCÍCIO E NO ESPORTE

 Nutrição e saúde metabólica


 Hidratação
 Condição muscular
 Capacidade de resistência aeróbia de longa duração –
“Cardiovascular Endurance Performance”
 Risco e condição de lesões
 Inflamação
ELABORAR ESTRATÉGIAS QUE PROVOQUEM MELHORIAS
MÁXIMAS DE DESEMPENHO, MINIMIZANDO O EXCESSO DE
TREINAMENTO E O RISCO DE LESÕES.
Lee EC, Fragala MS, Kavouras SA, Queen RM, Pryor JL, Casa DJ. Biomarkers in Sports and
Exercise: Tracking Health, Performance, and Recovery in Athletes. J Strength Cond Res.
2017;31(10):2920–2937. doi:10.1519/JSC.0000000000002122
Lee EC, Fragala MS, Kavouras SA, Queen RM, Pryor JL, Casa DJ. Biomarkers in Sports and
Exercise: Tracking Health, Performance, and Recovery in Athletes. J Strength Cond Res.
2017;31(10):2920–2937. doi:10.1519/JSC.0000000000002122
QUEDA DE DESEMPENHO
 Overtraining
 Nutrição inadequada (macro e micronutrientes)
 Sono insuficiente
 Desidratação
 Asma ou broncoespasmo induzido pelo exercício
 Alergias e intoxicações
 Jet Lag
 Distúrbios neuropsíquicos
 Medicações
 Hipotireoidismo subclínico e clássico
 Concussão cerebral Brukner & Khan’s, 2011
CONDIÇÃO / RECUPERAÇÃO MUSCULAR
 CK / BUN (UREIA) / MIOGLOBINA – ANÁLISE INTEGRADA!
 CK (CREATINOFOSFOQUINASE)
VR: HOMEM = 82-1083 / MULHER = 47-513 (??????)
Pico aprox. 24 horas após o exercício
Pode permanecer elevada por até 7 dias
 MIOGLOBINA
Pico 1-3 horas após o exercício
VR: < 0,15mcg/dL
 BUN (UREIA)
Síntese proteica x quebra
TRANSAMINASES (AST/TGO E ALT/TGP)
 Marcadores de inflamação hepática
 Níveis elevados -> marcadores de inflamação muscular
 Demais condições -> trauma muscular, infarto do
miocárdio, cirurgia
 AST < ALT (20%) -> ambas costumam se afetar
 Permanecem elevadas por uma semana
 Exercícios de força, atividade laboral manual, aeróbios
extremos
 1 a 2 vezes o limite superior de normalidade

Sjogren MH, ed. Transaminase Levels and VigorousExercise.


Gastroenterology & Hepatology. 2007;3(12):913-914.
GAMA GT

↑ relação lactato/piruvato → ↑
estresse oxidativo intracelular →
aciono sistema antioxidante
endógeno (glutationa e catalase) ->
o aumento da GGT denota uma
incapacidade de suprir a resposta
oxidativa.
HIDRATAÇÃO
 Perdas agudas de peso → grau de desidratação
 1 ml de perda hídrica cutânea (suor) ou renal (urina) → ↓ 1
grama de peso corporal
 Estado de desidratação > 2% = decréscimo de performance,
função cognitiva, humor, hipertemia, insolação.
 Sódio sérico / Osmolaridade plasmática (> 295mmol/kg)
 Razão BUN/Creatinina > 20 (N U/C)
BUN (nitrogênio ureico sanguíneo) x 2,14 → Ureia em mg/dL
 Avaliação da urina
Gravidade esp. (USG) ≥1.020 / Osmol. (UOsm) ≥700mmol/kg
Cor
 Sede – marcador tardio
 Saliva
8-POINT URINE COLOR SCALE
(Dr. Lawrence Armstrong)
A CORREÇÃO DE MICRONUTRIENTES
E MACRONUTRIENTES É EM MUITOS
CASOS O PRIMEIRO PONTO DE
INTERVENÇÃO EM ATLETAS DE ALTO
RENDIMENTO, E QUE ESTÁ LEVANDO
A DIVERSAS IMPLICAÇÕES
METABÓLICAS.
METABOLISMO DE MICRONUTRIENTES
 Vitamina D - 25-hidroxivitamina D (25(OH)D)
VR: ao redor de 50 ng/mL
 Vitaminas do complexo B – regulação do metabolismo energético
(síntese e degradação de macronutrientes e compostos bioativos)
Vitamina B12 – VR: > 300 ng/L
Ácido fólico (B9) – VR: > 5,4 ng/mL
 Ferritina / Ferro / Transferrina
Ferro + B9 + B12 → síntese de hemoglobina → transporte de
oxigênio
 Magnésio
VR: 1,6-2,6 mg/dL
 Zinco – deficiência prevalente em atletas de endurance
VR: 0,5-1,1 μg/mL
FERRO / FERRITINA / TIBC
 Atletas de endurance e sexo feminino são mais propensos
Sangramento menstrual
Sangramento gastrointestinal relacionado ao exercício
Baixa ingesta dietética
Hematúria
Sudorese
Absorção intestinal ruim → inflamação subclínica induzida
pelo exercício
Destruição eritrocitária → repetidas batidas dos pés
Uso de AINES
FERRO / FERRITINA / TIBC
 Transporte de oxigênio e fosforilação oxidativa →
metabolismo aeróbio e capacidade de resistência aeróbia
de longa duração
 Deficiência funcional de ferro x anemia
 Ferritina – pode estar falsamente elevada em um estado
inflamatório subclínico – VR: > 35 μg/L
 Saturação de transferrina – VR: > 16%
 TIBC (Capacidade Total de Ligação do Ferro)
VR: 250-425 μg/dL
Indicador mais estável
Variação diária é baixa (8-12%)
Não altera antes dos estoques de ferro depletarem
International Journal of Endocrinology, 2014
Sports Health, 2012
Sports Health, 2012
HEMOGRAMA
(ERITROGRAMA – SÉRIE VERMELHA)
 Correlacionar dados da série vermelha (hemácias,
hemoglobina, hematócrito) com deficiência de ferro, B12
e ácido fólico (B9).
Direitos Autorais Marcelo Carvalho
METABOLISMO DE MACRONUTRIENTES

 Ureia – produto da degradação proteica - 10 a 50 mg/dL


 Elevação: alta ingesta proteica, catabolismo, treino
exaustivo, febre, infecção, uso de corticoides,
desidratação, excreção renal prejudicada.
 Diminuição: baixa ingesta proteica, desnutrição /
inanição.
 Na ausência de doença: ↓ proteína total ↓albumina ↑ureia
= indicativo de insuficiência proteica em atletas
 Se a ingesta proteica parece estar suficiente para o
atleta, ureia e albumina podem indicar outras questões
relevantes.
 Creatinina – associar na interpretação - 0,6 a 1,3 mg/dl
SENSIBILIDADE INSULÍNICA – HOMA-IR
 HOMA-IR < 2,15
 Método mais sensível e específico
 Amplamente utilizado em estudos populacionais
 Rápido
 Validado
 Fácil aplicação
 Menor custo
 A alteração nos níveis de insulina já antecede a glicemia de
jejum alterada.
 Envolve a interação de múltiplos fatores (genéticos, sexo,
idade, sedentarismo, hábitos alimentares, tabagismo,
etilismo, excesso de peso e/ou gordura corporal).
de Luca C, Olefsky JM. Inflammation and insulin resistance. FEBS Lett.
2008;582(1):97–105. doi:10.1016/j.febslet.2007.11.057
INFLAMAÇÃO SUBCLÍNICA
PROTEÍNA C REATIVA
HOMOCISTEÍNA
HOMOCISTEÍNA
A LDL oxidada apresenta efeito citotóxico,
inibindo a proliferação e a motilidade
espontânea de células endoteliais de artérias
coronárias humanas em cultura,
proporcionalmente à concentração e ao grau
de oxidação da LDL, enquanto a LDL nativa é
relativamente inócua.
EQUILÍBRIO
“Estado de um corpo
que se mantém, ainda
que solicitado ou
impelido por forças
opostas.”
CORTISOL É
FUNDAMENTAL!

Burini et al., 2010


ADRENAL

TIREOIDE

GÔNADAS

INSULINA
ESTÍMULO

RESPOSTA

ADAPTAÇÃO
RELAÇÃO TESTOSTERONA/CORTISOL

Redução ↑ 30% na relação T/C → estado


catabólico > anabólico → avaliação longitudinal
do treinamento e predição do desempenho.

Burini et al., 2010


Atleta de MMA profissional, 32 anos.

IGF-1
- 20 a 29 anos: 142 - 351 ng/mL
- 30 a 39 anos: 124 - 309 ng/mL
- 40 a 49 anos: 112 - 282 ng/mL

CORTISOL SÉRICO X CORTISOL SALIVAR


- 7 e 9h: 6 a 18,4 microg/dL
- Saliva (3 a 4 amostras) – análise mais
ampla da variação ao longo de 24 horas
/ mulheres usuárias de ACO.
J Clin Endocrinol Metab, March 2017
Nature, 2015
Nature, 2015
De Souza et al, Br J Sports Med 2014
Br J Sports Med 2015;49:421–423. doi:10.1136/bjsports-2014-094559
De Souza et al, Br J Sports Med 2014
CASO CLÍNICO
 JAD, feminino, 29 anos, triatleta profissional, queixa-se
de dor na face anterior da perna direita, de início há 2
meses, com piora nos últimos 15 dias, especialmente
durante os treinos de corrida. Nega traumas.
 Quadro clínico associado: ansiedade, distúrbio do sono,
dores articulares difusas, queda acentuada de libido,
perda de massa muscular.
 Exame físico e investigação laboratorial -> descartadas
causas subjacentes.
 Privação alimentar descoordenada visando perda de
peso. Não menstrua há 18 meses.
 Z escore -> -3 -> baixa densidade mineral óssea.
Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism,
v. 96, n. 12, 2011.
TIREOIDE E METABOLISMO

 Hormônios tireoidianos -> síntese proteica e


enzimática
↑ tamanho e número de mitocôndrias
↑ atividade contrátil do coração
 Absorção rápida de glicose
 Incrementoda glicólise, glicogenólise,
gliconeogênese, mobilização de lipídios.

Ward et al., 2016


TIREOIDE E DESEMPENHO ESPORTIVO
 Fadiga
 Mialgia
 Cãibras
 Polineuropatia (fraqueza proximal e diminuição dos
reflexos)
 Atrofia fibras tipo II
 Prejuízo no acúmulo de glicogênio – recuperação
 Severidade dos sintomas x alterações bioquímicas:
SEM correlação!

Ward et al., 2016


CASO CLÍNICO

 DFA, masculino, 27 anos, lutador profissional de


MMA competindo no UFC. Está em fase de
preparação para lutar em 61 dias.
 Realizando restrição calórica não estratégica
visando perda de peso.
 Quadro clínico associado: irritabilidade, perda de
concentração nos treinos, sono agitado,
voracidade por doces, queda importante de
libido.
COLETA 1
(BASAL)
TESTOSTERONA TOTAL 752

CORTISOL 13

SHBG 51

IGF-1 258

25-OH-VITAMINA D 31

TSH 1,6

PESO CORPORAL / PGC 73,4KG / 17%


COLETA 1 COLETA 2
(BASAL)
TESTOSTERONA TOTAL 752 430

CORTISOL 13 24

SHBG 51 84

IGF-1 258 182

25-OH-VITAMINA D 31 28

TSH 1,6 3,8

PESO CORPORAL / PGC 73,4KG / 17% 70,2KG / 15%


COLETA 1 COLETA 2 COLETA 3
(BASAL) (+ 20 DIAS)
TESTOSTERONA TOTAL 752 430 680

CORTISOL 13 24 15,9

SHBG 51 84 38

IGF-1 258 182 233

25-OH-VITAMINA D 31 28 39

TSH 1,6 3,8 1,8

PESO CORPORAL / PGC 73,4KG / 17% 70,2KG / 15% 69,2 / 14%

INTERVENÇÕES:
- AJUSTE DIETÉTICO
- RHODIOLA ROSEA – 300MG 2X/DIA
- ASHWAGANDA – 200MG 2X/DIA
- L-TRIPTOFANO – 1000MG 1X/DIA (NOITE)
- VITAMINA D3 – 50.000UI 1X/SEMANA
COLETA 1 COLETA 2 COLETA 3 COLETA 4
(BASAL) (+ 20 DIAS) (+ 25 DIAS)
TESTOSTERONA TOTAL 752 430 680 671

CORTISOL 13 24 15,9 16,5

SHBG 51 84 38 40

IGF-1 258 182 233 225

25-OH-VITAMINA D 31 35 39 70

TSH 1,6 3,8 1,8 1,2

PESO CORPORAL / PGC 73,4KG / 17% 70,2KG / 15% 69,2 / 14% 67,8KG / 11%

INTERVENÇÕES:
- AJUSTE DIETÉTICO
- RHODIOLA ROSEA – 300MG 2X/DIA
- ASHWAGANDA – 200MG 2X/DIA
- L-TRIPTOFANO – 1000MG 1X/DIA (NOITE)
- VITAMINA D3 – 50.000UI 1X/SEMANA
CASO CLÍNICO

 RTD, masculino, 25 anos, procura auxílio médico 25 dias após


finalizar ciclo hormonal de 10 semanas, visando aumento de
massa muscular e perda de gordura corporal. Relata realizar 2
a 3 ciclos por ano, com intervalos aproximados de 2 meses.
 Possui histórico pessoal de uso de drogas recreativas.
 Histórico familiar: cardiopatia (pai e tios paternos), transtorno
bipolar (mãe e irmão).
 Componentes: Propionato de Testosterona + Acetato de
Trembolona + Oxandrolona + Estanozolol + GH + Anastrozol.
 Queixas: depressão, labilidade de humor, acne severa em
região dorsal, ausência de libido, sono excessivo durante o
dia, dores articulares (joelhos e ombros).
COLETA 1
FSH 0,2

LH 0,15
TESTOSTERONA 101 / 31
EXAME FÍSICO:
TOTAL / DHT
TGO (AST) 250 - PA: 140x85mmHg
TGP (ALT) 180 - FC: 91bpm
GAMA-GT 80 - SO2: 98%
CK 190 - FR: 22rpm
LDL / HDL 230 / 6 - EDEMA DE MMII: ++/++++
S-DHEA 21
CORTISOL 7,1
ESTRADIOL < 0,5
INSULINA 15
PGC 21%
COLETA 1 COLETA 2
FSH 0,2 1,5

LH 0,15 1,3
EXAME FÍSICO:
TESTOSTERONA 101 / 31 280 / 28
TOTAL / DHT
TGO (AST) 250 65 - PA: 140x85mmHg
TGP (ALT) 180 52 - FC: 91bpm
GAMA-GT 80 45 - SO2: 98%
CK 190 230 - FR: 22rpm
LDL / HDL 230 / 6 170 / 18 - EDEMA DE MMII: ++/++++
S-DHEA 21 92
CORTISOL 7,1 11
ESTRADIOL < 0,5 16
INSULINA 15 8
PGC 21% 18%
www.wada-ama.org
www.globaldro.com
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Nem sempre se corrige uma alteração hormonal
prescrevendo hormônios.
 Valores mais elevados em exames não necessariamente
indicam maior eficácia ou ação – sensibilidade.
 Não se “cria” um atleta de elite em um ano e nem se
prepara em um mês. Além disso, cada preparação é uma
realidade própria e também de adaptação ao oponente ou
competição.
 Quanto maior o overuse metabólico e musculoesquelético,
mais cuidadoso deve ser o planejamento.
 Os profissionais envolvidos devem ter expertise para se
adaptar frente a imprevistos, pois no alto rendimento este
é um cenário constante.
@drfelipepereira
www.drfelipepereira.com.br

Você também pode gostar