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COMPORTAMENTO INFORMACIONAL E A COMPETÊNCIA EM

INFORMAÇÃO UTILIZADAS COMO ESTRATÉGIA EM


ORGANIZAÇÕES DO CONHECIMENTO
Cássia Dias Santos
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) – Marília

Juliete Susann Ferreira de Souza


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) – Marília

Tatiene Martins Coelho


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) – Marília

Marta Lígia Pomim Valentim


Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) – Marília

RESUMO
As organizações baseadas em conhecimento reconhecem a geração, compartilhamento e uso
da informação como um processo de valor para o seu desenvolvimento. Nesse contexto, a
gestão da informação merece total destaque, pois pode ser utilizada como alicerce para o
desenvolvimento de comportamentos e competências em informação que interfiram
diretamente nesse processo. Nessa perspectiva, propõe-se realizar uma revisão bibliográfica
acerca dos fatores que influem diretamente na geração, compartilhamento e uso da informação
enfocando os conceitos de comportamento informacional e de competência em informação.
Palavras-Chave: Organizações do Conhecimento; Gestão da Informação; Comportamento
Informacional; Competência em Informação.

ABSTRACT
Organizations based in knowledge recognize the information generation, sharing and use like a
value process for his development. In this context, information management deserves full
attention, because it can be used as a foundation for the development of information behaviors
and information literacy that interfere directly in this process. In that perspective, it is proposed
to hold a literature review about the factors that directly influence in the information generation,
sharing and use focusing on the concepts of information behavior and information literacy.
Keywords: Knowledge Organization; Information Management; Informational Behavior;
Information Literacy.
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1 INTRODUÇÃO

Considerando a competitividade entre as organizações, o conhecimento gerado


por meio da percepção, compreensão e apropriação de informação advém tanto do
ambiente interno quanto externo, cuja finalidade em contextos organizacionais é
adaptar-se às mudanças existentes nesses ambientes. O conhecimento construído
individualmente é fundamental para as ações coletivas desempenhadas no cotidiano
de uma determinada organização. Essa dinâmica influi significativamente nas
elaboração e aplicação de estratégias de ação que propiciem diferenciais competitivos
para a organização atuar no mercado globalizado.
Nessa perspectiva, este trabalho apresenta uma análise sobre a relação entre a
geração, o compartilhamento e o uso de informação, enfocando a influência no que
tange ao comportamento informacional e ao desenvolvimento de competência em
informação.
A partir da concepção adotada por Choo (2006), o problema abordado consiste
em avaliar como o comportamento informacional e a competência em informação são
utilizados de modo estratégico no contexto organizacional. A relevância desta
discussão tem como aporte a importância da informação para a construção de
conhecimento em organizações, nessa perspectiva a gestão da informação constitui-se
em um recurso fundamental para o êxito organizacional. Dessa maneira, avalia-se
como as organizações do conhecimento reconhecem o comportamento e a
competência em informação como valor estratégico para manter-se competitiva no
mercado em que atuam.

2 GERAÇÃO, COMPARTILHAMENTO E USO DA INFORMAÇÃO

Com a valorização da informação e do conhecimento na sociedade cada vez


mais internacionalizada, as organizações sentiram a necessidade de acompanhar as
exigências internas e externas, impulsionadas pelo uso intensivo desses dois
elementos, como uma maneira de torná-las inovadoras e competitivas, além de auxiliá-
las no processo de tomada de decisão.
Choo (2006) explica que uma organização orientada para o conhecimento detém
informações e conhecimento que lhe proporcionam diferenciais competitivos,
3

permitindo-lhe agir com inteligência e criatividade. Nessa perspectiva, o mesmo autor


destaca que esse tipo de organização reconhece três arenas primordiais, no que tange
ao papel que a geração, compartilhamento e uso da informação desempenham:

a) criação de significado: é quando a organização utiliza a informação


para dar sentido e/ou significado às mudanças ocorridas no
ambiente externo;
b) construção do conhecimento: é quando a organização cria, organiza
e processa a informação de modo a gerar novos conhecimentos por
meio do aprendizado ;
c) tomada de decisão: é quando a organização busca e avalia
informações relevantes de modo a tomar decisões assertivas
(CHOO, 2006, p.32-40).
A informação perpassa esses processos constituindo uma dinâmica que
subsidiará a efetividade e a sobrevivência das organizações do conhecimento. Sendo
assim, faz-se necessário o entendimento acerca do conceito de informação. Logan
(2012, p.8) menciona que:

A ironia da nossa imersão total na informação e do papel central que ela


desempenha em nossa vida econômica, social e cultural é que, na
maioria das vezes, não temos uma compreensão clara do que vem a
ser exatamente informação. Informação não é um conceito simples e
direto, mas uma noção escorregadia, usada de muitas maneiras
diferentes. Linguística e gramaticalmente, a palavra informação é um
substantivo, mas, na realidade, descreve um processo e, portanto, é
como um verbo.
Ilharco (2003) defende que a informação precede a comunicação, a tecnologia,
a ação e o conhecimento. No contexto organizacional a informação é um componente
intrínseco que, perpassa desde o nível estratégico até o nível operacional e, portanto, é
necessária uma clara compreensão dos processos humanos e organizacionais pelos
quais a informação é percebida, atribuindo-lhe significado e, assim, podendo se
transformar em conhecimento e, posteriormente, em uma ação (CHOO, 2006).
No que tange as rotinas empresariais, observa-se que estas geram a todo o
momento uma expressiva quantidade de informações que, muitas vezes por sua
ambiguidade, podem prejudicar a construção de conhecimento. Além disso, a
informação em excesso pode gerar stress e insegurança e, por isso mesmo, não chega
a ser percebida, apropriada e aplicada. Para que essa situação organizacional seja
amenizada é fundamental que haja um trabalho efetivo no que tange aos conteúdos
informacionais, de modo que estes possam atender de fato às necessidades dos
sujeitos cognoscentes (CÂNDIDO; VALENTIM, CONTANI, 2005).
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Nessa perspectiva, a organização que usa a informação estrategicamente, o faz


para criar uma ‘organização do conhecimento’. Conforme explica Choo (2006, p.17) a
essencia da organização do conhecimento reside nos processos de gestão da
informação, uma vez que se constituem no substrato para a criação de significado,
construção de conhecimento e tomada de decisão. Valentim (2004, p.1) define gestão
da informação como

[...] um conjunto de estratégias que visa identificar as necessidades


informacionais, mapear os fluxos formais de informação nos diferentes
ambientes da organização, assim como sua coleta, filtragem, análise,
organização, armazenagem e disseminação, objetivando apoiar o
desenvolvimento das atividades cotidianas e a tomada de decisão no
ambiente corporativo.
A gestão da informação reconhece três áreas distintas em que a geração,
compartilhamento e uso da informação desempenham papel estratégico (CHOO,
2006):
 Aplicação de pesquisa e avaliação das informações à tomada de
decisões importantes: realizada de forma racional, essa avaliação é feita
com base em informações abrangentes sobre questões relevantes ou
polêmicas dentro da organização. Na prática, se o resultado de uma
pesquisa direcionar para uma decisão, esta nem sempre ocorre pelas
pressões de grupos ou indivíduos interessados.
 Pesquisa da conjuntura externa: seja para o posicionamento no mercado
ou para a análise do impacto social ou ambiental de uma ação, a obtenção
das informações estratégicas da conjuntura externa requer investimentos
materiais e humanos porque se trata de um universo dinâmico e incerto.
 Informação estratégica para criar conhecimento: as organizações criam,
organizam e processam as informações para gerar conhecimento, que
consequentemente impactará em seu compartilhamento, uso e na geração
de novos produtos e melhorias dos processos de produção, entre outras.
Para Dias e Belluzzo (2003) a gestão da informação pode ser definida como um
conjunto de conceitos, princípios, métodos e técnicas utilizadas na prática
administrativa para auxiliar no processo de tomada de decisão, bem como para o
alcance dos objetivos organizacionais quando colocados em prática.
Para Valentim (2004 p.2) as atividades base que compõem a gestão da
informação são:
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 Identificar demandas necessidades de informação.


 Mapear e reconhecer fluxos formais.
 Desenvolver a cultura organizacional positiva em relação ao
compartilhamento/ socialização de informação.
 Proporcionar a comunicação informacional de forma eficiente,
utilizando tecnologias de informação e comunicação.
 Prospectar e monitorar informações.
 Coletar, selecionar e filtrar informações.
 Tratar, analisar, organizar, armazenar informações, utilizando
tecnologias de informação e comunicação.
 Desenvolver sistemas corporativos de diferentes naturezas, visando
o compartilhamento e uso de informação.
 Elaborar produtos e serviços informacionais.
 Fixar normas e padrões de sistematização da informação.
 Retroalimentar o ciclo.

Em relação ao processo de gestão da informação, Choo (2006) o define em seis


etapas processuais interdependentes, a saber:
1ª etapa - identificação das necessidades de informação: conhecer a partir
das interações sociais quais informações devem ser extraídas, cujo potencial seja
estratégico e originário de problemas, incertezas e ambiguidades gerados a partir de
vivências e experiências;
2ª etapa - aquisição da informação: requer amplo sistema investigativo que
contemple fontes humanas, textuais impressas e on-line, internas e externas à
organização de forma sistemática, monitorada e avaliada;
3ª etapa - organizar e armazenar a informação: por meio de sistemas de
informação, de modo a facilitar o compartilhamento e a recuperação de fontes, dados e
informações relevantes à organização;
4ª etapa - criação de produtos e serviços de informação: capacidade de
busca, compartilhamento e uso da informação pelos sujeitos organizacionais;
5ª etapa - distribuição da informação: disseminação da informação realizada
por meio de canais e meios de comunicação formais e informais propiciando o fluxo
contínuo de informação interna e externa;
6ª etapa - uso da informação: as informações tornam-se significativas para os
sujeitos organizacionais, pois adquirem importância para a realização de ações e a
6

solução de problemas, bem como para a construção de conhecimento e elaboração de


estratégias de ações (CHOO, 2006).
O modelo processual de gestão da informação apresentado por Choo (2006),
possui como objetivo principal minimizar a ambiguidade e a incerteza, momento em
que a organização volta-se para as próprias experiências passadas para entender o
presente, permeada pela diversidade de interpretações, crenças, subjetividades,
expectativas e experiências dos sujeitos organizacionais.
Nessa perspectiva, pode-se inferir que a gestão da informação tem por objetivo
garantir que a informação seja gerenciada como um recurso importante para o
estabelecimento de diferenciais competitivos na busca da competitividade
organizacional.

2.1 Comportamento Informacional em Contexto Organizacional

A informação é amplamente reconhecida como um insumo essencial para a


sobrevivência das organizações. Ressalta-se que o comportamento das pessoas em
relação a informação é inerente aos fazeres neste contexto, assim, toda e qualquer
ação desenvolvida pelos sujeitos organizacionais estabelece direta ou indiretamente
uma relação com a informação, esteja ela implícita ou explícita.
Nas organizações, o comportamento informacional está diretamente relacionado
ao ambiente informacional alí existente. Choo (2006, p.98) explica que o ambiente
organizacional e o comportamento informacional são imbricados, uma vez que o
ambiente de informação é ao mesmo tempo insumo e produto do comportamento dos
sujeitos organizacionais. Nesse contexto, a própria dinâmica da informação gerada em
uma organização é resultante da mútua relação existente entre as pessoas e o
ambiente que ela constitui.
Na concepção de Wilson (2000, p.49, tradução nossa):

Comportamento informacional é a totalidade do comportamento


humano em relação às fontes e canais de informação, incluindo a busca
de informação ativa e passiva, além do uso da informação [...] inclui a
comunicação face a face com outras fontes e canais de informação,
como também a recepção passiva de informação [...].
Sob esse aspecto o comportamento informacional se refere a todo o contexto
que envolve a relação intencional ou não do indivíduo com a informação, por
7

intermédio das fontes que conhece e domina, podendo estar implícita ou explicitamente
declarada no ambiente da organização.
Conceitualmente Davenport e Prusak (1998, p.110) sustentam que o
comportamento informacional “[...] se refere ao modo como os indivíduos lidam com a
informação. Inclui a busca, o uso, a alteração, a troca, o acúmulo e até mesmo o ato de
ignorar os informes”. Tal modo de conceber o que constitui o comportamento
informacional evidencia um contexto imprevisível, pois é determinado pela relação que
o sujeito organizacional, a partir de uma particularidade, estabelece com a informação.
Conforme Choo (2006, p.70) “[...] o valor da informação reside no
relacionamento que o usuário constrói em si mesmo de determinada informação”, ou
seja, é consequência e influência de fatores imbricados à dinâmica do ambiente e,
assim, repercute nos processos desenvolvidos pelas organizações no que tange a
trabalhar a informação.
Choo (2006) destaca que o comportamento informacional está relacionado a
estágios que pode perpassar desde uma necessidade, podendo incidir em uma busca,
até o momento de uso da informação. Nessa perspectiva, o mesmo autor evidencia
três estágios centrando seus argumentos em um modelo que visa o uso da informação
em processos de criação de significado, construção de conhecimento e tomada de
decisão.
As necessidades de informação, segundo Choo (2006, p.100), surgem na
medida em que o indivíduo reconhece lacunas ou gaps em seu conhecimento, bem
como em sua capacidade de propiciar significado a uma experiência. Diante disso, o
indivíduo pode acreditar que para preenchê-la é preciso iniciar um processo de busca
de informação, visando suprir tal lacuna.
Desse modo, a busca de informação é vista como parte de uma atividade social
que ocorre a partir de uma necessidade do indivíduo, cuja busca intencional por
informações que considera útil, visa mudar seu estado de conhecimento (CHOO, 2006,
p.102). Wilson (2000, p.49, tradução nossa) argumenta que se trata da “[...] busca
objetiva por informação como uma consequência de uma necessidade, para satisfazer
algum objetivo”.
Por outro lado, o processo de uso da informação está relacionado ao momento
em que o indivíduo seleciona e processa informações, na medida em que sua
relevância produz mudanças em sua capacidade de vivenciar e agir ou reagir a novos
8

conhecimentos (CHOO, 2006, p.107). Para Wilson (2000, p.49) o uso da informação
reside em atos físicos e mentais no que tange à informação que, por sua vez, permitem
a geração de conhecimentos por parte dos sujeitos cognoscentes.
A obtenção de benefícios concretos a partir do uso da informação em contextos
organizacionais, envolve fundamentalmente uma gestão voltada ao comportamento
informacional (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Além disso, esse tipo de gestão tende a
propiciar o uso de estratégias voltadas à informação e ao conhecimento, possibilitando
a adequada disseminação, compartilhamento, acesso e uso desses dois elementos
(BEAL, 2004).
Nessa perspectiva, Davenport e Prusak (1998, p.135) analisam alguns pontos a
serem considerados no âmbito da gestão do comportamento informacional, de maneira
a atenuar os problemas mais frequentemente encontrados, a saber:

 Comunicar que a informação é valiosa.


 Tornar claros as estratégias e os objetivos da organização.
 Identificar competências informacionais necessárias.
 Concentrar-se na administração de tipos específicos de conteúdos
da informação.
 Atribuir responsabilidade pelo comportamento informacional,
tornando-o parte da estrutura organizacional.
 Criar um comitê ou uma rede de trabalho para cuidar da questão do
comportamento informacional.
 Instruir os funcionários a respeito do comportamento informacional.
 Apresentar a todos os problemas do gerenciamento das
informações.
Diante de tais questões, o reconhecimento de processos e atividades que
influenciam a dinâmica do ambiente informacional é fundamental para realizar a gestão
do comportamento informacional. Como consequência, infere-se que essa gestão
tende a gerar um diferencial aos fazeres organizacionais, propiciando efetividade no
contexto de compartilhamento e uso da informação para, por exemplo, gerar
conhecimento e tomar decisões.
Assim, a necessidade de se trabalhar adequadamente os comportamentos em
relação à informação, também envolve uma percepção sobre as competências que
intensificam seu uso de modo individual e coletivo no cotidiano de uma organização.
9

2.2 Competência em Informação

Os ambientes organizacionais são cada vez mais complexos e dinâmicos, o que


tem exigido grandes esforços por parte das organizações para se manterem atuantes
no mercado em que estão inseridas. Os ambientes organizacionais são dotados de
informação que circulam em todos os níveis hierárquicos, visando auxiliar no
desenvolvimento de processos, atividades e tarefas. No entanto, o desafio consiste em
como serão selecionadas e filtradas as informações relevantes.
Evidencia-se o aumento de estudos relacionados à competência em informação
em contextos organizacionais, cujos resultados apresentam sugestões para a
adaptação e incorporação de instrumentos, métodos e técnicas aplicados em todos os
níveis hierárquicos e funcionais no que tange aos comportamentos e competências
necessários às mudanças ocorridas no mercado competitivo (BELLUZZO, 2010, p.24).
A partir da Década de 1990, com as modificações no mundo do trabalho que
proporcionaram maior equilíbrio entre a gestão das qualificações dos sujeitos
organizacionais, bem como o reconhecimento das competências individuais, iniciou-se
as pesquisas de competência em informação voltadas ao mundo organizacional
(FARIAS; BELLUZZO, 2012, p.93). O conceito de competência compreendido como:

O conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é, o conjunto


de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho (uma
alta performance), acreditando-se que os melhores desempenhos (as
melhores performances) estão fundamentados (fundamentadas) na
inteligência e na personalidade das pessoas. Em outras palavras, a
competência é percebida como um estoque de recursos que o indivíduo
detém (FLEURY, 2002, p.53).
Fleury e Fleury (2004, p.30) definem competência como “[...] um saber agir
responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo”.
Nesse contexto, pode-se afirmar que competente é o sujeito organizacional que
sabe reconhecer e atender às exigências impostas por uma situação na qual está
inserido, em função dos objetivos que lhe foram designados, isto é, ser competente
nada mais é do que a capacidade de lidar com as incertezas, potencializando o
conhecimento humano de modo a tomar decisão com mais segurança e assertividade.
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Uma das primeiras e mais disseminadas definições sobre competência em


informação foi elaborada pela American Library Association (ALA), em 1989, segundo a
qual:

[...] para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz
de reconhecer quando a informação é necessária e ter a habilidade
para localizar, avaliar e usar efetivamente a informação [...] Pessoas
competentes em informação são aqueles que aprenderam a aprender
(ALA, 1989, p.1, tradução nossa).
Corroborando com essa ideia, Belluzzo (2010, p.38) afirma que:

[...] a competência em informação constitui-se em processo contínuo de


interação e internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de
habilidades específicas como referenciais à compreensão da
informação e de sua abrangência, em busca da fluência e das
capacidades necessárias à geração do conhecimento novo e sua
aplicabilidade ao cotidiano das pessoas e das comunidades ao longo da
vida.
Nessa perspectiva, competência em informação é um processo que necessita
que todos os sujeitos organizacionais estejam empenhados no desenvolvimento de
habilidades e aptidões informacionais, visando gerar conhecimento individual e
coletivo. A adoção de um comportamento informacional torna-se de extrema
importância em ambientes competitivos, pois propiciará condições diferenciadas de
atuação.
De acordo com a ALA (1989, p.1), os “[...] requisitos básicos para o indivíduo ser
competente em informação são: saber buscar, avaliar, filtrar e usar a informação
quando necessária”. Assim, uma pessoa deve ser capaz, primeiramente, de
reconhecer quando uma informação é relevante, bem como deve ter a habilidade para
localizá-la, avaliá-la, compartilhá-la e usá-la efetivamente. As pessoas competentes em
informação são aquelas que aprenderam a aprender, porquanto sabem como a
informação é sistematizada, como encontrá-la, como selecioná-la, como compartilhá-la
e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir dela (FARIAS;
BELLUZZO, 2012, p.100).
A competência perpassa todos os processos organizacionais, em seus distintos
níveis (estratégico, tático e operacional) e em diferentes segmentos econômicos.
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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a elaboração deste trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica


exploratória, por propiciar a busca e o uso de informação em fontes impressas e
eletrônicas contemplando livros, capítulos de livros e artigos de periódicos nacionais e
internacionais que estimulem a compreensão do tema estudado (GIL, 1999).
Considerando os objetivos propostos inicialmente, foram feitas buscas a respeito
dos temas referentes à geração, compartilhamento e uso da informação,
comportamento informacional no contexto organizacional e competência em
informação, com o intuito de compreender conceitos e caracterizar o que Choo (2006)
denomina de ‘organizações do conhecimento’.

4 RESULTADOS

Como mencionado anteriormente, as organizações do conhecimento são


organizações que visam primordialmente o conhecimento como fator essencial para
seu desenvolvimento. Garvin (1993 apud ALVARENGA NETO, 2008, p.33) sugere que
“[...] uma empresa baseada em conhecimento é uma organização de aprendizagem
que o reconhece como um recurso estratégico”. Nesse contexto, o conhecimento é
gerado por meio dos sujeitos organizacionais e, para tanto, necessitam desenvolver
comportamentoe e competências em informação que propicie essa condição
organizacional.
Nonaka e Takeuchi (1997, p.61) entendem que “[...] a competitividade de uma
empresa vem se tornando função da sua capacidade de criar, transferir, e reutilizar
conhecimentos que sejam relevantes para a sua atividade-fim”. Ressalta-se, portanto,
que se faz necessária a união e integração das pessoas, dos processos e das
tecnologias presentes no ambiente organizacional, possibilitando de fato a criação de
um ambiente propício para a dinâmica de conversão do conhecimento tácito
[conhecimento] em conhecimento explícito [informação]. O conhecimento gerado no
ambiente organizacional diminui as incertezas e inconsistências, além de contribuir
para o desenvolvimento da organização.
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Assim, se faz cada vez mais necessário uma mudança em relação ao


comportamento informacional dos sujeitos organizacionais, para que estes possam
adquir competências em informação e, assim, construir novos conhecimentos que,
posteriormente, serão revertidos para a criação/inovação de novos serviços e produtos.
De acordo com Belluzzo e Feres (2003) a oferta e uso da informação para
aquisição de conhecimento em organizações, é um recurso que se torna cada vez mais
necessário e urgente para subsidiar à tomada de decisão nas empresas, visando a
competitividade. De acordo com as mesmas autoras, a dinâmica que envolve a
globalização da economia e a competitividade está centrada no acesso contínuo à
informações estratégicas a respeito do mercado, barreiras comerciais, legislação,
concorrência, inovação, tecnologia etc.
A informação no ambiente organizacional se constitui em um elemento
estratégico para o mundo dos negócios, uma vez que ela tem o poder de influenciar o
comportamento dos colaboradores nas tarefas desenvolvidas, além de auxiliar o
processo de tomada de decisão, bem como na criação de diferenciais competitivos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A valorização das pessoas no âmbito da gestão da Informação é fundamental,


uma vez que são elas que desenvolvem comportamentos e e competências
específicas voltadas à informação, qualificando-as a partir de sua relevância para a
organização, bem como estabelecendo as interconexões entre dados e fontes externas
para a construção de conhecimento útil. Reafirmando esta valorização, Choo (2006)
defende que a capacidade do pensamento humano é insubstituível nesse processo.
Diante do exposto, acredita-se que o sucesso da gestão da informação
demanda mudanças no comportamento informacional, pois de acordo com Belluzzo
(2003) o elemento fundamental de todo o processo produtivo nas organizações foi e
tem sido o sujeito organizacional com a sua capacidade de acumular e gerar
conhecimento.
Sendo assim, as organizações que pretendem se destacar no mercado em que
estão inseridas devem rever seus conceitos relacionados à gestão da informação, ao
comportamento informacional e à competência em informação, a fim de propiciar as
condições necessárias para a inovação e a competitividade.
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Esta mudança de postura por parte das organizações, bem como dos próprios
sujeitos organizacionais, torna-se de extrema importância e contribui significativamente
para os processos de tomada de decisão, uma vez que propicia as aptidões,
habilidades e competências em informação para que consigam identificar, buscar,
compartilhar e fazer o melhor uso possível das informações geradas no ambiente
interno e/ou externo à organização, propiciando mais eficiência aos processos
organizacionais e mais eficácia aos resultados obtidos.

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