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COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO

ORGANIZACIONAL: UMA REFLEXÃO TEÓRICA DA SUA


IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA
Thiciane Mary Carvalho Teixeira
Doutora em Ciência da Informação pela Unesp/Marília
Docente do Curso de Administração da Universidade Estadual do Ceará (UECE)

RESUMO
Na certeza de que a informação e o conhecimento caracterizam o mundo contemporâneo
nas organizações, a garantia de sustentabilidade empresarial passou a depender da
maneira de como gerenciam essas dimensões, usufruindo de um desempenho superior ao
dos concorrentes. Há vantagem competitiva quando a organização é capaz de gerar e
explorar informações relevantes com mais eficácia do que as empresas concorrentes. Esse
artigo faz uma reflexão teórica da importância da competência em informação como um
elemento essencial no contexto organizacional.
Palavras-Chave: Informação; Competência em Informação; Contexto Organizacional;
Vantagem Competitiva.

ABSTRACT
Certain of the information and knowledge characterize the contemporary world in
organizations, ensuring business sustainability now depends the way they manage these
dimensions, enjoying a superior performance to that of competitors. There is competitive
advantage when the organization is able to generate and exploit relevant information more
effectively than competitors. This paper is a theoretical reflection of the importance of
information literacy as an essential element in the organizational context.
Keywords: Information; Information Competence; Organizational Context; Competitive
Advantage.

1 INTRODUÇÃO

Historicamente o significado do termo ‘informação’ já foi o mesmo que


intelligence (MATTERLART, 2002), porque o registro dos acontecimentos e das
observações, tarefas restritas aos cientistas, passavam rigorosamente pelas
atividades de coleta, de classificação e de tratamento.
O uso da informação como uma estratégia organizacional passou a ser uma
prática, ao comprometer o crescimento e a capacidade de adaptação às mudanças
no ambiente externo (DAVENPORT; PRUSAK, 1999) e (CHOO, 2006). No contexto
organizacional, a maneira pela qual os sujeitos organizacionais interpretam e
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analisam as informações do ambiente, acessam e disseminam as informações,


influencia o nível de produtividade e competitividade. Assim, a competência em
informação passou a constituir a base dos modelos de gestão organizacional na
atualidade, assumindo papel decisivo no desempenho e na lucratividade da
organização.
Este artigo apresenta uma reflexão teórica da importância da competência em
informação como um elemento essencial no contexto organizacional como vantagem
competitiva.

2 NATUREZA DA INFORMAÇÃO DEPENDENTE DO SUJEITO


ORGANIZACIONAL

Capurro e Hjorland (2007) consideram o princípio do uso do termo


‘informação’ a tudo que é informativo para uma determinada pessoa, de maneira que
sacie as necessidades informacionais do indivíduo. O que torna sua conceituação
polêmica é que, estar informado depende da capacidade interpretativa e habilidade
de conexão com as vivências e experiências de um sujeito cognoscente, que vai
além do dado registrado e organizado (CHOO, 2006). Por esse motivo, muito se
discute em relação ao conceito de ‘informação’, principalmente pela necessidade de
torná-la diferenciada do que seja dado/fato e conhecimento que, por sua vez, fazem
parte do entendimento do que é informação. No ambiente organizacional é
fundamental compreender essas aproximações e diferenças.
Dados são considerados a matéria prima essencial para a geração da
informação, ao “[...] descrever parte daquilo que aconteceu; não fornecem
julgamento nem interpretação e nem qualquer base sustentável para a tomada de
decisão” (DAVENPORT; PRUSAK, 1999, p.3). Por outro lado, a informação é um
dado interpretado (CAPURRO; HJORLAND, 2007). Os dados são públicos e por
natureza são quantitativos (GOMES; BRAGA, 2004). “Os dados são os fatos puros e
simples, sem qualquer estrutura ou organização; os átomos básicos da informação”
(LOGAN, 2012, p.53).
A informação é bem mais complexa por possuir atributos subjetivos e
objetivos (CAPURRO; HJORLAND, 2007). No início das discussões sobre a Teoria
da Informação, duas correntes teóricas distintas prevaleceram: a primeira corrente
foi fundamentada nas noções de Shannon (1948), que defendia a matematização da
informação, como a probabilidade de uma sequência específica de símbolos,
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independentemente de seu significado. A informação foi definida como a medida da


redução da incerteza para um receptor (LOGAN, 2012, p.27).
No que tange a segunda corrente, esta teve como fundamento as noções de
MacKay (1969) que insistia em defender que a informação implicava em significado,
e esse significado poderia ser diferente, incluindo à noção de significado, a
interpretação, o “[...] significado da informação é dado pelo processo que a
interpreta” (LOGAN, 2012, p.40). Essas correntes foram denominadas por MacKay
(1969) como ‘informação seletiva’ “[...] que é a informação calculada considerando-
se a seleção de mensagens de um conjunto” e ‘informação estrutural’ que “[...]
envolve a semântica e o sentido de ser bem-sucedida no seu papel de interpretar a
informação seletiva”.
A noção de Shannon (1948) definia informação como padrão ou sinal, com
seus atributos objetivos, por depender de dados registrados, organizados e
agrupados matematicamente e quantitativamente. Essa perspectiva objetiva não
considera o sujeito nem o contexto sociocultural que pode interferir na construção do
significado. Assim, acaba por aproximar a compreensão informação ao dado/fato
concreto, físico e objetivo, o que Buckland (1991) denominou de ‘informação-como-
coisa’.
A abordagem subjetiva tem base na ‘informação estrutural’, que considera a
informação dependente de um indivíduo, que atribui significado ao dado/fato,
transformando-o em “[...] informação dotada de sentidos diversos e inserida no
terreno da experiência histórico-cultural” (ARAÚJO, 2009). Para Logan (2012, p.38)
“[...] a informação estrutural está preocupada com o efeito e o impacto da informação
na mente do receptor e, portanto, é reflexiva”.
Nessa perspectiva, o indivíduo assume um papel decisivo, pois é ele que
recebe o dado/fato organiza e processa transformando-o em informação,
manipulando-o, consolidando-o, ou seja, dando-lhe um propósito (DE SORDI, 2008,
p.9). O que fortalece a afirmação de Brookes (1980) que destaca a informação como
um elemento dependente de observação sensorial, em que uma vez apropriada pelo
sujeito necessita ser interpretada por sua estrutura de conhecimento para se tornar
informação.
Assim, “[...] a informação só é útil quando o sujeito infunde-lhe significado, e a
mesma informação objetiva pode receber diferentes significados subjetivos de
diferentes indivíduos” (CHOO, 2006, p.70). A interpretação torna o sentido de ‘estar
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informado’ uma condição única, porquanto é criado por um sujeito e construído em


determinado contexto.
Os dados/fatos passam a ser informação ao adquirirem significado atribuído
por um sujeito cognoscente e, por sua vez, a informação passa a ser conhecimento
ao ser apropriada e relacionada ao conhecimento prévio, construído ao longo da
vida pelo sujeito cognoscente. “Os dados vêm primeiro, a informação depois e o
conhecimento por fim [...] a informação precede a comunicação, a tecnologia, a ação
e o conhecimento, como um novo paradigma intelectual” (ILHARCO, 2003, p.64).
A informação adquirida por meio da linguagem se tornou somente parte da
totalidade de informação potencialmente acessível a nós (BROOKES, 1980), diante
da revolução das tecnologias de informação e comunicação e o seu uso para
divulgação. O dado passou a ser um bem coletivo e público, e esse fato colocou a
informação em outro patamar, propiciando ao sujeito a responsabilidade de estar
informado com rapidez e em quantidade, desmistificando, assim, o pressuposto
inicial, no qual o acesso às tecnologias de informação e a sua imensidão de dados
disponibilizados garantisse por si só a apropriação e a conexão do que está sendo
disseminado, e cujo resultado seria a criação de conhecimento espontâneo voltado à
ação.
Apesar das diferenças, não se pode negar a existência da interdependência
conceitual entre dado, informação e conhecimento (Figura 1), cuja relação de
complementaridade e interdependência conceitual é real.

Figura 1: Interdependência conceitual.

Fonte: Elaborado pela autora.

A compreensão dessa interdependência direcionada para a organização com


foco na inteligência inicia-se com o dado sendo recurso organizacional, que precisa
ser organizado para facilitar e permitir o processamento. A informação surge no
processamento, na atribuição de significado ao dado, que ao relacionar-se com os
conhecimentos já existentes é passível de formar estratégias para uso da
organização. O conhecimento está presente no processamento da informação como,
também, na ação para o uso da informação.
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Assim, o uso da informação precisa passar pelas etapas de organização dos


dados, pelo processamento da informação, pela aplicação do conhecimento em uma
ação. E é por meio do sujeito cognoscente, que é responsável pelo conhecimento,
pela informação e pelo uso, que as estratégias são mudadas, criando uma dinâmica
que é retroalimentada a cada nova informação. O dado não muda, mas a informação
e o conhecimento vão continuamente se ajustando ao contexto e circunstâncias
organizacionais, com o objetivo de criar estratégias de ação que resultem em
resultados positivos.
Os dados depois de organizados facilitam o acesso e, a partir da atribuição
de significado, passam a ser informação, que depois de apropriada e de se
estabelecer relações com o conhecimento organizacional, permite a ação inteligente
com o uso estratégico da informação.

3 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO COMO VANTAGEM COMPETITIVA

A capacidade de transformar a informação em conhecimento é diretamente


proporcional às competências em informação do sujeito cognoscente. Choo (2006,
p.85) utiliza os principais estágios do comportamento em relação à informação, que
são: necessidade, busca e uso de informação, para enfatizar a importância do dado
organizado para que a informação seja compreendida.
A informação é construída na organização para servir como base as
atividades estratégicas e operacionais. A informação faz parte do processo de
criação de significado (CHOO, 2006), a partir da interpretação do dado organizado é
atribuindo valor a ela, ou seja, se agrega à informação as experiências e as
competências por meio da socialização no contexto organizacional, desenvolvendo,
assim, um sistema de aprendizagem a cada decisão e ação tomada. A informação,
quando compreendida pelo grupo, fortalece uma identidade organizacional. Seu uso
pode resultar em inovação e estratégia com 'produto', ‘processo’, ‘ideia’, ‘serviço’
único.
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Figura 2: Processo de criação de significado.

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos estudos de Choo (2006).

O conhecimento também é construído no decorrer do tempo, por meio da


criação de significado (CHOO, 2006), a partir da apropriação de informações
captadas e relacionadas à capacidade cognitiva do indivíduo. Segundo De Sordi
(2008, p.12) “[...] conhecimento é o novo saber, resultante de análise e reflexões de
informações segundo valores e modelo mental daquele que o desenvolve,
proporcionando a este melhor capacidade adaptativa às circunstâncias do mundo
real”. Assim, é o conhecimento que torna a informação passível de ser utilizada.

A informação é um componente intrínseco de quase tudo que uma


organização faz. Sem uma clara compreensão dos processos
organizacionais e humanos pelos quais a informação se transforma
em percepção, conhecimento e ação, as empresas não são capazes
de perceber a importância de suas fontes e tecnologias de
informação (CHOO, 2006, p.27).
O conhecimento agregado às competências segundo Zarifian (2003) deverá
ser um fator crítico para criar e manter organizações competitivas. O entendimento
do que seja as competências em informação numa organização está relacionado a
capacidade de buscar e usar conhecimento público.
O conhecimento público se refere à informação comum entre todos os
atores do mercado, podendo se transformar em um recurso a ser utilizado de forma
estratégica quando apropriada pelos sujeitos organizacionais que lhe atribuam valor,
estabelecendo, assim, vantagem competitiva sustentável. "O conhecimento depende
dos olhos do observador e confere-se significado ao conceito pela maneira como se
utiliza" (WITTGENSTEIN, 1958 apud KROGH et al., 2001). Por esse motivo, a
competência em informação no contexto organizacional passou a ser estratégico.
Definir as necessidades de busca de informações que, conforme explica Choo
(2006, p.84), "[...] é o processo pelo qual o indivíduo procura informações de modo a
mudar seu estado de conhecimento", bem como manifesta alguns comportamentos
típicos, entre os quais: identificar e selecionar as fontes, articular um questionário,
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uma pergunta ou um tópico, extrair a informação, avaliar a informação e estender,


modificar ou repetir a busca. De acordo com o modelo conceitual para a construção
de mapas conceituais de Belluzzo (2007), essa fase se enquadra no primeiro padrão
de competência em informação, em que "[...] a pessoa competente em informação
determina a natureza e a extensão da necessidade de informação" (BELUZZO 2007,
p.95), avaliando as fontes, os custos e os benefícios da informação.
A análise representa a interpretação e a atribuição de sentido às informações,
na tentativa de criar significado para a construção de conhecimento. Pensar
possibilidades lógicas de uso da informação.

[...] um modelo de uso da informação deve englobar a totalidade da


experiência humana: os pensamentos, sentimentos, ações e o
ambiente onde eles se manifestam. Partindo da posição de que o
usuário da informação é uma pessoa cognitiva e perceptiva, de que a
busca e o uso da informação constituem um processo dinâmico que
se estende no tempo e no espaço, e de que o contextuarem que a
informação é usada determina de que maneiras e em que medida ela
é útil (CHOO, 2006, p.83).
A apropriação da informação a partir da atribuição de significado,
contextualizando-a de acordo com as experiências individuais, as crenças e
expectativas, segundo Nonaka e Takeuchi (2008) é o momento de internalização do
conhecimento tácito no Processo SECI. No modelo de construção de mapa
conceitual de Belluzzo (2007, p.97), essa etapa se refere ao segundo padrão em
que "[...] a pessoa competente em informação acessa a informação necessária com
efetividade", construindo e implementando estratégias para inter-relacionar as
informações das variadas fontes, em busca de respostas que saciem seu "[...] vazio
de conhecimento".
A concretização das ideias e do conhecimento garante a obtenção de
vantagem competitiva, porquanto "[...] a informação é subjetiva, reside na mente dos
usuários e só é útil quando o usuário cria um sentido para ela" (CHOO, 2006, p.82).
A etapa de socialização no processo SECI de Nonaka e Takeuchi (2008), em que o
indivíduo cria conhecimento tácito, se faz presente no terceiro padrão do modelo de
construção do mapa conceitual de Belluzzo (2007), em que é possível entender
como a avaliação crítica da informação é feita partindo da comparação do novo
conhecimento com o antigo conhecimento, consistindo no processo de agregar
informação nova e valor às ideias.
O conhecimento explicitado através da ideia formulada tem relação com a
etapa de externalização no processo SECI de Nonaka e Takeuchi (2008), momento
de articulação das ideias, ou seja, passa do tácito para o explícito. O quarto padrão
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da construção do mapa conceitual de Belluzo (2007) sintetiza a informação em


busca de um resultado. Isso ocorre também com as ideias que devem ser
organizadas por meio de esquemas ou estruturas.
A disseminação só pode acontecer após a concretização das ideias, a partir
de desenhos, cenários, moldados às condições reais de uso. Pode-se relacioná-la a:
etapa de combinação no processo SECI, em que as ideias são explicitadas para o
coletivo na busca de aplicação, e ao quinto padrão do modelo de construção do
mapa conceitual de Belluzzo (2007), em que as ideias devem ser apresentadas em
um formato legítimo e compreensivo para a comunicação. Cumprindo as exigências
legais, diante de políticas, regulamentos e normas institucionais para acesso e uso
das ideias em formato de informação.
As competências em informação são advindas por meio do trabalho
desempenhado e do esforço gerencial no dia a dia. Os negócios, produtos e
serviços oferecidos por uma organização são resultantes das competências nela
existentes, uma vez que sustenta a geração de inovação, a adequação às
necessidades dos clientes, o melhoramento dos processos e a qualidade de
produtos e serviços, com “[...] habilidade em construir, a menor custo e mais
velozmente que os competidores, produtos não esperados” (PRAHALAD; HAMEL,
1997 apud STOLLENWERK, 1999).
Nessa perspectiva, a vantagem competitiva surge como resultado do trabalho
em torno do conhecimento, da competência, da informação, da ação e da inovação,
alimentada continuamente pela aprendizagem organizacional. A capacidade de
aprender a aprender [learn-to-learn] e de transformar o aprendizado em vantagem
competitiva é o que garante a aquisição de novas competências durante as rápidas
mudanças.

Figura 3: Vantagem competitiva.

Fonte: Elaborado pela autora.


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A capacidade da organização em buscar e usar a informação de forma


eficiente tem interferido na capacidade de gerar diferencial competitivo, ou seja, a
competência em informação influencia os resultados da organização. O
conhecimento é a base fundamental para uma organização obter vantagem
competitiva, mas é a capacidade de gerenciar as informações e permitir a
aprendizagem dos sujeitos organizacionais que a torna apta a enfrentar as
mudanças, a intensificar a geração de ideias e práticas inovadoras. Segundo
Davenport (1998, p.12) “[...] informação e conhecimento são, essencialmente,
criações humana, e nunca seremos capazes de administrá-los se não levarmos em
consideração que as pessoas desempenham, nesse cenário, um papel
fundamental”.

4 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL

O processamento de informação no ambiente organizacional requer um


propósito a ser atendido (DE SORDI, 2008). Acredita-se que para que os dados
tenham potencial para gerarem uma informação estratégica necessitam ser
processados e analisados por um grupo de pessoas que possuem competência para
atribuir valores e interpretações de acordo com as condições situacionais e culturais
da organização.
Desse modo, para que uma informação seja estratégica com valor
significativo à organização, a informação necessita passar do processamento
individual, tendo o cognitivo e o emocional como prioritários, para um
processamento coletivo, fortalecendo o consenso e a interpretação coerente e
consistente. Possibilitando o direcionamento de objetivos e metas em comum, em
que o “[...] conhecimento criado a partir das informações e do processo de
inteligência que vai integrar todo o ambiente organizacional para se converter em
ações específicas, e com valor agregado ao ambiente organizacional, levando as
organizações a atingirem, amplamente, seus objetivos e metas a que se propõem”
(HOFFMANN, 2011, p.130).
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Figura 4: Informação estratégica.

Fonte: Elaborado pela autora.

O propósito da Figura 4 é demonstrar a relação de equilíbrio entre os fatores


que conduzem ao processamento coletivo necessário à informação estratégica. O
processo de dotar a informação de significado é o primeiro passo para a agregação
de valor (DAVENPORT, 1998, p.151). A atribuição de significado é resultado da “[...]
interpretação comum que gera um clima de ordem social, continuidade temporal e
clareza contextual que dá aos membros da organização clareza para coordenar e
relacionar suas ações” (CHOO, 2006, p.142).

Organizações saudáveis geram e usam o conhecimento. À medida


que interagem com seus ambientes, elas absorvem informações,
transformam-nas em conhecimento e agem com base numa
combinação desse conhecimento com suas experiências, valores e
regras internas (DAVENPORT; PRUSAK, 1999).
Simon (1976) apresenta três categorias de limites individuais que podem
comprometer a interpretação da informação de forma coletiva no contexto
organizacional. Para este autor, o indivíduo é limitado por sua capacidade mental,
seus hábitos e reflexos; pela extensão do conhecimento e das informações que
possui; e por valores e conceitos que podem divergir dos objetivos da organização
(SIMON, 1976,), ou seja, o princípio da ‘racionalidade limitada’.
Além dos limites individuais, a interpretação da informação depende do
envolvimento comum entre os envolvidos e a informação a ser processada (DE
SORDI, 2008). A interpretação coletiva no contexto organizacional.

[...] requer a definição de unidade de análise, o consenso entre as


pessoas responsáveis pelo processamento e o público leitor da
informação, bem como o envolvimento intelectual humano de forma
mais intensa e complexa do que exigido para geração de dados (DE
SORDI, 2008, p.11).
Ao considerar a interpretação como um ponto essencial, desenvolve-se uma
abordagem da informação centrada na competência do ser humano dotado de
saberes, mesmo diante da quantidade excessiva de informações, proveniente dos
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ambientes interno e externo, disponíveis em sistemas de informação gerencial, que


por meio de softwares permitem a seleção matemática para reduzir incertezas e
ambiguidades.
A capacidade de interpretação e de contextualização dos sujeitos
organizacionais permitem a compreensão e a apropriação de novas informações
voltadas para uma determinada ação. Segundo Choo (2006, p.117) o modo como à
informação é utilizada depende dos atributos físicos relacionados à tecnologia, e ao
contexto social e cultural que especificam o contexto de uso da informação, atributos
como a familiaridade da situação ou o tempo disponível para lidar com o problema
também são importantes.
O termo ‘ecologia da informação’ cunhado por Davenport (1998) permite-nos
realizar uma analogia direta com as múltiplas relações de dependência com a
natureza e a vida, no caso de Davenport a informação, tanto como ‘ponto de partida’
quanto como ‘ponto de mutação’. A informação se conecta com a ecologia pela sua
capacidade de transformação e de ambiência na sua totalidade. Existem três
ambientes na ecologia da informação que se envolvem dependendo da abrangência
de informação.
O ambiente informacional que se relaciona com “[...] as técnicas e métodos
de como lidar com a informação, ou seja, em como acessar, coletar, tratar e analisar
a informação” (HOFFMANN, 2011, p.126), direcionado para 6 (seis) focos principais:
a) a cultura de recompensa e incentivos à busca de informação, e o comportamento
de compartilhamento da equipe de trabalho; b) as políticas organizacionais e os
poderes hierárquicos de participação e decisão; c) os processos informacionais com
a descrição do funcionamento de cada etapa/fase do trabalho com a informação; d)
o envolvimento das equipes multisetoriais para identificar, categorizar, filtrar,
interpretar e integrar a informação ao contexto próprio da organização; f) a
arquitetura da informação que permite mapear, guiar e estruturar a comunicação e
localização das informações internas; e g) a estratégia da informação que é
responsável pelo direcionamento do uso das informações de forma eficiente, “[...]
gira em torno de escolhas e de ênfases – a que tipo de negócios dedicar-se, que
produtos criar, que mercados atingir” (DAVENPORT, 1998, p.65), com impacto na
melhoria e nas mudanças.
O ambiente organizacional que se refere às informações e o modo como
elas circulam, permitindo o acesso, o fluxo, a distribuição e o tratamento matemático
das informações, possíveis através dos investimentos em tecnologia.
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O ambiente externo que inclui os dois ambientes acima e transcende ao


espaço organizacional, incluindo os mercados relacionados às informações de
negócios: concorrentes, políticas públicas, sócios, fornecedores, clientes, e os
suportes tecnológicos, em que é comum trabalhar a informação como produto,
passível de ser vendida ou comprada como algo físico e concreto.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As competências em informação estão presentes no ambiente organizacional


e influenciam a capacidade de usar as informações e conhecimentos públicos,
sejam eles: 1) externos decorrentes das turbulências econômicas, políticas e sociais,
que influenciam o mercado e a concorrência; 2) internos decorrentes das limitações
de recursos, tecnologia, disponibilidade e qualidade da informação; e 3) pessoais
relacionados às competências individuais e coletivas para processar as informações
e a abertura para aprendizagem, de forma estratégica.
O mapeamento das competências em informação no ambiente organizacional
permite facilitar e incentivar o uso das informações de forma estratégica. Sugere-se
que o mapeamento das competências em informação deve ser iniciado partindo da
descrição do:
 Usuário, executivos e CEO no nível estratégico, de acordo com suas
necessidades de informação e comportamento de busca e sua
capacidade de comunicação; e do
 Sistema documental utilizado na organização, o estoque de dados já
existentes e armazenados e o acesso às informações com o uso das
TIC, que pode permitir a realização de atividades computantes de
manipulação e tratamento dos dados, facilitando o processamento
analítico e a simulação dos resultados de uma determina tomada de
decisão, resultando em menor esforço, custo e melhor definição das
necessidades de informação dos tomadores de decisão.
As informações que circulam no ambiente organizacional são extremamente
necessárias para a definição das estratégias de avanço, através de ações de médio
e longo prazo definidas com base no uso destas é possível alicerçar as políticas, os
planos, o planejamento e a tomada de decisão no contexto organizacional.
A competência em informação é consequência de um ambiente de trabalho
que incentiva a interpretação das informações externas e internas, a socialização
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dos conhecimentos já existentes na sua equipe e o uso das informações e


conhecimentos como vantagem competitiva.

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