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Gestão do conhecimento
Leonor Pais
A Gestão do conhecimento configura a capacidade de uma dada organização
para criar/adquirir conhecimento novo, disseminá-lo e incorporá-lo nos seus processos,
produtos e serviços (Cardoso, 2003, 2007)1. Assim sendo, todas as ações conducentes à
criação, partilha e utilização do conhecimento são cruciais e determinantes do sucesso
da gestão que é feita do conhecimento organizacional. Este é suscetível de definição
como "combinação complexa, dinâmica e multidimensional de elementos de ordem
cognitiva, emocional e comportamental, “um activo” que é pessoal e socialmente
construído, cuja orientação para a acção o torna determinante para o funcionamento das
organizações. Na sua forma explícita é de mais fácil acessibilidade, partilha e
reprodução, sendo a sua forma tácita bem mais discriminativa, embora a sua
operacionalização e gestão exijam processos metacognitivos complexos. Remete para o
papel activo e criativo dos actores organizacionais, apoia-se na acção individual e tem
nos grupos e nos contextos de partilha vectores essenciais para a sua projecção a nível
organizacional. Enquanto recurso inesgotável que, contrariamente aos demais, aumenta
à medida que se utiliza, constitui uma das mais importantes fontes de vantagem
competitiva sustentável" (Cardoso, 2007, p. 45).
Tendo por base esta conceção do conhecimento organizacional e a relevância
de se considerar a natureza contingencial do seu significado, tem sido preocupação de
académicos e práticos a operacionalização dos processos organizacionais que com ele se
relacionam. Independentemente da abordagem que se privilegie, mais orientada para a
tecnologia e/ou para as pessoas, existe algum consenso quanto à necessidade de a gestão
do conhecimento, em contexto intraorganizacional, integrar um e outro dos referidos
aspetos e envolver uma atuação facilitadora da concretização de um conjunto
fundamental de processos associados à gestão do conhecimento.
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As referências bibliográficas citadas neste texto referentes a Cardoso respeitam à autora deste capítulo
que, desde Setembro do corrente ano, passou a assinar as suas publicações com o nome de Leonor Pais.
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Nomeadamente: Aquisição externa, aquisição interna, partilha intencional, partilha não intencional,
atribuição de sentido, memória interna e intencional, memória interna e tácita, memória externa,
recuperação controlada e recuperação automática.
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Todo o processo de construção desta versão original do GC, bem como os estudos realizados para
avaliar as suas qualidades psicométricas, designadamente a sua validade (de conteúdo e de constructo) e
fiabilidade (consistência interna das suas dimensões), poderá ser consultado em Cardoso, Gomes e Rebelo
(2005).
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principais, cuja solução final reteve quatro dimensões por recurso a uma rotação
ortogonal varimax. Procurando que as saturações de cada item com o respectivo factor
não suscitassem quaisquer dúvidas, consideraram-se somente as situadas acima de .50,
tendo-se obtido um conjunto final composto por trinta e dois itens. Os quatro fatores
retidos explicam 49.5% da variância total, e após a rotação, o primeiro apresenta um
valor próprio de 5.19, explicando 16.23% da variância, o segundo 4.882 e explica
15.26%, o terceiro 2.99 e explica 9.33%, e o quarto um valor próprio de 2.78,
explicando 8.70% da variância. O primeiro fator é saturado acima de .50 por 10 itens, o
segundo por 11, o terceiro por 6 e o quarto por 5 itens.
Estimou-se a consistência interna dos quatro fatores através do coeficiente alpha
(α) de Cronbach. O primeiro e o segundo fatores apresentam valores de alpha de .88 e
.86, respetivamente, valores considerados bons indicadores de consistência interna,
dado serem superiores a .80 (Hill e Hill, 2000; Nunnaly, 1978). O valor relativo ao
terceiro fator é de .79, sendo de .76 aquele que respeita ao quarto fator, indicando graus
de consistência interna aceitáveis, na medida em que são superiores a .70 (Hill e Hill,
2000). No conjunto dos quatro fatores retidos a escala apresenta um coeficiente de
consistência interna de .93.
A escala construída e os quatro fatores retidos afiguraram-se interpretáveis com
base no modelo teórico que conceptualmente a fundamentou. Ao primeiro fator
atribuímos a denominação de "práticas de gestão do conhecimento", ao segundo de
"orientação cultural para o conhecimento", o terceiro foi denominado de "gestão social e
discursiva do conhecimento", e, por último, o quarto assumiu a denominação de "gestão
estratégica do conhecimento".
Ao longo dos nove anos de utilização do GC, este tem sido aplicado a diferentes
amostras, pertencentes a diversos sectores de atividade4, tendo-se vindo a obter um
conjunto diversificado de resultados que, globalmente, sustenta e reforça a tendência
tetra-dimensional evidenciada no estudo seminal anteriormente apresentado.
Importa salientar, pela importância nuclear de que se reveste para o trabalho aqui
apresentado, que uma das pesquisas realizadas com o GC envolveu uma amostra do
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Designadamente nos seguintes sectores de atividade: Industrial, Administração Pública Local, Hotelaria,
Indústrias Criativas, Ensino Superior, Economia Social e Serviços.
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Após a realização de uma validação de conteúdo ao instrumento que envolveu duas etapas: (1) adaptação
de expressões usadas no português de Portugal para as suas equivalentes no Português do Brasil, tendo sido
consultados peritos portugueses e brasileiros; e (2) aplicação do questionário a uma amostra de 15 sujeitos
pertencentes ao sector industrial em estudo, com o objetivo de avaliar a adequação dos itens e da escala de
resposta adotada, bem como da estrutura do questionário à população em questão. Os respondentes
consideraram o questionário acessível e todas as sugestões dadas foram integradas na versão do
questionário que foi utilizada.
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Por último, o quarto fator traduz as interações que, ao nível informal, ocorrem na
organização e que facilitam a construção social do conhecimento, emergente da prática
discursiva e da criação de uma linguagem comum e coletiva. Em causa está um
conhecimento de natureza maioritariamente tácita e que dificilmente se cria e se põe em
prática em circunstâncias que dificultem o contato (presencial) entre os diferentes atores
organizacionais. Trata-se de uma gestão simbólica do conhecimento que possibilita a
atribuição de sentido ao que se conhece e se faz e em que, através da utilização da
prática discursiva, se constroem compreensões coletivas acerca de acontecimentos
organizacionais relevantes.
Apresentamos-lhe de seguida uma lista de afirmações. Leia-a atentamente e diga em que medida
cada uma delas se aplica verdadeiramente à sua organização. Assinale, por favor, a sua resposta com uma
cruz, de acordo com a seguinte escala:
Nesta empresa:
GC01 Falamos uns com os outros sobre assuntos que não compreendemos bem 1 2 3 4 5
GC02 Pensamos na forma como resolvemos problemas no passado (nos nossos 1 2 3 4 5
sucessos e insucessos)
GC03 Juntamo-nos em grupo para resolver alguns problemas 1 2 3 4 5
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O GC apresenta-se aqui num formato pronto para aplicação. Contudo, dois dos itens (8 e 19) são
apresentados em duplo formato: versão utilizada na amostra portuguesa (VP) e versão utilizada na
amostra brasileira (VB). Os utilizadores deverão escolher a formulação mais adequada ao seu contexto.
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REFERÊNCIAS
BROWN, T. Confirmatory Factor Analysis for Applied Research. New York: The
Guilford Press, 2006.
BYRNE, B. Structural equation modeling with Amos: Basic concepts, applications and
programming (2nd ed.). New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2010.
HAIR, J.; BLACK, W.; BABIN, B.; ANDERSON, R. Multivariate data analysis. New
Jersey: Pearson Education, 2009.
HILL, M.; HILL, A. Investigação por questionário. Lisboa: Edições Sílabo, 2000.
McADAM, R.; MASON, B.; McCRORY, J. Exploring the dichotomies within the tacit
knowledge literature: towards a process of tacit knowing in organizations. Journal of
Knowledge Management, 11, 43-59, 2007.
POLANYI, M. The tacit dimension. London: Routdedge & Kegan Paul, 1966.
Tabachnick, B. G.; Fidell, L. S. Using multivariate statistics (5ª ed.). Boston: Allyn and
Bacon, 2007.