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SOB MEDIDA
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SOB MEDIDA
disfagia
Como você já sabe, a disfagia nada mais é que um distúrbio da
deglutição, com sinais e sintomas que se caracterizam por alterações em
qualquer etapa e/ou entre as etapas da deglutição, podendo ter inúmeras
causas, como lesões neurológicas focais ou degenerativas, traumatismo
cranioencefálico (TCE), acidente vascular encefálico (AVE), doenças
degenerativas neuromusculares, câncer de cabeça e pescoço, demências,
encefalopatias, refluxo gastroesofágico, doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC), idade (presbifagia), lesão de pregas vocais por intubação
orotraqueal, uso de traqueostomia, entre outras. A disfagia geralmente
reflete problemas que envolvem a cavidade oral, faringe, esôfago ou junção
gastroesofágica.
Além disso, dependendo do grau de comprometimento, pode causar a
entrada de alimentos nas vias aéreas, resultando em tosse, asfixia,
problemas pulmonares, aspiração, ou nutrição e hidratação inadequadas,
com consequente perda de peso, pneumonia e até morte.
Portanto, sempre que houver suspeita de distúrbio da deglutição ou se
o paciente estiver em risco de aspiração, é interessante que o médico,
fazendo parte de uma equipe multidisciplinar, consulte o fonoaudiólogo para
uma avaliação de disfagia. Porém, o próprio paciente pode procurar o
profissional, sem ser necessária prescrição médica.
Considerando que as alterações podem ocorrer em qualquer uma das
fases da deglutição, é importante relembrarmos quais são elas:
· Antecipatória;
· Preparatória Oral;
· Manipulação do alimento e mastigação;
· Voluntária (a língua propulsiona o bolo para a região posterior até que
o reflexo seja disparado);
· Faríngea (o ato reflexo);
· Esofágica (peristaltismo que leva o bolo do esôfago para p
estômago).
Anatomia e neurologia
Laringe
Figura 1 – Dissecção lateral da laringe. Fonte: Atlas of Human Anatomy (Elsevier, 2008).
Inervação Nervo laríngeo interno, nervo laríngeo recorrente e nervo laríngeo externo - ramos
do nervo vago (X)
Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/laringe
Músculos da laringe
Cricotireoideo
É o único músculo da laringe inervado pelo nervo laríngeo externo,
enquanto todos os outros são inervados pelo nervo laríngeo recorrente.
Ele aumenta a tensão nos ligamentos vocais porque emerge do arco da
cartilagem cricoide e se insere na lâmina e no corno inferior da cartilagem
tireoide.
Tireoaritenoideo
Reduz a tensão nos ligamentos vocais, porque se origina no ângulo
da cartilagem tireoide e se estende ao longo do processo vocal da
cartilagem aritenoide.
Cricoaritenoideo posterior
Abre a rima glótica, enquanto o músculo cricoaritenóideo lateral, o
músculo aritenóideo transverso e o músculo aritenóideo oblíquo a
fecham. Ele se origina da lâmina da cartilagem cricoide e se insere no
processo muscular da cartilagem aritenoide.
Cricoaritenoideo lateral
Insere-se da mesma forma que o músculo cricoaritenóideo
posterior. Ele emerge da parte lateral do arco da cartilagem cricoide.
Aritenoideo transverso
Origina-se do processo muscular da cartilagem aritenoide e se
estende até o processo muscular da cartilagem aritenoide oposta.
Aritenoideo oblíquo
Aparentemente não possui origem, uma vez que se estende entre
as duas cartilagens aritenoides e se insere em cada um de seus ápices.
Ariepiglótico e Tireoepiglótico
São dois músculos que auxiliam no fechamento da abertura
laringofaríngea, ao se inserirem na epiglote. O primeiro emerge do ápice
da cartilagem aritenoide, e o segundo da lâmina da cartilagem tireoide.
Cavidade oral
Lígua
Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/lingua
Músculos da língua
Os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua são formados pela
migração de somitos mesodérmicos occipitais. Eles se movem anteriormente
com o nervo hipoglosso (XII).
Os músculos extrínsecos são aqueles que envolvem a língua,
diretamente ligados a ela, e participam de sua movimentação. Esses
músculos incluem:
- músculo gênioglosso
- músculo hioglosso
- músculo estiloglosso
- músculo palatoglosso
Os músculos intrínsecos estão localizados no interior da língua e atuam
em todos os movimentos que ela faz. São responsáveis por encurtar, estreitar
e achatar a língua:
- longitudinal superior
- longitudinal inferior
- transverso
- vertical
Inervação da língua
Todos os músculos da língua são inervados pelo nervo hipoglosso (XII),
exceto o músculo palatoglosso, que é suprido pelo nervo vago (X).
A inervação sensitiva é levada por vários pares cranianos:
- Sensação geral e paladar do terço posterior da língua: glossofaríngeo (IX).
- Sensação geral dos dois terços anteriores da língua: nervo lingual (ramo do
nervo mandibular - V3).
- Sensação do paladar dos dois terços posteriores da língua: facial (VII).
Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/lingua
Avaliação Fonoaudiológica
Fase esofágica
Durante a fase esofágica podem ocorrer alterações referentes à diminuição de tempo ou
de extensão de abertura do EES ou ausência desta abertura (estase faríngea, aspiração após a
deglutição, impossibilidade de oferta por via oral); à diminuição do peristaltismo esofágico
(estase esofágica, refluxo para faringe, sensação de dor ou incômodo esternal); doença do
refluxo gastroesofágico (DRGE) (regurgitação, vômito, disfonia, aspiração após a deglutição);
acalásia, divertículos, estenose, fístulas traqueoesofágicas (FTE) (distúrbio do trânsito
alimentar, estase, aspiração após a deglutição).
Terapia fonoaudiológica
A disfagia pode estar presente em indivíduos de qualquer idade e
todos são tratados com base na avaliação da função da deglutição. Na
conclusão da avaliação, a presença, gravidade e padrão da disfagia devem
ser determinados e recomendações devem ser feitas em conjunto com o
médico e outros profissionais da equipe. Intervenções terapêuticas
apropriadas, recomendações alimentares e avaliações adicionais podem
ser implementadas. É muito importante que seja desenvolvido um plano de
assistência individualizado com objetivos claros, abordando
especificamente cada problema identificado na avaliação.
A terapia fonoaudiológica da disfagia inclui tanto medidas
compensatórias, como também, e principalmente, medidas reabilitadoras.
As estratégias de compensação provêm um efeito imediato, mas não
permanente na eficiência ou segurança da deglutição. Tais estratégias
incluem posturas, adaptação da dieta oral e orientações relacionadas ao
ambiente.
Já a reabilitação, é feita com intervenções que, quando providas ao
longo do tempo, propiciam mudanças permanentes no substrato subjacente
à deglutição. Fazem parte do processo de reabilitação a estimulação tátil
térmica gustativa (ETTG), os exercícios e a indicação de tratamento
farmacológico antirrefluxo e para reduzir saliva.
Exercícios
Antes de selecionar os exercícios que usará com o seu paciente, é
importante você ter em mente: qual é a alteração, qual é a estrutura que
será trabalhada e se a atuação do paciente será ativa ou passiva.
Para te ajudar, vou colocar uma descrição breve de cada um dos
exercícios aqui, abaixo:
Mandelson
Exercício indicado para diminuição da elevação laríngea ou
constrição faríngea; em casos de hipertonicidade do esfíncter
cricofaríngeo; quando há resíduos em valécula e seios piriformes com
potencial risco de aspiração; para transferência do bolo para o esôfago
com esforço.
Melhora a musculatura supra-hioidea e faríngea; e relaxa o
cricofaríngeo.
Masako
Indicado para os casos em que há déficit na aproximação de base
de língua com parede posterior faríngea; quando a pressão positiva do
bolo é insuficiente ao entrar na faringe; e quando há diminuição da
elevação laríngea ou constrição faríngea.
Os efeitos incluem: contração faríngea e língua entre os dentes.
Shakeer
Exercício indicado para quando existe diminuição na abertura do
esfíncter cricofaríngeo; resíduo em seio piriforme; risco ou presença de
aspiração.
Melhora a excursão laríngea na duração da abertura do esfíncter
esofágico superior (estabilização laríngea).
Deglutição com esforço
É indicada para os casos em que há diminuição da elevação
laríngea e redução da constrição faríngea; presença de resíduos em
valécula e seio piriforme; risco de aspiração.
Melhora a função da musculatura supra-hioidea e faríngea.
Contraindicação: pacientes instáveis e com impedimentos para
realização de esforço.
Estratégias compensatórias
As estratégias compensatórias podem ser muito úteis durante a terapia,
para um efeito imediato, como já comentei. Fazem parte de estratégias de
compensação: a alternância de consistências alimentares (para limpeza da
cavidade oral e recessos faríngeos); a adaptação dos utensílios utilizados
(tamanho da colher, canudo etc); adaptar a ingestão dos medicamentos; a
adequação do ambiente onde o paciente estará se alimentando; e o
encaminhamento para Nutricionista.
O uso do espessante também é uma compensação e é importante
lembrar que o paciente deve ser informado sobre o que é um “líquido
engrossado” (néctar, xarope, mel, purê). O grau de modificação deve ser
indicado após a avaliação fonoaudiológica.
Além dessas estratégias, temos também as posturas compensatórias,
que vou descrever brevemente, a seguir:
Cabeça abaixada
Postura indicada para controle oral e ejeção oral reduzida; e para quando
há atraso no disparo do reflexo da deglutição.
Essa postura alarga o espaço da valécula, proporcionando um espaço
para coleção de alimento antes do início da proteção pelas vias aéreas.
Contraindicação: em alguns pacientes, aumenta o risco de aspiração.
Cabeça estendida
Postura indicada para quando o mecanismo motor oral deficiente inibe a
eficiente transferência do bolo para a faringe.
Utiliza o efeito da gravidade para auxiliar a transferência do bolo, que cai
da base da língua para a cavidade faríngea.
Contraindicações: pode aumentar o risco de aspiração em pacientes
com mecanismos de proteção retardados/ou retardo no disparo do reflexo ou
em pacientes com alterações em fase faríngea; aumenta a pressão no
cricofaríngeo, inibindo a passagem do alimento para o esôfago.
Rotação de cabeça
Indicada para quando há fraqueza unilateral ou comprometimento
unilateral.
Reduz o espaço das cavidades faríngeas no lado fraco, redirecionando o
bolo e promovendo deglutição efetiva. A rotação contrária (para o lado sadio)
também pode trazer benefícios, aumentando a abertura do esfíncter
cricofaríngeo.
Limpeza do vestíbulo
Indicada para casos em que existe dificuldade de formar um bolo
coeso, resultando em resíduo em vestíbulo após a deglutição.
Essa postura limpa o resíduo da cavidade oral e redireciona para a
formação de um novo bolo.
Alternância de consistências
Utilizada quando o paciente demonstra fraqueza ou incoordenação
ou hipertonicidade no esfíncter esofágico superior, resultando em
resíduo faríngeo pós-deglutição na valécula e seios piriformes.
A ingestão de líquidos após os sólidos facilita a limpeza da valécula
e seios piriformes.
Contraindicação: não pode ser usada com pacientes que tenham
restrições para a deglutição de líquidos.
Deglutição múltipla
Indicada para quando há fraqueza ou incoordenação ou
hipertonicidade no EES, resultando em resíduo faríngeo após
deglutição.
O principal efeito é a limpeza de resíduos após a deglutição.
Orientações
A terapia fonoaudiológica não se resume apenas a exercícios e
estratégias, é importante que os familiares e o paciente recebam as
orientações adequadas.
Orientar sobre a higiene oral e o uso de anstisséptico bucal é
fundamental, pelos seguintes motivos: o número de dentes
comprometidos, a frequência de escovação e a independência na
higiene oral são fortemente associados à pneumonia. Isso acontece
porque placas, gengivites e doenças periodontais alteram a flora dentro
da boca e podem mudar a composição da saliva, fazendo com que o
paciente aspire saliva com maior concentração de bactérias anaeróbias.
A redução do fluxo salivar na xerostomia também contribui para o
aumento da quantidade de bactérias por ml.
É igualmente importante orientar com relação à adaptação da
prótese dentária, pois é comum o idoso ter diminuição da estrutura óssea
da boca, fazendo com que a prótese fique frouxa, aumentando o
movimento, o desconforto e a possibilidade de lesões na gengiva. Os
mesmos efeitos podem ocorrer por decorrência da perda de peso.
Como o fonoaudiólogo só acompanha o paciente durante a sessão,
é imprescindível que se realize o treino do cuidador, com relação à
melhor consistência, ao modo e ritmo de oferta, ao posicionamento do
paciente, ao ambiente adequado para a alimentação e ao estado de
alerta do paciente (importante que ele esteja acordado e respondendo
aos estímulos).
Traqueostomia
Como é muito comum encontrarmos pacientes traqueostomizados,
vou fazer um resumo aqui para você, das principais funções da
traqueostomia, dos benefícios que ela oferece, impactos e
complicações.
Para quê traqueostomia?
1. Quando há obstrução das vias aéreas, por algum motivo:
· Disfunção laríngea;
· Trauma;
· Queimaduras e corrosivos;
· Corpos estranhos;
· Anomalias congênitas;
· Infecções;
· Neoplasias;
· Manejo pós-operatório;
· Apnéia do sono.
2. Para realizar uma limpeza das vias aéreas:
· Idade avançada;
· Fraqueza;
· Doenças neuromusculares.
3. Para dar suporte ventilatório.
Benefícios
· Aliviar a obstrução das vias aéreas superiores;
· Suporte ventilatório de pacientes críticos auxilia o desmame de IOT
(tempo superior a 14 dias).
Impactos
· Redução da elevação/anteriorização do osso hioideo;
· Estabelecimento de novo padrão respiratório;
· Afonia;
· Dificuldade para manejo de secreções;
· Disfunção do fechamento das PPVV;
· Alteração do olfato e paladar;
· Alteração da pressão glótica.
Válvula de fala
A válvula de fala é utilizada em pacientes traqueostomizados
dependentes ou não de ventilação mecânica, que são candidatos à
comunicação oral, capazes de tolerar cuff desinsuflado e com deglutição
faríngea presente.
Vantagens
· Aumento de ventilação e oxigenação;
· Melhoria do manejo das secreções;
· Aumento do olfato e paladar;
· Produção de voz;
· Emissões mais longas;
· Auxílio na deglutição;
· Restaura pressão positiva fisiológica;
· Reestabelece pressão infraglótica;
· Permeia a decanulação.
Contraindicações
· Laringectomias totais;
· Paralisia bilateral de pregas vocais;
· Estenoses laríngeas ou traqueais importantes;
· Estado clínico grave;
· Nível cognitivo rebaixado;
· Pacientes com cuff sempre insuflado;
Muita atenção com:
· Aumento do esforço respiratório;
· Sensação de calor;
· Queda de saturação de oxigênio;
· Alteração da frequência cardíaca/frequência respiratória;
· Aumento de secreção e de tosse.
Procedimento de aspiração
O procedimento de aspiração consiste na retirada passiva das
secreções, com técnica asséptica, por um cateter conectado a um sistema
de vácuo, introduzido na via aérea artificial. A aspiração somente deverá ser
realizada quando necessária, isto é, quando houver sinais sugestivos da
presença de secreção nas vias aéreas.
Paola Pucci - Disfagia Sob Medida - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 26
terapia fonoaudiológica
Procedimento de aspiração
O procedimento de aspiração consiste na retirada passiva das
secreções, com técnica asséptica, por um cateter conectado a um
sistema de vácuo, introduzido na via aérea artificial. A aspiração somente
deverá ser realizada quando necessária, isto é, quando houver sinais
sugestivos da presença de secreção nas vias aéreas.
As possíveis complicações do procedimento incluem: tosse,
broncoespasmo, hipoxemia, arritmias e danos à mucosa e ao sistema
mucociliar (associados à técnica do operador e à quantidade de pressão
usada).
Descrição do procedimento
1. Checar montagem de material necessário: sonda de aspiração
traqueal conectada ao sistema de aspiração a vácuo, luva estéril de
procedimento, máscara e óculos protetores;
2. Calçar luva de procedimento na mão não dominante e luva estéril
na mão dominante;
3. Segurar a sonda de aspiração com a mão dominante;
4. Com a mão não-dominante, clampear a extensão de látex e
introduzir a sonda com a mão dominante até onde for possível;
5. Desclampear a extensão para que ocorra a aspiração da secreção;
6. Retirar lentamente a sonda, realizando movimentos circulares;
7. Retirar as luvas.
Paciente: TFH
Sexo: Masculino
Idade: 66 anos
Atendimento ambulatorial
Antecedentes:
HAS: Sim
DM: Não
AVC: Sim
DPOC: Não
Asma: Não
Doença coronariana: Não
Insuficiência cardíaca: Não
Insuficiência renal: Não
Demência: Não
Condições clínicas:
Acamado: Não
IRC em diálise: Não
Úlcera por pressão: Não
Dependência O2: Não
Dieta enteral: Não
Traqueostomia: Não
Cirurgias: Não
Infecções/ ATB recentes: Não
Neoplasia maligna: Não
Gabarito da tarefa
Conclusão - diagnósticos fonoaudiológicos:
· Disfagia orofaríngea moderada (grau 4, segundo Escala ASHA-
NOMS).
· Deglutição
· Fala
o Cantar com a música original ao fundo, para paciente
acompanhar lendo a letra; produção fonêmica treinada som a
som; leitura de palavras, evoluindo do fonema bem executado
para o próximo fonema, visando melhora da inteligibilidade de
fala, bem como feedback auditivo de tom de voz mais uniforme
e respiração profunda com promoção intercostal. Exercícios de
véu palatino também são ótimos para articulação, variação de
pitch e redução da hipernasalidade. Linguagem e cognição
o Manter ao menos 10% das sessões com estimulação atencional
e de memória operacional: jogo da memória; sete erros;
evocação lexical fonêmica e semântica; produção de diário
narrado pra ser ouvido na sessão, também corrigindo alterações
de fala.
Caso clínico
Paciente: JP
Sexo: Masculino
Idade: 24 anos
Atendimento hospitalar
HD: TCE por arma branca com fratura temporal/ HSA/ hemorragia
intraparenquimatosa fronto-parieto-occipital E/ Insuficiência respiratória –
trauma x broncoaspiação/ Afasia (?).
Gabarito da tarefa
Script de avaliação
· Antes de atender
o Li o prontuário com mais profundidade e vi que o jovem
paciente sofreu um assalto violento e que estava estudando
Medicina na universidade de uma cidade diferente da natal,
onde está internado há 45 dias. Quem o está acompanhando
é a mãe, hospedada aqui no hospital para ajudá-lo desde
então. Como de costume, não encontrei dados sobre
comunicação entre cuidador e paciente, mas li que ele tem
estado mais alerta nos últimos três dias. Paciente passou por
intubação orotraqueal (IOT) durante 6 dias para cirurgia de
drenagem de hematoma subdural.
· Avaliação
Quando entro no quarto, encontro paciente no leito, alerta, não
contactuante de forma ocular e aparentemente articulando oralmente, mas
sem emissão sonora devido ao uso de traqueostomia plástica, cânula de 12
mm, cuff insuflado, em nebulização. Uso exclusivo de gastrostomia (pois é;
quando cheguei, o paciente já tinha realizado a cirurgia para gastro).
Mostro a ele novas fotos, agora uma pera e uma caneta e dou a
caneta na mão dele pra observar se ele escolheria a foto certa para
representar o objeto. Ele, muito lentamente, colocou na figura correta.
Mostro agora as fotos de um controle remoto e de uma escova de dentes e
ofereço o controle remoto. Novamente, com muita lentidão, o paciente
coloca o controle sobre a foto que o representava. A mãe, que foi orientada a
não se expressar durante os testes, sorria e eu também, sem esboçarmos
nenhuma palavra.
Com esses testes, pude perceber que o paciente se comunicaria por
gestos, mímica facial, objetos ou representações, como fotos. Restava
saber como estava a compreensão de leitura e a auditiva. Dessa vez, pego
figuras de palavras escritas “caneta” e “celular”, pego novamente meu
celular, olho pra ele e para as duas figuras, e coloco o aparelho sobre sua
respectiva palavra escrita. Agora, coloco sobre a mesinha dele as palavras
escritas “controle remoto” e “escova de dentes” e mostro foto de “escova de
dentes”; paciente coloca a palavra na foto correta. Repito com mais duas
sequências, todas com resultado positivo, demonstrando compreensão de
leitura simples.
Agora, finalmente, posso falar na sessão (rs)! E então, pego duas
fotos, uma de praia e outra de carro, e solicito: “Qual é o carro?” - E balanço
as cartas: “esse” ou “esse”? Ele aponta para o carro! Repito a sequência
com outras cartas e ele acerta também. E então, começo perguntas do tipo:
“Seu nome é X?” Ele faz que sim com a cabeça. Em seguida, pergunto “aqui
é sua casa?”, ele também faz que sim, pergunto: “hoje é sábado?” (mas era
terça) e ele novamente balança a cabeça dizendo que sim. Neste momento,
percebo que existe uma dificuldade de compreensão auditiva quando não
tem apoio visual, ou de objetos, ou de mímica e/ou gestos, o que demonstra
uma compreensão auditiva moderadamente comprometida.
Com esses dados, conto pra ele que descobri do que ele gostava e mostro
bananas picadas! Ele sorri e eu digo que vou tentar ver se hoje ele
conseguiria provar ou pelo menos sentir o cheiro, mas que pra isso eu
precisaria cuidar da traqueo (aponto pra ela, enquanto falo). E então, realizo
aspiração traqueal e observo secreção em baixa quantidade, incolor e
levemente espessa, o que demonstra uma possível ausência de
broncoaspiração de saliva. Paciente se recupera da aspiração e reintroduzo
a sonda traqueal para aspirar a secreção supra cuff, ou seja, a secreção que
cairá enquanto eu desinsuflo o cuff com o cuffômetro. Noto quase nenhuma
secreção. Paciente mantendo entre 96 e 92% de saturação de oxigênio
durante o procedimento e frequência cardíaca se eleva de 75 a 90 bpm;
paciente tossindo intensamente (sem som) e conforme foi se recuperando, a
FC foi baixando e a saturação aumentando, dentro dos intervalos descritos.
Opto pela oclusão digital, aguardo respiração e peço que o paciente
diga “aaaaaaa”, paciente diz “piiiiiii”. Apresento modelo visual e paciente não
consegue repetir. Testo automatismos, pedindo que ele conte até 10 e inicio
“1, 2...” e ele diz “claro, claro, claro”; porém, mantendo a prosódia de
contagem numérica. Observo sinais claros de apraxia de fala e bucofacial.
Paciente com qualidade vocal levemente soprosa, loudness fraca e pitch
agravado. Aproveitando a oportunidade, peço tosse e pigarro (com modelo
visual e auditivo), e paciente também não realiza de forma adequada.
Ainda com cuff desinsuflado e paciente se mantendo estável, opto por
ocluir a cânula com micropore e noto deglutições espontâneas de saliva (em
média, a cada 8 segundos), sem sinal clínico sugestivo de
penetração/aspiração laringotraqueal.
Apresento o cheiro e as bananas picadas, uma foto da banana e
palavra escrita “banana”. Paciente mantém-se atento; opto por sujar colher
de café, mas vejo que ela é de plástico descartável e, por segurança,
escolho sujar um abaixador de língua, posicionando como uma colher na
mão do paciente. Mostro meu modelo com a colher. Paciente muito
lentamente alcança cavidade intraoral, realiza captação eficiente do
estímulo gustativo, manipulação intraoral lenta, mas com rápido disparo de
reflexo de deglutição (cerca de 11 segundos após captação labial).
· Conclusão
o Paciente com compreensão preservada para objetos, fotos,
gestos, expressões faciais e leitura de palavras e
moderadamente comprometida na modalidade auditiva. Sugiro
conversação com frases curtas, diretas e associadas a gestos,
mímica, fotos ou objetos. A expressão escrita é proporcional à
fala, com importante apraxia e emissão do jargão “claro, claro”.
o Foco atencional prejudicado por dificuldade de manutenção da
vigília, memória operacional comprometida, funções motoras de
planejamento e execução alteradas, processamento visual
preservado e baixa acuidade visual, sendo necessário uso de
óculos.
o Fala caracterizada pelo uso prolongado de IOT e TQT,
necessitando de treinamento respiratório para adaptação vocal.
Observo lentificação articulatória, dificuldade respiratória,
fonação com loudness fraca, pitch agravado e presença de
rouquidão.
o Ainda em avaliação de deglutição, com possível introdução de
volume na próxima sessão (paciente dormiu na sessão).
Observo deglutição eficiente de saliva com e sem estímulo
gustativo, sem o uso do cuff, com tamponamento da cânula de
traqueostomia.
· Conduta
Sugiro atendimentos fonoaudiológicos diários, com os seguintes
objetivos:
o Treino de produção oral dos fonemas da língua portuguesa
com modelo visual (FonoSpeak - aquisição de fonemas),
músicas e automatismos associados à leitura, escrita e
compreensão auditiva. Adaptação de tempo prolongado de
tamponamento da cânula de traqueostomia e discussão de
protocolo de decanulação junto à fisioterapia e introdução de
comunicação alternativa com alfabeto e palavras mais
usuais, para facilitar a conversação.
o Treinamento de memória visual, auditiva, tátil, olfatória
associando estímulos a sequências como frutas x odores.
Discussão sobre prognóstico clínico da sonolência e
treinamento das funções executivas por meio de uso
funcional dos objetos e atividades de vida diária.
o Introdução da dieta oral de forma progressiva, com
sensibilização laríngea associada, por meio do protocolo de
decanulação e manobras de proteção das vias aéreas, que
consistirão em exercícios vocais (fricativos, vibrantes,
glissandos) para também adequar fala.
Avaliação Inicial
Queixa: Dificuldade para alimentação.
Histórico: Iniciou dificuldades de manter lábios ocluídos há cerca de 6 meses,
quando iniciou terapia fonoaudiológica com especialista em MO. Por observar
piora dos sintomas, apesar da terapêutica, fonoaudióloga encaminhou caso
para avaliação de neurologista, que encaminhou caso para fono especialista
em neurologia. Foi avaliada por Fga. Paola, que indicou suspensão de
alimentação por via oral, VAA e encaminhou para avaliação de nutricionista.
Foi indicada GTT, porém paciente não aceita indicação e opta por manter
alimentação por via oral (dieta geral). Paciente apresentou perda ponderal
importante no último ano (cerca de 8-9 Kg) e iniciou quadro de depressão
após falecimento do marido (há cerca de dois anos).
AP: HAS controlada, hipoacusia (PANS em ambas as orelhas de grau
moderado - presbiacusia).
Medicação atual: Amitriptilina (medida xerostômica - 1/2 comprimido),
medicação para controle de pressão arterial.
Avaliação Estrutural
Redução de força de orbicular de lábios, bucinadores, masseteres e terço
anterior, médio e posterior de língua.
Redução de mobilidade de bochechas (bucinadores), orbicular de lábios,
masseteres, movimento de lateralização, protrusão e retração de língua
voluntariamente. Postura habitual de mandíbula inferiorizada e lábios
desocluidos com língua no assoalho ( devido à fraqueza de musculatura-
paciente e família referem respiração nasal e ausência de alterações de VAS
importante até inicio da queixa).Presença de fasciculação em língua e m.
mentual.
Presença de prótese dentária fixa superior e inferior.
Sinais vitais: 96% Sp O2 e FC 57 bpm
Reflexo de GAG presente
Ausculta pulmonar sem ruídos adventícios evidentes.tivos, vibrantes,
glissandos) para também adequar fala.
Paola Pucci - Disfagia Sob Medida - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 47
caso clínico
Tosse voluntária fraca e ineficaz
Face simétrica aos movimentos de mímica
Escape de ar nasal (em espelho milimetrado) para as fonemas /a/, /i/ e /p/.
Disartria flácida (amplitude de movimentos articulatórios reduzida,
articulação imprecisa de consoantes, hipernasalidade, monopitch,
monoloudness, redução da velocidade de fala, tempo máximo de fonação
reduzidos, qualidade vocal rugosa e soprosa, incoordenação
pneumofonoarticulatória).
Alteração em gerenciamento de saliva: redução de frequência de deglutição
de saliva (2 deglutições espontâneas – TTO lento e deglutição incompleta –
ao longo de 1 minuto). Escape anterior de saliva em grande volume durante
avaliação.
Sensibilidade extraoral preservada em terço médio e superior. Alteração de
sensibilidade extraoral em terço inferior.
Avaliação Funcional
Café-da manhã do início ao fim: pão de forma com presunto e queijo
tostado, banana amassada (com suplementos alimentares, aveia, açúcar e
leite em pó), suco de caixinha (250 ml com canudo do líquido néctar/suco de
pêssego). Oferta independente.
Observo:
Paciente inicia refeição por pão recheado e tostado, com escape importante
de saliva. Dificuldade de captação e contenção oral do alimento. Observo
tempo de trânsito oral demasiadamente lento, com preparo oral alterado
(mastigação ineficiente com movimentos reduzidos e verticais de
mandíbula, redução da mobilidade de língua e dificuldade de centralização
do bolo alimentar para ejeção). Deglutições sistemáticas, múltiplas e
ineficientes com escape anterior de 100% do volume de oferta. Observo
alteração de qualidade vocal (voz molhada), tosses reflexas fracas e
ineficazes, além de alteração da ausculta cervical durante deglutição.
Mandíbula em posição inferiorizada e lábios desocluídos durante deglutição.
Paciente desiste do alimento por dificuldade de desempenho e opta banana
amassada com colher de sopa. Observo dificuldade de captação oral,
tempo de trânsito oral lento, deglutições múltiplas fracionadas com lábios
entreabertos e presença de escape anterior de cerca de 30% do volume.
Presença de engasgos, pigarros, tosse e alteração de qualidade vocal (voz
molhada) e ausculta cervical durante e após oferta. Engasgos de
recuperação rápida. Ao final, observo tosses em salva e escape nasal de
saliva misturada ao alimento.
Paola Pucci - Disfagia Sob Medida - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 48
caso clínico
Gabarito da tarefa
Proposta terapêutica
A primeira abordagem de toda sessão era a orientação: a Fono
explicava para a paciente quais eram as consistências mais seguras e a
forma mais segura de se alimentar. Também era realizado um treino com o
alimento que ela costumava comer, para adaptar e diminuir os riscos,
sempre visando favorecimento da ejeção, redução de risco de fadiga,
começando por alimentos mais fibrosos e difíceis de triturar e deglutir (tendo
mais sucesso inicialmente e deixando os alimentos mais fáceis para o final,
quando ela já estivesse cansada).
Com relação aos exercícios, foram trabalhados muitos exercícios
passivos, com apoio de estímulo tátil, térmico e gustativo (geralmente,
combinados).
· Alongamento passivo
o Protrusão, retração e lateralização de língua;
o Mobilização de lábios;
o Mobilização de orbicular de lábio, bucinadores e
masseteres.
· Fala hipernasal
· Mobilidade laríngea passiva, inserindo exercício ativo
o Elevação laríngea: protrusão passiva da língua com
emissão de “iii” hiperagudo
· Estímulos térmicos e gustativos
· Deglutição de saliva
· Exercícios para o véu palatino (sempre com imagem mental do
exercício antes, devido à dificuldade para executar)
o Falar “ga”, “ka”
o Não era possível realizar exercício de sopro, porque a
paciente tinha dificuldade para vedar os lábios
· Exercícios de fala
o Tempo máximo fonatório, com ambu (emitindo “a”, depois
“i”)
o Fonação inspiratória
o Exercícios de articulação (produção de vogais)
o Apoio da CSA para a paciente conseguir se expressar
Caso clínico
Paciente: IPC
Sexo: Feminino
Idade: 89 anos
Gabarito da tarefa
Roteiro de investigação
· Qual a rotina da clínica, com os pacientes?
· Alguma atividade de estimulação é oferecida a eles? Se sim, qual, e
com que frequência?
· Tem atendimento de fisio, TO e outros?
· Qual a frequência das visitas familiares?
· Ela se alimenta sozinha?
· Engasga com frequência?
· Tosse durante as refeições?
· Apresenta mudança na voz depois de se alimentar?
· Conversa com os colegas?
· Passa a maior parte do tempo de que jeito? Vendo TV, deitado,
sentada sozinha?
· Gosta do quê?
· Preferências de entretenimento, filmes, músicas, atividades.
Avaliação
· Mímica facial
· Linguagem
o Solicitar da família algum álbum de fotos para nomeação dos
familiares.
o Nome completo, idade, aniversário, quantos filhos, etc.
o Mostrar figuras diversas para nomeação, repetição de palavras
e frases, memória dessas mesmas figuras.
· Fala
o Articulação dos sons, presença de nasalidade.
Caso clínico
Paciente: DP
Sexo: Feminino
Idade: 86 anos
Atendimento domiciliar.
Diagnóstico: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e Bronquite.
Episódios de microaspirações.
Caso clínico
Paciente: GCC
Sexo: Feminino
Idade: 87 anos
Goes VF, Mello-Carpes PB, Oliveira LO, Hack J, Magro M, Bonini JS. Avaliação
do risco de disfagia, estado nutricional e ingestão calórica em idosos com
Alzheimer. Rev. Latino-Am. Enfermagem mar.-abr. 2014;22(2):317-24.
Gozzer MM, Cola PC, Onofri SMM, Merola BN, Silva RG. Achados
videoendoscópicos da deglutição em diferentes consistências de alimento na
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Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica e
Tabagismo (Frederico
Leon Arrabal Fernandes,
Maria Vera Cruz de
Oliveira Castellano, José
Gustavo Barian
Romaldini).
www.paolapucci.com.br