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TRAGÉDIA REVELA RARO FUSCA 1950

COM SOMENTE 14.190 km
NA CAPITAL DE SÃO PAULO, UM INCÊNDIO QUE CEIFOU A VIDA DE UMA PESSOA,
ACABOU REVELANDO UM SEGREDO GUARDADO HÁ 68 ANOS

por
Alexander Gromow
—
08/08/2022
em
AG
 Pesquisa na Internet

Estou falando de uma raridade incrível, um Fusca 1950 com apenas 14.190 quilômetros no
odômetro quando foi encontrado. Eu soube deste carro há uma semana, mas a orientação era
manter segredo sobre sua existência até segunda ordem. Assim procedi, mas na sexta feira
(5/8), as fotos deste carro inundaram a internet, o que liberou o segredo sobre sua existência e
as tornou de domínio público. Passei então fazer as minhas pesquisas, decidido a escrever
esta matéria.

Quem me passou as primeiras fotos, vídeos e informações sobre este incrível carro foi Marx
Salles, que com isto faz parte desta história.

As primeiras informações foram difusas, e continuam assim quando se tenta entrar nos
detalhes da história e do carro. Acho que vai levar um tempo para que a poeira baixe e tudo,
talvez, fique devidamente esclarecido.

As informações falavam de um ancião acumulador, de hábitos reclusos, que costumava

acender velas ou uma lamparina à noite. Isto acabou causando um incêndio que levou sua
vida, carbonizado no sinistro. Depois se comentou que alguém ligado ao falecido começou a
vender seus pertences. Dentre eles um antigo Fiat Topolino que ficava na entrada de carros, na
lateral da casa. Quando foram ver o Fiat alguém disse que também havia um Fusca atrás da
porta de ferro da frente da casa. E quando foram vê-lo é que veio a grande surpresa. Era um
Fusca 1950 praticamente novo, num estado de conservação incrível — apesar da grande
quantidade de pó que tinha se acumulado sobre ele, como veremos adiante em algumas fotos.
A última plaqueta de licenciamento era de 1953 como pode ser visto na foto de abertura.

Parti para a internet com o critério de busca “ancião morre em incêndio em São Paulo” e como
primeira resposta veio uma notícia do Portal R7 cuja manchete era: “Idoso morre carbonizado
dentro de casa no centro de São Paulo”. A informação falava de um sinistro ocorrido no dia 12
de junho de 2022, no qual o sr. Windsor Constantino Felippo, morador na rua Albuquerque
Maranhão, no Cambuci, região central de São Paulo, havia falecido.

Como o número do imóvel não constava da reportagem eu liguei para o Corpo de Bombeiros,
onde fui muito bem atendido. Primeiramente eu soube que o dia e hora do ocorrido, conforme
registro do Corpo de Bombeiros, era 11 de junho e a hora, 23h00. E o número do imóvel era
226. Pesquisando no Google Maps achei a fachada da casa:

A fachada do número 226 mostra que o imóvel há muito tempo precisava de cuidados. Mas atrás daquela porta de ferro
na fachada da casa se escondia uma grande raridade (Foto: Google Maps)

Mudando a visão do Google Maps para a visão de cima da rua com seus prédios, foi possível
ver que a casa é estreita, mas que ela é bastante comprida:

Visto de cima, o imóvel do nº 226 da rua Albuquerque Maranhão é bem comprido (Foto: Google Maps)

O incêndio ocorreu aproximadamente na metade do comprimento da edificação, onde ficava a

cozinha, destelhando um bocado do seu teto, como pode ser visto na foto abaixo:

Estragos no telhado da área atingida pelo fogo (Foto: fotograma de vídeo enviado
por Marx Salles)

Mas até aí eu não tinha certeza se estava no caminho certo. A confirmação logo veio com o
recebimento do “Certificado de Propriedade de Veículo a Motor” emitido em nome de Paschoal
Felippo, pai do sr. Windsor, que o Marx enviou. Com isto as informações se consolidaram e a
minha pesquisa de endereço se confirmou certa.

Certificado de propriedade em nome de Paschoal Felippo (Foto: enviada por Marx Salles)

Quem diria que atrás da porta de ferro daquela casa malconservada se encontrava talvez o
Fusca 1950 mais original de nossos dias! A perda da vida do sr. Windsor foi uma grande pena,
mas, por outro lado, foi uma grande sorte que os bombeiros logo acudiram ao local do sinistro
com seis viaturas e que rapidamente apagaram o fogo evitando a perda desta raridade.
Na entrada de veículos se estende um logo corredor no qual estava guardado o Fiat Topolino
como mostra a foto abaixo:

Corredor de veículos da casa do sr. Windsor; ao fundo o Fiat Topolino (Foto: enviada por Marx Salles)

O Fusca estava numa área que poderia ser usada comercialmente, e que facilmente abrigaria
uma loja ou um bar, com um pé direito alto e fechado para a rua por uma porta de ferro
corrugado de enrolar. A porta estava chumbada em sua borda inferior e teve que ser liberada
para poder ser aberta. Foram muitos anos com esta porta fechada, quem passava pela rua não
tinha como saber o tesouro que se escondia atrás daquela porta.

Abaixo uma foto histórica: o Fusca como foi encontrado, coberto com a poeira de muitos anos,
além de quatro pneus no teto, muitas tábuas sobre ele e até algumas encostadas nele.

Com a porta que dá para a rua fechada o ambiente estava escuro, mas a foto fez o registro do momento no qual o Fusca
começou a ser libertado de seu longo sono (Foto: garimpada por Marx Salles)

Com a porta de ferro de enrolar aberta, já com uma iluminação melhor, foi possível fazer uma
foto em condições melhores. Esta foto deverá circular entre os apaixonados pelo Fusca do
mundo inteiro:

O Fusca visto de trás já sem os objetos que estavam sobre e encostados nele (Foto: enviada por Marx Salles)

Acho que muitos devem estar curiosos para ver uma foto do velocímetro deste Fusca
mostrando o seu odômetro quando o carro foi encontrado:

A incrível quilometragem de 14.190 km, o dígito 4 está um pouco sujo, mas dá para lê-lo (Foto: Marx Salles)

Segue uma seleção de fotos feitas pelo Marx Salles:

Segue um vídeo com clipes das descobertas feitas quando o carro foi encontrado:

Clipes do Fusca 1950 com 14.190 km

Assim término o registro do “descobrimento” deste carro que, segundo informações, logo será
disponibilizado para venda. O carro foi limpo e encerado E aí as opiniões se dividem. A meu ver
o carro deveria ter ficado o mais intocado possível, para permitir ao seu novo dono decidir o
que fazer com ele. Eu posso imaginar que, se um museu o adquirisse, o carro poderia até ser
exposto com a sujeira toda e com os pneus e tábuas sobre o seu teto, mostrando o momento
histórico em que ele foi descoberto. Ou que seu novo dono fizesse a limpeza da maneira que
achasse mais adequada a seus propósitos. Mas esta oportunidade se foi, as marcas do longo
tempo de abandono não existem mais.

Meus agradecimentos ao Marx Salles por seu empenho para a realização desse trabalho.
Também agradeço ao Corpo de Bombeiros que gentilmente me atendeu pelo telefone 193, na
verdade eu estava temeroso de atrapalhar o serviço de emergência, mas quando expliquei que
era um trabalho de pesquisa para uma matéria o atendimento ocorreu sem problemas.

AG

NOTA: Nossos leitores são convidados a dar o seu parecer, fazer suas perguntas, sugerir material
e, eventualmente, correções, etc. que poderão ser incluídos em eventual revisão deste trabalho.

Em alguns casos material pesquisado na internet, portanto via de regra de domínio público, é
utilizado neste trabalho com fins históricos/didáticos em conformidade com o espírito de
preservação histórica que norteia este trabalho. No entanto, caso alguém se apresente como
proprietário do material, independentemente de ter sido citado nos créditos ou não, e, mesmo
tendo colocado à disposição num meio público, queira que créditos específicos sejam dados ou
até mesmo que tal material seja retirado, solicitamos entrar em contato pelo e-mail
alexander.gromow@autoentusiastas.com.br para que sejam tomadas as providências cabíveis.
Não há nenhum intuito de infringir direitos ou auferir quaisquer lucros com este trabalho que não
seja a função de registro histórico e sua divulgação aos interessados.

A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.

 

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Alexander Gromow
Alemão, engenheiro eletricista. Ex-presidente do Fusca Clube do Brasil. Autor dos livros "Eu
amo Fusca" e "Eu amo Fusca II". É autor de artigos sobre o assunto publicados em boletins
de clubes e na imprensa nacional e internacional. Além da coluna Falando de Fusca & Afins
no AE também tem a coluna “Volkswagen World” no Portal Maxicar. Mantém o site Arte &
Fusca. É ativista na preservação de veículos históricos, em particular do VW Fusca, de sua
história e das histórias em torno destes carros. Foi eleito “Antigomobilista do Ano de 2012”
no concurso realizado pelo VI ABC Old Cars.

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MrBacon − ⚑
4 horas atrás

É triste saber de uma pessoa acumuladora, que certamente passou por transtornos diversos ao longo
da vida… mas considerando a cultura autoentusiasta, são esses indivíduos atormentados quem nos
oferecem surpresas como essa.

△ ▽ Responder
Emerson Gagliardi − ⚑
5 horas atrás edited

Fantástica história, caro amigo Alexander! Esclarece muito para todos nós que estamos
acompanhando pelas redes sociais qual a real história que fez esse carro permanecer praticamente
sem uso por tantas décadas! Com certeza uma das maiores descoberta no mundo do
antigomobilismo mundial! Espero e muito que seja eternamente preservado imaculado quase como
foi encontrado! Forte abraço

△ ▽ Responder
Silvio − ⚑
5 horas atrás

Fico imaginando quantas outras relíquias devem existir abandonas ou esquecida pelos lugares que
passamos e não nos damos conta.

Esse imagino que seja alemão 100%, mas se fosse só uns aninhos mais novo teria nascido e vivido
toda a existência ali no bairro.
△ ▽ Responder
Manoel Malafaia − ⚑
5 horas atrás

Que história incrível!!!

Que decisão ruim de limpar o carro!

△ ▽ Responder
invalid_pilot − ⚑
6 horas atrás edited
Se esse Fusca cair nas mãos de certos "vendedores de raridades do Brasil" vai ser avaliado mais caro
que um Ferrari 0-km.
1△ ▽ Responder
Carlos Miguez - BH − ⚑
6 horas atrás

O mais INTRIGANTE desta história toda, a meu ver, é que o documento de propriedade foi preenchido
por uma impressora matricial ... (em 16 de junho de 1951; como é possível ????)
△ ▽ Responder
MrBacon > Carlos Miguez - BH − ⚑
4 horas atrás

Certamente uma máquina de escrever com alguma fonte diferente, mesmo do que lembro de
impressora matricial, achei os pontos estão mais espaçados.
△ ▽ Responder
rotea > Carlos Miguez - BH − ⚑
4 horas atrás

São tipos de máquina de datilografia.

△ ▽ Responder
Alfredo Ralisch − ⚑
7 horas atrás edited

Sensacional, Mark Salles e Alexander Gromow. Um Fusca um pouquinho mais velho que eu. Curioso
saber mais tarde o futuro dono. Bela reportagem. Parabéns.

△ ▽ Responder
Fórmula Finesse − ⚑
7 horas atrás
Vai rolar uma grana grossa por esse pedaço congelado (e empoeirado) do tempo; tomara que a gente
ainda possa vê-lo nas melhores condições possíveis.
△ ▽ Responder
Jorge − ⚑
8 horas atrás

Inacreditável isso. Chega a ser assustadora até. Também concordo, deveriam deixar no estado como
está, no máximo, realizar alguma limpeza para conservação do modelo, no máximo retirada de alguns
mofos que estragam o carro. Que história, terá repercussão mundial!

△ ▽ Responder

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