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ISSN-1518-2495

INSTITUTO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO DE SURDOS

37
RIO DE JANEIRO I BRASIL

JAN / JUN
2 0 1 8

PERIÓDICO DE DIVULGAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS POLÍTICAS E PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO DE SURDOS

PLANO EDUCACIONAL ACESSIBILIDADE EM FORMAÇÃO CONTINUADA


INDIVIDUALIZADO COMO LÍNGUA DE SINAIS NA WEB DO TRADUTOR INTÉRPRETE
FERRAMENTA DE INCLUSÃO DE LIBRAS

Tradução de Língua Tradutor intérprete de Teoria das Representações


de Sinais e o Ensino Libras no campo Sociais e a identidade do
Superior educacional tradutor intérprete

INCLUSÃO | ACESSIBILIDADE | FORMAÇÃO CONTINUADA | ENSINO SUPERIOR | LIBRAS | INTERPRETAÇÃO | TRADUÇÃO


Instituto Nacional de
Capa: Ilustrações produzidas por alunos do DEBASI-INES no Núcleo de Artes, em um projeto de elaboração de desenhos de observação do prédio do
INES, proposto pela Profª Joana Lyra. Seleção de imagens: Lucia Vignolli. Composição do mosaico: Ramon Linhares.

Instituto Nacional de
REVISTA ARQUEIRO
ISSN 1518-2495

GOVERNO DO BRASIL

PRESIDENTE DA REPÚBLICA ENTREVISTA: TRADUÇÃO DE/PARA


Michel Temer JAQUELINE LUNA LÍNGUA DE SINAIS NO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
José Mendonça Bezerra Filho

Editores
06 ENSINO SUPERIOR:
EXPERIÊNCIAS
INSTITUTO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO DE SURDOS
COMPARTILHADAS

44
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO A CONSTRUÇÃO DO
Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti
PLANO EDUCACIONAL
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO, CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO INDIVIDUALIZADO COMO MÔNICA R. DE SOUZA
Gilsilene Gonçalves de Moraes
FERRAMENTA DE INCLUSÃO LOPEZ
COORDENAÇÃO DE PROJETOS
EDUCACIONAIS E TECNOLÓGICOS
DO ALUNO SURDO COM RAFAEL DA MATA SEVERINO
Ramon Santos de Almeida Linhares COMPROMETIMENTOS
NO CAP-INES
12
DIVISÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS
Ana Regina Campello AS FACES DA ATUAÇÃO
DO TRADUTOR
DORA V. DA COSTA
PUBLICAÇÕES INES
INTÉRPRETE DE
COORDENAÇÃO EDITORIAL DDHCT/INES FLAVIA DE A. MARQUES LIBRAS
Gabriela Rizo
Gilsilene Gonçalves de Moraes KEILA FERREIRA DA SILVA E PORTUGUÊS
Luiz Alexandre da Silva Rosado
Ramon Santos de Almeida Linhares
NO CAMPO
SECRETÁRIO
DESENCAPSULANDO A EDUCACIONAL
56
Jean Fuglino Paiva

COMISSÃO DE TRADUÇÃO
LÍNGUA DE SINAIS NA WEB
Alessandra Scarpin Moreira Delmar
Fabíola de Vasconcelos Saudan A UNIVERSIDADE FEDERAL RENATA DOS
Lenildo de Souza Lima DE JUIZ DE FORA E A SANTOS COSTA
EDITORES ARQUEIRO CONSTRUÇÃO DE UM
Dra. Marisa da Costa Gomes
SITE ACESSÍVEL

22
Dra. Osilene Maria de Sá e Silva da Cruz
Dr. Ricardo de Souza Janoario
CONTRIBUIÇÃO
CONSELHO DE PARECERISTAS
Aline Cristine Xavier da Silva Castro GABRIEL PIGOZZO DA TEORIA DAS
Ana Luísa Antunes
Ana Teresa Andrade
REPRESENTAÇÕES
Cássia Geciauskas Sofiato
SOCIAIS PARA
Eder Barbosa Cruz
FORMAÇÃO CONTINUADA
Huber Kline Lobato O ESTUDO DA
Laura Jane Messias Belém
DO TRADUTOR INTÉRPRETE
Lia Abrantes A. Soares IDENTIDADE
Marcia Moraes EDUCACIONAL DE LÍNGUA
Maria Carmem Euler PROFISSIONAL
Priscilla Fonseca Cavalcante DE SINAIS E LÍNGUA
Rita de Cassia de Oliveira e Silva DOS TRADUTORES/
Roberta Savedra Schiaffino PORTUGUESA
INTÉRPRETES
PRODUÇÃO EDITORIAL
MDE Design de Eventos 32 DE LIBRAS

68
PROJETO GRÁFICO
Ramon Santos de Almeida Linhares
LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA
DIAGRAMAÇÃO ANTONIO
Avellar e Duarte
RENATA DOS S. COSTA VANESSA MANDRIOLA
CAPA
Ilustrações produzidas por alunos do DEBASI-INES no
Núcleo de Artes, em um projeto de elaboração de desenhos
de observação do prédio do INES, proposto pela Profª Joana Arqueiro / Instituto Nacional de Educação de Surdos. – Vol. 1 (jan/jun 2000) –
Lyra. Seleção de imagens: Lucia Vignolli. Composição do
mosaico: Ramon Linhares. Rio de Janero : INES – v. : il. ; 28cm

Vol. 38 (jan-jun, 2018), Semestral - ISSN-1518-2495.


Rua das Laranjeiras, nº 232 – 3º andar
Rio de Janeiro – RJ – Brasil – CEP: 22240-003 1. Surdos – Educação. I. Instituto Nacional de Educação de Surdos
Telefax: (21) 2285-7284 / 2205-0224 (Brasil).
E-mail: revistaarqueiro.ines@gmail.com
CDD - 371.912
– CODA (Child of Deaf Adults) e leva o
leitor a pensar no papel do profissio-
nal intérprete.
No primeiro artigo intitulado A
Construção do Plano Educacional
Individualizado como Ferramenta
de Inclusão do Aluno Surdo com
Comprometimentos no CAp-INES, as
Car@s leitores, autoras Dora Vieira da Costa, Flavia de
Nesta edição, a Revista Arqueiro traz aos Abreu Marques e Keila Ferreira da Silva
leitores artigos relevantes sobre a área da se propõem a refletir acerca da neces-
educação, com destaque para o tema da sidade de repensar e ressignificar o
Tradução e Interpretação de Libras/Língua ambiente escolar. As autoras descre-
Portuguesa e apresentamos trabalhos que vem as etapas de construção do Plano
enfatizam a importância da Língua de Sinais Educacional Individualizado (PEI) no
para a educação de sujeitos surdos, buscan- Colégio de Aplicação do Instituto
do atender a uma demanda de leitores inte- Nacional de Educação de Surdos (Cap-
ressados em expandir seus conhecimentos INES), destacando que o documento
teóricos e práticos sobre o assunto. é fruto de um trabalho conjunto, em
Iniciamos a edição com uma entrevis- prol do desenvolvimento acadêmico
ta concedida pela Profissional Intérprete e social do aprendiz surdo com ne-
de Libras/Língua Portuguesa Jaqueline cessidades educacionais especiais. Tal
Luna, profissional do INES e mestranda em trabalho relata inquietações sofridas
Diversidade e Inclusão pelo Programa de pelos profissionais e, principalmente,
Pós-graduação Profissional em Diversidade uma reflexão sobre as mudanças ne-
e Inclusão da Universidade Federal cessárias para a inclusão eficaz.
Fluminense, em que relata sobre sua expe- No artigo Desencapsulando a Língua
riência como filha ouvinte de pais surdos de Sinais na Web. A Universidade
de autoria de Luiz Claudio de Oliveira
Antonio e Renata dos Santos Costa, re-
lata sobre da formação dos Tradutores
Intérpretes Educacionais de Libras no ce-
nário brasileiro de educação de surdos e
Federal de Juiz de Fora e a construção de debate sobre a formação e o aprimora-
um site acessível, Gabriel Pigozzo Tanus mento profissional, por meio de um cur-
Cherp Martins propõe que os recursos in- so de extensão universitária, na tentativa
formacionais computador e internet, por de abranger as demandas de tradução
exemplo, podem fazer toda a diferença na e interpretação. Segundo os autores, as
vida do sujeito surdo e defende a ideia de discussões ultrapassam as questões de
que a criação de janelas de Libras pos- opções formativas do Tradutor Intérprete
sibilita a acessibilidade aos conteúdos de Língua de Sinais e Língua Portuguesa
informacionais dos inúmeros ambientes (TILSP). No artigo, os autores sustentam
virtuais. Além disso, a janela de Libras a necessidade de investir em uma for-
permite aos surdos o acesso aos con- mação inicial e continuada, em cursos de
teúdos das páginas da web em sua L1. O nível superior, de forma a sedimentar o
avanço das tecnologias de comunicação exercício tradutório-interpretativo, res-
e informação (TICs) permite que grupos significando as práxis nos diversos con-
minoritários, anteriormente excluídos textos sociais contemporâneos.
digitalmente, passem a ter acesso a uma No artigo Tradução de/para Língua
infindável categoria de instrumentos di- de Sinais no Ensino Superior: experiên-
gitais. Conclui que o acesso aos meios cias compartilhadas, os autores Mônica
de comunicação digital é muito precá- R. de Souza Lopez e Rafael da Mata
rio, uma vez que a maior parte do con- Severino refletem acerca do trabalho
teúdo publicado nas páginas das mais tradutório desempenhado pela equi-
diversas instituições encontram-se gra- pe de tradução do Núcleo de Educação
fadas em Língua Portuguesa e não em Online (NEO) do Instituto Nacional de
Língua de Sinais. Educação de Surdos (INES). Os auto-
O artigo Formação Continuada do res realizam uma análise descritiva dos
Tradutor Intérprete Educacional de procedimentos adotados para as tra-
Língua de Sinais e Língua Portuguesa, duções efetuadas no Ensino Superior
do INES, nas modalidades presencial e bilíngue idealizada pela comunidade
online. Para compor o trabalho, foram surda, mas não inviabiliza a atuação dos
observadas as funções do tradutor/ator, tradutores intérpretes em sala de aula e
tradutor/supervisor e tradutor/revisor e em outros espaços.
considerada a importância da definição O artigo Contribuição da Teoria das
desses papéis e do diálogo com outros Representações Sociais para o Estudo da
profissionais. Destacam que o trabalho Identidade Profissional dos Tradutores/
em equipe contribui para a qualidade Intérpretes de Libras, de Vanessa José
das traduções. Nosso leitor perceberá, Riva do Nascimento Mandriola e Pedro
ao ler o artigo, a contribuição teórico- Humberto Faria Campos, apresen-
-metodológica para estudos relaciona- ta reflexões a respeito da Teoria das
dos à tradução de/para línguas de sinais. Representações Sociais (TRS), a fim de
Renata dos Santos Costa nos contem- incitar estudos sobre as práticas da pro-
pla com o artigo As Faces da Atuação fissão do Tradutor/Intérprete. Os autores
do Tradutor Intérprete de Libras e apresentam a abordagem da Teoria das
Português no Campo Educacional, ao Representações Sociais no conhecimen-
apresentar algumas faces da realidade to da estrutura profissional do Tradutor
profissional dos Tradutores Intérpretes Intérprete de Libras, seus desafios e
de Libras e Português (TILSP) que atuam perspectivas no campo de atuação e
na área educacional. Busca analisar os suas práticas, a fim de compreender se
desdobramentos compatíveis à pesqui- há uma identidade consolidada a essa
sa realizada na dissertação de mestra- formação. Além da proposta da TRS, o
do da autora. Investiga a recente atua- artigo traz indagações sobre o(s) desa-
ção de tradutores intérpretes de Libras fio(s) que a profissão apresenta.
e Língua Portuguesa em instituições Lembramos que a Revista Arqueiro
públicas educacionais de municípios recebe artigos em fluxo contínuo, por-
do Estado do Rio de Janeiro. A autora tanto, nosso leitor está sempre a enviar
destaca que a maioria dos professores o trabalho para o e-mail: revistaarquei-
da Educação Básica que lecionam aos ro.ines@gmail.com, seguindo as normas
alunos surdos não domina a língua de da revista.
sinais. Esse fato descaracteriza a pro-
posta de construção de uma educação Desejamos bons momentos de leitura!
Editores
ENTREVISTA:
JAQUELINE
LUNA
CONCEDIDA A EDITORES
DA ARQUEIRO

MARISA GOMES, OSILENE CRUZ E


RICARDO JANOARIO

8 R E V I S TA A R Q U E I R O
REVISTA ARQUEIRO: Como você se
tornou Tradutora-Intérprete de Língua
de Sinais e Língua Portuguesa (TILSP)?
Pode nos contar um pouco sobre
sua trajetória?
JAQUELINE LUNA: Meu início como
TILSP foi um tanto traumático, confes-
so. Por ser filha de pais surdos, imaginei
que não seria diferente do que estava
acostumada a fazer ao longo de toda a
minha vida: interpretar. Não parecia ser
um desafio. Quando iniciei o trabalho
na escola, local da minha primeira ex-
periência profissional, foi um choque,
pois os surdos não eram meus amigos
JAQUELINE LUNA
ou parentes, e sim alunos. Então, eu me Mestranda em Diversidade e Inclusão pelo Programa de
Pós-graduação Profissional em Diversidade e Inclusão da
dei conta da responsabilidade. Minha
Universidade Federal Fluminense (UFF); graduanda em Letras/
relação com os alunos era ótima, porém Libras (Licenciatura) pelo Centro Universitário Leonardo da
Vinci (UNIASSELVI); certificada em Proficiência na Tradução e
eles eram alunos e eu, a intérprete. Eu
Interpretação da Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa
era a pessoa responsável por dar acesso pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2010);
graduada em Gestão Pública pela Faculdade Educacional da
aos conteúdos das aulas na sua primeira
Lapa (FAEL, 2016); especialista em Libras pela Faculdade Futura
língua (L1). (2018). Atualmente é tradutora-intérprete de Libras/Língua
Portuguesa no Instituto Nacional de Educação de Surdos, lotada
Eu não sabia absolutamente nada sobre
no Departamento de Ensino Superior, na equipe de Tradução. Tem
ética profissional e postura; ou como li- experiência em traduções de textos acadêmicos, editais, manuais
de orientação e avaliações bilíngues. Participa de interpretação
dar com os conflitos que ocorriam em
simultânea em seminários, fóruns, congressos e aulas nos níveis
sala de aula, como lidar com o professor. Fundamental II, Ensino Médio, cursos técnicos e Ensino Superior.
Enfim, foi traumático. Desisti por algum

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 9


tempo, busquei outro trabalho, tentei tuguesa. Esse é realmente nosso papel.
seguir, mas havia uma inquietação inter- Não é apenas uma definição genérica, é
na, uma vontade de voltar e me tornar como funciona atualmente.
profissional. Então, decidi voltar e bus- Infelizmente, nossa prática ainda é vista
car minha formação. Descobri que ser como generalista; entende-se que quem
CODA não fazia de mim uma TILSP.
1
sabe Libras tem competência para e
pode interpretar em qualquer contexto.
REVISTA ARQUEIRO: O fato de ser Essa concepção prejudica muito não só
CODA foi um diferencial na sua aquisição o profissional, que acaba sendo cobra-
linguística (Libras e Língua Portuguesa)? do como se fosse formado em todas as
1
Sigla em inglês para
Child of Deaf Adults .
JAQUELINE LUNA: Sim, com certeza. áreas possíveis; como também o públi-
Minha mãe sempre se orgulhou em di- co, que geralmente se sente prejudicado
zer que aprendi Libras primeiro. Ela dizia com a qualidade da interpretação.
que a televisão me ensinou Língua Por-
tuguesa, mas que a Libras era uma he- REVISTA ARQUEIRO: Você concorda
rança linguística. Eu morava com meus com a nomenclatura “intérprete educa-
pais e minha irmã. Toda a comunicação cional”? Essa nomenclatura condiz com o
era em Libras, cresci aprendendo que perfil profissional do intérprete que está
a Libras não é meramente “mexer as inserido nos contextos escolares?
mãos”, é muito mais: expressão facial, JAQUELINE LUNA: Concordo, ela é to-
corporal... Tudo na pessoa fala. E essa talmente apropriada, uma vez que a di-
aquisição foi natural. Algumas pessoas nâmica do contexto escolar é muito dife-
perguntam se foi difícil aprender Libras, rente da de um congresso, por exemplo.
e eu respondo que simplesmente não O intérprete educacional precisa realizar
lembro. Geralmente, brinco e devolvo um trabalho conjunto com o professor da
a pergunta, questionando se para elas turma, pensar e buscar estratégias para
foi difícil aprender a Língua Portuguesa que os conteúdos façam sentido para o
[risos]. aluno. O intérprete educacional não deve
realizar uma interpretação “fria”, o que
REVISTA ARQUEIRO: Em sua opinião, chamamos de palavra × sinal, pois mui-
qual é efetivamente o papel do TILSP? tos alunos não têm nem mesmo domínio
JAQUELINE LUNA: A lei que regulamen- da própria Libras.
ta nossa profissão, Lei n 12.319/10, diz
o
Portanto, é importante que o intérprete
que o tradutor-intérprete é quem irá re- educacional reflita sobre os sinais que
alizar a interpretação das duas línguas irá utilizar, pois muitas vezes ele precisa
de maneira simultânea ou consecutiva, explicar antes o que significa determi-
e deverá ter proficiência em tradução e nado termo/sinal, justamente para que,
interpretação da Libras e da Língua Por- na explicação do professor, o que está

10 R E V I S TA A R Q U E I R O
sendo dito tenha uma linha de entendi- honestidade e pela discrição; e que deve
mento e compreensão. proteger o direito de sigilo da informa-
ção recebida. Infelizmente, por falta de
REVISTA ARQUEIRO: Na sua opinião, conhecimento ou por uma questão de
qual é a importância do TILSP no contex- imaturidade, não sei, inúmeras vezes
to escolar? presenciei situações em que essas nor-
JAQUELINE LUNA: Ser intérprete educa- mas foram negligenciadas.
cional exige muito estudo do profissional,
um aperfeiçoamento quase diário, pois REVISTA ARQUEIRO: Quais têm sido os
sua presença é indispensável nas esco- avanços e os desafios do TILSP na educa-
las inclusivas. A mediação envolve muito ção de surdos?
mais do que meramente uma mediação JAQUELINE LUNA: O maior número
de línguas. Se pensarmos que a educa- de intérpretes atuantes está no espaço
ção é a base de tudo, no caso dos alunos educacional. Esse foi um grande avan-
surdos, é essencial ter esses profissionais ço, uma vez que possibilita ao surdo
na escola e prezar pelos mais qualifica- receber algo que é direito de todos
dos para dar suporte ao processo de en- — a educação. Os desafios são vários:
sino-aprendizagem dos alunos surdos. É é necessário ter materiais didáticos
necessário garantir que o aprendizado apropriados e metodologias eficientes,
dos surdos esteja em igualdade com o respeitando e entendendo a diferença
dos alunos ouvintes. linguística. O intérprete ainda assume
o papel de ter de explicar para o cor-
REVISTA ARQUEIRO: Como você tem po docente que a produção escrita do
percebido o impacto da Lei no 12.319/10, surdo não está errada e que a avaliação
que regulamenta a profissão do tradu- deve considerar a coerência, a coesão
tor-intérprete de Libras, na prática pro- e o vocabulário, e não esperar que o
fissional do TILSP? texto seja escrito como o dos ouvintes,
JAQUELINE LUNA: A regulamentação pois a Língua Portuguesa é a segunda
foi um passo importante. Sem dúvida, língua do surdo. Outro exemplo é ter
ter o reconhecimento da profissão é de explicar que o surdo é visual, e que
essencial. O problema é que boa parte por isso não é indicado passar como
dos profissionais desconhece o conteú- dever de casa a leitura de cinco pági-
do dessa lei, com isso, muitos aspectos nas de um livro onde há apenas textos
importantes são desrespeitados. Na lei corridos. É importante fazer com que o
consta que o intérprete deve exercer professor entenda que o intérprete não
sua profissão com rigor técnico, zelando é o professor; que quando o intérprete
pelos valores éticos, pelo respeito à pes- fala está sendo a voz do surdo, e não se
soa humana e à cultura do surdo; pela envolvendo na aula.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 11


REVISTA ARQUEIRO: Como você per- JAQUELINE LUNA: A formação é algo
cebe a relação entre docente–intérpre- que me deixa um pouco aflita. Hoje, para
te–aluno surdo? ser um tradutor-intérprete de Libras pro-
JAQUELINE LUNA: É uma relação que fissional, é necessário ter graduação em
está em construção. Os personagens en- Letras/Libras. Concordo que é importante,
volvidos geralmente tentam de alguma por questões linguísticas, mas acho que
forma se adaptar. Para muitos professo- considerar profissional somente quem
res, a presença do intérprete “incomoda”; tem essa formação não se sustenta.
isso acontece porque é algo relativamen- Conheço muitos profissionais excelen-
te novo. tes que nunca cursaram Letras/Libras, os
O desconhecimento muitas vezes atra- quais têm formação em outras áreas e,
palha e é um problema tanto da parte do devido ao envolvimento com a comuni-
professor como da parte do intérprete, o dade surda, desenvolveram uma fluência
qual pode, de fato, não estar a par do seu invejável. Por outro lado, conheço pro-
papel. Consequentemente, os limites de fissionais formados no curso de Letras/
atuação não se estabelecem previamen- Libras que dominam muito bem a teoria,
te, dificultando o trabalho do intérprete, mas que deixam a desejar na prática. Mi-
que acaba assumindo a responsabilidade nha angústia é exatamente esta: em que
pelo aluno. momento minha teoria vai sobrepor à
Em geral, a relação com os alunos é boa. necessidade real de atuação, por exem-
Em muitas escolas o intérprete é a única plo, na sala de aula?
pessoa que se comunica com o surdo, é Conhecer pesquisadores e pensadores
aquele que propicia uma relação além de linguísticos é extremamente importan-
intérprete × aluno. Por isso, o vínculo se te, mas não é o fator determinante para
torna maior, o que, em minha opinião, dizer se o intérprete é bom ou não. Um
tem dois lados: o lado ruim, pois causa pedagogo com fluência em Libras/Lín-
dependência do aluno pela figura do in- gua Portuguesa poderá ser muito mais
térprete; e o lado bom, uma vez que é eficiente em campo do que um bacharel
através da confiança que o aluno passa a em Letras/Libras com conhecimentos te-
ter nesse profissional que o trabalho e as óricos, porém, com domínio intermediá-
estratégias a serem utilizadas podem ser rio da língua.
pensadas de forma individual, a partir do Com relação à formação continuada,
conhecimento das dificuldades de cada considero importante. Libras é uma lín-
um dos discentes. gua, ainda que em outra modalidade
(gestual-visual). É uma língua reconhe-
REVISTA ARQUEIRO: Qual é sua opi- cida pela Lei no 10.436/02. Assim como
nião sobre a formação inicial e continua- qualquer outra, é uma língua viva, então
da do TILSP? a atualização é indispensável.

12 R E V I S TA A R Q U E I R O
O que desmotiva muitas vezes é a des- plo, estuda para ser médico. O paciente
valorização desse profissional. O ideal é irá a uma consulta para resolver um pro-
que cada área tenha um intérprete pro- blema de saúde, e não para perguntar o
fissional com certo domínio técnico, e que é necessário para a construção de
isso não corresponde à realidade. A so- um prédio. Então, por que o intérprete
ciedade ainda acredita que a pessoa que precisa conhecer todos os sinais de to-
sabe Libras é automaticamente intérpre- das as áreas e interpretar qualquer tipo
te, e que, sendo intérprete, pode atuar de evento ou situação?
em qualquer frente de trabalho. Gostaria Somos profissionais sim, mas não somos
que isso mudasse algum dia. robôs. Isso interfere diretamente na qua-
Seguindo meu raciocínio, vamos imagi- lidade da acessibilidade que é ofertada
nar que, para ser um bom intérprete na ao público surdo.
área da Engenharia, o ideal é que o pro-
fissional conheça as especificidades da
Engenharia, certo? Para isso, ele precisa
fazer o quê? Estudar Engenharia. Mas
se o intérprete se forma em Engenharia,
com certeza ele abrirá mão de ser intér-
prete, não por incapacidade, pois agora
já terá formação, mas pela desvaloriza-
ção da profissão de intérprete.
A desvalorização a que me refiro é finan-
ceira, pois somos contratados geralmen-
te como técnico-administrativos, cargo
de nível médio. Desse modo, ter educa-
ção superior em geral não faz diferença
em termos salariais. Não podemos nos
esquecer, também e principalmente, da
falta de reconhecimento da nossa im-
portância na sociedade.

REVISTA ARQUEIRO: Se você pudesse


acrescentar e/ou modificar algo na pro-
fissão do TILSP, o que faria? Por quê?
JAQUELINE LUNA: Mudaria o item/cri-
tério formação. Na minha opinião, o in-
térprete de Libras deve atuar por áreas
de conhecimento. O médico, por exem-

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 13


A CONSTRUÇÃO DO
PLANO EDUCACIONAL
INDIVIDUALIZADO COMO
FERRAMENTA DE INCLUSÃO
DO ALUNO SURDO COM
COMPROMETIMENTOS
NO CAP/INES

DORA VIEIRA DA COSTA


FLAVIA DE ABREU MARQUES
KEILA FERREIRA DA SILVA

14 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
A inclusão em educação é um proces-
so permanente de vivência e experiências
que possibilitem a equidade de oportu-
nidades para todos em uma sociedade
ainda excludente (SANTOS, 2014, p. 8).
A escola, em toda a sua trajetória, não
RESUMO
tem neutralidade política nem social: ela
Neste artigo, as autoras propõem sempre serviu aos desejos hegemôni-
uma reflexão acerca da necessidade de cos da sociedade na qual estava inseri-
repensar e até ressignificar o ambiente
escolar, tornando-o agregador e, de fato,
da. Por muitos anos segregou e colocou
inclusivo. Apesar de leis e documen- à margem do direito à educação as pes-
tos que garantem o direito à educação soas ditas diferentes, com imposição de
para todos, ainda é possível encontrar
barreiras que precisam ser desmistifi- normas, regras e diretrizes curriculares
cadas. Também é preciso assegurar um que muitas vezes não levam em consi-
currículo escolar acessível, que leve em deração a realidade da comunidade es-
consideração as necessidades individuais
do educando. Considerando isso, o pre- colar. Para uma aprendizagem significa-
sente estudo, resultado de um trabalho tiva, é premente a revisão da função da
conjunto e de muito esforço em prol do
escola na vida do educando – que não
desenvolvimento acadêmico e social do
aluno surdo com necessidades educa- seja somente um local de aprendiza-
cionais especiais, descreve as etapas de do de conteúdos. A diversidade cultural
construção do Plano Educacional Indivi-
e social encontrada na escola deve ser
dualizado (PEI) no Colégio de Aplicação
do Instituto Nacional de Educação de
Surdos (CAp/INES).
DORA VIEIRA DA COSTA
Professora de Educação Especial da FAETEC-RJ; professora
Palavras-chave: Inclusão. Educação de Mediadora do INES-RJ; mestranda em Diversidade e Inclusão
Surdos. Adequações curriculares. pela Universidade Federal Fluminense (UFF); pós-graduada em
Psicopedagogia pela Unicarioca; pós-graduada em Gestão em
Novas Tecnologias Aplicadas à Educação pelo IST-RJ (FAETEC);
graduada em Pedagogia Bilíngue pelo DESU/INES-RJ.

FLAVIA DE ABREU MARQUES


Professora Regente de Sala de Recursos da Prefeitura Municipal do
Rio de Janeiro; professora mediadora do INES-RJ, Mestranda em
Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense (UFF),
Graduada em Pedagogia Bilíngue pelo DESU/INES-RJ.

KEILA FERREIRA DA SILVA


Professora Regente do Colégio MOPI, Professora Mediadora do INES-
RJ, Pós-graduada em Educação Especial pela Universidade Gama
Filho, Graduada em Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá-RJ.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 15


aproveitada em favor da aprendizagem. Para o INES, pensar na inclusão é re-
Muitas lutas e reivindicações foram tra- fletir sobre a inserção de alunos surdos
vadas para que, legalmente, o direito à com comprometimentos na cultura só-
educação fosse universal e o princípio da cio-escolar, levando em consideração a
equidade fosse discutido e implementa- cultura vigente e os modos de transfor-
do. Isso aconteceu principalmente após má-la para melhor atender às necessida-
a Declaração de Salamanca (1998), que des desse público.
proclamou que o direito à educação deve A proposta do PEI é uma reflexão so-
respeitar a diversidade humana e as es- bre uma nova forma de encararmos o
pecificidades educacionais individuais de processo de inclusão não apenas edu-
cada estudante: cacional desses alunos, no sentido pe-
dagógico mais estrito do termo, mas em
[...] crianças e jovens com necessidades
educativas especiais devem ter acesso seu desenvolvimento como indivíduo em
às escolas regulares, que a elas se de- si mesmo e na sua participação na socie-
vem adequar através duma pedagogia dade escolar.
centrada na criança, capaz de ir ao en-
contro dessas necessidades [...] Assim, neste artigo, as autoras apre-
sentam os desafios e as conquistas na
No Brasil, outras leis também emergi- construção/aplicação do PEI no CAp/INES.
ram para garantir ao aluno com necessi-
dades educacionais especiais o direito a OBJETIVOS
ser incluído em classes regulares (BRASIL,
1996, 2001, 2009, 2015). GERAL
Mas mesmo com a criação dessas po- • Considerar a importância das ade-
líticas públicas, ainda existem entraves quações curriculares para uma aprendi-
que dificultam e até impedem a inclusão zagem significativa.
escolar desses alunos, os quais se apre-
ESPECÍFICOS
sentam também como desafios para
• Apresentar o modelo de PEI adotado
os educadores.
no INES.
Com o objetivo de superar essa si-
tuação e assegurar um ambiente edu- • Apresentar as etapas de construção

cacional inclusivo, a equipe de profes- do PEI para os alunos incluídos no

sores-mediadores, em parceria com a CAp/INES.

coordenação pedagógica do Colégio


de Aplicação do Instituto Nacional de FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Educação de Surdos (CAp/INES), redi- O INES é uma escola centenária e de
giu um documento que visa a tornar o referência nacional na educação de sur-
currículo acessível: o Plano Educacional dos. Com o aumento da demanda de
Individualizado (PEI). alunos surdos com comprometimentos

16 R E V I S TA A R Q U E I R O
e a necessidade da inclusão impulsio- está pronto e que, portanto, não foi pla-
nada também pelas legislações vigen- nejado para tal. Já a palavra adequação
tes, como a Lei Brasileira de Inclusão da remete a algo que foi pensado anterior-
Pessoa com Deficiência (LBI) (BRASIL, mente, ou seja, criado para aquele fim.
2015), o INES criou o primeiro proces- Por essa razão, entende-se neste ar-
so seletivo para contratação temporária tigo adequações curriculares como uma
de professores-mediadores. Esses pro- medida de resoluções voltadas para mol-
fissionais são formados em Pedagogia, dar a resposta educativa dos alunos com
com especialização na área de Educação necessidades educacionais especiais às
Especial, e aptos para garantir a execu- suas características, oportunizando as-
ção do processo de inclusão educacio- sim o acesso ao ensino e à cultura.
nal, objetivando, na medida do possível, Por adequações curriculares, entende-se:

a futura autonomia e independência no [...] modificações organizativas, nos ob-


jetivos e conteúdos, nas metodologias e
ambiente escolar desses alunos.
na organização do tempo e na filosofia
Após o ingresso dos alunos surdos e estratégias de avaliação, permitindo
com comprometimentos no CAp/INES, o atendimento às necessidades educa-
tivas de todos os alunos, em relação à
o Departamento de Educação Básica
construção do conhecimento. (OLIVEI-
(DEBASI) optou por oferecer palestras e RA & MACHADO, apud, GLAT, 2007).
cursos de formação para debater com o
Pensar em adequações curriculares
corpo docente, e demais funcionários da
para o projeto de inclusão do INES é rees-
instituição, as demandas e necessidades
truturar o atual processo educacional e
de adequações curriculares individuais
entender que os alunos precisam ser vis-
desse público específico. Ao longo do
tos em sua individualidade e avaliados em
período letivo de implementação, o gru-
suas possibilidades e suas competências.
po de professoras-mediadoras realizou Com uma concepção mais pedagógi-
diversos estudos buscando o aprofunda- ca do que reabilitadora, as adequações
mento na proposta pedagógica da insti- curriculares estão no mesmo patamar
tuição. Focado no processo educacional, do planejamento curricular, por isso têm
o grupo debruçou-se na pesquisa sobre componentes similares, como objetivos,
as adequações curriculares e sua impor- metodologias, conteúdos etc.
tância no processo educacional inclusivo. A adequação curricular de maneira in-
Neste artigo, as autoras optaram por dividualizada se torna um elemento de
tratar de adequações curriculares em vez resposta à diversidade encontrada em
de adaptações curriculares. A maioria dos sala de aula e tem como objetivo mol-
autores prefere o termo adaptações, no dar o currículo conforme a necessidade
entanto as autoras deste estudo acredi- educativa de cada aluno, construindo
tam que adaptar é transformar algo que um currículo sob medida sem criar um

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 17


currículo paralelo, já que é feito em cima Educação Infantil não só os componen-
do planejamento de seu ano de escolari- tes curriculares básicos, mas também
dade e/ou grupo. Artes, Libras e Educação Física.
Desse modo, para construção do PEI no Para Vygotsky (1984), a maior signi-
CAp/INES, iniciamos estudos mais apro- ficação do desenvolvimento humano
fundados, analisando previamente leis, intelectual acontece quando a fala e a
documentos e modelos disponibilizados atividade prática estão juntas. Assim, o
por várias prefeituras do Rio de Janeiro, documento em questão foi criado e deli-
bem como textos acadêmicos, de maneira neado para o público-alvo da instituição,
a refletir objetivos, estratégias, avaliações respeitando sua diversidade linguística e
e todas as peculiaridades para sua compo- identitária, e destacando a importância
sição. O PEI é um documento recente no da Libras para a aprendizagem e o de-
Brasil, mas um método antigo nos Estados senvolvimento global do sujeito surdo.
Unidos e em outros países da Europa. Com base nesse entendimento, o PEI
Para implementação do PEI, professo- fornece ao discente adequação e acessi-
ras-mediadoras analisaram as potenciali- bilidade aos conteúdos curriculares con-
dades dos discentes de modo a compor dizentes a sua etapa de escolaridade,
um perfil com habilidades, dificuldades levando em conta aquilo que ele pode
e interesses, criando, então, outro docu- alcançar sem desprestigiar o currículo,
mento, que antecede o PEI: o Perfil do explicitando como determinados con-
Aluno (ver Anexo 1). Esse documento foi teúdos podem ser adquiridos e quais
desenvolvido para facilitar e orientar a ferramentas podem ser utilizadas para
composição do PEI, já que para os outros que a aprendizagem aconteça. Ao lon-
profissionais o preenchimento ainda era go do processo de inclusão, a forma de
um pouco complexo. Por fim, o PEI (ver avaliação dos alunos inclusos se dava de
Anexo 2) apresenta os seguintes campos forma processual e o registro do desen-
para preenchimento: 1) Identificação: seg- volvimento era bimestral, através de re-
mento, nome do aluno, equipe de elabo- latórios descritivos confeccionados pelas
ração, período de vigência, ano de escola- professoras-mediadoras com os demais
ridade; 2) Áreas e Habilidades; 3) Objetivos; professores que atendem o aluno. Para
4) Recursos Didáticos; e 5) Avaliação. Perrenoud (1998), a perspectiva descritiva
Entre as aptidões também estão permite dar conta das práticas correntes
abrangidas as prontidões acadêmicas, de avaliação contínua sob o ângulo da
sociais, psicomotoras, linguísticas e as contribuição almejada ou efetiva para a
diferentes linguagens da arte, daí a ne- regulação das aprendizagens durante o
cessidade da construção coletiva por ano. Dessa maneira, optou-se por uma
parte dos docentes, uma vez que o INES avaliação formativa e contínua, acreditan-
conta com um ensino que contempla na do-se que esse tipo de avaliação privilegia

18 R E V I S TA A R Q U E I R O
a evolução da aprendizagem sob o olhar VII - planejamento de estudo de caso, de
elaboração de plano de atendimento edu-
das competências individuais do aluno, e
cacional especializado, de organização de
não fazendo alusão a normas e compara- recursos e serviços de acessibilidade e de
ções com o outro. A base para isso está disponibilização e usabilidade pedagógi-
ca de recursos de tecnologia assistiva; [...]
nos direitos previstos nas legislações na-
cionais vigentes, como a LBI, que discorre Sem diferença não há educação, e a
sobre o Direito à Educação das Pessoas escola, para educar, precisa colocar o
com Deficiência e, em seu artigo 28, re- ensino sob suspeita (MACEDO, 2012).
mete ao assunto com a seguinte redação Assim, de maneira qualitativa, pretende-
(BRASIL, 2015): -se atentar para a especificidade e a sub-

[...] I - sistema educacional inclusivo em to-


jetividade desses alunos. Após a finaliza-
dos os níveis e modalidades, bem como o ção do modelo do PEI, foram realizadas
aprendizado ao longo de toda a vida; reuniões com a equipe que atende os
II - aprimoramento dos sistemas edu-
discentes — professores regentes, de ar-
cacionais, visando a garantir condições
de acesso, permanência, participação e tes, de educação física e mediadores —,
aprendizagem, por meio da oferta de trazendo também os coordenadores do
serviços e de recursos de acessibilidade
DEBASI para a confecção do documento
que eliminem as barreiras e promovam
a inclusão plena; de cada aluno incluído.
III - projeto pedagógico que institu- Por conta de sua relevância tanto para
cionalize o atendimento educacional
o processo de inclusão dos alunos sur-
especializado, assim como os demais
serviços e adaptações razoáveis, para dos com comprometimentos, quanto
atender às características dos estudan- para a instituição cuja referência é nacio-
tes com deficiência e garantir o seu ple-
nal, esse documento se torna um marco,
no acesso ao currículo em condições de
igualdade, promovendo a conquista e o na medida em que possibilita a inclusão
exercício de sua autonomia; desse aluno com todas as adequações
IV - oferta de educação bilíngue, em Li-
necessárias para sua formação acadêmi-
bras como primeira língua e na modali-
dade escrita da língua portuguesa como ca, emocional e social.
segunda língua, em escolas e classes
bilíngues e em escolas inclusivas; METODOLOGIA
V - adoção de medidas individualizadas
Este estudo foi realizado com base
e coletivas em ambientes que maximi-
zem o desenvolvimento acadêmico e na metodologia da pesquisa qualitati-
social dos estudantes com deficiência, va, na perspectiva do grupo focal. Visto
favorecendo o acesso, a permanência, a
que toda a investigação suscitou em re-
participação e a aprendizagem em insti-
tuições de ensino; flexões, diálogos e questionamentos de
VI - pesquisas voltadas para o desenvol- forma democrática e participativa, na
vimento de novos métodos e técnicas
qual os participantes envolvidos contri-
pedagógicas, de materiais didáticos, de
equipamentos e de recursos de tecno- buíram ativamente para a sistematiza-
logia assistiva; ção e a organização do documento.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 19


O grupo focal não é um agregado aprendizagem significativa e minimi-
conveniente de opiniões individuais,
zam as barreiras educacionais para os
mas uma simulação desses contextos
comunicativos rotineiros, mas relati- alunos com necessidades específicas
vamente inacessíveis que nos ajudam de aprendizagem.
a descobrir os processos através dos A presença desses alunos em todos os
quais o sentido é socialmente constru-
ído através da fala cotidiana. (LUNT & espaços do INES trouxe inquietações aos
LIVINGSTONE, 1996, apud, MARQUES profissionais e, principalmente, fez refle-
& ROCHA, p. 2) tir sobre as mudanças necessárias para
uma inclusão verdadeiramente eficaz.
Ao longo de um ano, foram muitos
Tal fato parece ter tornado o ambiente
momentos de reflexões coletivas, abor-
escolar mais rico em experiências e estí-
dando as práticas existentes e as novas
mulos que favorecem a aprendizagem, o
possibilidades de aprendizagem. Após
respeito e o cuidado com o outro, ratifi-
reflexões e análises das vivências ex-
cando a consciência de valores humanos
perimentadas, com o ingresso dos alu-
e solidários para todos os alunos e para
nos surdos com comprometimentos no
o corpo docente, fator primordial para o
CAp/INES, surgiu, então, a necessidade
desenvolvimento de uma sociedade de-
de elaborar o PEI, no intuito de possi-
mocrática e inclusiva. A diversidade cultu-
bilitar a superação das lacunas existen-
ral e social que emerge dentro da escola
tes no atendimento ao aluno e na prá-
é uma vantagem pedagógica (FERREIRO
tica docente.
apud CANDAU, 2009, p. 10) que deve ser
CONSIDERAÇÕES FINAIS levada a cabo para ressignificar o saber, e
Reconhecer as barreiras que impossibi- a forma como ele é visto e concebido. São
litam o desenvolvimento do aluno surdo vários sujeitos aprendentes que trazem
com comprometimentos é essencial para consigo uma bagagem de experiências
a implementação da inclusão, bem como individuais e, na convivência com o outro,
reconhecer dificuldades do corpo docen- criam novas expectativas sociais, culturais
te em lidar com as diferentes formas de e educacionais. Não se trata apenas dos
aprender e ensinar. A escola inclusiva é o discentes, mas de todo o corpo escolar.
local onde todos têm oportunidade de Como a inclusão é um processo con-
aprender conforme suas habilidades, seus tínuo, ainda não há resultados concretos
ritmos e suas heterogeneidades. Espera-se do primeiro PEI; verificação dos resultados
que o Plano Educacional Individualizado alcançados acontecerá ao término do ano
(PEI) tenha contribuído para a criação de letivo de 2019. O documento de cada aluno
condições que favoreçam a aprendizagem está em vigência, as adequações estão sen-
desse alunado. do feitas e as respostas estão sendo dadas
Adequações curriculares como o pelos visíveis ganhos no desenvolvimento
PEI são ferramentas que favorecem a social e educacional dos alunos.

20 R E V I S TA A R Q U E I R O
REFERÊNCIAS GLAT, R.; VIANNA, M. M.; REDIG, A.
G. Plano educacional individualizado:
BRASIL. Lei n o 9.394, de 20 de uma estratégia a ser construída
dezembro de 1996. Estabelece as no processo de formação docente.
diretrizes e bases da educação Disponível em: <http://www.
nacional. Diário Oficial [da] República eduinclusivapesq-uerj.pro.br/
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. images/pdf/GLAT_VIANNA_REDIG_
Artigosemperiodicos_2012.pdf>.
BRASIL. Lei n o 13.146, de 6 de julho
Acesso em: 1 nov. 2017.
de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência MACEDO, E. Currículo e
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). conhecimento: aproximações entre
Diário Oficial [da] República educação e ensino. Cadernos de
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 Pesquisa , Fundação Carlos Chagas, v.
jul. Disponível em: <http://www. 42, p. 716-737, 2012.
planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015- MARQUES, A. C. S.; ROCHA, S.M.
2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso A produção de sentidos nos
em: 6 set. 2017. contextos de recepção: em foco o
BRASIL. Ministério da Educação. grupo focal. Associação Nacional
Diretrizes nacionais para a educação dos Programas de Pós-graduação
especial na educação básica . Brasília: em Comunicação – Campós. Bauru:
MEC; SEESP, 2001. Universidade Estadual Paulista –
UNESP, 06 a 09 de junho, 2006.
BRASIL. Declaração de Salamanca
e linha de ação sobre necessidades OLIVEIRA, E. de. e MACHADO, K. da
educativas especiais. 2. ed. Brasília: S. Adaptações curriculares: caminho
Corde, 1997. para uma Educação Inclusiva. In:
GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva:
CANDAU, V. (Org.). Didática: questões
cultura e cotidiano escolar. Rio de
contemporâneas. 1. ed.
Janeiro: 7 Letras, 2007.
Rio de Janeiro: Força & Ação, 2009.
PERRENOUD, P. Avaliação da
Ministério da Educação. Resolução
excelência à regularização das
n o 4, de 02 de outubro de 2009.
aprendizagens: entre duas lógicas.
Institui Diretrizes Operacionais
Porto Alegre: Artmed, 1998.
para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, SANTOS, M. P. dos; PAULINO, M,
Modalidade Educação Especial. M. (Orgs.). Inclusão em Educação:
Brasília, DF, 2009. culturas, políticas e práticas. 2 ed.
São Paulo: Cortez, 2014.
GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva:
cultura e cotidiano escolar. Rio de VYGOTSKY, L. A formação social da
Janeiro: 7Letras, 2007. mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 21


ANEXO 1

ANEXO 2

22 R E V I S TA A R Q U E I R O
DESENCAPSULANDO
A LÍNGUA DE
SINAIS NA WEB
A UNIVERSIDADE FEDERAL
DE JUIZ DE FORA E
A CONSTRUÇÃO
DE UM SITE ACESSÍVEL

GABRIEL PIGOZZO TANUS CHERP MARTINS

24 R E V I S TA A R Q U E I R O
do conteúdo publicado nas páginas das
mais diversas instituições está grafado
em Língua Portuguesa e explora de
forma tímida os recursos visuais. Isso não
satisfaz a demanda de uma comunidade
que tem uma necessidade linguística
diferenciada da maioria da população.
RESUMO É imperioso pensar em práticas que
permitam acessibilidade plena a esses
As informações e as oportunidades sujeitos em ambientes virtuais também
estão equiparadas às especificidades para maior valorização da Libras em
comunicacionais desses indivíduos? oposição aos “avatares” e para a
É sabido que a primeira língua (L1) conscientização dos gestores de sites
dos surdos é a Língua Brasileira de para que as informações alcancem os
Sinais (Libras), e os ambientes virtuais, surdos. A inserção da Libras nos meios
em sua maioria, estão configurados digitais (informacionais e comunicacionais)
(padronizados, modelados) com a é um desafio, ou seja, um caminho a ser
Língua Portuguesa, a qual para os desbravado com coragem, resistência,
surdos brasileiros é a segunda língua sabedoria e sensibilidade, para que os
(L2). Essa homogeneização escrita conteúdos se tornem acessíveis aos
dos ambientes web levanta barreiras cidadãos surdos. As discussões aqui
comunicacionais que causam prejuízos apresentadas não encerram a temática,
ao acesso às informações que circulam apenas aguçam a busca por estratégias
na rede. Percebe-se que a atuação mais acessíveis e inclusivas.
constante dos intérpretes de Libras na
Universidade Federal de Juiz de Fora Palavras-chave: Língua de sinais.
(UFJF) tem proporcionado aos alunos e Acessibilidade. Website. Universidade.
funcionários surdos um melhor acesso Tradutores.
aos conteúdos e às informações da
universidade. O trabalho realizado pela
Diretoria de Imagem Institucional vem
ao encontro do movimento surdo na
busca por acessibilidade informacional e
comunicacional. Ao longo deste estudo
foi possível perceber que o acesso aos
meios de comunicação digital é muito
precário, uma vez que a maior parte

GABRIEL PIGOZZO TANUS CHERP MARTINS


Mestre em Diversidade e Inclusão (UFF). Tradutor-intérprete de
Libras/Língua Portuguesa da Diretoria de Imagem Institucional
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: gptcm84@
gmail.com

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 25


INTRODUÇÃO comunicar de maneiras diferenciadas e
com sujeitos diversos, revelando que a
De acordo com Andrioli, Vieira e diferença pode ser enriquecedora” (BE-
Campos (2013) os recursos informacio- NEVIDES, 1994, p. 17 apud ANDRIOLI;
VIEIRA; CAMPOS, 2013)1
nais (computador e internet, por exem-
plo) podem fazer toda a diferença na Entre essas múltiplas linguagens co-
vida do sujeito surdo: oportunidade e municacionais, pode-se encontrar a ja-
conhecimento a distância de um clique. nela de Libras, que permite aos surdos
Mas será que essa “distância” é acessí- acesso aos conteúdos das páginas da web
vel? As informações e as oportunida- em sua L1. O avanço das Tecnologias da
1
BENEVIDES, M. V. de M. des estão equiparadas às especificida- Informação e Comunicação (TICs) permi-
Cidadania e democracia.
Lua Nova . Revista de
Cultura e Política , São des comunicacionais desses indivíduos? te que grupos minoritários, antes excluí-
Paulo, n. 33, p. 5 – 16,
1994. Os programadores estão pensando em dos digitalmente, passem a ter acesso a
acessibilidade? Se sim, que tipo de aces- essa infindável categoria de instrumen-
sibilidade é essa? Com o aumento verti- tos digitais. Creio que o grande desafio é
ginoso do acesso à internet (ANDRIOLI; tornar esses ambientes acessíveis.
VIERA; CAMPOS, 2013, p. 1.800), os sur-
Em uma década foi bastante significa-
dos conseguiram plenamente absorver
tivo o aumento do número de usuários
as informações disponibilizadas na rede? dos serviços de internet. Vale conside-
Os conteúdos da web garantem seus di- rar, também, a ampliação dos recursos
e possibilidades, bem como o acesso
reitos como cidadãos?
também à comunidade Surda, uma vez
É sabido que a primeira língua (L1) que este foi ampliado à população ge-
dos surdos é a Língua Brasileira de ral. [...] uma das principais contribuições
das Tecnologias Digitais para as pessoas
Sinais (Libras), e os ambientes virtuais,
surdas é o fato de facilitar a sua comuni-
em sua maioria, estão configurados (pa- cação com o mundo, tirando-os do iso-
dronizados, modelados) com a Língua lamento em que viveram durante muito
Portuguesa, a qual para os surdos bra- tempo. (ANDRIOLI; VIEIRA; CAMPOS,
2013, p. 1.800)
sileiros é a segunda língua (L2). Essa
homogeneização escrita dos ambientes
AApenas a comunicação entre indi-
web levanta barreiras comunicacionais
víduos surdos não é suficiente para tor-
que causam prejuízos ao acesso às infor-
nar as informações da web acessíveis.
mações que circulam na rede. E a criação
“Tirar do isolamento” é colocá-lo frente
de janelas de Libras possibilitará a aces-
a seu par linguístico, ao seu semelhan-
sibilidade aos conteúdos informacionais
te, ao outro. Quanto a isso, inúmeros
dos ambientes virtuais, uma vez que:
aplicativos foram criados para que esses
“cárceres” de isolamento fossem aber-
As múltiplas linguagens permitidas e a
comunicação em rede “possibilitam que tos, como, por exemplo, o WhatsApp,
um maior número de pessoas possa se o Messenger, o Telegram, entre tantos

26 R E V I S TA A R Q U E I R O
Figura 1 – Site da Universidade Federal de Viçosa 2
http://revistaincluir.com.
Fonte: <https://www.ufv.br/>. Acesso em: 8 de set. de 2018 br/.

3
http://laramara.org.br/
index.php.
outros que encurtam as distâncias entre os sites já mencionados, nos quais essa 4
http://www.vidamaisli-
as pessoas. Mas muitos desses aplicati- ferramenta de acessibilidade aparece em vre.com.br.

5
http://brasil.estadao.
vos, quando pensados e criados, não ti- determinado espaço na página, como com.br/blogs/vencer-li-
mites/.
veram no surdo sua fonte de inspiração. um ícone de acessibilidade em destaque. 6
http://www.weblibras.
com.br.
Os surdos é que se apropriaram desses Além dos sites destacados anterior- 7
http://www.bradesco-
recursos como mecanismo para facilitar mente, foi possível analisar a página do previdencia.com.br/Pa-
ges/PF/Ferramentas/pro-
deafIntrodução.aspx
a comunicação, na qualidade de inte- portal Bradesco Previdência, que traz
ração entre indivíduos, então puderam uma janela de Libras. No entanto, na pá-
estabelecer vínculos comunicacionais e gina principal não há acessibilidade. Para
consequentemente sair do isolamento. acessar a janela é necessário clicar no
Em pesquisas realizadas na web, o au- menu Ferramentas/Libras, localizado no
tor percebeu que poucos são os sites que topo da página, o que, para os surdos, se
contêm conteúdos acessíveis, ou seja, em caracteriza como barreira até a garantia
Língua de Sinais (LS). Eles apresentam do acesso “pleno”.
textos escritos em Língua Portuguesa e No tocante ao conteúdo, para que
um link para interpretação em Libras. Os sejam traduzidos — interpretado para
surdos que buscam informações nesses Libras —, os sites usam avatares. Estes,
sites clicam sobre esse link, então uma por sua vez, não transmitem emoções, e
janela de interpretação se abre e o texto muitas vezes o sentido das mensagens
selecionado é sinalizado. São exemplos pode ser comunicado de forma equivo-
a Revista Incluir,2 o LARAMARA3, portal cada. O ideal, para tornar a comunicação
Vida Mais Livre4 e o blog Vencer Limites5. entre web e surdos mais acessível, seria
Nessa mesma pesquisa foi encontrada a criação de janelas de Libras sinalizadas
apenas uma empresa, a WebLibras,6 que por profissionais da área, apresentando
garante a “adaptação” dos conteúdos em todas as nuances que a informação possa
L2 para L1, o que pode tornar acessíveis transmitir.


INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 27


CONSTRUINDO ACESSIBILIDADE ações locais para desenvolvimento de
De acordo com o Decreto no 5296/04, padrões para a web, publicou a Cartilha
acessibilidade é: de acessibilidade na web, em 2013, cujo
conceito serviu de referência para a cons-
Condição para utilização, com segurança
trução deste artigo. Para a W3C, acessibi-
e autonomia, total ou assistida, dos es-
paços, mobiliários e equipamentos ur- lidade na web significa:
banos, das edificações, dos serviços de
transporte e dos dispositivos, sistemas [...] que pessoas com deficiência podem
e meios de comunicação e informação, usar a web. Mais especificamente, aces-
por pessoas portadoras de deficiência ou sibilidade na web significa que pessoas
com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004) com deficiência podem perceber, en-
tender, navegar, interagir e contribuir
Um conceito considerado pelo autor e para a web. E mais, ela também bene-
ficia outras pessoas, incluindo pessoas
que perpassa sua prática é apresentado idosas com capacidades em mudanças
na Lei no 10.098/00. Em seu artigo 2o, I, devido ao envelhecimento. (CARTILHA
a lei define acessibilidade como: ACESSIBILIDADE..., 2013, p. 21)

Possibilidade e condição de alcance Quando pensamos ou falamos em ga-


para utilização, com segurança e auto- rantia de direitos, o uso da ferramenta web
nomia dos espaços, dos mobiliários e
equipamentos urbanos, das edificações, é um direito de todos. Mas como “perceber,
dos transportes e dos sistemas e meios entender, navegar, interagir e contribuir” em
de comunicação, por pessoa portadora um espaço não acessível? É isso que histori-
de deficiência ou com mobilidade redu-
zida. (BRASIL, 2000) camente vem sendo negado aos surdos, ou
seja, acesso. Acesso a bens culturais, infor-
Corroborando com essa ideia, Martins macionais, científicos, políticos entre outros
e Braz (2017) apontam que: que estão disponíveis nesse espaço-tempo
mundial que se encontra a um clique de dis-
Pensar a “utilização com segurança e
autonomia” desse espaço público urba- tância (MARTINS; BRAZ, 2017).
no sugere uma sociedade em que pes- Martins e Braz (2017) afirmam que a
soas com deficiência não encontrem
acessibilidade na web é:
barreiras, obstáculos ou quaisquer en-
traves à mobilidade física, comunica-
[[...] a forma que os Surdos encontram
cional e informacional [...]. (p. 12)
de fazer parte das relações interpesso-
ais, interculturais, interpolíticas, intere-
A partir disso, é possível perceber que conômicas e interinformacionais que
algumas barreiras se fazem presentes circulam pelas redes computacionais
quando o assunto é acessibilidade co- existentes em todo o globo terrestre. É
transformar a garantia de acesso em uma
municacional e informacional. utilização autônoma e segura. (p. 37)
Em relação à acessibilidade na web, o
escritório brasileiro do Consórcio World Na perspectiva de tornar acessível
Wide Web (W3C Brasil), que propõe os conteúdos publicados em seu site e

28 R E V I S TA A R Q U E I R O
em suas redes sociais (Facebook, Twitter, intérpretes a fim de que eles façam a
Instagram) e disponibilizá-los poste- tradução da Língua Portuguesa para a
riormente em seu canal no YouTube, a Libras, com intuito de trazer mais fide-
Universidade Federal de Juiz de Fora lidade e qualidade para o material que
(UFJF), a partir de 2017, integrou em será disponibilizado na web. Posterior
seu quadro de servidores efetivos dois a esse trabalho de tradução e pesquisa
Tradutores-Intérpretes de Libras/Língua realizado pelos intérpretes, o próximo
Portuguesa (TILSP), lotados na Diretoria passo são as filmagens, que acontecem
de Imagem Institucional, cuja principal nos estúdios do Centro de Educação a
função é tornar acessível os conteúdos Distância da Faculdade de Comunicação 8
http://ufjf.br.
da página da universidade.8 Além dessa (CEAD/FACOM). Terminadas as grava-
função, realizam o atendimento aos ser- ções, os intérpretes se juntam aos pro-
vidores e discentes surdos da UFJF e da fissionais da criação para inserir a Libras
comunidade externa no âmbito da reito- nos vídeos.
ria, bem como a interpretação simultâ- Alguns vídeos com notícias e/ou infor-
nea Libras/Língua Portuguesa em diver- mações que precisam chegar com certa
sos eventos promovidos pela instituição. urgência ao público-alvo são gravados
Em relação à manutenção da aces- na área aberta do campus e/ou nas de-
sibilidade dos vídeos institucionais, ela pendências da reitoria. São vídeos cur-
acontece periodicamente e conta com tos de aproximadamente 30 segundos,
uma equipe de produtores, cinegra- cujo principal objetivo é informar sobre
fistas, designer e intérpretes de Libras. algo que aconteceu ou vai acontecer em
É um trabalho minucioso e em grupo. poucas horas ou daqui a poucos dias.
Após gravação, corte e edição, os Vejamos alguns exemplos do trabalho
vídeos são disponibilizados para os dessa equipe nas Figuras 2-7.

Figura 2 – Com intuito de dar visibilidade a espaços pouco conhecidos e frequentados


pelos discentes e pela comunidade externa à UFJF, a Diretoria de Imagem Institucional
criou o programa Check In para oferece informações úteis sobre esses lugares.
Fonte: (UFJF, 2018d)

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 29


Figura 3 – Figura 3. A UFJF anualmente trabalha campanhas da
agenda nacional e internacional. Uma delas é a de valorização à
vida e prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo.
Fonte: (UFJF, 2018a)

Figura 4 – A campanha contra a LGBTTIfobia teve o intuito de


dar visibilidade à defesa e ao direito das pessoas que lutam por
essa causa.
Fonte: (UFJF, 2018b)

Figura 5 – Na campanha pela Visibilidade Lésbica, há dois anos a equipe


possibilita que esse conteúdo alcance os sujeitos surdos.
Fonte: (UFJF, 2017b)

30 R E V I S TA A R Q U E I R O
Figura 6 –O UFJF Transformadora é um programa realizado na Diretoria
de Imagem Institucional que divulga outros projetos de extensão e que
também pode ser levado à comunidade surda através do trabalho da
equipe formada para esse fim dentro da universidade.
Fonte: (UFJF, 2018c)

Figura 7 – Com intuito de dar visibilidade a espaços pouco conhecidos


e frequentados pelos discentes e pela comunidade externa à UFJF, a
Diretoria de Imagem Institucional criou o programa Check In para oferece
informações úteis sobre esses lugares.
Fonte: (UFJF, 2018d)

Desde a chegada dos TILSPs à digital, os intérpretes atendem também


Diretoria de Imagem Institucional, os ví- a uma grande demanda de eventos ins-
deos mencionados nas Figuras 2-7, além titucionais, como seminários, simpósios,
de muitos outros, passaram a ser produ- palestras, reuniões, entre outros.
zidos com a presença da janela de inter- No período que compreende agosto
pretação. Trata-se de ganho significativo de 2017 a agosto de 2018, a UFJF, atra-
para a universidade e principalmente vés da Diretoria de Imagem Institucional,
para a comunidade surda interna e ex- produziu mais de 130 vídeos acessí-
terna à instituição. Além da programação veis para a comunidade surda interna e

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 31


externa, ou seja, com janelas de interpre- instituições está grafado em Língua
tação, e atuou em 106 eventos realiza- Portuguesa9 e explora de forma tímida
dos no campus de Juiz de Fora e no cam- os recursos visuais. Isso não satisfaz a
demanda de uma comunidade que tem
pus avançado de Governador Valadares.
uma necessidade linguística diferenciada
Esses números fazem parte dos relatórios
da maioria da população.
mensais apresentados pelos intérpretes.
É imperioso pensar em práticas que
permitam acessibilidade plena a esses
CONSIDERAÇÕES FINAIS sujeitos em ambientes virtuais também
Percebe-se que a atuação constante para maior valorização da Libras em
9
Neste levantamento
foram pesquisados ape- dos intérpretes de Libras na Universidade oposição aos “avatares” e a conscienti-
nas sites brasileiros.
Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem pro- zação dos gestores de sites para que as
porcionado aos alunos e funcionários informações alcancem os surdos.
surdos um melhor acesso aos conteúdos A inserção da Libras nos meios digi-
e às informações da universidade. O tra- tais (informacionais e comunicacionais) é
balho realizado pela Diretoria de Imagem um desafio, ou seja, um caminho a ser
Institucional vem ao encontro do movi- desbravado com coragem, resistência,
mento surdo na busca por acessibilidade sabedoria e sensibilidade, para que os
informacional e comunicacional. conteúdos se tornem acessíveis aos ci-
Ao longo deste estudo foi possível dadãos surdos. As discussões aqui apre-
perceber que o acesso aos meios de co- sentadas não encerram a temática, ape-
municação digital é muito precário, uma nas aguçam a busca por estratégias mais
vez que a maior parte do conteúdo pu- acessíveis e inclusivas.
blicado nas páginas das mais diversas

REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto no 5.296, de 2 de


dezembro de 2004. Regulamenta as

ANDRIOLI, M. G. P.; VIEIRA, C. R.; Leis nos 10.048, de 8 de novembro

CAMPOS, S. R. L. Uso das tecnologias de 2000, que dá prioridade de

digitais pelas pessoas surdas como atendimento às pessoas que

um meio de ampliação da cidadania. especifica, e 10.098, de 19 de

In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO dezembro de 2000, que estabelece

BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM normas gerais e critérios básicos para

EDUCAÇÃO ESPECIAL, 8., 5-7 nov. 2013, a promoção da acessibilidade das

Londrina. Anais... Londrina: UEL, 2013. 12p. pessoas portadoras de deficiência

32 R E V I S TA A R Q U E I R O
ou com mobilidade reduzida, e O7pleIBSTJbPqOIiVS8Dj&index=7>.
dá outras providências. Diário Acesso em: 8 set. 2018.
Oficial [da] República Federativa do UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
Brasil, Brasília, DF, 2004. Disponível JUIZ DE FORA. TVUFJF. Agosto:
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maio 2019. watch?v=EyrEpaOG4Jo&t=3s>. Acesso
BRASIL. Lei no 10.098, de 19 de em: 8 set. 2018.
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normas gerais e critérios básicos JUIZ DE FORA. TVUFJF. Setembro
de acessibilidade das pessoas Amarelo | UFJF. 2018a. (50s).
portadoras de deficiência ou com Disponível em: <https://www.youtube.
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CARTILHA ACESSIBILIDADE NA WEB.
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL
[Livro Eletrônico]: Fascículo 1:
DE JUIZ DE FORA. TVUFJF.
Introdução – São Paulo: Comitê
UFJF Transformadora | Só Riso.
Gestor da Internet no Brasil, 2013.
2018c. (5min9s). Disponível
MARTINS, G. P. T. C; BRAZ, R. M. M. em: <https://www.youtube.com/
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Associada Ltda, 2017.
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. TVUFJF. Check-in UFJF
JUIZ DE FORA. TVUFJF. Na Hora do | Centro de Educação a Distância .
Lanche | Dia das Crianças. 2017a. 2018d. (2min45s). Disponível
(4m14s). Disponível em: <https:// em: <https://www.youtube.com/
www.youtube.com/watch?v=NubKm_ watch?v=YgXv56jt0VQ&t=21s>.
FFZic&t=180s&list=PLS7Q2j47LNUe Acesso em: 9 set. 2018.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 33


FORMAÇÃO
CONTINUADA DO
TRADUTOR-INTÉRPRETE
EDUCACIONAL DE LÍNGUA
DE SINAIS E LÍNGUA
PORTUGUESA

LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA ANTONIO


RENATA DOS SANTOS COSTA

34 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
O advento de oferta da educação in-
clusiva como política educacional brasi-
leira possibilitou que o Governo Federal
garantisse a difusão e a inserção das
pessoas surdas e dos profissionais sur-
RESUMO dos e ouvintes em instituições públicas
de ensino por meio de:
Este trabalho versa, conforme De-
creto no 5.626/05, a respeito da forma- • Políticas públicas de promoção do
ção dos Tradutores-Intérpretes Educa- status linguístico da Língua Brasileira
cionais de Libras no cenário brasileiro
de Sinais (Libras).
de educação de surdos. Elenca os pos-
síveis caminhos de formação e apri- • Inclusão da Libras como disciplina
moramento profissional, como curso curricular.
de extensão universitária, na tentativa
• Formação de professores com a pers-
de abranger as demandas de tradução
e interpretação. As discussões ora ex- pectiva bilíngue.
postas ultrapassam as questões de op- •
Compreensão que a Língua
ções formativas do Tradutor-Intérprete Portuguesa deve ser ensinada em
de Língua de Sinais e Língua Portugue-
modalidade escrita.
sa (TILSP), tangendo percepções mais
aprofundadas concernentes à atuação • Formação de tradutores e intérpre-
profissional nos espaços educacionais, tes de Libras/Língua Portuguesa, em
bem como sua importância no proces-
curso de nível superior; ou em nível
so de aprendizagem de educandos sur-
dos (BELÉM, 2010; COSTA, 2017; LACER- médio, em cursos de educação pro-
DA, 2009). Por fim, entende-se que se fissional, de extensão universitária
faz necessário investir em uma forma-
ção inicial e continuada, em cursos de
nível superior, de forma a sedimentar o LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA ANTONIO
exercício tradutório-interpretativo res- Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade
significando a práxis nos diversos con- Cândido Mendes (AVM/UCM) e em Educação de Surdos pelo Instituto
textos sociais contemporâneos. Nacional de Educação de Surdos (INES); bacharel em Sistemas de
Informação e graduando em Pedagogia. Coordenador do Curso
de Extensão de Formação Continuada do Tradutor-Intérprete
Palavras-chave: TILSP. Formação conti-
Educacional de Libras do Departamento de Ensino Superior do INES;
nuada. Intérpretes educacionais. currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5792377846764038. E-mail:
lcoliveira@ines.gov.br.

RENATA DOS SANTOS COSTA


Mestra em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); graduada em
Letras/Libras e em Pedagogia. Coordenadora do Curso de Extensão
de Formação Continuada do Tradutor-Intérprete Educacional de
Libras do Departamento de Ensino Superior do INES; currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2759000860926550. E-mail: reebenezer@
hotmail.com.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 35


e de formação continuada promo- estudos da tradução e, principalmente,
vidos por instituições credenciadas a conceituação do perfil/papel do tra-
(BRASIL, 2005). dutor-intérprete de Libras educacional
Assim, com a consolidação dessas que atua em instituições de ensino são
políticas públicas e linguísticas, princi- fundamentais para sedimentar e eluci-
palmente na última década, a inserção dar a compreensão e as reflexões sobre
de pessoas surdas em espaços outrora esse campo. Para isso, neste artigo, se-
relegados se acelerou. Na atualidade, os rão usadas as contribuições teóricas de
surdos são contemplados por leis que autores/pesquisadores que discorrem
garantem direitos linguísticos no campo valiosamente sobre essa temática apre-
educacional e social, os quais reafirmam sentando significativas percepções que
e corroboram para a necessidade de ampliam saberes e práticas (LACERDA,
formação de profissionais Tradutores- 2006, 2009; BELÉM, 2010; ALBRES, 2015;
Intérpretes de Língua de Sinais e Língua COSTA, 2017).
Portuguesa (TILSP), requeridos pela pró-
pria Comunidade Surda Brasileira, a fim 1. LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO
de debruçar-se em traduções e em inter- DE INTÉRPRETES DE LIBRAS
pretações de todas as informações que NO BRASIL
circulem socialmente, como em espaços O Decreto no 5.626/05, além de re-
públicos e institucionais. Desse modo, gulamentar a Lei de Libras no 10.436/02,
percebe-se a emergência da presença consolida as questões de políticas públi-
de TILSPs em diversos campos, como cas para a comunidade surda, permitindo
saúde, jurídico, artístico-cultural, entre- que ações mais efetivas sejam implemen-
tenimento, midiático, conferências, entre tadas em prol da educação de surdos:
outros espaços formais e não formais.
Diante desse cenário, será apresentado I - a formação em nível superior para os
um percurso para o desenvolvimento do profissionais do campo (Letras-Libras
TILSP em atuação nos espaços educacio- nas modalidades de licenciatura e de
nais, além de uma reflexão sobre o status bacharelado);
dessa profissão perante a legislação da
II - a oferta de exame de proficiência e
área (BRASIL, 2002, 2005, 2010, 2015) e
certificação pela expertise de atu-
contribuições teóricas dos estudos da tra-
ação no campo da docência ou da
dução em/para Língua de Sinais (AUBERT,
tradução e interpretação, tal como
1994; MASUTTI; SILVA, 2011; SILVA; RUSSO,
de ensino de Libras;
2016; NASCIMENTO, 2016) no Brasil.
A trajetória legislativa para formaliza- III - a distinção dos papéis, da forma-
ção da profissão dos TILSPs no contex- ção, da atuação de docentes e de
to brasileiro, as reflexões a respeito dos tradutores;

36 R E V I S TA A R Q U E I R O
IV - a oferta de cursos de formação de a partir das principais reivindicações rela-
professores para as séries iniciais, com tadas e registradas nas falas e narrativas
uma formação voltada em perspectiva sobre a atuação, a formação e o cargo
bilíngue (Libras e Português); e do profissional TILSP. Como resultado, o
V - a obrigatoriedade de inserção da dis- texto pretende revogar a atual a Lei no
ciplina de Libras, em grade curricular, 12.319/10, argumentando que esse texto
em vários cursos de graduação (todos apresenta o profissional em um patamar
os cursos de licenciatura, por exemplo, de desvalorização e de insegurança na
os de fonoaudiologia e de educação
atuação do serviço. Desse modo, é pos-
especial), dentre outras ações. (BRASIL, 1
O projeto de Lei
sível oferecer incentivo e orientação para 9.382/2017 da Comissão
2005) de Defesa dos Direitos
que os profissionais busquem a forma- das Pessoas com Defi-
ciência está em trami-
tação e será analisado
ção inicial e/ou continuada para qualifi- pelas comissões de tra-
Para os autores, porém, é importante balho e em seguida será
votado pelo Plenário.
cação, com entrada e permanência no (w w w2 .c a m a r a . l e g . b r/
notar que, embora o decreto vislumbre camaranoticias/noticias/
TR ABALHO-EPREVI-
mercado de trabalho, por exemplo, em DENC I A /55636 -PRO -
promover a formação de TILSP reco- JETO-REGULAME
instituições educacionais de ensino. NTA-A-PROFISSAO-DE-
mendando aos profissionais tradutores -TRADUTOR-DE-LIBRAS.
html).
Diante da visibilidade promovida pela
e intérpretes uma formação em nível
legislação, pelas políticas públicas, pe-
superior, a Lei no 12.319/10, que regu-
los movimentos políticos de TILSPs e,
lamenta a profissão, veta essa exigên-
cia em nível superior, salientando a ne- principalmente, pós-oficialização da Lei

cessidade real de uma formação inicial, de Libras, do Decreto de regulamen-

em nível médio, além de uma formação tação dessa lei (Decreto no 5.626/05) e

continuada, por meio de cursos técnicos da Lei de regulamentação da profissão

e de extensão universitária. dos TILSPs, a atuação do tradutor e in-


Diante desses impasses legais, os pro- térprete também foi reconfigurada como
fissionais TILSPs conseguiram , em 2017, profissão. No entanto, ser bilíngue e ter
uma comissão especial que promoveu o conhecimento de Libras (competência
Ciclos de Debates em vários estados bra- linguística) foi enquadrado insuficiente
sileiros, integrando profissionais das cin- como requisito único exigido aos profis-
co regiões e com a participação e repre- sionais que realizam a mediação linguís-
sentatividade da Federação Brasileira das tica entre a Libras e a Língua Portuguesa
Associações dos Profissionais Tradutores e vice-versa.
e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Destarte, as últimas pesquisas acadê-
Língua de Sinais (FEBRAPILS). Essa co- micas a respeito da atuação dos traduto-
missão teve o intuito de construir um res e intérpretes, no âmbito educacional
projeto de regulamentação da profissão 1
(LACERDA; SANTOS, 2014; ALBRES, 2015;

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 37


entre outros) superaram algumas cren- a comunidade surda passou a ocupar os
ças e mitos de que para ser profissional espaços de ensino, além de contextos
TILSP bastava saber Libras e/ou conviver sociais e políticos. Os surdos começaram
com a comunidade surda. Atualmente, a ingressar em cursos de licenciatura e
os profissionais da educação de surdos galgar o status de docentes em cursos de
e os alunos ouvintes não são mais vistos graduação e pós-graduação, o que rea-
como àqueles que estariam “auxiliando” firma e ratifica a importância de TILSPs
voluntariamente os alunos surdos em sa- qualificados para atuar nos espaços de
las de aula. Por isso, a lei de regulamen- formação desses surdos, bem como nos
tação da profissão (BRASIL, 2010) am- demais espaços que virão a ser “territó-
pliou a visibilidade e a oferta de trabalho rio” dos novos profissionais surdos ora
em mercado formal, outrora, por longas em formação. Nesse viés, na próxima se-
décadas, sem a exigência de formação, ção será apresentada uma breve reflexão
de comprovação de experiência profis- a respeito das abordagens teóricas dos
sional ou de vínculo empregatício. estudos da tradução com foco em pes-
Desse modo, os TILSPs conquistaram quisas de língua de sinais.
novos espaços de atuação e, com isso,
foram reconhecidos também os direitos AS TEORIAS DA TRADUÇÃO E
de vínculo empregatício formal — não DA INTERPRETAÇÃO
As abordagens teóricas e práticas
mais de voluntariado —, para assim ocu-
que abarcam os aspectos da atuação,
parem cargo com comprovação traba-
da formação e do cargo dos traduto-
lhista e reconhecimento como carreira/
res e intérpretes nas línguas orais e nas
categoria profissional. Isso resultou na
línguas sinalizadas refletem sobre a
agenda temática atual para os TILSP, na
tradução e a interpretação como pro-
qual são requisitos necessários para o
cessos distintos (MASUTTI; SILVA, 2011;
desenvolvimento de competências lin- RICOEUR, 2011); por isso, podemos de-
guística, tradutória e referencial (AUBERT, cidir em qual campo pretendemos nos
1994) cursos de formação continuada e debruçar para aprofundamento em for-
de nível superior. Isso configurou uma mação e atuação.
condição inegociável para competir por
Seja na tradução, enquanto atividade
uma vaga de trabalho em um mercado
enunciativa-discursiva de cunho recur-
profissional que se tornou altamente sivo, ou seja, com possibilidade de o
competitivo. Vale ressaltar que em de- tradutor preparar, fazer, refazer e rever
a sua produção, seja na interpretação,
corrência dessas transformações no ce- enquanto atividade de mediação nas
nário político, educacional e profissional, interações face a face e, por isso, em

38 R E V I S TA A R Q U E I R O
seu imediatismo e imprevisibilidade exato momento em que o discurso está
(NASCIMENTO, 2016, p. 50).
sendo produzido, perpassando por vá-
rias etapas até a conclusão. Esse é um
Souza (2010) salienta a importância
processo de tradução que ocorre de
de uma interface interdisciplinar que en-
maneira diferenciada e em outro tempo,
volva a tradução entre Libras e Língua
em virtude das naturezas das línguas en-
Portuguesa em estudos da tradução,
volvidas e do desenvolvimento de cons-
além de apresentar uma investigação
trução cultural e política. Embora tais
sobre a perspectiva tradutória e inter-
avanços sejam factuais, pesquisadores
pretativa das línguas de sinais, com pro-
esclarecem que há carência de materiais
cedimentos tradutórios (norma surda de Interpretação simul-
2

que versem especificamente a respei- tânea (IS) em contextos


onde haja times com-
tradução, STONE, 2009; SOUZA, 2010) to da tradução de línguas de sinais para
postos por intérpretes
surdos ou não surdos

das línguas em contato. os cursos de graduação, pós-gradua-


trabalhando com a inter-
pretação indireta, aque-
la em que o produto da
Esse é um campo de pesquisa no qual ção e outros campos de atuação (SILVA;
interpretação de alguém
serve como fonte para a

inúmeros pesquisadores vêm se debru- RUSSO, 2016).


interpretação de outro
intérprete, também cha-
mado ‘intérprete-feed ”,
çando, haja vista que a interpretação, Ressalta-se outra área promissora de
do inglês ‘ feed-inter-
preter’. (SILVA & RUSSO,
2016, p. 75)
como já pontuado, é interdisciplinar. atuação dos tradutores e intérpretes de
Portanto, consideremos Lacerda (2009) e Libras e Língua Portuguesa que envolve
Belém (2010), que concentram em suas a atuação de intérpretes surdos e ouvin-
pesquisas sobre a atuação dos profissio- tes em eventos e/ou congressos acadê-
nais intérpretes de Libras, em contextos micos internacionais, versando de Libras
educacionais e acadêmicos; Nascimento para outras línguas de sinais — ambas as
(2016), a respeito das atividades inter- línguas partindo de modalidades visioes-
pretativas de tradutores de línguas de si- paciais (DINIZ, 2011). Nesse contexto, os
nais no contexto midiático; Silva e Russo intérpretes surdos, também conhecidos
(2016), com a investigação da interpreta- como intérprete-feed2, se destacam pelo
ção indireta e da posição de “intérpre- fato de obterem competência linguística
te feed”; Santos e Sutton-Spence (2018), e tradutória em American Sign Language
no campo de atuação jurídica; entre (ASL) e Sinais Internacionais, como tam-
outros. Assim, há uma crescente e pro- bém em outras línguas de sinais.
missora atuação desses mediadores lin- Atualmente, tem sido ampliada a
guísticos nos mais variados campos de oferta de cursos técnicos e de extensão
conhecimento. universitária no Brasil, possibilitando
Ademais, outros autores salientam a formação inicial e continuada aos
que a interpretação envolve a versão da profissionais TILSP no uso das técnicas
Libras para a Língua Portuguesa, ou vi- de atuação em serviço. Ademais, a
ce-versa (versão de um texto escrito da/ maioria dos profissionais vem buscando
para língua de sinais) (SOUZA, 2010) no cursos para aperfeiçoamento de suas

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 39


práticas e aprimoramento das técnicas as demandas em crescimento de áreas
adquiridas em eventos nacionais e de trabalho, como também de cursos de
internacionais. formação inicial e continuada, aos quais
É possível vislumbrar um novo cenário esses profissionais estão sendo inseri-
sendo consolidado em eventos por dos e/ou adentrando para contemplar
onde circulam pessoas de vários países: as exigências contemporâneas. Na pró-
tradutores-intérpretes de ASL e\ou xima seção, serão abordados o perfil e
Sinais Internacionais se posicionam no o papel do intérprete educacional em
palco ao lado de tradutores-intérpretes atuação nos sistemas de ensino.
de Libras e realizam a reinterpretação
O termo intérprete edu-
3. O INTÉRPRETE
3

cacional é usado em mui-


tos países (EUA, Canadá, simultânea, a partir da interpretação
Austrália, entre outros) EDUCACIONAL E O
para diferenciar o profis-
espelho (feed) de um intérprete que
sional intérprete (em geral)
daquele que atua na educa- GUIA-INTÉRPRETE PARA
ção, em sala de aula (LA- está sentado à sua frente na plateia.
CERDA, 2009, pág. 13).
De acordo com a autora,
SURDOCEGOS
existe uma preocupação no “Numa última sequência de interpreta-
reconhecimento dos TILSP Nas duas últimas décadas, novas no-
que se encontram no es- ção, o surdo intérprete, em pé no palco,
paço educacional, não só
como aqueles que versam
menclaturas foram criadas para se referir
os conteúdos da língua recebe o feed traduzido originalmen-
majoritária para a língua aos profissionais que atuam na media-
de sinais do país e vice- te do Português para a Libras e inter-
-versa, mas, também, como
aqueles que se envolvem
ção linguística; cerca de 16, conforme
de alguma maneira com preta no par linguístico: Libras - Sinais
as práticas educacionais, Albres (2015). Dentre elas, destacamos:
constituindo assim em sua
Internacionais (SI)” (SILVA; RUSSO, 2016,
forma de atuação, aspectos
singulares.
ILS (Intérprete de Língua de Sinais), IE
p. 86). Assim, não apenas em eventos
(Intérprete Educacional), TILS (Tradutor-
internacionais ou acadêmicos os profis- Intérprete de Libras) e, mais recentemen-
sionais surdos vêm se destacando como te, TILSP (Tradutor-Intérprete de Libras e
tradutores, mas também em progra- Língua Portuguesa).
mas de televisão ou, ainda, com a tra- O contexto de formação do profissio-
dução de textos escritos para a Língua nal TILSP nos conduz a reconhecer que
de Sinais e na produção de textos aca- o trabalho do Intérprete Educacional3,
dêmicos da Língua Portuguesa para a além do seu agir, indica que é preciso in-
Libras e vice-versa. tensificar os estudos e as pesquisas nes-
O cargo, a função e a formação do sa temática porque o aprofundamento
tradutor e intérprete de Libras está e a reflexão vão reconfigurar ainda mais
em constante metamorfose, median- o aproveitamento desse profissional no
te áreas, técnicas e formações novas e espaço escolar junto ao alunado surdo
outros mercados de trabalho que enca- (LACERDA, 2006).
minham à expansão da participação dos Segundo Belém (2010), o intérpre-
profissionais ouvintes e surdos. Todavia, te que atua em sala de aula se encon-
essa discussão nos leva a considerar que tra com as práticas educacionais em
é preciso investigar mais profundamente sua atuação linguística, fomentando e

40 R E V I S TA A R Q U E I R O
construindo diálogos entre o docente e Interpretar em salas de aula é mais do
que ter competência em língua de si-
o discente, como partícipe no processo
nais. Além de interpretar rápida e cor-
educacional. O profissional está a pos- retamente, o IE precisa facilitar que os
tos para se colocar em uma posição de alunos surdos possam alcançar os obje-
explicador e conciliador das relações tivos educacionais propostos pelo pro-
fessor para todos os alunos da classe
conflitivas do espaço escolar. “A comu- inclusiva. (ANTONIO; MOTA; KELMAN,
nidade surda defende o modelo de es- 2015, p. 1048)
colas bilíngues, na qual todas as aulas
são ministradas em sua língua de ins- Destarte, nesse cenário, a atua-
trução, a língua de sinais. É possível que ção dos tradutores e intérpretes per-
4
Surdocegueira é uma
a escola seja inclusiva ou especializada passa, ainda, outro público-alvo: os alu- deficiência singular que
apresenta perdas au-

e ainda ser ou não bilíngue?” (COSTA, nos surdocegos 4. Todavia, esses alunos ditivas e visuais conco-
mitantemente em dife-
rentes graus, levando a
2017, p. 38). Para Costa (2017), os intér- apresentam outras especificidades em pessoa surdocega a de-
senvolver várias formas

pretes educacionais partilham da luta sua comunicação e requerem, igual- de comunicação para
entender e interagir com
as pessoas e o ambiente,
da comunidade surda, em prol da edu- mente, um foco na tradução e na inter- proporcionando-lhes o
acesso às informações,

cação bilíngue. pretação diferenciado. vida social com quali-


dade, orientação, mobi-
lidade, educação e tra-
Essas reflexões nos impulsionam a balho (GRUPO BRASIL,
Serviços de atendimento para pessoas 2003). A adoção de ter-
minologia, grafada toda
compreender que as percepções de exis- com deficiência auditiva, prestado por junta, não é uma soma-
tória das deficiências
tência de uma práxis específica e peculiar intérpretes ou pessoas capacitadas em visual e auditiva. É uma
condição única utilizada
Língua Brasileira de Sinais — Libras e no pelo Parlamento Andino
é indiscutível, pois diferentemente dos e Europeu e por toda a
trato com aquelas que não se comuni- comunidade científica
demais espaços de atuação interpretati- quem em Libras, e para pessoas surdo-
mundial. Fonte: <http://
w w w. a h i m s a . o r g . b r/
centro_de_recursos/pro-
vos, o espaço escolar preconiza a apren- cegas, prestado por guias-intérpretes jeto_horizonte/surdoce-
go_ou_surdo_cego.pdf>.
dizagem e o desenvolvimento integral ou pessoas capacitadas neste tipo de
A função do guia-in-
atendimento. (BRASIL, 2004, Cap. II,
5

térprete aparece na Lei


do educando. Tal afirmação corrobora Item III) de Acessibilidade, Lei no
10.098/00 (arts. 17 e 18);
o entendimento do que já está posto e no Decreto no 5.296/04;
e na Lei Brasileira de

sedimentado no campo dos estudos em A surdocegueira é uma especificidade Inclusão (LBI), Lei no
13.146/15. O Cadastro
Brasileiro de Ocupa-
educação no que se refere à importância que requer uma abordagem pormeno- ções (CBO) e a Lei no
12.319/10 (regulamen-

dos agentes que viabilizam o processo rizada, para então favorecer o uso dos tação da profissão dos
tradutores e intérpretes)
não fazem distinção
educacional, isto é, os sujeitos que es- canais residuais de visão e de audição, entre o intérprete e o
guia-intérprete. Fonte:

tão imbricados nesse processo são co- quando existir; ou ainda de outros ca- < h t t p : // w w w . p l a n a l -
t o . g o v . b r / c c i v i l _ 0 3 /_
ato2007-2010/2010/lei/
participantes e corresponsáveis por ele, nais sensoriais remanescentes, quando l12319.htm>. Acesso em:
7 maio 2019.

independentemente da natureza de sua há perda total. As pessoas com surdo-


atividade. Logo, é possível afirmar que cegueira (congênita e/ou adquirida) ne-
o TILSP é, por sua vez, agente mediador cessitam de um guia-intérprete5 ou um
da aprendizagem nesse sistema educa- instrutor-mediador que conheça sua for-
cional, e não meramente uma ponte lin- ma de comunicação, pois além da perda
guística dissociada do corpo educacional visual, a pessoa pode ter uma deficiência
e pedagógico da escola. auditiva ou a surdez associada, e por isso

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 41


necessita de um guia-intérprete para ter pesquisas acadêmicas, por longas dé-
acesso à informação. cadas, a prática e a atuação do TILSP
Acima de tudo, neste texto, é impor- estiveram atreladas ao empirismo; en-
tante compartilharmos as imbricações tretanto, estudos e reflexões atuais des-
existentes quando remetemos à forma- tacam técnicas necessárias para o aper-
ção e à capacitação dos profissionais que feiçoamento do trabalho da categoria.
já atuam como intérpretes de Libras, por- Por esse motivo, nas últimas décadas, os
que para se comunicar com surdos que profissionais anseiam buscar pela pro-
não têm língua de sinais ou com os sur- fissionalização, porque a teoria sobre
docegos será necessário que, no mínimo, o ato interpretativo permite aos TILSPs
o profissional seja conhecedor das identi- passar do empirismo à ciência e da ciên-
dades e da constituição da pessoa surda, cia à profissionalização ou visibilidade
e principalmente que tenha um convívio (ROSA, 2005).
intensivo com a comunidade surda, po- Compreendemos que a tradução, por
dendo recorrer a surdos mais experientes sua vez, é uma atividade complexa e re-
ou experimentar vivências com pessoas quer do tradutor compreender a men-
que tenham pouca comunicabilidade e sagem, decodificá-la e recodificá-la,
requerem abordagens diferenciadas. o que implica conceber a necessidade
Lodi e Lacerda (2009), em suas análises de horas de estudos linguístico-voca-
dos processos discursivos da Libras, tra- bulares, de conceito, de conhecimento
zem para a discussão o fato de as línguas referencial, de finalidade e de formata-
de sinais apresentarem uma materialida- ção do texto que será transliterado para
de distinta e, portanto, uma organização outra modalidade de língua. Portanto,
diversa a das línguas orais, requerendo a teoria desempenha a função sólida e
um deslocamento do olhar para essa lín- eficaz de fundamentação para a prática
gua de modalidade visioespacial. Em vir- tradutória.
tude de o TILSP estar em interação no Com isso, importa aos autores deste
processo interdiscursivo e dinâmico, entre artigo aprimorar e qualificar a práxis de
membros de uma mesma comunidade forma a elucidar a complexidade linguís-
linguística, ele participa do uso social da tica existente nas Línguas de Sinais, bem
língua quando a palavra se transforma e como garantir integralmente o direito
se altera conforme o contexto discursivo linguístico aos sujeitos surdos e fomen-
em que está inserido (BAKTHIN, 1992). tar sua participação efetiva nos espaços
sociais e intelectuais. Assim, os diferen-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS tes papéis de atuação do TILSP permi-
O tradutor-intérprete ainda é um tem vislumbrar e ampliar a contínua for-
profissional que busca uma qualifica- mação, tal como adquirir novas técnicas
ção ideal. Conforme apresentado nas e habilidades através de conhecimentos

42 R E V I S TA A R Q U E I R O
específicos, para assim atuar nas diver-
sas áreas de conhecimento. Portanto, se
REFERÊNCIAS
faz necessário mais investimentos em
formação inicial e continuada, e em cur- ALBRES, N. A. Intérprete educacional :
sos de nível superior e cursos técnicos, políticas e práticas em sala de aula
com o objetivo da ressignificação pro- inclusiva. São Paulo: Harmonia, 2015.
fissional e de um aprofundamento teó- ANTONIO, L. C. O; MOTA, P. R.;
rico e prático do exercício em tradução KELMAN, C. A. A formação do
e em interpretação da Libras nos diver- intérprete educacional e sua atuação
sos contextos sociais contemporâneos. em sala de aula. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação,
v. 10, p. 1032-1051, 2015.
AUBERT, F. H. As (in) fidelidades da
tradução: servidões e autonomia do
tradutor. 2. ed. Campinas: Editora da
Unicamp 1994.
BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia
da Linguagem. São Paulo: Hucitec,
1992.
BELÉM, L. J. M. A atuação do
intérprete educacional de Língua
Brasileira de Sinais no ensino
médio. 139 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Metodista
de Piracicaba, Piracicaba, 2010.
BRASIL. Decreto n o 5.626, de 22 de
dezembro de 2005. Regulamenta a
Lei n o 10.436, de 24 de abril de 2002.
Dispõe sobre a Língua Brasileira
de Sinais - Libras. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 2005.
BRASIL. Lei n o 10.436, de 24 de
abril de 2002. Dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais - Libras
e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 2002. Disponível

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 43


em: <http://www.planalto.gov.br/ DINIZ, H. G. A história da Língua
ccivil_03/leis/ 2002/l10436.htm>. de Sinais : um estudo descritivo das
Acesso em: 30 mar 2017. mudanças fonológicas e lexicais da
BRASIL. Lei n o 12.319, de 1o de Libras. Florianópolis: Arara Azul, 2011.
setembro de 2010. Regulamenta a LACERDA, C. B. F. Intérprete de Libras
profissão de Tradutor e Intérprete em atuação na educação infantil e
da Língua Brasileira de Sinais - no ensino fundamental. Porto Alegre:
LIBRAS. Diário Oficial [da] República Mediação\FAPESP, 2009.
Federativa do Brasil, Brasília, DF, LACERDA, C. B. F. O intérprete
2010. de língua de sinais: investigando
BRASIL. Lei n o 13.146, de 6 de julho aspectos de sua atuação na educação
de 2015. Institui a Lei Brasileira infantil e no ensino fundamental.
de Inclusão da Pessoa com Relatório de Pesquisa. Fundação de
Deficiência (Estatuto da Pessoa Amparo à Pesquisa do Estado de São
com Deficiência). Diário Oficial Paulo. Proc. 00443-3/05, p.1-84, 2006.
[da] República Federativa do LACERDA, C. B. F.; SANTOS, L. F.
Brasil, Brasília, DF, 7 jul. Disponível (Orgs.). Tenho um aluno surdo,
em: <http://www.planalto.gov.br/ e agora? Introdução a Libras e
CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/ educação de surdos. São Carlos (SP):
L13146.htm>. Acesso em: 7 set. 2017. EdUFSCar, 2014.
COSTA, R. S. O professor intérprete LODI, A. C. B.; LACERDA, C. B. F.
de Libras em uma escola polo A inclusão escolar bilíngue de
do município de Nova Iguaçu. alunos surdos no ensino infantil
154 f. Dissertação (Mestrado em e fundamental: princípios, breve
Educação) – Faculdade de Educação, histórico e perspectivas. In: LODI, A.
Universidade Federal do Rio de C. B.; LACERDA, C. B. F. (Org.). Uma
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. escola duas línguas: letramento em

44 R E V I S TA A R Q U E I R O
língua portuguesa e língua de sinais SANTOS, S. A.; SUTTON-SPENCE, R. A
nas etapas iniciais de escolarização. profissionalização de intérpretes de
Porto Alegre: Mediação, 2009. p. 7-32. línguas de sinais na esfera jurídica.
MASUTTI, M. L.; SILVA, S. G. L. Translatio, v. 1, p. 264-289, 2018.
Tradução e interpretação de Libras SILVA, A. A; RUSSO, A. Diferenças e
I . Universidade Federal de Santa similitudes entre a “interpretação
Catarina. Bacharelado em Letras\ indireta” e a “interpretação indireta
Libras na modalidade a distância. sinalizada”: uma análise sobre a
Florianópolis, 2011. posição de “intérprete-feed”. In:
NASCIMENTO, V. Da norma SILVA, A. A. ALBRES, N. A. RUSSO,
legislativa à atividade interpretativa: A. (Orgs.). Diálogos em estudos da
acessibilidade comunicacional de tradução e interpretação de língua
surdos à mídia televisiva. In: SILVA, de sinais . Curitiba: Prisma, 2016. p.
A. A.; ALBRES, N. A.; RUSSO, A. (Org.). 75-106.
Diálogos em estudos da tradução SOUZA, S. X. Performances de
e interpretação de língua de sinais . tradução para a Língua Brasileira
Curitiba: Prisma, 2016. p. 37-74. de Sinais observadas no curso de
RICOEUR, P. Sobre a tradução. Letras-Libras . 174 f. Dissertação
Tradução Patrícia Lavelle. Belo (Mestrado em Estudos da Tradução) –
Horizonte: Editora UFMG, 2011. Centro de Comunicação e Expressão,
ROSA, A. S. Entre a visibilidade da Universidade Federal de Santa
tradução da língua de sinais e a Catarina, Florianópolis, 2010.
invisibilidade da tarefa do intérprete. STONE, C. Toward a Deaf Translation
199 f. Dissertação (Mestrado em Norm . Washington, DC: Gallaudet
Educação) – Faculdade de Educação, University Press, 2009.
Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2005.
TRADUÇÃO DE/PARA
LÍNGUA DE SINAIS
NO ENSINO SUPERIOR:
EXPERIÊNCIAS
COMPARTILHADAS

MÔNICA R. DE SOUZA LOPEZ


RAFAEL DA MATA SEVERINO

46 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
A conquista por parte dos surdos do
espaço acadêmico reclama e ao mesmo
tempo promove produções de materiais
bilíngues. A crescente presença de tal
RESUMO público em contextos universitários tem
acontecido não apenas na qualidade de
O presente artigo é fruto das reflexões discentes, mas também na docência,
acerca do trabalho tradutório desem-
o que exige de quem traduz materiais
penhado pela equipe de tradução do
Núcleo de Educação Online (NEO) do acadêmicos e de quem interpreta em
Instituto Nacional de Educação de Sur- tais espaços uma busca por formação
dos (INES). O objetivo é realizar uma
de igual nível e um aperfeiçoamento de
análise descritiva dos procedimentos
adotados para traduções no ensino su- suas práticas. Uma queixa comum entre
perior do INES, desde o trabalho inicial surdos na comunidade acadêmica é a
para o curso presencial de Pedagogia
falta de ferramentas bilíngues, o que re-
Bilíngue até as traduções que hoje são
desenvolvidas no NEO na modalidade força a necessidade do trabalho de tra-
on-line. Para isso, foram observadas as dução. Por sua vez, tradutores cujo par
funções do tradutor-ator, tradutor-su- linguístico envolvido em seus ofícios in-
pervisor e tradutor-revisor, bem como a
importância de definição desses papéis
clua pelo menos uma Língua de Sinais,
e o diálogo com outros profissionais. queixam-se de que faltam diretrizes ou
Entendemos que é o trabalho em equi-
pe que contribui para a qualidade das
traduções. Desse modo, espera-se que MÔNICA R. DE SOUZA LOPEZ
este artigo contribua para estudos rela- Especialista em Libras com ênfase em educação bilíngue para
cionados à tradução de/para línguas de Surdos; graduação em Letras-Libras pela Universidade Federal
sinais e auxilie tradutores no desempe- de Santa Catarina (2012); pós-graduação em Língua Brasileira de
nhar de suas atividades de tradução e Sinais pela Faculdade Internacional Signorelli (2014). Experiência
na área de Letras, com ênfase em Tradução. É tradutora e
organização do trabalho.
intérprete efetiva do Instituto Nacional de Educação de Surdos;
professora contratada do curso Letras-Libras/ UFRJ; ministra
Palavras-chave: Tradução. Ensino Su- palestras, cursos, oficinas nas áreas de tradução, interpretação,
perior. Textos videografados. Língua educação de Surdos e Libras; atua como tradutora/atriz em vídeos
Brasileira de Sinais. e espetáculos artísticos/culturais.

RAFAEL DA MATA SEVERINO


Graduado em Letras (Português/Literatura) (FFP/UERJ); possui
experiência de interpretação na área educacional (Educação
Básica e Ensino Superior), interpretação de conferências, esfera
midiática e tradução de material didático para mídias digitais.
Atualmente é Tradutor e Intérprete da Libras/Língua Portuguesa
do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), onde tem
se dedicado a traduções para plataforma online do Curso de
Pedagogia Bilíngue na modalidade semipresencial, vinculado ao
Plano Viver Sem Limites.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 47


normas técnicas para o trabalho. Assim, 2010), do tradutor-supervisor, do tradu-
as equipes de tradução que desenvolvem tor-revisor; e também a aprovação dos
projetos ou implementação do trabalho rascunhos de vídeo, a locução do ma-
sistematizado de tradução com Língua terial didático tendo em vista sua pro-
de Sinais no país veem-se diante de uma posta bilíngue, a participação na elabo-
grande responsabilidade e do desafio de ração de roteiro, o acompanhamento da
desbravar um caminho e compartilhar etapa de edição dos vídeos, a validação
com a classe profissional suas experiên- das traduções, entre outras.
cias nesse tão recente percurso. Embora este artigo se dedique à des-
A proposta deste artigo é descrever e crição prática das experiências vivencia-
compartilhar experiências em tradução das pela equipe de tradução, buscou-se
de ou para Língua de Sinais no Ensino embasamento teórico nos estudos da
Superior. A exemplo da equipe de tra- tradução para escolhas, decisões e pro-
dução do Curso Letras/Libras da UFSC, cedimentos adotados.
que registrou o passo a passo do ma-
terial traduzido para o curso (OLIVEIRA; PROCEDIMENTOS PARA
SILVA, 2014), aqui será demonstrado TRADUÇÃO NO CURSO DE
como tem sido desenvolvido o tra- PEDAGOGIA BILÍNGUE
balho de tradução para os alunos do
Ensino Superior do Instituto Nacional de Inicialmente, as traduções para o cur-
Educação de Surdos (INES) nos últimos so de Pedagogia Bilíngue eram realiza-
anos. De início, de maneira empírica e das de maneira amadora. Trata-se de um
amadora, para o curso de Pedagogia período anterior ao primeiro concurso
Bilíngue presencial foram feitos ajustes para seleção de tradutores e intérpretes,
e, posteriormente, se obteve avanços; no qual a rotatividade de profissionais,
o mesmo acontecendo na modalida- a carga horária, a grande demanda de
de on-line. Destaca-se a importância trabalho e a falta de formação específi-
de uma equipe que possa debruçar-se ca dificultavam a implementação de um
exclusivamente nos serviços de tradu- trabalho sistematizado de tradução.
ção, entendida a complexidade do fazer Os intérpretes contratados deviam
tradutório. Serão abordadas questões priorizar o atendimento às demandas de
relacionadas aos equipamentos, aos re- interpretação das aulas, uma vez que o
cursos, bem como ao alinhamento com quantitativo de intérpretes contratados
outros profissionais que fazem parte do para o departamento de Ensino Superior
processo, especialmente em vista de o era o mínimo necessário para atender a
trabalho envolver textos videografados. demanda em sala de aula. Assim, mes-
Ressalta-se ainda outras facetas do ser- mo com grande necessidade e interesse
viço, como a do tradutor-ator (SEGALA, da instituição em oferecer tradução de

48 R E V I S TA A R Q U E I R O
textos acadêmicos, documentos, editais, traduções, então eram utilizadas as sa-
provas e afins, esses serviços, quando las de aula que estivessem disponíveis,
realizados, eram feitos após o trabalho nas quais era escolhida uma parede
de interpretação das aulas ou no perío- lisa ou onde pudesse fixar um tecido
do de férias acadêmicas. O tempo ne- de TNT trazido pelo próprio tradutor
cessário para estudo, o perfil profissio- (Figura 1). Não havia equipamento pro-
nal, as etapas do trabalho de tradução fissional de filmagem e edição. Para tal
eram frequentemente desconsideradas, tarefa, eram utilizadas câmeras e tripé
ora por falta de conhecimento técni- domésticos, operados pelos próprios tra-
co/teórico ora por impossibilidade de dutores, o que levava a outros entraves,
cumprir com tais procedimentos. Fazia- como, por exemplo, a falta de habilidade,
se o possível, mas não o adequado. O familiaridade ou conhecimento mínimo
desgaste físico e mental além da falta necessário para ajustes de equipamento,
de critérios específicos e de procedi- filmagem e edição, sobrecarregando os
mentos técnicos eram queixas justas e poucos profissionais que se dispunham
frequentes. a atender a todas as demandas de inter-
O estúdio e as equipes de filmagem pretação e atuar na tradução.
e edição do INES eram solicitados pe- Em 2013, após concurso público que,
los tradutores apenas para a tradução pela primeira vez, trouxe ao quadro fun-
de materiais para público externo, no cional do INES profissionais tradutores
entanto a maior parte das atividades e intérpretes, os serviços de tradução
desenvolvidas se destinava ao curso, ainda não eram estruturados da ma-
sendo realizadas no próprio departa- neira mais adequada, pois continuava
mento de Ensino Superior. Não havia sendo necessário priorizar as atividades
um local dedicado para a filmagem das de sala de aula ou outros espaços com

Figura 1 – Processo de tradução


Arquivo pessoal da tradutora

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 49


o serviço de interpretação. Contudo, atuação. A tradução passou a fazer par-
com a realização de um segundo con- te de um fluxo de trabalho, o que resul-
curso e o aumento quantitativo desses tou na formação de uma equipe básica,
profissionais, foi possível organizar gru- fixa e própria do Núcleo de Educação
pos para atender demandas específicas. Online (NEO). Embora a equipe tenha
Assim, uma equipe focada nas tarefas sido composta inicialmente por apenas
de tradução passou a desenvolver e im- três tradutores, os projetos de tradução
plementar novos projetos e ações ne- contavam com a participação de profes-
cessárias para sua execução. sores surdos em algumas traduções.
A partir disso a equipe de tradução pas- Os procedimentos básicos são os
sou a ter condições de adotar procedimen- mesmos adotados em equipes ou agên-
tos pertinentes à atividade. O primeiro pas- cias de tradução em qualquer língua,
so foi encarar a tradução como um projeto, mas quando a tradução envolve pelo
isso significou estabelecer um gerenciamen- menos uma língua de sinais, como é o
to que definisse funções, linha de atuação, caso no NEO, os textos são filmados, ou
prazos, objetivos etc. Sobre definir funções seja, são videografados, exigindo outros
em um projeto, a equipe de três tradutores conhecimentos, habilidades e técnicas
se configurou da seguinte forma: tradutor- dos tradutores.
-ator (traduz e apresenta), tradutor-super- Muito esforço acontece antes de se
visor (traduz, supervisiona a gravação, atua entrar em estúdio para o registro do
como “diretor” e faz a revisão imediata com texto em Libras. Após receber o tex-
o tradutor-ator) e tradutor-revisor (atua to ou o roteiro tem início a seguinte
como leitor, receptor crítico da tradução e movimentação:
faz a revisão final do material pós-edição). • Um representante da equipe geren-
Outra ação importante foi a programação cia o fluxo de tradução primeiro ana-
do estúdio e dos profissionais de filmagem e lisando o material e designando as
edição em dois dias fixos semanais de modo funções para a tradução solicitada de
que os tradutores pudessem se concentrar acordo com a proposta do professor
naquilo que condiz com sua formação, sua e o perfil do tradutor.
habilidade e seu cargo — a tradução. • O tradutor que atuará no vídeo re-
cebe o texto ou o roteiro com ante-
EQUIPE DE TRADUÇÃO NO cedência para estudo da matéria, in-
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO cluindo levantamento terminológico,
ONLINE (NEO) identificação de possíveis problemas
Uma nova proposta surgiu com a tradutórios, se haverá necessidade de
criação do curso na modalidade EAD. A consultoria conceitual ao professor da
linguagem on-line exigia um ajuste na disciplina ou outro profissional da área

50 R E V I S TA A R Q U E I R O
do conteúdo solicitado, consultoria dológicos e práticos permeiam todas
as atividades da equipe, o que não
vocabular ou buscas terminológicas.
exclui a abordagem teórica. Diferente-
• O próximo passo é uma leitura cole- mente do que é observado em outras
tiva para que os outros membros da correntes teóricas, sobretudo as tradi-
equipe, como o supervisor e o revisor, cionais, a tradução trabalhada no NEO
não entende o papel do tradutor como
possam se familiarizar com o conteú- atividade mecânica, pois este profis-
do e trocar opiniões a respeito das sional deve ser compreendido como
escolhas adotadas. O treinamento questionador, e não passivo ou incons-
ciente ante as informações que recebe.
pode ser feito também por meio de
(2018, p. 69)
rascunhos de vídeos.
• Uma vez tendo compreendido e in-
Assim, vale destacar a importância de
ternalizado a matéria, cada tradutor
desenvolver um trabalho em equipe de
adota o método pessoal em que sen-
maneira que seja possível distribuir fun-
te mais confortável para o momento
ções específicas, como relatado na seção
da gravação. Dependendo do projeto,
a seguir.
alguns adotam glosinais, proposta de
Campello e Castro (2013), para o texto
TRABALHO EM EQUIPE COM
que será exibido no teleprompter; ou-
FUNÇÕES INDIVIDUAIS
tros, fazem um mapeamento no qual
As experiências anteriores em tradu-
breves frases servem de esboço para
ção de ou para Língua de Sinais ajuda-
trechos que resumam e façam lem-
ram os autores deste artigo a entender
brar do conteúdo de cada parte do
o valor de uma equipe eficiente. Tem-se
texto: da introdução, do desenvolvi-
dito que o trabalho do tradutor é soli-
mento e da conclusão. Há tradutores
tário, o que até certo ponto é verdade:
que preferem usar seu rascunho de
leitura, estudo, levantamento termino-
vídeo como guia. No caso de tradu-
lógico, escolha de termos para equiva-
tores ouvintes, há ainda quem prefira
lência de sentido entre a língua fonte e
usar, além do texto escrito, um áudio
língua de chegada, mapeamento e tex-
do mapeamento do texto ou das glo-
to para uso no teleprompter são tarefas
sas com a própria voz para orientá-
desenvolvidas por um tradutor, no caso
-los na gravação.
o que atuará no texto final em vídeo. No

Independentemente do procedimen- entanto, é produtiva a consulta aos pa-

to adotado, as etapas e o estudo prévio res durante o processo e na ocasião da

necessário para tradução devem ser res- filmagem do texto final, com a presença

peitados para um bom resultado do tra- do tradutor-supervisor. Leite e McCleary


balho. Como afirmam Galasso et al.: (2009), falando sobre aprendizagem
Na fase de tradução, aspectos meto- de Libras, demonstraram importante

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 51


Figura 2 – Interações com grafismos e animações
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yB2AbXsp3qU

Figura 3 – Para tanto, é necessário que


tradutor-ator e tradutor-supervisor
estejam alinhados, façam acordos prévios
e esquematizem juntos a dinâmica da
gravação das cenas. Nessa etapa também
é feita uma primeira revisão, ou revisão
imediata por parte do tradutor que
apresenta e o que supervisiona para
apontar possíveis pontos de correção ou
necessidade de regravação.
Arquivo pessoal da tradutora. Fonte: elabo-
rado pelos autores

aspecto ou característica da língua que redundância, repetição de termos entre


justifica a necessidade de supervisão nos outros e fazer prontamente os ajustes
textos traduzidos para Língua de Sinais, que julgar necessário.
“é o fato de o usuário da Libras não ter Na tradução para Língua de Sinais
um feedback de sua própria produção isso não é possível, daí a importância
enquanto sinaliza” (p. 262). Nas línguas da supervisão para identificar e alertar
orais o tradutor está todo o tempo dian- ao tradutor-ator a necessidade de pos-
te do texto que está produzindo. O que síveis ajustes. O olhar do tradutor-su-
o permite reler brevemente as últimas pervisor da perspectiva de “leitor” do
sentenças, identificar erros ortográficos, texto é um importante apoio (Figura 3);

52 R E V I S TA A R Q U E I R O
contribui para clareza das informações, importante função do tradutor, agora
uso adequado do espaço ao apontar os atuando como revisor. Como em qual-
referentes etc. Evita também o retraba- quer texto, a revisão deve ser feita por
lho de gravar novamente longos trechos outro profissional, e não pelo próprio
por algum deslize que o tradutor-ator tradutor ou autor do texto. Então, o ter-
perceberia apenas ao final da gravação. ceiro membro da equipe envolvido no
O supervisor assume, de certa forma, a projeto assume o posto durante a edi-
função de diretor quando a gravação do ção do texto. Além de apoiar o editor na
texto envolve interação e/ou referências organização das sequências gravadas,
às legendas, aos grafismos ou às anima- ou em pontos em que serão utilizadas
ções por parte do ator (Figura 2). legendas ou outros recursos, o revisor
Para tanto, é necessário que tradu- estará atento à sinalização e se algum
tor-ator e tradutor-supervisor estejam erro passou desapercebido pelos cole-
alinhados, façam acordos prévios e es- gas. Primeiro, a revisão é feita por cote-
quematizem juntos a dinâmica da gra- jo com o texto fonte e, depois, na inser-
vação das cenas. Nessa etapa também ção de todas as legendas, grafismos ou
é feita uma primeira revisão, ou revi- outros recursos. O revisor fará a revisão
são imediata por parte do tradutor que como leitor, atestando a fluidez textual,
apresenta e o que supervisiona para uma vez que a equivalência de conteú-
apontar possíveis pontos de correção do já foi verificada.
ou necessidade de regravação. Por fim, tal trabalho em equipe é o
Na etapa pós-tradução é realiza- que promove a qualidade do produto fi-
da a revisão final (veja Figura 3), outra nal entregue (veja Figuras 4-6).

Figura 4 – Vídeo finalizado. Material traduzido.


Disponível em: http://www.youtube.com/channel/
UCFJiEfwRsllhe33ks_LwpPQ. Fonte: elaborado pelos autores

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 53


Figura 5 – Vídeo finalizado. Material traduzido.
Disponível em: http://www.youtube.com/
watch?v=hgfwtWtZ7uA&t=245s. Fonte: elaborado pelos autores

Figura 6 – Vídeo finalizado. Material traduzido.


Disponível em: http://www.youtube.com/
watch?v=Ydgog3PEY74&t=5s. Fonte: elaborado pelos autores

PRINCIPAIS RESULTADOS atuação. Segala (2010), ao descrever a


Este artigo procurou descrever o de- etapa de estudo prévio do texto a ser
senvolvimento do serviço de tradução no traduzido, oferece uma medida desse
âmbito do Ensino Superior do Instituto parâmetro: “Esse procedimento todo
Nacional de Educação de Surdos (INES). leva em torno de 40 horas, ou seja,
Trata-se de especificidades na tradução uma semana de trabalho para traduzir
envolvendo textos acadêmicos e mate- um texto de aproximadamente 13 pá-
riais didáticos que requerem formação, ginas” (p. 37). Na vivência de tradução
afinidade com a área e experiência em dos autores deste artigo, no entan-
Ensino Superior. to, foi constatado que há outros fato-
Destaca-se a necessidade da troca res envolvidos e que, portanto, com
de experiências entre tradutores para uma regra fria de horas trabalhadas/
o aperfeiçoamento desse campo de quantidade de páginas nem sempre é

54 R E V I S TA A R Q U E I R O
possível mensurar. A complexidade do próprio com equipamentos modernos
conteúdo e a competência referencial, e exercem diversas funções correla-
ou falta dela, influenciam muito mais cionadas às práticas tradutórias, como
no tempo necessário para a tradução prestar consultoria técnica, participar
do que o número de páginas que o tex- na roteirização dos textos a serem tra-
to apresenta. Já para o produto, o texto duzidos e validar traduções realizadas
traduzido é mais fácil de ser definido, por tradutores convidados. Todas essas
uma lauda possivelmente resultará em facetas de trabalho são definidas e dis-
um vídeo/texto em Libras com cerca de tribuídas entre os membros da equipe,
cinco minutos. Tal base de referência é o que exige reuniões periódicas para or-
importante na previsão de tempo de ganização do trabalho e disposição para
vídeo do texto solicitado. Outra impor- ajustes sempre que necessário.
tante constatação é que gravar duran- Frequentemente, a equipe de tradu-
te muitas horas seguidas é contrapro- ção do NEO/INES é consultada por tra-
ducente, pois, com o desgaste físico dutores de outras instituições que tra-
e mental, erros, cortes e interrupções balham com tradução de ou para Libras
são mais frequentes, além de a postu- sobre a implementação do seu processo,
ra e as expressões faciais/corporais do uma vez que o mais comum é a atuação
tradutor-ator nitidamente decaírem. O em sala de aula com intérpretes educa-
melhor tem sido agendar as filmagens cionais e porque a bibliografia sobre o
para o início das atividades do dia e assunto ainda é escassa, como relatam
respeitar os próprios limites no que diz Souza e Vital:
respeito ao tempo de gravação.
Visto que a proposta do NEO, local Foram encontradas poucas pesquisas
de trabalho da equipe aqui descrita, é registradas e, por essa razão, fizeram-
-se necessárias outras estratégias para
priorizar a Língua de Sinais nas tradu- coleta de informações, incluindo visitas
ções, por vezes são necessários ajustes técnicas a outras instituições – como o
no texto fonte por questões métricas, INES (Instituto Nacional de Educação
de Surdos) – além de contato com pro-
ou adequações para legendas e locu-
fissionais que já desenvolvessem esse
ção, tarefas que também são designa- tipo de trabalho e, por fim, adaptação
das aos tradutores. à realidade e necessidades da UFRJ e
do departamento de Letras- Libras
O trabalho atualmente desenvolvido
para a realização destas traduções.
pelo NEO tem permitido que a equipe (2018, p. 113)
exerça sua função nos projetos de tra-
dução de modo mais adequado, ainda Assim, é possível perceber que mes-
que não seja o ideal almejado. Os pro- mo os profissionais com formação es-
fissionais contam com um fluxo previa- pecífica em tradução estão diante do
mente definido de trabalho, têm estúdio desafio da teoria à prática e do esforço

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 55


para conscientizar e convencer a ins- desenvolvidas possa contribuir para a
tituição na qual atuam sobre a neces- organização de outras equipes, a pro-
sidade de sistematizar o trabalho de moção do trabalho de tradução e o
tradução. Que este breve compartilha- aprimoramento das próprias práticas.
mento de problemas, soluções e ações

REFERÊNCIAS (Orgs). Estudos surdos IV. Petrópolis:


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em diário: fatores complicadores UFRJ FAZ 100 ANOS: HISTÓRIA,
e facilitadores no processo de DESENVOLVIMENTO E DEMOCRACIA.
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brasileira por um adulto ouvinte. 2018. p. 110-119. vol. 3.
In: QUADROS, R. M.; STUMPF, M. R.

56 R E V I S TA A R Q U E I R O
AS FACES DA ATUAÇÃO
DO TRADUTOR-
INTÉRPRETE
DE LIBRAS E PORTUGUÊS
NO CAMPO
EDUCACIONAL

RENATA DOS SANTOS COSTA

58 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
Recentemente vem ocorrendo uma
amplitude de ofertas de vagas para
TILSP, por intermédio de concursos pú-
blicos, em diversas instituições públicas
e educacionais de municípios do Rio de
Janeiro para atender à legislação fede-
RESUMO ral que determina que alunos surdos te-
nham sua instrução oferecida em Libras.
Este artigo apresenta algumas faces da
realidade profissional dos Tradutores-
Muitos desses alunos chegam à escola
-Intérpretes de Língua de Sinais e Lín- sem a primeira língua (L1) estruturada e
gua Portuguesa (TILSP) que atuam na os profissionais intérpretes com forma-
área educacional. O objetivo é analisar
ção em docência acabam “assumindo”
os desdobramentos compatíveis com
a pesquisa realizada na dissertação de essa tarefa de ensinar Libras.
mestrado da autora. Investiga a recente Instituições de ensino e suas res-
atuação de tradutores-intérpretes de Li- pectivas prefeituras devem construir
bras e Língua Portuguesa em instituições
públicas educacionais de municípios do
uma estrutura geral que possibilite a
estado do Rio de Janeiro por meio de implementação de um sistema de en-
uma pesquisa bibliográfica. Para dialo- sino bilíngue que preveja a presença
gar com autores de relevância na área
de professores de Libras surdos, pro-
de tradução e interpretação, foram sele-
cionados textos de Albres (2015) e Lacer- fessores regentes e\ou profissionais do
da e Santos (2014), entre outros. Sobre Atendimento Educacional Especializado
as questões relacionadas à proposta de (AEE) com fluência em Libras; um cur-
educação inclusiva e educação bilíngue,
elegeu-se Lodi e Lacerda (2009), Fernan-
rículo bilíngue que contemple a Libras
des (2006), entre outros. Nas discussões como língua de instrução nas séries ini-
do professor-intérprete de Libras, op- ciais (1o ao 5o ano de escolaridade) e a
tou-se por Sales (2014), Martins (2013),
Língua Portuguesa sendo concomitan-
Kelman (2008) e Rosa (2006). Nas ques-
tões interculturais e políticas linguísticas, temente trabalhada na perspectiva de
selecionou-se Canen (2012). segunda língua (L2).

Palavras-chave: TILSP. Campo educa-


cional. Mediação linguística.
RENATA DOS SANTOS COSTA
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); graduada em
Letras/Libras e em Pedagogia. Coordenadora do Curso de Extensão
de Formação Continuada do Tradutor-Intérprete Educacional de
Libras do Departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional
de Educação de Surdos (INES); currículo Lattes: http://lattes.cnpq.
br/2759000860926550. E-mail: reebenezer@hotmail.com.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 59


Há modelos de educação bilíngue Nacional de Educação e Integração dos
em processo de avanço em várias loca- Surdos (FENEIS), o Plano Nacional de
lidades do país. Algumas instituições de Educação (PNE/2014) — Lei no 13.005/04
ensino vêm realizando concursos para — fez a retificação e a distinção entre es-
efetivar em cargo público profissionais colas inclusivas e escolas bilíngues, clas-
tradutores-intérpretes ou professores-in- ses inclusivas e classes bilíngues.
térpretes de Libras. “A inclusão promove Muitos profissionais tradutores e in-
a relação paradoxal entre interpretar ver- térpretes foram galgando experiência
sus ensinar” (MARTINS, 2016, p. 156). Os profissional de forma voluntária ao apoiar
alunos das séries iniciais precisam de um pessoas surdas em situações diversas e\
professor regente bilíngue porque mui- ou iniciar sua atuação profissional em
tos nessa faixa etária estão começando o instituições religiosas. Há cerca de vinte
processo de aquisição de primeira língua. décadas, não havia contrato firmado com
Inúmeras famílias desconhecem a Língua instituições de ensino, carteira assinada e
de Sinais e utilizam sinais caseiros com nem mesmo um piso salarial para as ne-
seus filhos, sendo relevante o ambien- gociações estabelecidas. Confirmando a
te escolar para estruturação e aquisição fala de Sales (2014): “Esta situação espe-
de uma língua que os insira no mundo e cífica pode comprometer, sobremaneira,
permita a construção de conhecimentos. a forma como estes TILS são vistos e a
Profissionais surdos são usuários da sua integração-participação no coletivo
Língua de Sinais como L1 e deveriam ser institucional” (p. 108). Enquanto a profis-
valorizados e respeitados nas instituições são não era regulamentada os acordos
de ensino como professores de Língua eram feitos informalmente, sem vínculo
de Sinais e legítimos pares e modelos empregatício ou comprovação de expe-
linguísticos dos alunos surdos. Esses pro- riência profissional.
fissionais são insubstituíveis na convi-
vência com crianças surdas que não são ATUAÇÃO E A FORMAÇÃO
usuárias de Libras, pois irão partilhar ex- DO TRADUTOR-INTÉRPRETE
periências, identidades e culturas no co- DE LIBRAS E LÍNGUA
tidiano escolar. Eles ensinam vocábulos PORTUGUESA
variados da língua, dividem conhecimen- Nas últimas décadas, cursos de Libras
to de mundo, produções surdas e hábi- ou de formação para intérpretes de
tos da comunidade surda que não foram Libras eram oferecidos em nível técnico
aprendidos e nem construídos por crian- por federações e associações de sur-
ças, jovens e adolescentes surdos que ti- dos. No entanto, apenas recentemente,
veram acesso tardio à escola. Diante da passou-se a ofertar formação e certifi-
reivindicação de militantes e lideranças cação na área de tradução e interpreta-
surdas representadas pela Federação ção por instituições de ensino superior e

60 R E V I S TA A R Q U E I R O
algumas instituições representativas da profissional dos TILSPs que atuam nas
comunidade surda. Lacerda (2010) mos- mais diversas áreas.
tra que, em 2005, surgiram os primeiros Nos últimos anos, os TILSPs conquista-
cursos de Ensino Superior para forma- ram espaço no serviço público por meio
ção de TILSP. de processos seletivos para prefeituras,
O Decreto no 5.626/05 aponta a re- institutos, universidades e escolas de en-
levância da formação dos tradutores- sino regular. “Tenhamos intérpretes-mili-
-intérpretes em nível superior como tantes e não apenas intérpretes-profetas
requisito para o exercício da profissão, que tomados pelo cotidiano e suas des-
entretanto a lei que regulamenta a atua- venturas criam o novo e resistem a mes-
ção dos TILSPs (Lei no 12.319/10) deter- midade e não apenas professam o que
mina a certificação em nível médio e a deve ser feito” (MARTINS, 2016, p. 159).
formação continuada por meio de cur- Ou seja, o perfil dos profissionais TILSPs
sos de educação profissional, cursos téc- ainda está em construção.
nicos, cursos de extensão universitária e Lacerda e Santos (2014) evidenciam
cursos de formação continuada promo- que as atividades dos intérpretes devem
vidos por instituições de Ensino Superior ocorrer em um ambiente plural, bilíngue,
e instituições credenciadas por secreta- e dependem muito do modo como o
rias de educação ou por organizações professor atua na sala de aula, se há ou
da sociedade civil representativas da não planejamento de aulas e se organiza
comunidade surda. O art. 18, da Lei no ou não sua aula com recursos visuais, se
10.098/00, já estabelecia a obrigação de “trabalha ativamente no processo de en-
o poder público cuidar da formação de sino-aprendizagem, não só interpretan-
intérpretes de Língua de Sinais. do conteúdos como também se envol-
Leis e documentos legais que orien- vendo nos modos de torná-los acessíveis
tam o desempenho das atividades la- ao aluno, conversando e trocando in-
borais dos TILSPs reafirmam implicita- formações com o professor” (LACERDA;
mente a necessidade de competência SANTOS, 2014, p. 207). Porém, sabemos
e proficiência. A Lei no 12.319/10 regu- que, de modo geral, esse modelo de
lamentou a profissão do tradutor-in- educação bilíngue ainda não é uma rea-
térprete de Libras em menos de uma lidade em grande parte das instituições
década, permitindo a partir desse reco- públicas de ensino que atendem alunos
nhecimento legal a amplitude de pos- surdos.
sibilidades de inserção profissional dos A maioria dos professores do ensino
TILSPs em processos seletivos, concur- básico que lecionam aos alunos surdos
sos públicos e em vínculos empregatí- não domina a Língua de Sinais. Esse fato
cios formais. Nesse sentido, torna-se descaracteriza a proposta de construção
necessário problematizar a identidade de uma educação bilíngue idealizada pela

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 61


comunidade surda, mas não inviabiliza a (2006), a educação bilíngue para surdos
atuação dos tradutores-intérpretes em é um projeto educacional no qual todos
sala de aula e em outros inúmeros espa- os profissionais que atendem alunos sur-
ços. Os TILSPs são indispensáveis no mo- dos devem interagir por meio da Língua
delo de educação inclusiva para suprir a de Sinais em todos os contextos e mo-
ausência de conhecimento de Língua de mentos da aprendizagem. A autora des-
Sinais dos professores regentes. “O tra- taca que são necessárias ações efetivas
dutor faz suas escolhas e estas escolhas para que a Língua de Sinais seja a prin-
são fortemente influenciadas por suas cipal língua do currículo; bem como afir-
experiências, ou seja, pelas suas marcas ma que as propostas de educação bilín-
histórico-culturais” (ALBRES, 2016, p. 29). gue atuais, desenvolvidas na educação
Tradutores e intérpretes das instituições inclusiva com profissionais que fazem
educacionais inclusivas e bilíngues de- tradução e interpretação, são distintas
vem ser sempre participantes ativos nas do contexto das escolas especiais, onde
discussões e decisões realizadas. professores regentes ministram aula em
Os profissionais que realizam a me- Língua de Sinais, e não há necessidade
diação linguística entre surdos e ouvin- da presença de tradutores-intérpretes.
tes também fazem parte da comunida-
de surda, de acordo com Strobel (2008). OS PERFIS DO INTÉRPRETE
Portanto, precisam ser reconhecidos e EDUCACIONAL E DO
respeitados na qualidade de profissio- PROFESSOR INTÉRPRETE
nais atuantes e usuários da Língua de Os TILSPs que atuam em instituições
Sinais. Há profissionais do campo da educacionais públicas de Ensino Básico
educação que consideram os TILSPs ins- e Ensino Superior deparam com uma
trumentos de tradução e interpretação. gama de propostas educacionais defen-
Diferentemente dessas posições, quando didas pelas instituições nas quais traba-
há parceria, eles podem construir coleti- lham. Vale esclarecer e ressaltar que, ao
vamente ações relevantes para a educa- longo dos anos, várias nomenclaturas
ção de surdos. Canen (2012) indica que foram utilizadas para se referir aos pro-
se deve buscar caminhos que traduzam fissionais que atuam na mediação lin-
estratégias viabilizadoras de lógicas de guística de alunos surdos.
negociação, de diálogo e de argumen- Os embasamentos teóricos apresen-
tação entre culturas, de modo a superar tados pelos autores estudados (ALBRES,
extremismos. 2015; LACERDA; SANTOS, 2014; LODI;
Os intérpretes educacionais partilham LACERDA, 2009; KELMAN (2008); ROSA,
do empenho da comunidade surda (da 2006, entre outros) marcam essas mu-
qual também fazem parte) em prol da danças políticas na forma de nomear
educação bilíngue. Segundo Fernandes o profissional. Albres (2015) identificou

62 R E V I S TA A R Q U E I R O
cerca de 16 denominações para o car- superior para formação de TILS. Com a
publicação do Decreto 5.626, ficam de-
go mencionado. A autora esclarece que
terminados oficialmente níveis de for-
a atuação de profissionais TILSPs no mação e atribuições. (p. 133)
campo da educação é recente. No en-
tanto, precisam se adequar ao modelo A autora ressalta a importância e a
de ensino adotado pela instituição na obrigatoriedade legal da presença des-
qual estiverem inseridos. Conforme Lodi se profissional em sala de aula com alu-
e Lacerda (2009) afirmam, a “Educação nos surdos incluídos, esclarecendo que, a
Inclusiva Bilíngue” parte da perspectiva partir do Decreto no 5.626/05, houve uma
bilíngue de organizar a escola com base urgência de formação dos TILSPs para
no princípio da circulação efetiva da que estivessem capacitados de acordo
Libras em todo o espaço escolar. com as necessidades e as demandas do
Dentre as várias funções e atribui- espaço em que iriam atuar. Assim, é rele-
ções exercidas pelos tradutores e in- vante analisar a formação mínima neces-
térpretes em sua prática profissional, sária para o cargo em processos seletivos
é necessário conhecer suas demandas nos municípios do Rio de Janeiro e, com
dentro do campo educacional. Deve- isso, verificar em que área é preciso ter
se considerar a relevância da presença formação e quais são os requisitos para a
e da atuação do profissional, ou ainda, atuação, visto que a regulamentação da
a atuação do intérprete com formação profissão é bem recente. Deve-se criar
em docência na interpretação dos con- também outras possibilidades de cursos
teúdos apresentados em sala de aula. de formação técnica em que se trabalhe
Esses profissionais são fundamentais não só a teoria, mas também a prática,
no processo educacional. De acordo habilitando-os para atuar em tradução e
com Lacerda (2010): interpretação.
Belém (2010) salienta que a nomen-
Entre os profissionais que atuam na efe-
tivação de práticas de educação inclu-
clatura “intérprete educacional” também
siva, encontra-se o tradutor-intérprete é muito utilizada para apresentar o papel
de língua de sinais (Libras/Português) diferenciado de um tradutor-intérprete
(TILS). Profissional previsto no Decreto
com formação em docência, atuando de
5.626, é responsável pela acessibilida-
de linguística dos alunos surdos que maneira diferenciada e ativa no processo
frequentam parte da Educação Bási- de ensino-aprendizagem experenciado
ca e Ensino Superior, interpretando do
pelos alunos surdos. Sobre as questões
Português para a Língua Brasileira de
Sinais (Libras) e vice-versa. A demanda que envolvem a atuação dos professo-
por este profissional é crescente, já que res-intérpretes, cabe destacar que:
é crescente também o número de sur-
dos matriculados em busca de conhe- No ensino fundamental da rede pública,
cimento mediado pela Libras. Em 2005, a função de intérprete educacional se
surgem os primeiros cursos em nível confunde com a do próprio professor.

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 63


Normalmente o professor do aluno sur- inclusiva bilíngue para alunos surdos.
do é ouvinte, com alguma proficiência
Mostra o quanto é necessário que os
em língua de sinais. É com esse profis-
sional que os alunos surdos vão adquirir profissionais recebam suporte e treina-
a língua de sinais quando chegam na mento dos sistemas de ensino, além das
escola, uma vez que frequentemente
qualificações que muitos já trazem para
são filhos de pais ouvintes. O educador
surdo é a pessoa mais indicada a intro- a interpretação educacional. Sales (2014)
duzir uma criança surda no universo contribui nessa discussão:
linguístico da língua de sinais e na Cul-
tura Surda. Todavia, sua presença ainda Outro ponto: não se trata apenas de
é rara nos sistemas públicos de ensino. nomenclatura de e para vínculo, este
(KELMAN, 2008, p.72) ponto tem desdobramentos, que po-
dem incidir nas expectativas de atuação
A autora pontua que tem sido no- e representações sociais atreladas. Pois
entendemos que, mesmo ficando ajus-
meada de bidocência a parceria entre o
tadas as funções, socialmente quando
professor regente e o intérprete ou in- um TILS é apresentado às instituições
terlocutor. Prefere o termo codocência, como PROFESSOR-INTÉRPRETE, a no-
menclatura pode gerar expectativas
trazendo uma diferença substancial do
adicionais às suas funções. O que acar-
conceito. Bidocência seriam dois profis- reta, no mínimo, uma preocupação ou
sionais atuando no mesmo espaço físico, tarefa a mais para eles – esclarecer que
por outro lado, codocência significa um não são responsáveis pelo ensino ou
que suas funções são diferentes das dos
trabalho compartilhado e com planeja- professores regentes (p.112).
mento integrado, de forma dinâmica e
interativa (KELMAN, 2008). Essa perspec- Temos de refletir se a questão central
tiva afeta a qualidade de ensino dos alu- é a necessidade de o professor trabalhar
nos surdos. com o intérprete educacional ou com
Há profissionais em escolas que veem um professor-intérprete. O intérprete
os professores-intérpretes como inva- educacional precisa estar munido de
sores ou como ameaça, porque se sen- estratégias que extrapolam a compe-
tem desconfortáveis com a presença de tência tradutória. Martins (2013) explica
outro profissional/professor em sala de “a necessidade de não interferência do
aula. Albres (2015) informa que a própria intérprete no processo de ensino”, afir-
legislação que discute a educação de ma ainda que ele deve “ter uma suposta
surdos e o papel dos tradutores e intér- neutralidade que a comunidade surda
pretes, como por exemplo, o Decreto no cobra ao ILSE (Intérprete de Língua de
5.626/05 que retrata “alguns princípios de Sinais Educacional)” (p. 20). A experiên-
educação inclusiva bilíngue” apresenta cia de atuação no campo educacional
“determinações, [...] contradições e forças possibilitará que ele atue de acordo
antagônicas” (p. 12) quanto à construção com as especificidades dos alunos sem
do intérprete educacional e da educação ultrapassar as fronteiras de seu papel.

64 R E V I S TA A R Q U E I R O
Ele não se encarregará de ocupar o lu- o ensino. O professor-intérprete, além
gar ou substituir o trabalho do profes- de realizar essas intervenções, também
sor regente. Mesmo a fronteira sendo é um professor da instituição, apesar
tênue, isso não impede o estabeleci- de não ser o professor regente. Poderá
mento de um trabalho em parceria. Por atuar em parceria mais estreita com os
outro lado, o professor-intérprete não professores das disciplinas e tem um
precisaria ficar restrito a uma neutra- respaldo maior para esclarecer conteú-
lidade em relação ao ensino dos con- dos ligados principalmente a questões
teúdos. Sua formação e parceria com o da educação de surdos e da área de sua
professor poderia permitir acordar cole- formação e atuação.
tivamente as negociações cabíveis para As discussões teóricas de autores da
que realize a tradução das aulas minis- área de tradução e interpretação con-
tradas pelo professor regente e tenha tribuem para a construção de uma re-
autonomia de ensinar e contextualizar flexão aprofundada sobre o campo de
os conteúdos necessários. atuação dos profissionais que realizam
Alguns questionamentos a respeito a mediação linguística da Libras para a
dos tradutores e intérpretes de Libras Língua Portuguesa e desta para a Língua
podem contribuir para as reflexões teó- de Sinais.
ricas apresentadas até o momento: Qual
o tipo de formação acadêmica e profis- 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
sional que o intérprete deve ter para Os apontamentos e as considera-
atuar na área educacional? Qual o tem- ções discutidas neste artigo evidenciam
po mínimo de experiência profissional a atual conjuntura da atuação de tradu-
que possibilitará uma melhor atuação tores-intérpretes, intérpretes educacio-
no campo da educação de surdos? Quais nais e professores-intérpretes de Libras/
as reais atribuições exigidas e desempe- Língua Portuguesa, demonstrando o
nhadas pelo profissional com a dupla momento crucial e desafiador de cria-
formação de professor e intérprete? ção de documentos e regimentos inter-
Há fronteiras que delimitam as atri- nos que delimitem a função, o cargo e as
buições do intérprete educacional e do atribuições compatíveis com o município
professor-intérprete. Ambos os profis- e a instituição de ensino em que atuam.
sionais precisam estar comprometidos O interesse nessa investigação decorre
em participar ativamente do contexto do recente surgimento de algumas esco-
educacional e pedagógico, porém com las polos em surdez no estado do Rio de
algumas distinções. O intérprete educa- Janeiro, como também em alguns outros
cional realiza intervenções e mediações estados brasileiros.
tradutórias e pedagógicas, mas não é Ao analisar especificamente a no-
um docente, e sua função não perpassa menclatura de professor-intérprete,

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 65


nota-se que o termo não é muito recor- clara de políticas públicas que indiquem
rente e existem poucas pesquisas que de atribuições distintas ou uma única fun-
fato evidenciam uma distinção entre os ção na qual as duas tarefas se fundam. É
cargos de tradutor-intérprete e profes- preciso também refletir sobre a relevân-
sor-intérprete. Os profissionais que rea- cia de construir estratégias específicas de
lizam a mediação linguística entre pro- organização do trabalho dos TILSPs.
fessores regentes e alunos surdos em Pretende-se futuramente desdobrar
instituições de ensino são Tradutores- este trabalho em uma investigação de
Intérpretes de Língua de Sinais e Língua campo sobre a realidade de alguns mu-
Portuguesa (TILSPs), que podem ser de- nicípios do estado o Rio de Janeiro, em
nominados como intérpretes educacio- forma de registros de vivências e expe-
nais ou professores-intérpretes, devido riências de outras localidades do país.
a sua formação docente e às especifi- Almeja-se ir além da perspectiva de dis-
cidades das tarefas desempenhadas em cussão teórica para conhecer a realidade
escolas e universidades. vivenciada pelos profissionais que atuam
Torna-se urgente a promoção de cur- em prol da educação de surdos. E pla-
sos de formação continuada para tradu- neja-se ter acesso ao ponto de vista dos
tores e intérpretes a fim de atender com próprios alunos surdos inseridos no pro-
a qualificação profissional devida a enor- cesso educacional, pois são os mais inte-
me demanda de formação e capacitação ressados, embora esse não tenha sido o
desses profissionais. Também se aponta propósito desta pesquisa.
para a necessidade de formulação mais

66 R E V I S TA A R Q U E I R O
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mobilidade reduzida, e dá outras espaços educacionais inclusivos.
providências. Diário Oficial [da] Cadernos de Educação (UFPel), v. 36,
República Federativa do Brasil , p. 133-153, 2010.
Brasília, DF, 2000. Disponível LACERDA, C. B. F; SANTOS, L. F. Tenho
em: <http://www.planalto.gov.br/ um aluno surdo, e agora? Introdução
ccivil_03/leis/l10098.htm>. Acesso à Libras e educação de surdos. São
em: 5 maio 2019. Carlos: EdUFSCar, 2014.
BRASIL. Lei n o 12.319, de 1o de LODI, A. C. B.; LACERDA, C. B. F.
setembro de 2010. Regulamenta a A inclusão escolar bilíngue de

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 67


alunos surdos no ensino infantil Universidade Estadual de Campinas,
e fundamental: princípios, breve Campinas, 2013.
histórico e perspectivas. In: LODI, A. ROSA, A. S. Tradutor ou professor?
C. B.; LACERDA, C. B. F. (Org.). Uma Reflexão preliminar sobre o papel
escola duas línguas: letramento em do intérprete de língua de sinais na
língua portuguesa e língua de sinais inclusão do aluno surdo. Ponto de
nas etapas iniciais de escolarização. Vista , Florianópolis, n. 8, p. 55-74,
Porto Alegre: Mediação, 2009. p. 7-32. 2006.
MARTINS, V. O. O tradutor e SALES, A. C. M. Diálogos com
intérprete de língua de sinais tradutores-intérpretes de língua
educacional: desafios da formação. de sinais que atuam no ensino
Belas Infiéis , v. 5, n. 1, p. 147-163, 2016. fundamental. Tese (Doutorado em
MARTINS, V. O. Posição-mestre: Educação) – Universidade Federal de
desdobramentos foucaultianos sobre São Carlos, São Carlos, 2014.
a relação de ensino do intérprete STROBEL, K. As imagens do outro
de língua de sinais educacional. sobre a cultura surda . Florianópolis:
Tese (Doutorado em Educação) – Editora da UFSC, 2008.

68 R E V I S TA A R Q U E I R O
CONTRIBUIÇÃO
DA TEORIA DAS
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS PARA O
ESTUDO DA IDENTIDADE
PROFISSIONAL
DOS TRADUTORES/
INTÉRPRETES DE LIBRAS

VANESSA MANDRIOLA

70 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
Em consonância com a abordagem
estrutural da Teoria das Representações
Sociais (TRS), este artigo prevê a conso-

RESUMO lidação de uma escrita a fim de explicitar


de que maneira o profissional Tradutor-
Boa parte da discussão que acontece Intérprete de Língua de Sinais e Língua
hoje no Brasil, mais especificamente no
Portuguesa (TILSP) é reconhecido ante
estado do Rio de Janeiro, sobre a atua-
ção do intérprete de Libras tem como o fenômeno da inclusão de pessoas sur-
cerne questões relativas à inclusão e à das. Será realizada uma breve discussão
qualidade da interpretação; se atende sobre as informações dispostas a respei-
ou não as demandas da política inclusi-
va no Brasil. Tendo isso em vista, a pro-
to da formação desses agentes a partir
posta deste artigo é fomentar reflexões de materiais bibliográficos, conciliando
a respeito das funções desses agentes, as ideias teóricas com o que se espera
na perspectiva da Teoria das Represen-
da prática. O objetivo é conhecer a re-
tações Sociais (TRS), a fim de incitar es-
tudos que possam evidenciar a formação presentação social dos TILSPs sobre sua
de novas representações sociais, tendo profissão, as práticas sociais e os aspec-
como eixo as práticas da profissão do tos identitários.
tradutor-intérprete. Nessa perspecti-
va, em que medida se observa a contri-
Seguindo as orientações metodoló-
buição da prática para a ressignificação gicas de Gil (2010), a abordagem teórica
do profissional Tradutor-Intérprete de utilizada foi bibliográfica e documental,
Língua de Sinais e Língua Portuguesa
de natureza exploratória/qualitativa,
(TILSP)? O presente artigo versará sob a
contribuição da TRS no conhecimento da considerando como ponto de partida
estrutura profissional do TILSP, seus de- o levantamento bibliográfico realizado
safios e suas perspectivas no campo de em bibliotecas virtuais, revistas digitais
atuação, bem como suas práticas, a fim
de compreender se há uma identidade
e bancos de dissertações equânimes.
consolidada a essa formação. E se houver, Verificou-se quantos estudos foram
como se constitui? Quais as perspectivas realizados sobre a temática proposta,
dessa profissão a partir do olhar desse
uma vez que os artigos já encontrados
profissional? Quais são seus desafios?
não fazem relação sobre a identidade
Palavras-chave: Tradutor-intérprete de do intérprete de Libras e suas represen-
Libras. Teoria das Representações So- tações sociais.
ciais. Práticas identitárias.

VANESSA MANDRIOLA
Mestranda em Educação, Instituto Nacional de Educação de Surdos,
INES; tradutora Intérprete de Libras. E-mail: vanessamandriola@
gmail.com

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 71


A base teórico-metodológica funda- senso comum, que se constituem como
menta-se na Teoria das Representações saberes populares compartilhados pelos
Sociais (TRS). A utilização da TRS funda- grupos sociais, orientando seus compor-
menta-se pelo fato desta teoria identifi- tamentos e suas práticas diante de um fe-
car no discurso dos indivíduos pesquisa- nômeno ou um objeto que lhes interessa.
dos como eles justificam suas práticas. Os estudos da TRS têm sido utilizados
A formação de identidades profissionais em pesquisas que analisam o movimento
está amparada no trabalho de Braga e dos grupos diante um fenômeno social,
Campos (2016), que abordam a imagem e podem ser evidenciados através de di-
social e a construção da identidade pro- ferentes abordagens. Conforme Campos
fissional como um processo específico (2003), um dos principais temas levanta-
de socialização que assegura ao indiví- dos no campo das representações sociais
duo a possibilidade de construção de diz respeito às práticas sociais desenvol-
novas identidades profissionais. vidas por determinado grupo. Embora
Com esse arcabouço teórico, propõe- esse tema não seja novo, ainda é um de-
-se verificar quais práticas caracterizam safio na assimilação de dados de natureza
profissionais TILSP, buscando identificar cognitiva e comportamental. O primeiro
a emergência e a consolidação de novas trabalho pautado pelo estudo das práti-
ações no campo do trabalho. Apresenta- cas comunicativas de Moscovici teve suas
se as novas práticas na construção da proposições teóricas aplicadas às relações
identidade desses agentes, com base entre as práticas sociais e a representação,
na TRS, identificadas no material teóri- o que nos permite pensar que a “ação”
co levantado para o entendimento das comporta o vivido e o cognitivo.
realizações dos profissionais envolvidos, A TRS, segundo Sá (2015), analisa fe-
além de apresentar as novas como obje- nômenos com uma natureza dupla —
to de construção da identidade profissio- psicológica e social —, e permite relações
nal, intentamos auxiliar na compreensão entre a psicologia do desenvolvimento e
de seu papel social, partindo das ações a psicologia social. Nesse aspecto, consi-
que envolvem suas práticas coletivas e dera a sociedade como um sistema ati-
de que forma a representação desses vo e pensante, superando o conceito da
sujeitos influencia a sociedade, a comu- sociologia, em que os grupos estão sob
nidade surda e o ambiente em que eles o controle de uma ideologia dominante.
frequentam. Moscovici (1961-2012) propõe que a TRS
Assim, este estudo contará com as é o conjunto de crenças, valores, ideias e
abordagens da TRS propostas por Serge imagens; o modo pelo qual um conheci-
Moscovici (1961-2012). O campo de es- mento científico é transformado em sen-
tudos dessa teoria privilegia pesquisas so comum na tentativa de interpretação
formadas com base no conhecimento do da realidade. Envolve ações coletivas que

72 R E V I S TA A R Q U E I R O
surgem a partir da necessidade de con- mais especificamente em TRS, pois per-
frontar, compreender ou administrar a cebe-se a existência de uma carência na
vida em sociedade. literatura sobre o assunto ao que se re-
Segundo Santos (2006), há uma fra- fere à prática profissional do intérprete
gilização na formação da identidade de Libras, pois não encontramos nenhum
profissional dos TILSPs. Essa fragilidade artigo que mencionasse a TRS e as prá-
aguçou o olhar desta autora para a refle- ticas de trabalho dos TILSP nas plata-
xão sobre a construção dessa profissão. formas pesquisadas. Como mencionado
Como ela ocorre? E qual a representação anteriormente, faz parte da pretensão
social desse profissional em seu espaço deste artigo contribuir para o desen-
coletivo com seus pares? O que se es- volvimento profissional e os estudos da
pera é que este trabalho contribua para identidade. A escolha da TRS justifica-se
a produção de conhecimentos em uma pela relevância teórica acerca das refle-
área pouco explorada e, destarte, esta- xões relacionadas aos fenômenos sociais
beleça desafios a serem alcançados no constituídas pelos grupos e pelos estu-
conhecimento da identidade dos TILSPs. dos fortemente consolidados no que se
A temática sobre a formação e a pro- refere à identificação a partir da prática.
fissionalização do TILSP vem sendo dis- Diante disso, foi realizada uma revi-
cutida paulatinamente na área de políti- são de literatura em artigos, disserta-
cas de inclusão, conforme Santos (2006) ções e teses que tratavam da temática.
e Costa (2017). Quando se aborda as Observou-se, através dos títulos e dos
questões referentes ao campo da surdez resumos, quais temas aproximavam-se
ou das pessoas surdas de forma cultural mais do objeto deste texto. Buscou-se
é possível perceber que muitos modelos nas bases de dados de publicações aca-
de educação são vislumbrados dentro dêmicas eletrônicas, utilizando os ter-
de perspectivas de políticas públicas di- mos: representações sociais e surdez;
versas, e nas pesquisas da área de lin- representações sociais de profissão;
guística. No entanto, não há pesquisas representações sociais e identidade.
alicerçadas ao tema da identidade pro- Foram encontrados entre os materiais
fissional dos TILSPs ancoradas na con- disponíveis um grande número de pu-
tribuição da TRS; então, nesse ínterim, blicações, contudo há poucos artigos
a autora deste artigo pretende convidar nas bases que apresentam o tema re-
outros pensadores para refletir sobre a presentações sociais e profissão. Não
importância da psicologia social referen- foram encontrados artigos que discor-
te à formação de novas identidades, se- ressem sobre a profissão dos TILSPs.
jam sociais ou culturais. Alguns mais específicos e próximos do
Acredita-se que esse tema possa ser objetivo deste artigo tratam em seus
explorado no campo da psicologia social, títulos e resumos sobre surdos, surdez

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 73


e intérprete de Libras como agente cognitiva, afetiva, simbólica e imaginária
mediador ou professor de Libras. (JODELET; MADEIRA, 1998, p. 7).
Ante o exposto, foi possível realizar Quadros (2004), Perlin (1998, 2006) e
uma revisão de literaturas e identificar Vieira (2007) elucidam aspectos impor-
artigos sobre interpretação gramatical; tantes sobre a formação dos tradutores
letramento infantil em Língua de Sinais; e intérpretes no Brasil e a constituição
educação literária do sujeito surdo; indenitária dessa categoria. O papel do
Língua de Sinais; Libras em suas estru- TILSP vem ganhando notoriedade des-
turas gramaticais e lexicais; e represen- de o Decreto no 5.626/05, e a demanda
tações sociais da Libras. Por outro lado, pelos seus serviços é crescente nos es-
não há textos sobre prática profissional paços públicos e de ensino formal, prin-
do TILSP e suas representações sociais. cipalmente com o reconhecimento legal
Pesquisas que podem contribuir e que da profissão por meio da Lei no 12.319/10
se aproximam do objeto deste texto fo- (LACERDA, 2010; ALMEIDA, 2010).
ram encontradas nos artigos de Perlin Segundo Santos (2006), há quem
(2006), Santos (2006) e Teske (2003), es- diga que para ser intérprete basta saber
critos em diferentes localidades do terri- Libras. Porém, não é assim, ou não deve-
tório brasileiro. ria ser. O intérprete de Língua de Sinais
Percebeu-se que os trabalhos funda- é aquele que domina a Língua de Sinais
mentados no campo de estudos da TRS e a língua de seu país, mas precisa ser
não se esgotam, há muitos trabalhos pu- qualificado para desempenhar a função
blicados. Constatou-se, pelas propostas adequadamente, conhecendo inclusive
de alguns títulos, que há necessidade em questões referentes à cultura e à comu-
desvelar questões associadas ao profissio- nidade surda. No Brasil, o tradutor-intér-
nal intérprete. Entretanto, foram identifi- prete é o profissional que faz a mediação
cados alguns artigos que versavam sobre na relação entre os usuários de Língua de
a formação do intérprete e a necessidade Sinais e o falante da Língua Portuguesa
de discutir sua identidade e seu papel de (QUADROS, 2004).
atuação. Quanto mais se estreitam os la- Classificar o cenário como inclusivo
ços do estudo das representações sociais tem como fundamento períodos históri-
e das práticas profissionais, maiores serão cos, políticos e educacionais dos surdos,
os ganhos para a educação. É de extre- contando com autores e pesquisadores
ma relevância que um número cada vez da área como Rocha (2008), Lacerda
maior de pesquisadores reflitam em suas (2009), Santos (2006) e Quadros (2004),
produções sobre a busca de modelos e que servem de referencial teórico; e al-
métodos que permitam compreender guns documentos de eventos que evi-
a conduta humana em sua complexida- denciam a importância da inclusão so-
de, apreendendo-a em suas dimensões cial de pessoas com deficiência, como o

74 R E V I S TA A R Q U E I R O
Congresso de Milão, a Declaração dos das comunidades surdas brasileiras; o
Direitos Humanos, as leis e os decretos, Decreto no 5.626/05, que regulamenta a
além de diretrizes que regulamentam a lei supracitada, determinando a forma-
promoção e a acessibilidade das pes- ção profissional de intérpretes de Libras
soas surdas. em favor do atendimento de pessoas
surdas e propiciando a inclusão social
BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DA dos surdos em espaços públicos; e a
EDUCAÇÃO DE SURDOS NO Lei no 13.146/15, que institui a inclusão
BRASIL E A LÍNGUA DE SINAIS de pessoas com deficiência, garantindo
Esse resgate político da história da condições de igualdade, visando à inclu-
educação de surdos no Brasil traz marcos são social e à cidadania.
de alguns momentos em que os surdos Destaca-se também o artigo 1o
viviam à margem da sociedade, sem seus da Declaração Universal dos Direitos
direitos garantidos por não se comunica- Humanos, de 1948, que uniu os povos
rem oralmente (MOURA, 2000). do mundo todo, reconhecendo que
Atualmente a Libras tem outra estru- “todos os seres humanos nascem li-
tura e, como toda língua, também so- vres e iguais em dignidade e em direi-
freu alterações com o tempo. Contudo, tos. Dotados de razão e de consciência,
tornou-se uma língua oficial brasileira devem agir uns para com os outros em
e vem ganhado espaço na sociedade espírito de fraternidade” (BRASIL, 2009).
por conta dos movimentos surdos que A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
lutam por seus direitos. Essa luta vem Nacional (LDBEN) (BRASIL, 1996) reforça
resistindo por anos e caracterizando o o direito ao Atendimento Educacional
grupo de surdos como cultural e de lín- Especializado (AEE), especialmente, no
gua própria, o qual sofre a opressão da que se refere ao seu artigo 58, o qual
sociedade majoritária: falantes da língua discorre que “essa modalidade de edu-
portuguesa que impõem um padrão de cação escolar deve ser oferecida, prefe-
cidadania a partir de seu código linguís- rencialmente, na rede regular de ensino
tico, sem levar em conta as especifici- para os alunos portadores de necessi-
dades que estão além da língua, mas dades especiais”. Deve-se ressaltar que
imbricadas em sua relação com o meio promover a inclusão não apenas significa
(LANE, 1992). permitir que o aluno especial adentre em
Algumas leis são fundamentais para uma escola regular, mas, principalmente,
contextualizar politicamente o reconhe- garantir que lhe sejam dadas condições
cimento linguístico em âmbito nacio- de aprendizagem, desenvolvimento so-
nal implementadas no século XXI: a Lei cial, cognitivo e afetivo, por ele ser sujei-
no 10.436/02, que reconhece a Libras to de direitos e cidadão (CURY, 1999). As
como meio de comunicação e expressão escolas brasileiras precisam se adequar

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 75


para atender a todas as crianças, jovens processo específico de socialização co-
e adultos incluídos. letiva. Para Dubar, 2005, todo trabalha-
O Brasil vem trabalhando em prol dor deseja ser reconhecido e protegido
da inclusão desde que foram sendo fir- por um estatuto. Assim, toda “ocupação”
mados vários acordos internacionais e tende a se organizar e lutar para se tor-
a legislação foi apropriando-se das no- nar uma profissão. Santos (2006), que re-
vas diretrizes e assegurando a educação ferendou a formação da identidade dos
como um direito de todos. No entanto, TILSPs em sua dissertação, confirma isso
para que essa participação seja efetiva por meio de dados coletados em entre-
é preciso difundir a língua, a cultura e vistas e subsídios teóricos de estudos
a concepção de mundo dos surdos. No surdos e estudos culturais, tornando evi-
advento da inclusão social dos surdos dente a necessidade de discussões con-
como um fenômeno que demanda a ne- tínuas acerca da formação do intérprete.
cessidade de um intermediador, surgem Nesse sentido, configura-se como
os tradutores-intérpretes de Libras. Na objetivo deste trabalho, compreender e
próxima seção, a relação entre intérprete analisar se existem novas práticas ou não
e surdo será descrita por meio de diver- para as funções do intérprete de Libras,
sas citações, uma relação que pode es- se há uma representação social do gru-
tabelecer inclusão pensando no avanço po desses profissionais, bem como a
social e nas contribuições da TRS para tal consolidação da identidade profissional.
entendimento. Porém, precisa ser discutida a sua forma-
ção, precisa verificar quais os caminhos
propiciam a formação como intérprete,
INTÉRPRETE DE LIBRAS, QUE e também ressaltar que, para ser um in-
SUJEITO É ESSE? QUAL É O térprete de Libras atualmente no Brasil,
SEU PAPEL? mais especificamente nos espaços for-
O cenário atual da profissão do TILSP mais de atuação do Rio de Janeiro (es-
no Brasil ganhou protagonismo na déca- colas, centros culturais, teatros, eventos)
da de 1990, na alçada das políticas edu- que necessitem de acessibilidade à co-
cacionais, por excelência, que garanti- municação de pessoas surdas, precisa de
ram acessibilidade linguística aos surdos algo mais do que saber comunicar-se em
em seu processo de educação inclusiva. Libras informalmente ou com cunho reli-
Ganhou também visibilidade na esfera gioso (LACERDA, 2010).
legislativa com a Lei n 12.319/10, que re-
o
Mediante os projetos de inclusão de
gulamenta a profissão do TILSP. pessoas surdas que precisam ser aten-
A construção da identidade profissio- didos, e com o desvelar dessas pessoas
nal, conforme Braga e Campos (2016), na sociedade, surgiu a necessidade de
está ligada à imagem social, como um incluir um intermediador, ou seja, um

76 R E V I S TA A R Q U E I R O
intérprete (BRASIL, 2004). Todavia, assim a compreensão do que foi dito e em
como dizer na língua alvo; saber per-
como acontece em algumas profissões,
ceber os sentidos (múltiplos) expressos
as atividades de profissionais intérpre- nos discursos. (LACERDA, 2010)
tes de Libras precisam ser reconhecidas
por seus autores, pela sociedade e pelos Nos anos 2000, após o reconhecimen-
seus pares para garantir sua legitimida- to legal da Língua de Sinais, à medida
de laborativa. Portanto, para que esse que os surdos foram conquistando sua
processo de legitimidade profissional se cidadania e participando de discussões
estruture, e sua identidade profissional da pauta social, possibilidades para o
seja validada socialmente e então cienti- processo de reconhecimento da Língua
1
CODA é uma sigla da lín-
ficamente, é preciso desmistificar o sen- de Sinais foram se abrindo novos cam- gua inglesa para Children
of Deaf Adults, ou filhos
de pais surdos/filhos de
so comum de que qualquer um que sai- pos de discussão. Consequentemente, surdos, utilizada interna-
cionalmente (QUADROS,
ba Libras é intérprete; do mesmo modo, instituições foram obrigadas a garantir 2007).

nem todos que falam outros idiomas po- acessibilidade através de um intérprete
dem ser tradutores ou intérpretes sem de Libras. No Brasil, o Programa Nacional
uma formação específica. para a Certificação de Proficiência no Uso
Conforme Quadros (2004), a identida- e Ensino da Libras (Prolibras) foi instituí-
de dos TILSPs existe, mas não está bem do em 2006 pelo Ministério da Educação
definida. Seu reconhecimento e sua pro- a partir do Decreto no 5.626/05, ainda
fissionalização têm origem religiosa, ini- vigente. Pessoas surdas e ouvintes que
ciando na década de 1980, em eventos já tinham concluído o Ensino Médio
culturais, envolvendo relações de famí- poderiam se submeter ao exame. Não
lia e caridade e oriundos de processos havia, como ainda não há, exigência de
informais, mas contribuem e agregam Ensino Superior.
com suas “novas” práticas em algumas A partir dessa certificação o intérprete
situações voluntárias e de convivência ficaria habilitado para atuar na tradução
com surdos. Trata-se de uma profissão, e na interpretação da Libras ou, depen-
como a Enfermagem, que começou in- dendo do exame, no uso cotidiano e
formalmente, ou seja, sem base científi- no ensino, mesmo sem curso superior.
ca. Lacerda (2010) apresenta a seguinte Antes do Prolibras, a figura do TILSP
reflexão nesse sentido: sempre esteve presente na comunidade
surda, representada por filhos de surdos
O trabalho de interpretação não pode (CODAs)1 ou por pessoas que tinham
ser visto, apenas, como um trabalho lin-
guístico. É necessário que se considere a algum conhecimento na língua e que
esfera cultural e social na qual o discur- pudessem exercer o papel de mediador
so está sendo enunciado, dos diferentes na comunicação entre pessoas surdas e
usos da linguagem nas diferentes es-
feras de atividade humana. Mobilizado
ouvintes, caracterizando os intérpretes
pela cadeia enunciativa, contribui para como um grupo que transita pela cultura

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 77


surda e ouvinte. E dependendo de sua existência de uma identidade específica
habilidade linguística, ou da capacidade profissional ou não.
profissional, suaidentidade pode ser hí- Nesse aspecto, Santos (2006) publi-
brida, mas ainda assim sua formação é cou um estudo referente à construção
recente e escassa (QUADROS, 2017). das identidades dos intérpretes de Libras
Nesse contexto, Santos (2006) sugere e apontou alguns desafios para sua con-
que a profissão do intérprete surgiu da solidação. Em seu estudo, a pesquisado-
informalidade, pois no Brasil não há cur- ra relaciona a constituição da identida-
sos superiores de formação de intérpre- de com a formação profissional desses
te de Libras; a maioria não tem formação sujeitos. Portanto, neste artigo, a inten-
acadêmica de tradução ou interpretação ção é agregar aos estudos sobre o tema
de Libras. Conforme a autora, a falta de que denominamos de Representações
reconhecimento do trabalho desses pro- Sociais de Tradutores e Intérpretes de
fissionais tem sido uma problemática no Libras Sobre sua Profissão: Identidade e
que tange à estabilização de sua identi- práticas profissionais intentando estudar
dade e quanto a sua profissionalização. os processos estruturais desta formação
Isso abre campo para novas discussões e quais as perspectivas deste profissio-
no que se refere à identidade desses nal segundo a Teoria das Representações
profissionais, identificando a alterida- Sociais, pretendendo defender, não ape-
de da pessoa surda, que também pode nas sua identidade profissional, mas sim,
ser confirmada em Perlin (2006), Santos a força de sua representação, na neces-
(2006) e Rodríguez (2001). sidade do atendimento, na falta de pro-
No contexto das discussões que en- fissionais capacitados, no uso da língua e
volvem tal temática, foram aprovadas leis na expertise.
recentes que regulamentam a profissão:
Decreto no 5.626/05, que cria a profissão; CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA
e as Leis no 13.146/15 e 12.319/10, ambas DAS REPRESENTAÇÕES
orientam a regulamentação das práti- SOCIAIS À SOCIALIZAÇÃO
cas do intérprete de Libras. Entretanto, DAS PRÁTICAS DO TILSP
as práticas que permeiam a profissão A proposta deste artigo é refletir sobre
do intérprete se encontram, de alguma essas questões à luz da TRS, que se justi-
forma, calcadas em instrumentos legais fica pela sua relevância no âmbito da psi-
pelo peso da “obrigatoriedade”; por isso, cologia social, com os objetivos de con-
aquelas que vêm sendo construídas ain- tribuir para o entendimento da formação
da deixam dúvidas quanto a sua origem, dos TILSPs, minimizar conflitos, conhecer
incitando a investigação que permeia a suas ações e observar os movimentos das
existência de um conjunto de ativida- sociedades. A obra seminal de Moscovici
des da profissão, além de questionar a (1961-2012), que contém a matriz da TRS,

78 R E V I S TA A R Q U E I R O
La Psychanalyse, son image, son public, e tornando-se uma das principais teo-
foi publicada em 1961, na França, dando rias da psicologia social, como em Sousa
início a investigações em psicologia so- (2002), Oliveira (2000) e Campos (2003).
cial. Moscovici (1961-2012), indica que in- Sua estrutura conceitual e flexível possi-
divíduos e grupos constroem a partir de bilita o entendimento dos grupos sociais,
ações coletivas, imbuídas de “processos sua criação, sua transformação, sua mo-
psicossociais”, representações mentais vimentação e como se comunicam com a
e psicológicas, “influenciadas” por prá- realidade. (GUIMELLI 2003 p.136) chama
ticas, palavras ou imagens. Essas ações de “esquema cognitivo” as práticas co-
ocorrem por intermédio da identificação muns entre um grupo que determinam
de um objeto comum aos sujeitos, após as mudanças que ocorrem por intermé-
a adesão e a incorporação dos conhe- dio da opinião de outro grupo.
cimentos sociais mediados pelo grupo. A TRS estuda as representações que
Mediante essa ação, os sujeitos cons- dão sentido a certos fatos, fenômenos
troem uma ideia simbólica, formando ou ações executadas individual ou social-
uma representação social. mente, geradas em um sistema de comu-
Moscovici discorre em sua obra so- nicação de um grupo sobre determinado
bre a onde descreve a passagem do fato, sujeito ou objeto. Nessa teoria, as
conhecimento científico para o senso práticas vivenciadas no contexto social
comum. Ou seja, a representação so- permitem a análise, a avaliação e a justi-
cial que o sujeito tem a partir das rela- ficativa de certas ações na relação entre
ções e/ou de algumas práticas “comuns” o sujeito e o objeto dentro de um grupo.
que podem estar relacionadas com Campos (2005) elucida que são as
algum fato comprovado cientificamente, instituições que marcam o espaço de
consolidando a relação sujeito-objeto. emergência e de poder dos discursos,
As características dessa relação podem ou seja, o autor apresenta alguns su-
influenciar a transformação do grupo e jeitos das práticas antigas que podem
sua representação ante a sociedade. O influenciar no comportamento de um
termo “representações sociais” nos re- indivíduo, mediante sua autoridade re-
mete tanto a “um conjunto de fenôme- produzida pelas famílias, pelas religiões,
nos quanto ao conceito que os engloba pelas escolas e pela mídia. Ainda sobre
à teoria construída para explicá-las” (SÁ a teoria, Abric (1994) defende que “não
2015, p. 183). existe realidade objetiva a priori, mas
A TRS tem orientado e norteado, toda realidade é representada, quer di-
durante cinco décadas, estudos a res- zer, apropriada pelo indivíduo ou pelo
peito de comportamentos, saberes e grupo, reconstruída no seu sistema cog-
práticas sociais dos grupos sociais, con- nitivo” (p. 12). E para que exista a repre-
tribuindo para diversas áreas de estudo sentação social em um grupo, Sá (2015)

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 79


igualmente afirma que a presença de um qualquer coisa. No universo consensual
objeto precisa ser de importância coleti- há um acordo de ideias; as conversas são
va e que a identificação ocorra de forma informais sobre o cotidiano. Também
“intragrupo”, ou seja, dentro do grupo, existe o universo reificado, que está di-
através do grupo. O autor ressalta tam- retamente ligado à formalidade; à hie-
bém que o termo “representação social” rarquia dos espaços coletivos. Os dois
deveria ser destinado à modalidade de universos são indispensáveis para a cons-
conhecimento em função “exclusiva” à trução do pensamento do sujeito no gru-
elaboração de um comportamento e à po, e podem coexistir. As representações
comunicação entre indivíduos em suas sociais são frequentemente construídas
vidas cotidianas. no universo consensual, na informalida-
de, na sistematização do processo do co-
CONSIDERAÇÕES FINAIS nhecimento do senso comum, agregan-
As representações são formadas por do ideologia e identificação.
um conjunto de ideias dialogadas, cons- Para Abric (2003), a importância das re-
truídas entorno do grupo; ideias simbó- presentações sociais nas interações gru-
licas que podem se tornar ideológicas. pais é explicada a partir de quatro funções
A relação entre representações sociais e essenciais: a “Função de Saber”, que per-
identidade está na representação simbó- mite compreender e explicar a realidade;
lica da construção das hierarquias e das a “Função Identitária”, que define a iden-
relações de poder; não em uma neutra- tidade individual e grupal, elaborando-as
lidade nas relações sociais, mas nas es- e mantendo-as; a “Função de Orientação”,
colhas e na consistência dessas escolhas. que guia os comportamentos, as práticas
Compreender a explicação da realidade e as relações pertinentes ao sujeito; e a
e a definição da identidade permite-nos “Função Justificadora”, que justifica as to-
protejer as especificidades dos grupos madas de posição e os comportamentos,
sociais, a orientação de comportamen- intervindo inclusive na avaliação e na ex-
tos, praticas coletivas e a justificar o plicação das condutas (p. 28-30).
comportamento e a postura dos sujeitos Como se pode observar, há alguns
envolvidos. desafios no que se refere aos marcado-
Ha dois tipos de universo de pensa- res da identidade, que podem defini-la.
mentos que podem influenciar inclusive Tais desafios ocorrem mediante diferen-
na nossa prática e na nossa identificação, tes posicionamentos sociais e práticas.
ou no reconhecimento delas. A prática, Deschamps e Moliner (2009) versam em
ou a aceitação dela, pode estar ligada sua obra sobre a complexidade de dis-
ao universo consensual, onde aparen- cernirmos sobre a identidade. Tendo
temente não há limites de ideias, onde em vista suas variações, a diversidade
todos podem falar o que pensam sobre gira em torno das diferentes possíveis

80 R E V I S TA A R Q U E I R O
expressões do “eu” em diferentes perío- determinado fato só é possível por in-
dos e lugares históricos. Do ponto de vis- tervenções das crenças que temos sobre
ta geral, os autores apresentam, de ma- nós e sobre os outros. Por esse motivo,
neira objetiva, os processos implícitos ao é importante discutir a prática do TILSP
estabelecimento da identidade, dando à luz dessa temática. Observa-se através
importância ao tema na psicologia social da teoria estrutural de Abric como essa
e destacando a noção de representação prática se consolida; quais são as seme-
como uma forma de conhecimento do lhanças e diferenças que compõem esse
“eu” diante do “outro”, o que interfere na grupo, e quais as dificuldades encontra-
intuição de identidade. Igualmente, po- das em relação as pessoas que não fa-
de-se pensar que o homem só é sujeito zem parte dele.
pela relação com os outros e, por con- Assim, a autora ratifica a importân-
sequência, o conhecimento de si abre a cia da Teoria das Representações Sociais
via ao conhecimento do outro (BRAGA; (TRS) para o reconhecimento de novas
CAMPOS, 2016). práticas geradas coletivamente, confor-
Deschamps e Moliner (2009) reforçam me o estudo realizado para identificar a
que os aspectos sociológicos e psicoló- prática dos TILSPs, que surgiram da in-
gicos da identidade social e pessoal são formalidade, de atendimentos caridosos,
marcados pelo senso de semelhança e por intermédio de instituições religiosas
diferença, conferindo um caráter dinâ- ou através dos filhos de surdos, e hoje
mico e subjetivo à identidade. Portanto, lutam pelo reconhecimento de sua cate-
o conhecimento que produzimos sobre goria profissional.

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trajetória do Instituto Nacional de

INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 85


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Criada em 2000, a Revista Arqueiro é uma
publicação semestral do Instituto Nacional de
Educação de Surdos – INES, divulgada nas versões
impressa e on line. Desde sua criação, o principal foco de
atuação vem sendo a divulgação de experiências práticas dos
profissionais ligados à área de educação de surdos e/ou afins.
Dessa forma, destacam-se abordagens teóricas e práticas sobre
o ensino-aprendizagem de diversas áreas e disciplinas que
dialogam nos diferentes níveis de ensino: da Educação Básica ao
Ensino Superior. Dentre as experiências de ensino, destacam-
se a apresentação e divulgação de relatos de experiências
docentes em sala de aula e de profissionais ligados à área da
surdez (pedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes
sociais, tradutores-intérpretes, etc). Busca-se também divulgar
contribuições da práxis profissional voltadas à formação inicial
e continuada de professores e coordenadores que atuam ou
pretendem atuar nessa área.
Além de artigos e relatos de experiência, a revista
publica resenhas e entrevistas, cujo foco esteja
direcionado para a área da surdez, além de
divulgar espaços culturais e artísticos
com acessibilidade para os
sujeitos surdos.
Aspellaccum earit, ut
erferro mint praestrunt
ommost, ex est rempos
ducid utet quisi aut
ad moluptae cus id
molupta suntium qui
conetur arcid molorias
erspellorum ex estion
repror adi conse dolo
mossus recabo. Nestinc
ideliquam, comni
accus estes eliquodit
optatem fuga. Nam
es aspicae provit,
adi doloris autasit
quatem sum quatia
que re nullore iuntios
molectiunde non
reium conet quae sim
fugiatur?
Ducia praeptibero
berspel iquam,
illestio core ipsum
verunt expliqu atest,
tenescipsum alia denti
qui beat maximus atus

Instituto Nacional de

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