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INSTITUTO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO DE SURDOS
37
RIO DE JANEIRO I BRASIL
JAN / JUN
2 0 1 8
Instituto Nacional de
REVISTA ARQUEIRO
ISSN 1518-2495
GOVERNO DO BRASIL
Editores
06 ENSINO SUPERIOR:
EXPERIÊNCIAS
INSTITUTO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO DE SURDOS
COMPARTILHADAS
44
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO A CONSTRUÇÃO DO
Marcelo Ferreira de Vasconcelos Cavalcanti
PLANO EDUCACIONAL
DEPARTAMENTO DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO, CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO INDIVIDUALIZADO COMO MÔNICA R. DE SOUZA
Gilsilene Gonçalves de Moraes
FERRAMENTA DE INCLUSÃO LOPEZ
COORDENAÇÃO DE PROJETOS
EDUCACIONAIS E TECNOLÓGICOS
DO ALUNO SURDO COM RAFAEL DA MATA SEVERINO
Ramon Santos de Almeida Linhares COMPROMETIMENTOS
NO CAP-INES
12
DIVISÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS
Ana Regina Campello AS FACES DA ATUAÇÃO
DO TRADUTOR
DORA V. DA COSTA
PUBLICAÇÕES INES
INTÉRPRETE DE
COORDENAÇÃO EDITORIAL DDHCT/INES FLAVIA DE A. MARQUES LIBRAS
Gabriela Rizo
Gilsilene Gonçalves de Moraes KEILA FERREIRA DA SILVA E PORTUGUÊS
Luiz Alexandre da Silva Rosado
Ramon Santos de Almeida Linhares
NO CAMPO
SECRETÁRIO
DESENCAPSULANDO A EDUCACIONAL
56
Jean Fuglino Paiva
COMISSÃO DE TRADUÇÃO
LÍNGUA DE SINAIS NA WEB
Alessandra Scarpin Moreira Delmar
Fabíola de Vasconcelos Saudan A UNIVERSIDADE FEDERAL RENATA DOS
Lenildo de Souza Lima DE JUIZ DE FORA E A SANTOS COSTA
EDITORES ARQUEIRO CONSTRUÇÃO DE UM
Dra. Marisa da Costa Gomes
SITE ACESSÍVEL
22
Dra. Osilene Maria de Sá e Silva da Cruz
Dr. Ricardo de Souza Janoario
CONTRIBUIÇÃO
CONSELHO DE PARECERISTAS
Aline Cristine Xavier da Silva Castro GABRIEL PIGOZZO DA TEORIA DAS
Ana Luísa Antunes
Ana Teresa Andrade
REPRESENTAÇÕES
Cássia Geciauskas Sofiato
SOCIAIS PARA
Eder Barbosa Cruz
FORMAÇÃO CONTINUADA
Huber Kline Lobato O ESTUDO DA
Laura Jane Messias Belém
DO TRADUTOR INTÉRPRETE
Lia Abrantes A. Soares IDENTIDADE
Marcia Moraes EDUCACIONAL DE LÍNGUA
Maria Carmem Euler PROFISSIONAL
Priscilla Fonseca Cavalcante DE SINAIS E LÍNGUA
Rita de Cassia de Oliveira e Silva DOS TRADUTORES/
Roberta Savedra Schiaffino PORTUGUESA
INTÉRPRETES
PRODUÇÃO EDITORIAL
MDE Design de Eventos 32 DE LIBRAS
68
PROJETO GRÁFICO
Ramon Santos de Almeida Linhares
LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA
DIAGRAMAÇÃO ANTONIO
Avellar e Duarte
RENATA DOS S. COSTA VANESSA MANDRIOLA
CAPA
Ilustrações produzidas por alunos do DEBASI-INES no
Núcleo de Artes, em um projeto de elaboração de desenhos
de observação do prédio do INES, proposto pela Profª Joana Arqueiro / Instituto Nacional de Educação de Surdos. – Vol. 1 (jan/jun 2000) –
Lyra. Seleção de imagens: Lucia Vignolli. Composição do
mosaico: Ramon Linhares. Rio de Janero : INES – v. : il. ; 28cm
8 R E V I S TA A R Q U E I R O
REVISTA ARQUEIRO: Como você se
tornou Tradutora-Intérprete de Língua
de Sinais e Língua Portuguesa (TILSP)?
Pode nos contar um pouco sobre
sua trajetória?
JAQUELINE LUNA: Meu início como
TILSP foi um tanto traumático, confes-
so. Por ser filha de pais surdos, imaginei
que não seria diferente do que estava
acostumada a fazer ao longo de toda a
minha vida: interpretar. Não parecia ser
um desafio. Quando iniciei o trabalho
na escola, local da minha primeira ex-
periência profissional, foi um choque,
pois os surdos não eram meus amigos
JAQUELINE LUNA
ou parentes, e sim alunos. Então, eu me Mestranda em Diversidade e Inclusão pelo Programa de
Pós-graduação Profissional em Diversidade e Inclusão da
dei conta da responsabilidade. Minha
Universidade Federal Fluminense (UFF); graduanda em Letras/
relação com os alunos era ótima, porém Libras (Licenciatura) pelo Centro Universitário Leonardo da
Vinci (UNIASSELVI); certificada em Proficiência na Tradução e
eles eram alunos e eu, a intérprete. Eu
Interpretação da Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa
era a pessoa responsável por dar acesso pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2010);
graduada em Gestão Pública pela Faculdade Educacional da
aos conteúdos das aulas na sua primeira
Lapa (FAEL, 2016); especialista em Libras pela Faculdade Futura
língua (L1). (2018). Atualmente é tradutora-intérprete de Libras/Língua
Portuguesa no Instituto Nacional de Educação de Surdos, lotada
Eu não sabia absolutamente nada sobre
no Departamento de Ensino Superior, na equipe de Tradução. Tem
ética profissional e postura; ou como li- experiência em traduções de textos acadêmicos, editais, manuais
de orientação e avaliações bilíngues. Participa de interpretação
dar com os conflitos que ocorriam em
simultânea em seminários, fóruns, congressos e aulas nos níveis
sala de aula, como lidar com o professor. Fundamental II, Ensino Médio, cursos técnicos e Ensino Superior.
Enfim, foi traumático. Desisti por algum
10 R E V I S TA A R Q U E I R O
sendo dito tenha uma linha de entendi- honestidade e pela discrição; e que deve
mento e compreensão. proteger o direito de sigilo da informa-
ção recebida. Infelizmente, por falta de
REVISTA ARQUEIRO: Na sua opinião, conhecimento ou por uma questão de
qual é a importância do TILSP no contex- imaturidade, não sei, inúmeras vezes
to escolar? presenciei situações em que essas nor-
JAQUELINE LUNA: Ser intérprete educa- mas foram negligenciadas.
cional exige muito estudo do profissional,
um aperfeiçoamento quase diário, pois REVISTA ARQUEIRO: Quais têm sido os
sua presença é indispensável nas esco- avanços e os desafios do TILSP na educa-
las inclusivas. A mediação envolve muito ção de surdos?
mais do que meramente uma mediação JAQUELINE LUNA: O maior número
de línguas. Se pensarmos que a educa- de intérpretes atuantes está no espaço
ção é a base de tudo, no caso dos alunos educacional. Esse foi um grande avan-
surdos, é essencial ter esses profissionais ço, uma vez que possibilita ao surdo
na escola e prezar pelos mais qualifica- receber algo que é direito de todos
dos para dar suporte ao processo de en- — a educação. Os desafios são vários:
sino-aprendizagem dos alunos surdos. É é necessário ter materiais didáticos
necessário garantir que o aprendizado apropriados e metodologias eficientes,
dos surdos esteja em igualdade com o respeitando e entendendo a diferença
dos alunos ouvintes. linguística. O intérprete ainda assume
o papel de ter de explicar para o cor-
REVISTA ARQUEIRO: Como você tem po docente que a produção escrita do
percebido o impacto da Lei no 12.319/10, surdo não está errada e que a avaliação
que regulamenta a profissão do tradu- deve considerar a coerência, a coesão
tor-intérprete de Libras, na prática pro- e o vocabulário, e não esperar que o
fissional do TILSP? texto seja escrito como o dos ouvintes,
JAQUELINE LUNA: A regulamentação pois a Língua Portuguesa é a segunda
foi um passo importante. Sem dúvida, língua do surdo. Outro exemplo é ter
ter o reconhecimento da profissão é de explicar que o surdo é visual, e que
essencial. O problema é que boa parte por isso não é indicado passar como
dos profissionais desconhece o conteú- dever de casa a leitura de cinco pági-
do dessa lei, com isso, muitos aspectos nas de um livro onde há apenas textos
importantes são desrespeitados. Na lei corridos. É importante fazer com que o
consta que o intérprete deve exercer professor entenda que o intérprete não
sua profissão com rigor técnico, zelando é o professor; que quando o intérprete
pelos valores éticos, pelo respeito à pes- fala está sendo a voz do surdo, e não se
soa humana e à cultura do surdo; pela envolvendo na aula.
12 R E V I S TA A R Q U E I R O
O que desmotiva muitas vezes é a des- plo, estuda para ser médico. O paciente
valorização desse profissional. O ideal é irá a uma consulta para resolver um pro-
que cada área tenha um intérprete pro- blema de saúde, e não para perguntar o
fissional com certo domínio técnico, e que é necessário para a construção de
isso não corresponde à realidade. A so- um prédio. Então, por que o intérprete
ciedade ainda acredita que a pessoa que precisa conhecer todos os sinais de to-
sabe Libras é automaticamente intérpre- das as áreas e interpretar qualquer tipo
te, e que, sendo intérprete, pode atuar de evento ou situação?
em qualquer frente de trabalho. Gostaria Somos profissionais sim, mas não somos
que isso mudasse algum dia. robôs. Isso interfere diretamente na qua-
Seguindo meu raciocínio, vamos imagi- lidade da acessibilidade que é ofertada
nar que, para ser um bom intérprete na ao público surdo.
área da Engenharia, o ideal é que o pro-
fissional conheça as especificidades da
Engenharia, certo? Para isso, ele precisa
fazer o quê? Estudar Engenharia. Mas
se o intérprete se forma em Engenharia,
com certeza ele abrirá mão de ser intér-
prete, não por incapacidade, pois agora
já terá formação, mas pela desvaloriza-
ção da profissão de intérprete.
A desvalorização a que me refiro é finan-
ceira, pois somos contratados geralmen-
te como técnico-administrativos, cargo
de nível médio. Desse modo, ter educa-
ção superior em geral não faz diferença
em termos salariais. Não podemos nos
esquecer, também e principalmente, da
falta de reconhecimento da nossa im-
portância na sociedade.
14 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
A inclusão em educação é um proces-
so permanente de vivência e experiências
que possibilitem a equidade de oportu-
nidades para todos em uma sociedade
ainda excludente (SANTOS, 2014, p. 8).
A escola, em toda a sua trajetória, não
RESUMO
tem neutralidade política nem social: ela
Neste artigo, as autoras propõem sempre serviu aos desejos hegemôni-
uma reflexão acerca da necessidade de cos da sociedade na qual estava inseri-
repensar e até ressignificar o ambiente
escolar, tornando-o agregador e, de fato,
da. Por muitos anos segregou e colocou
inclusivo. Apesar de leis e documen- à margem do direito à educação as pes-
tos que garantem o direito à educação soas ditas diferentes, com imposição de
para todos, ainda é possível encontrar
barreiras que precisam ser desmistifi- normas, regras e diretrizes curriculares
cadas. Também é preciso assegurar um que muitas vezes não levam em consi-
currículo escolar acessível, que leve em deração a realidade da comunidade es-
consideração as necessidades individuais
do educando. Considerando isso, o pre- colar. Para uma aprendizagem significa-
sente estudo, resultado de um trabalho tiva, é premente a revisão da função da
conjunto e de muito esforço em prol do
escola na vida do educando – que não
desenvolvimento acadêmico e social do
aluno surdo com necessidades educa- seja somente um local de aprendiza-
cionais especiais, descreve as etapas de do de conteúdos. A diversidade cultural
construção do Plano Educacional Indivi-
e social encontrada na escola deve ser
dualizado (PEI) no Colégio de Aplicação
do Instituto Nacional de Educação de
Surdos (CAp/INES).
DORA VIEIRA DA COSTA
Professora de Educação Especial da FAETEC-RJ; professora
Palavras-chave: Inclusão. Educação de Mediadora do INES-RJ; mestranda em Diversidade e Inclusão
Surdos. Adequações curriculares. pela Universidade Federal Fluminense (UFF); pós-graduada em
Psicopedagogia pela Unicarioca; pós-graduada em Gestão em
Novas Tecnologias Aplicadas à Educação pelo IST-RJ (FAETEC);
graduada em Pedagogia Bilíngue pelo DESU/INES-RJ.
16 R E V I S TA A R Q U E I R O
e a necessidade da inclusão impulsio- está pronto e que, portanto, não foi pla-
nada também pelas legislações vigen- nejado para tal. Já a palavra adequação
tes, como a Lei Brasileira de Inclusão da remete a algo que foi pensado anterior-
Pessoa com Deficiência (LBI) (BRASIL, mente, ou seja, criado para aquele fim.
2015), o INES criou o primeiro proces- Por essa razão, entende-se neste ar-
so seletivo para contratação temporária tigo adequações curriculares como uma
de professores-mediadores. Esses pro- medida de resoluções voltadas para mol-
fissionais são formados em Pedagogia, dar a resposta educativa dos alunos com
com especialização na área de Educação necessidades educacionais especiais às
Especial, e aptos para garantir a execu- suas características, oportunizando as-
ção do processo de inclusão educacio- sim o acesso ao ensino e à cultura.
nal, objetivando, na medida do possível, Por adequações curriculares, entende-se:
18 R E V I S TA A R Q U E I R O
a evolução da aprendizagem sob o olhar VII - planejamento de estudo de caso, de
elaboração de plano de atendimento edu-
das competências individuais do aluno, e
cacional especializado, de organização de
não fazendo alusão a normas e compara- recursos e serviços de acessibilidade e de
ções com o outro. A base para isso está disponibilização e usabilidade pedagógi-
ca de recursos de tecnologia assistiva; [...]
nos direitos previstos nas legislações na-
cionais vigentes, como a LBI, que discorre Sem diferença não há educação, e a
sobre o Direito à Educação das Pessoas escola, para educar, precisa colocar o
com Deficiência e, em seu artigo 28, re- ensino sob suspeita (MACEDO, 2012).
mete ao assunto com a seguinte redação Assim, de maneira qualitativa, pretende-
(BRASIL, 2015): -se atentar para a especificidade e a sub-
20 R E V I S TA A R Q U E I R O
REFERÊNCIAS GLAT, R.; VIANNA, M. M.; REDIG, A.
G. Plano educacional individualizado:
BRASIL. Lei n o 9.394, de 20 de uma estratégia a ser construída
dezembro de 1996. Estabelece as no processo de formação docente.
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nacional. Diário Oficial [da] República eduinclusivapesq-uerj.pro.br/
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. images/pdf/GLAT_VIANNA_REDIG_
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BRASIL. Lei n o 13.146, de 6 de julho
Acesso em: 1 nov. 2017.
de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência MACEDO, E. Currículo e
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). conhecimento: aproximações entre
Diário Oficial [da] República educação e ensino. Cadernos de
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 Pesquisa , Fundação Carlos Chagas, v.
jul. Disponível em: <http://www. 42, p. 716-737, 2012.
planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015- MARQUES, A. C. S.; ROCHA, S.M.
2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso A produção de sentidos nos
em: 6 set. 2017. contextos de recepção: em foco o
BRASIL. Ministério da Educação. grupo focal. Associação Nacional
Diretrizes nacionais para a educação dos Programas de Pós-graduação
especial na educação básica . Brasília: em Comunicação – Campós. Bauru:
MEC; SEESP, 2001. Universidade Estadual Paulista –
UNESP, 06 a 09 de junho, 2006.
BRASIL. Declaração de Salamanca
e linha de ação sobre necessidades OLIVEIRA, E. de. e MACHADO, K. da
educativas especiais. 2. ed. Brasília: S. Adaptações curriculares: caminho
Corde, 1997. para uma Educação Inclusiva. In:
GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva:
CANDAU, V. (Org.). Didática: questões
cultura e cotidiano escolar. Rio de
contemporâneas. 1. ed.
Janeiro: 7 Letras, 2007.
Rio de Janeiro: Força & Ação, 2009.
PERRENOUD, P. Avaliação da
Ministério da Educação. Resolução
excelência à regularização das
n o 4, de 02 de outubro de 2009.
aprendizagens: entre duas lógicas.
Institui Diretrizes Operacionais
Porto Alegre: Artmed, 1998.
para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, SANTOS, M. P. dos; PAULINO, M,
Modalidade Educação Especial. M. (Orgs.). Inclusão em Educação:
Brasília, DF, 2009. culturas, políticas e práticas. 2 ed.
São Paulo: Cortez, 2014.
GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva:
cultura e cotidiano escolar. Rio de VYGOTSKY, L. A formação social da
Janeiro: 7Letras, 2007. mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
ANEXO 2
22 R E V I S TA A R Q U E I R O
DESENCAPSULANDO
A LÍNGUA DE
SINAIS NA WEB
A UNIVERSIDADE FEDERAL
DE JUIZ DE FORA E
A CONSTRUÇÃO
DE UM SITE ACESSÍVEL
24 R E V I S TA A R Q U E I R O
do conteúdo publicado nas páginas das
mais diversas instituições está grafado
em Língua Portuguesa e explora de
forma tímida os recursos visuais. Isso não
satisfaz a demanda de uma comunidade
que tem uma necessidade linguística
diferenciada da maioria da população.
RESUMO É imperioso pensar em práticas que
permitam acessibilidade plena a esses
As informações e as oportunidades sujeitos em ambientes virtuais também
estão equiparadas às especificidades para maior valorização da Libras em
comunicacionais desses indivíduos? oposição aos “avatares” e para a
É sabido que a primeira língua (L1) conscientização dos gestores de sites
dos surdos é a Língua Brasileira de para que as informações alcancem os
Sinais (Libras), e os ambientes virtuais, surdos. A inserção da Libras nos meios
em sua maioria, estão configurados digitais (informacionais e comunicacionais)
(padronizados, modelados) com a é um desafio, ou seja, um caminho a ser
Língua Portuguesa, a qual para os desbravado com coragem, resistência,
surdos brasileiros é a segunda língua sabedoria e sensibilidade, para que os
(L2). Essa homogeneização escrita conteúdos se tornem acessíveis aos
dos ambientes web levanta barreiras cidadãos surdos. As discussões aqui
comunicacionais que causam prejuízos apresentadas não encerram a temática,
ao acesso às informações que circulam apenas aguçam a busca por estratégias
na rede. Percebe-se que a atuação mais acessíveis e inclusivas.
constante dos intérpretes de Libras na
Universidade Federal de Juiz de Fora Palavras-chave: Língua de sinais.
(UFJF) tem proporcionado aos alunos e Acessibilidade. Website. Universidade.
funcionários surdos um melhor acesso Tradutores.
aos conteúdos e às informações da
universidade. O trabalho realizado pela
Diretoria de Imagem Institucional vem
ao encontro do movimento surdo na
busca por acessibilidade informacional e
comunicacional. Ao longo deste estudo
foi possível perceber que o acesso aos
meios de comunicação digital é muito
precário, uma vez que a maior parte
26 R E V I S TA A R Q U E I R O
Figura 1 – Site da Universidade Federal de Viçosa 2
http://revistaincluir.com.
Fonte: <https://www.ufv.br/>. Acesso em: 8 de set. de 2018 br/.
3
http://laramara.org.br/
index.php.
outros que encurtam as distâncias entre os sites já mencionados, nos quais essa 4
http://www.vidamaisli-
as pessoas. Mas muitos desses aplicati- ferramenta de acessibilidade aparece em vre.com.br.
5
http://brasil.estadao.
vos, quando pensados e criados, não ti- determinado espaço na página, como com.br/blogs/vencer-li-
mites/.
veram no surdo sua fonte de inspiração. um ícone de acessibilidade em destaque. 6
http://www.weblibras.
com.br.
Os surdos é que se apropriaram desses Além dos sites destacados anterior- 7
http://www.bradesco-
recursos como mecanismo para facilitar mente, foi possível analisar a página do previdencia.com.br/Pa-
ges/PF/Ferramentas/pro-
deafIntrodução.aspx
a comunicação, na qualidade de inte- portal Bradesco Previdência, que traz
ração entre indivíduos, então puderam uma janela de Libras. No entanto, na pá-
estabelecer vínculos comunicacionais e gina principal não há acessibilidade. Para
consequentemente sair do isolamento. acessar a janela é necessário clicar no
Em pesquisas realizadas na web, o au- menu Ferramentas/Libras, localizado no
tor percebeu que poucos são os sites que topo da página, o que, para os surdos, se
contêm conteúdos acessíveis, ou seja, em caracteriza como barreira até a garantia
Língua de Sinais (LS). Eles apresentam do acesso “pleno”.
textos escritos em Língua Portuguesa e No tocante ao conteúdo, para que
um link para interpretação em Libras. Os sejam traduzidos — interpretado para
surdos que buscam informações nesses Libras —, os sites usam avatares. Estes,
sites clicam sobre esse link, então uma por sua vez, não transmitem emoções, e
janela de interpretação se abre e o texto muitas vezes o sentido das mensagens
selecionado é sinalizado. São exemplos pode ser comunicado de forma equivo-
a Revista Incluir,2 o LARAMARA3, portal cada. O ideal, para tornar a comunicação
Vida Mais Livre4 e o blog Vencer Limites5. entre web e surdos mais acessível, seria
Nessa mesma pesquisa foi encontrada a criação de janelas de Libras sinalizadas
apenas uma empresa, a WebLibras,6 que por profissionais da área, apresentando
garante a “adaptação” dos conteúdos em todas as nuances que a informação possa
L2 para L1, o que pode tornar acessíveis transmitir.
INES jan - jun 2018 • EDIÇÃO #37 27
CONSTRUINDO ACESSIBILIDADE ações locais para desenvolvimento de
De acordo com o Decreto no 5296/04, padrões para a web, publicou a Cartilha
acessibilidade é: de acessibilidade na web, em 2013, cujo
conceito serviu de referência para a cons-
Condição para utilização, com segurança
trução deste artigo. Para a W3C, acessibi-
e autonomia, total ou assistida, dos es-
paços, mobiliários e equipamentos ur- lidade na web significa:
banos, das edificações, dos serviços de
transporte e dos dispositivos, sistemas [...] que pessoas com deficiência podem
e meios de comunicação e informação, usar a web. Mais especificamente, aces-
por pessoas portadoras de deficiência ou sibilidade na web significa que pessoas
com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004) com deficiência podem perceber, en-
tender, navegar, interagir e contribuir
Um conceito considerado pelo autor e para a web. E mais, ela também bene-
ficia outras pessoas, incluindo pessoas
que perpassa sua prática é apresentado idosas com capacidades em mudanças
na Lei no 10.098/00. Em seu artigo 2o, I, devido ao envelhecimento. (CARTILHA
a lei define acessibilidade como: ACESSIBILIDADE..., 2013, p. 21)
28 R E V I S TA A R Q U E I R O
em suas redes sociais (Facebook, Twitter, intérpretes a fim de que eles façam a
Instagram) e disponibilizá-los poste- tradução da Língua Portuguesa para a
riormente em seu canal no YouTube, a Libras, com intuito de trazer mais fide-
Universidade Federal de Juiz de Fora lidade e qualidade para o material que
(UFJF), a partir de 2017, integrou em será disponibilizado na web. Posterior
seu quadro de servidores efetivos dois a esse trabalho de tradução e pesquisa
Tradutores-Intérpretes de Libras/Língua realizado pelos intérpretes, o próximo
Portuguesa (TILSP), lotados na Diretoria passo são as filmagens, que acontecem
de Imagem Institucional, cuja principal nos estúdios do Centro de Educação a
função é tornar acessível os conteúdos Distância da Faculdade de Comunicação 8
http://ufjf.br.
da página da universidade.8 Além dessa (CEAD/FACOM). Terminadas as grava-
função, realizam o atendimento aos ser- ções, os intérpretes se juntam aos pro-
vidores e discentes surdos da UFJF e da fissionais da criação para inserir a Libras
comunidade externa no âmbito da reito- nos vídeos.
ria, bem como a interpretação simultâ- Alguns vídeos com notícias e/ou infor-
nea Libras/Língua Portuguesa em diver- mações que precisam chegar com certa
sos eventos promovidos pela instituição. urgência ao público-alvo são gravados
Em relação à manutenção da aces- na área aberta do campus e/ou nas de-
sibilidade dos vídeos institucionais, ela pendências da reitoria. São vídeos cur-
acontece periodicamente e conta com tos de aproximadamente 30 segundos,
uma equipe de produtores, cinegra- cujo principal objetivo é informar sobre
fistas, designer e intérpretes de Libras. algo que aconteceu ou vai acontecer em
É um trabalho minucioso e em grupo. poucas horas ou daqui a poucos dias.
Após gravação, corte e edição, os Vejamos alguns exemplos do trabalho
vídeos são disponibilizados para os dessa equipe nas Figuras 2-7.
30 R E V I S TA A R Q U E I R O
Figura 6 –O UFJF Transformadora é um programa realizado na Diretoria
de Imagem Institucional que divulga outros projetos de extensão e que
também pode ser levado à comunidade surda através do trabalho da
equipe formada para esse fim dentro da universidade.
Fonte: (UFJF, 2018c)
32 R E V I S TA A R Q U E I R O
ou com mobilidade reduzida, e O7pleIBSTJbPqOIiVS8Dj&index=7>.
dá outras providências. Diário Acesso em: 8 set. 2018.
Oficial [da] República Federativa do UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
Brasil, Brasília, DF, 2004. Disponível JUIZ DE FORA. TVUFJF. Agosto:
em: <http://www.planalto.gov.br/ Mês da Visibilidade Lésbica.
ccivil_03/_ato2004-2006/2004/ 2017b. (3min16s). Disponível
decreto/d5296.htm>. Acesso em: 5 em: <https://www.youtube.com/
maio 2019. watch?v=EyrEpaOG4Jo&t=3s>. Acesso
BRASIL. Lei no 10.098, de 19 de em: 8 set. 2018.
dezembro de 2000. Estabelece UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
normas gerais e critérios básicos JUIZ DE FORA. TVUFJF. Setembro
de acessibilidade das pessoas Amarelo | UFJF. 2018a. (50s).
portadoras de deficiência ou com Disponível em: <https://www.youtube.
mobilidade reduzida, e dá outras com/watch?v=4wCwvQ9DZv4>.
providências. Diário Oficial [da] Acesso em: 8 set. 2018.
República Federativa do Brasil,
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
Brasília, DF, 2000. Disponível em:
JUIZ DE FORA. TVUFJF. UFJF Contra
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
a LGBTTIfobia | Dia Internacional
leis/l10098.htm>. Acesso em: 5 maio
de Combate à LGBTTIfobia .
2019.MARTINS, G. P. T. C; BRAS, R.
2018b. (2min13s). Disponível
M. M. Língua e tecnologia: a Libras
em: <https://www.youtube.com/
na web. Juiz de Fora: Editar Editora
watch?v=H0Li3HDpAmw&t=21s>.
Associada Ltda., 2017.
Acesso em: 8 set. 2018.
CARTILHA ACESSIBILIDADE NA WEB.
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL
[Livro Eletrônico]: Fascículo 1:
DE JUIZ DE FORA. TVUFJF.
Introdução – São Paulo: Comitê
UFJF Transformadora | Só Riso.
Gestor da Internet no Brasil, 2013.
2018c. (5min9s). Disponível
MARTINS, G. P. T. C; BRAZ, R. M. M. em: <https://www.youtube.com/
Língua e tecnologia: a Libras na web. watch?v=h02Ob8lBZZc>. Acesso em:
Juiz de Fora (MG): Editar Editora 9 set. 2018.
Associada Ltda, 2017.
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UFJF. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. TVUFJF. Check-in UFJF
JUIZ DE FORA. TVUFJF. Na Hora do | Centro de Educação a Distância .
Lanche | Dia das Crianças. 2017a. 2018d. (2min45s). Disponível
(4m14s). Disponível em: <https:// em: <https://www.youtube.com/
www.youtube.com/watch?v=NubKm_ watch?v=YgXv56jt0VQ&t=21s>.
FFZic&t=180s&list=PLS7Q2j47LNUe Acesso em: 9 set. 2018.
34 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
O advento de oferta da educação in-
clusiva como política educacional brasi-
leira possibilitou que o Governo Federal
garantisse a difusão e a inserção das
pessoas surdas e dos profissionais sur-
RESUMO dos e ouvintes em instituições públicas
de ensino por meio de:
Este trabalho versa, conforme De-
creto no 5.626/05, a respeito da forma- • Políticas públicas de promoção do
ção dos Tradutores-Intérpretes Educa- status linguístico da Língua Brasileira
cionais de Libras no cenário brasileiro
de Sinais (Libras).
de educação de surdos. Elenca os pos-
síveis caminhos de formação e apri- • Inclusão da Libras como disciplina
moramento profissional, como curso curricular.
de extensão universitária, na tentativa
• Formação de professores com a pers-
de abranger as demandas de tradução
e interpretação. As discussões ora ex- pectiva bilíngue.
postas ultrapassam as questões de op- •
Compreensão que a Língua
ções formativas do Tradutor-Intérprete Portuguesa deve ser ensinada em
de Língua de Sinais e Língua Portugue-
modalidade escrita.
sa (TILSP), tangendo percepções mais
aprofundadas concernentes à atuação • Formação de tradutores e intérpre-
profissional nos espaços educacionais, tes de Libras/Língua Portuguesa, em
bem como sua importância no proces-
curso de nível superior; ou em nível
so de aprendizagem de educandos sur-
dos (BELÉM, 2010; COSTA, 2017; LACER- médio, em cursos de educação pro-
DA, 2009). Por fim, entende-se que se fissional, de extensão universitária
faz necessário investir em uma forma-
ção inicial e continuada, em cursos de
nível superior, de forma a sedimentar o LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA ANTONIO
exercício tradutório-interpretativo res- Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade
significando a práxis nos diversos con- Cândido Mendes (AVM/UCM) e em Educação de Surdos pelo Instituto
textos sociais contemporâneos. Nacional de Educação de Surdos (INES); bacharel em Sistemas de
Informação e graduando em Pedagogia. Coordenador do Curso
de Extensão de Formação Continuada do Tradutor-Intérprete
Palavras-chave: TILSP. Formação conti-
Educacional de Libras do Departamento de Ensino Superior do INES;
nuada. Intérpretes educacionais. currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5792377846764038. E-mail:
lcoliveira@ines.gov.br.
36 R E V I S TA A R Q U E I R O
IV - a oferta de cursos de formação de a partir das principais reivindicações rela-
professores para as séries iniciais, com tadas e registradas nas falas e narrativas
uma formação voltada em perspectiva sobre a atuação, a formação e o cargo
bilíngue (Libras e Português); e do profissional TILSP. Como resultado, o
V - a obrigatoriedade de inserção da dis- texto pretende revogar a atual a Lei no
ciplina de Libras, em grade curricular, 12.319/10, argumentando que esse texto
em vários cursos de graduação (todos apresenta o profissional em um patamar
os cursos de licenciatura, por exemplo, de desvalorização e de insegurança na
os de fonoaudiologia e de educação
atuação do serviço. Desse modo, é pos-
especial), dentre outras ações. (BRASIL, 1
O projeto de Lei
sível oferecer incentivo e orientação para 9.382/2017 da Comissão
2005) de Defesa dos Direitos
que os profissionais busquem a forma- das Pessoas com Defi-
ciência está em trami-
tação e será analisado
ção inicial e/ou continuada para qualifi- pelas comissões de tra-
Para os autores, porém, é importante balho e em seguida será
votado pelo Plenário.
cação, com entrada e permanência no (w w w2 .c a m a r a . l e g . b r/
notar que, embora o decreto vislumbre camaranoticias/noticias/
TR ABALHO-EPREVI-
mercado de trabalho, por exemplo, em DENC I A /55636 -PRO -
promover a formação de TILSP reco- JETO-REGULAME
instituições educacionais de ensino. NTA-A-PROFISSAO-DE-
mendando aos profissionais tradutores -TRADUTOR-DE-LIBRAS.
html).
Diante da visibilidade promovida pela
e intérpretes uma formação em nível
legislação, pelas políticas públicas, pe-
superior, a Lei no 12.319/10, que regu-
los movimentos políticos de TILSPs e,
lamenta a profissão, veta essa exigên-
cia em nível superior, salientando a ne- principalmente, pós-oficialização da Lei
em nível médio, além de uma formação tação dessa lei (Decreto no 5.626/05) e
38 R E V I S TA A R Q U E I R O
seu imediatismo e imprevisibilidade exato momento em que o discurso está
(NASCIMENTO, 2016, p. 50).
sendo produzido, perpassando por vá-
rias etapas até a conclusão. Esse é um
Souza (2010) salienta a importância
processo de tradução que ocorre de
de uma interface interdisciplinar que en-
maneira diferenciada e em outro tempo,
volva a tradução entre Libras e Língua
em virtude das naturezas das línguas en-
Portuguesa em estudos da tradução,
volvidas e do desenvolvimento de cons-
além de apresentar uma investigação
trução cultural e política. Embora tais
sobre a perspectiva tradutória e inter-
avanços sejam factuais, pesquisadores
pretativa das línguas de sinais, com pro-
esclarecem que há carência de materiais
cedimentos tradutórios (norma surda de Interpretação simul-
2
40 R E V I S TA A R Q U E I R O
construindo diálogos entre o docente e Interpretar em salas de aula é mais do
que ter competência em língua de si-
o discente, como partícipe no processo
nais. Além de interpretar rápida e cor-
educacional. O profissional está a pos- retamente, o IE precisa facilitar que os
tos para se colocar em uma posição de alunos surdos possam alcançar os obje-
explicador e conciliador das relações tivos educacionais propostos pelo pro-
fessor para todos os alunos da classe
conflitivas do espaço escolar. “A comu- inclusiva. (ANTONIO; MOTA; KELMAN,
nidade surda defende o modelo de es- 2015, p. 1048)
colas bilíngues, na qual todas as aulas
são ministradas em sua língua de ins- Destarte, nesse cenário, a atua-
trução, a língua de sinais. É possível que ção dos tradutores e intérpretes per-
4
Surdocegueira é uma
a escola seja inclusiva ou especializada passa, ainda, outro público-alvo: os alu- deficiência singular que
apresenta perdas au-
e ainda ser ou não bilíngue?” (COSTA, nos surdocegos 4. Todavia, esses alunos ditivas e visuais conco-
mitantemente em dife-
rentes graus, levando a
2017, p. 38). Para Costa (2017), os intér- apresentam outras especificidades em pessoa surdocega a de-
senvolver várias formas
pretes educacionais partilham da luta sua comunicação e requerem, igual- de comunicação para
entender e interagir com
as pessoas e o ambiente,
da comunidade surda, em prol da edu- mente, um foco na tradução e na inter- proporcionando-lhes o
acesso às informações,
sedimentado no campo dos estudos em A surdocegueira é uma especificidade Inclusão (LBI), Lei no
13.146/15. O Cadastro
Brasileiro de Ocupa-
educação no que se refere à importância que requer uma abordagem pormeno- ções (CBO) e a Lei no
12.319/10 (regulamen-
dos agentes que viabilizam o processo rizada, para então favorecer o uso dos tação da profissão dos
tradutores e intérpretes)
não fazem distinção
educacional, isto é, os sujeitos que es- canais residuais de visão e de audição, entre o intérprete e o
guia-intérprete. Fonte:
tão imbricados nesse processo são co- quando existir; ou ainda de outros ca- < h t t p : // w w w . p l a n a l -
t o . g o v . b r / c c i v i l _ 0 3 /_
ato2007-2010/2010/lei/
participantes e corresponsáveis por ele, nais sensoriais remanescentes, quando l12319.htm>. Acesso em:
7 maio 2019.
42 R E V I S TA A R Q U E I R O
específicos, para assim atuar nas diver-
sas áreas de conhecimento. Portanto, se
REFERÊNCIAS
faz necessário mais investimentos em
formação inicial e continuada, e em cur- ALBRES, N. A. Intérprete educacional :
sos de nível superior e cursos técnicos, políticas e práticas em sala de aula
com o objetivo da ressignificação pro- inclusiva. São Paulo: Harmonia, 2015.
fissional e de um aprofundamento teó- ANTONIO, L. C. O; MOTA, P. R.;
rico e prático do exercício em tradução KELMAN, C. A. A formação do
e em interpretação da Libras nos diver- intérprete educacional e sua atuação
sos contextos sociais contemporâneos. em sala de aula. Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação,
v. 10, p. 1032-1051, 2015.
AUBERT, F. H. As (in) fidelidades da
tradução: servidões e autonomia do
tradutor. 2. ed. Campinas: Editora da
Unicamp 1994.
BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia
da Linguagem. São Paulo: Hucitec,
1992.
BELÉM, L. J. M. A atuação do
intérprete educacional de Língua
Brasileira de Sinais no ensino
médio. 139 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Metodista
de Piracicaba, Piracicaba, 2010.
BRASIL. Decreto n o 5.626, de 22 de
dezembro de 2005. Regulamenta a
Lei n o 10.436, de 24 de abril de 2002.
Dispõe sobre a Língua Brasileira
de Sinais - Libras. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 2005.
BRASIL. Lei n o 10.436, de 24 de
abril de 2002. Dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais - Libras
e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 2002. Disponível
44 R E V I S TA A R Q U E I R O
língua portuguesa e língua de sinais SANTOS, S. A.; SUTTON-SPENCE, R. A
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Porto Alegre: Mediação, 2009. p. 7-32. línguas de sinais na esfera jurídica.
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Tradução e interpretação de Libras SILVA, A. A; RUSSO, A. Diferenças e
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legislativa à atividade interpretativa: A. (Orgs.). Diálogos em estudos da
acessibilidade comunicacional de tradução e interpretação de língua
surdos à mídia televisiva. In: SILVA, de sinais . Curitiba: Prisma, 2016. p.
A. A.; ALBRES, N. A.; RUSSO, A. (Org.). 75-106.
Diálogos em estudos da tradução SOUZA, S. X. Performances de
e interpretação de língua de sinais . tradução para a Língua Brasileira
Curitiba: Prisma, 2016. p. 37-74. de Sinais observadas no curso de
RICOEUR, P. Sobre a tradução. Letras-Libras . 174 f. Dissertação
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Horizonte: Editora UFMG, 2011. Centro de Comunicação e Expressão,
ROSA, A. S. Entre a visibilidade da Universidade Federal de Santa
tradução da língua de sinais e a Catarina, Florianópolis, 2010.
invisibilidade da tarefa do intérprete. STONE, C. Toward a Deaf Translation
199 f. Dissertação (Mestrado em Norm . Washington, DC: Gallaudet
Educação) – Faculdade de Educação, University Press, 2009.
Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2005.
TRADUÇÃO DE/PARA
LÍNGUA DE SINAIS
NO ENSINO SUPERIOR:
EXPERIÊNCIAS
COMPARTILHADAS
46 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
A conquista por parte dos surdos do
espaço acadêmico reclama e ao mesmo
tempo promove produções de materiais
bilíngues. A crescente presença de tal
RESUMO público em contextos universitários tem
acontecido não apenas na qualidade de
O presente artigo é fruto das reflexões discentes, mas também na docência,
acerca do trabalho tradutório desem-
o que exige de quem traduz materiais
penhado pela equipe de tradução do
Núcleo de Educação Online (NEO) do acadêmicos e de quem interpreta em
Instituto Nacional de Educação de Sur- tais espaços uma busca por formação
dos (INES). O objetivo é realizar uma
de igual nível e um aperfeiçoamento de
análise descritiva dos procedimentos
adotados para traduções no ensino su- suas práticas. Uma queixa comum entre
perior do INES, desde o trabalho inicial surdos na comunidade acadêmica é a
para o curso presencial de Pedagogia
falta de ferramentas bilíngues, o que re-
Bilíngue até as traduções que hoje são
desenvolvidas no NEO na modalidade força a necessidade do trabalho de tra-
on-line. Para isso, foram observadas as dução. Por sua vez, tradutores cujo par
funções do tradutor-ator, tradutor-su- linguístico envolvido em seus ofícios in-
pervisor e tradutor-revisor, bem como a
importância de definição desses papéis
clua pelo menos uma Língua de Sinais,
e o diálogo com outros profissionais. queixam-se de que faltam diretrizes ou
Entendemos que é o trabalho em equi-
pe que contribui para a qualidade das
traduções. Desse modo, espera-se que MÔNICA R. DE SOUZA LOPEZ
este artigo contribua para estudos rela- Especialista em Libras com ênfase em educação bilíngue para
cionados à tradução de/para línguas de Surdos; graduação em Letras-Libras pela Universidade Federal
sinais e auxilie tradutores no desempe- de Santa Catarina (2012); pós-graduação em Língua Brasileira de
nhar de suas atividades de tradução e Sinais pela Faculdade Internacional Signorelli (2014). Experiência
na área de Letras, com ênfase em Tradução. É tradutora e
organização do trabalho.
intérprete efetiva do Instituto Nacional de Educação de Surdos;
professora contratada do curso Letras-Libras/ UFRJ; ministra
Palavras-chave: Tradução. Ensino Su- palestras, cursos, oficinas nas áreas de tradução, interpretação,
perior. Textos videografados. Língua educação de Surdos e Libras; atua como tradutora/atriz em vídeos
Brasileira de Sinais. e espetáculos artísticos/culturais.
48 R E V I S TA A R Q U E I R O
textos acadêmicos, documentos, editais, traduções, então eram utilizadas as sa-
provas e afins, esses serviços, quando las de aula que estivessem disponíveis,
realizados, eram feitos após o trabalho nas quais era escolhida uma parede
de interpretação das aulas ou no perío- lisa ou onde pudesse fixar um tecido
do de férias acadêmicas. O tempo ne- de TNT trazido pelo próprio tradutor
cessário para estudo, o perfil profissio- (Figura 1). Não havia equipamento pro-
nal, as etapas do trabalho de tradução fissional de filmagem e edição. Para tal
eram frequentemente desconsideradas, tarefa, eram utilizadas câmeras e tripé
ora por falta de conhecimento técni- domésticos, operados pelos próprios tra-
co/teórico ora por impossibilidade de dutores, o que levava a outros entraves,
cumprir com tais procedimentos. Fazia- como, por exemplo, a falta de habilidade,
se o possível, mas não o adequado. O familiaridade ou conhecimento mínimo
desgaste físico e mental além da falta necessário para ajustes de equipamento,
de critérios específicos e de procedi- filmagem e edição, sobrecarregando os
mentos técnicos eram queixas justas e poucos profissionais que se dispunham
frequentes. a atender a todas as demandas de inter-
O estúdio e as equipes de filmagem pretação e atuar na tradução.
e edição do INES eram solicitados pe- Em 2013, após concurso público que,
los tradutores apenas para a tradução pela primeira vez, trouxe ao quadro fun-
de materiais para público externo, no cional do INES profissionais tradutores
entanto a maior parte das atividades e intérpretes, os serviços de tradução
desenvolvidas se destinava ao curso, ainda não eram estruturados da ma-
sendo realizadas no próprio departa- neira mais adequada, pois continuava
mento de Ensino Superior. Não havia sendo necessário priorizar as atividades
um local dedicado para a filmagem das de sala de aula ou outros espaços com
50 R E V I S TA A R Q U E I R O
do conteúdo solicitado, consultoria dológicos e práticos permeiam todas
as atividades da equipe, o que não
vocabular ou buscas terminológicas.
exclui a abordagem teórica. Diferente-
• O próximo passo é uma leitura cole- mente do que é observado em outras
tiva para que os outros membros da correntes teóricas, sobretudo as tradi-
equipe, como o supervisor e o revisor, cionais, a tradução trabalhada no NEO
não entende o papel do tradutor como
possam se familiarizar com o conteú- atividade mecânica, pois este profis-
do e trocar opiniões a respeito das sional deve ser compreendido como
escolhas adotadas. O treinamento questionador, e não passivo ou incons-
ciente ante as informações que recebe.
pode ser feito também por meio de
(2018, p. 69)
rascunhos de vídeos.
• Uma vez tendo compreendido e in-
Assim, vale destacar a importância de
ternalizado a matéria, cada tradutor
desenvolver um trabalho em equipe de
adota o método pessoal em que sen-
maneira que seja possível distribuir fun-
te mais confortável para o momento
ções específicas, como relatado na seção
da gravação. Dependendo do projeto,
a seguir.
alguns adotam glosinais, proposta de
Campello e Castro (2013), para o texto
TRABALHO EM EQUIPE COM
que será exibido no teleprompter; ou-
FUNÇÕES INDIVIDUAIS
tros, fazem um mapeamento no qual
As experiências anteriores em tradu-
breves frases servem de esboço para
ção de ou para Língua de Sinais ajuda-
trechos que resumam e façam lem-
ram os autores deste artigo a entender
brar do conteúdo de cada parte do
o valor de uma equipe eficiente. Tem-se
texto: da introdução, do desenvolvi-
dito que o trabalho do tradutor é soli-
mento e da conclusão. Há tradutores
tário, o que até certo ponto é verdade:
que preferem usar seu rascunho de
leitura, estudo, levantamento termino-
vídeo como guia. No caso de tradu-
lógico, escolha de termos para equiva-
tores ouvintes, há ainda quem prefira
lência de sentido entre a língua fonte e
usar, além do texto escrito, um áudio
língua de chegada, mapeamento e tex-
do mapeamento do texto ou das glo-
to para uso no teleprompter são tarefas
sas com a própria voz para orientá-
desenvolvidas por um tradutor, no caso
-los na gravação.
o que atuará no texto final em vídeo. No
necessário para tradução devem ser res- filmagem do texto final, com a presença
52 R E V I S TA A R Q U E I R O
contribui para clareza das informações, importante função do tradutor, agora
uso adequado do espaço ao apontar os atuando como revisor. Como em qual-
referentes etc. Evita também o retraba- quer texto, a revisão deve ser feita por
lho de gravar novamente longos trechos outro profissional, e não pelo próprio
por algum deslize que o tradutor-ator tradutor ou autor do texto. Então, o ter-
perceberia apenas ao final da gravação. ceiro membro da equipe envolvido no
O supervisor assume, de certa forma, a projeto assume o posto durante a edi-
função de diretor quando a gravação do ção do texto. Além de apoiar o editor na
texto envolve interação e/ou referências organização das sequências gravadas,
às legendas, aos grafismos ou às anima- ou em pontos em que serão utilizadas
ções por parte do ator (Figura 2). legendas ou outros recursos, o revisor
Para tanto, é necessário que tradu- estará atento à sinalização e se algum
tor-ator e tradutor-supervisor estejam erro passou desapercebido pelos cole-
alinhados, façam acordos prévios e es- gas. Primeiro, a revisão é feita por cote-
quematizem juntos a dinâmica da gra- jo com o texto fonte e, depois, na inser-
vação das cenas. Nessa etapa também ção de todas as legendas, grafismos ou
é feita uma primeira revisão, ou revi- outros recursos. O revisor fará a revisão
são imediata por parte do tradutor que como leitor, atestando a fluidez textual,
apresenta e o que supervisiona para uma vez que a equivalência de conteú-
apontar possíveis pontos de correção do já foi verificada.
ou necessidade de regravação. Por fim, tal trabalho em equipe é o
Na etapa pós-tradução é realiza- que promove a qualidade do produto fi-
da a revisão final (veja Figura 3), outra nal entregue (veja Figuras 4-6).
54 R E V I S TA A R Q U E I R O
possível mensurar. A complexidade do próprio com equipamentos modernos
conteúdo e a competência referencial, e exercem diversas funções correla-
ou falta dela, influenciam muito mais cionadas às práticas tradutórias, como
no tempo necessário para a tradução prestar consultoria técnica, participar
do que o número de páginas que o tex- na roteirização dos textos a serem tra-
to apresenta. Já para o produto, o texto duzidos e validar traduções realizadas
traduzido é mais fácil de ser definido, por tradutores convidados. Todas essas
uma lauda possivelmente resultará em facetas de trabalho são definidas e dis-
um vídeo/texto em Libras com cerca de tribuídas entre os membros da equipe,
cinco minutos. Tal base de referência é o que exige reuniões periódicas para or-
importante na previsão de tempo de ganização do trabalho e disposição para
vídeo do texto solicitado. Outra impor- ajustes sempre que necessário.
tante constatação é que gravar duran- Frequentemente, a equipe de tradu-
te muitas horas seguidas é contrapro- ção do NEO/INES é consultada por tra-
ducente, pois, com o desgaste físico dutores de outras instituições que tra-
e mental, erros, cortes e interrupções balham com tradução de ou para Libras
são mais frequentes, além de a postu- sobre a implementação do seu processo,
ra e as expressões faciais/corporais do uma vez que o mais comum é a atuação
tradutor-ator nitidamente decaírem. O em sala de aula com intérpretes educa-
melhor tem sido agendar as filmagens cionais e porque a bibliografia sobre o
para o início das atividades do dia e assunto ainda é escassa, como relatam
respeitar os próprios limites no que diz Souza e Vital:
respeito ao tempo de gravação.
Visto que a proposta do NEO, local Foram encontradas poucas pesquisas
de trabalho da equipe aqui descrita, é registradas e, por essa razão, fizeram-
-se necessárias outras estratégias para
priorizar a Língua de Sinais nas tradu- coleta de informações, incluindo visitas
ções, por vezes são necessários ajustes técnicas a outras instituições – como o
no texto fonte por questões métricas, INES (Instituto Nacional de Educação
de Surdos) – além de contato com pro-
ou adequações para legendas e locu-
fissionais que já desenvolvessem esse
ção, tarefas que também são designa- tipo de trabalho e, por fim, adaptação
das aos tradutores. à realidade e necessidades da UFRJ e
do departamento de Letras- Libras
O trabalho atualmente desenvolvido
para a realização destas traduções.
pelo NEO tem permitido que a equipe (2018, p. 113)
exerça sua função nos projetos de tra-
dução de modo mais adequado, ainda Assim, é possível perceber que mes-
que não seja o ideal almejado. Os pro- mo os profissionais com formação es-
fissionais contam com um fluxo previa- pecífica em tradução estão diante do
mente definido de trabalho, têm estúdio desafio da teoria à prática e do esforço
56 R E V I S TA A R Q U E I R O
AS FACES DA ATUAÇÃO
DO TRADUTOR-
INTÉRPRETE
DE LIBRAS E PORTUGUÊS
NO CAMPO
EDUCACIONAL
58 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
Recentemente vem ocorrendo uma
amplitude de ofertas de vagas para
TILSP, por intermédio de concursos pú-
blicos, em diversas instituições públicas
e educacionais de municípios do Rio de
Janeiro para atender à legislação fede-
RESUMO ral que determina que alunos surdos te-
nham sua instrução oferecida em Libras.
Este artigo apresenta algumas faces da
realidade profissional dos Tradutores-
Muitos desses alunos chegam à escola
-Intérpretes de Língua de Sinais e Lín- sem a primeira língua (L1) estruturada e
gua Portuguesa (TILSP) que atuam na os profissionais intérpretes com forma-
área educacional. O objetivo é analisar
ção em docência acabam “assumindo”
os desdobramentos compatíveis com
a pesquisa realizada na dissertação de essa tarefa de ensinar Libras.
mestrado da autora. Investiga a recente Instituições de ensino e suas res-
atuação de tradutores-intérpretes de Li- pectivas prefeituras devem construir
bras e Língua Portuguesa em instituições
públicas educacionais de municípios do
uma estrutura geral que possibilite a
estado do Rio de Janeiro por meio de implementação de um sistema de en-
uma pesquisa bibliográfica. Para dialo- sino bilíngue que preveja a presença
gar com autores de relevância na área
de professores de Libras surdos, pro-
de tradução e interpretação, foram sele-
cionados textos de Albres (2015) e Lacer- fessores regentes e\ou profissionais do
da e Santos (2014), entre outros. Sobre Atendimento Educacional Especializado
as questões relacionadas à proposta de (AEE) com fluência em Libras; um cur-
educação inclusiva e educação bilíngue,
elegeu-se Lodi e Lacerda (2009), Fernan-
rículo bilíngue que contemple a Libras
des (2006), entre outros. Nas discussões como língua de instrução nas séries ini-
do professor-intérprete de Libras, op- ciais (1o ao 5o ano de escolaridade) e a
tou-se por Sales (2014), Martins (2013),
Língua Portuguesa sendo concomitan-
Kelman (2008) e Rosa (2006). Nas ques-
tões interculturais e políticas linguísticas, temente trabalhada na perspectiva de
selecionou-se Canen (2012). segunda língua (L2).
60 R E V I S TA A R Q U E I R O
algumas instituições representativas da profissional dos TILSPs que atuam nas
comunidade surda. Lacerda (2010) mos- mais diversas áreas.
tra que, em 2005, surgiram os primeiros Nos últimos anos, os TILSPs conquista-
cursos de Ensino Superior para forma- ram espaço no serviço público por meio
ção de TILSP. de processos seletivos para prefeituras,
O Decreto no 5.626/05 aponta a re- institutos, universidades e escolas de en-
levância da formação dos tradutores- sino regular. “Tenhamos intérpretes-mili-
-intérpretes em nível superior como tantes e não apenas intérpretes-profetas
requisito para o exercício da profissão, que tomados pelo cotidiano e suas des-
entretanto a lei que regulamenta a atua- venturas criam o novo e resistem a mes-
ção dos TILSPs (Lei no 12.319/10) deter- midade e não apenas professam o que
mina a certificação em nível médio e a deve ser feito” (MARTINS, 2016, p. 159).
formação continuada por meio de cur- Ou seja, o perfil dos profissionais TILSPs
sos de educação profissional, cursos téc- ainda está em construção.
nicos, cursos de extensão universitária e Lacerda e Santos (2014) evidenciam
cursos de formação continuada promo- que as atividades dos intérpretes devem
vidos por instituições de Ensino Superior ocorrer em um ambiente plural, bilíngue,
e instituições credenciadas por secreta- e dependem muito do modo como o
rias de educação ou por organizações professor atua na sala de aula, se há ou
da sociedade civil representativas da não planejamento de aulas e se organiza
comunidade surda. O art. 18, da Lei no ou não sua aula com recursos visuais, se
10.098/00, já estabelecia a obrigação de “trabalha ativamente no processo de en-
o poder público cuidar da formação de sino-aprendizagem, não só interpretan-
intérpretes de Língua de Sinais. do conteúdos como também se envol-
Leis e documentos legais que orien- vendo nos modos de torná-los acessíveis
tam o desempenho das atividades la- ao aluno, conversando e trocando in-
borais dos TILSPs reafirmam implicita- formações com o professor” (LACERDA;
mente a necessidade de competência SANTOS, 2014, p. 207). Porém, sabemos
e proficiência. A Lei no 12.319/10 regu- que, de modo geral, esse modelo de
lamentou a profissão do tradutor-in- educação bilíngue ainda não é uma rea-
térprete de Libras em menos de uma lidade em grande parte das instituições
década, permitindo a partir desse reco- públicas de ensino que atendem alunos
nhecimento legal a amplitude de pos- surdos.
sibilidades de inserção profissional dos A maioria dos professores do ensino
TILSPs em processos seletivos, concur- básico que lecionam aos alunos surdos
sos públicos e em vínculos empregatí- não domina a Língua de Sinais. Esse fato
cios formais. Nesse sentido, torna-se descaracteriza a proposta de construção
necessário problematizar a identidade de uma educação bilíngue idealizada pela
62 R E V I S TA A R Q U E I R O
cerca de 16 denominações para o car- superior para formação de TILS. Com a
publicação do Decreto 5.626, ficam de-
go mencionado. A autora esclarece que
terminados oficialmente níveis de for-
a atuação de profissionais TILSPs no mação e atribuições. (p. 133)
campo da educação é recente. No en-
tanto, precisam se adequar ao modelo A autora ressalta a importância e a
de ensino adotado pela instituição na obrigatoriedade legal da presença des-
qual estiverem inseridos. Conforme Lodi se profissional em sala de aula com alu-
e Lacerda (2009) afirmam, a “Educação nos surdos incluídos, esclarecendo que, a
Inclusiva Bilíngue” parte da perspectiva partir do Decreto no 5.626/05, houve uma
bilíngue de organizar a escola com base urgência de formação dos TILSPs para
no princípio da circulação efetiva da que estivessem capacitados de acordo
Libras em todo o espaço escolar. com as necessidades e as demandas do
Dentre as várias funções e atribui- espaço em que iriam atuar. Assim, é rele-
ções exercidas pelos tradutores e in- vante analisar a formação mínima neces-
térpretes em sua prática profissional, sária para o cargo em processos seletivos
é necessário conhecer suas demandas nos municípios do Rio de Janeiro e, com
dentro do campo educacional. Deve- isso, verificar em que área é preciso ter
se considerar a relevância da presença formação e quais são os requisitos para a
e da atuação do profissional, ou ainda, atuação, visto que a regulamentação da
a atuação do intérprete com formação profissão é bem recente. Deve-se criar
em docência na interpretação dos con- também outras possibilidades de cursos
teúdos apresentados em sala de aula. de formação técnica em que se trabalhe
Esses profissionais são fundamentais não só a teoria, mas também a prática,
no processo educacional. De acordo habilitando-os para atuar em tradução e
com Lacerda (2010): interpretação.
Belém (2010) salienta que a nomen-
Entre os profissionais que atuam na efe-
tivação de práticas de educação inclu-
clatura “intérprete educacional” também
siva, encontra-se o tradutor-intérprete é muito utilizada para apresentar o papel
de língua de sinais (Libras/Português) diferenciado de um tradutor-intérprete
(TILS). Profissional previsto no Decreto
com formação em docência, atuando de
5.626, é responsável pela acessibilida-
de linguística dos alunos surdos que maneira diferenciada e ativa no processo
frequentam parte da Educação Bási- de ensino-aprendizagem experenciado
ca e Ensino Superior, interpretando do
pelos alunos surdos. Sobre as questões
Português para a Língua Brasileira de
Sinais (Libras) e vice-versa. A demanda que envolvem a atuação dos professo-
por este profissional é crescente, já que res-intérpretes, cabe destacar que:
é crescente também o número de sur-
dos matriculados em busca de conhe- No ensino fundamental da rede pública,
cimento mediado pela Libras. Em 2005, a função de intérprete educacional se
surgem os primeiros cursos em nível confunde com a do próprio professor.
64 R E V I S TA A R Q U E I R O
Ele não se encarregará de ocupar o lu- o ensino. O professor-intérprete, além
gar ou substituir o trabalho do profes- de realizar essas intervenções, também
sor regente. Mesmo a fronteira sendo é um professor da instituição, apesar
tênue, isso não impede o estabeleci- de não ser o professor regente. Poderá
mento de um trabalho em parceria. Por atuar em parceria mais estreita com os
outro lado, o professor-intérprete não professores das disciplinas e tem um
precisaria ficar restrito a uma neutra- respaldo maior para esclarecer conteú-
lidade em relação ao ensino dos con- dos ligados principalmente a questões
teúdos. Sua formação e parceria com o da educação de surdos e da área de sua
professor poderia permitir acordar cole- formação e atuação.
tivamente as negociações cabíveis para As discussões teóricas de autores da
que realize a tradução das aulas minis- área de tradução e interpretação con-
tradas pelo professor regente e tenha tribuem para a construção de uma re-
autonomia de ensinar e contextualizar flexão aprofundada sobre o campo de
os conteúdos necessários. atuação dos profissionais que realizam
Alguns questionamentos a respeito a mediação linguística da Libras para a
dos tradutores e intérpretes de Libras Língua Portuguesa e desta para a Língua
podem contribuir para as reflexões teó- de Sinais.
ricas apresentadas até o momento: Qual
o tipo de formação acadêmica e profis- 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
sional que o intérprete deve ter para Os apontamentos e as considera-
atuar na área educacional? Qual o tem- ções discutidas neste artigo evidenciam
po mínimo de experiência profissional a atual conjuntura da atuação de tradu-
que possibilitará uma melhor atuação tores-intérpretes, intérpretes educacio-
no campo da educação de surdos? Quais nais e professores-intérpretes de Libras/
as reais atribuições exigidas e desempe- Língua Portuguesa, demonstrando o
nhadas pelo profissional com a dupla momento crucial e desafiador de cria-
formação de professor e intérprete? ção de documentos e regimentos inter-
Há fronteiras que delimitam as atri- nos que delimitem a função, o cargo e as
buições do intérprete educacional e do atribuições compatíveis com o município
professor-intérprete. Ambos os profis- e a instituição de ensino em que atuam.
sionais precisam estar comprometidos O interesse nessa investigação decorre
em participar ativamente do contexto do recente surgimento de algumas esco-
educacional e pedagógico, porém com las polos em surdez no estado do Rio de
algumas distinções. O intérprete educa- Janeiro, como também em alguns outros
cional realiza intervenções e mediações estados brasileiros.
tradutórias e pedagógicas, mas não é Ao analisar especificamente a no-
um docente, e sua função não perpassa menclatura de professor-intérprete,
66 R E V I S TA A R Q U E I R O
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68 R E V I S TA A R Q U E I R O
CONTRIBUIÇÃO
DA TEORIA DAS
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS PARA O
ESTUDO DA IDENTIDADE
PROFISSIONAL
DOS TRADUTORES/
INTÉRPRETES DE LIBRAS
VANESSA MANDRIOLA
70 R E V I S TA A R Q U E I R O
INTRODUÇÃO
Em consonância com a abordagem
estrutural da Teoria das Representações
Sociais (TRS), este artigo prevê a conso-
VANESSA MANDRIOLA
Mestranda em Educação, Instituto Nacional de Educação de Surdos,
INES; tradutora Intérprete de Libras. E-mail: vanessamandriola@
gmail.com
72 R E V I S TA A R Q U E I R O
surgem a partir da necessidade de con- mais especificamente em TRS, pois per-
frontar, compreender ou administrar a cebe-se a existência de uma carência na
vida em sociedade. literatura sobre o assunto ao que se re-
Segundo Santos (2006), há uma fra- fere à prática profissional do intérprete
gilização na formação da identidade de Libras, pois não encontramos nenhum
profissional dos TILSPs. Essa fragilidade artigo que mencionasse a TRS e as prá-
aguçou o olhar desta autora para a refle- ticas de trabalho dos TILSP nas plata-
xão sobre a construção dessa profissão. formas pesquisadas. Como mencionado
Como ela ocorre? E qual a representação anteriormente, faz parte da pretensão
social desse profissional em seu espaço deste artigo contribuir para o desen-
coletivo com seus pares? O que se es- volvimento profissional e os estudos da
pera é que este trabalho contribua para identidade. A escolha da TRS justifica-se
a produção de conhecimentos em uma pela relevância teórica acerca das refle-
área pouco explorada e, destarte, esta- xões relacionadas aos fenômenos sociais
beleça desafios a serem alcançados no constituídas pelos grupos e pelos estu-
conhecimento da identidade dos TILSPs. dos fortemente consolidados no que se
A temática sobre a formação e a pro- refere à identificação a partir da prática.
fissionalização do TILSP vem sendo dis- Diante disso, foi realizada uma revi-
cutida paulatinamente na área de políti- são de literatura em artigos, disserta-
cas de inclusão, conforme Santos (2006) ções e teses que tratavam da temática.
e Costa (2017). Quando se aborda as Observou-se, através dos títulos e dos
questões referentes ao campo da surdez resumos, quais temas aproximavam-se
ou das pessoas surdas de forma cultural mais do objeto deste texto. Buscou-se
é possível perceber que muitos modelos nas bases de dados de publicações aca-
de educação são vislumbrados dentro dêmicas eletrônicas, utilizando os ter-
de perspectivas de políticas públicas di- mos: representações sociais e surdez;
versas, e nas pesquisas da área de lin- representações sociais de profissão;
guística. No entanto, não há pesquisas representações sociais e identidade.
alicerçadas ao tema da identidade pro- Foram encontrados entre os materiais
fissional dos TILSPs ancoradas na con- disponíveis um grande número de pu-
tribuição da TRS; então, nesse ínterim, blicações, contudo há poucos artigos
a autora deste artigo pretende convidar nas bases que apresentam o tema re-
outros pensadores para refletir sobre a presentações sociais e profissão. Não
importância da psicologia social referen- foram encontrados artigos que discor-
te à formação de novas identidades, se- ressem sobre a profissão dos TILSPs.
jam sociais ou culturais. Alguns mais específicos e próximos do
Acredita-se que esse tema possa ser objetivo deste artigo tratam em seus
explorado no campo da psicologia social, títulos e resumos sobre surdos, surdez
74 R E V I S TA A R Q U E I R O
Congresso de Milão, a Declaração dos das comunidades surdas brasileiras; o
Direitos Humanos, as leis e os decretos, Decreto no 5.626/05, que regulamenta a
além de diretrizes que regulamentam a lei supracitada, determinando a forma-
promoção e a acessibilidade das pes- ção profissional de intérpretes de Libras
soas surdas. em favor do atendimento de pessoas
surdas e propiciando a inclusão social
BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DA dos surdos em espaços públicos; e a
EDUCAÇÃO DE SURDOS NO Lei no 13.146/15, que institui a inclusão
BRASIL E A LÍNGUA DE SINAIS de pessoas com deficiência, garantindo
Esse resgate político da história da condições de igualdade, visando à inclu-
educação de surdos no Brasil traz marcos são social e à cidadania.
de alguns momentos em que os surdos Destaca-se também o artigo 1o
viviam à margem da sociedade, sem seus da Declaração Universal dos Direitos
direitos garantidos por não se comunica- Humanos, de 1948, que uniu os povos
rem oralmente (MOURA, 2000). do mundo todo, reconhecendo que
Atualmente a Libras tem outra estru- “todos os seres humanos nascem li-
tura e, como toda língua, também so- vres e iguais em dignidade e em direi-
freu alterações com o tempo. Contudo, tos. Dotados de razão e de consciência,
tornou-se uma língua oficial brasileira devem agir uns para com os outros em
e vem ganhado espaço na sociedade espírito de fraternidade” (BRASIL, 2009).
por conta dos movimentos surdos que A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
lutam por seus direitos. Essa luta vem Nacional (LDBEN) (BRASIL, 1996) reforça
resistindo por anos e caracterizando o o direito ao Atendimento Educacional
grupo de surdos como cultural e de lín- Especializado (AEE), especialmente, no
gua própria, o qual sofre a opressão da que se refere ao seu artigo 58, o qual
sociedade majoritária: falantes da língua discorre que “essa modalidade de edu-
portuguesa que impõem um padrão de cação escolar deve ser oferecida, prefe-
cidadania a partir de seu código linguís- rencialmente, na rede regular de ensino
tico, sem levar em conta as especifici- para os alunos portadores de necessi-
dades que estão além da língua, mas dades especiais”. Deve-se ressaltar que
imbricadas em sua relação com o meio promover a inclusão não apenas significa
(LANE, 1992). permitir que o aluno especial adentre em
Algumas leis são fundamentais para uma escola regular, mas, principalmente,
contextualizar politicamente o reconhe- garantir que lhe sejam dadas condições
cimento linguístico em âmbito nacio- de aprendizagem, desenvolvimento so-
nal implementadas no século XXI: a Lei cial, cognitivo e afetivo, por ele ser sujei-
no 10.436/02, que reconhece a Libras to de direitos e cidadão (CURY, 1999). As
como meio de comunicação e expressão escolas brasileiras precisam se adequar
76 R E V I S TA A R Q U E I R O
intérprete (BRASIL, 2004). Todavia, assim a compreensão do que foi dito e em
como dizer na língua alvo; saber per-
como acontece em algumas profissões,
ceber os sentidos (múltiplos) expressos
as atividades de profissionais intérpre- nos discursos. (LACERDA, 2010)
tes de Libras precisam ser reconhecidas
por seus autores, pela sociedade e pelos Nos anos 2000, após o reconhecimen-
seus pares para garantir sua legitimida- to legal da Língua de Sinais, à medida
de laborativa. Portanto, para que esse que os surdos foram conquistando sua
processo de legitimidade profissional se cidadania e participando de discussões
estruture, e sua identidade profissional da pauta social, possibilidades para o
seja validada socialmente e então cienti- processo de reconhecimento da Língua
1
CODA é uma sigla da lín-
ficamente, é preciso desmistificar o sen- de Sinais foram se abrindo novos cam- gua inglesa para Children
of Deaf Adults, ou filhos
de pais surdos/filhos de
so comum de que qualquer um que sai- pos de discussão. Consequentemente, surdos, utilizada interna-
cionalmente (QUADROS,
ba Libras é intérprete; do mesmo modo, instituições foram obrigadas a garantir 2007).
nem todos que falam outros idiomas po- acessibilidade através de um intérprete
dem ser tradutores ou intérpretes sem de Libras. No Brasil, o Programa Nacional
uma formação específica. para a Certificação de Proficiência no Uso
Conforme Quadros (2004), a identida- e Ensino da Libras (Prolibras) foi instituí-
de dos TILSPs existe, mas não está bem do em 2006 pelo Ministério da Educação
definida. Seu reconhecimento e sua pro- a partir do Decreto no 5.626/05, ainda
fissionalização têm origem religiosa, ini- vigente. Pessoas surdas e ouvintes que
ciando na década de 1980, em eventos já tinham concluído o Ensino Médio
culturais, envolvendo relações de famí- poderiam se submeter ao exame. Não
lia e caridade e oriundos de processos havia, como ainda não há, exigência de
informais, mas contribuem e agregam Ensino Superior.
com suas “novas” práticas em algumas A partir dessa certificação o intérprete
situações voluntárias e de convivência ficaria habilitado para atuar na tradução
com surdos. Trata-se de uma profissão, e na interpretação da Libras ou, depen-
como a Enfermagem, que começou in- dendo do exame, no uso cotidiano e
formalmente, ou seja, sem base científi- no ensino, mesmo sem curso superior.
ca. Lacerda (2010) apresenta a seguinte Antes do Prolibras, a figura do TILSP
reflexão nesse sentido: sempre esteve presente na comunidade
surda, representada por filhos de surdos
O trabalho de interpretação não pode (CODAs)1 ou por pessoas que tinham
ser visto, apenas, como um trabalho lin-
guístico. É necessário que se considere a algum conhecimento na língua e que
esfera cultural e social na qual o discur- pudessem exercer o papel de mediador
so está sendo enunciado, dos diferentes na comunicação entre pessoas surdas e
usos da linguagem nas diferentes es-
feras de atividade humana. Mobilizado
ouvintes, caracterizando os intérpretes
pela cadeia enunciativa, contribui para como um grupo que transita pela cultura
78 R E V I S TA A R Q U E I R O
La Psychanalyse, son image, son public, e tornando-se uma das principais teo-
foi publicada em 1961, na França, dando rias da psicologia social, como em Sousa
início a investigações em psicologia so- (2002), Oliveira (2000) e Campos (2003).
cial. Moscovici (1961-2012), indica que in- Sua estrutura conceitual e flexível possi-
divíduos e grupos constroem a partir de bilita o entendimento dos grupos sociais,
ações coletivas, imbuídas de “processos sua criação, sua transformação, sua mo-
psicossociais”, representações mentais vimentação e como se comunicam com a
e psicológicas, “influenciadas” por prá- realidade. (GUIMELLI 2003 p.136) chama
ticas, palavras ou imagens. Essas ações de “esquema cognitivo” as práticas co-
ocorrem por intermédio da identificação muns entre um grupo que determinam
de um objeto comum aos sujeitos, após as mudanças que ocorrem por intermé-
a adesão e a incorporação dos conhe- dio da opinião de outro grupo.
cimentos sociais mediados pelo grupo. A TRS estuda as representações que
Mediante essa ação, os sujeitos cons- dão sentido a certos fatos, fenômenos
troem uma ideia simbólica, formando ou ações executadas individual ou social-
uma representação social. mente, geradas em um sistema de comu-
Moscovici discorre em sua obra so- nicação de um grupo sobre determinado
bre a onde descreve a passagem do fato, sujeito ou objeto. Nessa teoria, as
conhecimento científico para o senso práticas vivenciadas no contexto social
comum. Ou seja, a representação so- permitem a análise, a avaliação e a justi-
cial que o sujeito tem a partir das rela- ficativa de certas ações na relação entre
ções e/ou de algumas práticas “comuns” o sujeito e o objeto dentro de um grupo.
que podem estar relacionadas com Campos (2005) elucida que são as
algum fato comprovado cientificamente, instituições que marcam o espaço de
consolidando a relação sujeito-objeto. emergência e de poder dos discursos,
As características dessa relação podem ou seja, o autor apresenta alguns su-
influenciar a transformação do grupo e jeitos das práticas antigas que podem
sua representação ante a sociedade. O influenciar no comportamento de um
termo “representações sociais” nos re- indivíduo, mediante sua autoridade re-
mete tanto a “um conjunto de fenôme- produzida pelas famílias, pelas religiões,
nos quanto ao conceito que os engloba pelas escolas e pela mídia. Ainda sobre
à teoria construída para explicá-las” (SÁ a teoria, Abric (1994) defende que “não
2015, p. 183). existe realidade objetiva a priori, mas
A TRS tem orientado e norteado, toda realidade é representada, quer di-
durante cinco décadas, estudos a res- zer, apropriada pelo indivíduo ou pelo
peito de comportamentos, saberes e grupo, reconstruída no seu sistema cog-
práticas sociais dos grupos sociais, con- nitivo” (p. 12). E para que exista a repre-
tribuindo para diversas áreas de estudo sentação social em um grupo, Sá (2015)
80 R E V I S TA A R Q U E I R O
expressões do “eu” em diferentes perío- determinado fato só é possível por in-
dos e lugares históricos. Do ponto de vis- tervenções das crenças que temos sobre
ta geral, os autores apresentam, de ma- nós e sobre os outros. Por esse motivo,
neira objetiva, os processos implícitos ao é importante discutir a prática do TILSP
estabelecimento da identidade, dando à luz dessa temática. Observa-se através
importância ao tema na psicologia social da teoria estrutural de Abric como essa
e destacando a noção de representação prática se consolida; quais são as seme-
como uma forma de conhecimento do lhanças e diferenças que compõem esse
“eu” diante do “outro”, o que interfere na grupo, e quais as dificuldades encontra-
intuição de identidade. Igualmente, po- das em relação as pessoas que não fa-
de-se pensar que o homem só é sujeito zem parte dele.
pela relação com os outros e, por con- Assim, a autora ratifica a importân-
sequência, o conhecimento de si abre a cia da Teoria das Representações Sociais
via ao conhecimento do outro (BRAGA; (TRS) para o reconhecimento de novas
CAMPOS, 2016). práticas geradas coletivamente, confor-
Deschamps e Moliner (2009) reforçam me o estudo realizado para identificar a
que os aspectos sociológicos e psicoló- prática dos TILSPs, que surgiram da in-
gicos da identidade social e pessoal são formalidade, de atendimentos caridosos,
marcados pelo senso de semelhança e por intermédio de instituições religiosas
diferença, conferindo um caráter dinâ- ou através dos filhos de surdos, e hoje
mico e subjetivo à identidade. Portanto, lutam pelo reconhecimento de sua cate-
o conhecimento que produzimos sobre goria profissional.
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