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Rodrigues, D. 2015. Sucessão ecológica existe? UFRJ, Departamento de Ecologia.

Disponível em
http://graduacao.cederj.edu.br/ava/login/index.php

SUCESSÃO ECOLÓGICA EXISTE?


Daniela Rodrigues
Departamento de Ecologia, UFRJ

Sucessão ecológica é o fenômeno que diz respeito ao surgimento, após um distúrbio, de espécies vegetais que
colonizam uma dada área, seguido do seu estabelecimento e da dinâmica correspondente. Como distúrbio, podemos
considerar desde pegadas de mamíferos de grande porte a lavas oriundas de erupções vulcânicas. Após um dado
distúrbio, tradicionalmente se considerava que o substrato recém-formado / há muito não colonizado será habitado
inicialmente por plantas pioneiras, seguidas da vegetação intermediária (ou seral) e, finalmente, da vegetação clímax.
Contudo, a seleção natural não infere sobre o passado, atua apenas no presente e não prevê o futuro. Com base nesta
importante assertiva, podemos realmente falar em uma sucessão previsível de plantas no decorrer do tempo? Distúrbios
de diversas naturezas e magnitudes podem estar interrompendo um caminho supostamente tido como previsível. Como
consequência, alguns pesquisadores adotam o termo “dinâmica temporal da vegetação” ao invés de “sucessão
ecológica”.
Primeiramente, é importante considerar a importante diferença existente entre sucessão primária e sucessão
secundária: a existência de um legado biológico. Uma vez que o substrato é recém-formado ou exposto, ou seja,
desprovido de um banco de sementes e / ou de raízes, o fenômeno a ocorrer é a sucessão primária. Sucessão primária,
logo, ocorre em afloramentos rochosos, lavas solidificadas após eventos vulcânicos, crateras decorrentes da queda de
meteoritos, substratos expostos via derretimento de geleiras, formação de dunas, cascos de navios abandonados, entre
outros. Em contrapartida, a sucessão secundária ocorre em áreas onde há legado de vegetação prévia (matéria orgânica
viva, como sementes e raízes) e solo já existente (note que “solo” não existe nos casos de sucessão primária), como em
áreas campestres ou florestais que sofrem incêndios, vendavais, quedas de árvores por fatores diversos incluindo
doenças, pastoreio, ou em áreas agrícolas abandonadas. Por esta razão, o termo “regeneração” é por vezes utilizado
como sinônimo de eventos de sucessão secundária. É importante notar que apenas a matéria orgânica morta (folhas em
decomposição, etc) ou dissolvida não é capaz de gerar nenhum tipo de sucessão.
O distúrbio é um fator central em se tratando do estudo da dinâmica das vegetações no tempo, uma vez que
consiste em um evento que impacta negativamente a biota existente em uma dada área. Os distúrbios podem ser tanto
naturais (ou seja, eventos gerados sem a interferência antrópica), quanto antrópicos, cujos impactos podem variar em
termos de intensidade em ambos os casos. A literatura também aborda distúrbios internos (autogênicos) ou externos
(alogênicos) à área que está passando pelo processo de sucessão, bem como ao sistema biológico correspondente.
O fenômeno da sucessão ou da dinâmica temporal da vegetação é, via de regra, focado nas plantas. Contudo, é
importante considerar a fauna interagente destas comunidades, a qual acompanha as espécies que passam a se
estabelecer em dadas faixas de tempo. É importante refletir, também, na real existência de uma vegetação clímax nas
comunidades vegetais. A vegetação que se desenvolve de acordo com o “esperado” até um dado ponto (certo rol de
espécies pioneiras, seguido de certo rol de espécies intermediárias) chega, necessariamente, a um estado clímax? Em
caso positivo, este é mediado pelo solo (clímax edáfico), pelo clima (clímax climático) ou por ambos (fenômeno
possível)? A existência de uma vegetação clímax tem sido questionada pelos ecólogos vegetais atuais, visto que nem
sempre a vegetação potencial em termos de solo e / ou clima é a vegetação “avançada” constatada em uma dada área.

Bibliografia Consultada:
a
Begon, M., Harper, J.L. & Townsend, C.R. 2007. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4 ed. Porto Alegre, Artmed
Editora. 752p.

Pillar, V.D. 1994. Dinâmica temporal da vegetação. Departamento de Botânica, UFRGS, Porto Alegre. Disponível em
http://ecoqua.ecologia.ufrgs.br/publication.html

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