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Autoras: Ana Carolina Ferreira Porto e Izabela Romanha V.

Oliveira
Turma: GEO-06
Professor Orientador: Weverton Pereira do Sacramento

A Síndrome de Tourette e a Importância da Inclusão Escolar

Contexto Histórico: Síndrome de Tourette

A primeira descrição sobre a Síndrome de Tourette foi feita pelo médico francês
Jean Marie Itard em 1825, entretanto, só em 1884 essa patologia recebeu o nome
de George Gilles de la Tourette, que foi um interno de Charcot no Hospital de la
Salpêtrière, onde descreveu oito casos de tiques múltiplos, incluindo o uso
involuntário ou inapropriado de palavras obscenas (Coprolalia). Charcot acreditava
na existência de dois tipos de tiques, o neurológico, que é um tipo permanente, e o
histérico, que desaparecem com o tempo.
No final do século XIX e começo do século XX, com o início da psicanálise foram
desenvolvidas hipóteses a respeito da ST, e a partir disso, os estudos sobre a
síndrome de Tourette ganharam força.

Recentemente tem havido crescente interesse pela doença e vários estudos


vêm sendo desenvolvidos, alguns de natureza histórica – tentativa de
identificar personalidades famosas como portadores da Síndrome (Mozart,
um irmão de Tolstoy, e até mesmo Ana Freud) –, outros de natureza
neurológica e/ou psiquiátrica.Esse interesse deve-se ao fato de que a ST
tem se mostrado muito freqüente. (HOUNIE e PETRIBÚ, 1999, p. 51).

A síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques


múltiplos, motores ou vocais, tendo duração de, pelo menos, um ano, iniciando na
infância. Os tiques são classificados como simples e complexos, os primeiros
acontecem de forma rápida e repetidamente, chamados de involuntários. Já os
complexos, incluem a Ecocinese ou ecopraxia (imitação de gestos realizados por
outrem), e a Copropraxia (realização de gestos obscenos), ocorrendo de forma mais
lenta.
A ST é um distúrbio genético, de natureza neuropsiquiátrica, caracterizado
por fenômenos compulsivos, que, muitas vezes, resultam em uma série
repentina de múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais, durante,
pelo menos, um ano, tendo início antes dos 18 anos de idade (American
Psychiatry Association, 1994; World Health Organization, 2000; Peterson,
2001; Pauls, 2003 apud LOUREIRO et al., 2005, p. 219).

Possíveis Causas e Características da Síndrome de Tourette

As causas da síndrome de Tourette ainda não são conhecidas pela ciência, mas
está relacionada com fatores genéticos e psicológicos, sendo o estresse um
elemento marcante da ST.

Estes transtornos são conhecidos pela sua relação com o estresse:


exacerbação dos sintomas diante de eventos estressantes, não
necessariamente desagradáveis. Embora a maioria das formulações
psicodinâmicas elaboradas para explicar a ST tenham sido desacreditadas,
há associação entre o conteúdo dos tiques, seu início e os eventos
marcantes na vida das crianças portadoras de ST (HOUNIE e PETRIBÚ,
1999, p. 54).

Os sintomas incluem a presença de tiques motores múltiplos e vocais, definidos por


simples e complexos, sendo os simples os mais comuns. São manifestados de
diversas formas como: tossir, fungar ou limpar a garganta, repetir a fala dos outros,
falar palavrões, fazer gestos obscenos, pular, assobiar, mover a cabeça de um lado
para o outro, fazer caretas, dentre outros.

Diagnóstico da Síndrome de Tourette


O diagnóstico é constatado quando esses tiques ocorrem várias vezes ao dia,
quase todos os dias, ou de forma irregular por cerca de um ano. Certificando
também a ausência de outras condições médicas que definem os movimentos
involuntários e as vocalizações. Sendo assim, o diagnóstico da ST é feito pela
presença de sintomas, características e o contexto do surgimento desses sintomas,
destacando ainda que não existe teste de laboratório específico que comprove o
diagnóstico dessa síndrome, porém, exames como tomografia e análises
sanguíneas podem ser indicadores essenciais da ST.
… algumas características peculiares e o quadro clínico do paciente
auxiliam no diagnóstico conclusivo da ST, onde sintomas como: a presença
de múltiplos tiques motores e vocais, com início antes dos 18 anos de
idade, sem origem em nenhuma resposta fisiológica (por exemplo, uso de
estimulantes), com ocorrências diárias, estendendo-se por mais de um ano
e com comprometimento social, ocupacional e/ou emocional, tornam-se
decisivos para a definição do quadro patológico (Braunwald et al., 2002
apud LOUREIRO et al., 2005, p. 220).

Tratamentos e Doenças Relacionadas à Síndrome de Tourette

É importante salientar que antes de iniciar qualquer tipo de tratamento, deve-se


avaliar com cuidado os sintomas, e quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor
para o paciente, podendo reduzir ou evitar consequências maiores. Os tipos de
tratamento podem variar a cada portador da ST, sendo as principais utilizadas, a
farmacológica e a psicológica.
O tratamento psicológico inclui a orientação de pais e familiares ou pessoas
próximas do paciente, como os educadores nas escolas, sobre a doença, suas
características e como lidar com o paciente, cuidando para que ocorra o mínimo de
estigma possível. Quanto ao tratamento farmacológico, os medicamentos são
administrados em pequenas doses, aumentando de forma gradual quando
necessário, sendo utilizados para alívios e controle dos sintomas, já que
infelizmente até o momento essa síndrome não tem cura.

O uso de medicamentos ou outras técnicas podem trazer tanto benefícios


quanto efeitos colaterais e, portanto, a abordagem farmacológica deve ser
considerada somente quando os benefícios da intervenção forem
superiores aos efeitos adversos. Além disso, fatores psicológicos e sociais
podem influenciar na evolução da resposta terapêutica em pacientes com
ST (Sandor, 2003 apud LOUREIRO et al., 2005, p. 224).

Existem algumas outras doenças relacionadas com a síndrome de Tourette, como o


Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) por exemplo,
aproximadamente 50% das crianças e adolescentes com a síndrome de Tourette
tenham ligação com TDAH e 10% das crianças com TDAH apresentam tiques.
Questiona-se se o transtorno de ansiedade e depressão estariam ligados a essa
síndrome.
Devido ao fato de a ST não apresentar um sintoma único, mas um conjunto
de sinais e sintomas, a dificuldade no diagnóstico é evidente, quando se
compara esta patologia com outras relacionadas… Dependendo da equipe
de saúde que atende o paciente afetado pela ST, o seu diagnóstico pode
demorar muito,sendo os sintomas atribuídos comumente a algum
transtorno psiquiátrico. Esses diagnósticos demorados e/ou errôneos
podem submeter os pacientes a tratamentos desnecessários e
dispendiosos, antes de se definir propriamente a patologia e o
procedimento correto a ser realizado (LOUREIRO et al., 2005, p. 220).

Portanto, é válido enfatizar a gravidade dessa síndrome, uma vez que pode
comprometer grandemente o fator psicossocial, além de causar um intenso
sofrimento aos portadores e familiares. Destacando ainda, que se faz necessário
estudos mais aprofundados, visando diagnósticos mais precisos, como também
uma maior divulgação sobre a Síndrome de Tourette no espaço escolar e na
sociedade de modo geral.

Influência na Sexualidade e Gênero

A síndrome de tourette é mais comum em pessoas do gênero masculino, a


medicina ainda não consegue identificar o porquê deste fenômeno, já na
sexualidade, pode ou não causar influência nos pacientes, algumas pessoas com a
síndrome apresentam comportamentos sexuais influenciados diretamente pela
síndrome, podendo variar de acordo com grau e individualidade de cada portador.
Aos que não sofrem influência diretamente da síndrome, ainda assim, relatam
dificuldades em se relacionar sexualmente com outras pessoas. É possível citar
como as principais causas o preconceito em relação a comportamentos não
convencionais e as questões que englobam a síndrome de tourette, como o TOC e
a ansiedade, que podem se tornar motivos cruciais para o portador optar por não se
relacionar com outras pessoas.

O Papel da Escola na Inclusão do Discente Portador de Síndrome de


Tourette

É de conhecimento dos profissionais da educação que o ambiente escolar


precisa ser um espaço acolhedor, para que os estudantes se sintam confortáveis o
suficiente para passar pelo processo de aprendizagem. Grande parte desses
profissionais compadecem desta linha de raciocínio em teoria, no entanto, na prática
é perceptível a falta de conhecimento para lidar com alunos que possuem
necessidades especiais, principalmente aqueles portadores de síndromes,
transtornos, doenças ou deficiências pouco conhecidas.
A Declaração de Salamanca, documento elaborado na Conferência Mundial
sobre Educação Especial, na Espanha, em 1994, tem como principal objetivo
estabelecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas
educacionais em razão de buscar a inclusão social no ambiente escolar.
A Declaração de Salamanca (apud Brasil, 1994) tem como princípios básicos:

● Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a


oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem;
● Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades
de aprendizagem que são únicas;
● Sistemas educacionais deveriam ser definidos e programas educacionais
deveriam ser implementados no sentido de levar em conta a vasta
diversidade de tais características e necessidades;
● Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à
escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada
na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades;
● Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios
mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando-se
comunidades mais acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e
alcançando educação para todos; além disso, tais escolas que proveem uma
educação efetiva à maioria das crianças aprimoram a eficiência e, em última
instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional.

A declaração prevê a inclusão do estudante, e não o afastamento das


atividades, tão pouco do ambiente escolar, portanto, é papel da escola se adaptar
às necessidades dos educandos, fomentando a inclusão entre os alunos com o
intuito de deixar o estudante com necessidades especiais se sentirem confortáveis
em todos momentos e ambientes escolares.

O Perfil do Educando Portador de Síndrome de Tourette


Os portadores da síndrome de tourette apresentam comportamentos
compulsivos e involuntários, podendo ser tiques vocais ou motores. Os primeiros
sintomas surgem geralmente durante a infância. No ambiente escolar esses
sintomas podem gerar bastante desconforto para os portadores, já que existem
regras de comportamento pré estabelecidos antes da ingressão do estudante na
escola, muitas vezes essas regras são impossíveis de serem realizadas para
pessoas com síndrome de tourette, principalmente as que exigem silêncio e pouca
movimentação, pois a síndrome de tourette está muitas vezes atribulada a outras
questões psíquicas.
É importante mencionar que em 50% das crianças com PGT, a indicação de
um primeiro sinal de perturbação desenvolvimental é a Perturbação de
Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) caracterizada por uma
dificuldade acentuada em focalizar a atenção, presença de impulsividade e
uma regulação pobre da actividade motora (Ramalho, 2005).

Os tiques causados pela síndrome de tourette podem ser amenizados ou


impulsionados de acordo com as situações vividas pelo portador, a escola pode ser
considerada um ambiente bastante ambíguo para esses alunos. Visto que, se os
profissionais da educação e os colegas de classe se adaptarem às diferenças,
deixando de lado preconceitos e estranhamentos, a escola pode se tornar o
principal local de desenvolvimento desse estudante.

As crianças com Perturbação de Gilles de la Tourette (PGT), quando entram


formalmente na fase escolar, pela tipologia e sintomatologia desta
perturbação, nomeadamente em termos posturais, que se traduz em
dificuldades em permanecer sentado durante determinados períodos de
tempo, em obedecer a regras e a padrões comportamentais adequados - o
que acaba por resultar, normalmente, em dificuldades de relacionamento
com os pares e com as figuras significativas - são crianças em elevado risco
de virem a manifestar um rendimento escolar inferior ao esperado, daí que
uma intervenção adequada tende a diminuir ou mesmo erradicar as
problemáticas escolares associadas.(RAMALHO, 2008)
No entanto, caso toda a escola não se prontifique a compreender a
complexidade dos diferentes comportamentos, os estudantes que possuem
qualquer variação na conduta poderão desenvolver aversão ao ambiente escolar,
podendo gerar questões psicológicas nos educando, como a depressão infantil e o
descontrole da ansiedade, no caso de indivíduos com síndrome de tourette, além
das questões citadas, pode gerar o aumento no descontrole dos tiques.

Para Shaw et al.14, altos níveis de estresse podem funcionar como gatilhos
para o aumento da frequência e da gravidade dos tiques. A realização de
gestos obscenos e a fala excessiva de palavrões podem estar relacionadas
com o que, na ST, pode aparecer na forma dos tiques motores e vocais
complexos de copropraxia e coprolalia.

Possíveis Estratégias Metodológicas para inclusão de Portadores de


Tourette

É notável que os métodos educacionais mais clássicos não são compatíveis


para estudantes com comportamentos que se diferem do padrão socialmente
imposto, pois apresentam métodos educativos criados antes do descobrimento e
catalogagem de diversas síndromes, transtornos, doenças e deficiências. A falta de
atualização e estudo sobre temas como estes, pode ser responsável por
desfavorecer ou inibir o processo de aprendizagem de pessoas com necessidades
específicas, em relação aos demais estudantes. Portanto, o primeiro passo para
uma escola que consiga receber um aluno com síndrome de tourette é estudar
sobre o assunto e convocar todo o corpo docente a fazer o mesmo.

Em toda a intervenção educativa é importante que sejam envolvidos os


diversos agentes sócio-educativos, daí que para além do envolvimento dos
professores e/ou educadores é também importante que existam campanhas
de esclarecimento sobre a PGT com os funcionários, outrora esquecidos,
para que se possa desenvolver uma maior compreensão sobre a
perturbação. Isto pode ser feito através de campanhas de sensibilização e
de formação, em que é fundamental facultar informação, através, por
exemplo, de textos informativos, documentários, contacto com associações
que dão visibilidade a esta perturbação e acções de formação globais
(HOUNIE et al., 2006; MURRAY, 1978)

O processo de aprendizagem não ocorre somente no âmbito escolar, é


preciso realizá-lo em conjunto dos responsáveis legais da criança, principalmente
em casos como estes, onde muitas vezes a própria família não está preparada para
lidar com os sintomas da síndrome ou sabe lidar de forma mais prática com
sintomas, já que cada portador possui características específicas, sendo assim, a
relação entre escola e família precisa ser de ensinamentos mútuos, a fim de trazer
melhores condições de aprendizagem aos estudantes.

É também importante promover a participação activa dos pais no processo


de identificação e controlo dos tiques e, para isto, torna-se fundamental
fornecer aos pais um registo de auto-monitorização, tal como foi realizado
com os professores, que permita compreender a ocorrência e a
contextualização dos tiques manifestados e, consequentemente, a
confirmação do uso dos comportamentos competitivos trabalhados nas
sessões terapêuticas.(RAMALHO, 2008)

Durante as aulas é importante que o docente lide de forma natural com os tiques,
tentando intervir de maneira leve, e somente quando necessário. A síndrome de
tourette não necessariamente prejudica o desenvolvimento do indivíduo, portanto, é
possível trabalhar os mesmos temas que os demais alunos, porém com o cuidado
de respeitar o tempo do estudante, sempre evitando lidar com os tiques de forma
negativa. Cabe ao docente procurar trabalhar os conteúdos de maneira
compreensível e viável para os estudantes que não lidam com a pressão de forma
positiva, sendo também fundamental identificar como cada perfil de estudante tem
sua importância e valor para o processo de aprendizagem de todos.

Referências

BRASIL. MEC. Declaração de Salamanca. Brasília, 1994

SHAW R, Woo AH, Síndrome de Valo S. Tourette: uma cartilha para líderes
escolares. Liderança Principal. v.7, p.12-5 [citado em 9 de junho de 2011].
Disponível em http://www.nasponline.org/resources/principals/tourettesprimer.pdf.
RAMALHO, J. Processos de atenção controlados: um estudo exploratório nos
subtipos do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Educação,
Desenvolvimento e Diversidade, v. 8, não. 2, p.19-42, 2005.

RAMALHO, INTERVENÇÃO EDUCACIONAL EM DISTÚRBIOS GILLES DE LA


TOURETTE Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Set.-Dez. 2008, v.14, nº3.

MURRAY, T. Síndrome de Tourette: um TIC tratável. Revista CMA, v. 10, n. 118,


pág. 1407-1410, 1978

HOUNIE, Ana; PETRIBÚ, Kátia. Síndrome de Tourette - revisão bibliográfica e


relato de casos: Tourette’s Syndrome - bibliographic review and case reports: Rev
Bras Psiquiatr, 21 (1). Pernambuco: 1999.

LOUREIRO, N. I. V. et al., Tourette: por dentro da síndrome: Rev. Psiq. Clín. 32


(4). Rio de Janeiro: 2005

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