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AMÔNIA E NITRITO NA FORMAÇÃO DE BIOFLOCOS NO CULTIVO DE TILÁPIA-

DO-NILO

Vandernísia Tiane Nery de Oliveira, Mauricio Lopes de Grós, Pedro Ângelo Pereira, Débora Alves Simas, Iara Gomes
De Souza, Jamille Tayenne Estevão Silva, Felipe Shindy Aiura

Introdução
Bioflocos são partículas orgânicas sobre a qual se desenvolvem diversos organismos microscópicos (protozoários,
fungos, rotíferos, dentre outros microrganismos), e principalmente uma grande diversidade de bactérias heterotróficas,
que ficam em suspensão na água ou aderidas às paredes dos tanques de produção. O sistema de bioflocos (“biofloc
technology” – BTF) é caracterizado por nenhuma ou mínima renovação de água, e tem como princípio fundamental a
reciclagem dos nutrientes por meio da manutenção de uma alta relação carbono:nitrogênio da água (15-20:1)
(KUBTIZA [1]).
O acúmulo de fração nitrogenada proveniente da decomposição da matéria orgânica (excreção dos animais e resto
de ração) é intensificado devido ao aumento da densidade de estocagem desse sistema intensivo. Assim, torna-se
necessário a remoção e/ou assimilação destes compostos nitrogenados pelos microrganismos presentes no ambiente de
cultivo, pois mesmo em baixas concentrações podem ser prejudiciais aos organismos cultivados afetando sua
sobrevivência e crescimento (ALVES [2]).
O desenvolvimento de bactérias heterotróficas, e posteriormente autotróficas nitrificantes, é estimulada através da
mudança na relação carbono:nitrogênio. O carbono orgânico advindo da fertilização de fontes como o melaço da cana
de açúcar, farelo de trigo, arroz, farinha de mandioca, entre outros, irá estimular o rápido crescimento principalmente
dessas bactérias, que tem um importante papel na remoção do nitrogênio amoniacal. As bactérias autotróficas realizam
a oxidação da amônia a nitrito e posteriormente a nitrato, possuindo um crescimento mais lento que as bactérias
heterotróficas. (LARA [3]).
Deste modo, o objetivo foi avaliar a concentração de compostos nitrogenados (amônia e nitrito) durante o processo
inicial de formação de bioflocos.

Material e Métodos
O experimento foi desenvolvido no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Gorutuba da
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), situado em Nova Porteirinha-
MG.
Utilizou-se 20 caixas de polietileno com capacidade de 310 L, e foram preenchidas com o volume de 200 litros de
água. Em cada caixa foram distribuídos 50 tilápias-do-Nilo com peso inicial de 5 ± 0,5g, totalizando 1000 alevinos.
Os peixes foram alimentados duas vezes ao dia, às 10:00 e às 16:00 horas, com ração comercial farelada com 40%
de PB. A taxa de alimentação foi de 3% do peso vivo.
Foi adicionado 0,1 kg de sal comum (NaCl) as caixas com o objetivo de evitar problemas de intoxicação por nitrito
e ainda prevenir infecção por agentes patógenos nos peixes.
A aeração e suspensão dos resíduos orgânicos foram promovidas por um compressor radial (soprador de ar) de 0,50
CV e ajustada ao mínimo de 6 mg.L-¹, onde a difusão do oxigênio na água foi feita através de mangueira
microperfurada.
Foi adicionado todos os dias 1g de bicarbonato de sódio por caixa, sendo previamente diluído em um balde com
água da própria caixa e em seguida misturada ao restante da água.
A fonte de carbono (melaço) também foi adicionada todos os dias às caixas (0,5g/caixa) e o procedimento de
homogeneização se deu da mesma forma do bicarbonato, sendo a dosagem ajustada para a relação 10:1.
Os parâmetros Amônia (NH3) e nitrito (NO-2) foram aferidos a cada quatro dias utilizando o kit de reagentes da
ALFA KIT, durante o período experimental de 25 dias.

Resultados e Discussão
Os valores médios da concentração de amônia total na água estão apresentados na Fig. 1. É possível observar que a
concentração média de amônia se elevou do início do experimento até o 25º dia, onde atingiu um pico de 4,5 mg/L no

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Apoio financeiro: FAPEMIG
21ºdia. O acúmulo de amônia no sistema no decorrer dos dias é devido à mineralização de detritos orgânicos, como
fezes e ração não consumida, além da excreção advinda dos peixes (KUBTIZA[1]).
Os valores médios da concentração de nitrito total na água estão apresentados na Fig. 2. Para as concentrações de
nitrito, a partir do 21º dia foi registrada uma elevação nos seus valores sendo observado valor médio de 43,33 mg/L. De
acordo com Kubtiza [1] essa elevação dos níveis de nitrito indica o início do estabelecimento das bactérias
nitrificadoras do gênero Nitrosomonas (transformam amônia a nitrito) e ainda não se desenvolveram as bactérias
heterotróficas que degradam matéria orgânica incorporando amônia e nitrito em proteína microbiana no sistema,
estimuladas pela adição de carbono e presença de nitrogênio amoniacal.
Krummenauer et al. [4] também obtiveram valores elevados para nitrito a partir dos 30 dias do início da formação
dos bioflocos, alcançando concentrações de 35 mg/L no cultivo do camarão marinho Litopenaeus vannamei.
O acúmulo do nitrito no sistema a partir dos 21 primeiros dias do experimento pode ser devido à quantidade
insuficiente de bactérias nitrificantes do gênero Nitrobacter responsáveis por metabolizar o nitrito à nitrato, que
representa a forma não tóxica para os peixes (LARA [3]).

Considerações finais
O principal desafio encontrado na formação do sistema BFT são as elevadas concentrações de compostos
nitrogenados. Dessa forma, é muito importante um controle intensivo do sistema através de uma boa alimentação dos
animais, inclusão de uma fonte de carbono eficiente, além de aeração adequada, a fim de evitar perdas na produtividade
e estimular o crescimento das bactérias a fim de retirar os compostos tóxicos aos organismos cultivados.

Agradecimento
A FAPEMIG e a CODEVASF.

Referências
[1] KUBTIZA, F. Criação de tilápias em sistema de bioflocos sem renovação de água. Panorama da Aquicultura, v. 21, n. 124, 2011.

[2] ALVES, G. F. O. Produção de juvenis de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) em sistema com bioflocos: efeito do momento de transferência dos alevinos
para o sistema. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2013. 57p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas Gerais. 2013.

[3] LARA, G. et al. Sistema de bioflocos processos de assimilação e remoção do nitrogênio. Panorama da Aquicultura, v. 22, n.133, 2012.

[4] KRUMMENAUER, D. et al. Cultivo de camarões marinhos em sistema de bioflocos: Análise da reutilização da água. Atlântica, Rio Grande, v. 34, n.2, 2012.
5,00
4,50
4,00
3,50
Amônia (mg/L)

3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
1 5 9 13 17 21 25

Dias de cultivo

Figura 1. Valores médios de amônia total da água coletados a cada quatro dias durante 25 dias.

50,0
45,0
40,0
35,0
Nitrito (mg/L)

30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
1 5 9 13 17 21 25

Dias de cultivo

Figura 2. Valores médios de nitrito da água coletados a cada quatro dias durante 25 dias.

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