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SEGURANÇA DO TRABALHO

Curso Técnico em Segurança do Trabalho


Disciplina: Higiene Ocupacional
Aula 10 – Avaliação dos Agentes Biológicos
Autor: Joeldes Damasceno Matias
Professor: Marcílio Lima

Você verá por aqui...

Nessa aula, abordaremos um tema de bastante complexidade que impõe a


necessidade de buscar mais conhecimento. Para tanto, incorporam-se para a
avaliação destes agentes ações que objetivam o reconhecimento ou a identificação
dos agentes biológicos e a probabilidade do dano proveniente destes. Tal análise
será orientada por vários critérios que dizem respeito não só ao agente biológico
manipulado, mas também ao tipo de procedimento realizado, ao próprio trabalhador
e as condições de trabalho. Bons estudos!

Objetivos

 Ter percepção da ação dos agentes biológicos no ambiente laboral;


 Conhecer critérios para avaliação qualitativa dos agentes biológicos.

Para começo de conversa...

De acordo com o Anexo 14 Agentes Biológicos da NR – 15, a avaliação


dos agentes biológicos será de forma qualitativa para determinação do grau de
insalubridade.
Segundo o que relata esse anexo, podemos observar sua limitação
apenas no que diz respeito à determinação de grau de insalubridade, destacando
que esse procedimento técnico se limita às atividades do Engenheiro de Segurança
do Trabalho e do Médico do Trabalho. Porém, é de vital importância o conhecimento
deste assunto ao profissional técnico de segurança do trabalho, valendo destacar
que esse conhecimento não será explorado para determinação de grau de
insalubridade e sim, para determinar medidas de controle coletivas e ou individuais à
exposição destes agentes, ou seja, a prevenção de acidentes e doenças
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profissionais e do trabalho.

Avaliação Ambiental para Agentes Biológicos

Para a avaliação dos agentes biológicos, serão levados em consideração


determinados fatores que, juntos ou separadamente, serão utilizados como critérios
que determinarão os resultados da avaliação.
Diante de tal complexidade no processo de avaliação de risco para o trabalho
com agentes biológicos, destacamos:

Virulência

A virulência do agente biológico para o homem e para os animais é um dos


critérios de maior importância. Uma das formas de mensurá-la é a taxa de fatalidade
do agravo causado pelo agente patogênico, que pode vir a causar morte ou
incapacidade em longo prazo.

Modo de transmissão

O conhecimento do modo de transmissão do agente biológico manipulado é


de fundamental importância para a aplicação de medidas que visem a conter a
disseminação de doenças, pois cada uma terá uma forma diferente de controle.

Estabilidade do agente

É a capacidade de sobrevivência de um agente biológico no meio ambiente.


Informações sobre sua sobrevivência quando exposto à luz solar ou ultravioleta, a
determinadas temperaturas e teores de umidade, exposições a desinfetantes
químicos ou à dissecação devem ser consideradas.

Concentração e volume

É o número de agentes biológicos patogênicos por unidade de volume,


portanto, quanto maior a concentração, maior o risco. O volume do agente a ser

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manipulado também é importante. Na maioria dos casos, os fatores de risco


aumentam com o aumento do volume manipulado.

Origem do agente biológico potencialmente patogênico

Este dado está associado não só à origem do hospedeiro do agente biológico


(humano ou animal, infectado ou não), mas também à localização geográfica (áreas
endêmicas, etc.).

Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes

A avaliação de risco inclui a disponibilidade de compostos imunoprofiláticos


eficazes. Quando estão disponíveis, o risco é drasticamente reduzido.

Disponibilidade de tratamento eficaz

Este dado refere-se à disponibilidade de tratamento eficaz, capaz de


proporcionar a cura ou a contenção do agravamento da doença causada pela
exposição ao agente biológico. Também se torna um fator de redução do risco.
É importante ressaltar que durante a avaliação de risco, tanto a
disponibilidade de imunização, quanto de tratamento, são somente medidas
adicionais de proteção, não prescindindo de outros fatores a serem considerados,
como o controle das condições do ambiente onde a atividade de risco será realizada
(controles de engenharia), as práticas e procedimentos padrões aplicados e o uso
de equipamentos de proteção (coletivo e/ou individual).

Dose infectante

A dose infectante do agente biológico é um fator que deve ser levado em


consideração, pois aponta o risco do agente patogênico a ser manipulado.

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Tipo de procedimento realizado

O tipo de procedimento pode potencializar o risco, como, por exemplo, a


amplificação, sonificação ou centrifugação. Além disso, devemos destacar os
ensaios que envolvem inoculação experimental em animais, pois os riscos irão variar
de acordo com as espécies envolvidas e com a natureza da pesquisa desenvolvida.
Os próprios animais podem introduzir novos agentes biológicos. Podemos nos
defrontar com infecções latentes que são mais comuns em animais capturados no
campo ou em animais provenientes de criações não selecionadas. Por exemplo, o
vírus B do macaco é um risco aos indivíduos que lidam com símios. A informação
em relação a qual(is) é(são) a(s) via(s) de eliminação do agente nos animais
também deve ser considerada na avaliação de risco. A eliminação em altos títulos
por excreções ou secreções de alguns agentes biológicos pelo animal e, em
especial, os que são transmitidos por via respiratória, podem exigir um nível de
contingenciamento acima do indicado na classificação do agente. As pessoas que
lidam com animais experimentais infectados com agentes biológicos patogênicos
apresentam um risco muito maior de exposição devido às mordidas, aos arranhões e
aos aerossóis provocados por eles.

Fatores referentes ao trabalhador

São aqueles fatores diretamente ligados às pessoas: idade, sexo, fatores


genéticos, susceptibilidade individual (sensibilidade e resistência com relação aos
agentes biológicos), estado imunológico, exposição prévia, gravidez, lactação,
consumo de álcool, consumo de medicamentos, hábitos de higiene pessoal (como
lavar as mãos) e uso de equipamentos de proteção individual (como jalecos e luvas).
Além do que, devemos levar em consideração a análise da experiência e da
qualificação dos profissionais expostos.
Cabe ressaltar a importância da composição multiprofissional e da
abordagem interdisciplinar nas análises de risco. As análises de risco envolvem não
apenas sistemas tecnológicos e agentes biológicos perigosos manipulados e/ou
produzidos, mas também seres humanos, animais, complexos e ricos em suas

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naturezas e relações, não apenas biológicas, mas também sociais que também se
constituem em riscos, e devem ser considerados durante o processo de avaliação.

Atividade 1

Cite pelo menos cinco fatores que devem ser levados em consideração em uma
avaliação de agentes biológicos.

Técnicas de Amostragem

Apesar da avaliação dos agentes biológicos serem de forma qualitativa,


porém existem as técnicas de coleta de amostras de microorganismo, para se
chegar a uma conclusão do potencial agressivo do agente no ser humano ou no
meio ambiente. Que abordaremos a seguir.
Como exposto em aula anterior, vimos que para os agentes biológicos
existem diversas formas de penetração no organismo humano. Dentro deste grupo
destacamos nesse momento a via respiratória. E para essa via de penetração
devemos avaliar o ar que respiramos, a fim de detectarmos a existência de
microorganismos. Esse tipo de avaliação decorre das Técnicas de Amostragem
Ambiental, em que são coletadas amostras do ar respirado no ambiente de trabalho
e posterior análise em laboratórios.

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Figura 2 - Detalhes do
Impinger (borbulhador)
Figura 1 - Usando Impinger
(borbulhador)
Acoplados à Bomba Gravimétrica

Quando há possibilidade de contaminação dos equipamentos de trabalho,


roupas, mobiliário, que por características dos procedimentos e/ou atividades
realizadas ou como conseqüência de desinfecção ineficiente, atue como possíveis
depósitos de contaminantes biológicos. Deverão ser utilizadas as Técnicas de
Amostragem em Superfícies. Essa técnica consiste em analisar amostras
coletadas através dos processos de contato ou de esfregação (lâminas ou placa)
das superfícies, a serem estudadas.

Figura 4 - Lâmina

Figura 3 - Placa

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Atividade 2:

Quais as técnicas de amostragem que foram citadas, que podem ser utilizadas para
avaliação de agentes biológicos no ar que respiramos e em equipamentos de
trabalho, respectivamente?

Classificação dos agentes biológicos

Os agentes biológicos que afetam o homem, os animais e as plantas são


distribuídos em classes de risco assim definidas:

• Classe de risco 1 (baixo risco individual e para a coletividade): inclui os


agentes biológicos conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou animais
adultos sadios.

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Exemplo:

É a espécie bacteriana predominante


no meio vaginal.

Figura 5 - Lactobacillus sp.

• Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a


comunidade): inclui os agentes biológicos que provocam infecções no homem ou
nos animais, cujo potencial de propagação na comunidade e de disseminação no
meio ambiente é limitado e para os quais existem medidas terapêuticas e profiláticas
eficazes.

Microorganismo que usa o


caramujo como hospedeiro e
acessa o organismo humano
através da via oral.

Figura 6- Schistosoma
mansoni.

• Classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comunidade):


inclui os agentes biológicos que possuem capacidade de transmissão por via
respiratória e que causam patologias humanas ou animais, potencialmente letais,
para as quais existem usualmente medidas de tratamento e/ou de prevenção.
Representam risco se disseminados na comunidade e no meio ambiente, podendo
se propagar de pessoa a pessoa.

Exemplo:

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É o agente do Anthrax, uma


zoonose de grande
importância pelo fato de
contaminar o homem.

Figura 7 - Bacillus
anthracis.

• Classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): inclui os agentes


biológicos com grande poder de transmissibilidade por via respiratória ou de
transmissão desconhecida. Até o momento, não há medida profilática ou terapêutica
eficaz contra infecções ocasionadas por estes. Causam doenças humanas e animais
de alta gravidade, com alta capacidade de disseminação na comunidade e no meio
ambiente. Esta classe inclui principalmente os vírus. Exemplo:

A infecção pelo vírus


ebola produz febre
hemorrágica.

Figura 8 - Vírus Ebola

• Classe de risco especial (alto risco de causar doença animal grave e de


disseminação no meio ambiente): inclui agentes biológicos de doença animal não
existente no País e que, embora não sejam obrigatoriamente patógenos, de
importância para o homem, podem gerar graves perdas econômicas e/ou na
produção de alimentos.

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CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO
SUBSEQUÊNTE EM SEGURANÇA DO TRABALHO
NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Atividade 3

Através do conteúdo abordado no item “classificação dos agentes biológicos”,


ressaltar seu potencial de risco e suas características de ação, conforme exemplo:

CLASSE DE RISCO POTENCIAL DE RISCO CARACTERISTICAS DE


AÇÃO
- Classe de risco 1. - Baixo risco individual e - Não causam doenças em
para a coletividade. pessoas ou animais adultos
sadios.

Leitura Complementar

Pesquisar no Anexo 14 “Agentes Biológicos” da NR-15, as atividades que envolvem


agentes biológicos, cuja insalubridade é caracterizada pela avaliação qualitativa.
Pesquisar também o Anexo I e II da NR-32, que trata da classificação dos agentes
biológicos.

Resumo

Nesta aula, vimos que a avaliação para agentes biológicos será realizada
qualitativamente, de tal forma que a análise dos resultados, quando se tratar para
efeito de pagamento de benefício de insalubridade, fica sob domínio dos
Engenheiros de Segurança de Trabalho e dos Médicos do Trabalho. Porém o
conhecimento do resultado por parte do profissional Técnico de Segurança do
Trabalho se faz de grande valia, pois será através desse conhecimento e aplicando
a ele as ações preventivas que as exposições geradoras de acidentes e doenças do
trabalho serão evitadas.

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CURSO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO
SUBSEQUÊNTE EM SEGURANÇA DO TRABALHO
NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Autoavaliação

Descreva sucintamente a importância de aplicar o conteúdo abordado para o


profissional Técnico de Segurança do Trabalho, no que se refere à prevenção de
acidentes e doenças do trabalho, quando da exposição em ambiente laboral aos
agentes biológicos.

Referências

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria do MTE Nº 3.214, de 8 de


junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II,
da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do
Trabalho. Brasília, 1978. Disponível em:
<http://www.mte.gov.br/legislacao/portarias/1978/p_19780608_3214.pdf>. Acesso
em: 17 mar. 2009.

. Portaria da SSST Nº 25, de 29 de dezembro de 1994. Brasília, 1994.


Disponível em:
<http://www.mte.gov.br/legislacao/portarias/1994/p_19941229_25.pdf>. Acesso em:
17 mar. 2009.

. Portaria do MTE Nº 485, de 11 de novembro de 2005. Aprova a Norma


Regulamentadora n.º 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de
Saúde). Brasília, 2005. Disponível em:
<http://www.mte.gov.br/legislacao/portarias/2005/p_20051111_485.pdf>. Acesso em:
17 mar. 2009.

. Classificação de risco dos agentes biológicos. Brasília: Editora do


Ministério da Saúde, 2006.

SPINELLI, Robson. BREVIGLIERO, Ezio. POSSOBON, José. Higiene ocupacional:


agentes biológicos, químicos e físicos. 2ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Senac
São Paulo, 2008.

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