Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Charles Darwin (1809-1882) é o responsável pela TEORIA DA EVOLUÇÃO (TE), que ocorre através
de uma SELEÇÃO NATURAL (SN) onde as características hereditárias, se forem favoráveis, tornamse
mais comuns (em gerações sucessivas de uma população de organismos), mas se forem
desfavoráveis tornam-se menos comuns.
Os biólogos descobriram que as semelhanças e diferenças entre as várias espécies possuem uma
propriedade especial: organização hierárquica. Quer isto dizer que duas espécies que são
semelhantes no sistema A também tendem a ser semelhantes no sistema B.
Através das semelhanças (i.e., da quantidade de estruturas partilhadas) são criados grupos
hierarquicamente organizados. A cada nível da hierarquia grupal a quantidade de aspetos comuns
torna-se cada vez menor e a quantidade de diferenças maior.
Surge então a questão: se podemos fazer estes agrupamentos, de onde vêm estes diferentes tipos
de animais? Este é o problema da história.
A TE advoga que os organismos que vemos hoje derivam de uma criatura ancestral a todos eles, por
um processo de modificação gradual ao longo das gerações. As relações hierárquicas entre as
espécies são melhor representadas através de uma “árvore genealógica” (o termo da biologia é
filogenia ou filogénese: estudo da relação evolutiva entre grupos de organismos).
Porque é que estas modificações ocorreram? Segundo Darwin, devido a um mecanismo designado
por seleção natural, que ajudou na resolução de outro grande problema:
Darwin postulou que os organismos são o que são em resultado dos efeitos cumulativos da SN ao
longo da sua evolução.
1
A seleção natural é o processo de sobrevivência não aleatório de inovações úteis que,
cumulativamente, podem levar ao que parecem ser estruturas bem “desenhadas” sem o
envolvimento de um “desenhador”.
Assim, o conceito de SN é parcimonioso (não evoca algo desconhecido) e explicativo (mostra como
algo muito complexo pode ser fruto de forças que são, de facto, simples). Prediz igualmente que o
design nem sempre tem de ter um sentido funcional.
Darwin aferiu o efeito cumulativo destes princípios: se uma geração de indivíduos tem uma
caraterística vantajosa tais indivíduos sair-se-ão melhor na reprodução. Uma vez que os seus
descendentes também terão a mesma característica (devido à hereditariedade), a proporção da
população com a mesma característica aumentará de geração em geração. Isto resolve o problema
do design dado que gradualmente, pela retenção das caraterísticas vantajosas, sistemas funcionais
bem desenhados e adaptados a um determinado ambiente podem ser construídos através de
passos simples. Os sistemas criados desta forma são designados por adaptações.
A teoria de Darwin permite-nos assim identificar dois tipos de semelhanças. O primeiro são as
HOMOLOGIAS que dizem respeito às semelhanças que radicam em origens comuns. O segundo tipo
de semelhanças são as ANALOGIAS e o processo que as produz designa-se por evolução
convergente. É possível identificarem-se analogias tendo em conta o facto de que as características
analógicas não representam um padrão para as outras características do organismo.
2
Nos anos 30 (do século XX) concluiu-se que o Darwinismo e o Mendelismo não eram incompatíveis,
mas que o Mendelismo providenciou a base da SN, advogada pelo Darwinismo. Esta conclusão
agregadora ficou conhecida por SÍNTESE MODERNA (ou neo-Darwinismo).
2 – VARIAÇÃO
Como já vimos, todos os organismos são membros da mesma larga família; diferem apenas em
quanto temos de recuar no tempo para encontrar um ancestral comum. E tal como todos os
membros de uma família, os vários organismos são também todos diferentes. O princípio da
variação é um componente essencial da TE, dado que não só há variação dentro das espécies como
há variação entre as espécies. A variação ocorre em dois níveis: fenótipo e genótipo.
2.1 – O FENÓTIPO
Os seres vivos são maioritariamente feitos de células. Nos organismos multicelulares (como os
humanos) as células são de vários tipos (musculares, da pele, do fígado, do sangue, neurónios, etc.)
e apesar de serem especializadas em diferentes funções elas partilham uma estrutura comum. As
células típicas têm uma membrana exterior que envolve o conteúdo da célula, os RIBOSOMAS
(uma espécie de fábrica de químicos onde são sintetizadas as substâncias necessárias às funções da
célula) e as MITOCÔNDRIAS (uma espécie de centrais de energia onde a glucose e outros
combustíveis são divididos para libertar energia).
Os seres vivos são compostos por células, as quais são feitas de numerosos compostos químicos
diferentes, incluindo um largo número de diferentes PROTEÍNAS. Conferem às células a sua forma e
estrutura, formam tecidos de ligação, funcionam como hormonas e anti-corpos e, o mais
importante, servem de enzimas, as quais controlam as muitas reações químicas que são necessárias
para o funcionamento do corpo, bem como para criar ou obter o outro tipo de moléculas que o
corpo necessita (mormente: água, gorduras e carbohidratos).
As proteínas são moléculas compostas por longas cadeias de AMINOÁCIDOS. Existem 20 tipos de
aminoácidos e a sequência de diferentes aminoácidos ao longo da cadeia determina quais serão as
propriedades de cada proteína. Pode dizer-se assim que: o fenótipo de um organismo é
determinado pelas propriedades das proteínas das suas células; e as propriedades das proteínas
são determinadas pelos aminoácidos (por quais são e pela sua ordem na cadeia). É aqui que entram
os GENES, pois são eles que codificam as receitas dos aminoácidos para determinadas proteínas.
3
2.2 – O GENÓTIPO
O entendimento do funcionamento dos genes progrediu ao longo de 3 fases principais:
▪ Genética clássica – o gene começou por ser uma entidade abstrata, inferida (por Mendel) a
partir de padrões de caraterísticas hereditárias.
▪ Genética molecular – a segunda fase iniciou-se com a descoberta de que a molécula de ADN
(ácido desoxirribonucleico) é a do material genético; logo depois (1953), os biólogos James
Watson e Francis Crick resolveram a estrutura do ADN.
▪ Genómica – a terceira fase continua em expansão. A partir de 1980 as tecnologias ajudaram
a “ler” largas quantidades de sequências de ADN, o que permitiu descrever todo o material
genético, i.e., o GENOMA de diferentes organismos.
A genética clássica estabeleceu que os genes têm duas funções: (1) Influenciam as caraterísticas
físicas do organismo, i.e., o genótipo influencia o fenótipo; (2) os genes auto-replicam-se para
produzirem novas células ou novos indivíduos com o mesmo genótipo. É assim que a informação
passa dos pais para os filhos na reprodução.
O Dogma Central
O dogma central diz respeito ao facto de que o fluxo da informação é de sentido único: genótipo ⇨
fenótipo. O genótipo codifica o fenótipo assim como o genótipo da geração seguinte, mas as
caraterísticas do fenótipo não são transmitidas para a geração seguinte. Os genes afetam as
propriedades das proteínas, mas estas (normalmente) não afetam as propriedades dos genes.
O dogma central também tem uma implicação inversa: os pais podem possuir caraterísticas
genotípicas que não são observáveis nos seus fenótipos, mas que podem surgir nos filhos. Nestes
casos diz-se que são portadores silenciosos.
4
Linhas Somática e Germinal
Relacionado com o dogma central está a distinção entre as linhas somática e germinal das células.
Nos organismos multicelulares a maioria das células são somáticas o que significa que só estão
capacitadas para a função 1 (fazer mais fenótipos). A divisão em cópias geneticamente idênticas
dessas células corresponde a um processo designado por mitose.
Já a função 2 (fazer mais genótipos) é realizada exclusivamente por uma classe especial de células
chamadas germinais ou gâmetas (o esperma nos machos e o ovo, ou zigoto, nas fêmeas), originadas
através de um processo de divisão de células chamado meiose.
O mecanismo molecular dos genes tem de executar duas funções: produzir proteínas e produzir
cópias de si mesmo. O ADN consegue executar ambas as funções.
O ADN é composto por duas longas cadeias (de moléculas ou polímeros) ligadas entre si por
sequências de quatro ácidos nucleicos (ou bases azotadas): adenina (A) + timina (T) + citosina (C) +
guanina (G) formando uma dupla hélice enrolada. Cada cadeia é composta por uma sequência de
nucleótidos (uma base azotada, uma pentose desoxirribose e um fosfato). As 4 bases podem formar
16 sequências distintas na mesma cadeia.
Os laços químicos dentro de cada cadeia são extremamente fortes, mantendo cada um dos cordões
a sua integridade quando separados. No entanto, os laços entre dois cordões são mais fracos (laços
de hidrogénio). A estrutura das bases é tal que a A se une apenas à T e a C apenas à G - princípio do
emparelhamento de bases.
Quando ocorre quebras nas ligações de hidrogénio entre os cordões é formada um outro cordão
complementar que possibilita a existência de duas cópias da molécula de ADN. Num ambiente
químico adequado, o ADN consegue auto replicar-se.
Uma outra função dos genes é fazer materiais fenotípicos indiretamente. Novamente os dois
cordões são separados mas uma única molécula designada por mensageiro RNA (RNAm) é formada.
RNA (ácido ribonucleico) é quimicamente semelhante a um só cordão de ADN, mas a base da T é
substituída por outro ácido nuclear designado por uracil (U) que se ligará à A. A molécula formada
será então uma cópia da sequência de bases no cordão de ADN. O processo de copiar sequências
de bases de ADN em sequências num molécula RNA é chamado transcrição.
5
O ARN (ácido ribonucleico), uma vez formado, é separado da molécula de ADN e transportado para
os ribossomas (as “fábricas” químicas) para ser efetuada uma tradução (do ARN numa cadeia
polipeptídica, i.e., numa sequência de aminoácidos que determina qual a proteína a ser sintetizada)
- processo de tornar uma sequência de bases no RNAm em sequências de aminoácidos em
proteínas.
O código genético
Por exemplo: o codão AUG, para além de codificar o metionina inicia o processo de tradução; se a
sequência de bases (ou triplete) CGU é encontrada no RNAm uma molécula de arginina (um
aminoácido) é adicionada à cadeia da proteína; por sua vez UAG, UGA e UAA indicam que o fim da
proteína foi alcançado e portanto, terminou a tradução.
Erros ou mudanças na terceira base do codão não apresentam qualquer diferença no aminoácido
produzido – substituições sinónimas. Codões que diferem apenas na primeira base tendem a
produzir aminoácidos quimicamente semelhantes.
Uma das grandes surpresas da genómica é que os genes ocupam só uma pequena parte do genoma
total.
Existem cerca de 25 000 genes no genoma humano. Cada gene tem cerca de 27 000 pares de bases;
assim conclui-se que cerca de 60% do genoma não são genes.
ADN mitocondrial
Nem todo o genoma humano se encontra no núcleo, pois as mitocôndrias possuem um pequeno
genoma próprio: cerca de 16 500 pares de bases organizadas em círculo. As mitocôndrias já foram
organismos separados designados por bactérias. Foram incorporadas nas células eucariontes
iniciais, adotando funções metabólicas da célula anfitriã, o que provocou a eliminação de muitos
dos seus genes. O ADN mitocondrial tem sido útil no estudo da genética das populações humanas.
O seu grau de mutações é relativamente rápido e é haploide, dado que só os ovos e não os
espermatozoides provocam a mitocôndria dos embriões em desenvolvimento.
6
2.3 – VARIAÇÃO GENÉTICA
2.3.1 – A REPRODUÇÃO SEXUAL BARALHA O PACOTE
Nos organismos diploides há, em geral, duas cópias do mesmo cromossoma, sendo uma cópia do
pai e outra da mãe, processo iniciado pelos gâmeta. Estes combinam na fertilização. O que significa
que no processo de formação dos gâmetas (a fertilização) a célula (do embrião) recebe metade do
conjunto do material genético de cada progenitor (dando-se a esta divisão o nome de meiose).
Possuindo a célula de cada progenitor uma cópia de cada cromossoma dos próprios pais, a cópia
que avança para o esperma é aleatória, com probabilidades iguais.
Recombinação
Durante a meiose, o par de cromossomas do progenitor alinham-se e podem trocar ADN entre si,
de forma que uma sequência originalmente parte do cromossoma A acaba no cromossoma B e vice
versa. Este processo aleatório designa-se por recombinação e ocorre sempre que um gâmeta é
formado, dando origem a inúmeras combinações diferentes.
Quando dois genes estão dentro do mesmo cromossoma, eles segregam-se de forma
independente, mas haverá algum grau de ligação entre eles: é o desequilíbrio de ligação. Quando
dois genes estão ligados, a probabilidade de ter uma cópia do gene A do avô paterno é afetada pelo
facto de ter uma cópia do gene B (desse mesmo antepassado). Em termos gerais, quanto mais
fisicamente próximos estão dois genes num cromossoma, maior é o grau de ligação genética entre
eles. A única coisa que pode romper esta ligação é a recombinação.
Substituições de base-única
O tipo mais simples de mutação é a substituição de um par de bases por outro. Isto ocorre
ocasionalmente dependendo da quantidade de erros que ocorrem quando o ADN é copiado
(estima-se que 1 em cada 4 milhões por local e por geração). C e T são quimicamente semelhantes,
tal como G e A. As mudanças entre C e T ou entre G e A designam-se por transições, enquanto que
as mudanças entre pares dissemelhantes de bases (como C e G ou C e A) designam-se por
transversões. As transições ocorrem duas vezes mais que as transversões. Também ocorrem
eliminações de uma base, embora com menor frequência.
Um tipo de mutação ligeiramente maior e com taxas de ocorrência bastante superiores resulta da
expansão ou contração da repetição de uma sequência simples (1 em cada 1 000 local e por
geração). Neste tipo de mutação, uma cópia extra é adicionada ou perdida. Isto ocorre devido a um
7
‘derrapagem’ de uma repetição enquanto a enzima responsável pela replicação do ADN se alinha
até ao cordão de ADN.
Uma mutação mais ampla e com probabilidades de ocorrência ainda maiores é a cópia de um
elemento transponível de uma parte do genoma para outra (o que parece ocorrer em 10 de cada
100 nascimentos) e, dependendo de para onde o elemento se move, pode ou não ter efeitos no
fenótipo.
Mas há mutações ainda maiores: as duplicações segmentais, onde é feita uma cópia extra da
sequência durante a replicação (ocorrem igualmente eliminações segmentais e inversões em todos
os segmentos da sequência). Isto parece ser significativo do ponto de vista evolucionista: quando
um gene evolui para executar determinadas funções, a seleção natural tende a preservá-lo
exatamente da forma como é, uma vez que as mutações têm menor probabilidade de exercer
corretamente a função original, embora possam desempenhar outras novas potenciais funções. A
duplicação parece ser então importante para a criação de novos genes e a elaboração do fenótipo.
O tipo de mutação mais drástica é a duplicação de todo o genoma, o que é um evento raro, mas
acontece. É como uma enorme duplicação segmentar, seguindo as duas cópias histórias
evolucionistas diferentes. Também contribuem para as origens das famílias de genes (genes que
descendem de um ancestral comum por eventos de duplicação).
8
A Maioria dos Polimorfismos Não Têm Efeitos no Fenótipo
A maioria da variação genética não tem efeito sobre o fenótipo. Por que será? Porque muita da
variação ocorre no ADN não-codificante, que não possui efeito aparente no fenótipo.
Quando as mutações têm efeitos no fenótipo, estes efeitos normalmente são nocivos; são as
designadas doenças genéticas, fruto de mutações que, embora não aleatórias, são indiretas.
Apesar de a maioria das mutações serem neutras e as que não são neutras são em geral nocivas,
poderão surgir ocasionalmente mutações que, ao invés de provocarem um pior funcionamento
biológico, poderão melhorá-lo. Estas raras mutações vantajosas são espalhadas pela seleção
natural.
Nas caraterísticas de gene-único, a diferença no fenótipo é determinada por qual alelo o indivíduo
possui num locus genético. Pode estar relacionado com aspetos de variação na saúde e com
doenças de gene-único, também designadas por doenças mendelianas. As caraterísticas poligénicas
dizem respeito às situações onde uma caraterística do fenótipo resulta da ação de vários genes.
Caça do Gene
9
indivíduos são depois genotipificados para serem testadas as diferenças nas frequências de alelos
entre os dois grupos.
Traços (ou caraterísticas) poligénicas são aqueles cuja variação no fenótipo se relaciona com qual
alelo está presente. Para um traço poligénico como a altura, o número de combinações de alelos
que produzem os fenótipos no meio da extensão é muito maior do que o número de combinações
que produzem os extremos.
3 – HEREDITARIEDADE
A evolução só ocorre se os descendentes tenderem a ser semelhantes aos seus parentes – este é o
princípio da hereditariedade. Os biólogos acreditavam que as caraterísticas dos dois pais
simplesmente se misturavam. Felizmente que as experiências de Mendel com plantas aferiram que
não ocorre mistura no nível genético, mas que existem leis básicas de hereditariedade para
caraterísticas de gene-único.
10
ou verde. Em primeiro lugar, Mendel separou dois conjuntos de ervilheiras: um com vagens
amarelas e outro com vagens verdes. Depois fez um cruzamento de ambas as vagens de onde
resultou uma geração de descendentes designada por F1. Depois cruzou os F1 entre si de onde
resultou a geração F2.
Mas Mendel observou algo de diferente da mera mistura (a): a geração F 1 foi toda amarela. Na
geração F2 três quartos das vagens eram amarelas e um quarto era verde (completamente verde,
apesar do facto de nenhum dos F2 ter um progenitor verde).
Foi necessário então explicar como é que o verde não se manifestou no fenótipo da geração F 1
sendo porém, guardado algures (no genótipo), pois voltou a aparecer na geração F 2; mas nesta
geração, porque se manifestou só em um quarto das vagens?
Mendel deduziu que se pode explicar este padrão com algumas suposições simples:
1) Cada indivíduo deve ser portador de duas partículas de hereditariedade (genes), um de cada
progenitor.
2) Estas partículas, na sua forma, podem ser 'verde' ou 'amarelo'.
3) Podemos dizer que existem dois alelos do gene <cor-da-vagem>, A e a, onde A é associado
às vagens amarelas, e a às vagens verdes.
Uma planta pode ter duas cópias do mesmo alelo caso em que se diz ser homozigótica ou uma
cópia de cada um dos dois diferentes alelos, caso em que se diz ser heterozigótica.
Quando as plantas se reproduzem, há uma possibilidade de 50% sobre qual das duas cópias do
mesmo gene avançam para o gâmeta. Assim, se o progenitor é um Aa heterozigótico, metade dos
seus gâmetas irá conter um A e a outra metade irá conter um a. Caso fosse um AA ou aa
homozigótico, obviamente, produzirá 1OO% do mesmo gene (A ou a) nos gâmetas.
Quando o genótipo é heterozigótico, o fenótipo é amarelo. Por outras palavras, desde que haja pelo
menos uma cópia de A, ir-se-ão desenvolver vagens amarelas. Dizemos neste caso que o alelo que
codifica a cor amarela (ou A) é um alelo dominante. Em contraste, para se codificar a cor verde,
ambas as cópias do gene tem de ser a; e neste caso diz-se que o alelo que codifica a cor verde (ou
a) é recessivo.
Na imagem abaixo vê-se, no grupo (a) a influência dos genótipos nos fenótipos, i.e., dos alelos
dominantes sobre os alelos recessivos nas gerações F1. Depois vê-se a influência de F1 em F2 (onde
um dos quatro recebeu a cor verde) com dois grupos de heterozigóticos (Aa e aA) e dois de
homozigóticos (AA e aa). No grupo (b), através do Quadrado de Punnett, conseguimos prever as
expressões do genótipo no fenótipo.
11
Generalização dos Princípios Mendelianos
Qual o alelo dominante e recessivo depende de como o gene produz o seu efeito no fenótipo.
Assim, os alelos de genes funcionais, que produzem as enzimas, geralmente dominam os alelos
concorrentes, onde a capacidade de formar enzimas se perdeu; e.g., o albinismo humano é causado
por mutações nos genes envolvidos na produção do pigmento melanina, tornando-o inoperativo.
Mas os genes podem ter mais de dois alelos e nem sempre um alelo é dominante e o outro
recessivo. Dois alelos podem ser codominantes, o que significa que os heterozigóticos expressam
por completo o fenótipo de ambos os pais homozigóticos. Um exemplo de codominância são os
grupos sanguíneos humanos que dependem de quais os alelos que se tem, a partir dos genes com a
proteína do sangue. Também pode ocorrer uma dominância incompleta, o que significa que o
fenótipo de um heterozigótico é uma forma intermédia entre dois homozigóticos; e.g., cravos
vermelhos homozigóticos, cruzados com cravos brancos homozigóticos, produzem cravos cor-
derosa heterozigóticos; de notar porém que não se trata de uma herança misturada, já que apenas
os efeitos fenotípicos são misturados, não os alelos que lhes são subjacentes; na geração seguinte
destes cravos cor-de-rosa, eles podem produzir puros descendentes vermelhos ou brancos.
Uma caraterística – a cor da vagem – é controlada por um gene com dois alelos (A e a). Considerese
porém outra caraterística – a textura da vagem, a qual pode ser lisa ou enrugada e é controlada por
outro gene, também com dois alelos (B um alelo dominante, que codifica vagens lisas; e um alelo
recessivo b, que codifica vagens rugosas). Suponha-se então que são criadas duas linhas puras: uma
de plantas com vagens amarelas (A) e lisas (B), e outra de plantas com vagens verdes (a) e
enrugadas (b). Depois faz-se uma fertilização cruzada das duas linhas. O que irá resultar do
cruzamento?
Em F1 encontrar-se-ão só vagens amarelas e lisas (dado que os alelos A e B são dominantes). Mas se
a geração F1 for cruzada entre si, a geração seguinte (F2) já apresentará um terço de vagens verdes
e um terço de vagens enrugadas. Mas surge aqui uma questão fulcral: será que os 25% de plantas
com vagens amarelas serão também as que ficaram rugosas? I.e., será a cor da vagem
independente da sua textura?
Mendel observou que na geração F2 surgiram 4 fenótipos diferentes: amarelo liso, amarelo rugoso,
verde liso e verde rugoso; nas proporções respectivas de 9, 3, 3, 1. Esta distribuição percebe-se
melhor com o Quadrado de Punnet onde se afere a independência da codificação dos genes para a
cor e textura das vagens. Este princípio é muito importante porque indica que podem surgir novos
fenótipos através da reprodução sexual. Também significa que a seleção natural pode mudar a
frequência das caraterísticas fenotípicas sem que seja alterada a frequência de outra caraterística.
12
A segregação independente (i.e., as diferenças de uma característica são herdadas
independentemente das diferenças de outras características) ocorre porque, na meiose, a seleção
sobre qual das duas cópias avança é feita de forma independente para cada cromossoma. Quando
os genes residem no mesmo cromossoma, então, obviamente, eles não segregam de forma
independente, pois exibem ligação o que significa que viajam juntos para a geração seguinte até
serem separados por recombinação.
3.2.3 – DOENÇAS MENDELIANAS E RECESSIVOS NOCIVOS
Há muitas doenças mendelianas ou hereditárias como a doença de Huntington e a fibrose quística.
Em muitas delas o gene envolvido pode ser localizado num cromossoma específico. Mas estas
doenças são raras porque os indivíduos afetados normalmente morrem sem se reproduzirem; ainda
assim, os alelos da doença conseguem-se manifestar nos fenótipos, embora raramente, de duas
maneiras:
(1) Com a reprodução sexual, ainda que o alelo da doença seja dominante e letal;
(2) Mesmo sendo recessivo, o alelo da doença continua a existir na população e se há
reprodução com um sujeito que também tem este alelo (da doença, recessivo) eles podem
passar para a geração seguinte e a doença aparece.
Endogamia
A endogamia deve ser evitada devido à existência de recessivos letais, ou mais genericamente, de
recessivos nocivos.
Suponhamos que um homem heterozigótico (com um alelo recessivo letal, cuja frequência na
população é de 1 em 1000) reproduz sexualmente com uma mulher que não transporta a doença;
assim sendo, o risco de um filho de ambos vir a ser afetado seria de 1 em 4000. Mas se este homem
reproduzir com uma irmã, a probabilidade de terem um filho com uma doença hereditária é de 1
em 8. Mas esta possibilidade não se confina aos irmãos, ela estende-se a outros parentes
consanguíneos, embora haja um declínio dessa possibilidade conforme a distância parental
aumenta.
Deriva Genética
Quanto mais pequena for uma população, mais flutuam (i.e., mais se fixam na população), de
geração para geração, as frequências dos alelos, mesmo na ausência de seleção natural; a esta
flutuação dá-se o nome de deriva genética.
Por vezes os alelos não têm efeitos sistémicos nos fenótipos (são neutros), mas no decurso da
deriva genética, ocasionalmente, uma nova mutação flutuará até que toda a população a possua
(um alelo que toda a gente tem diz-se que alcançou fixação na população). A probabilidade de uma
nova mutação alcançar a fixação é de 1/(2N) onde N representa o tamanho da população.
Devido à deriva genética, duas populações que ficam isoladas uma da outra, tenderão a divergir
com o tempo em termos de sequências de ADN, devido à fixação ocasional de mutações neutras,
13
ou quase neutras, em ambas as populações. Muitas mutações são neutras, dado que muito do
genoma é não-codificante, como também porque a redundância do código genético significa que
muitas mudanças nas sequências de códigos são sinónimos (ver Capítulo 2).
Surpreendentemente, a taxa de divergência entre duas populações não depende dos seus
tamanhos. Apesar de a fixação de uma nova mutação ser mais provável numa população pequena,
o número de novas mutações que surgem é maior em populações maiores; e assim sendo, estes
dois efeitos opostos sobre os tamanhos das populações anulam-se mutuamente. Assim, na medida
em que a variação é neutra (ou quase neutra) a quantidade de divergência nas sequências de ADN
de quaisquer duas populações (ou espécies) reflecte o tempo desde o seu ancestral comum. Isto é
conhecido como teoria neutralista da evolução molecular, a qual está associada ao geneticista
japonês Motóo Kimura.
Devido à evolução neutral, e à ideia de relógio molecular que lhe é associada, pode ser usada a
quantidade de semelhança molecular, de espécies ou de populações diferentes, para estabelecer a
sua árvore familiar e quando ocorreu a divergência. Assim, quanto maior divergência houver entre
as sequências de ADN de dois animais, maior é a quantidade de tempo até ao seu antepassado
comum.
Parece assim existir alguma tensão entre a visão evolucionista de Darwin (na qual as mudanças
ocorrem e espalham-se porque são adaptativas) e a visão da teoria neutral (que advoga que as
mudanças acumulam-se ao longo do tempo por derivação e não têm efeitos nos fenótipos).
A semelhança com os parentes pode ser quantificada calculando a correlação fenotípica entre um
par de parentes.
14
Um Modo Simples de Estimar a Heritabilidade a Partir dos Dados de Gémeos
Nos gémeos MZ, que são geneticamente idênticos e partilham o mesmo ambiente, quaisquer
diferenças no fenótipo entre eles devem ser atribuídas ao ambiente não partilhado. Desta forma, o
cálculo do impacto do ambiente não partilhado corresponde a 1 menos a correlação dos gémeos
MZ. Quanto ao ambiente partilhado, o cálculo do seu impacto corresponde à correlação do
fenótipo dos MZ menos a heritabilidade.
Modelos ACE
Na pesquisa contemporânea sobre gémeos usam-se técnicas mais sofisticadas designadas por
Modelos ACE, orientados para a estimativa de três parâmetros: A (a heritabilidade), C (o efeito do
ambiente partilhado) e E (o efeito do ambiente não partilhado).
Os estudos sobre gémeos têm sido usados para obter estimativas de heritabilidade para um largo
número de caraterísticas das populações contemporâneas. O padrão que emerge destes resultados
é que A (a heritabilidade) é substancialmente maior que 0 (zero) para quase tudo o que tem sido
estudado. C (o efeito do ambiente partilhado) tende a ser muito menos importante que o E (o
efeito do ambiente não partilhado).
Nos estudos sobre adoção uma fonte de problemas metodológicos é a seleção das famílias
adoptivas onde se colocam as crianças. Só um subconjunto de famílias é considerado elegível para
adotar e este tipo de filtro de ambiente social pode afetar as generalizações das estimativas de C.
Também pode haver problemas se as agências de adopção tenderem a colocar as crianças em
famílias que tenham algumas parecenças com elas ou com os seus pais biológicos, o que levará à
inflação da estimativa de C.
O problema mais sério nos estudos de adoção é que, mesmo que esta seja efetuada logo após o
nascimento, o ambiente pré-natal é providenciado pela mãe biológica. Daí que, se uma grande
parte da influência do C ocorre dentro do útero, o C será subestimado e o A sobrestimado.
Quando tais efeitos são devidos à interação entre o par de alelos num locus, são designados por
efeitos de dominância, e quando são devidos a interações entre alelos em diferentes loci, são
designados por efeitos epistáticos.
A heritabilidade é específica a uma população que vive num ambiente específico, dado que se pode
alterar conforme as mudanças ambientais. O facto de um traço ser altamente hereditário não
implica que uma mudança no ambiente não terá consequências no fenótipo.
16
Uma conclusão mais geral é que quanto melhor ambiente criarmos, mais as caraterísticas
fenotípicas se manifestarão.
A condição prévia da seleção natural para que esta seja efetiva é a existência de alguma variação
genética hereditária para as caraterísticas presentes na população. A heritabilidade não precisa de
ser 1 para a seleção natural levar à mudança evolutiva. Só necessita de ser maior que 0, apesar de,
quanto maior for, mais depressa a seleção natural produz mudança.
Uma espécie é definida pela sua reprodução isolada face a outras espécies, i.e., os humanos são
uma espécie distinta dos gorilas porque eles não se cruzam sexualmente.
Em primeiro lugar, a reprodução isolada pode ser parcial. Onde duas populações são férteis entre si
mas raramente se encontram (ou tendem a não se escolherem como parceiros), então é uma
questão de debate se estamos perante uma ou duas espécies. Segundo, a reprodução isolada leva a
uma acumulação de diferenças evolutivas, mas não o faz instantaneamente. Estando isoladas,
qualquer mudança evolutiva que ocorra numa população, não se espalhará à outra e por isso ficam
com o potencial de divergirem.
As Espécies no Tempo
Como é que decidimos se um fóssil humano de há 100.000 anos pertence à mesma espécie de
humanos de hoje? O critério da reprodução isolada não pode ser usado, dado que duas espécies
que viveram em diferentes pontos da história não se podem encontrar e por conseguinte, nunca
acasalaram. A solução comum nestes casos é usar diferentes nomes de espécies para duas formas,
17
se elas forem fenotipicamente diferentes uma da outra, tal como são os indivíduos de duas
espécies vivas.
Disto, segue-se que, onde um novo nome de uma espécie começa no tempo é uma questão de
decisão em vez de descoberta; e.g., 200.000 anos, é o ponto em que se decidiu que a semelhança é
suficiente para aplicar o mesmo nome de espécie, à dos humanos vivos.
10.1.2 – UNIDADES TAXONÓMICAS MAIS ELEVADAS
A terminologia taxonómica é aninhada, com cada unidade taxonómica sentada dentro um grupo
mais inclusivo do nível acima: espécie, género, família, ordem, classe, filo, reino e domínio.
Para serem informativas, as caraterísticas têm de mostrar alguma variação. Se todas as espécies em
comparação mostrarem uma caraterística idêntica, então essa caraterística não contém informação
para os agrupar. Por outro lado, se todas as espécies forem diferentes em dada caraterística,
também não é informativo. Em vez disso, é necessário encontrar caraterísticas que são partilhadas
por algumas, mas não todas as espécies em estudo.
Esta metodologia é boa, mas há sempre outras possibilidades lógicas. Para decidir entre as várias
possibilidades, recorre-se ao princípio da parcimónia: a filogenia mais parcimoniosa é a que
assume o menor número de eventos evolutivos, daí que tenha sido preferida a filogenia
apresentada.
Existe variação na taxa de mudança de molécula para molécula, como também de organismo para
organismo. Aspetos da biologia de uma linhagem específica, incluindo o tempo de geração, a taxa
metabólica e os efeitos da seleção natural, são implicados nestas diferenças. Daí que o relógio
molecular precise de ser calibrado para as moléculas e linhagens em estudo, o que é feito
geralmente, considerando um evento de ramificação cuja data é conhecida do registo fóssil, para
estabelecer uma taxa evolutiva, a qual permite então fazer inferências acerca da data de outros
eventos na história da mesma linhagem.
10.1.4 – FÓSSEIS
Os fósseis são restos ou vestígios (normalmente preservados em rochas) de seres vivos que outrora
viveram. As formações fósseis são extremamente raras e tendem a ser partes do organismo.
Os fósseis permitem que as criaturas ancestrais sejam posicionadas nas filogenias, da mesma forma
que são posicionados os seres vivos. As caraterísticas usadas são, em geral, morfológicas. No
entanto, com restos relativamente recentes, por vezes consegue-se extrair ADN.
As evidências fósseis, possuem vários usos. Elas podem ser datadas de uma forma razoavelmente
precisa usando a concentração de isótopos radioativos em torna das rochas para estimar a sua
idade, o que permite agregá-las à filogenia, como também, ajudar na calibração dos relógios
moleculares.
Os fósseis também podem confirmar dados de estados ancestrais preditos pela filogenia das
criaturas vivas.
19
10.2 – HUMANOS COMO PRIMATAS
Os humanos pertencem à ordem dos primatas – um grupo de mamíferos que engloba cerca de 400
espécies, que vivem maioritariamente nos trópicos e cujos antepassados pensa-se terem divergido
daqueles mais perto dos não-primatas há cerca de 80 milhões de anos.
Dentro dos haplorrinos, os társios são o grupo mais divergente encontrados no sudeste da Ásia que
se assemelham aos lóris e por isso são por vezes classificados como strepsirrinos num grupo
parafilético chamado prossímio.
Uma perspetiva do parentesco entre os símios, que foi comum até há algumas décadas atrás, tinha
os gibões a divergirem primeiro, depois os grandes símios a dividirem-se em humanos e em outros
símios (de entre os quais, os gorilas e os chimpanzés); esta foi uma perspetiva influenciada pelas
semelhanças fenotípicas, dado que os outros grandes símios são todos quadrúpedes peludos e os
humanos não são.
Porém, as semelhanças externas não são hoje a base para uma classificação, a filogenia é. Quando a
informação molecular começou a estar disponível, ela providenciou resultados surpreendentes: os
humanos não são igualmente relacionados com todos os outros grandes símios; em vez disso, nós
somos estreita e notavelmente relacionados com os chimpanzés, sendo o nível de similaridade, nas
sequências de ADN alinhadas, na ordem dos 99%.
A perspetiva contemporânea do parentesco entre símios. Os humanos não só são símios, e não só
grandes símios africanos, mas num nível molecular poderíamos facilmente ser colocados no género
dos chimpanzés.
20
Os Australopitecos
O contexto evolutivo dos hominídeos iniciais foi num período onde o clima em África estava a
arrefecer e a secar e as anteriormente florestas tropicais estavam a tornar-se savanas. Os símios em
geral não se deram bem neste período, tendo desaparecido muitas espécies, presumidamente
porque estavam altamente adaptados às florestas densas. Assim, a seca climática e a fragmentação
das florestas pode ter proporcionado o aumento do bipedismo.
Mais tarde, os australopitecos divergiram para o designado robusto (Australopithecus boisei, que
foram mais robustos apenas nos seus dentes e maxilares, com largos molares e poderosos
músculos para mastigar, sugerindo talvez uma dieta de plantas grossas) e para o grácil
(Australopithecus africanus), o qual pensa-se ser o ramo ancestral dos humanos modernos.
Os primeiros fósseis aos quais os investigadores concordam em aplicar o mesmo nome de genus
(ou género) – Homo – datam de há cerca de 2,5 milhões de anos, atraindo nomes como Homo
habilis, Homo rudolphensis e mais tarde Homo Ergaster e Homo erectus. Estes primeiros Homo são
significativos por uma série de razões. Primeiro, eles são os animais onde o tamanho do cérebro
(relativamente ao corpo) começa a divergir dos chimpanzés e a aproximar-se do padrão humano de
hoje. Segundo, por volta do tempo em que surgiram, foi quando começaram a aparecer as
ferramentas de pedra, associadas com frequência a ossos de animais, o que sugere que o Homo
inicial começou significativamente a depender da carne. Terceiro, porque estes Homo iniciais foram
os primeiros hominídeos a migrar para fora de África sendo encontrados no sudeste da Ásia há
cerca de 1,5 milhões de anos. Por esta altura já estava assim assente o completo bipedismo
moderno.
Os Arcaicos
Por volta de há 0.8 milhões (800 mil anos) de anos atrás, começaram a aparecer, primeiro em
África, novas formas de hominídeos. São globalmente mais largos e os seus cérebros expandidos,
ambos, corpo e cabeça, já dentro dos padrões humanos atuais. Estão associados a ferramentas de
21
pedra mais complexas do que as usadas pelo Homo erectus e são referidos com frequência como
sendo os Homo sapiens arcaicos.
Um ramo dos arcaicos que viveu até há relativamente pouco tempo é o Neandertal (Homo
neanderthalensis). Robusto e adaptado ao frio, apareceu na Europa há cerca de 300.000 anos atrás
e a sua extinção só se deu, talvez, há cerca de 30.000 anos atrás.
Tem sido sugerido que o Homo floresiensis é um descendente anão do Homo erectus. Como tal, o
Homo erectus e a sua linhagem persistiu na Ásia até relativamente recentemente.
10.2.4 – ORIGENS DO HOMO SAPIENS
Os fósseis que são quase iguais aos ossos dos humanos modernos começaram a ser encontrados
dentro dos últimos 200.000 anos. Os investigadores acordaram em atribuir-lhes o nome Homo
sapiens e referirem-se a eles como humanos modernos (HM). Como já notado, as datas da extinção
dos Neandertais na Europa (+/- 30.000 anos atrás) e dos Homo erectus na Ásia (+/- 50.000 anos
atrás) são bem depois do aparecimento dos HM em África; os HM estavam claramente a
expandirse, conforme se verifica com a sua presença no Médio Oriente há cerca de 100.000 atrás,
na Ásia e Australásia há cerca de 60.000 anos atrás e na Europa há cerca de 30.000 anos atrás.
A primeira possibilidade (que os HM foram uma nova espécie que substituiu outros hominídeos
sem cruzamento) é conhecida popularmente como o modelo ‘Out of Africa’ (Fora de África) e é o
que tem mais evidências a seu favor, que são as seguintes:
Genética dos humanos atuais – as filogenias moleculares foram construídas usando um número de
sequências do genoma humano, tal como o ADN mitocondrial, o qual é particularmente útil, dado
que este é apenas passado através das mães e assim sendo não está sujeito a recombinações;
também possui uma alta taxa de mutação, o que significa que é informativo, mesmo com o curto
espaço de tempo da história do Homo sapiens.
Todos os humanos atuais podem ser rastreados até um pequeno conjunto de antepassados na raiz
da árvore. Após este evento de gargalo, a população começou a expandir-se e o seu ADN
mitocondrial começou a divergir, o que se iniciou em África. Muito mais tarde, pequenos grupos de
subconjuntos de africanos migraram para outros continentes e os seus parentes começaram a
expandir-se e a divergir, dando-nos as ramificações mais recentes, dos humanos não-africanos. Os
cálculos de relógio molecular destas informações, estimam que o evento de gargalo africano
ocorreu há cerca de 172.000 de anos e que a migração para fora de África entre 40.000 a 60.000
anos atrás.
22
História do Homem Moderno Desde as Suas Origens
Estas informações suportam assim a perspetiva de que todos nós, humanos vivos, descendemos de
uma pequena população que viveu em África dentro dos últimos 200.000 anos, a qual deu origem a
grandes colonizadores, povoando todos os outros continentes do Velho Mundo há cerca de 40.000
anos atrás.
As ferramentas são um aspecto antigo da vida hominídea, que remonta há cerca de 2,5 milhões de
anos; no entanto, por longos períodos desse tempo as ferramentas mantiveram-se relativamente
imutáveis; além disso, o aparecimento de novas ferramentas não está bem correlacionado com
mudanças anatómicas.
Existem muitas teorias sobre a significância funcional de cérebros grandes nos humanos, incluindo a
hipótese do cérebro social, que associa o alargamento do cérebro ao aumento e à complexidade
dos grupos sociais, mas também deve estar associado ao aumento da ocupação com a
aprendizagem.
23
Relativamente à infância, uma vez tendo sido criado um cérebro grande e complexo, a sua
maturação leva algum tempo.
Pais, avós e outros parentes providenciam cuidados às crianças de uma forma bem mais extensa
comparativamente com outros primatas. Graças a este provisionamento cooperativo, os humanos
mantêm uma alta taxa de reprodução em comparação com outros grandes símios.
10.3.5 – APRENDIZAGEM
A consequência da especialização humana na extração de recursos de alta qualidade usando
habilidades aprendidas é que a aprendizagem é longa.
O forrageamento de alta-habilidade faz com que os humanos ocupem uma incrível largura de
ambientes de formas muito engenhosas, mas o custo necessário é a vida longa, o longo período
juvenil e a necessidade de dar assistência aos mais novos.
10.3.6 – LINGUAGEM
Outra caraterística impressionante dos humanos é a linguagem. Os outros símios possuem
complexos sistemas de comunicação, mas o humano possui caraterísticas especiais: é produtivo (o
que significa que não existe um repertório fixo de significados, mas em vez disso, um stock de
unidades com significado, que são as palavras, que podem ser combinadas de acordo com regras
para produzir um conjunto ilimitado de novos significados, as frases); permite fazer referências a
coisas que não estão presentes.
24