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PROFISIO SESCAD
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO
DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
FRANCIMAR FERRARI RAMOS
INDIANARA MARIA ARAÚJO DO NASCIMENTO
FABRÍCIO OLINDA DE SOUZA MESQUITA
EDUARDO ERIKO TENÓRIO DE FRANÇA
FLÁVIO MACIEL DIAS DE ANDRADE
n INTRODUÇÃO
O advento dos ventiladores mecânicos foi um marco no tratamento da insuficiência respiratória
aguda (IRpA). Porém, de 5 a 30% dos pacientes que precisam da ventilação mecânica (VM) evoluem
com alguma dificuldade para restaurar a autonomia ventilatória, e podem permanecer em VM
por tempo prolongado.1 Essa ocorrência expõe os pacientes a uma série de complicações, como
pneumonia, barotrauma, lesões laringotraqueais, repercussões hemodinâmicas, tromboembolismo,
atrofia muscular periférica e respiratória e toxicidade pelo oxigênio, além de elevar sensivelmente
o risco de morte.2
A rotina de retirada da VM pelo teste de respiração espontânea (TRE) seleciona pacientes com
maior probabilidade de sucesso de desmame e de extubação. No entanto, nos pacientes que não
evoluem para o desmame após realizarem o TRE por duas vezes consecutivas, deve-se investigar
a causa dessa dificuldade, a fim de estabelecer terapias para reverter o problema e viabilizar a
retirada da VM.1
As estratégias mais frequentemente utilizadas em pacientes que evoluem com desmame difícil
são as seguintes:2,3
n TREs diários;
n uso da ventilação não invasiva com pressão positiva (VPPN);
n desmame gradual por meio do “tubo em T” ou ventilação por pressão de suporte (PSV);
n mobilização e treinamento de músculos periféricos e respiratórios;
n indicação da traqueostomia em pacientes selecionados.
112
Mesmo com todo esse arsenal terapêutico, alguns pacientes precisam continuar o processo de
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
desmame em um ambiente externo à unidade de terapia intensiva (UTI), sendo transferidos para as
unidades de cuidados crônicos (UCCs) ou para o seu próprio domicílio – o chamado home care.2,4,5
Saber em que momento e quais indivíduos podem se beneficiar com essas práticas é vital para o
sucesso da reintegração ventilatória e funcional dos pacientes que apresentam alguma dificuldade
de desmame da VM.
n OBJETIVOS
Após a leitura deste artigo, o leitor poderá ser capaz de:
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n ESQUEMA CONCEITUAL
Conceitos sobre o desmame da
ventilação mecânica
Hipofosfatemia
Hipotireoidismo
Hiperglicemia
Estado nutricional
Depressão e delírio
Anemia
Corticoides
Anormalidades neuromusculares
do paciente crítico
Tempos progressivos
de respiração espontânea em
“tubo T”
Caso clínico
Conclusão
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DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
O processo de desmame é aparentemente simples para a grande maioria dos pacientes que precisa
de VM – apenas 5 a 30% deles não conseguem sair da máquina em uma primeira tentativa ou em
duas tentativas consecutivas.2 De acordo com a classificação para o desmame da VM, os pacientes
que não se enquadram nessa realidade são classificados como pacientes em desmame difícil
ou prolongado (Quadro 1).1
Quadro 1
CLASSIFICAÇÃO DOS PACIENTES DE ACORDO COM O PROCESSO DE DESMAME
Categoria Definição
Desmame simples Pacientes que toleram o primeiro TRE e são extubados com
sucesso
Desmame difícil Pacientes que falharam no primeiro TRE, mas foram desmamados
com sucesso após no máximo três TREs ou no máximo sete dias
após a primeira tentativa
Desmame prolongado Pacientes que falharam após três TREs ou permaneceram em AVM
por mais de sete dias após o primeiro TRE
TRE = teste de respiração espontânea; AVM = assistência ventilatória mecânica.
Fonte: Boles e colaboradores (2007).1
LEMBRAR
Sucesso na extubação e no desmame é considerado quando o paciente demonstra
autonomia ventilatória durante um período de, pelo menos, 48 horas após a interrupção
da ventilação artificial.
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à VM, a prevalência de pacientes assim classificados nas UTIs é bastante significativa, uma vez
que grande parte deles permanece dependente da VM por longos períodos. Esta realidade contribui
para que o processo de desmame do suporte ventilatório ocupe cerca de 40% do tempo total dos
pacientes em VM, o que aumenta sensivelmente a morbidade, a mortalidade e os custos associados
à VM e à terapia intensiva.1,2,3,6
O processo de desmame da VM passa a ser, então, ainda mais desafiador, e demanda uma ação
conjunta e interativa de toda a equipe de profissionais envolvidos no cuidado dos pacientes, no
sentido de identificar as possíveis causas associadas às falhas e, portanto, estabelecer estratégias
para oferecer a autonomia ventilatória o mais rapidamente possível.
Falha no
TRE
Insuficiência respiratória após extubação < 48 horas GRUPO 1: DESMAME SIMPLES
Óbito
Desmamados Grupo 2: Desmame difícil (4-47%)
O desfecho clínico de pacientes que requerem VMP está relacionado à doença que levou o
paciente à VM. O sucesso no desmame prolongado é maior em pacientes que desenvolveram
IRpA no pós-operatório (58%) e lesão pulmonar aguda (LPA) (57%), e menor em pacientes com
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou DNM (22%). A taxa de sobrevida em longo prazo
também é menor em pacientes com DPOC.1
116
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Quadro 2
ESTÁGIOS DA VM
Questionamentos Procedimentos
O paciente tem estabilidade clínica para iniciar ou Realize um checklist diário de estabilidade clínica.
progredir (reiniciar) o desmame?
O paciente tem autonomia para respirar Realize o TRE diariamente.
espontaneamente?
O paciente tem autonomia para respirar sem uma Avalie a proteção de vias aéreas e a eficiência da
via aérea artificial? tosse.
O paciente vai evoluir com IRpA após a Acompanhe nas próximas 48 a 72 horas.
extubação? (Observação: A VNI pode prevenir a IRpA)
A identificação de qual das fases do desmame contribuiu para o insucesso neste processo é vital
para evitar novas falhas e facilitar a elaboração de estratégias que sejam eficientes para promover a
autonomia ventilatória de pacientes que cursam com desmame difícil. Portanto, a equipe envolvida
com o processo de desmame da VM deve ter uma rotina para identificar e entender os principais
mecanismos fisiopatológicos relacionados às falhas nas tentativas de desconexão do paciente do
suporte ventilatório.
LEMBRAR
É preciso identificar a causa da falha, e não apenas tratar o efeito. Quando se volta o
paciente para a VM por algum sinal de intolerância (por exemplo: aumento do esforço
respiratório) sem que seja identificada e corrigida a causa raiz do insucesso, existe
uma grande possibilidade de a falha se tornar recorrente.
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3. A respeito do processo de extubação e desmame, marque a alternativa
INCORRETA.
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Respostas no final do artigo
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Além da hiperinsuflação, vários fatores podem causar a fraqueza dos músculos respiratórios, como:1-3
A Figura 2 apresenta um esquema que demonstra a relação de fatores que podem pesar na causa
do desequilíbrio entre a demanda e a capacidade ventilatória.
DEMANDA CAPACIDADE
Aumento do trabalho respiratório: Fraqueza dos músculos repiratórios:
■ Hiperinsuflação dinâmica ■ Atrofia/remodelamento por inatividade
■ Alterações na mecânica respiratória ■ Lesão por excesso de uso/fadiga
- Complacência baixa (pulmões e caixa torácica)
■ Doenças neuromusculares
- Resistência alta (broncoespasmo, inflamação,
diâmetro do TOT, acúmulo de secreções) ■ Neuropatias
Ex.: polineuropatia do paciente crítico
■ Aumento da demanda por O2
- Sepse ■ Miopatias
- Aumento do espaço morto • Medicamentos (BNM, aminoglicosídios,
corticosteroides)
• Distúrbios metabólicos
Dependência do Possibilidade de
suporte ventilatório respiração espontânea
Figura 2: Esquema demonstrando a relação de fatores que podem pesar na causa do desequilíbrio entre a demanda e a
capacidade ventilatória. O aumento da demanda e a diminuição da capacidade ventilatória desequilibram a balança para
a dependência ventilatória.
Fonte: Modificada MacIntyre e colaboradores (2001).3
HIPOFOSFATEMIA
A maior parte do fósforo do corpo está ligada ao cálcio no esqueleto, mas cerca de 15% está
presente no sangue, nos tecidos moles e nos líquidos corporais, na forma de íons fosfato (PO4).
O fosfato, por sua vez, é um importante componente envolvido no metabolismo de carboidratos,
lipídeos e proteínas, fazendo parte dos componentes de alta energia – adenosina trifosfato (ATP).7
119
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Quando a concentração de fosfato sérico for inferior a 2,5mg/dL, o paciente é considerado
com hipofosfatemia, que pode ser causada principalmente por desnutrição ou má-
absorção intestinal. A hipofosfatemia afeta aproximadamente 2,2 a 3,1% dos pacientes
hospitalizados e 28 a 33% dos pacientes admitidos nas UTIs em consequência da
intolerância enteral ou da hipomotilidade intestinal.8
Gravelyn e colaboradores11 observaram que pacientes hospitalizados com níveis de fosfato sérico
inferiores a 0,80mg/dL apresentaram força muscular inspiratória (Pimáx) e expiratória (Pemáx) menores
quando comparados aos pacientes com valores normais de fosfato sérico, mostrando relação entre
hipofosfatemia, falência respiratória e falhas no desmame da VM na ausência de doença pulmonar
de base.
A hipofosfatemia, portanto, aumenta em 18% o risco para falha no desmame da VM, mesmo na
presença de concentrações de cálcio sérico normais, sugerindo que níveis apropriados de fosfato
são necessários para o sucesso do desmame do suporte ventilatório.11
HIPOTIREOIDISMO
Doentes críticos, incluindo aqueles com IRpA frequentemente apresentam alteração funcional
da tireoide em consequência da ativação neuroendócrina imposta pela doença, determinando,
assim, alterações na liberação do hormônio estimulante da tireoide (TSH), tri-iodo tironina (T3) e
tiroxina (T4).12,13
Embora o hipotireoidismo seja considerado uma das causas de VMP, sua associação com a falha
no processo de desmame do suporte ventilatório parece ser relativamente baixa – aproximadamente
3%. No entanto, quando o hipotireoidismo está presente, está associado:13
capacidade de difusão do gás por meio da membrana alveolocapilar. Embora as causas para essas
anormalidades não estejam totalmente claras, acredita-se que a redução nos volumes pulmonares
geralmente esteja associada à obesidade observada nesses pacientes, enquanto a redução na
capacidade de difusão esteja associada à redução no leito capilar pulmonar e ao aumento na
permeabilidade vascular com consequente extravasamento de líquido para o espaço intersticial
em decorrência da deficiência hormonal.13 Esses fatores, isoladamente, contribuem para aumento
do trabalho respiratório que, associado à fraqueza muscular, predispõem a fadiga muscular
respiratória e falha no desmame da VM.
HIPERGLICEMIA
Várias citocinas, fatores de crescimento e a própria hipóxia, envolvidos nos processos inflamatórios,
induzem ao aumento da resposta (upregulation) dos transportadores de glicose na membrana
plasmática em diferentes tipos de células, incluindo endotélio e neurônios. Essa resposta ao
estresse leva à sobrecarga celular de glicose, levando à toxidade induzida por hiperglicemia.
Dessa forma, na presença de sobrecarga de glicose, há mecanismos que levam à supressão da
atividade mitocondrial, gerando espécies reativas de oxigênio (ROS) e consequente morte celular.16,17
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ESTADO NUTRICIONAL
A incidência de desnutrição em pacientes hospitalizados é de 30% e, segundo a Sociedade Europeia
de Nutrição Parenteral e Enteral (ESPEN), a maioria deles desenvolve ou piora sua condição
nutricional após a internação. Quando são considerados aqueles pacientes internados nas UTIs,
segundo diversos critérios de avaliação, a desnutrição pode ocorrer em 30 a 50% dos casos.20,21
Pacientes com síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), de origem séptica ou não,
cursam com desnutrição decorrente de quadros hipermetabólicos, cujo objetivo é fornecer substratos
caloricoproteicos necessários aos mecanismos imunológicos de defesa e reparo dos tecidos. As
consequências desse estado hipermetabólico são aumento no gasto energético, retenção de
água e grande perda de massa muscular magra, levando à perda de força muscular periférica e
respiratória, predisposição a infecções e deterioração clínica. A fraqueza muscular observada nesses
pacientes está relacionada a falhas no desmame da VM, que, associadas à alteração imunológica,
prolonga o tempo de VM e piora o prognóstico do paciente.20-22
O aumento excessivo da oferta nutricional em pacientes críticos, no entanto, pode levar a alterações
funcionais hepáticas e metabólicas, hiperglicemia, uremia e alterações cardiopulmonares, com
consequente hipercapnia, o que aumenta a demanda ventilatória e o trabalho cardíaco, dificultando
o desmame da VM.22
DEPRESSÃO E DELÍRIO
Pacientes em terapia intensiva apresentam vários fatores de risco envolvidos com alteração do
estado emocional e cognitivo, incluindo:1
Estudo recente demonstrou que 52% dos pacientes que estavam em processo de desmame da
VMP apresentaram delírio, enquanto 42% apresentaram depressão, sendo essa alteração do
estado emocional diretamente relacionada à falha no desmame do suporte ventilatório e à maior
taxa de mortalidade. Pacientes depressivos não apresentam a energia e a motivação necessárias
para tolerar as mudanças diárias nos testes de respiração espontânea, o que contribui para falhas
no desmame.23
LEMBRAR
Pacientes com distúrbios depressivos apresentam três vezes mais chances de
falha no desmame da VM quando comparados àqueles com status mental normal.
Reciprocamente, a incapacidade no desmame pode contribuir para a depressão.
ANEMIA
A anemia é uma comorbidade comum em pacientes em UTI. Praticamente todos os pacientes
criticamente doentes apresentam níveis de hemoglobina mais baixos do que o normal no momento da
admissão ou apresentam declínio durante o tempo de permanência na UTI, decorrente principalmente
de alteração no metabolismo do ferro devido à presença de processos inflamatórios.25-27
LEMBRAR
Pacientes com IRpA que estão hospitalizados em UTI por tempo prolongado,
recebendo VM, frequentemente adquirem anemia. A anemia, por sua vez, pode
reduzir de forma significativa a liberação de oxigênio tecidual, impondo aumento do
trabalho cardíaco na tentativa de manter a demanda metabólica. Dessa forma, em
pacientes que recebem VM por tempo prolongado, a presença de anemia pode estar
relacionada à falha no desmame devido à sobrecarga adicional imposta aos músculos
respiratórios e ao miocárdio por aumentar a demanda de oxigênio. Esses fatos são
agravados em pacientes com DPOC e ICC.26-28
123
Aumentar os níveis de hemoglobina pode aumentar a capacidade de transporte de
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oxigênio, melhorando sua liberação para órgãos vitais, principalmente em pacientes
que apresentam doença arterial coronariana (DAC) associada. No entanto, apesar de
os consensos considerarem adequados para processo de desmame da VM níveis de
hemoglobina superiores a 8-10g/dL, a suplementação de células vermelhas por meio de
transfusões sanguíneas ou terapias com agentes eritropoiéticos não parecem apresentar
impacto positivo sobre os dias de internação em UTI, sobre a duração da VM ou sobre
o sucesso no processo de desmame do suporte ventilatório.1,27,28
Adicionalmente, pacientes em terapia intensiva apresentam uma tendência a balanço hídrico positivo,
induzido pelo aporte quase contínuo de hidratação, agentes analgésicos e anestésicos, antibióticos
e, em casos particulares, de medicamentos vasoativos. Associada a esses fatores, a presença
de insuficiência renal predispõe importante sobrecarga volêmica ao sistema cardiovascular.1,30
O relaxamento diastólico depende dos seguintes fatores, que são alterações comumente observadas
durante o TRE:
n atividade adrenérgica;
n concentração plasmática de catecolaminas;
n frequência cardíaca;
n alterações abruptas da carga pressórica e volumétrica ventricular.
LEMBRAR
Estudos com ecocardiografia transtorácica têm demonstrado que o TRE resulta em
aumento significativo no trabalho cardíaco comparado a um verdadeiro exercício
físico, incluindo aumento na PAS consistente com aumento na pós-carga ventricular
esquerda. Pacientes com fração de ejeção do ventrículo esquerdo inferior a 35%
devem ser considerados de alto risco para falha no desmame, particularmente quando
existir retardo no relaxamento diastólico do ventrículo.
INSUFICIÊNCIA RENAL
A insuficiência renal aguda é um achado comum em UTIs. Um recente estudo observacional foi feito
com aproximadamente 30.000 pacientes admitidos em UTIs de 54 hospitais em 23 países. Esse
estudo observou que 5,7% do total de pacientes apresentavam insuficiência renal aguda durante
o tempo de internação na UTI e que aproximadamente três quartos deles necessitaram de algum
tipo de tratamento dialítico.32
LEMBRAR
O desmame, em face de uma acidose metabólica, é um desafio, devido à exigência
de que o paciente seja capaz de manter uma ventilação maior do que a usual. O
edema pulmonar e a ventilação a baixos volumes podem causar piora da hipoxemia.34
O edema de vias aéreas também pode ser observado em pacientes com insuficiência renal,
contribuindo para reduzir o diâmetro da via aérea, predispondo ao aprisionamento aéreo e à
presença de pressão positiva expiratória final intrínseca (PEEP-intrínseca). Esses fatores, por sua
vez, diminuem a capacidade do diafragma em gerar tensão por desvantagem mecânica, além de
reduzir o retorno venoso, comprometendo a função cardíaca.34 Todos esses fatores conjuntamente
contribuem diretamente para a falha no desmame da VM.
125
A maioria dos pacientes que cursa com insuficiência renal necessita de hemodiálise, o que
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provavelmente facilita o desmame por diminuir a sobrecarga volumétrica, reduzindo a congestão e o
edema. No entanto, alguns estudos demonstram que esses pacientes apresentam maiores chances
de falha no desmame da VM e maior taxa de mortalidade. Mesmo aqueles que obtiveram sucesso
no desmame tiveram prognóstico ruim, com baixa capacidade funcional e qualidade de vida.35
CORTICOIDES
Altas doses de corticoides podem induzir a miopatias com comprometimento dos filamentos finos
de actina, levando à fraqueza muscular causada por generalizada atrofia ou necrose de fibras
musculares. O tratamento crônico com glicocorticoides produz um padrão clássico de lesão muscular
esquelética com fraqueza muscular proximal, atrofia e mialgia, afetando principalmente as fibras
tipo II, o que sugere a possível causa de falha no desmame dos pacientes.36,37
Os pacientes portadores de DPOC e asma são particularmente afetados, uma vez que utilizam
corticoides por tempo prolongado, principalmente em associação com bloqueadores neuromusculares,
culminando em importante fraqueza muscular periférica e respiratória, especificamente do diafragma.
superfície pleural com o objetivo de vencer cargas elásticas e resistivas impostas pelo sistema
respiratório, permitindo a ventilação. Esse trabalho pode servir como estímulo para a manutenção
da força e endurance muscular respiratória, e pode ser removido ou reduzido na presença da
ventilação com pressão positiva.
A Figura 3 mostra a microscopia eletrônica do diafragma de coelhos depois de três dias de AVM
controlada.
Figura 3: Microscopia eletrônica do diafragma de coelhos depois de três dias de AVM controlada: (1) graves áreas de
interrupção das miofibrilas; (2) edema mitocondrial e cristais anormais; (3) gotas de lípideos no espaço intermiofibrila.
Fonte: Petrof e colaboradores (2010).38
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suscetíveis à ação de enzimas proteolíticas, o que altera o acoplamento excitação-contração,
contribuindo para reduzir a geração de força muscular. Adicionalmente, estruturas vacuolares
presentes na fibra muscular diafragmática sugerem autofagia, um processo mediado por lisossomos
e também associado ao aumento no estresse oxidativo.40-42
n gênero feminino;
n número de dias com disfunção de dois ou mais órgãos;
n duração da VM;
n uso de costicosteroides.
No mesmo estudo, a sepse não se apresentou como fator de risco independente, o que demonstra
a complexidade da patogenia da fraqueza muscular adquirida na UTI.
A disfunção dos músculos respiratórios também é descrita, tendo como principal fator
desencadeador o tempo de VM, que está associado à diminuição da síntese proteica, ao aumento
da proteólise e ao estresse oxidativo das fibras do diafragma, intercostais e músculos acessórios.45
A fisiopatologia da miopatia do paciente crítico também é bastante complexa, mas pode ser
resumida nos seguintes itens envolvidos com a liberação de mediadores inflamatórios:
LEMBRAR
Medidas preventivas na tentativa de reduzir a incidência de polineuropatias e miopatias
incluem a redução dos fatores de risco e, talvez o mais importante, a inserção do
paciente em um programa de mobilização precoce e reabilitação funcional, que facilite
o processo de desmame e reduza o tempo de VM e a mortalidade.44
Quadro 3
CAUSAS DA HIPERINSUFLAÇÃO PULMONAR (AUTOPEEP)
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um importante mecanismo gerador das chamadas assincronias de disparo, contribuindo para a
fadiga dos músculos respiratórios, principalmente o diafragma.
7. Cite os principais fatores que podem causar fraqueza dos músculos respiratórios e
consequente falha no desmame da VM.
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DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
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Respostas no final do artigo
11. Explique a relação entre doses altas de corticoides e a falha no desmame da VM.
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12. A respeito dos fatores envolvidos na falha do desmame da VM, marque V para
as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
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n ESTRATÉGIAS PARA O DESMAME DIFÍCIL
Para pacientes que evoluem com desmame difícil, várias estratégias podem ser adotadas para
progredir o desmame da VM.2,3,6,50 Entre essas estratégias destacam-se:
n TREs diários;
n VPPN;
n desmame gradual da PSV;
n tempos progressivos de respiração espontânea em “tubo T”;
n traqueostomia
n mobilização e treinamento de músculos respiratórios e periféricos;
n ventilação pós-UTI.
Dependendo da sistemática utilizada, a utilização diária do TRE pode ser eficaz no desmame difícil.
O primeiro passo deve ser a verificação e a tentativa de identificar as possíveis causas das
falhas anteriores (intolerância ao TRE ou falha na extubação).
Após a falha, é necessário o repouso muscular com ventilação assistida ou pressão de suporte
(ajustada para manter um padrão respiratório confortável) por um período de, ao menos, 24 horas
até que seja realizada uma nova tentativa de desmame. Além de objetivar o repouso da musculatura
ventilatória, esse período serve para a equipe verificar as possíveis causas do insucesso na tentativa
de desconexão.2,3,6,50
LEMBRAR
Mesmo para os pacientes que necessitam de sedação e ventilação controlada após
reintubação, a PSV é recomendada logo que possível antes de outra tentativa de
desconexão.
Em pacientes que falharam no TRE, os seguintes fatores devem ser verificados e corrigidos
enfaticamente:2,50
Após a identificação das possíveis causas da falha na tentativa da desconexão da VM, são
necessárias medidas no sentido de corrigi-las e permitir sucesso no próximo TRE. As alterações da
mecânica ventilatória justificam algumas das causas funcionais de falhas no desmame (Quadro 4).2,50
132
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Quadro 4
CUIDADOS PARA OTIMIZAR A MECÂNICA PULMONAR NO DESMAME DIFÍCIL
Fundamentalmente, a APV pode ser definida como falta de sincronismo entre a bomba
musculoventilatória e o ventilador mecânico, e pode se manifestar essencialmente em
quatro momentos do ciclo ventilatório mecânico2,3,51 – disparo, fase de pressurização,
ciclagem e fase expiratória (ver o artigo sobre sincronia paciente-ventilador neste
módulo).
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PAPEL DA VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA NO DESMAME DIFÍCIL
A porcentagem de pacientes que falham na extubação entre o período de 48 e 72 horas varia entre
6 e 28%, levando aos riscos deletérios da VM, com aumento da mortalidade e da estadia hospitalar.3
A VPPN pode ser utilizada como uma técnica para acelerar o desmame da VM invasiva – “desmame
não invasivo”, ou como uma alternativa eficiente para prevenir a IRpA pós-extubação e a consequente
necessidade de reitubação endotraqueal. Ainda que com menor eficiência do que a ventilação
invasiva, a VPPN também minimiza o trabalho respiratório e pode ser utilizada na transição do
trabalho respiratório do ventilador para o paciente, mas com a vantagem de diminuir os possíveis
fatores de risco relacionados às vias aéreas artificiais.4
A VPPN como forma de desmame da VM vem sendo utilizada com o objetivo de diminuir o tempo
de ventilação invasiva e os seus efeitos deletérios. Esse método, chamado de “desmame não
invasivo”, consiste em extubar e iniciar precocemente a VPPN em pacientes que falharam no TRE.
Embora vários estudos tenham sido realizados com essa proposta, a evidência sobre os benefícios
acerca da VPPN como método de desmame ainda são conflituosos.2 Recente metanálise, envolvendo
12 estudos e 503 pacientes, demonstrou que a VPPN pode facilitar o desmame de pacientes em
VM invasiva, especialmente no subgrupo de pacientes com DPOC, em que também mostrou ser
capaz de diminuir a mortalidade e a incidência de pneumonia associada à VM.52
Ventilação não invasiva com pressão positiva como recurso para prevenir
a insuficiência respiratória pós-extubação
Dois importantes ensaios clínicos controlados e randomizados54,55 demonstraram que o uso de
VPPN, de forma precoce e como alternativa de prevenção para a IRpA pós-extubação, é eficiente
em pacientes que apresentam fatores de riscos para falhar na extubação.
Uma metanálise recente56 envolvendo esses ensaios e os estudos que usaram a VPPN como
método de resgate ratificou que a VNI pode ser utilizada como um recurso eficiente para prevenir a
reitubação e diminuir a mortalidade na UTI em pacientes selecionados. Também estabeleceu, com
maior clareza, os pacientes candidatos à aplicação da VPPN precoce (Quadro 5) e demonstrou que
os pacientes com IRpA já instalada não são bons candidatos para o uso da VPPN, pois apresentam
maior risco de morte.56
Um ensaio posterior57 com a participação de 106 pacientes demonstrou que o uso da VPPN de
forma precoce diminuiu o risco [OR= 0,17; IC 95%= 0,06-0,44, p< 0,0001] de desenvolvimento de
IRpA e a taxa de mortalidade nos pacientes acompanhados durante 90 dias (p= 0,0146). Esses
achados foram particularmente encontrados em pacientes com hipercapnia (pressão parcial de
dióxido de carbono – PaCO2 – acima de 45mmHg no momento da extubação).
Quadro 5
FATORES DE RISCO PARA REALIZAÇÃO DE VNI PÓS-EXTUBAÇÃO
A monitorização cuidadosa e constante deve ser feita nos pacientes que estão realizando a VPPN
pós-extubação. O prolongamento da VPPN em pacientes que já têm indicação de VM aumenta a
taxa de mortalidade. Portanto, deve-se estar atento ao momento ideal de interromper a VPPN e
indicar a VM, tomando como referência alguns itens que precisam ser monitorados (Quadro 6).56
Quadro 6
ITENS A SEREM MONITORADOS DURANTE A VPPN PÓS-EXTUBAÇÃO
n Uso criterioso
n Seleção de pacientes que provavelmente irão se beneficiar (por exemplo, agudização da DPOC,
edema pulmonar)
n Controle rigoroso durante as 2 horas iniciais
n Monitorização constante das variáveis respiratórias (FR, SpO2), cardiovasculares (PAM, FC) e da
gasometria arterial (pH, PaCO2)
n Acesso rápido à ventilação invasiva, caso necessário
FR: frequência respiratória; SpO2: saturação periférica de oxigênio; PAM: pressão arterial média; FC: frequência cardíaca.
Fonte: Mehtas e Hill (2001).56
135
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LEMBRAR
O insucesso da VPPN tem relação com vários fatores, sendo mais de 80% relacionado
a escape aéreo.58 A escolha correta das interfaces contribui fortemente para o sucesso
da terapia adotada. Fatores como claustrofobia, escape aéreo e irritações dos olhos
podem ser cessados ou diminuídos com escolha adequada da máscara. Com o
avanço tecnológico, muitos modelos de interfaces foram desenvolvidos na tentativa
de melhorar a tolerância dos pacientes durante a VPPN, a exemplo das máscaras
facial total (total face) e os modelos capacetes (helmet face).59
Esses modelos de interface são mais confortáveis e ajustáveis às diversas variações anatômicas,
o que contribui para aumentar significativamente a chance de sucesso. A máscara facial total tem
a vantagem de diminuir o vazamento e possibilitar o uso de maiores pressões inspiratórias. Os
modelos capacetes eliminam o contato com a face do paciente, evitando, assim, a complicação
mais frequente da VPPN, que é a lesão de pele.59
A VPPN apresenta algumas contraindicações que não devem ser esquecidas. A VNI dificulta o acesso
às vias aéreas inferiores e a remoção de secreções traqueobrônquicas. Porém, o seu maior risco
clínico refere-se ao aumento da possibilidade de broncoaspiração e de intubação de urgência.
Os critérios de contraindicação (Quadro 7) e de descontinuação (Quadro 8) da VPPN devem ser
conhecidos, a fim de evitar os efeitos adversos de uma aplicação inadequada da terapia.56
136
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Quadro 7
CONTRAINDICAÇÕES PARA MANUTENÇÃO DA VPPN
PROFISIO SESCAD
Quadro 8
CRITÉRIOS DE DESCONTINUAÇÃO DA VPPN
n Intolerância à máscara
n Pobre aderência à terapia
n Incapacidade de reduzir a dispneia e melhorar o intercâmbio gasoso: relação PaO2/FiO2 ≤ 146mmHg,
ou ≤ 175 para SDRA após 1 hora
n PaCO2 > 80mmHg com pH ≤ 7,2 após 2 horas
n Incapacidade de melhorar o status mental após 30 minutos de terapia
n Instabilidade hemodinâmica
n Isquemia miocárdica
n Arritmias
n Dificuldade no manejo de secreções
n Evidência de distensão gástrica
FiO2 = fração inspirada de oxigênio; PaCO2 = pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial. SDRA = síndrome
do desconforto respiratório agudo.
Fonte: Mehtas e Hill (2001).56
Como forma de minimizar possíveis falhas e aumentar o sucesso do uso da VPPN, o uso de
protocolos e uniformização de condutas e rotinas se faz necessário em todos os serviços de
UTI (Figura 5).
n Idade 65 anos
Critérios de n Mais de uma falha no desmame
risco para n Insulficiência cardíaca crônica
extubação n DPOC
n Pacientes com hipercapnia pós-
extubação
VNI pós- n Apache 12 na extubação
extubação
n Nível de consciência
n Estabilidade hemodinâmica Monitorização
e clínica rigorosa nas
n Gasometria (Ph e PaCO2) primeiras 2h
Avaliar necessidade
de manuntenção
de VNI
PAPEL DA TRAQUEOSTOMIA
A traqueostomia deve ser sempre considerada em pacientes que falharam em várias tentativas
de desconexão da VM (desmame difícil e prolongado) e naqueles que aparentemente irão evoluir
para VMP. Porém, predizer os pacientes que vão progredir com VMP não é uma tarefa fácil e que
possa ser feita com precisão na prática clínica.1
138
Embora a intubação orotraqueal prolongada esteja associada à gênese de traumas de orofaringe,
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Alguns estudos demonstram que a traqueostomia precoce pode reduzir o risco de extubação
acidental, de pneumonia associada à VM (PAV) e o tempo de VM e de estadia na UTI, impactando
diretamente na mortalidade em 30 dias de internação hospitalar, particularmente em pacientes
neurológicos e com doenças crônicas.60 Entretanto, esses achados não foram encontrados em
outros estudos, em parte por causa da diversidade de metodologia.2
Em pacientes que evoluem com dificuldade de desmame da VM, a traqueostomia pode proporcionar
os seguintes benefícios:2,3
Embora a traqueostomia possa trazer todos os benefícios citados, o seu uso também
pode gerar efeitos adversos, como o risco de deslocamento, obstrução e decanulação,
além do prejuízo no reflexo de deglutição e maior risco de estenose traqueal tardia.1
Outro fato a ser considerado é que a traqueostomia facilita o desmame da VM. Porém, impõe a
necessidade de posterior processo de decanulação nos pacientes que obtiveram autonomia
ventilatória e não são candidatos a traqueostomia contínua.
PROFISIO SESCAD
manter alguma atividade muscular e, por consequência, atenuar a VIDD. Aliverti e colaboradores61
estudaram nove pacientes com diferentes níveis de pressão de suporte e observaram que os
menores níveis permitiram um recrutamento mais homogêneo dos músculos respiratórios.
LEMBRAR
O uso intermitente de baixos níveis de PSV (5-8cmH2O), simulando situações de
respiração espontânea, é frequentemente aplicado na prática clínica como método
de treinamento de endurance para os músculos ventilatórios.34
Para pacientes que apresentaram dificuldades em tolerar TREs consecutivos, o desmame gradual
com PSV é uma alternativa bastante interessante. A maioria dos protocolos segue o fluxo de redução
progressiva e gradual da PSV (2-4cmH2O) com manutenção de padrão ventilatório confortável
com Vt > 5mL/kg, frequência respiratória (FR) < 35rpm (índice de respiração e superficial - IRRS
<100) ou até um valor de 7cmH2O (suficiente para vencer a resistência do circuito do ventilador
e da via aérea artificial) sustentados por mais de duas horas, o que representa uma situação de
autonomia ventilatória.63
A opção de usar a PSV como forma de desmame gradual oferece como vantagens a compensação
do trabalho imposto pela via aérea e a possibilidade da manutenção da CPAP, o que é fundamental
para pacientes com disfunção cardiovascular e propensos a colapso pulmonar, como os com
LPA/SDRA. Apresenta, ainda, como vantagem, a manutenção do sistema de alarmes do ventilador,
o que permite uma menor vigilância à beira do leito.1-3,6,50
A progressão dos períodos de respiração espontânea deve ser individualizada e determinada pela
identificação de manifestações prenunciadoras da fadiga ventilatória, como FR > 35rpm, uso de
musculatura acessória e padrão ventilatório paradoxal.1,3
Entre os períodos de respiração espontânea, deve-se oferecer repouso efetivo para a musculatura
ventilatória por meio do ajuste de valores confortáveis de PSV. Em tese, os pacientes que suportam
ficar mais de 30-120 minutos sob respiração espontânea estão independentes da VM; porém, a
efetiva autonomia ventilatória só pode ser considerada após 48 horas de respiração espontânea,
excetuando-se os pacientes em VMP.6,50
140
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
LEMBRAR
Para paciente em VMP (VM > 21 dias), a autonomia ventilatória só está assegurada
após 7 dias sem o uso da pressão positiva, exceto para os casos que precisem da
VNI noturna.
n gera maior necessidade de monitorização à beira do leito, devido à ausência de alarmes (Vt,
VM, FR) com desconexão do ventilador;
n apresenta falta de precisão na fração inspirada de oxigênio (FiO2) ofertada;
n pode precipitar IVE em pacientes com disfunção cardiovascular em consequência da retirada
brusca da pressão positiva em vias aéreas (efeito “tudo ou nada”);
n pode precipitar colapso alveolar devido à ausência da PEEP (observação: recomendam-se
manobras de hiperinsuflação terapêutica após o período de respiração espontânea);
n promove aumento importante do trabalho resistivo imposto pelas vias aéreas artificiais.
13. Que fatores devem ser verificados e corrigidos nos casos de pacientes que falharam
no TRE?
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141
PROFISIO SESCAD
16. A respeito da VPPN no desmame difícil, marque a alternativa INCORRETA.
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20. Quais são as vantagens de usar a PSV como forma de desmame gradual?
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142
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
LEMBRAR
A disfunção neuromuscular, expressa na forma de fraqueza muscular periférica
e respiratória, é um dos principais fatores que determina a dependência da VM.45
Nos últimos anos, diversas pesquisas foram desenvolvidas no sentido de prevenir e restaurar
os efeitos deletérios e o impacto funcional da imobilidade e da paresia adquirida na UTI. Nesse
contexto, destacam-se a suspensão diária da sedação, a redução da infusão de medicamentos, como
corticosteroides e bloqueadores neuromusculares, o controle rigoroso da glicemia, a adequação do
aporte nutricional e os programas de mobilização funcional. Essas estratégias são fundamentais
para restituir a autonomia ventilatória dos pacientes. Dentre elas, enfatizam-se os programas de
mobilização.66
Desde 1984, existem relatos da utilização da mobilização funcional sistematizada para pacientes
com DPOC dependentes da VM que vivem restritos no limite do leito e se tornam cada vez mais
dependentes para a realização de suas atividades recreativas e sociais. Para isso, alguns autores
acreditavam conseguir aplicar os princípios da reabilitação pulmonar nesse grupo de pacientes
por meio de um programa constituído de cinco fases e conduzido por uma equipe multidisciplinar.
A aplicação desse programa de atividades promove maior independência funcional e tem impacto
direto no tempo de desmame da VM e de internação na UTI.67
Durante o programa de reabilitação, os pacientes foram avaliados pelos escores de força de MMSS
e MMII e pelo escore de independência funcional (MIF). Os autores observaram que a reabilitação
de corpo inteiro melhorou a força motora e as variáveis funcionais, sendo um recurso importante
no desmame de pacientes em VMP. A força dos MMSS foi um preditor para tempo de desmame
nesses pacientes, uma vez que o aumento de 1 ponto no escore de força para MMSS reduziu
em torno de 7 dias o tempo de desmame da VM. Os benefícios da reabilitação são sempre bem
aplicados em pacientes com dificuldades graves na retirada da VM, desde que esses pacientes
tenham diminuição de força e do estado funcional.68
143
PROFISIO SESCAD
O estudo de Martin e colaboradores foi o primeiro na literatura a indicar uma relação direta entre a
68
musculatura de MMSS e o desmame da VM (Figura 6). Esses achados foram atribuídos ao papel
importante dos músculos serrátil anterior e grande dorsal, que são músculos estabilizadores da
caixa torácica e responsáveis pela função ventilatória, em especial nas situações em que facilmente
se encontra um desequilíbrio entre a demanda e a capacidade ventilatória.
Acredita-se, portanto, que os exercícios de MMII sejam importantes para a melhora da força
muscular, para a independência funcional e para a qualidade de vida. Porém, apresentam
menor relação com a independência ventilatória se comparados com os exercícios para
MMSS, os quais oferecem um tipo de treinamento com maior especificidade para a
bomba ventilatória.
5
Escore de força de membros superiores
4
R = 0,74
3 p < 0,001
-1
-2
0 10 20 30 40 50
Outro estudo avaliou os efeitos do treinamento físico realizado por meio de exercícios de MMSS
e MMII seguidos de transferências de deitado para sentado e de sentado para de pé no estado
funcional de pacientes em VMP durante 6 semanas. Verificou-se que esse treinamento é suficiente
para aumentar a força muscular dos membros e o estado funcional e para reduzir o tempo de saída
do ventilador mecânico.69
Figura 7: Dois protocolos de treinamento de MMSS: à esquerda, o protocolo de treinamento com apoio usando o
cicloergômetro; à direita, o treinamento de apoio com halteres em pacientes dependentes da VM.
IPE: índice de percepção de esforço.
Fonte: Arquivo de imagens autores.
A força-tarefa recomenda ainda que o fisioterapeuta deva ser o profissional responsável pela
implantação e pelo gerenciamento do plano de mobilização.71 Essa sequência de atividades
reflete especificidade para o treinamento de futuras tarefas funcionais.
145
Apesar das amplas vantagens oferecidas pela mobilização, o fisioterapeuta deve obedecer a
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critérios rígidos de segurança, e alguns fatores devem ser sempre avaliados antes de qualquer
procedimento.71 Saber escolher a melhor técnica, intensidade, frequência e duração do tratamento,
ou, ainda, saber o momento de aumentar o nível da atividade ou mesmo quando interrompê-la,
devem fazer sempre parte do cotidiano do fisioterapeuta.27-30
Na atualidade, todos os protocolos de treinamento físico dão ênfase a uma abordagem mais sistêmica
com prioridade para os treinamentos com atividades para MMSS e MMII, pois o ganho da força
muscular periférica, em especial dos músculos de MMSS, tem relação direta com o desmame da VM.
No entanto, em situações extremas de alterações neuromusculares, que impossibilitem qualquer tipo de
mobilização funcional e em que o paciente apresente comprovada disfunção dos músculos respiratórios
(fraqueza e baixa resistência) capaz de dificultar o desmame da VM, faz-se necessário o TMR.
Existem poucos estudos na literatura que utilizam o TRM como técnica para acelerar o desmame
pelo aumento de força e resistência dos músculos respiratórios em pacientes dependentes da VM.
Apenas três estudos de relatos de séries de caso com o uso do Threshold® empregado de maneira
isolada demonstram os benefícios de dispositivos no ganho da força dos músculos inspiratórios, no
aumento do tempo de respiração espontânea e na promoção do desmame da VM.73-75
Verifica-se, portanto, que ainda não existe, na literatura, evidência dos benefícios isolados do TMR
com dispositivos no desmame da VM. Embora os estudos demonstrem um potencial efeito benéfico,
nenhum desses estudos inclui grupo-controle. Portanto, justifica-se a urgência na realização
de estudos controlados e randomizados para respaldar com maior consistência esta prática já
consolidada para outras situações clínicas que demonstram fraqueza muscular respiratória fora
do ambiente da UTI.
Diversas outras estratégias podem ser utilizadas durante os protocolos de mobilização com o
objetivo de melhorar o desempenho da musculatura periférica e facilitar o desmame da VM. Dentre
elas, destaca-se a utilização da eletroestimulação neuromuscular utilizada na prevenção das
alterações musculares, potencializando os benefícios fisiológicos do exercício físico para que os
pacientes realizem a mobilização com maior segurança e melhor resposta fisiológica ao exercício.76,77
Sendo assim, já existem evidências de que programas de mobilização, os quais devem ser iniciados
precocemente, são um recurso seguro, de baixo custo e capaz de proporcionar melhora significativa
na força muscular respiratória e periférica e na recuperação funcional, com impacto na redução do
tempo de desmame da VM.
A UTI não representa o melhor lugar para o cuidado de pacientes crônicos por três razões
básicas:79
Ao longo das últimas duas décadas, grande ênfase foi dada ao desenvolvimento das UCCs. Dados
norte-americanos demonstram que cerca de 30-40% dos pacientes admitidos nas UTIs necessitam
de AVM. Destes, apenas 5-20% necessitam de VMP. A transferência destes da UTI, na maioria das
vezes, parte de uma motivação econômica, visto que o custo total/ano com esses pacientes gira
em torno de dezenas de bilhões de dólares.4,78,79
Os fatores econômicos, no entanto, não devem ser os únicos a nortear o estabelecimento dos novos
níveis de cuidados críticos fora da UTI. Alguns fatores adicionais são extremamente importantes,
como desenvolvimento tecnológico, aceitação e preparação familiar, além da existência de um “time”
devidamente preparado para lidar com os desafios relacionados ao tratamento destes pacientes,
em particular aqueles associados ao desmame da VM.80
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destinados a pacientes agudos, apresentando vantagens e desvantagens quando comparadas
umas as outras.79 São utilizadas as seguintes nomenclaturas para as UCCs:79
O guideline do American College of Critical Care Medicine States define o paciente candidato à
transferência para estas unidades como aquele que apresenta estabilidade clínica, encontra-se
dependente da VM e necessita de cuidados crônicos.83 Os critérios para identificação desses
pacientes são os seguintes:
A coexistência de outras comorbidades pode contribuir para uma exacerbação após a admissão
nas UCCs e aumentar a taxa de readmissão na UTI, chegando a cerca de 40% nos 6 primeiros
meses.84 Diante disso, fica clara a necessidade de uma estrutura e de uma equipe suficientemente
preparadas para lidar com possíveis intercorrências e reconhecer o momento de retorno à UTI.
148
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
LEMBRAR
Os principais objetivos das UCCs são propiciar um ambiente adequado para a
reabilitação dos pacientes portadores de disfunção respiratória e reduzir os custos
relacionados à AVM. Nessas unidades, a taxa de sucesso no desmame é acima de
50%, enquanto a taxa de mortalidade situa-se abaixo de 40%.79
A maioria das UCCs situa-se no interior de hospitais para cuidados agudos, apresenta equipamentos
para monitorização não invasiva e é composta por médicos, equipe de enfermagem, nutricionistas,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais, e, eventualmente, clérigos e
terapeutas respiratórios em tempo integral, os quais são responsáveis pela elaboração e execução
dos protocolos de desmame da AVM.79
No Brasil, a função de terapeuta respiratório tem sido exercida pelo fisioterapeuta, que atua junto
à equipe médica nas seguintes tarefas:79
n ser portátil;
n ser capaz de funcionar independentemente de rede de gás;
149
apresentar bateria interna;
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n
n dispor dos modos ventilatórios básicos (ventilação controlada a volume – VCV, ventilação
controlada a pressão – PCV, ventilação mandatória intermitente sincronizada – SIMV e PSV);
n possuir alarmes;
n ser capaz de ofertar PEEP e oxigênio suplementar.
LEMBRAR
No ventilador para VM domiciliar, deve ser destinada atenção especial à utilização de
sistemas de umidificação e gerador externo de energia (no-break).5
A escassez de evidências quanto aos verdadeiros benefícios da VM domiciliar para pacientes que
não toleram o desmame da AVM é o maior entrave para maior utilização desse recurso. A instituição
agressiva dos protocolos de mobilização parece ser a estratégia mais promissora para aumentar
o percentual de sucesso no desmame de pacientes internados em UCCs.
Outras modalidades terapêuticas, ainda menos usuais, surgem como possíveis alternativas para
o desmame da AVM fora da UTI, incluindo o uso intermitente de ventiladores específicos para
ventilação não invasiva conectados à cânula de traqueostomia e o suporte ventilatório não invasivo
aplicado a pacientes com traqueóstomo momentaneamente ocluído. Não há, porém, respaldo para
essas modalidades na literatura atual.
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22. Por que as UTIs não representam o melhor lugar para o cuidado de pacientes
crônicos?
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Resposta no final do artigo
23. Quais são as principais características clínicas dos pacientes dependentes da AVM
admitidos nas UCCs?
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150
24. Quais são os objetivos das UCCs?
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
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n CASO CLÍNICO
Na tentativa de desmame da VM, o paciente A.F.M., do sexo masculino, 68 anos, com
história de DPOC, vem apresentando falhas sucessivas nos TREs. Foi admitido na UTI
com história de IRpA aguda secundária à infecção respiratória, necessitando de AVM
por tempo prolongado, associada ao uso de corticoide e bloqueador neuromuscular.
Durante a internação, evoluiu com níveis glicêmicos superiores a 300mg/dL e sessões
de hemodiálise em dias alternados. Na avaliação cinesiofuncional, o paciente apresentou
perda de força muscular respiratória e periférica de acometimento simétrico com redução
dos reflexos patelar e tricipital.
26. Com base neste caso clínico, identifique os principais fatores relacionados com
as falhas no desmame da AVM.
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Resposta no final do artigo
n CONCLUSÃO
Um número significativo de pacientes que precisam de VM evolui com consecutivas falhas no
desmame após várias tentativas de TRE. Esse fato é o responsável pela alta prevalência da VMP,
a qual está diretamente relacionada a uma série de complicações associadas ao ventilador, como
lesões de vias aéreas e fraqueza muscular, levando ao aumento da morbidade, da mortalidade e
dos custos hospitalares de pacientes com falência ventilatória.
151
Entender os mecanismos envolvidos na gênese do desmame difícil é essencial para prover
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autonomia ventilatória por meio do estabelecimento de estratégias padronizadas e focadas nas
principais causas das falhas, embora alguns pacientes necessitem continuar o suporte ventilatório
a nível domiciliar.
Atividade 4
Resposta: Desmame difícil – pacientes que falharam no primeiro TRE, mas foram desmamados com
sucesso após no máximo três TREs ou no máximo em 7 dias após a primeira tentativa. Desmame
prolongado – pacientes que falharam após três TREs ou permaneceram em AVM por mais de 7
dias após o primeiro TRE.
Atividade 6
Resposta: 2, 2, 1, 2, 1, 1
Atividade 9
Resposta: A
Comentário: A associação do hipotireioidismo com a falha no processo de desmame do suporte
ventilatório parece ser relativamente baixa – aproximadamente 3%.
Atividade 10
Resposta: Os seguintes fatores podem contribuir para o desenvolvimento da depressão em pacientes
internados na UTI: desconforto prolongado pela doença crítica, repouso prolongado no leito, dor
não tratada, utilização de medicamentos psicoativos, hipoxemia, anemia, sepse, privação do sono,
dificuldade na comunicação pela presença do TOT e dependência da AVM.
Atividade 12
Resposta: V, F, F, V, F
Comentário: B) A hipofosfatemia aumenta em 18% o risco para falha no desmame da VM. C) Em
pacientes obstrutivos, particularmente na DPOC, a autoPEEP é, sem dúvida, o fator isolado mais
danoso para a mecânica ventilatória e o que mais contribui para a dificuldade no desmame. E)
Pacientes com distúrbios depressivos apresentam três vezes mais chances de falha no desmame
da VM quando comparados àqueles com status mental normal.
Atividade 14
Resposta: C
Comentário: A ocorrência de APN está associada a agravamento hemodinâmico e da mecânica
respiratória; aumento do trabalho respiratório com possibilidade de fadiga e lesão muscular; prejuízo
nas trocas gasosas; maior necessidade de sedação, com consequente prolongamento do tempo
de VM e aumento no tempo de estadia e nos custos hospitalares.
152
DESMAME DIFÍCIL E PROLONGADO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA
Atividade 16
Resposta: B
Comentário: O uso da VPPN não é recomendado como estratégia de resgate para pacientes com
IRpA já instalada, pois essa prática tem associação com maior taxa de mortalidade.
Atividade 18
Resposta: C
Comentário: Apesar de diminuir o risco de lesão da orofaringe, a traqueostomia aumenta
consideravelmente o risco de estenose traqueal tardia.
Atividade 22
Resposta: O ambiente de UTI é pouco propício para instituição de protocolos agressivos
fisioterapêuticos e de enfermagem, treino de atividades de vida diária e presença constante de
familiares. Permite pouco repouso e desrespeita o ritmo circadiano, pois normalmente apresenta
muito ruído e alto nível de atividade noturna. O aumento do tempo de permanência restringe a
disponibilidade de leitos para outras admissões.
Atividade 26
Resposta: O paciente do caso clínico apresenta, como sintomas, fraqueza muscular de acometimento
simétrico e redução de reflexos profundos, sugerindo polineuropatia do paciente crítico. Outros
fatores relacionados à falha do desmame são uso de corticoide associado a bloqueadores
neuromusculares, hiperglicemia, insuficiência renal com necessidade de hemodiálise e VMP.
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