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Parte I – Introdução
DEFINIÇÃO
Jejum Intermitente são estratégias onde os indivíduos são submetidos a diferentes
períodos de jejum, com efeito positivo sobre a correção de anormalidades metabólicas,
e melhor adesão de alguns pacientes em relação a outras estratégias dietéticas.
MODALIDADES DE JEJUM
Os efeitos do jejum podem ser observados nas bases cientificas com resultados
positivos sobre a perda de peso, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares e câncer.
Estoques Corporais
No estado de jejum, a glicemia é então mantida através da gliconeogênese, uma rota
do metabolismo de alto custo metabólico pois depende de ácidos graxos e
aminoácidos, o que pode comprometer a integridade do tecido muscular pois o SNC
adapta-se paulatinamente a chegada do novo nutriente e após algumas semanas
inverte sua preferência nutricional, passando de consumidor exclusivo de glicose
(120g/dia) a consumidor preferencial de corpos cetônicos (100g/dia), embora seja
sempre dependente de glicose.
Neste contexto, a cetose é favorecida, pois, o outro caminho possível para a utilização
dos ácidos graxos, a beta-oxidação, está inibida no fígado neste momento, já que há
um desvio do oxaloacetato para a gliconeogênese, diminuindo a velocidade do ciclo do
ácido cítrico. A produção de corpos cetônicos pelo fígado tem como principal objetivo
fornecer um nutriente alternativo à glicose para os tecidos extra-hepáticos.
É preciso lembrar que a síntese de glicose que ocorre no fígado durante períodos de
jejum prolongados tem como principais precursores os aminoácidos advindos do
músculo esquelético; glicerol, advindo da mobilização de triglicerídeos do tecido
adiposo; e lactato, advindo das hemácias; e tendo como fonte de energia a intensa
beta oxidação dos ácidos graxos liberados pela mobilização dos triglicerídeos.
Hemácias
O metabolismo da hemácia é predominantemente anaeróbico. Sem o aparato
mitocondrial para a oxidação dos demais nutrientes, as hemácias tornam-se
dependentes da via glicolítica anaeróbica. O consumo de glicose nestas células ocorre
de modo constante e independente do perfil nutricional. A captação da glicose pelos
transportadores GLUT1 da membrana da hemácia independe da presença de insulina.
Nestas células, a via glicolítica culmina na produção constante de lactato, o qual será
captado pelo fígado. O lactato produzido pelas hemácias é convertido em glicose pela
gliconeogênese hepática e é uma das fontes de manutenção da glicemia em jejum.
Cérebro
O cérebro não tem qualquer reserva energética, e por isso, independentemente do
estado nutricional é necessário que haja um suprimento de glicose constante para este
tecido. Os transportadores de glicose no SNC são do tipo GLUT1 e GLUT3, trabalham
de forma independente à presença de insulina. Além da glicose, os corpos cetônicos
podem ser utilizados como substratos energéticos no SNC em situações especiais
como veremos a seguir.
Fígado
Como o fígado é capaz de usar outros substratos energéticos como ácidos graxos ou
aminoácidos como fonte energética, assim, por não ser dependente direto da glicose,
esta só será utilizada por este órgão como fonte energética quando a relação insulina
glucagon for suficientemente alta para ativar a via glicolítica (hepatócitos com GLUT2,
não dependente de insulina).
Tecido adiposo
O grande volume lipídico é sem sombra de dúvida a maior reserva energética do
organismo. A entrada de glicose no tecido adiposo é feita pelos receptores GLUT4
dependentes da ação da insulina, e, assim, quando a razão insulina/glucagon for alta, o
glicerol-3-fosfato é produzido no tecido adiposo pela redução da di-hidroxiacetona
fosfato, intermediária da via glicolítica, e novas moléculas de TG podem ser
armazenadas. No entanto, quando a razão insulina/glucagon diminui, a disponibilidade
de glicose diminui. Com a diminuição da produção de glicerol-3-fosfato, a síntese de
TG no tecido adiposo será dificultada. Por outro lado, quando a presença de insulina
está diminuída e a de glucagon aumentada, as enzimas lipases que promovem a
quebra de TG em ácido graxo e glicerol serão ativadas, e assim, tanto os ácidos graxos
como o glicerol serão liberados para a corrente circulatória e serão captados pelo
fígado.
RIM
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Β-HIDROXIBUTIRATO
+ ACETOACETATO AC
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O
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FÍGADO
Β-HIDROXIBUTIRATO
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Por isso que, quando se trabalha com jejum com o objetivo de reduzir a formação de
EROs e da inflamação, é importante que nos momentos de alimentação, o indivíduo
esteja consciente da importância de boas escolhas alimentares, preferencialmente
com relação à compostos antioxidantes e anti-inflamatórios.
Um estudo realizado em 2011, com uma coorte de mulheres com IMC entre 24 e
40kg/m², avaliou por 6 meses os efeitos de uma dieta padrão de jejum (5:2), com 5
dias de dieta mediterrânea e 2 dias de controle energético (jejum), com consumo de
apenas 25% do consumo energético total. Este grupo foi comparado a outro grupo de
indivíduos que realizaram uma dieta também mediterrânea, porém com restrição
energética de 25% do valor calórico total nos 7 dias da semana, sem realização de
jejum. A característica da dieta mediterrânea utilizada neste estudo foi de 30% do
conteúdo proveniente dos lipídeos, com 45% de carboidratos de baixo índice glicêmico
e 25% de proteínas.
Como nesta parte do modulo o assunto tratado são as DCV, os efeitos desta
intervenção no grupo com síndrome metabólica (SM) serão apresentados
posteriormente. Sendo assim, no grupo sem SM, observou-se redução significativa da
Desta forma, relembrando a primeira imagem deste módulo, onde os fatores de risco
da DVC incluíam as concentrações de colesterol plasmático, controle de peso, controle
da pressão arterial e resistência à insulina, verifica-se que, dentro das limitações dos
estudos, o jejum pode ser um grande aliado para esta população.
O tecido adiposo com sua característica de tecido endócrino, produz através dos
adipócitos células mesenquimais e macrófagos – Citocinas e Adipociocinas, que atuam
como imunomoduladores, alterando o equilíbrio entre as citocinas pró e as anti-
inflamatórias; influenciam a sensibilidade à insulina, interferindo na homeostase
glicêmica; e regulam o mecanismo central da fome e do gasto energético, com
consequências diretas sobre o peso corporal. Além disso, apresentam efeitos sobre o
tônus vascular, a proliferação celular e a aterogênese, modificando o risco
Em um estudo realizado com ratos mostrou que o consumo de uma dieta rica em
lipídeos, associada à realização de jejum intermitente, trouxe benefícios metabólicos
aos ratos. Isto ocorre pois a característica da dieta também modula o ciclo circadiano.
Ainda, em 12 semanas de dieta 2:5, com consumo de 20-25% VET no jejum, pode-se
esperar uma redução de 3,8% no Peso Corporal e efeitos positivos sobre o humor. A
maior parte dos estudos observa redução na insulinemia, sem alteração da glicemia, e
menos da metade dos estudos observam efeito positivo sobre os lipídeos plasmáticos,
parâmetros inflamatórios, adiponectina e fator neurotrófico do cérebro (BDNF).
Observa-se ainda uma maior redução de peso corporal quando o jejum é associado a
ao exercício físico; redução maior do peso corporal quando o jejum é intercalado com
O Jejum entre refeições acima de 11h por 8 semanas parece acarretar em maior
redução do peso corporal quando comparado à uma dieta bioenergética dividida em 3
refeições. Estudos no Ramadã, que é uma prática de jejum religiosa, sem controle
energético, mas associado a redução do peso corporal (aprox. – 1,24kg/mês) parece
ter efeito positivo sobre a redução do LDL colesterol, glicemia de Jejum e marcadores
inflamatórios.
Em um estudo realizado com mulheres com IMC 30,4±6,7 Kg/m², com ou sem
Síndrome Metabólica, foram feitos 7 dias de Jejum (300cal/dia) e posterior avaliação
da composição corporal, pressão arterial, lipidograma, cortisol, resistina, qualidade do
sono e bem-estar psicológico. Neste estudo, observou-se redução significativa do peso
corporal e do IMC, bem como da pressão arterial sistólica, do colesterol total, da
relação LDL/HDL, dos níveis de cortisol e resistina, e até mesmo da ansiedade.
METABOLISMO ENERGÉTICO
Os músculos possuem, como fonte energética, a glicose, os corpos cetônicos e os
ácidos graxos livres, e o metabolismo disto depende da intensidade do exercício, que o
que caracteriza o mesmo como aeróbico ou anaeróbico.
Por outro lado, nos exercícios de força, o estímulo acontece através de outra via
metabólica, a qual envolve o IGF-1, a leucina e contração muscular, os quais fazem o
estímulo direto de AKT. A AKT, por sua vez, inibe a cascata de degradação proteica e
estimula a mTOR, e consequentemente, a síntese proteica. Sendo assim, parece mais
coerente a realização de exercícios aeróbicos de baixa intensidade no estado de jejum,
já que nesta situação apenas ácidos graxos e corpos cetônicos estarão disponíveis
como substrato energético, e isto pode gerar uma adaptação interessante no contexto
esportivo. Já no trabalho de síntese muscular, a disponibilidade de ácidos graxos ou
corpos cetônicos como fonte energética não parece apresentar benefícios.
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Conclui-se deste estudo que, durante o exercício em jejum, existe maior utilização
tanto de gorduras intracelulares que já está aumentada para produção de energia,
quanto do glicogênio muscular estocado. No pós exercício, observou-se ainda que o
grupo em jejum realizou maior reposição de glicogênio muscular dentro do período de
4 horas de recuperação, quando comparado ao grupo alimentado.
Com relação ao cortisol, não existiram alterações significativas no pré, durante ou pós
exercício dos indivíduos alimentados. Já no grupo do jejum, houve um aumento dos
níveis de cortisol durante o exercício (não significativo), porém no pós-exercício esses
níveis voltam a níveis muito mais baixos, o que é significativo quando comparado aos
níveis de cortisol antes do treinamento. Assim o estresse metabólico do exercício não
é prolongado.
Outro estudo, realizado em 2013, avaliou o dano muscular através dos níveis de
marcadores inflamatórios e oxidativos. Para tanto, foram realizados exercícios
excêntricos de membros superiores por 5 dias consecutivos, com um grupo em jejum
de 8h e em um grupo alimentado (refeição com 810–860 kcal). Houve maiores níveis
de Oxido Nítrico nos indivíduos em jejum, ao longo do período de exercícios, porém
tais resultados não são significativos. Com relação à inflamação, também não existem
efeitos significativamente diferentes, porém o exercício em jejum tende a resultar em
menores níveis de inflamação induzida pelo exercício, pela observação de menores
níveis de TNFα. Com relação ao dano e dor muscular, não houve diferença significativa.