AULA- 001-09

ASSUNTOS A DESENVOLVER:
 PREFERÊNCIA REVELADA

O objetivo de analisarmos a escolha do consumidor, partiu das

preferências por ele evidenciadas. Conciliando essas preferências com
a restrição orçamental, vimos como determinar a escolha ótima ou
cabaz procurado.

Só que este tipo de análise é ambíguo, na medida em que se parte de

algo que na vida real não é diretamente observável, nomeadamente as
preferências do consumidor.

Aquilo que nós podemos observar são as escolhas, ou seja, da

observação do comportamento do consumidor, que posteriormente
podemos inferir sobre as suas preferências.

A teoria da preferência revelada também conhecida pela teoria da

decisão baseada nas escolhas do consumidor, parte de uma análise das
escolhas observadas a nível do mercado, para chegar posteriormente às
preferências do consumidor.

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Nesta análise usamos como pressupostos fundamentais:

 Para além de admitirmos que o consumidor tem um

comportamento optimizador, vamos ainda admitir que ele tem
preferências estáveis, o que significa que o seu comportamento
será coerente, e como tal, as suas preferências não se modificarão
ao longo do tempo em que durar a nossa análise.

 Por uma questão de facilidade da análise, admitiremos ainda que

as suas preferências são estritamente convexas (estritamente
circulares). Isto implica curvas de indiferença sem zonas planas, o
que nos dá garantia de haver apenas uma única escolha ótima.

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 1- PREFERÊNCIA REVELADA DIRETA

Raciocínio que está na base da teoria da preferência revelada. Dados

dois cabazes só existem duas razões pelas quais um consumidor
escolhe um deles em detrimento do outro:

 Ou porque ele é um cabaz preferido

 Ou porque é mais barato

De acordo com a preferência revelada, o

cabaz escolhido pelo consumidor ( x 1 , x 2 )
édiretamente revelado preferido ao cabaz
( y 1 , y2 )embora este também fosse
aquisitivo.

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Admitimos um comportamento optimizador por parte do consumidor,
analisemos três questões e respetivas respostas, que nos ajudarão a
entender conceito de preferência revelada:

 Em primeiro lugar o que podemos afirmar relativamente às

preferências do consumidor em relação a estes dois cabazes?

Resposta:
Face ao seu orçamento, podemos concluir que ele podia ter
comprado o cabaz ( y 1 , y2 ), e com isso ainda lhe sobraria
dinheiro. Porém, não o fez, sinal evidente que preferiu o
cabaz (x 1 , x 2) - Cabaz ótimo, o qual deve ser o melhor de
todos aqueles entre os quais lhe é dado escolher. Logo este
será um cabaz melhor que ( y 1 , y2 )e que qualquer um outro
abaixo ou sobre a reta orçamental.

 Qual o significado de( y 1 , y2 )estar disponível, ou ser possível

de ser adquirido aos preços ( p1 , p2 )e rendimento m?

Resposta:
Significa que esse cabaz satisfaz a restrição orçamental, ou
seja:

p1 × y 1+ p 2 × y 2 ≤ m

 O que significa o facto de o cabaz ( x 1 , x 2 ) ter sido comprado a

esse orçamento m?

Resposta:
Significa que satisfaz a restrição orçamental com a igualdade,
ou seja:

p1 × x 1+ p2 × x 2=m

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 Conciliando as duas equações, conclui-se que o facto de o
cabaz ( y 1 , y 2) estar disponível ao orçamento ( p1 , p 2 , m ) tem o
seguinte significado:

p1 × x 1 + p2 × x 2 ≥ p1 × y 1 + p 2 × y 2

Se de facto os 2 cabazes forem cabazes diferentes, e se esta

desigualdade se verificar, podemos afirmar que o cabaz (x 1 , x 2)
, é diretamente revelado preferido ao cabaz( y 1 , y 2) ao preço
( p1 , p 2) .

Com o orçamento dado, quando o consumidor comprou o

cabaz(x 1 , x 2) o cabaz ( y 1 , y 2) estava disponível e o consumidor
poderia tê-lo comprado e não o fez. Sinal que,
decididamente preferia o cabaz ( x 1 , x 2 ) .

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 2- PREFERÊNCIA VS PREFERÊNCIA REVELADA

A preferência revelada é uma relação válida para ser estabelecida entre

um cabaz que é efetivamente procurado a um determinado orçamento, e
todos os outros cabazes que a esse mesmo orçamento poderiam ter sido
escolhidos pelo consumidor, e não o foram.

Como tal, se observarmos que um dado cabaz X foi escolhido, quando

ao mesmo orçamento o cabaz Y também estava disponível, podemos
deduzir de imediato, que o cabaz X é revelado preferido ao cabaz Y.

RACIOCÍNIO INERENTE:

 Dados 2 cabazes, o consumidor escolhe um cabaz em

detrimento do outro, OU PORQUE O PREFERE, OU
PORQUE É MAIS BARATO.
 Se o escolhe mesmo sendo mais caro, então é porque o
prefere.

Qual será então a diferença a ser estabelecida entre os conceitos de

preferência e de preferência revelada?

Simplesmente preferência pelo cabaz X relativamente ao cabaz Y

significa, que ao ordenar os cabazes, na sua classificação o consumidor
ordena X à frente de Y, isto independentemente do seu orçamento,
podendo até serem cabazes para os quais ele não tenha capacidade de
aquisição.

Preferência revelada pelo cabaz X relativamente ao cabaz Y, significa

que o cabaz X foi escolhido quando o cabaz Y estava disponível
(passível de aquisição ao orçamento dado), logo, o cabaz Y foi

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preterido, sinal que o consumidor preferiu o cabaz X. Isto quer então
dizer, que se o consumidor de acordo com a preferência revelada escolhe
os melhores cabazes de entre os que estão disponíveis, então o conceito
de preferência revelada implica que haja preferência, embora o
inverso não seja verdadeiro.

3- PREFERÊNCIA REVELADA INDIRETA

Para analisarmos a existência de preferência revelada indireta, aditamos

agora que para um dado consumidor dispomos da seguinte informação
em relação aos três cabazes de consumo:

1 – O cabaz (x 1 , x 2) é diretamente revelado preferido ao cabaz( y 1 , y 2)

aos preços ( p1 , p2 ), pelo que podemos deduzir que

p1 × x 1+ p2 × x 2 ≥ p1 × y 1+ p 2 × y 2

E concluir que o cabaz X é diretamente revelado preferido ao

cabaz Y.

2 – O cabaz ( y 1 , y 2) é diretamente revelado preferido ao cabaz ( z 1 , z 2 )

aos preços ( q 1 ,q 2 ), pelo que

q 1 × y1 + q2 × y 2 ≥ q 1 × z 1 +q 2 × z 2Logo,
o cabaz Y é
diretamente revelado preferido ao cabaz Z

Podemos facilmente deduzir através da transitividade que ocabaz

X é revelado referido ao cabaz Z. Ou seja, para um consumidor
com estas preferências, o cabaz (x 1 , x 2) deve ser melhor que o cabaz
( z 1 , z 2) .

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 Nestas circunstâncias, dizemos que o cabaz (x 1 , x 2) é indiretamente
revelado preferido ao cabaz ( z 1 , z 2).

Em qualquer dos casos de preferência revelada direta ou indireta

de um cabaz em relação ao outro, é lícito dizer que o primeiro
cabaz é revelado preferido ao segundo.

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4 – AXIOMAS FRACO E FORTE DA PREFERÊNCIA
REVELADA

NOTA IMPORTANTE:
Admitimos vários axiomas e propriedades relativos às
preferências do consumidor típico, assumindo que, no caso
dos mesmos se verificarem, as preferências eram «bem
comportadas.

 Axioma da exaustão
 Axioma da transitividade – Relação racional

 Hipótese da não saciedade

 Hipótese da convexidade – Relação racional e
 Hipótese da continuidade “bem-comportada”

PROPRIEDADES DAS  Inclinação negativa

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CURVAS DE INDIFERENÇA (respeitam a não saciedade)
 Nunca se intersectam
Preferências bem comportadas (respeitam a transitividade)
 Mais longe da origem, maior
nível de satisfação
(respeitam a não saciedade)
 Convexas em relação à
origem (TMS decrescente)

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Na teoria da preferência revelada, em que se parte da análise das

escolhas do consumidor para podermos inferir sobre as suas
preferências, são essas escolhas que têm de obedecer a determinados
axiomas, para que, através da preferência revelada, possamos fazer
previsões sobre as decisões de consumo sem conhecimento prévio do
mapa de curvas de indiferença do consumidor.

Esses axiomas, são o axioma fraco da preferência revelada e o axioma

forte da preferência revelada.
Passamos a análise de cada um deles:

AXIOMA FRACO DA PREFERÊNCIA REVELADA – se o cabaz

(x 1 , x 2) é diretamente revelado preferido ao cabaz ( y 1 , y2 )e se os dois
cabazes são diferentes, então nunca poderá acontecer que o cabaz ( y 1 , y2 )
seja diretamente revelado preferido ao cabaz (x 1 , x 2).

Vamos analisar uma situação em que o mesmo não se verifica, ou seja,

uma situação em que o axioma fraco da preferência revelada é violado.

Ate aqui o que fizemos, foi partir do principio que o consumidor, tendo
um comportamento otimizador, sempre optará de entre duas possíveis
escolhas, pelo melhor cabaz.

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Assim sendo, questionemo-nos agora, sobre qual seria o tipo de
observações acerca da escolha do consumidor que nos poderia levar a
concluir que ele não estava efetivamente a ter um comportamento
otimizador, e que, como tal, não estava a maximizar?

Fazendo uso das escolhas observadas podemos inferir que o

comportamento do consumidor é inconsistente com a maximização da
utilidade.

A Violação do axioma fraco da preferência revelada

 Se o cabaz ( x 1 , x 2 ) é preferido ao cabaz ( y 1 , y 2) - aos preços p,

consumidor escolhe ( x 1 , x 2 ) quando poderia ter escolhido ( y 1 , y 2) ;
 Se o cabaz ( y 1 , y 2) ; é preferido ao cabaz ( x 1 , x 2 ) - aos preços q , ele
escolhe( y 1 , y 2) quando poderia ter escolhido ( x 1 , x 2 )

Será possível? É claro que não, isto é absurdo! Estas escolhas não
poderiam ter sido efetuadas por um consumidor maximizador, o que
significa que não estaria a escolher o melhor cabaz de entre aqueles que
poderia obter, ou então qualquer outro aspeto da escolha se alterou,
como por exemplo as suas preferências., ou outro qualquer aspecto
relativo ao ambiente económico.

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Para satisfazer o axioma fraco teria que se verificar o seguinte situação:

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Neste caso, é visível a possibilidade de encontrar curvas de indiferença
representativas de um comportamento otimizador por parte do
consumidor.

Face a um determinado conjunto de observações de consumo, como

determinar se o axioma fraco da preferência revelada se verifica ou não,
sabendo de antemão que o mesmo é condição que tem de ser satisfeita
por um consumidor que esteja a fazer as melhores escolhas de entre
todos os cabazes possíveis de aquisição?

Temos de recorre a tabelas de observação de consumo, permite-nos

saber, não apenas quanto custou ao consumidor adquirir cada um dos
três cabazes em cada momento do tempo (a diferentes preços), mas
também, quanto teria gasto em cada um desses momentos, se a sua
escolha tivesse recaído sobre os outros cabazes.

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Observações de Consumo
Observações P1 P2 X1 X2
1 2€ 4€ 2 4
2 4€ 2€ 4 2
3 2€ 2€ 4 4

Custo dos vários cabazes

Preços Cabazes
(2,4) (4,2) (4,4)
(2,4) 20€ 16€* 24€
(4,2) 16€* 20€ 24€
(2,2) 12€* 12€* 16€

Nota(* relação de preferência revelada direta (cabaz preterido).

Para verificarmos se o axioma fraco da preferência revelada se verifica,

e atendendo à noção de preferência revelada que nos permite comparar
cabazes ao mesmo orçamento (ou despesa).

Linha 1 – O consumidor gastou 20€, quando ao primeiro nível de preços

comprou o primeiro cabaz (2,4). Ao fazê-lo, poderia muito bem ter
comprado o segundo cabaz (4,2), e que teria gasto 16€. Ou seja, este
segundo cabaz estava disponível quando ele adquiriu o primeiro, e se ele
adquiriu este, é sinal que o preferia. Logo, podemos dizer que o
primeiro cabaz é diretamente revelado preferido ao segundo. Quanto
ao terceiro cabaz (4,4), apenas podemos dizer que ele não se encontrava
disponível, quando o consumidor ao primeiro conjunto de preços
adquiriu o primeiro cabaz.

Linha 2 – idêntico raciocínio, facilmente se conclui que o segundo

cabaz (4,2) é diretamente revelado preferido ao primeiro (2,4),
enquanto que o terceiro cabaz (4,4) não era possível de aquisição a esses
preços.

Linha 3 – A aquisição do cabaz (4,4) ao terceiro conjunto de preços,

numa situação em que, quer o primeiro cabaz (2,4), quer o segundo (4,2)

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estavam ambos disponíveis, só nos pode levar a concluir que esse
terceiro cabaz, para além de ser diretamente revelado preferido ao
primeiro, é também diretamente revelado preferido ao segundo.

Se conciliarmos as conclusões na linha 1 e 2 concluímos o absurdo de

um primeiro cabaz diretamente revelado preferido ao segundo (ao
primeiro conjunto de preços), e de um segundo cabaz diretamente
revelado preferido ao primeiro (ao segundo conjunto de preços).
Isto só pode ser sinal de violação do axioma fraco da preferência
revelada.

Conclusão que nos permite tirar desta análise relativo às observações de

consumo, não podem ser oriundos de um consumidor que, tendo
preferências estáveis, sempre escolheu o melhor de entre os cabazes que
podia adquirir.

AXIOMA FORTE DA PREFERÊNCIA REVELADA

Se o cabaz ( x 1 , x 2 )é revelado preferido ao cabaz ( y 1 , y 2) (diretamente ou

indiretamente, e se os dois são cabazes diferentes, então nunca poderá
acontecer que o cabaz ( y 1 , y 2) seja revelado preferido ao cabaz ( x 1 , x 2 )direta
ou indiretamente. Podemos dizer, que de uma certa forma este axioma
forte corresponde a uma extensão do axioma fraco à preferência
revelada indireta.

 Se um consumidor escolher sempre o melhor de entre os cabazes

que pode adquirir, e se as suas preferências forem estáveis, o
comportamento observado deve satisfazer o axioma forte da
preferência revelada, sendo essa, condição suficiente para que o
seu comportamento seja considerado maximizador.

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Custo dos vários cabazes
Preços Cabazes
(2,4) (4,2) (4,4)
(2,4) 20€ 12€* 25€(*)
(4,2) 22€ 18€ 16€*
(2,2) 10€ 14€ 8€
Nota. (*) relação de preferência revelada indireta na linha 1 coluna 3

 Podemos concluir que o cabaz 1 é diretamente revelado preferido

ao cabaz 2 (1ª linha), e que o cabaz 2 é diretamente revelado
preferido ao cabaz 3 (2ªlinha). Deduz-se desta duas relações de
preferência revelada direta, que o cabaz 1 é indiretamente
revelado preferido ao cabaz 3.
 A análise da linha 3 permite-nos concluir, que quando o cabaz 3
foi adquirido, os outros dois cabazes não eram passíveis de
aquisição, pelo que isso em nada influencia a conclusão a retirar.

Conclusão a retirar da análise, podemos dizer que de facto existe uma

relação de preferência revelada indireta em evidência na mesma, muito
embora não exista neste caso qualquer violação do axioma forte da
preferência revelada, pelo que se trata de um consumidor comum
comportamento optimizador, e como tal, consistente com a teoria
económica.

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