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Colestase

Problema 7

Explicar a anatomia do fígado e das vias


biliares.

Fígado e vesícula biliar

• O fígado e a vesícula biliar são dois órgãos Ligamentos hepáticos


acessórios do trato gastrointestinal, que
desempenham várias funções, ajudando a digestão • A posição do fígado é suportada por vários
e a homeostase. O fígado possui vários lóbulos e ligamentos peritoneais: ligamento redondo do
recebe o seu fornecimento sanguíneo fígado, ligamento falciforme, ligamentos
principalmente através da veia porta hepática. coronário, ligamentos triangulares e omento
Este órgão também desintoxica o corpo. A menor. O omento menor compreende os ligamentos
vesícula biliar encontra-se inferiormente ao hepatoduodenal e hepatogástrico os quais
fígado, estando envolvida no armazenamento e unem o fígado à curvatura menor do estômago ou
libertação da bile para o duodeno. ao duodeno, respetivamente. O omento menor é
muito importante, já que transporta a tríade portal:
ducto biliar, artéria hepática e veia porta
hepática.
• As reflexões do peritônio formam três recessos:
• O recesso subfrênico separa a superfície
diafragmática do fígado do diafragma.
• O espaço subhepático, situa-se imediatamente
inferior ao fígado. Ele projeta-se entre a superfície
inferior do fígado e o rim direito, formando o
recesso hepatorrenal (fundo de saco de Morison).
Fígado
Anatomia
Localização
• O fígado tem duas superfícies: diafragmática e
• O fígado é um órgão intraperitoneal localizado visceral. As suas superfícies mostram diversas
inferiormente ao diafragma e profundamente fissuras, que em conjunto com os ligamentos
às costelas 7 a 11. A localização do fígado é tão dividem o fígado em quatro lobos:
extensa que é impossível que você não o veja, já que • Lobos direito e esquerdo, separados pelo
ele ocupa três regiões abdominais: hipocôndrio ligamento falciforme.
direito, epigástrica e hipocôndrio esquerdo. • Lobos caudado e quadrado, delimitados pelas
fissuras da superfície visceral.

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• O fígado também pode ser dividido funcionalmente • A superfície visceral do fígado apresenta
em oito segmentos de acordo com o fornecimento impressões para os órgãos vizinhos. Estas
sanguíneo portal e a drenagem biliar. impressões são chamadas de: gástrica, esofágica,
• A anatomia microscópica do parênquima hepático é suprarrenal, renal, cólica, duodenal e fossa da
representada pelos lóbulos hepáticos. Eles vesícula biliar.
consistem em cordões de hepatócitos rodeando
uma veia central. Os sinusóides e as tríades
portais também fazem parte dos lóbulos hepáticos.
A cirrose surge como resultado de uma doença
hepática crônica.

Função

• O fígado tem funções metabólicas, exócrinas e


endócrinas. Ele sintetiza proteínas do plasma
que são responsáveis por manter a pressão
osmótica, transportar micronutrientes e ajudar na
• A superfície diafragmática é coberta pela
coagulação do sangue. As vitaminas A, D e K, o
camada visceral do peritônio em toda a sua
ferro e o glicogénio são alguns dos nutrientes
extensão, exceto posteriormente na ‘área nua’. A
metabólicos importantes armazenados no fígado.
área nua está em contato direto com o
Eles são libertados para a corrente sanguínea
diafragma. Esta área contém um sulco para a veia
quando necessário. O fígado também é responsável
cava inferior, que a suporta à medida que ela viaja
por modificar a ação de várias hormonas
do abdome em direção ao tórax e ao coração.
endócrinas e por sintetizar a bile que é depois
• A superfície visceral do fígado também é coberta
armazenada na vesícula biliar.
por peritônio exceto na fossa para a vesícula
biliar e na porta hepática. Esta superfície Vesícula biliar
contém três fissuras que juntam criam a forma de
uma letra ‘H’: Anatomia
• Fissuras sagitais direita e esquerda
• A vesícula biliar é um pequeno órgão oco
• Fissura transversa (porta hepática)
intraperitoneal. Está localizada na superfície
visceral do fígado entre os lobos direito e
quadrado. A parte superior do duodeno, a flexura
hepática e a parte proximal do cólon transverso são
posteriores a este órgão.
• A vesícula biliar pode ser dividida em três partes
anatômicas. De lateral para medial:
• Fundo dirigido inferoanteriormente. Ele projeta-se
para a parede abdominal anterior na interseção da
9ª costela com a margem lateral do músculo reto
abdominal.
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• Corpo que se localiza na fossa da vesícula biliar do relaxamento do colo da vesícula biliar. Quando
fígado. a pressão dentro do trato biliar aumenta, o
• Colo (infundíbulo) com pregas da mucosa em esfíncter de Oddi relaxa. De seguida, a bile flui do
espiral. trato biliar diretamente para o duodeno.

Trato biliar Vasos sanguíneos

• A bile viaja entre o fígado, a vesícula biliar e o Fígado


duodeno através da árvore biliar. Os hepatócitos
• Um dos aspetos que torna o fígado um órgão único
sintetizam e secretam a bile para os ductos
e interessante é o facto de ter um fornecimento
hepáticos direito e esquerdo. Estes ductos
sanguíneo duplo. A veia porta hepática é
fundem-se num único ducto hepático comum na
responsável por 75 a 80 % do sangue que chega ao
parte lateral da porta hepática.
fígado, levando os nutrientes do trato
• O colo da vesícula biliar estreita-se para formar o
gastrointestinal para serem processados e
curto ducto cístico. Este ducto junta-se ao ducto
metabolizados. Ela é formada pela união das veias
hepático comum para formar o ducto biliar
esplênica e mesentérica superior. A veia porta
comum. O ducto cístico, o ducto hepático comum e
chega ao fígado como parte da tríade portal,
parte do bordo inferior do fígado formam o
atravessando o ligamento hepatoduodenal.
triângulo de Calot.
• O restante fornecimento sanguíneo do fígado é da
responsabilidade da artéria hepática, que se
ramifica a partir da artéria hepática comum, um
ramo do tronco celíaco. Depois de alcançar o fígado,
a artéria hepática divide-se em ramos esquerdo e
direito, cada um vascularizando os segmentos dos
lobos esquerdo e direito do fígado, respetivamente.

• O ducto biliar comum une-se ao ducto


pancreático para formar a ampola de Vater
(ampola hepatopancreática), que se abre no
duodeno através da papila duodenal maior. O fluxo
da bile e do suco pancreático é controlado pelo
esfíncter de Oddi.

Função • As veias hepáticas (direita, média e esquerda)


são responsáveis pela drenagem venosa do fígado,
• A principal função da vesícula biliar é armazenar elas drenam para a veia cava inferior.
e concentrar a bile, que depois é transportada
até ao duodeno através do trato biliar. Enquanto se Vesícula biliar
ingere uma refeição, a presença de gorduras e
• A vesícula biliar e o ducto cístico são vascularizados
proteínas nos intestinos estimula a libertação de
pela artéria cística, um ramo da artéria
colecistocinina. Esta hormona peptídica causa
hepática direita. O ducto biliar é vascularizado
simultaneamente a contração do corpo e o
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por três vasos sanguíneos principais, as artérias: surge do plexo celíaco, inibe as contrações da
cística, hepática direita, pancreaticoduodenal vesícula biliar e transmite a sensação de dor.
posterior superior e gastroduodenal. Estas
artérias irrigam as partes proximal, média e Discutir o metabolismo da bilirrubina.
retroduodenal do ducto, respetivamente.
Metabolismo fisiológico da bilirrubina
• A drenagem venosa da vesícula biliar e do ducto
cístico é feita através das veias císticas, que • O metabolismo da bilirrubina pode ser subdividido
drenam depois para a veia hepática. O ducto biliar em captação, armazenamento, conjugação e
é drenado pela veia pancreaticoduodenal superior, secreção hepática, na qual se encontram enzimas
a qual drena, por sua vez, para o sistema porta cujas atividades podem ser alteradas causando
hepático. processos patogênicos.
• As hemácias são formadas na medula óssea e se
Inervação destinam ao sistema circulatório, circulam por
Fígado 120 dias e são destruídas. No transcorrer desse
período, seu sistema metabólico torna-se cada vez
• O parênquima pancreático recebe inervação menos ativo, a sua membrana fica mais frágil
autônoma do plexo hepático. A inervação (senescente) e rompe-se durante sua passagem
parassimpática é feita por ramos do nervo vago em lugares estreitos.
(NC X). As fibras simpáticas originam-se do plexo • Muitas hemácias se autodestroem no baço, onde os
celíaco. A cápsula do fígado é inervada por ramos espaços entre as trabéculas estruturais da polpa
dos nervos intercostais inferiores. vermelha pelos quais devem passar a maioria das
hemácias medem apenas 3 µm de largura em
comparação com o diâmetro de 8 µm das hemácias.
• A ruptura das hemácias libera a hemoglobina,
que é fagocitada de imediato pelos macrófagos
em muitas partes do organismo, especialmente
pelas células de Kupffer, no fígado, e pelos
macrófagos no baço e na medula óssea.
• É captada pelo sistema retículo-endotelial,
sendo transformada a sua hemoglobina pela
hemeoxigenase em biliverdina, monóxido de
carbono e ferro. A biliverdina-redutase converte
a biliverdina em bilirrubina livre, sendo
gradualmente liberada dos macrófagos para o
plasma.
• A taxa de conversão da biliverdina em bilirrubina
livre é de 4 mg/kg/dia. Essa bilirrubina é
lipossolúvel e apolar, podendo ligar-se à
Vesícula biliar
albumina e sua fração livre atravessar a barreira
• O plexo hepático também é responsável por hematoencefálica.
fornecer inervação autônoma à vesícula biliar e ao • A bilirrubina livre atravessa facilmente a barreira
sistema biliar extra-hepático. A estimulação da hematoencefálica, sendo potencialmente tóxica
divisão parassimpática do nervo vago faz com para o tecido nervoso.
que a vesícula biliar se contraia e bile flua para • A afinidade da bilirrubina pelo tecido nervoso não
dentro do duodeno. A inervação simpática, que conjugada concomitante às concentrações

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elevadas no sangue em recém-nascidos pode porta, constituindo o ciclo entero-hepático da
impregnar os gânglios da base, causando bilirrubina; e cerca de 5% são excretados na urina
kernicterus. pelos rins.
• A bilirrubina sérica se liga fortemente à • A ligação forte da bilirrubina não conjugada
albumina plasmática, sendo transportada por com a albumina plasmática e o estabelecimento
todo o sangue e fluido intersticiais. de interações fracas com os sais biliares, micelas
• Observa-se que a pequena fração de bilirrubina não mistas e vesículas lipídicas tornam-se sua excreção
ligada ao plasma pode aumentar na doença renal limitada, razão pela qual é eliminada,
hemolítica grave ou quando drogas ligadoras de sobretudo pelo fígado.
proteínas deslocam a bilirrubina da albumina.
• A bilirrubina ligada às proteínas plasmáticas é
denominada "livre", a fim de distinguir-se da
forma conjugada.
• A bilirrubina livre, quando chega ao fígado, é
recolhida pelos hepatócitos por meio de sistemas
proteicos, transportadores de membrana (proteínas
X e Y), num processo chamado captação.
• É a seguir liberada da albumina plasmática e
conjugada por ação de enzimas microssomais
(UDP glicuroniltransferase) com uma ou duas
moléculas de ácido glicurônico, formando um
composto mais polar e hidrossolúvel, a "bilirrubina
conjugada".
• Parte dessa bilirrubina liberada nos hepatócitos
pode-se ligar a uma proteína citoplasmática Metabolismo da bilirrubina – Esquema mostrando o
denominada ligandina, etapa posterior à sua metabolismo da bilirrubina e a ação da UDP
conjugação, que impede o efluxo dessa substância glicoroniltransferase na síntese da bilirrubina
do hepatócito para o plasma. conjugada. A deficiência dessa enzima pode acarretar
• A bilirrubina conjugada é excretada através do aumento da bilirrubina indireta no plasma, causando
polo biliar dos hepatócitos que está em íntimo icterícia.
contato com os canalículos biliares e daí para os
Discutir as principais causas de
intestinos.
hiperbilirrubinemia.
• A conjugação da bilirrubina ocorre
majoritariamente no fígado, sendo também Conceito
observada nas células dos túbulos renais e nos
enterócitos. • Hiperbilirrubinemia é o aumento da
• A bilirrubina conjugada é transportada como concentração sérica de bilirrubina indireta (BI)
complexo lipídico-micelar até o duodeno > 1,3-1,5mg/dL ou bilirrubina direta (BD) >
através do ducto biliar principal, sendo 1,5mg/dL desde que tal valor seja > 10% da
desconjugada e reduzida no cólon por ação das bilirrubina total (BT).
glicuronidases bacterianas, formando os • Valores mudam de acordo com a faixa etária.
urobilinogênios. • Hiperbilirrubinemia pode ser causada por um ou
• Essas moléculas são excretadas nas fezes, em sua mais dos seguintes processos:
maioria, e pequena parte é reabsorvida através da • Produção aumentada.
mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema • Redução na captação hepática.

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• Conjugação diminuída.
• Excreção prejudicada.
• Fluxo biliar prejudicado (colestase).
• Aumento da circulação êntero-hepática.

Icterícia

• Icterícia é a pigmentação amarelada da pele,


da esclerótica e do frênulo da língua pela
bilirrubina, resultante de níveis elevados desta na
circulação sistêmica. As concentrações séricas
normais de bilirrubina são:

• A esclerótica é o local onde mais comumente se


identifica um quadro de icterícia. A pigmentação
desta estrutura é atribuída à sua riqueza em
elastina, que possui especial afinidade pela
bilirrubina.
• A icterícia deve ser distinguida de outras causas de
pigmentação amarela, como a hipercarotenemia,
que se deve à existência de pigmentos
carotenoides na corrente sanguínea, estando
associada à coloração amarela da pele, mas não
das escleróticas!

Classificação e Conceitos Gerais

• Os distúrbios do metabolismo da bilirrubina podem


ocorrer através de cinco mecanismos básicos.
Perceber que a doença hepatocelular (hepatite,
hepatotoxicidade) interfere com as principais
fases do metabolismo da bilirrubina: captação,
conjugação e excreção. Entretanto, como a • Numa classificação mais simplista, porém muito
excreção é a fase que limita a velocidade do popularizada, existem três grandes grupos de
processo, representa em geral o principal icterícia:
distúrbio, fazendo com que a icterícia da hepatite e
da hepatotoxicidade seja mista, mas
predominantemente à custa de BD.

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HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO CONJUGADA (BI): hemolítica, quase toda a bilirrubina está na forma
-1ª Causa: hemólise. "não conjugada"; na icterícia obstrutiva, ela é,
-2ª Causa: Síndrome de Gilbert. principalmente, da forma "conjugada”: O teste
denominado reação de van den Bergh, pode ser
empregado para diferenciar entre as duas. Quando
A Icterícia Hemolítica Provocada por ocorre obstrução total do fluxo da bile, nenhuma
Hemólise das Hemácias bilirrubina pode chegar aos intestinos para ser
convertida em urobilinogênio pelas bactérias.
• Na icterícia hemolítica, a função excretora do Portanto, nenhum urobilinogênio é reabsorvido
fígado não está comprometida, mas as hemácias pelo sangue e nenhum pode ser excretado pelos
são hemolisadas tão rapidamente que as células rins na urina.
hepáticas, simplesmente, não podem excretar a
• Consequentemente, na icterícia obstrutiva total,
bilirrubina com a mesma intensidade que é
os testes para o urobilinogênio urinário são
formada. Consequentemente, a concentração
completamente negativos. Além disso, as fezes
plasmática de bilirrubina livre se eleva acima
ficam com cor de argila, devido à ausência de
dos níveis normais. Outrossim, a formação de
estercobilina e outros pigmentos biliares. Outra
urobilinogênio no intestino fica bastante
diferença importante entre a bilirrubina não
aumentada, e muito dele é absorvido pelo sangue
conjugada e a conjugada, é que os rins podem
e, posteriormente, excretado na urina.
excretar pequenas quantidades da, muito
A Icterícia Obstrutiva Provocada pela solúvel, bilirrubina conjugada, mas não da
bilirrubina não conjugada ligada à albumina. Por
Obstrução dos Ductos Biliares ou por
conseguinte, na icterícia obstrutiva grave,
Doença Hepática
quantidade significativa de bilirrubina
• Na icterícia obstrutiva, provocada pela conjugada aparece na urina. Isso pode ser
obstrução dos ductos biliares (o que ocorre com demonstrado de modo simples, agitando-se a urina
maior frequência quando cálculo biliar ou câncer e observando a espuma, que fica intensamente
bloqueiam o ducto biliar comum) ou pela lesão dos amarela.
hepatócitos (que ocorre na hepatite), a formação • Assim, pela compreensão da fisiologia da excreção
da bilirrubina é normal, mas a bilirrubina da bilirrubina pelo fígado e do emprego de poucos
formada não pode passar do sangue para os testes simples, muitas vezes, é possível diferenciar
intestinos. A bilirrubina não conjugada ainda entre múltiplos tipos de doenças hemolíticas e
adentra os hepatócitos, sendo conjugada do hepáticas, bem como determinar a gravidade da
modo usual. Essa bilirrubina conjugada é então doença.
devolvida ao sangue, provavelmente pela ruptura
dos canalículos hepáticos congestionados,
drenando de forma direta a bile para a linfa que
deixa o fígado. Consequentemente, a maior parte
da bilirrubina no plasma é do tipo conjugado,
em vez do tipo não conjugado.

Diferenças Diagnósticas Entre Icterícia


Hemolítica e Obstrutiva

• Os exames químicos laboratoriais podem ser Síndromes hereditárias específicas


usados para diferenciar a bilirrubina não
Síndrome de Gilbert
conjugada da conjugada no plasma. Na icterícia

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• Devido a sua elevada frequência (7% da • d) a biópsia (não necessária) é normal –
população caucasiana), a síndrome de Gilbert é o embora em alguns casos possa haver depósitos
distúrbio hereditário do metabolismo da inespecíficos de lipofuscina na zona centrolobular.
bilirrubina mais comumente encontrado pelo • “Do ponto de vista prático, o diagnóstico deve ser
médico. dado demonstrando-se uma hiperbilirrubinemia
• Esta condição predomina no sexo masculino (3:1) não conjugada discreta, nos pacientes sem
e resulta de uma leve deficiência da enzima que queixas e com exame físico e provas de função
realiza a conjugação da BI dentro do hepatócito hepática normais”.
(ou seja, uma deficiência hereditária “leve” de • A principal importância da síndrome de Gilbert é
glicuronil-transferase). Comporta-se de forma que ela pode ser confundida com outras
benigna, sem complicações, embora seja crônica, doenças hereditárias do metabolismo da
caracterizando-se por uma hiperbilirrubinemia bilirrubina (Crigler-Najjar tipo II). Em casos
indireta leve e persistente. selecionados, pode ser utilizado o teste de
• Na maioria das vezes a icterícia se inicia em torno restrição calórica, no qual há um aumento
dos 20 anos de idade, mas costuma ser tão leve significativo da BI após a ingestão de apenas 400
que o paciente geralmente só se dá conta após kcal em 24 horas.
exames laboratoriais de rotina, ou então após um • A síndrome de Gilbert não necessita de
período de jejum prolongado (em que ela se tratamento. Alguns pacientes, por motivos
acentua). Os níveis de bilirrubina total puramente estéticos (como modelos), podem
raramente ultrapassam 5 mg/dl. receber fenobarbital cronicamente em baixas
• Depois da hemólise, a síndrome de Gilbert é a doses para reduzir a intensidade da icterícia. Esta
principal causa de hiperbilirrubinemia não droga aumenta a atividade da glicuronil-
conjugada. Só para relembrar: alguns pacientes transferase.
podem ser diagnosticados num estado de
“hemólise compensada”, quando se apresentam
apenas com icterícia, hiperbilirrubinemia
indireta e reticulocitose, mas sem anemia. Por
isso, para se pensar em Gilbert, primeiro temos que
afastar hemólise por meio da contagem
reticulocitária!!!
• Tipicamente a icterícia se agravará após:
• (1) Jejum prolongado ou retirada das gorduras Síndrome de Crigler-Najjar Tipo I
da dieta;
• (2) Exercício intenso; • As síndromes de Crigler-Najjar tipo I e II são
• (3) Ingestão de álcool; distúrbios hereditários da glicuronil-transferase.
• (4) Administração de ácido nicotínico. O tipo I é grave e resulta de deficiência
• Em geral, o diagnóstico de síndrome de Gilbert deve completa desta enzima.
ser feito por exclusão, ou seja, suspeita-se desta • Os recém-nascidos desenvolvem
síndrome quando o paciente apresenta hiperbilirrubinemia indireta que pode atingir 45
hiperbilirrubinemia não conjugada leve e mg/dl (a BD está caracteristicamente ausente). Em
persistente, mas: geral, essas crianças morrem dentro do primeiro
• a) não há outros sinais ou sintomas sistêmicos; ano de vida (decorrente do kernicterus), embora
• b) não há hemólise laboratorialmente tenha sido relatada sobrevivência até os 30 anos.
reconhecida; • A BI, ao contrário da BD, passa facilmente a
• c) as provas de função hepática são normais; barreira hematoencefálica, provocando efeitos

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tóxicos no SNC. As provas de função hepática são • Os pacientes com esta síndrome ou são
normais, assim como a histologia hepática. assintomáticos, ou apresentam sintomas
• A plasmaférese é considerada o melhor gastrointestinais vagos, como hepatomegalia
tratamento clínico para esses pacientes. A discreta e hipersensível. Os estigmas de colestase,
fototerapia pode reduzir de maneira temporária e como prurido e esteatorreia, em geral estão
transitória o nível de bilirrubina não conjugada, ausentes.
pela formação de um isômero “excretável” na bile • Os níveis séricos de fosfatase alcalina (bem como
ou urina. Da mesma forma, a inibição da síntese de qualquer outra enzima hepática) estão
bilirrubina, pela administração de inibidores da caracteristicamente normais. Neste contexto, a
heme-oxigenase, como a tin-protoporfirina ou a dosagem da coproporfirina urinária confirma o
tin-mesoporfirina, é útil nas crises. O fenobarbital diagnóstico: nestes pacientes, apesar de os níveis
(indutor da transferase) não é eficaz, já que não serem normais, a fração predominante é a
há nenhuma enzima para ser induzida. coproporfirina I, em vez da coproporfirina III
• O transplante hepático é a única opção definitiva (que predomina em pessoas normais).
de cura. • O acúmulo de um pigmento escuro na região
centrolobular dos lóbulos hepáticos é
Síndrome de Crigler-Najjar Tipo II característico (embora a biópsia hepática seja
desnecessária para o diagnóstico). O prognóstico
• O tipo II resulta de uma deficiência parcial
da síndrome de Dubin-Johnson é excelente e não
(moderada a grave) da glicuronil-transferase,
há necessidade de tratamento.
e suas consequências são menos graves que no tipo
I. Os níveis séricos de BI são relativamente mais Síndrome de Rotor
baixos (6 a 20 mg/dl), a icterícia pode não
aparecer até a adolescência e as complicações • É um distúrbio do armazenamento da
neurológicas são raras. A bile contém quantidades bilirrubina conjugada, que acaba retornando ao
variáveis de BD. sangue antes de ser excretada na bile – em muitos
• O fenobarbital é eficaz na redução dos níveis aspectos é semelhante à síndrome de Dubin-
séricos de BI, na medida em que é um “indutor” da Johnson. Diferencia-se desta por haver aumento
transferase, e pode ser utilizado, inclusive, na de 3-5 vezes nos níveis urinários de
diferenciação entre o tipo I e o tipo II da síndrome, coproporfirina e pelo fato de não haver
já que no primeiro não há resposta a esse pigmentação característica nos hepatócitos – aqui
medicamento. a biópsia também é desnecessária.

Síndrome de Dubin-Johnson

• A síndrome de Dubin-Johnson, também conhecida


como icterícia crônica idiopática, é um distúrbio
hereditário que resulta de um defeito na fase de
excreção – os hepatócitos não conseguem mais
excretar a bilirrubina já conjugada para a bile.
• Os níveis de bilirrubina estão entre 2-5 mg/dl na
maioria dos casos (mas podem chegar a 25 mg/dl).
Predomina a fração direta, embora os níveis de
BI também estejam aumentados. Os Explicar o quadro clínico, achados no
anticoncepcionais orais podem acentuar a
exame físico, o diagnóstico diferencial e
icterícia, ou mesmo produzir o primeiro episódio
as complicações da colestase.
desta.
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Colestase (Síndrome Colestática) • As causas de colestase intra-hepática incluem as
condições em que o hepatócito é incapaz de
• Colestase é o acúmulo de bilirrubina direta e excretar a bile (hepatite), e aquelas em que há
outros ingredientes da bile (ácidos biliares, algum problema com a drenagem da bile pela
colesterol) por um problema existente na drenagem árvore biliar dentro do próprio parênquima
biliar intra ou extra-hepática. A lesão hepático. As principais são:
hepatocelular (ex.: hepatites) pode causar • (a) hepatite viral (especialmente a hepatite A
colestase intra-hepática por um mecanismo aguda);
diferente: o bloqueio da excreção de BD pelos
• (b) hepatite tóxica e medicamentosa
hepatócitos.
(principalmente fenotiazinas e estrogênios);
• A histopatologia demonstra acúmulo de pigmento
• (c) doenças infiltrativas do fígado;
biliar nos hepatócitos e células de Kupffer. Nos
• (d) cirrose biliar primária (uma doença
casos de doença do sistema de drenagem biliar
autoimune dos dúctulos biliares).
intra ou extra-hepático, observa-se dilatação dos
canalículos biliares entre os hepatócitos, edema Colestase Extra-Hepática
e degeneração hepatocitária (por efeito detergente
dos ácidos biliares), apoptose e alterações nos • A colestase extra-hepática ocorre por obstrução
espaços-porta (proliferação de dúctulos biliares, de alguma grande via biliar (principalmente o
edema, infiltrado neutrofílico). colédoco). As principais causas de obstrução são os
• Clinicamente, o paciente apresenta icterícia (forte cálculos e as neoplasias. A colangite
predomínio da BD) e o restante da síndrome esclerosante é uma doença autoimune que leva a
colestática: além da icterícia, colúria, acolia estenoses múltiplas no sistema biliar extra e intra-
fecal, prurido. O prurido tem fisiopatogênese hepático.
desconhecida, e parece estar relacionado a um
aumento no tônus opioidoérgico (tanto que
melhora com a administração de um antagonista
dos receptores opioides, o naloxone). Também pode
ter um componente de acúmulo de ácidos e sais
biliares na pele.
• A esteatorreia e a deficiência de vitaminas
lipossolúveis, especialmente a vitamina K
(coagulopatia), ocorrem nos casos mais acentuados
de colestase. Laboratorialmente, as enzimas
presentes na superfície dos canalículos e dúctulos Manifestações clínicas
biliares se elevam na corrente sanguínea, pelo
efeito detergente dos ácidos biliares. São elas: • Prurido: retenção de sais biliares, podem
fosfatase alcalina e gama-GT (gama- extravasar e elevar os níveis de sais biliares no soro
glutamiltranspeptidase). e na pele.
• A enzima 5’-nucleotidase também é muito citada • Xantomas tendinosos e xantelasmas
pela literatura estrangeira como um eficiente periorbitais: colesterol em excesso depositado nos
marcador de colestase a ser usado em conjunto tecidos, aterosclerose clinicamente significativa é
incomum.
com a fosfatase alcalina, exatamente como a gama-
GT. • Esteatorreia: na colestase, as concentrações de
sais biliares intestinais são inadequadas para
Colestase Intra-Hepática solubilizar os lipídios da dieta; o resultado é a
excreção do excesso de gordura não absorvida. Os

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ácidos graxos de cadeia longa da dieta também • Tríade de Charcot: icterícia, dor em hipocôndrio
irritam a mucosa do cólon. direito, febre com calafrios.
• Osteomalacia e osteoporose: má absorção de • Pêntade de Reynolds: dor abdominal, icterícia,
vitaminas lipossolúveis A, D, E e K (coagulopatia) e febre com calafrios, hipotensão e confusão mental.
íons.
• Icterícia. ACHADOS NO EXAME FÍSICO
• Hipocolia/acolia fecal: se a secreção hepatobiliar • A hepatomegalia é mais frequente na colestase
estiver reduzida (colestase), os níveis de extra-hepática, sendo o fígado de consistência
urobilinogênio fecais tendem a estar baixos e as endurecida à palpação e, por vezes, doloroso,
fezes tendem a ficar claras. sobretudo na coexistência de colangite e abscessos.
• Colúria: urina “cor de Coca-Cola”. É interessante • A vesícula palpável, distendida e tensa, pode
a capacidade de os sais biliares aumentarem a significar tumor pancreático (principalmente
filtração renal de BD. Na síndrome colestática periampular), sinal clássico de Courvoisier-
(incapacidade de drenar a bile recém-produzida), o
Terrier (vesícula biliar palpável e indolor em
elevado nível plasmático de ácidos biliares facilita
paciente ictérico), consequência de uma vesícula
a excreção de BD pelos rins, provocando intensa
hidrópica, devido a cálculo impactado no seu
bilirrubinúria.
infundíbulo, ou síndrome de Mirizzi.
• Esplenomegalia ocorre apenas nos casos
decorrentes de doenças colestáticas crônicas,
como na cirrose biliar primária e na colangite
esclerosante, como consequência da hipertensão
portal.

DIAGNÓSTICO

• Na colestase pura, os níveis de fosfatase


alcalina e γ-glutamiltransferase são
significativamente elevados, enquanto os níveis
de aminotransferase são normais ou levemente
aumentados. A bilirrubina pode estar elevada, mas
pode estar normal mesmo nas colestases intra-
hepáticas graves até os estádios mais tardios da
doença. A dilatação dos ductos intra-hepáticos
na ultrassonografia (US) sugere colestase
extra-hepática obstrutiva.
• A dor praticamente inexiste na colestase
intra-hepática. Quando está presente, é do tipo
surda, em peso e constante. É mais comum na
colestase extra-hepática, tipo cólica, localizada
preferencialmente em hipocôndrio direito,
podendo irradiar-se para dorso e ombro direitos e
epigástrio, como ocorre na colelitíase,
coledocolitíase e nas doenças pancreáticas. Quando
se associa a febre e calafrio, caracterizando a
tríade de Charcot, é sinal patognomônico de
colangite.
Yanina Sobolow – 5P
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • A via neurossensorial pode ser bloqueada pela
utilização de antagonistas de opioides, como
• Sepse. naloxona e naltrexona, mas devem ser tomados
• Insuficiência cardíaca congestiva. cuidados para evitar o risco de uma síndrome de
• Pós-operatório. abstinência de opioides.
• Os indutores de enzimas hepáticas, como
COMPLICAÇÕES
fenobarbital e rifampicina, também têm sido
• Hipertensão portal. utilizados com sucesso no tratamento do prurido.
• Insuficiência hepática. Em alguns casos de prurido intratável, a maconha
ou sua forma sintética dronabinol (Marinol®) tem
sido útil em controlar os sintomas. Por fim, para
situações como o prurido intratável da cirrose
biliar, o transplante de fígado é a única opção.
• A suplementação com cálcio, 1.500 mg
diariamente, acrescida de vitamina D, é essencial.
Se a densitometria óssea demonstrar osteopenia,
deve ser instituída uma terapia com bifosfonados.

Explicar o quadro clínico, o diagnóstico e


o tratamento da litíase biliar, nas
diferentes localizações dos cálculos
(vesícula biliar e colédoco).
TRATAMENTO

• A terapia deve tentar remover a causa da


colestase, restabelecendo por exemplo o fluxo
biliar obstruído por um câncer pancreático através
de cirurgia ou colocação de stent. Na colestase
progressiva das doenças biliares intra-hepáticas (p.
ex., cirrose biliar primária [CBP]), o transplante de
fígado pode ser o único recurso.
• Os quelantes de ácidos biliares, como a
colestiramina, podem reduzir a concentração de
ácidos biliares, mas estão associados à distensão
abdominal e constipação intestinal. A
substituição dos sais biliares hidrofóbicos por sais
biliares hidrofílicos, como o ácido
ursodesoxicólico (AUDC), trata todas as formas
de colestase intra-hepática e o prurido associado.

Yanina Sobolow – 5P

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