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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO-UEMA

NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO-UEMAnet


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL-UAB

Profº. Marcos Ferreira

São Luís
2022
O QUE É GEOGRAFIA POLÍTICA?
VAMOS APRENDER?
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia
Política: perspectivas teóricas
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Há quase um consenso na literatura internacional sobre Geografia


Política e Geopolítica, de que houve um avanço no debate sobre a
disciplina após a Segunda Guerra Mundial: os geógrafos entenderam
que era preciso estudá-la para além do Estado e a sua atuação no
território.
Por isso é tão importante entendermos as definições de Estado,
território e poder.
(KAROL, 2013).

Fonte
https://www.faroldabahia.com/noticia/pandemia-
pode-promover-novo-tipo-de-estado-nacao
VOCÊ SABE O QUE É GOVERNO? ESTADO?
TEM DIFERENÇA?
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

1.1 Estado:

O Estado é considerado o
ator privilegiado por diversos
geógrafos e geógrafas em
Geografia Política e
Geopolítica.

Estado e Governo são


dimensões complementares
de uma mesma moeda:
fazem parte da mesma
unidade de controle do
território.
Fonte: https://kardiasociologia.org/2020/05/22/conceitos-povo-nacao-e-
A diferença entre eles é que populacao/
o Estado é uma instituição
permanente e o governo
muda conforme as eleições.
KAROL, 2013.
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O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

O Estado aparece como um aparelho ideológico do próprio capitalismo.


Ele representa os interesses da classe social que o governa.
KAROL, 2013.

Fonte:
https://www.google.com/search?q=o+estado
&sxsrf=APq-
WBuS9_QT4eMnW2r0UgY7iz47RSMPCw:1
651004288456&source=lnms&tbm=isch&sa
=X&ved=2ahUKEwi28oqhxrL3AhU1u5UCHf
BDDu0Q_AUoAnoECAIQBA&biw=1366&bih
=625&dpr=1#imgrc=lcjr10aVOMUBTM&imgd
ii=oUpb1nNK1LpcbM
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

1.2 Território:

Para Claude Raffestin, (1993 apud BORDO et. al, 2012, p.2), o
território é a instância político-administrativa, isto é, o espaço físico
onde se localiza uma nação; um espaço onde se delimita uma ordem
jurídica e política; um espaço medido e marcado pela projeção do
trabalho humano com suas linhas, limites e fronteiras.

Fonte: https://www.istockphoto.com/br/fotos/marcar-territ%C3%B3rio
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Na análise de Claude Raffestin (1993 apud BORDO et. al, 2012, p. 2),
a construção do território revela relações marcadas pelo poder. Assim,
faz-se necessário enfatizar uma categoria essencial para a
compreensão do território, que é o poder exercido por pessoas ou
grupos sem o qual não se define o território.
Assim, o poder está intrínseco em todas as relações sociais,
especialmente no território.

Fonte: https://blog.bumerangbrinquedos.com.br/brinquedos/jogo-de-tabuleiro-war/
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O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Outro autor que discute o conceito de território é o Rogério


Haesbaert.

O território é visto, para ele, com diferentes enfoques a partir de três


vertentes básicas:

• Jurídico-política, segundo a qual “o território é visto como um


espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um
determinado poder, especialmente o de domínio estatal”;

• Cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas, mais subjetivas


e afetivas, o território visto como o resultado da apropriação feita
através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”:

• Econômica, “que destaca o embate entre classes sociais e da


relação capital-trabalho”.
(BORDO ET. AL, 2012)
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O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Da mesma forma que em Claude Raffestin, a ideia de poder também


é uma constante na discussão sobre território feita por Marcos
Aurélio Saquet:

O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder


provocadas por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser
temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas, portanto,
não apenas naquela convencionalmente conhecida como o “território
nacional” sob gestão do Estado-Nação. (SAQUET apud BORDO et. al,
2012, p. 4-5).

(BORDO ET. AL, 2012)


UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

1.3 Poder:

Temos o poder político-social aqui definido pelas suas ações que


produzem efeitos no território, e é correlacionado ao campo de poder
que se forma toda vez que existem diferentes interesses onde os
mesmos não alcançam um grau de negociação, ocorrendo assim uma
fragmentação na disputa pelo poder, onde os grupos mais
organizados e dominantes tendem a se sobressair.
SILVA, 2009.

Fonte: https://hsm.com.br/blog/o-paradoxo-do-poder/
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O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

O poder é uma relação instável. Onde há poder há conflitos.

Os exercícios de poder são na verdade manifestações de forças


advindas de diferentes atores sociais, que realizam suas ações
dentro de um determinado território...................................................
SILVA, 2009.

Fonte:
https://www.portalesperafeliz.com.br/colunistas/nilt
on-cezar-martins/a-tipologia-moderna-das-formas-
de-poder/
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Ao longo da construção teórica do que entendemos por Geografia


Política e Geopolítica, o Estado se tornou objeto de análise e o
tema que discute a sua atuação no território, adentrou nos
manuais, dicionários, dissertações e teses, ou seja, publicações
específicas que envolviam a disciplina.

KAROL, 2013.
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

No pensamento geográfico, as ideias de Friedrich Ratzel são referências


e muitos autores iniciam suas reflexões atribuindo-lhe a responsabilidade
por iniciar o debate sobre a formação do que entendemos por Estado hoje.

Na introdução de Geografia Política, uma das suas obras mais


importantes acerca do assunto, Friedrich Ratzel afirma que os Estados
devem ser estudados do ponto de vista geográfico, a partir das suas
fronteiras, seus relevos, solos, climas e relações com outros países.

KAROL, 2013.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Ratzel
UNIDADE 1
O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

No Brasil, um dos primeiros geógrafos a discutir sobre o tema foi


Wanderley Messias da Costa, com seu livro Geografia Política e
Geopolítica – discursos sobre o território e o poder, publicado em
1992.

A obra introduz abordagens sobre


o Estado Moderno e a sua atual
configuração, além de discutir
temas como ‘fronteira’ e ‘nações e
nacionalismos’.

KAROL, 2013.

Fonte: https://www.edusp.com.br/livros/geografia-
politica-e-geopolitica/
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O debate em torno da Geografia Política: perspectivas teóricas

Na geografia brasileira, o Estado é tratado nos estudos como


intervencionista e ator principal do desenvolvimento capitalista, o
que consequentemente impõe políticas de integração espacial,
com intuito de amenizar as desigualdades entre as regiões a partir
do planejamento territorial.
UNIDADE 2
O debate em geografia política
e geopolítica
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

É comum estabelecermos confusões acerca das diferenças e


semelhanças entre geografia política e geopolítica, duas
perspectivas que possuem trajetórias históricas e teóricas diferentes.

KAROL, 2013

Fonte: https://www.sogeografia.com.br/Conteudos/GeografiaEconomica/geopolitica/geopolitica.php
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

2.1 Geografia política e geopolítica: velhas e novas convergências

A expressão “geografia política”, segundo Horta (2006, apud KAROL,


2013), há séculos vem sendo reproduzida na literatura científica.
Inúmeros livros, entre os séculos XVII e XIX, possuem temáticas e
títulos com esta proposta.

Fonte:
https://www.ci-cpri.com/
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O debate em Geografia Política e Geopolítica

Entendemos Geografia Política, como um conjunto de estudos dos quais


abordam a política e as relações estabelecidas entre espaço e poder
como análise sobre o mundo.

Ou seja, Geografia Política é muito mais abrangente do que apenas as


concepções que envolvem partidos políticos ou política partidária.

Pois todas as relações que acontecem entre os humanos são políticas.

KAROL, 2013

Fonte:
https://www.ci-cpri.com/
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Foi partir da obra Politische Geographie, do geógrafo e etnógrafo


Friedrich Ratzel, publicada em 1987, que o rótulo “geografia política”
tornou-se, de fato, o estudo geográfico da política.

Antes de Ratzel, era comum encontrar várias obras com o título de


“geografia política”, mas a discussão se pautava muito mais sobre a
descrição da paisagem, rios ou montanhas de um determinado território,
pois qualquer assunto que tivesse o Estado como centro do debate, se
enquadrava nos estudos da política.

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

A expressão “geografia política” já estava


presente nas obras de Aristóteles,
Maquiavel e em outros filósofos da
Antiguidade.

Contudo, suas preocupações


objetivavam dimensões mais descritivas
sobre as Leis e a maneira como o
Estado, ou os tipos de governo,
poderiam exercer o seu poder.

Fonte: https://www.amazon.com.br/Pol%C3%ADtica-
Cole%C3%A7%C3%A3o-Cl%C3%A1ssicos-para-Todos-
ebook/dp/B07XR5H283

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Com o estudioso Ratzel , a Geografia Política passa a ser


compreendida como um estudo geográfico e espacial da política
dos Estados e dos países.

Ou seja, o Estado é aqui o centro do debate: são formações


espaciais delimitadas e organizadas que estendem poder e controle
sobre um determinado território (KAROL, 2013).

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Em síntese, a contribuição de Ratzel está especificamente na


delimitação dada ao Estado a partir de três questões essenciais na
sua composição: espaço, posição e organismo:

• Espaço, pois é necessário delimitar uma área para controlar e


expandir;

• Posição, ou localização geográfica;

• Organismo, pela sua capacidade de dominação e expansão


como direito próprio e exclusivo do seu sistema. A expansão é
uma tendência natural dos organismos estatais. Aqui o Estado é
entendido como um organismo vivo, um sistema, sempre pronto
para expandir.

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

E quanto a Geopolítica?

A Geopolítica refere-se às relações territoriais envolvendo os Estados Nacionais


no plano internacional (MUNDO EDUCAÇÃO, disponível em:
<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/geopolitica.htm#:~:text=A%20Geopol
%C3%ADtica%20refere%2Dse%20%C3%A0s,Estados%20Nacionais%20no%20pl
ano%20internacional.&text=Geopol%C3%ADtica%20pode%20ser%20definida%20
como,o%20controle%20de%20seus%20territ%C3%B3rios.>. Acesso em: 06 de
maio de 2022).

Mas devemos limitar os estudos geopolíticos apenas ao plano internacional?

KAROL, 2013

Fonte:
https://www.gestaoeducacional.com.br/geopolitica-o-que-e/
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Não!

O termo Geopolítica é entendido como às rivalidades de poderes ou de


influências nos territórios e as populações que nele vivem: rivalidades
entre poderes políticos de toda sorte — e não somente entre Estados,
mas também entre movimentos políticos ou grupos armados —
rivalidades pelo controle ou dominação de territórios de grande ou
pequeno porte.
KAROL, 2013

Fonte:
https://www.gestaoeducacional.com.br/geopolitica-o-que-e/
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Quais as semelhanças entre a Geografia Política e a Geopolítica?

Fonte: https://conhecimentocientifico.com/ponto-de-interrogacao/

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Quais as semelhanças entre a Geografia Política e a Geopolítica?

• o poder sempre presente nas relações estatais, mas ele


também está presente nas relações sociais entre os humanos,
além do Estado.

• o Estado, o território e os conflitos são discussões


pertinentes as ambas disciplinas.

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

2.2 A Geografia Política-Geopolítica: uma outra proposta

O ponto de encontro entre Geografia Política e Geopolítica é assumido


considerando-se as relações entre os Estados (interna e externamente)
e os atores que forjam a disputa por espaço na sociedade moderna.

Que atores são esses?

O Estado, o povo, eu e você também!

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Assim, apresenta-se para título de entendimento a fórmula usada por


Maull, que elaborou um termo binário: Geografia Política-Geopolítica
(BACKHEUSER, 1942, apud KAROL, 2013, p. 54).

Será mesmo relevante fragmentar rigorosamente essas


áreas do conhecimento?

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

Pensamos que não!

A Geografia Política concentra sua atenção nas relações


externas e internas dos Estados.

O elemento identificador da Geografia Política é o Estado como


entidade política e a base territorial em que se constrói.

E para a Geopolítica é o estudo da espacialização da política


internacional pelos poderes centrais e os Estados hegemônicos.

KAROL, 2013
UNIDADE 2
O debate em Geografia Política e Geopolítica

A proposta de fundir esses dois campos em Geografia política-


geopolítica está em:

Entender que o Estado e os demais atores sociais estão em


constante disputas, nas mais diversas escalas do espaço
geográfico. O poder e o território são aqui pontos de encontros,
para compreender as batalhas políticas travadas no âmbito da
sociedade moderna.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

3.1 Onde se produz Geografia Política no Brasil hoje?

Se o interesse hoje está na articulação entre o político e o espacial, a


produção da Geografia Política e Geopolítica conta com lugares
institucionais, onde geógrafos, militares, entre outros, trabalham para
estudar e preparar os planos para a “organização nacional”.

Fonte:
https://matriculas.estacio.br/blog/geografia/

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

3.1 Onde se produz Geografia Política no Brasil hoje?

No Brasil, os lugares da produção, por muito tempo, se resumiram ao


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: a maior agência
de planejamento territorial do governo brasileiro (ALMEIDA, 2000 apud
KAROL, 2013, p.54), às Universidades (USP criada em 1934 e UFRJ em
1935), e à AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros) criada em 1934.

Elas compõem, segundo Becker (1986, p. 158), as instituições da produção


do saber geográfico, assim são lugares a serem investigados na busca de
projetos que revelam as ideias sobre a integração do território no Brasil.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Ao longo dos últimos cinquenta anos, as instituições se multiplicaram nas


análises das relações entre espaço e política, basta constatar a criação
nas universidades de vários laboratórios, como por exemplo: o LAGET
(Laboratório de Gestão do Território) e o GRUPO RETIS na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o GEOPO e o LABOPLAN, O
Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental,
na USP (Universidade de São Paulo).

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Fonte:
Print da produção acadêmica do Grupo Retis. http://www.retis.igeo.ufrj.br/conteudo/producao/#.YmhsPtrMLIU
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Print da produção acadêmica do GEOPO.

Fonte: https://geopo.fflch.usp.br/livros
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Print da produção acadêmica do GEOPO.

Fonte: https://geopo.fflch.usp.br/livros
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Criado num contexto de acentuada centralização política, o IBGE foi o


principal órgão responsável pela organização de informações e
estatísticas sobre o território nacional e, por consequência, contribuiu
efetivamente para o estabelecimento de políticas de organização e
gestão do território, dentro de uma perspectiva de integração regional
e nacional. (PENHA, 1993 apud KAROL, 2013, p. 56).

Admite-se, então, que o instituto funcionou e funciona como uma


central de cálculo, de onde se planeja a integração de frações do
território brasileiro à dinâmica do capital na escala local, regional e
global.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Nos laboratórios das Universidades, o acesso e a produção do


conhecimento são as principais fontes, muitas vezes, de
informações sobre a Geografia Política-Geopolítica.

Por exemplo, o levantamento dos livros, capítulos de livros, artigos


em periódicos, teses e dissertações produzidos no campo por
geógrafos nos últimos trinta anos no Brasil, revela que a obra de
Bertha K. Becker (1930-2013) merece estudo particular.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

A autora elege o Estado no Brasil e seus planos de desenvolvimento


como principal interlocutor, todavia não deixa de diversificar a análise
dos demais atores que disputam as fronteiras dos territórios.

Seus trabalhos discutem, especialmente:

• criação de empresas estatais em setores básicos (energia,


comunicação e transporte) da economia e posterior privatização;
implantação de planos de desenvolvimento; concentração
fundiária; ascensão de uma classe média urbana; urbanização
crescente verificada na modificação do perfil populacional.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

3.2 Quem produz Geografia Política no Brasil?

Em “A Fronteira”, Bertha K. Becker afirma a ligação da história do


Brasil com a expansão da fronteira econômica, com ênfase na
região Amazônica a partir de 1960. O papel do Estado nesse
processo é feito através de incentivos fiscais para apropriação de
terras por grupos nacionais e internacionais que consequentemente,
geram conflitos e lutas violentas pela terra.

De maneira geral, seus estudos objetivam denunciar a expansão do


capitalismo selvagem na região apoiada pelo Estado.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Em “A Nova Geografia Política”, a professora Bertha K. Becker inicia


seu texto com a ideia de que a sociedade brasileira, enfrenta
problemas devido ao modelo de desenvolvimento capitaneado por
decisões tomadas por um Estado autoritário.

O Estado deixa de ser elemento neutro, e se constitui como


protagonista na construção da sociedade. O compromisso dessa forma
estatal, é com a burguesia e a acumulação de capital.

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

A Geografia no Brasil não está mais voltada para estudos que


interessam somente ao governo, agora busca ampliar seu papel
social com a discussão e proposição de soluções das questões
prioritárias que interessam à sociedade brasileira em sua
totalidade (BECKER, 1986 apud KAROL, 2013).

KAROL, 2013
UNIDADE 3
A geografia política brasileira

Outras publicações que demonstram mudanças na abordagem da


Geografia Política e Geopolítica são as teses de doutorado de José
William Vesentini, “A Capital da Geopolítica: um estudo geográfico
sobre a implantação de Brasília” de 1985 e a de Wanderley Messias
da Costa, “Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território
e o poder” de 1991, ambas publicadas mais tarde em livros.

Os exemplos se multiplicam e pode-se identificar que não só no


exterior se experimenta modificações nas abordagens da Geografia
Política e Geopolítica, mas também no Brasil, por mais que esteja
diluída na produção geral da Geografia.

KAROL, 2013
UNIDADE 4
Novas tendências da
geografia política
UNIDADE 4
Novas tendências da geografia política

4.1 A Questão Ambiental e a Nova Geopolítica:

Nas últimas décadas, a questão ambiental se tornou um tema


fundamental nas discussões entre os países.

Consideramos hoje uma temática geopolítica transdisciplinar com


importante relevância na agenda de Estados nacionais e de atores
econômicos, sobretudo políticos com influência global.

Fonte:
https://domtotal.com/noticia/1098938/2016/11/os-
cinco-maiores-problemas-ambientais-do-mundo-
e-suas-solucoes/

CAMPELLO, 2013
UNIDADE 4
Novas tendências da geografia política

A natureza é entendida, para o sistema capitalista, como uma


mercadoria.

As estratégias de poder e a mercantilização, ou a comercialização,


dos elementos da natureza fazem parte de um “jogo” denominado por
Porto-Gonçalves (2006 apud CAMPELLO, 2013, p. 133) como
“geopolítica da biodiversidade”.

Fonte: https://envolverde.com.br/cupula-dos-povos-
pretende-lutar-contra-mercantilizacao-da-natureza/

CAMPELLO, 2013
UNIDADE 4
Novas tendências da geografia política

E o nosso maior tesouro, a Floresta Amazônica, é o alvo dos


interesses da geopolítica mundial.

Fonte: https://envolverde.com.br/cupula-dos-povos-
pretende-lutar-contra-mercantilizacao-da-natureza/

CAMPELLO, 2013
UNIDADE 4

O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS


CONTRIBUIÇÕES

Não se pode negar, a importância da Amazônia como patrimônio natural e


cultural da humanidade, mas há que se pensar a região de forma crítica.

Para além da própria biodiversidade,


há questões sociais que também
devem ser pautadas na dimensão da
Geografia Política brasileira: a
maioria da população vive em
péssimas condições, inclusive
sanitárias e ambientais, o que
repercute negativamente em sua
economia, no padrão de vida de seus
habitantes e, principalmente, na
saúde da população, além de
Figura que apresenta a precariedade da vida na
Amazônia. contribuir para um círculo vicioso de
Fonte: https://jornal.usp.br/universidade/arquiteta-da-
impactos ao próprio ambiente.
usp-faz-projeto-de-moradias-para-ribeirinhos-do-
amazonas/

CAMPELLO, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

É preciso reconhecer que a Amazônia tornou-se um símbolo


ecológico global.

A questão é pensar “para quem” serve esse símbolo e o que está por
trás da sua construção?

Fonte:
https://www.google.com/search?q=amazonia+internacional&
tbm=isch&ved=2ahUKEwjc7M_T6rL3AhXnMrkGHS1YAzAQ
2-
cCegQIABAA&oq=amazonia+internacional&gs_lcp=CgNpb
WcQAzIFCAAQgAQyBQgAEIAEMgUIABCABDIGCAAQCB
AeMgQIABAYMgQIABAYMgQIABAYOgcIIxDvAxAnOgQIAB
BDOggIABCxAxCDAToLCAAQgAQQsQMQgwE6CAgAEIA
EELEDOgcIABCxAxBDOgQIABAeOgYIABAFEB5Q9wpY3x
1gvCBoAHAAeACAAdEBiAH4GpIBBjAuMjIuMZgBAKABAa
oBC2d3cy13aXotaW1nwAEB&sclient=img&ei=qnloYtzvBufl
5OUPrbCNgAM&bih=568&biw=1366#imgrc=4-de_3kMH-za-
M&imgdii=cL7fphxL3AduVM

CAMPELLO, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

4.2 O resgate da Antiogeopolítica:

Há uma outra proposta de se pensar a geografia política no Brasil.

Uma nova vertente, que busca inverter a lógica que até então é
hegemônica nos estudos da geografia política e da geopolítica:
retirar o protagonismo do Estado e dos conflitos internacionais
para trazer pessoas comuns ao centro do debate.

E que pessoas comuns são essas?

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Grupos sociais marginalizados, pois estão à margem das políticas


públicas hegemônicas, inclusive pelo direito à vida, tais como:

• Os movimentos sociais urbanos e rurais;


• Os grupos LGBTQI+;
• Os movimentos de pessoas negras;
• Os grupos indígenas e a luta pela terra.

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Nesta nova geografia política, o componente crítico, as conexões


com a geografia social e cultural são evidentes e se estabelecem em
boa
medida através de um conceito-chave, o de identidade.

Identidade é o conjunto de atributos que caracterizam alguma


pessoa, ou seja, é a soma de trajetórias sociais, políticas,
econômicas e culturais que individualizam uma pessoa, distinguindo-
a das demais.

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

O desafio da nova geografia política consiste em oferecer visões da


realidade alternativas às do pensamento único dominante.

Figura que expressa a luta dos povos indígenas no


Brasil.

Fonte: https://idec.org.br/dicas-e-direitos/9-atitudes-
para-celebrar-o-dia-do-indio-e-ajudar-sua-cultura-e-
direitos

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Por isso que estudar geopolítica é analisar os modos pelos quais


atores políticos entendem e praticam política nacional e internacional
em termos espaciais – através de concepções espaciais e geográficas
de poder, identidade e justiça.

Essa nova proposta é denominada de antigeografia.

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

A antigeopolítica trata da construção de contraespaços como


alternativas sociopolíticas antagônicas à ordem geopolítica
dominante.

Ou seja, ela propõe ir na contramão do que tem sido construído ao


longo da história da Geografia Política.

Ela aborda a construção de espaços de resistência a partir dos


movimentos de resistências contra ordem dominante.

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Um outro mundo é possível, somente quando o mundo do


outro é possível. Daí o seu caráter flagrantemente ético, cujos
horizontes são a justiça e a felicidade.

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

As histórias de resistência podem ser caracterizadas como


geopolíticas de baixo para cima emanando de posições subalternas
(i.e. dominadas) dentro da sociedade e que desafiam a hegemonia
cultural, econômica, política e militar do Estado e de suas elites.

Mas, o que é resistência?

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Segundo Foucault (apud LIMA, 2013), a resistência pode ser


compreendida como o ato de existir força contrária ao poder
dominante.

As resistências podem, por sua vez, fundar novas relações de


poder, tanto quanto novas relações de poder podem,
inversamente, suscitar a invenção de novas formas de resistência.

E como funciona isso?

LIMA, 2013
UNIDADE 4
O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO: NOVAS CONTRIBUIÇÕES

Ora, na América Latina,


antigeopolítica se apresenta
através da luta descolonial
dos indígenas frente ao
território do Estado.

Eles buscam resistir sua


cultura e o seu território na
luta pelo reconhecimento da
manutenção e da defesa de
sua forma de vida ancestral.
Figura que expressa a luta dos povos indígenas no
Equador.

Fonte: https://outraspalavras.net/descolonizacoes/no-
equador-a-insurreicao-tem-rosto-indigena/

LIMA, 2013
CONCLUSÃO

A Geografia Política é uma subdisciplina da Geografia Humana, é a ciência que


trata de estudar tanto a distribuição como a organização do planeta, levando em
conta as diferentes posturas políticas e a sua influência no território.

Sua base teórica foi amadurecida junto com a construção dos conceitos de
Estado, território e poder.

A Geografia Política concentra sua atenção nas relações externas e internas dos
Estados, enquanto a Geopolítica busca estudar a espacialização da política
internacional pelos poderes centrais dos Estados hegemônicos.

No Brasil, o conhecimento produzido sobre a Geografia Política esteve centrado


nas Instituições de Ensino, especialmente nos laboratórios de pesquisa, e no
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Novas abordagens estão surgindo, sob influência dos estudos da


descolonialidade, para se pensar em uma Geografia Política para além do
protagonismo do Estado, com enfoque para os movimentos sociais e atores não
hegemônicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORDO, Adilson. As diferenças abordagens do conceito de território. Disponível em:


<https://gpect.files.wordpress.com/2013/11/as-diferentes-abordagens-do-conceito-de-
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CAMPELLO, Marcelo. A questão ambiental e nova geopolítica das nações. Revista Espaço
Aberto, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 131-148, 2013.

KAROL, Eduardo. Geografia política e geopolítica no Brasil (1982-2012). 2013.Tese


(Doutorado) – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

LIMA, Ivaldo. A Geografia e o Resgate da Antigeopolítica. Revista Espaço Aberto, Rio de


Janeiro, v. 3, n. 2, p. 149-168, 2013.

MUNDO EDUCAÇÃO. Disponível


em:<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/geopolitica.htm#:~:text=A%20Geopol%C3%
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SILVA, João Márcio Palheta. Poder, governo e território na sociedade contemporânea. Revista
FLACSO Brasil, São Paulo, junho, 2009.

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