Você está na página 1de 4

Quais as bases de uma boa análise de

conjuntura?
 28/06/2021

Por Letícia Bonaccorsi *

A discussão sobre a análise de conjuntura dentro da Ciência Política


tem sido fomentada uma vez que entender o panorama das sociedades
contemporâneas têm cada vez mais relevância. Alguns autores clássicos
já escreveram delineando o tema, mas para esse trabalho nos atemos a
três: Herbert de Souza, José Eustáquio Diniz Alves e Sebastião Velasco e
Cruz.

Os autores

Herbert José de Souza foi um sociólogo mineiro que desenvolveu um


trabalho de extrema relevância na sociedade brasileira. Desde muito
jovem integrou militâncias estudantis e pode ser considerado um ícone
de resistência política. Era professor da Universidade Nacional
Autônoma do México, tendo passado por outras instituições ao redor do
mundo. Escreveu o livro “Como fazer Análise de Conjuntura”, cuja
contribuição é relevante para os estudos no tema até hoje. Souza é
responsável também pela criação do IBASE em 1981, o Instituto
Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas. 

José Eustáquio Diniz Alves é graduado em Ciências Sociais pela


Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Economia, doutor em
Demografia pelo CEDEPLAR-UFMG, com pós-doutorado pelo
Nepo/Unicamp.  Foi professor da Universidade Federal de Ouro Preto e
pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE.
Desenvolveu trabalhos que combinavam a Demografia e as Ciências
Sociais.  Para o presente trabalho vamos discorrer sobre o artigo
intitulado “Análise de conjuntura: teoria e método” de 2008.

Sebastião Carlos Velasco e Cruz é professor titular do Departamento de


Ciência Política da Unicamp e do Programa San Tiago Dantas de Pós-
Graduação em Relações Internacionais, UNESP/UNICAMP/PUC-SP.
Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, fez
mestrado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa do
Rio de Janeiro/IUPERJ e doutorado em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo. O autor possui o título de Docteur d’État da
Fondation Nationale des Sciences Politiques (1987). Produz trabalhos
na área de política internacional e abordaremos aqui seu trabalho
“Teoria e Método na Análise de Conjuntura”.

As obras

O tema comum dos trabalhos é como produzir a produção de uma


análise de conjuntura que ilustre uma determinada organização social.
Diniz (2008) diz que esse mapeamento da sociedade não deve ser como
uma fotografia, mas sim como uma filmagem em vídeo, pois deve ser
capaz de capturar não só um momento, mas relacionar-se com o
passado e prever posturas para o futuro. Para tal, é necessário que seja
feita uma averiguação de fatos não só econômicos, como sociais e
políticos. Ou seja: é preciso olhar para os setores financeiros, mas
também para suas relações com os Estados, as relações que esses têm
com a sociedade e como isso impacta certas tomadas de decisões.

Herbert de Souza (2005) destaca que uma boa análise de conjuntura é


capaz de compreender “o acontecimento, o cenário, os atores, a relação
das forças e o ponto de vista da análise”. Diniz (2008) e Cruz (2000)
ressaltam também a importância da contextualização histórica para a
compreensão de uma conjuntura − eles apontam ser necessário
entender os caminhos que levaram cada fator à sua posição no
momento da prospecção. De formas distintas, os autores propõem que
haja um olhar sobre os impactos das estruturas sobre um período em
específico.

A análise de conjuntura seria uma constatação que aborda um fato


ocorrido, a quem ele atingiu e como ele ocorreu. Esses fatos poderiam
ser desde um avanço econômico, a queda de um governo ou pressão de
pautas conservadoras no congresso que deveriam ser descritas
sistematicamente, já os atingidos seriam os envolvidos na discussão,
permitindo o olhar a partir dos favorecidos ou dos prejudicados com o
fato. Cabe o destaque de que diferentes pontos de vista geram
diferentes análises, o que pode impactar no trabalho que se busca fazer.
Com uma organização dos fatores, a contraposição dos pontos de vista
e uma descrição histórica, seria possível fazer uma análise de
conjuntura efetiva.

Ainda que cada autor tenha sua maneira de apresentar o tema, é


consenso que uma boa análise de conjuntura é capaz de olhar para
além dos fatos econômicos e mapear o todo de um conflito. Enquanto
Souza (2005) traz um olhar mais exploratório e mais descritivo do
processo para execução da análise, Diniz (2008) e Cruz (2000) revisitam
clássicos como Karl Marx para ilustrar os conceitos das estruturas que
formam as sociedades e partindo deles entender a ação de cada fator
para a análise.

Como já foi citado anteriormente, o grande destaque desses


mapeamentos da sociedade são os fatos que envolvem as questões
financeiras, uma vez que a economia é um pilar de debate. No entanto,
todos os autores destacam que é necessário olhar para além de tais
fatos e buscar a compreensão de movimentos sociais e outras pautas.
Diniz (2005) destaca também que as análises não podem ser
meramente uma propaganda política, mas sim uma constatação
equilibrada.

O sociólogo Herbert de Souza é o pioneiro na metodologia do


desenvolvimento das análises, o que não significa dizer que seus
sucessores aqui apresentados não propõem sistemáticas eficientes para
essa forma de pesquisa. A combinação das diferentes áreas que José
Diniz trabalhou reflete em um panorama mais geral sobre a sua
produção. Já Sebastião Velasco e Cruz traz tem uma perspectiva mais
internacionalizada. Ao agregarmos as três produções considerando as
sob o olhar da Ciência Política, elas se complementam fechando desde
a metodologia da análise, passando pelos conceitos básicos da
compreensão social e chegando na categorização dos fatos
propriamente.

As leituras aqui abordadas possibilitam o entendimento de como a


execução da análise de conjuntura deve ocorrer. Sua análise a partir de
produções de diferentes momentos permite entender a evolução desse
formato de pesquisa e reconhecer como ela pode ser moldada de
acordo com perspectivas e momentos diferentes. A compreensão das
estruturas sociais e a forma que elas impactam em diferentes esferas da
sociedade possibilita prever ou reparar danos que possam acontecer.
Por ser um reflexo de curto prazo, permite também a absorção de
situações no momento em que ocorrerem, possibilitando uma
visualização de problemas atuais a partir de estruturas mais antigas.

Esse aprendizado permite um olhar mais preparado sobre alguns


cenários.  Por exemplo, quando tratamos das pautas conservadoras que
estão mais fortes no Congresso Nacional a partir da análise de
conjuntura, percebemos uma série de fatores que englobam esse
acontecimento em específico e conseguimos traçar um panorama mais
geral. E uma vez que, com esses textos, entendemos a forma de fazer, o
desenvolvimento de uma análise de conjuntura fica mais fácil.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. E. D.. Análise de conjuntura: teoria e método. APARTE –


Inclusão Social em Debate, Rio de Janeiro, p. 1-12, 01 jul., 2008.

CRUZ, S. C. V.. Teoria e método na análise de conjuntura. Educação e


Sociedade, Campinas, v. 72, p. 145-152, 2000.

SOUZA, Herbert José de. Como se faz análise de Conjuntura. Petrópolis-


RJ: Editora. Vozes, 2005.

* Letícia Bonaccorsi é graduanda em Ciências Sociais com ênfase em


Ciência Política, integrante do PET de Ciências Sociais da UFPR e
participante do Laboratório de Partidos e Sistemas Políticos (LAPeS) da
Universidade.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem


necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus
integrantes.

Análise de conjuntura

Compartilhe


Tweet

Share

Share

Email

Você também pode gostar