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A seconômicos,
políticas de saneamento no Brasil têm fortes vínculos com os interesses
tanto internacionais como nacionais. Já no início do século XX, a
Fundação Rockfeller, entidade americana voltada para questões de saúde pública,
forneceu apoio técnico e econômico para o combate às endemias rurais da malária e
ancilostomíase que representavam obstáculos para as atividades econômicas. Sua
atuação começou em São Paulo e, posteriormente, se estendeu para outros estados
brasileiros, iniciando-se justamente no momento em que o Governo Federal passou a
se responsabilizar pelas ações de saneamento em nível nacional, fruto das ações
desenvolvidas no âmbito da Liga Pró-saneamento (REZENDE, 2000).
Em 1942, é criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), com auxílio técnico e
financeiro dos Estados Unidos. Pretendia-se criar condições para a integração do País
ao modelo de desenvolvimento pautado em uma economia de mercado subalterna,
produtora de matéria-prima e consumidora de produtos industrializados da
metrópole. Segundo Rezende e Heller (2002), a razão para essa cooperação era a
demanda por recursos minerais e vegetais, após a Segunda Guerra Mundial.
Interessavam aos Estados Unidos as fontes produtoras do vale do rio Amazonas, do
estado de Goiás e do vale do rio Doce, o que conduziu ao acordo de cooperação deste
país com o Brasil. Em 1950, o SESP assumiu um caráter mais nacionalista. Assim,
quando em 1960 o convênio com os Estados Unidos expira, esse serviço passa a ser
chamado de Fundação SESP (FSESP), uma instituição ligada ao Ministério da Saúde.
Posteriormente, em 1991, há uma fusão da FSESP com a Superintendência de
Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), dando origem à Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA), que se mantém até hoje.
Em 1960, o BID estimulou a formação das empresas de economia mista, tendo nas
cláusulas contratuais de financiamento, exigências quanto “à descrição das
responsabilidades, autonomia administrativa, autoridade para impor a tarifação,
arrecadação e legislação por parte das contratantes” (REZENDE e HELLER, 2002, p.
210). No final da década de 60 e início de 70, o BID passou a condicionar seus
empréstimos à transferência da concessão dos serviços de saneamento dos municípios
para as empresas estaduais de economia mista. Em face dessa imposição dos agentes
financiadores, os municípios passaram a transferir os seus serviços para as
companhias estaduais de água e esgoto, transferência esta facilitada pelo regime
militar (REZENDE; HELLER, 2002). Os municípios que não aderiram foram
marginalizados, não sendo contemplados com financiamentos para seus serviços.
Segundo Costa (1998), a exclusão dos serviços municipais do acesso aos recursos do
Sistema Financeiro de Saneamento (SFS) era necessária para viabilizar o PLANASA, uma
vez que a auto-sustentação financeira era o eixo do modelo. Segundo o autor, as
sugestões para que as tarifas cobrissem os custos de operação, manutenção e
amortização dos empréstimos foi feita pelo BID, nos anos 60.
A Política Nacional de Saneamento (PNS), do Governo FHC, foi definida a partir dos
resultados dos trabalhos do PMSS e das Leis nº. 8.987/95 e 9.074/95 que dispõem
sobre a concessão ou permissão da prestação dos serviços públicos. Tal política teve
como elementos centrais: modernização; flexibilização na prestação dos serviços, com
a privatização assumindo um papel estratégico; e a definição de marcos regulatórios
para a regulação e controle da prestação de serviços. Ressurge, assim, de forma mais
acabada, mais até que o próprio PLANASA, a concepção das ações de saneamento
como interligadas à estrutura de mercado, e como tal, sujeitas ao lucro e susceptíveis
às suas regras. A meta estabelecida foi de aumentar a cobertura visando à
universalização dos serviços, com garantia do atendimento em nível essencial, ou seja:
a universalização sem igualdade.
Para dar suporte à futura privatização dos serviços, além de iniciativas no campo legal,
o Governo FHC adotou uma série de medidas para “arrumar a casa”. Mercedes (2002)
identifica as seguintes ações: renegociação das dívidas das concessionárias; liberação
de recursos para o aumento de cobertura dos serviços nos segmentos não rentáveis;
liberação de crédito vinculada à existência de planos de “modernização” institucional e
operacional, dentre outros. Se por um lado, além dessas medidas, o Governo FHC
restringiu o acesso aos recursos públicos pelas companhias estaduais, por outro,
ampliou o acesso à iniciativa privada.
Outra iniciativa do Governo Federal, via BNDES, foi dar início ao processo de
privatização da EMBASA (BA), da COMPESA (PE) e da CESAN (ES). Em setembro de 1999,
o governo de Pernambuco assinou o Contrato de Promessa de Compra e Venda de
Ações da COMPESA com a CEF e, em dezembro do mesmo ano, o Governo da Bahia
firmou contrato similar visando à privatização da EMBASA.
No campo legal, a estratégia do Governo FHC foi envidar esforços para a aprovação de
Projetos de Lei que dessem respaldo à privatização dos serviços de água e esgoto no
Brasil. Foi nessa perspectiva que, a partir de 1996, passam a tramitar no Congresso
Nacional projetos nesse sentido, como o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº. 266/96, do
Senador José Serra (PSDB/SP); o PLS n. 560/99 do Senador Paulo Hartung (PPS/ES); o
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº. 72/99, do então Deputado Federal Adolfo
Marinho (PSDB/CE); e, finalmente, em fevereiro de 2001, o PL nº. 4.147/2001,
encaminhado pelo Poder Executivo à Câmara Federal. Um dos objetivos de tais
projetos era transferir para os estados a titularidade do município para organizar e
prestar os serviços de saneamento, prerrogativa garantida pela Constituição Federal.
Vale observar que esse era, e ainda é, o maior empecilho para o deslanche da
privatização em virtude da necessidade da centralização das demandas, de forma a
envolver um maior número de usuários e, assim, possibilitar o negócio da água.
Para Cordeiro (2002, p.2), “este projeto contempla o conjunto das ações propostas
pelo BIRD, decorrentes de uma missão do Banco e
sistematizadas no documento intitulado Regulação
do Setor Saneamento no Brasil: prioridades
As instituições financeiras
imediatas”. Para a autora, o movimento internacionais mostram os caminhos
protagonizado pelo Governo FHC, em aliança com o para a privatização dos serviços de
capital financeiro internacional e bancos privados saneamento no Brasil.
nacionais, tem apontado para a recentralização da
gestão do saneamento no País, estratégia que busca
promover a privatização dos serviços de saneamento. É curiosa essa conduta do
Governo Federal, de retorno à centralização para a área de saneamento, uma vez que
tal conduta está na contra mão da história das políticas públicas brasileiras pós-64,
quando a descentralização das ações de diversos setores passou a ocorrer,
principalmente os de saúde e educação.
Essa grande operação com vistas à privatização visava atender à nova lógica neoliberal
de exoneração do Estado no campo das políticas públicas e sociais e ampliar as
perspectivas de mercado para o capital internacional, tendo como grandes
protagonistas o FMI, o Banco Mundial e o BID e com inteiro consentimento do governo
brasileiro e das elites dirigentes. Costa (2003), ao realizar uma avaliação da Política de
Saneamento no período de 1996–2000, avalia que:
100%
80%
60%
40%
20%
0%
+1 a
+2 a
+3 a
+10 a
1SM
2SM
3SM
5SM
10SM
20SM
+20SM
Até
+5 a
Com rede de abastecimento de água
Com rede coletora de esgotamento sanitário ou fossa séptica
Com coleta de lixo