Você está na página 1de 4

Curso: Licenciatura em Filosofia

Disciplina: História da Filosofia Medieval


Docente: Dr. Daniel Nery da Cruz
Discente: Joelson Carvalho Rodrigues
Data: 18 de outubro de 2022

ATIVIDADE I/ UNIDADE II

AQUINO, Santo Tomás de. Suma contra os gentios. Tradução: D. Odilão Moura O.S.B. e D.
Ludgero Jaspers O.S.B. Caxias do Sul: Editora Sulina, 1990. v. 1. p. 19-31.

Preferiu em geral julgar como sábios aqueles que diretamente ordenam as coisas e as
governam com habilidade (p. 19).
Ora, a regra do governo e da ordenação de todas as coisas que se dirigem para um fim
deve ser assumida deste fim. Assim, cada coisa fica otimamente disposta enquanto se ordena
convenientemente para o seu fim, visto ser o fim o bem de cada uma. Por esse motivo, vê-se
também que, nas artes, tem o governo e como que o principado sobre as outras aquela à qual
pertence o fim (p. 19).
O fim último de cada coisa é intencionado pelo seu primeiro autor ou motor. O
primeiro autor e motor do universo é o intelecto (p. 20).
Não porém de qualquer verdade, mas daquela verdade que é a origem de toda verdade,
isto é, a que pertence ao primeiro princípio do ser e de todas as coisas. Donde também ser a
verdade o princípio de toda verdade, já que as coisas estão dispostas na verdade como no ser
(p. 20).
Confiando na piedade divina para prosseguir neste oficio de sábio, embora isto exceda
nossas forças. temos por firme propósito manifestar, na medida do possível, a verdade (p. 21).
Foi deste processo que usaram os antigos doutores para destruírem os erros dos
gentios, cujas posições podiam conhecer por terem sido eles mesmos gentios, ou, pelo menos,
com eles terem convivido e as sim conhecerem-lhes as doutrinas (p. 21).
Segundo, porque entre os que erram, alguns, como os maometanos e os pagãos, não
aceitam, como nós, a autoridade de algum texto das Escrituras, pelo qual possam ser
convencidos. Por meio delas, no entanto, podemos disputar contra os judeus, usando do Velho
Testamento, e contra os heréticos, usando do Novo. Mas não o podemos contra quem não
aceita nenhum dos dois (p. 21).
Por esses motivos, deve-se recorrer à razão natural, com a qual todos são obrigados a
concordar (p. 21).
O conhecimento iniciado nos sentidos, aquelas coisas que não caem nos sentidos não
podem ser apreendidas por ele, a não ser enquanto o conhecimento delas tenha sido deduzido
das coisas sensíveis (p. 22).
O intelecto divino está adequado à capacidade da sua substância e, por este motivo,
tem perfeita intelecção do que é Deus e conhece tudo o que em Deus é inteligível. O intelecto
angélico, porém, não conhece naturalmente o que Deus é, porque a própria substância
angélica - que leva ao conhecimento de Deus - é efeito não equivalente à virtude da sua causa.
Por isso, o anjo não pode, por conhecimento natural, apreender tudo aquilo de que Deus tem
intelecção em si mesmo (p. 23).
As sim, não será tido como vão que seja proposto para fé, por inspiração sobrenatural,
aquilo que a razão por si mesma é capaz de atingir (p. 24).
Alguns, devido à própria constituição natural defeituosa que os dispõe para o
conhecimento (p. 24).
Outros [...], porém, não podem dispender o tempo necessário para o lazer exigido pela
investigação contemplativa para alcançar o máximo desta investigação (p. 24).
Outros, por fim, são impedidos pela preguiça. Ora. para o conhecimento das verdades
divinas investigáveis pela razão há necessidade de muitos conhecimentos prévios (p. 24).
Por isso, o gênero humano permaneceria nas maiores trevas de ignorância se apenas a
via da razão The fosse aberta para o conhecimento de Deus, visto que poucos homens, e
somente após longo tempo, chega riam a este conhecimento, que os faz ao máximo per feitos
e bons (p. 25).
Foi, pois, vantajoso que a clemência divina determinasse serem tidas como de fé
também as verdades que a razão pode por si mesma investigar. Assim, todos podem com
facilidade, sem dúvida e sem erro, ser participantes do conhecimento
Por tal, deve-se provar que foi necessário ter-se proposto ao homem, como de fé
divina, também as verdades que excedem a capacidade da razão (p. 25).
Devido a isso, foi conveniente que a mente fosse atraída para algo mais alto que o
atingido no presente pela nossa razão, de modo que esta aprendesse a desejar algo que
excedesse total mente o estado da presente vida, e se esforçasse para procurá-lo (p. 25).
Também os filósofos, com este intento; procuraram mostrar que há bens mais valiosos
que os sensíveis, a fim de levarem os homens, desde os prazeres sensíveis, a honestidade. Ora,
com o gozo destes bens mais valiosos deleitam-se muito mais suavemente os que praticam as
virtudes, tanto da vida ativa quanto contemplativa (p. 26).
Com efeito, só conhecemos verdadeiramente Deus quando cremos que ele está acima
de tudo aquilo que é possível ser pensado a respeito de Deus pelo homem, dado que a
substância divina eleva-se acima do conhecimento natural do homem
Há muitos, de fato, tão presunçosos da sua capacidade mental que julgam abarcar toda
a natureza das coisas pelo seu intelecto, e pensam que tudo que vêem é verdadeiro e falso o
que não vêem [...] Para que, pois, o espírito humano, libertado desta presunção, se
aproximasse da modesta investigação da verdade, necessário foi proporem-se ao homem
algumas verdades divinas que lhe excedessem o intelecto (p. 26).
Um certo Simônides, desejando persuadir os homens a que abandonassem o
conhecimento das coisas divinas e aplicas sem a razão só às coisas humanas, dizia-lhes: Basta
ao homem saber as coisas humanas, e ao mortal, as coisas mortais [...] que embora pouco
captemos das substâncias superiores, contudo, este pouco é mais amado e desejado que todo o
conhecimento que temos das substâncias inferiores (p. 26).
Para confirmação da eficácia dos mesmos, que uma enorme multidão de homens, não
só os rudes como também os sábios, acorreu para a fé cristã. Assim o fizeram, não premidos
pela violência das armas, nem pela promessa de prazer [...] Além disso, na fé cristã, são
expostas as virtudes que excedem todo o intelecto humano, os prazeres são reprimidos e se
ensina o desprezo das coisas do mundo. Ora, terem os espíritos humanos concordado com
tudo isto é ainda maior milagre e claro efeito da inspiração divina (p. 27).
Maomé [...], seduziu os povos com promessas referentes aos desejos carnais, excitados
que são pela concupiscência. Formulou também preceitos conformes àquelas promessas,
relaxando, desse modo, as rédeas que seguram os desejos da carne. (p. 28).
Ademais, desde o início, homens sábios, versados em coisas divinas e humanas, nele
não acreditaram. Nele, porém, acreditaram homens que, animalizados no deserto, eram
totalmente ignorantes da doutrina divina. (p. 28).
Tudo isso pode ser verificado ao se estudar a sua lei. Já também por isso, e de caso
sagazmente pen sado, não deixou para leitura de seus seguidores os livros do Velho
Testamento, para que não o acusassem de impostura (p. 28).
Fica assim comprovado que os que lhe dão fé à palavra creem levianamente (p. 28).
Ora, porque só o falso é contrário ao verdadeiro, o que se manifesta claramente ao se
verificarem as definições de ambos, é impossível que a supracitada verdade da fé seja
contrária aos princípios conhecidos naturalmente pela razão
o conhecimento dos princípios naturalmente evidentes é infundido em nós por Deus,
pois Deus é o autor da natureza. Por conseguinte, esses princípios estão também contidos na
sabedoria divina. Assim também, tudo que é contrário a eles contraria a sabedoria divina (p.
28).
Deus não infunde no homem conceitos e verdades de fé contrários ao conhecimento
natural (p. 29).
Não obstante, útil para a mente humana exercitar-se no conhecimento dessas razões,
por mais fracas que sejam, desde que se afaste a presunção de compreendê-las ou demonstrá-
las (p. 29).
A investigação de uma dessas verdades pode ser conseguida pela razão, mas a
investigação da outra ultrapassa todos os esforços da razão (p. 30).
Por conseguinte, sendo nosso intento buscar por via da razão as verdades referentes a
Deus que a razão pode investigar, apresenta-se-nos em primeiro lugar a consideração das
verdades que convêm a Deus em si mesmo (p. 31).

Você também pode gostar