Deixar de fumar O que ganhamos ao 

deixar de fumar

Mostrámos, nos dois capítulos anteriores, que fumar é prejudicial para a saúde
de todos. Vimos os números negros das mortes e das doenças que o tabaco SE DEIXARMOS DE FUMAR…
provoca em todos os que com ele estão em contacto e expusemos alguns dos
mais de sete mil químicos que compõem os cigarros que consumimos. Neste
capítulo, vamos abordar os benefícios de abandonarmos os cigarros de vez.
O que ganhamos nós e o que ganham os outros.
30
anos Aos 30, ganhamos cerca de
de 10 anos de vida
idade

O QUE DIZER DISTO? 40

Aos 40, ganhamos cerca de
“O meu avô fumava como uma chaminé. Mesmo assim, só morreu aos 96 anos, 9 anos de vida
num acidente.”
Quando se fala nos perigos do tabagismo, há sempre alguém que conta a história de um
familiar fumador que chegou quase aos cem anos em plena forma. O exemplo do vigoroso 50
ancião que fuma um maço de cigarros por dia ao longo de décadas só prova uma coisa: Aos 50, ganhamos cerca de
nem todos os fumadores sofrerão necessariamente de cancro do pulmão, e alguns pode- 6 anos de vida
rão até nem sentir a sua saúde minimamente afetada pelo consumo de tabaco.
Contudo, fumar aumenta efetivamente o risco, sendo precisamente por isso que existem
mais casos de cancro do pulmão entre os fumadores do que entre os não-fumadores. O 60
risco de um fumador desenvolver cancro do pulmão é 20 a 30 vezes superior ao de um Aos 60, ganhamos cerca de
não-fumador. Além disso, um quarto das pessoas que fumam morre prematuramente, 3 anos de vida
entre os 35 e os 69 anos, e a maioria dos que vivem até mais tarde tem de lidar com menor
qualidade de vida, gerada por problemas de saúde que advêm do tabagismo.
A idade em que
se deixa de fumar
e o ganho em número
de anos de vida

A saúde a melhorar
É sabido que os riscos para a saúde decorrentes do consumo de tabaco estão
relacionados com o número de cigarros que fumamos e ao longo de quantos
anos o fazemos. Em consequência, as vantagens de deixar de fumar são tanto
maiores quanto mais cedo se verificar o abandono do tabaco, independente-
mente da idade que tenhamos e do tempo que levemos já a fumar. Abandonar
o tabaco aos 60, 50, 40 e 30 anos traz consigo um ganho, respetivamente,
de cerca de três, seis, nove e dez anos de vida. Ou seja, quanto mais cedo
melhor! Parar de fumar reduz também o risco de diabetes e de doenças car-
diovasculares, pois os vasos sanguíneos passam a funcionar melhor, o mesmo
acontecendo com o coração e com os pulmões.
TESTEMUNHO
José Gabriel, 52 anos, ex-fumador desde 2005
“Comecei com 18 e fumei até os 42 anos. Costumava ter dores de cabeça regulares e can-
sava-me com facilidade. Da primeira vez que tentei parar, fi-lo sozinho, mas só aguentei
seis meses. Da segunda vez, falei com o meu médico, que me aconselhou uma consulta de
desabituação tabágica. Lá, respondi a um questionário e fizeram as medições da minha
capacidade pulmonar e dos níveis de monóxido de carbono. O médico aconselhou-me
sobre a melhor estratégia a seguir. Há dez anos que não tenho crises de sinusite, nem
dores de cabeça fortes, e o cansaço é muito menos frequente. Ganhei qualidade de vida!”

64 65
 BENEFÍCIOS DE DEIXAR DE FUMAR

8 horas
• Os níveis de monóxido
de carbono diminuem
•Os níveis de oxigénio
no sangue aumentam
1 a 9 meses
• Os cílios presentes
nos pulmões começam
a recuperar a função
normal, aumentando a
72 horas capacidade de lidar com
• A capacidade o muco e reduzindo o
pulmonar melhora e risco de infeção.
a respiração torna-se • Diminui a ocorrência
mais fácil de tosse e dispneia
1 ano
• O risco de doença
cardíaca coronária
diminui para metade do
verificado nos fumadores
10 anos Outros
• O risco de cancro benefícios
do pulmão desce
para cerca de metade
do de um fumador.
• O risco de cancro da laringe
• Os dentes ficam
e do pâncreas diminui
mais brancos
• O hálito melhora

• Dedos e unhas
regressam
progressivamente
à sua tonalidade
normal

• A pele do
rosto fica com
melhor aspeto

5 anos 15 anos • O cheiro

12 horas • O risco de cancro da boca, • O risco de doença a tabaco
• Os níveis de desaparece
da garganta, do esófago e da cardíaca coronária é
monóxido de carbono igual ao de um não-
bexiga diminui para metade.
no sangue regressam -fumador do mesmo
• O risco de cancro do colo
20 minutos aos valores normais 2 semanas do útero e de acidente sexo e da mesma • Caminhar e
• O ritmo cardíaco a 3 meses vascular cerebral iguala idade subir escadas
e a tensão arterial • O risco de ocorrência de o de um não-fumador. é mais fácil
baixam enfarte do miocárdio desce. • O risco de ataque cardíaco
• A função pulmonar é igual ao de um não-fumador
melhora

Poupança
Exemplo para um fumador de um maço por dia com um preço de € 4,30. Este valor não 15 anos
contempla custos associados com isqueiros, bolsas para transportar o tabaco, etc.

24 horas 48 horas 72 horas 2 semanas 3 meses 9 meses 1 ano 5 anos

10 anos

€ 15 695
€ 23 542,50
€ 4,30 € 8,60 € 12,90 € 60,20 € 387 € 1161 € 1569,50 € 7847,50
Deixar de fumar
O QUE DIZER DISTO?
“Fumar dá-me prazer.”
Levar o cigarro à boca, acendê-lo e inspirar e expirar o seu fumo, por si só, não nos dá
prazer. A sensação agradável associada ao tabaco deve-se, por um lado, ao efeito da
nicotina no cérebro (veja a página 37) e, por outro, às situações associadas ao ato de
fumar, como a descompressão que resulta da pausa laboral ou um convívio entre amigos.
Quando deixamos de fumar, descobrimos novos prazeres e sensações: por exemplo, é-nos
mais fácil sentir odores e paladares, não nos cansamos com tanta facilidade e sentimos
que fomos mais fortes do que um vício que estava a ser-nos prejudicial. Além disso, com
o que poupamos não fumando, podemos oferecer-nos, isso sim, um pequeno prazer, seja
uma massagem de relaxamento, seja uma viagem, etc., de acordo com o valor da pou-
pança (consulte as páginas 70 e seguintes).
Além da diminuição de doenças graves, os ex-fumadores desfrutam de uma
maior qualidade de vida, pois são menos propensos a contrair constipações
ou gripes, apresentam taxas mais baixas de bronquite e de pneumonia e, de
uma forma geral, sentem-se mais saudáveis do que as pessoas que fumam.
Mesmo quando já existe uma doença relacionada com o consumo de tabaco,
deixar de fumar é sempre benéfico! Por exemplo, o prognóstico e a recupe-
ração dos doentes com doença cardiovascular são notoriamente melhores
nos que deixam de fumar, com aumento da taxa de sobrevivência para estes
últimos.
De resto, existem muitos outros benefícios já sobejamente conhecidos, como
a diminuição do risco de vários cancros (como o do pulmão), ataque cardíaco,
AVC e doenças pulmonares crónicas, ou o facto de as mulheres que deixam
de fumar antes da gravidez ou nos primeiros três a quatro meses de gestação
apresentarem os mesmos riscos de ter um filho com baixo peso ao nascer que
uma mulher não fumadora. Aliás, o abandono do tabaco logo no primeiro
trimestre diminui o risco de aborto espontâneo para níveis semelhantes aos
das mulheres que não fumam, o mesmo acontecendo quando a cessação
ocorre antes da conceção.
Apesar de fumar danificar tanto o coração como os vasos sanguíneos, o
nosso corpo consegue recuperar das agressões que sofreu caso deixemos de
fumar. O paladar, o olfato, a capacidade respiratória e a circulação sanguínea
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O que ganhamos ao deixar de fumar
melhoram rapidamente e, como consequência, sentimo-nos com mais energia.
Mesmo quem fuma há muito tempo pode observar melhorias rápidas: no
espaço de um ano, o risco de enfarte cai drasticamente e, ao cabo de cinco
anos, a maioria dos ex-fumadores apresenta um risco de AVC quase igual
ao de um não-fumador. E bastam apenas alguns cigarros ocasionais para
causar dano; por isso, a única estratégia segura para proteger o coração é
deixar de fumar.
Normalmente, o aumento do stresse e algumas alterações emocionais são
dos primeiros argumentos apresentados contra a cessação, juntamente com
o aumento de peso. Mas os benefícios são muito superiores a esses pequenos
riscos. Aliás, o aumento de peso nem se pode considerar um verdadeiro
risco, pois a adoção de uma dieta mais equilibrada e o aumento da ativi-
dade física podem combatê-lo facilmente (veja o capítulo 5, na página 108)!
Consulte nas páginas seguintes os benefícios de deixar de fumar ao longo
do tempo.
Como pudemos ver nas páginas 66 e 67, desde a primeira hora em que deixa-
mos de fumar que se registam benefícios, apesar de estes nem sempre serem
percecionados automaticamente. Outros há que, pelo contrário, se farão
notar logo: as gengivas ficam menos sensíveis e o hálito melhora; os sentidos
do olfato e do paladar voltam ao normal; os dedos, as unhas e os próprios
dentes vão perdendo o ar amarelado e recuperam o seu tom original; a pele
fica com melhor aspeto (a possibilidade de ter rugas precocemente diminui);
o odor do tabaco desaparece do cabelo ao primeiro banho e da roupa com
a primeira lavagem; e as atividades diárias comuns, como subir escadas
ou correr para o autocarro, tornam-se cada vez mais fáceis.
VERDADE OU MITO?
As pessoas ficam muito stressadas quando deixam de fumar. Mais vale continuar.
Mito. Quando os fumadores tentam reduzir ou parar de fumar, a falta de nicotina leva ao surgi-
mento da síndrome de abstinência, que se caracteriza por sintomas característicos
(nenhum deles agradável) como irritabilidade, ansiedade, depressão, inquietação, mal-
-estar físico, dores de cabeça, frustração e alterações do sono, entre outros (veja as pági-
nas 90 e 91). Apesar de deixar de fumar poder ser stressante, não existem provas de que
esse stresse vá ter efeitos negativos a longo prazo. No entanto, existem provas de que o
consumo de tabaco tem efeitos negativos a longo prazo. Logo, é preciso parar de fumar
o mais cedo possível.
69
Deixar de fumar O que ganhamos ao deixar de fumar

isqueiros compramos mensal ou anualmente e anotemos o valor despen-

VERDADE OU MITO?
Já fumei durante demasiado tempo.
O mal está feito; já não vale a pena deixar de fumar.
Mito. Os ex-fumadores vivem mais tempo do que os fumadores. Vale sempre a pena deixar
de fumar, mesmo depois de décadas de consumo. Como vimos no esquema da página 65,
é verdade que as vantagens são tanto maiores quanto mais cedo deixarmos o tabaco,
mas vale a pena deixar de fumar em qualquer idade. Os ex-fumadores têm uma maior
qualidade de vida, com menos doenças, e sentem-se mais saudáveis do que as pessoas
que fumam. Mesmo que já exista alguma doença relacionada com o tabaco, a cessação
é sempre benéfica, e deixar de fumar diminui o risco tanto de cancro do pulmão como
de outros cancros, de ataques cardíacos, AVC e de doenças pulmonares crónicas.
dido. Pensemos ainda nos hábitos associados ao tabaco: se costumamos
ou não beber álcool quando fumamos, se temos o hábito de acompanhar o
cigarro com um café. Estimemos o valor gasto diariamente e apontemos. E
as pastilhas elásticas depois de fumar? Anotemos. Somemos tudo. Contas
feitas, é oportuno tirar um minuto para pensar no que poderia ser feito
com esse dinheiro…
Ao que já referimos acima podemos adicionar ainda os gastos acrescidos
com os seguros de vida e saúde (que muitas vezes têm um prémio mais
elevado, pois ser fumador é um dos fatores ponderados na análise do risco),
assim como o aumento do custo com cuidados médicos, ou não ficasse a
nossa saúde fragilizada com o consumo de tabaco. Por exemplo, dados do
nosso inquérito ao consumo de tabaco de 2008 revelavam que um fuma-
dor com entre 60 e 75 anos gastava uma média anual de 202,33 euros com

A carteira mais cheia tratamentos, mais do dobro da fatura paga por um não-fumador com a
mesma idade.

Além da melhoria geral da saúde, há uma diminuição de gastos considerável

associada ao facto de pararmos de fumar. Segundo os dados do nosso inquérito
ao consumo de tabaco em 2008, em média, os fumadores adultos gastavam,
a cada ano, só em tabaco, 847 euros! Mas os valores podem ser ainda mais FAÇA AS CONTAS AQUI
elevados. Por exemplo, uma pessoa que fume, em média, um maço que custe

Tabaco: _________€
4,30 euros, gasta, ao fim de um ano, 1570 euros só em tabaco! Ou seja, ao fim
de seis meses gastou o equivalente ao preço de uma escapadela de quatro dias
a muitas capitais da Europa! Mas mesmo o tabaco de enrolar, aparentemente Café: _________€
mais barato, leva a outros custos (por exemplo, as mortalhas, os filtros ou as Pastilhas elásticas: _________€
máquinas de enrolar), além de que apresenta riscos para a saúde iguais ou ____________________ _________€
superiores (veja a caixa da página 32), com os consequentes gastos a nível ____________________ _________€
médico ou farmacológico. ____________________ _________€
____________________ _________€
Façamos o teste: vejamos quantos cigarros fumamos por dia e, usando o preço
do tabaco fumado habitualmente, calculemos os gastos em 24 horas. Depois,
multipliquemos o dinheiro gasto diariamente em tabaco pelos 365 dias do
Total diário = _________€
ano. Já está? Agora multipliquemos esse valor pelo total de anos durante os (× 7) Total semana = _________€
quais já fumámos… Nesta altura, temos a noção dos gastos com tabaco até (× 30) Total mês = _________€
agora. E o futuro? Multipliquemos o valor anual por, digamos, dez anos, e (× 365) Total ano = _________€
vejamos os gastos somados até à próxima década se continuarmos a fumar.
Impressionante, não? + gastos anuais associados = _________€
Mas vamos mais longe, pois estes valores não incluem os “custos asso-
ciados” ao consumo de tabaco. Comecemos por contabilizar quantos

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