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CONTABILIDADE

INDUSTRIAL
Apuração do custo
nas empresas
industriais
Daiane Lolatto

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar os procedimentos para encerramento do exercício em empresas


industriais.
>> Definir o custo dos produtos vendidos, dos produtos em elaboração e dos
produtos em estoque.
>> Explicar a apuração dos três tipos de produto.

Introdução
As operações realizadas por empresas industriais se diferenciam das executadas
por empresas comerciais e de prestação de serviços. As atividades desenvolvidas
nas indústrias consistem na transformação da matéria-prima, assim como o be-
neficiamento, a montagem e a restauração dos produtos. Logo, as demonstrações
contábeis nesse tipo de empresa possuem as suas particularidades.
Uma das particularidades da contabilidade nas empresas industriais é a compo-
sição do estoque, que contempla a matéria-prima adquirida para industrialização, o
estoque de produtos acabados e os produtos em elaboração. Ademais, a apropria-
ção dos custos aos produtos leva em consideração o consumo de matéria-prima
e a venda dos produtos em determinado período.
2 Apuração do custo nas empresas industriais

Neste capítulo, você conhecerá a estrutura da demonstração do resultado do


exercício (DRE) em empresas industriais. Além disso, você poderá compreender
como são realizadas nessas empresas a definição e a apuração dos custos dos
produtos vendidos, dos produtos em elaboração e dos produtos em estoque.

Processo de apuração do resultado


do exercício nas empresas industriais
A contabilidade de custos contempla o patrimônio das empresas industriais.
Essas, diferentemente dos demais tipos de empresas, desenvolvem atividades
operacionais de produção que se referem à transformação de matérias-primas
em produtos industrializados. As atividades operacionais de produção abran-
gem também o beneficiamento, a montagem e a restauração de produtos.
Embora existam particularidades na contabilidade das empresas indus-
triais, as demonstrações contábeis a serem elaboradas ao fim do exercício
social são as mesmas das empresas comerciais e de serviços. De acordo com
a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, as demonstrações compreendem
o balanço patrimonial (BP), a demonstração dos lucros ou prejuízos acumu-
lados, a DRE, a demonstração dos fluxos de caixa e, se companhia aberta,
demonstração do valor adicionado (BRASIL, 1976).
Para apurar o resultado do exercício e apresentar o BP, é necessário
calcular o custo do produto vendido (CPV), que corresponde à soma dos
custos incorridos na industrialização dos produtos que foram vendidos em
determinado período (MARTINS, 2018).
Após calcular o CPV, é possível apurar o resultado do exercício e elaborar o
BP. O processo de apuração pode ser resumido da forma apresentada a seguir.

1. Escriturar os fatos contábeis e gerar o livro diário.


2. Registrar cada operação no livro razão, ou razonete, visando a apurar
o saldo das contas patrimoniais e de resultado.
3. Elaborar um balancete de verificação a fim de verificar a consistência
do método das partidas dobradas.
4. Transferir o saldo das contas de resultado para a conta transitória
denominada “apuração do resultado do exercício” (ARE).
Apuração do custo nas empresas industriais 3

5. Escriturar a transferência das contas de resultado para a ARE nos


livros diário e razão.
6. Apurar o saldo no livro razão da conta ARE. O saldo a débito da ARE
representará um prejuízo contábil, e o saldo a crédito representará
um lucro.
7. Transferir o saldo positivo da ARE para as contas de reservas e, caso o
saldo seja negativo, transferi-lo para a conta de prejuízos acumulados.
8. Elaborar a DRE e o BP.

No BP das empresas industriais, constam contas específicas que não


constam no BP de empresas comerciais e de prestação de serviços, como
estoque de matérias-primas, produtos acabados e produtos em elaboração. O
estoque de matérias-primas se refere ao material utilizado na produção dos
produtos. Por exemplo, em uma indústria têxtil, as matérias-primas podem
ser a lã, a seda, o linho, o rami e o algodão. O produto acabado, nesse caso,
será o tecido, que pode, ao final do exercício social, estar em elaboração.
Na DRE, também há contas que são utilizadas exclusivamente pelas indús-
trias, como receita com venda de produtos, custo dos produtos vendidos (CPV)
e imposto sobre produtos industrializados (IPI). O termo “produto” remete
à ideia de item industrializado. No caso do comércio, o termo apropriado é
“mercadoria”, significando que o item está pronto para a venda.
Isso também se aplica à conta de IPI, que incide apenas sobre a saída de
produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial, e sobre o
desembaraço aduaneiro de origem estrangeira. O estabelecimento industrial
é aquele que transforma a matéria-prima em produto acabado para revenda.
Sendo assim, os contribuintes do IPI são o estabelecimento industrial, ou
equiparado a industrial, e o importador. Em contrapartida, o imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e à prestação de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS) compete
às empresas comerciais, e o imposto sobre serviços de qualquer natureza
(ISS) compete às empresas prestadoras de serviços.
No Quadro 1, são apresentadas resumidamente as diferenças existentes
entre as DREs de empresas industriais, comerciais e de serviços.
4 Apuração do custo nas empresas industriais

Quadro 1. DREs de empresas industriais, comerciais e de serviços

Indústria Comércio Serviço

Receita bruta com Receita bruta com Receita bruta com


vendas de produtos vendas de mercadorias vendas de serviços

(−) IPI (−) ICMS (−) ISS

Receita líquida de Receita líquida de Receita líquida de


vendas vendas vendas

(−) Custo dos produtos (−) Custo das (−) Custo dos serviços
vendidos (CPV) mercadorias vendidas prestados (CSP)
(CMV)

(=) Lucro bruto (=) Lucro bruto (=) Lucro bruto

Aplicação prática
Para verificar o processo de apuração do resultado, suponha que uma indústria
têxtil inicia suas atividades em dezembro de 2019. Os fatos ocorridos durante
o referido mês são os apresentados a seguir.

„„ 1/12/2019: integralização de capital social no valor de R$ 100.000,00,


via banco.
„„ 2/12/2019: compra à vista de 20.000 unidades de matérias-primas a
R$ 2,00 a unidade.
„„ 3/12/2019: requisição de 18.000 unidades de matéria-prima para
produção.
„„ 4/12/2019: gastos com mão de obra direta (MOD) a pagar no valor de
R$ 14.000,00.
„„ 5/12/2019: venda a prazo das 18.000 unidades acabadas, no valor de
R$ 70.000,00 com incidência de 5% de IPI.

Com base nos fatos contábeis ocorridos, o livro diário deve ser elaborado
conforme disposto no Quadro 2.
Apuração do custo nas empresas industriais 5

Quadro 2. Livro diário

Data Conta Histórico Débito (R$) Crédito (R$)

1 Banco conta Integralização de capital 100.000


movimento social

1 Capital social Integralização de capital 100.000


social

2 Estoque de Compra de 40.000


matérias-primas matérias-primas

2 Banco conta Compra de 40.000


movimento matérias-primas

3 Estoque de produ- Requisição de 36.000


tos em elaboração matérias-primas

3 Estoque de Requisição de 36.000


matérias-primas matérias-primas

4 Estoque de produ- Gastos com MOD 14.000


tos em elaboração

4 Salários a pagar Gastos com MOD 14.000

5 Estoque de produ- Processo de produção 50.000


tos acabados concluído

5 Estoque de produ- Processo de produção 50.000


tos em elaboração concluído

5 Custo dos produtos Custo dos produtos 50.000


vendidos vendidos

5 Estoque de produ- Custo dos produtos 50.000


tos acabados vendidos

5 Clientes Venda de produtos 75.000

5 Receita com venda Venda de produtos 75.000


de produtos

5 IPI sobre vendas IPI sobre produtos 5.000


vendidos

5 IPI a recolher IPI sobre produtos 5.000


vendidos
6 Apuração do custo nas empresas industriais

O lançamento do dia 5, por exemplo, movimenta a conta estoque, a receita


e o IPI e suas contrapartidas. A saída do estoque deve ser lançada a crédito
pelo mesmo valor de aquisição correspondente ao custo histórico, e, em
contrapartida, deve ser debitada a conta CPV no valor de R$ 50.000,00. A
receita deve ser registrada a crédito pelo valor de mercado, isto é, o valor
negociado com o cliente; a contrapartida será registrada a débito na conta
caixa, ou em clientes, dependendo das condições de pagamento — nesse
caso, será no valor de R$ 75.000,00, pois deve ser somado o valor do IPI, que
é um imposto por fora. O IPI fará parte da receita bruta do produto vendido e
será deduzido da receita para fins de apuração da receita líquida. Por isso, foi
debitado IPI sobre vendas e creditado IPI a recolher no valor de R$ 5.000,00.
Após registrar os fatos no livro diário, a etapa seguinte consiste em re-
gistrar cada operação nos razonetes (Quadro 3), os quais são uma parte do
livro razão e servem para apurar o saldo de cada conta contábil. Assim, o
lançamento do livro diário é transcrito de forma sistemática para o livro razão.

Quadro 3. Razonetes

D Banco conta C D Clientes C D Estoque de C


movimento matérias-primas

1 100.000 40.000 2 5 75.000 2 40.000 36.000 3

100.000 40.000 75.000 — 40.000 36.000

60.000 75.000 4.000

D Estoque de C D Estoque de C
produtos em produtos
elaboração acabados

3 36.000 50.000 5 5 50.000 50.000 5

4 14.000

50.000 50.000 50.000 50.000

— —

(Continua)
Apuração do custo nas empresas industriais 7

(Continuação)

D Salários a pagar C D IPI a recolher C D Capital social C

14.000 4 5.000 1 100.000 1

— 14.000 — 5.000 — 100.000

14.000 5.000 100.000

D Custo dos C D IPI sobre C D Receita com C


produtos vendas venda de
vendidos produtos

5 50.000 5 5.000 75.000

50.000 — 5.000 — — 75.000

50.000 5.000 75.000

A próxima etapa do procedimento de encerramento do exercício é o ba-


lancete de verificação (Quadro 4).

Quadro 4. Balancete de verificação

Contas Saldo devedor Saldo credor

Banco conta movimento 60.000

Clientes 75.000

Estoque de matérias-primas 4.000

Salários a pagar 14.000

IPI a recolher 5.000

Capital social 100.000

Custo dos produtos vendidos 50.000

IPI sobre vendas 5.000

Receita com venda de produtos 75.000

Total 194.000 194.000


8 Apuração do custo nas empresas industriais

A fim de transferir o saldo das contas para o BP, as contas de resultado


devem ser zeradas por meio da ARE, conforme demonstrado no Quadro 5.

Quadro 5. ARE

D Custo dos C D IPI sobre C D Receita com C D ARE C


produtos vendas venda de
vendidos produtos

5 50.000 50.000 6 5 5.000 5.000 7 8 75.000 75.000 8 6 50.000 75.000 8

7 5.000

50.000 50.000 5.000 5.000 75.000 75.000 55.000 75.000

— — — 20.000

Débito Crédito
Data Conta Histórico (R$) (R$)

6 ARE Apuração do resultado do 50.000


exercício

6 Custo dos produtos Apuração do resultado do 50.000


vendidos exercício

7 ARE Apuração do resultado do 5.000


exercício

7 IPI sobre vendas Apuração do resultado do 5.000


exercício

8 Receita com venda de Apuração do resultado do 75.000


produtos exercício

8 ARE Apuração do resultado do 75.000


exercício

Para concluir o procedimento de encerramento do exercício de uma em-


presa industrial, seguem as demonstrações contábeis (Quadro 6).
Apuração do custo nas empresas industriais 9

Quadro 6. DRE e BP

Demonstração do resultado do exercício

Receita bruta com vendas de produtos 75.000

(−) IPI (5.000)

Receita líquida de vendas 70.000

(−) CPV (50.000)

(=) Lucro bruto 20.000

(=) Lucro líquido/prejuízo 20.000

Balanço patrimonial

Ativo R$ Passivo R$

Ativo circulante 139.000 Passivo circulante 19.000

Banco conta movimento 60.000 Salários a pagar 14.000

Clientes 75.000 IPI a recolher 5.000

Estoque de 4.000 Patrimônio líquido (PL) 120.000


matérias-primas

Capital social 100.000

Reservas 20.000

Total ativo 139.000 Total passivo + PL 139.000

Definição dos custos dos produtos


vendidos, dos produtos em elaboração
e dos produtos em estoque
O CPV, conforme descrito anteriormente, é uma conta específica da DRE
das empresas industriais. O CPV abrange todos os custos incorridos na in-
dustrialização dos produtos que foram vendidos em determinado período.
Nesse sentido, é importante entender a definição de gasto, desembolso,
investimento, custo, despesa e perda.
10 Apuração do custo nas empresas industriais

Gasto é todo sacrifício financeiro, presente ou futuro, para a aquisição de


um bem ou serviço. Os gastos podem ser de investimentos, custos, despesas
e perdas. Eles independem da saída de recursos financeiros da empresa, o que
quer dizer que tudo que a empresa adquire ou consome de bens são gastos. Por
exemplo, pode haver gastos com a compra de matérias-primas, gastos com mão
de obra, gastos com a compra de imobilizado, entre outros. Para Martins (2018,
p. 9), gasto corresponde à “Compra de um produto ou serviço qualquer, que gera
sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado
por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro)”.
O desembolso diz respeito ao pagamento decorrente da aquisição do
bem ou serviço, ou seja, há uma saída de recursos financeiros da empresa
(MARTINS, 2018). O desembolso pode ocorrer antes, durante ou depois da
entrada do bem ou serviço, como, por exemplo, no pagamento da compra de
matérias-primas. A diferença entre gasto e desembolso é a movimentação
de recursos financeiros. Todo desembolso é um gasto, mas pode haver gasto
sem que ocorra desembolso — sendo um exemplo a depreciação.
O investimento corresponde ao gasto ativado “[...] em virtude de sua vida
útil ou de benefícios futuros” (PADOVEZE, 2013, p. 16). Há um investimento
quando a empresa industrial adquire a matéria-prima para industrialização.
Enquanto não for consumido, esse bem permanecerá no ativo com expectativa
de benefício futuro, isto é, expectativa de ser utilizado no processo produtivo
e vendido após a conclusão do processo.
O custo compreende o consumo de bens ou serviços no processo produtivo.
Os custos podem ser diretos ou indiretos, fixos ou variáveis. Os custos diretos
são aqueles que estão diretamente ligados ao processo produtivo, como a
matéria-prima. Já os custos indiretos dependem de uma base de rateio para
sua apropriação ao produto, sendo esse o caso da mão de obra indireta (MOI).
Os custos fixos independem do volume de produção, como, por exemplo,
o aluguel da fábrica. E, por fim, os custos variáveis são aqueles que variam
de acordo com o volume produzido, como é o caso da matéria-prima. Para
Padoveze (2013, p. 16), os custos são “[...] gastos, efetuados pela empresa, que
farão nascer os seus produtos”.

Uma indústria têxtil adquire matéria-prima à vista para produção de


tecido. No início, a matéria-prima é um gasto, mas imediatamente se
torna um investimento durante o período de estocagem, até que, no momento
de sua utilização, ela passa a ser um custo.
Apuração do custo nas empresas industriais 11

A despesa é um gasto necessário para a geração da receita e não faz parte do


processo produtivo. De acordo com RIBEIRO (2018, p. 18), a despesa “[...] compre-
ende os gastos decorrentes do consumo de bens e da utilização de serviços das
áreas administrativa, comercial e financeira, que direta ou indiretamente visam
à obtenção de receitas”. Um exemplo é a despesa com comissões de vendas.
A perda corresponde a um “[...] bem ou serviço consumido de forma anormal
e involuntária” (MARTINS, 2018, p. 10). Diferentemente da despesa, a perda não
gera receita. São exemplos de perdas aquelas resultantes de um incêndio,
do vencimento de produtos, entre outras.
Os conceitos descritos estão relacionados à atividade industrial, que, como
sabemos, é diferente das atividades comerciais e de serviços. No comércio, o
CMV corresponde aos gastos realizados para colocar a mercadoria em con-
dições de venda. Assim, fazem parte do CMV o frete pago sobre as compras,
o seguro sobre as compras, bem como a carga e a descarga de mercadorias
compradas, devendo ser deduzido o ICMS, que é um tributo recuperável. Já nas
empresas prestadoras de serviços, o custo dos serviços prestados abrange
os itens utilizados na prestação de serviços, havendo a incidência do ISS. Por
fim, nas indústrias, devem fazer parte do CPV todos os gastos envolvidos no
processo produtivo, e o imposto incidente é o IPI.
Apesar de a empresa industrial ter como finalidade industrializar produtos,
ela também pode vender sua produção, sendo essa a principal atividade do
comércio. Enquanto as empresas comerciais trabalham apenas com mer-
cadorias, as indústrias possuem no BP contas de produtos acabados e de
produtos em elaboração.
Os produtos em elaboração são aqueles cujos processos de fabricação não
foram finalizados. De acordo com Ribeiro (2018), esses produtos não passam
pelo almoxarifado, pois continuam na área de produção da indústria, onde
permanecem sendo fabricados. Entretanto, no encerramento do exercício
social, a fim de apurar o resultado e elaborar o BP, os custos dos produtos
devem ser reconhecidos nas demonstrações quando em fase de elaboração.
As fases de elaboração podem ser as mais variadas possíveis, abrangendo
desde a fase inicial de processamento até a fase em que o processo está
quase completamente concluído.
Os produtos acabados, segundo Ribeiro (2018), são os bens fabricados pela
indústria. Depois que a última etapa de produtos é finalizada, os produtos aca-
bados são transferidos para o almoxarifado, onde permanecem armazenados
até o momento da venda. O lucro ou o prejuízo da venda de produtos é calculado
pelo confronto entre a receita líquida de vendas e o CPV. O CPV compreende
todos os gastos incorridos na fabricação e na venda dos respectivos produtos
em determinado período.
12 Apuração do custo nas empresas industriais

As contas de produtos em elaboração, ou produtos em processo, e de


produtos acabados compõem o estoque das empresas industriais. Ademais,
fazem parte do estoque as matérias-primas adquiridas para produção. O
estoque de matérias-primas é registrado pelo custo de aquisição, o qual
corresponde ao valor que é descrito na nota fiscal de compra e que será
adicionado aos demais custos incorridos para deixar a matéria-prima em
condições de processamento.
Os custos dos produtos em elaboração e dos produtos acabados envolvem
todos os custos de produção — isto é, os gastos incorridos durante o processo
produtivo para produzir determinado produto —, como, por exemplo, os custos
de matérias-primas, os custos de MOD e MOI, os custos de depreciação dos
equipamentos da fábrica, entre outros. Quando os produtos produzidos são
vendidos, é registrado o CPV que corresponde aos custos do processo de
produção.
Conforme descrito por Crepaldi e Crepaldi (2018), o custo de produção (CP)
resulta da soma dos materiais diretos (MD), da MOD e dos custos indiretos
de fabricação (CIF). Logo, a fórmula do CP é:

CP = MD + MOD + CIF

Entretanto, não devem fazer parte do CPV aqueles produtos que estiverem
em elaboração, pois serão vendidos apenas os produtos que estivem prontos.
Desse modo, para calcular o custo do produto acabado (CPA), deve-se somar
o estoque inicial de produtos em processo (EIPP) ao CP, subtraindo-se o
estoque final de produtos em processo (EFPP), conforme a seguinte fórmula
(CREPALDI; CREPALDI, 2018):

CPA = EIPP + CP − EFPP

Sendo assim, para calcular o CPV, é necessário somar o estoque inicial de


produtos acabados (EIPA) ao CPA, subtraindo-se o estoque final de produtos
acabados. Então, a fórmula do CPV será (CREPALDI; CREPALDI, 2018):

CPV = EIPA + CPA − EFPA

A apuração do CPV também pode ser realizada por meio da seguinte


fórmula (CREPALDI; CREPALDI, 2018):

CPV = CP + EIPA – EFPA + EIPP − EFPP


Apuração do custo nas empresas industriais 13

Conforme Crepaldi e Crepaldi (2018), as etapas para a apuração do CPV são:

„„ separar os custos e despesas;


„„ separar os custos diretos e indiretos;
„„ apropriar os custos diretos aos produtos;
„„ ratear os custos indiretos aos produtos.

Os métodos de custeio possuem algumas particularidades de apro-


priação dos custos. No custeio variável, os custos indiretos são
registrados diretamente no resultado como despesa, não sendo rateados aos
produtos, como ocorre no custeio por absorção. A legislação brasileira permite
o uso apenas do custeio por absorção, embora o custeio variável possa ser
utilizado como ferramenta de gestão dos gastos de produção.
O custeio variável é mais prático e direto, visto que são apropriados somente
os custos variáveis aos produtos, aqueles custos que variam de acordo com a
produção. Por sua vez, o custeio por absorção demanda mais tempo para apurar
o custo dos produtos, pois os custos indiretos, aqueles que não são facilmente
identificados nos produtos, requerem uma estimativa de rateio. O resultado
líquido da empresa varia de acordo com o método utilizado e, por isso, deve
ser administrado com atenção.

Na próxima seção, poderemos acompanhar, por meio de uma aplicação


prática, as etapas para a apuração do CPV.

Apuração dos custos dos produtos


vendidos, dos produtos em elaboração
e dos produtos em estoque
O CP resulta da soma dos MD, da MOD e dos CIF (CREPALDI; CREPALDI, 2018).
Os CIF são aqueles custos que dependem de uma estimativa para serem
apropriados aos produtos, isto é, são apropriados por meio de rateio, como,
por exemplo, a MOI, a depreciação dos equipamentos da fábrica, o aluguel da
fábrica, entre outros. Já a MOD corresponde aos serviços do pessoal direta-
mente envolvido na produção. Os MD, por sua vez, contemplam as matérias-
-primas utilizadas no processo produtivo.
O valor da matéria-prima agregado ao custo de fabricação dos produtos
corresponde ao valor pago ou a pagar do documento fiscal emitido pelo
fornecedor, ou seja, o custo histórico que corresponde ao custo do estoque
de matéria-prima. O custo da matéria-prima deve ser subtraído dos tributos
14 Apuração do custo nas empresas industriais

que serão recuperados pela venda dos produtos fabricados, dos abatimentos
e dos descontos incondicionais. Ainda, ele deve ser somado aos tributos não
recuperáveis incidentes sobre as compras e às despesas acessórias com
fretes, seguros, assim como a outras despesas que possam surgir até que a
matéria-prima entre no almoxarifado da empresa.
Com a informação do CP, é possível calcular o custo dos produtos acabados
(CPA), o custo dos produtos em elaboração e, consequentemente, o CPV. O
valor do CP é composto pelo CPA e pelo custo dos produtos em elaboração. Os
produtos em elaboração não consomem todos os custos de produção; então,
para calcular o custo dos produtos em elaboração, deve ser considerado
o valor que havia no estoque inicial e subtraído do valor do estoque final.
Vamos analisar a situação proposta a seguir.
Considere que a empresa Quadrante apresentava, no ano 1, os saldos do
BP que estão dispostos no Quadro 7.

Quadro 7. Saldos do BP no ano 1

Dados R$

Estoque de matérias-primas 20.000

Estoque de produtos em elaboração 8.000

Estoque de produtos acabados 40.000

No ano 2, a empresa realizou as operações apresentadas no Quadro 8.

Quadro 8. Operações realizadas no ano 2

Dados R$

Receita com venda de produtos 300.000

Compras de matérias-primas 100.000

Custo de MOD 60.000

Custo de MOI 12.000

Materiais indiretos de fabricação 22.000


(Continua)
Apuração do custo nas empresas industriais 15

(Continuação)

Dados R$

Depreciação dos equipamentos da fábrica 4.000

Depreciação dos veículos das lojas 6.000

Despesa com créditos de liquidação duvidosa 2.000

No Quadro 9, podem-se observar os saldos do BP no ano 2.

Quadro 9. Saldos do BP no ano 2

Dados R$

Estoque de matérias-primas 14.000

Estoque de produtos em elaboração zero

Estoque de produtos acabados 12.000

Antes de apurar o total dos custos de produção, é necessário calcular o


total de materiais diretos consumidos no processo produtivo. Para tanto,
deve-se somar o que a empresa tinha de matéria-prima no início do perí-
odo (estoque inicial) àquilo que ela comprou no período (compra líquida),
subtraindo-se o estoque final.

MD = estoque inicial + compra líquida − estoque final


MD = R$ 20.000,00 + R$ 100.000,00 − R$ 14.000,00
MD = R$ 106.000,00

Já sabemos, a partir do Quadro 8, que o custo da MOD é de R$ 60.000,00.


Os custos indiretos da produção se referem à MOI, aos materiais indiretos
de fabricação e à depreciação dos equipamentos da fábrica. Logo:

CIF = R$ 12.000,00 + R$ 22.000,00 + R$ 4.000,00


CIF = R$ 38.000,00

Essas são as informações utilizadas para calcular os custos de produção,


que, como vimos, são todos os custos incorridos durante o processo produ-
tivo. Sendo assim, a apuração do CP corresponde à soma entre os MD (ou
matéria-prima), a MOD e os CIF:
16 Apuração do custo nas empresas industriais

CP = MD + MOD + CIF
CP = R$ 106.000,00 + R$ 60.000,00 + R$ 38.000,00
CP = R$ 204.000,00

A próxima etapa é apurar o CPA. Para tanto, é necessário somar o EIPP


aos CP, subtraindo-se o EFPP:

CPA = EIPP + CP − EFPP


CPA = R$ 8.000,00 + R$ 204.000,00 − R$ 0,00
CPA = R$ 212.000,00

Por fim, a apuração do CPV compreende o que a empresa tinha no estoque


de produtos acabados no início do período (EIPA) somado aos CPA do período,
subtraindo-se o saldo de produtos acabados do final do período (EFPA):

CPV = EIPA + CPA − EFPA


CPV = R$ 40.000,00 + R$ 212.000,00 − R$ 12.000,00
CPV = R$ 240.000,00

A depreciação dos veículos da loja e a despesa com créditos de liqui-


dação duvidosa são despesas administrativas e, por isso, são registradas
diretamente na DRE.
O Quadro 10 apresenta a DRE do ano 2.

Quadro 10. DRE do ano 2

Demonstração do resultado do exercício

Receita líquida com venda de produtos 300.000

(−) CPV (240.000)

(=) Lucro bruto 60.000

(−) Despesas operacionais (8.000)

Despesa com depreciação dos veículos das lojas (6.000)

Despesa com créditos de liquidação duvidosa (2.000)

(=) Lucro líquido 52.000


Apuração do custo nas empresas industriais 17

A contabilidade de custos é fundamental para o controle de gastos na


produção e para a formação do preço de vendas. Sendo assim, a empresa
depende disso para obter resultados positivos. Segundo Crepaldi e Crepaldi
(2018), a contabilidade de custos vai determinar o custo dos produtos vendidos,
de produtos em elaboração, de produtos acabados e do estoque de insumos.

Para que você compreenda a importância da gestão de custos para o


processo de tomada de decisão no ambiente empresarial, sugerimos a
leitura do artigo “Gestão de custos e o processo decisório: uma análise teórica”,
de Flávio Henrique Cupertino, Edicreia Andrade dos Santos e Flávio Luiz Lara. O
trabalho está disponível na internet.

Referências
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Brasília, DF: Presidência da República, 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm. Acesso em: 22 dez. 2020.
CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade de custos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
PADOVEZE, C. L. Contabilidade de custos: teoria, prática, Integração com Sistemas de
Informações (ERP). São Paulo: Cengage Learning, 2013.
RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

Leituras recomendadas
CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Contabilidade Gerencial: teoria e prática. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2019.
CUPERTINO, F. H.; SANTOS, E. A.; LARA, F. L. Gestão de custos e o processo decisório:
uma análise teórica. Revista de Ciências Contábeis - RCiC, v. 10, p. 52–65, 2019.
SANTOS, J. J. Manual de contabilidade e análise de custos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
STOPATTO, M. Contabilidade de custos simplificada e interativa: uma abordagem. 1.
ed. São Paulo: Atlas, 2020.

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