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Adenocarcinoma
cervical – Diagnóstico
Descritores na atenção primária e
secundária à saúde
Adenocarcinoma cervical;
Adenocarcinoma cervical
in situ; Células glandulares
atípicas; Diagnóstico;
Colposcopia; Rastreamento
Cervical adenocarcinoma – Diagnosis
Keywords
Invasive cervical adenocarcinoma;
in primary and secondary health care
Cervical adenocarcinoma in
situ; Atypical glandular cells; Roberto de Oliveira Galvão1
Diagnosis; Colposcopy; Screening
RESUMO
O adenocarcinoma cervical é uma patologia grave cuja incidência tem aumentado,
principalmente em pacientes jovens. Um diagnóstico oportuno, na assistência pri-
mária e secundária à saúde, com métodos convencionais, melhora sobremaneira
o prognóstico da paciente, a um custo tolerável para países em desenvolvimento.
ABSTRACT
The cervical adenocarcinoma is a serious pathology whose incident has increased
mainly in young patients. One opportunistic diagnosis, in primary and secondary
health care, with conventional methods, greatly improves the prognosis of the pa-
tients, at a cost tolerable to developing countries.
INTRODUÇÃO
O adenocarcinoma cervical, neoplasia que reproduz atipicamente o epité-
lio colunar, representa, aproximadamente, entre 18% e 30% das neoplasias
do colo uterino. Esse percentual tem aumentado, expressivamente, abaixo
de 35 anos, em relação a décadas passadas, em decorrência de uma dimi-
nuição relativa das formas escamosas e melhora da acuidade diagnóstica
dessas lesões glandulares. Ainda assim, o diagnóstico dos adenocarcinomas
cervicais deixa muito a desejar, haja vista a expressiva quantidade dessa
patologia, apenas identificada em biópsia incisional e conização, quando
Submetido: da propedêutica de lesões com características citológicas e colposcópicas
04/02//2019 sugestivas de doença escamosa; portanto, muitas vezes, um diagnóstico in-
Aceito: suspeito, que não deixa de ser oportuno, tendo em vista a gravidade dele,
15/04/2019 quando preterido.(1)
Algumas características epidemiológicas e fatores de risco do adeno-
1. Universidade Federal de carcinoma, quando confrontados com as formas escamosas, deverão ser
Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. lembrados com o pretenso objetivo de se vislumbrar uma possibilidade
diagnóstica. São eles: o tabagismo não parece ser fator de risco para o
Conflitos de interesse: adenocarcinoma; o aumento das infecções induzidas pelo papilomavírus
Nada a declarar. humano (HPV), especificamente, as formas 16 e 18, persistentes, explica o
aumento da incidência do adenocarcinoma, principalmente, em pacientes
Autor correspondente: jovens; por outro lado, a influência do HPV é pouco expressiva no adeno-
Roberto de Oliveira Galvão carcinoma de desvio mínimo; com relação à influência hormonal, os estro-
Av. Amazonas, s/n, Uberlândia, MG, gênios, sejam endógenos (obesidade) ou exógenos (contracepção e tera-
Brasil. pia de reposição hormonal – TRH), são citados, principalmente quando se
galvão.roberto@yahoo.com.br leva em consideração o tempo de uso ou a duração dos efeitos endógenos
das glândulas por um epitélio atípico. O intervalo entre às vezes francamente hemorrágica, com colo muitas ve-
a detecção clínica do AIS e formas invasivas iniciais é zes disforme, hipertrófico, grosseiro, com lesão exofítica
em torno de cinco anos, aspecto que favorece medidas (polipoide, verrucosa ou vegetante) ou endofítica, am-
de triagem e possível tratamento.(2,4,5) Em contraste com bas podendo estar ulceradas; quando o crescimento é
as formas escamosas, o AIS é pouco frequente, 10% dos endofítico, em tumores de canal, o colo toma o formato
adenocarcinomas endocervicais, possivelmente por difi- de barril.(8) Por outro lado, é importante salientar que
culdades no diagnóstico citológico. É diagnosticado em muitas mulheres se apresentam com um colo aparen-
média aos 36,9 anos de idade, o que significa mulheres temente normal, quando então a suspeição diagnóstica
10 a 20 anos mais jovens do que aquelas diagnosticadas é atribuída à colpocitologia; daí a importância de um
com formas invasivas.(2,4,5) Do ponto de vista anatômico, rastreamento, preferencialmente, de base populacional.
o AIS é frequentemente observado adjacente ao inva- (18-25)
sor; em 10% a 15% das vezes se apresenta com lesões Ao contrário das formas invasivas, o AIS é quase sem-
multifocais (lesões saltadas) com focos de AIS separados pre assintomático e, muitas vezes, não identificado em
por 2 mm de mucosa normal, que se iniciam na zona de um exame especular sumário.
transformação, podendo se estender a porções altas do
canal (2,5 cm) e com envolvimento profundo das criptas Propedêutica
endocervicais; em 50% das vezes as lesões se estendem
Os recursos propedêuticos para suspeição, elaboração
a múltiplos quadrantes e estão associadas às formas in-
e conclusão diagnóstica das formas invasivas e intrae-
traepiteliais escamosas.(2,4,5) Por fim, os fatores de risco do
piteliais do adenocarcinoma começam, na assistência
AIS e formas invasivas, basicamente, se sobrepõem, espe-
primária, com a colpocitologia oncológica, que, no mo-
cificamente as infecções persistentes pelos subtipos 16 e
mento, ainda é o método disponível, no serviço público,
18 do HPV.(4,5) Ainda no grupo das lesões precursoras do
para rastreamento do câncer de colo do útero.(9) O AIS
adenocarcinoma invasivo, é importante considerar que
é diagnosticado, basicamente, em duas situações: célu-
o AIS é a única lesão com potencial de progressão para
las atípicas em esfregaços colpocitológicos e anatomia
formas invasivas e que outras entidades (atipia glandu-
patológica de peças de conização e/ou histerectomia.(20)
lar, displasia glandular, hiperplasia glandular atípica, dis-
As anormalidades colpocitológicas que prenunciam o
plasia glandular endocervical) de terminologia confusa,
diagnóstico do AIS ocorrem em 50% a 69% em células
possivelmente lesões menores que o AIS, podem ser, na
glandulares, 26% a 31% em células escamosas e 15% em
realidade, interpretadas como AIS, tendo em vista que
células glandulares e escamosas, e em 4% os esfregaços
nem sempre todos critérios morfológicos estão presen-
são negativos.(4,21,22)
tes.(2,5) Outras considerações anatomopatológicas, indis-
Um tópico importante nessa etapa diagnóstica são as
pensáveis ao médico que conduz o caso, recaem sobre o
células glandulares atípicas (AGC), que são células ori-
adenocarcinoma microinvasivo, que, ao contrário das for-
ginárias do epitélio glandular do endocérvix, endomé-
mas escamosas, não possui consenso para critérios diag-
trio e, raramente, de outros locais (ovários). Do ponto de
nósticos, daí que, segundo Zaino, a decisão clínica deverá
vista conceitual, são células cujas alterações nucleares
se orientar pela descrição da profundidade, extensão e
ultrapassam as alterações reativas ou regenerativas ób-
presença de invasão vascular e linfática.(5) vias, mas que não apresentam as características inequí-
As manifestações clínicas das formas invasivas do vocas de AIS ou invasor (Figura 1).
adenocarcinoma se apresentam de forma bem seme- Outro aspecto importante sobre as AGC é a terminolo-
lhante às escamosas, inicialmente com sinusorragia por gia, que foi normatizada pelo sistema Bethesda em 1988,
invasão do estroma, que provoca ulceração da mucosa revisado algumas vezes, e as considerações atuais foram
e exposição de vasos, com consequente sangramento. estabelecidas em 2001, resultando numa terminologia
Com a progressão da doença, o sangramento se torna que classifica as atipias de células glandulares em:(10,11)
frequente e abundante, podendo chegar a quadros he-
1. Células glandulares atípicas – Quando as atipias
morrágicos graves. Outros sintomas (secreção genital
são identificadas em células endocervicais,
com cheiro anormal, dispareunia, prurido) são decor-
endometriais ou sem outras especificações (SOE)
rentes de possível necrose tecidual, que cria condições
e não for possível identificar a origem das células
de anaerobiose, com suas respectivas consequências, e,
atípicas.(10-12) O termo “AGUS (atipias glandulares
por fim, de doenças sexualmente transmissíveis, entre
de significado indeterminado)” foi excluído,
elas infecções por HPV, que chamam para si boa parte
sendo estabelecido o termo “atipias em células
dessa sintomatologia.(3,7) Ainda neste tópico vale citar o
glandulares” para evitar condutas aquém das
edema de membros inferiores, que sugere comprometi-
requeridas para essa categoria e aumentar a
mento linfonodal, além do quadro de dor lombar inten-
sensibilidade para as neoplasias glandulares;(11,12)
sa, com febre, toxemia e infecção do trato urinário alto,
que prenuncia obstrução ureteral, que ocorre nas fases 2. Células glandulares atípicas favorecendo
finais da doença.(7) O exame físico, com o indispensável neoplasia – Endocervical, endometrial ou
exame especular, mostra secreção serosanguinolenta, SOE; vale a pena citar que a classificação
Adenocarcinoma-AIS-AGC
⇨ Sem achados anormais Todas as pacientes com AGC
⇨ JEC não visível (exceto AGC-endometrial)
COLPOSCOPIA
Achados normais
⇨ Citologia semestral
⇨ Citocolposcopia semestral
AGC persistente ⇨ Alguns serviços
⇨ Propedêutica normal ⇨ Conização
AIS/AGC: adenocarcinoma in situ/células glandulares atípicas; CAF: cirurgia de alta frequência; SUA: sangramento uterino anormal;
EZT: exérese da zona de transformação.
bre as subcategorias, que podem, às vezes, predizer um vermelhas que também lembram
diagnóstico histológico.(10) Um estudo de 460 mulheres epitélio metaplásico imaturo;
com AGC mostrou as lesões mais comuns por subcate- • Aspecto de ectopia “suspeita”-
goria: 1. AGC (SOE) ⇨ adenocarcinoma endometrial – hipervascularizada, papilas
10,2%; 2. AGC endocervical ⇨ adenocarcinoma cervical acidófilas e irregulares;
– 5,9%, AIS – 2,4%, NIC II/III – 5,3%; 3. AGC endometrial
⇨ adenocarcinoma endometrial – 27,8% e hiperplasia • Pólipo com papilas irregulares, acetofilia
endometrial complexa com atipias – 22,2%.(10,23) intensa, vasos anormais e sinais de necrose;
Como continuidade da propedêutica para o adeno- • ZTA que sugere lesão escamosa com
carcinoma cervical e sua forma intraepitelial (AIS), e alterações papilares do relevo da ZTA com
tendo em vista que a colpocitologia é o principal méto- orifícios glandulares deformados, alargados,
do, em nosso país, para rastreamento do câncer de colo desiguais, às vezes hipersecretantes;
do útero,(9) a despeito de uma sensibilidade aquém dos
• Atipias vasculares em fio de cabelo,
testes de DNA-HPV,(25) faz-se necessário, a essa altura,
cacho, fiapos, vasos radiculares;
implementar medidas para abordagem das mulheres
que se apresentam com AGC, na imensa maioria das ve- • Pontilhado, mosaico, vasos em saca-rolhas
zes, na atenção primária, onde essa propedêutica pode- não são vistos na doença glandular;
rá ser assim iniciada: • Duas ou mais lesões escamosas separadas
por epitélio com aparência de glandular são
1. Todas as pacientes com AGC (exceto AGC
altamente sugestivas de lesão glandular;(15)
endometrial) serão referenciadas para
colposcopia (A),(10,12) que deverá ser executada • Fusão ou coalescência de vilos não
com experiência e resolutividade, sendo, ocorre em doença escamosa;(15)
para tal, necessária descrição objetiva dos
1b. Características colposcópicas sugestivas de
achados colposcópicos [posição da junção
adenocarcinoma. Segundo Guillemotonia(1)
escamocolunar (JEC)/zona de transformação
e Ueki (1985) e Ueki e Sano (1987), citados
atípica (ZTA) e as características colposcópicas
por Singer e Monaghan (2002),(13) são elas:
sugestivas da respectiva lesão]:
• Papilas volumosas, heterogêneas,
1a. Características colposcópicas sugestivas de amarelo-pálidas, hemorrágicas e
AIS.(1,13,14,15) Segundo Wright,(14) “Características branco leitosas ao ácido acético, com
colposcópicas do AIS e adenocarcinoma grandes aberturas glandulares;
existem e colposcopistas podem • ZT com epitélio espesso, opaco, laranja-
aprender a reconhecê-las”. São elas: -pálido e alterações vasculares;
• Lesões acetobrancas em relevo, irregulares,
• Lesão mucossecretora, em colo aumentado,
distantes da JEC, sobre o epitélio glandular;
com grande quantidade de exsudato;
• Papilas acetorreatoras individualizadas
• Formações papilares associadas (em fusão),
ou em fusão na zona de transformação
deformadas, heterogêneas, vermelhas;
(ZT) e adjacências e que lembram
infecção ou metaplasia imatura; • Erosão, vegetação, brotos
irregulares e sinais de necrose;
• Grandes aberturas de criptas
glandulares com muco excessivo; • Cistos de Naboth volumosos
circundados por congestão vascular;
• Orifícios glandulares (criptas) deformados,
alargados, entreabertos, hipersecretantes, • Vascularização anárquica com vasos
às vezes, com halo branco; irregulares, aumentados, com interrupção
abrupta penetrando no estroma;
• Desorganização de implantação,
variabilidade de tamanho • Modificações anormais nos elementos
e forma das papilas; de origem cilíndrica (papilas e orifícios
glandulares) são aspectos relevantes
• Irregularidade do ápice das papilas;
após um esfregaço anormal.(1)
• Brotamento (proliferação) epitelial Concluindo, é importante salientar que não existe
formando papilas inchadas, arredondadas, um achado colposcópico específico de doença glandu-
que fazem diagnóstico diferencial com lar, no máximo as características citadas são sugestivas
metaplasia escamosa imatura; e requerem da colposcopia suas dimensões, localização
• Epitélio friável, grandes aberturas ideal para biópsia e posicionamento da JEC/ZTA, aspecto
glandulares, lesões brancas e indispensável para geometria da ressecção.
2. Todas as pacientes com AGC com achados devem ser mantidas em seguimento
colposcópicos normais e anormais (não citológico e colposcópico semestralmente
existe critério específico, na colposcopia, até a exclusão de doença pré-invasiva ou
para adenocarcinoma) serão conduzidas com invasiva.(12) Em alguns serviços, pacientes
uma ou mais das seguintes abordagens: com AGCs (SOE; endocervical) persistentes
sem achados na repetição da colposcopia
2a. Biópsia guiada por colposcopia – quando e avaliação endometrial normal são
houver achado colposcópico anormal no submetidas à conização (cone frio,
ectocérvix ou início de canal; ou para afastar eletrocirurgia e laser são aceitáveis);(10)
doença invasiva quando a lesão for grosseira,
ou bem sugestiva de invasão (A). Confrontar 2f. Pacientes com citologia AIS ou
o resultado da biópsia com a nova citologia adenocarcinoma invasor poderão ir
e valorizar o resultado mais relevante (A);(12) diretamente da colposcopia, sem sinais de
invasão e/ou biópsia também sem invasão,
2b. Avaliação de canal endocervical – para o procedimento diagnóstico excisional
perfeitamente factível com adequada realizado com CAF, como já dito, tentando
escovação dele, concomitante com a fornecer espécime única com margens
colposcopia (A) (sem achados anormais e/ interpretáveis.(12) Ainda nesse grupo de
ou JEC não visível). A curetagem endocervical, pacientes (citologia AIS e adenocarcinoma
preconizada em muitos serviços no exterior, invasor), a avaliação endometrial continua
não fornece informações melhores que a no restrito grupo de mulheres com mais
escovação, tem valor preditivo negativo de 35 anos, ou com SUA e/ou situações
baixo, não diagnostica invasão, fornece sugestivas de anovulação crônica;
material escasso e fragmentado e prejudica
a anatomia patológica do canal se uma 2g. Pacientes com citologia AGC (endometrial)
conização se fizer necessária a seguir:(12,16) terão avaliação prioritária da cavidade
endometrial (A).(12) Quando normal, serão
2c. Avaliação endometrial, com ultrassonografia referenciadas para colposcopia;(10) tais
transvaginal, deverá ser realizada em três pacientes, com avaliação endometrial e
situações AGC-positivas: mulheres acima de colposcopia sem anormalidades, poderão
35 anos (A); mulheres SUA (B); como primeira voltar para o rastreamento normal de
abordagem em mulheres com AGC endometrial câncer cervical.(10) Quando há persistência
(A); em todas elas, quando o eco endometrial de AGC (endometrial) ou sintomas de outras
for anormal, o estudo anatomopatológico malignidades associadas com AGC, deve-se
do endométrio será indispensável (A);(12) pesquisar doenças de outros locais ou repetir
2d. Pacientes com citologia AGC (favorecendo a propedêutica endometrial em 12 meses;(10)
neoplasia), AIS, adenocarcinoma invasor,
2h. AGC raramente estão associadas com
doença escamosa (NIC II/III), ainda sem
tumor primário de locais que não colo ou
diagnóstico histológico, a despeito de
corpo uterino.(10) Pacientes com alto risco
propedêutica sugerida (2a, 2b, 2c) bem
de malignidade (AGC persistente-SOE, AGC
instituída, serão abordadas, principalmente,
endocervical, AGC favorecendo neoplasia, AIS,
na assistência secundária (após avaliação
adenocarcinoma), com avaliação propedêutica
crítica de idade e paridade) com procedimento
completa (colposcopia, avaliação endometrial
diagnóstico excisional e que, para alguns casos,
e conização), com achados negativos,
poderá ser também terapêutico. O referido
deverão ser avaliadas para doença primária
procedimento, excisão tipo 3 com cirurgia de
ou metastática de trompas uterinas, ovário
alta frequência (CAF), é perfeitamente factível
e outros órgãos pélvicos e abdominais.(10)
na doença glandular, desde que se obtenha
Revisão sistemática de quase 7.000 mulheres
peça íntegra com margens interpretáveis
com citologia AGC mostrou que 6,4% tinham
(A).(12) É verdade que, na prática clínica
carcinoma de trompas ou ovário e 6,9%
diária, muitas vezes, há necessidade de
tinham câncer de outros locais, que não
ampliação de margens, o que significa mais
útero, ovário e trompas; a propedêutica
de um fragmento, logicamente com muitas
deve ser iniciada com ultrassonografia
vantagens e algumas desvantagens (que
transvaginal. Mulheres sem massa anexial
diminuem com a experiência do médico);
serão avaliadas com colonoscopia, tomografia
2e. Pacientes com citologia AGC persistentes e ressonância magnética, com vista a
pós-propedêutica do colo, corpo e órgãos afastar patologia do cólon e/ou outras
adjacentes sem evidência de doença malignidades intra-abdominais;(10,19)
2i. Pacientes AGC-positivas com avaliação ria das vezes, na assistência primária, por enfermeiras,
endocervical (escovação) e colposcopia médicos generalistas (aspecto que não compromete a
normais serão seguidas, na atenção qualidade do atendimento) e por ginecologistas nem
secundária, com citologia semestral;(12) sempre motivados com patologia do trato genital infe-
rior e colposcopia. Assim sendo, a presente revisão tem
2j. O uso de testes de HPV associados
como objetivo estimular e orientar o rastreamento, que
à citologia (coteste) na condução de
é função precípua da assistência primária, e familiarizar
pacientes AGC-positivas é uma realidade
o ginecologista, muitas vezes na assistência primária e,
atual, cientificamente comprovada, com
principalmente, na secundária, a conduzir as pacientes
boas evidências em muitas situações,
principalmente quando se aproveita o valor com colpocitologia alterada usando, para tanto, uma
preditivo negativo dos referidos testes propedêutica apoiada em boa evidência; esse aspecto
(quando negativos, praticamente, garantem permite, na maioria maciça dos casos, o diagnóstico e
ausência de lesão por longo período de tratamento das lesões intraepiteliais, naquele ambien-
tempo).(25) Entretanto, não estão disponíveis, te modesto de nível secundário e, por fim, diagnosticar
na atenção primária e secundária, na maior lesões invasivas que serão referenciadas para o nível
parte do nosso país. Em nosso ambulatório terciário. Portanto, esses profissionais necessitam de
de atenção secundária (inserido num revisões adequadas para sua prática diária no atendi-
contexto de atenção primária, para as demais mento diuturno às mulheres do nosso país. Tudo isso
especialidades), realizamos prevenção posto, é importante salientar, segundo o Inca, “que é
primária de câncer de colo com vacinação papel da assistência primária desenvolver ações para
anti-HPV, rastreamento das lesões invasivas prevenção do câncer de colo do útero por meio de
e suas respectivas lesões precursoras com ações de educação em saúde, vacinação de grupos in-
colpocitologia e prevenção secundária, dicados e detecção precoce do câncer e de suas lesões
tratando, ambulatorialmente, lesões precursoras por meio de seu rastreamento” e à atenção
intraepiteliais com CAF; ainda assim, nunca secundária “cabe diagnosticar e tratar ambulatorial-
tivemos condições econômicas de usar mente as lesões precursoras desse câncer com realiza-
os referidos testes, a despeito do caráter ção de colposcopias, biópsia e excisão tipo 1 e tipo 2”.
referencial desta instituição; tentamos superar Finalizando, é importante enfatizar que a maioria des-
essa, discutível, deficiência com adequada sas unidades, geralmente distantes do ponto de vista
coleta colpocitológica, uso experiente da físico de um hospital de nível terciário, pode conduzir,
colposcopia e muita parcimônia com a CAF; perfeitamente bem, todas as alterações colpocitológi-
cas com colposcopias, biópsias, EZT, enfim, realizar a
2k. Situações especiais na abordagem de totalidade dos procedimentos cirúrgicos-ambulatoriais
pacientes AGC-positivas existem. Segundo o destinados ao diagnóstico e tratamento das neoplasias
Instituto Nacional do Câncer (Inca), em suas intraepiteliais, o que significa prevenção secundária e
Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento terciária para a neoplasia invasiva do colo uterino. Essa
do Câncer do Colo do Útero, 2ª edição, hierarquização na abordagem dessas pacientes (utili-
mulheres até 24 anos, na pós-menopausa e zando a terminologia do nosso serviço: “Ambulatório-
imunossuprimidas devem ser investigadas -Hora” em vez de centro-cirúrgico/“Hospital-Dia”) tor-
da mesma forma que as demais mulheres. na o atendimento muito mais humanizado (o médico
Grávidas deverão ser avaliadas com escovação está mais próximo do domicílio da paciente) e, sabida-
delicada de canal endocervical e submetidas
mente, mais viável do ponto de vista econômico. Essas
à biópsia, quando houver suspeita clínica,
duas considerações permitem (como em outras espe-
citológica e sinais colposcópicos sugestivos
cialidades) vislumbrar a possibilidade de criar “campa-
de invasão; o estudo endometrial não é
nhas”, “mutirões”, ”meses coloridos” para diagnosticar
factível nesse grupo de mulheres.(12)
e tratar as neoplasias intraepiteliais do colo uterino. Aí
sim, juntamente com a vacinação anti-HPV, estaremos
CONCLUSÃO fazendo a prevenção de câncer cervicouterino invasor,
A justificativa de uma revisão sobre propedêutica do no sentido amplo da palavra.
adenocarcinoma endocervical, patologia relativamente
rara, que representa 30% das neoplasias de colo, a ter- REFERÊNCIAS
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