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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA

eHO-003

AGENTES FÍSICOS II

ALUNO

SÃO PAULO, 2009


DIRETOR DA EPUSP
IVAN GILBERTO SANDOVAL FALLEIROS

COORDENADOR GERAL DO PECE


ANTÔNIO MARCOS DE AGUIRRA MASSOLA

EQUIPE EAD
CCD - COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA
SÉRGIO MÉDICI DE ESTON
PP - PROFESSORES PRESENCIAIS
SÉRGIO MÉDICI DE ESTON
JOAQUIM GOMES PEREIRA
JOSÉ POSSEBON
MARCOS DOMINGOS DA SILVA
SÔNIA REGINA P. SOUZA
CPD - CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTÂNCIA
ANDRÉ LOMONACO BELTRAME
DIEGO DIEGUES FRANCISCA
FERNANDO MADEIRA PERISSÉ
GISELLE RAMIREZ CANEDO
IVAN KOH TACHIBANA
JULIANA SOUZA DE ALMEIDA
MARIA RENATA MACHADO STELLIN
MICHIEL WICHERS SCHRAGE

FILMAGEM E EDIÇÃO
DIEGO DIEGUES FRANCISCA
MARIA RENATA MACHADO STELLIN
PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA
IMAD - INSTRUTORES MULTIMÍDIA À DISTÂNCIA
ANDRÉ LOMONACO BELTRAME
IVAN KOH TACHIBANA
MICHIEL WICHERS SCHRAGE
CIMEAD – CONSULTORIA EM INFORMÁTICA, MULTIMÍDIA E EAD
CARLOS CÉSAR TANAKA
JORGE MÉDICI DE ESTON
PAULO SHINTARO FURUMOTO
APOIO ADMINISTRATIVO
NEUZA DO CARMO TEIXEIRA BARROS
VICENTE TUCCI FILHO
“Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer
meio ou processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos
autorais sobre este documento.”
SUMÁRIO
i

SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. RADIAÇÕES IONIZANTES I .................................................................. 1
1.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 2
1.1.1. O ÁTOMO............................................................................................................. 2
1.1.2. O ELETRON-VOLT .............................................................................................. 3
1.1.3. IONIZAÇÃO E EXCITAÇÃO................................................................................. 3
1.1.4. RADIAÇÃO IONIZANTE....................................................................................... 6
1.1.5. A RADIOATIVIDADE ............................................................................................ 6
1.1.6. FONTES DE RADIAÇÃO IONIZANTE ................................................................. 7
1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES............................................... 8
1.2.1. RADIAÇÕES DIRETAMENTE IONIZANTES ....................................................... 8
1.2.1.1. Partículas Alfa.................................................................................................... 8
1.2.1.2. Partículas Beta ................................................................................................ 11
1.2.2. RADIAÇÕES INDIRETAMENTE IONIZANTES.................................................. 12
1.2.2.1. Raios Gama..................................................................................................... 13
1.2.2.2. Raios X ............................................................................................................ 18
1.3. GRANDEZAS E UNIDADES ................................................................................. 19
1.3.1. ATIVIDADE......................................................................................................... 20
1.3.2. MEIA-VIDA FÍSICA............................................................................................. 20
1.3.3. DOSE DE EXPOSIÇÃO ..................................................................................... 23
1.3.4. DOSE ABSORVIDA............................................................................................ 23
1.3.5. DOSE EQUIVALENTE OU DOSE DE EFEITO.................................................. 23
1.4. TESTES................................................................................................................. 25
CAPÍTULO 2. RADIAÇÕES IONIZANTES II ............................................................... 28
2.1. EFEITOS BIOLÓGICOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE.......................................... 29
2.1.1. AÇÃO DIRETA E INDIRETA DA RADIAÇÃO .................................................... 29
2.1.2. RADIOSSENSIBILIDADE................................................................................... 29
2.1.3. SÍNDROME AGUDA DAS RADIAÇÕES ............................................................ 30
2.1.4. OUTROS EFEITOS AGUDOS ........................................................................... 31
2.1.5. EFEITOS TARDIOS ........................................................................................... 32
2.1.6. ACIDENTES COM FONTES RADIOATIVAS ..................................................... 32
2.2. LIMITES PARA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE .................................... 34
2.2.1. DIRETRIZES BÁSICAS DE RADIOPROTEÇÃO – CNEN NE 3.01 ................... 36
2.3. CONTROLE DA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE ................................... 39
2.3.1. FONTE DE RADIAÇÃO EXTERNA.................................................................... 39
2.3.1.1. Tempo.............................................................................................................. 39
2.3.1.2. Distância .......................................................................................................... 40
2.3.1.3. Blindagem........................................................................................................ 45
2.4. TESTES................................................................................................................. 54
CAPÍTULO 3. RADIAÇÕES IONIZANTES III .............................................................. 56
3.1. RADIAÇÃO INTERNA ........................................................................................... 57
3.2. CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA........................................................................... 57
3.3. DESCONTAMINAÇÃO .......................................................................................... 59
3.4. DETECTORES DE RADIAÇÃO IONIZANTE ........................................................ 61
3.4.1. CÂMARA DE IONIZAÇÃO.................................................................................. 61
SUMÁRIO
ii

3.4.2. DETECTOR GEIGER MÜLLER ......................................................................... 61


3.4.3. DETECTOR DE CINTILAÇÃO ........................................................................... 62
3.4.4. CANETA DOSIMÉTRICA ................................................................................... 62
3.4.5. FILME DOSIMÉTRICO....................................................................................... 63
3.4.6. DOSÍMETRO TERMOLUMINESCENTE............................................................ 63
3.5. TESTES................................................................................................................. 64
CAPÍTULO 4. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES ......................................................... 66
4.1. A CIÊNCIA DA RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE ...................................................... 67
4.1.1. CLASSIFICAÇÃO DAS RADIAÇÕES ................................................................ 67
4.2. RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS - EM.......................................................... 69
4.2.1. ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO................................................................... 70
4.3. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES .......................................................................... 71
4.3.1. ELF – EXTRA LOW FREQUENCY .................................................................... 72
4.3.2. RADIOFREQÜÊNCIAS - RF .............................................................................. 73
4.3.2.1. Aplicações ....................................................................................................... 74
4.3.2.2. Efeitos no organismo humano ......................................................................... 74
4.3.2.3. Limites de Tolerância....................................................................................... 74
4.3.2.4. Controle dos riscos .......................................................................................... 74
4.3.3. MICROONDAS - MO .......................................................................................... 74
4.3.3.1. Aplicações ....................................................................................................... 74
4.3.3.2. Efeitos no organismo humano ......................................................................... 75
4.3.3.3. Limites de Tolerância....................................................................................... 75
4.3.3.4. Medição de microondas................................................................................... 76
4.3.3.5. Controle dos riscos .......................................................................................... 76
4.3.4. INFRAVERMELHO............................................................................................. 77
4.3.4.1. Aplicações ....................................................................................................... 77
4.3.4.2. Efeitos no organismo humano ......................................................................... 77
4.3.4.3. Limites de Tolerância....................................................................................... 77
4.3.5. RADIAÇÃO – LUZ VISÍVEL................................................................................ 78
4.3.6. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ............................................................................. 78
4.3.6.1. Aplicações ....................................................................................................... 79
4.3.6.2. Efeitos no organismo humano ......................................................................... 79
4.3.6.3. Limites de Tolerância....................................................................................... 79
4.3.6.4. Medição de radiação ultravioleta ..................................................................... 79
4.3.6.5. Controle dos riscos .......................................................................................... 79
4.3.7. LASER ................................................................................................................ 80
4.3.7.1. Aplicações ....................................................................................................... 80
4.3.7.2. Efeitos no organismo humano ......................................................................... 80
4.4. A NATUREZA DO PROBLEMA............................................................................. 81
4.4.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ............................................................................. 81
4.4.2. RADIAÇÃO VISÍVEL .......................................................................................... 82
4.4.3. TERMINAIS DE VÍDEO ...................................................................................... 83
4.4.4. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA ......................................................................... 83
4.4.5. MICROONDAS ................................................................................................... 83
4.4.5.1. ONDAS DE RÁDIO.......................................................................................... 83
SUMÁRIO
iii

4.4.5.2. RADIAÇÃO DE FREQÜÊNCIA EXTRA BAIXA (ELF)..................................... 83


4.5. EXEMPLOS REAIS ............................................................................................... 84
4.5.1. O PROBLEMA DOS CAMPOS MAGNÉTICOS ................................................. 84
4.5.2. CAMPOS MAGNÉTICOS E LEUCEMIA ............................................................ 85
4.6. LIMITES ADMISSÍVEIS......................................................................................... 86
4.6.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ............................................................................. 86
4.6.2. RADIAÇÃO VISÍVEL .......................................................................................... 86
4.6.3. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA ......................................................................... 87
4.7. METODOLOGIA DE MEDIÇÃO ............................................................................ 87
4.7.1. RADIÔMETROS ................................................................................................. 87
4.7.2. MÉTODOS MISTOS........................................................................................... 87
4.8. AÇÕES CORRETIVAS.......................................................................................... 88
4.8.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ............................................................................. 88
4.8.2. RADIAÇÃO VISÍVEL .......................................................................................... 88
4.8.2.1. Terminais de Vídeo.......................................................................................... 88
4.8.2.2. Lasers .............................................................................................................. 88
4.8.3. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA ......................................................................... 89
4.8.4. MICROONDAS ................................................................................................... 89
4.8.5. RADIOFREQÜÊNCIAS ...................................................................................... 89
4.8.6. FREQUÊNCIAS EXTREMAMENTE BAIXAS..................................................... 89
4.9. TESTES................................................................................................................. 90
CAPÌTULO 5. AVALIAÇÃO E CONTROLE DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO
CALOR ......................................................................................................................... 93
5.1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 94
5.2. MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS............................................................. 94
5.3. REAÇÕES DO ORGANISMO AO CALOR............................................................ 95
5.4. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE ENFERMIDADES – OMS/75 ............... 97
5.4.1. GOLPE DE CALOR (HIPERTERMIA OU CHOQUE TÉRMICO) ....................... 97
5.4.2. SÍNCOPE PELO CALOR (EXAUSTÃO PELO CALOR)..................................... 98
5.4.3. PROSTRAÇÃO TÉRMICA POR DESIDRATAÇÃO ........................................... 98
5.4.4. PROSTRAÇÃO TÉRMICA PELO DECRÉSCIMO DO TEOR SALINO .............. 98
5.4.5. CÃIBRAS DE CALOR......................................................................................... 99
5.4.6. ENFERMIDADES DAS GLÂNDULAS SUDORÍPARAS..................................... 99
5.4.7. EDEMA PELO CALOR ....................................................................................... 99
5.4.8. OUTROS EFEITOS À SAÚDE ........................................................................... 99
5.5. ACLIMATIZAÇÃO.................................................................................................. 99
5.6. CONFORTO TÉRMICO....................................................................................... 101
5.7. VELOCIDADE DO AR ......................................................................................... 101
5.8. UMIDADE RELATIVA DO AR ............................................................................. 101
5.9. ÍNDICES DE AVALIAÇÃO TÉRMICA.................................................................. 103
5.9.1. TEMPERATURA EFETIVA (TE)....................................................................... 104
5.9.2. ÍNDICE DE SOBRECARGA TÉRMICA (IST) DE BELDING E HATCH ........... 106
5.9.3. ÍNDICE DE BULBO ÚMIDO – TERMÔMETRO DE GLOBO (IBUTG) ............. 110
5.10. NORMA REGULAMENTADORA N.15 - ANEXO N. 3....................................... 111
SUMÁRIO
iv

5.11. REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE COM DESCANSO EM OUTRO


LOCAL ........................................................................................................................ 114
5.12. NORMA REGULAMENTADORA N° 15 - ANEXO 3 - QUADRO N° 3............... 118
5.13. LIMITE DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO CALOR .................................... 119
5.14. TEMPERATURA DE GLOBO ÚMIDO (TGU).................................................... 124
5.15. LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA O TRABALHO EM AMBIENTES QUENTES
.................................................................................................................................... 125
5.16. A EXPOSIÇÃO AOS AMBIENTES FRIOS........................................................ 130
5.17. REGIME DE TRABALHO/DESCANSO PARA AMBIENTES FRIOS ................ 131
5.18. SINAIS CLÍNICOS PROGRESSIVOS DE HIPOTERMIA.................................. 132
5.19. INFLUÊNCIA NA VELOCIDADE DO VENTO NA
TEMPERATURAEQUIVALENTE DE RESFRIAMENTO............................................ 133
5.20. MEDIDAS DE CONTROLE (SOBRECARGA TÉRMICA) ................................. 133
5.20.1. MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE ......................................................... 133
3.20.2. MEDIDAS RELATIVAS AO TRABALHADOR ................................................ 133
5.21. TESTES............................................................................................................. 135
CAPÍTULO 6. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO FRIO ........................................... 137
6.1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 138
6.1.1. TEMPERATURA DO NÚCLEO DO CORPO.................................................... 138
6.1.2. TAXA DE RESFRIAMENTO PELO VENTO..................................................... 138
6.2. FISIOPATOLOGIA DO FRIO............................................................................... 139
6.3. EFEITOS BIOLÓGICOS DA EXPOSIÇÃO AO FRIO.......................................... 142
6.3.1. LESÕES NÃO-CONGELANTES ...................................................................... 142
6.3.1.1. Hipotermia ..................................................................................................... 142
6.3.1.2. Geladura ou Queimadura do Frio .................................................................. 143
6.3.1.3. Síndrome de Imersão (“Pés de Imersão” ou “Pés de Trincheira”)................. 144
6.3.2. LESÕES CONGELANTES ............................................................................... 144
6.3.2.1. Congelamento (“Frostbite”)............................................................................ 144
6.4. AVALIAÇÃO E CONTROLE DA EXPOSIÇÃO AO FRIO .................................... 145
6.4.1. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA............................................................................. 145
6.4.2. ACGIH .............................................................................................................. 146
6.5. TESTES............................................................................................................... 152
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 154
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
1

CAPÍTULO 1. RADIAÇÕES IONIZANTES I

OBJETIVOS DO ESTUDO

Possibilitar a compreensão dos aspectos principais da proteção radiológica. Neste


capítulo serão apresentados os tipos de fontes de radiação ionizante, a classificação das
radiações segundo a forma de interação com a matéria, as grandezas e unidades
radiológicas.

Ao término deste capítulo você deverá estar apto a:


• Estabelecer as características das partículas atômicas;
• Definir os termos: isótopo, número atômico, número de massa e elemento
químico.
• Descrever os processos de emissão de partículas alfa, partículas beta, radiação
gama, raios X e nêutrons;
• Descrever a interação dos diferentes tipos de radiação ionizante com a matéria;
• Identificar as fontes de radiação ionizante;
• Avaliar os riscos potenciais associados ao uso de fontes de radiação;
• Definir os termos: radioatividade, atividade, Curie, Becquerel e meia-vida física;
• Calcular a constante de decaimento a partir da meia vida física de uma fonte
radioativa
• Calcular a atividade atual de uma fonte radioativa;
• Definir dose de exposição, dose absorvida e dose equivalente e suas respectivas
unidades.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
2

1.1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da humanidade o homem esteve exposto às radiações
ionizantes proveniente do espaço exterior, do solo, da água, do ar e dos seres vivos. O
crescente uso de fontes emissoras dessas radiações em atividades médico-hospitalares,
industriais e de pesquisa, evidenciou o risco potencial da exposição humana a elas. A fim
de melhor avaliar esse risco e proteger os indivíduos dos efeitos deletérios das radiações
ionizantes, foram desenvolvidos instrumentos de detecção e procedimentos de controle
da exposição. A Proteção Radiológica é a área do conhecimento que abrange os estudos
sobre as diferentes formas de geração de radiação ionizante, os meios para detectá-las,
a sua interação com sistemas biológicos e as técnicas para controlar a exposição
humana a elas.

1.1.1. O ÁTOMO
Toda a matéria é formada por átomos, os quais são compostos por partículas
positivas, negativas e neutras. As partículas negativas (elétrons), são encontradas
girando ao redor de um núcleo, arranjadas em camadas, denominadas orbitais
eletrônicos. No interior do núcleo, ligadas de forma bastante coesa, encontram-se as
partículas positivas (prótons) e as partículas neutras (nêutrons).
Se um átomo possuir mais elétrons do que prótons, ele terá uma carga elétrica total
negativa. E se o número de prótons for maior, a carga será positiva. Em geral, os átomos
não apresentam carga elétrica (são neutros), o que significa que existe uma igual
quantidade de prótons e de elétrons em sua constituição.
As características macroscópicas ou observáveis dos átomos são determinadas por
suas propriedades físico-químicas, dependentes da carga eletrônica do núcleo. Em
outras palavras, a forma como um átomo se apresenta (em temperatura e pressão
ordinárias, se é um sólido, líquido ou gás), e como reage com outros átomos para formar
moléculas, depende dos prótons no interior do seu núcleo. Assim, átomos apresentando
a mesma quantidade de prótons constituem-se em um elemento químico, pois
apresentam propriedades físico-químicas idênticas. Portanto, se aumentamos ou
diminuímos a quantidade de prótons em um núcleo temos átomos com características
físico-químicas diferentes, ou seja, estamos transformando um elemento químico em
outro totalmente diferente.
No interior do núcleo também existem os nêutrons, os quais compõem, juntamente
com os prótons, a massa do átomo. Existem 109 elementos químicos, cada um dos quais
representados por dois números: o número de massa (A) e o número atômico (Z). O
número de massa corresponde ao total de prótons e nêutrons existentes no interior do
núcleo. O número atômico representa a quantidade de prótons do interior do núcleo e é
igual ao total de elétrons distribuídos nas camadas eletrônicas, quando o átomo não é
ionizado. O elemento químico é representado pela fórmula:

A
Z X
Uma variação na quantidade de nêutrons não altera o comportamento
macroscópico do átomo, pois este depende unicamente da quantidade de prótons. Dessa

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
3

maneira, átomos com quantidades diferentes de nêutrons e com um número igual de


prótons correspondem a um mesmo elemento químico, pois apresentam as mesmas
características físico-químicas apesar de terem massas diferentes (Figura 1.1.). Estes
átomos são denominados isótopos, e é a mistura desses isótopos que compõe o
elemento químico. Adicionalmente, quando alteramos a composição do núcleo, seja pela
adição ou remoção de nêutrons, estamos apenas modificando a massa do átomo e não
transformando um elemento químico em outro.

1
1 H Prótio (estável)

2
1 H Deutério (estável)

3
1 H Trítio (instável – radioativo)

Figura 1.1. Isótopos do elemento químico Hidrogênio

1.1.2. O ELETRON-VOLT
A energia é definida como a capacidade de executar trabalho. Em geral, no Sistema
Internacional a energia é medida em Joule. Esta unidade é apropriada quando a massa é
da ordem de quilogramas. Quando trabalhamos em nível subatômico as massas
envolvidas são muito pequenas e resultando em energias inferiores a microjoules.
Portanto fez-se necessário definir unidade de energia muito menor que o joule. Esta
unidade de energia é o eletron-volt, a qual representa a energia adquirida por um elétron
ao ser acelerado por uma diferença de potencial de 1 volt.
−19
1eV = 1,6 × 10 Joules
1.1.3. IONIZAÇÃO E EXCITAÇÃO
Como foi exposto no início do capítulo, os elétrons são encontrados girando ao
redor núcleo, distribuídos não de uma forma aleatória, mas sim em camadas ou orbitais
eletrônicos. Cada uma dessas camadas é ocupada por um número específico de
elétrons, os quais são mantidos presos ou ligados com uma determinada quantidade de
energia (energia de ligação). Esta energia de ligação varia com o inverso da distância do
orbital ao núcleo. Desse modo quanto mais próximo do núcleo estão os elétrons, maior é
a energia que os mantém ligados ao átomo, e mais fortemente presos eles estão (Figuras
1.2. e 1.3.).

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
4

K L M N

Figura 1.2. Orbitais eletrônicos do átomo

E
N
E
R
G
I
A

D
E

L
I
G
A
Ç
Ã
O

Átomo A Átomo B Átomo C

Figura 1.3. Energias de ligação de 4 orbitais para 3 elementos químicos

Em condições normais, o elétron ocupa o nível mais baixo de energia dentro da


respectiva camada (estado fundamental), ou seja, aquele em que ele possui a menor
energia, pois este confere maior estabilidade eletrônica ao átomo. Se por meios externos
cedemos uma certa quantidade de energia ao elétron, este passará a executar uma
órbita de raio maior (mais afastada do núcleo), e assim ocupando um nível superior
(estado excitado) dentro da camada. Este processo físico, no qual o elétron ao absorver
energia passa a ocupar orbitais mais externos, é conhecido como excitação eletrônica
(Figura 1.4.).

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
5

K L M N

Figura 1.4. Excitação eletrônica do átomo

Se a energia fornecida ao átomo for superior à energia de ligação da camada, o


elétron será levado a executar uma órbita com raio tão grande que este não fica mais sob
a influência do campo elétrico do núcleo. Nesta condição o elétron é removido do átomo.
Este processo físico, no qual o elétron ao absorver energia afasta-se da influência do
campo elétrico nuclear a ponto de ser removido, é conhecido como ionização (Figura
1.5.). O elétron livre e o átomo positivamente carregado resultantes são denominados par
iônico. A quantidade de energia necessária para ionizar o elétron mais fracamente ligado
ao átomo é chamada de potencial de ionização.

K L M N

Figura 1.5. Ionização do átomo

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
6

1.1.4. RADIAÇÃO IONIZANTE


A classificação de uma radiação como ionizante está relacionada à sua capacidade
de produzir ionização em sistemas biológicos. O corpo humano é constituído
basicamente por água, hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio, cujos potenciais de
ionização situam-se entre 12,4 e 15 eV. Portanto a energia mínima transportada pela
radiação, capaz de produzir ionização nesses sistemas é 12,4 eV.
Dentro do espectro eletromagnético são consideradas ionizantes as radiações com
comprimentos de onda inferiores a 100 nm. Entretanto, não apenas as radiações
eletromagnéticas apresentam esta propriedade, também radiações corpusculares, tais
como prótons, elétrons e nêutrons, são capazes de produzir ionização. A energia
corpuscular a ser transferida para o meio, ionizando-o, é a energia de movimento ou
cinética, cuja magnitude é diretamente proporcional ao quadrado da velocidade da
partícula. Desse modo, qualquer partícula ordinária ao ser acelerada, fornecendo-lhe
energia cinética superior a 12,4 eV, passará a ser ionizante, posto que será capaz de
ionizar sistemas biológicos.

1.1.5. A RADIOATIVIDADE
Se montarmos um gráfico da constituição nuclear dos átomos conhecidos (naturais
e artificiais), representando no eixo vertical o número de nêutrons e no horizontal o de
prótons, obteremos uma faixa larga e deslocada em direção ao eixo vertical (Figura 1.6.).

Figura 1.6. Curva de estabilidade nuclear em função do número de prótons e de nêutrons

No seu trecho central e abaixo do número atômico 84, estão localizados núcleos
que não modificam a sua constituição interna (quantidade de prótons e nêutrons) com o

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
7

decorrer do tempo, sendo por esta razão considerados estáveis. Por outro lado, os
núcleos localizados nas bordas da faixa e no trecho a partir de 84, apresentam uma
variação na quantidade de prótons e nêutrons com o passar do tempo, e por isso são
denominados instáveis. Em outras palavras, ou eles apresentam um excesso de
partículas no seu interior, ou têm nêutrons demais ou nêutrons de menos para serem
estáveis.
Este estado de instabilidade representa um excesso de energia ou um gasto
energético para o núcleo. Tendo-se em vista que todos os sistemas na Natureza buscam
se rearranjar de tal forma que o seu gasto de energia seja mínimo, o núcleo atômico irá
sofrer uma série de transformações espontâneas até atingir o estado que represente o de
menor consumo energético (estado fundamental). Durante essas transformações o
núcleo se libera do excesso de partículas e energia que possui, modificando assim a sua
estrutura (desintegração) e diminuindo seu nível de energia (decaimento).
A radioatividade é definida como o fenômeno físico de emissão espontânea de
radiação ionizante por núcleos atômicos instáveis. Este fenômeno e as propriedades
radioativas de um núcleo independem do estado físico ou químico em que este se
apresenta. Tais propriedades dependem unicamente das características intrínsecas do
núcleo, e não podem ser alteradas por quaisquer ações externas (aquecimento,
congelamento, diluição, compressão, etc).
O fenômeno da emissão de radiação ionizante pode ocorrer naturalmente ou ser
induzido por meio do bombardeamento de núcleos estáveis com partículas carregadas,
como no caso de aceleradores de partículas, ou nêutrons, como ocorre nos reatores
nucleares. Os átomos naturalmente radioativos estão agrupados em séries, nas quais um
elemento se transforma em outro, sucessivamente, até atingir a estabilidade nuclear. O
primeiro elemento da série é denominado pai e o último corresponde ao elemento
estável. As quatro séries radioativas existentes na Natureza são o Tório, Netúnio, Urânio
e Actínio, conforme mostra a tabela 1.1.

Tabela 1.1. Séries radioativas naturais


Série Pai Isótopo estável
232 208
Tório 90Th 82 Pb

241 209
Netúnio 94 Pu 83 Bi

238 206
Urânio 92 U 82 Pb

235 207
Actínio 92Th 82 Pb

1.1.6. FONTES DE RADIAÇÃO IONIZANTE


As radiações ionizantes podem ser geradas em equipamentos eletrônicos, emitidas
por materiais radioativos ou como resultado de reações nucleares. Nos equipamentos
eletrônicos a desaceleração de feixe de elétrons por um alvo resulta na emissão de
radiação eletromagnética, conhecida como radiação de frenamento ou raios X. A emissão

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
8

dessa radiação, em níveis significantes do ponto de vista biológico, ocorre para da


voltagem de operação superior a 15 kV e alvo com número atômico elevado (tal como
chumbo ou tungstênio). Nessas condições são gerados raios X com energia superior a
5 keV, e os dispositivos emissores incluem: equipamentos de raios X, microscópios
eletrônicos, soldagem com feixe de elétrons, retificadores e estabilizadores termiônicos
de alta voltagem, tríodos de alta voltagem, magnetrons e tubos de raios catódicos.
Os materiais radioativos podem se encontrados na forma sólida (particulada ou
compacta), líquida ou gasosa. Dependendo da finalidade de uso, o material pode estar
contido no interior de uma cápsula lacrada. Tal configuração impede a dispersão do
material para o ambiente, não havendo o risco de contaminação radioativa, exceto nos
casos em que o lacre é rompido ou a cápsula apresente falha. São exemplos de fontes
seladas os medidores de densidade, gramatura, espessura, nível, massa e umidade, e os
irradiadores para terapia de câncer e para ensaios não destrutivos.
Quando o material se encontra na sua forma livre, a fonte é denominada não
selada. Nestas condições o material radioativo pode difundir-se para o ambiente,
havendo o risco de contaminação radioativa. Este tipo de fonte é amplamente utilizada
em Medicina Nuclear, para fins de diagnóstico.
Um outro tipo de fonte de radiação consiste nos aceleradores de partículas. Nestes
equipamentos as partículas (elétrons, nêutrons, íons positivos) são aceleradas até se
alcançar a energia desejada. O uso destas fontes ocorre predominantemente nas áreas
de terapia do câncer, de pesquisa e irradiação de materiais.
Na última categoria, estão os reatores nucleares de pesquisa e de potência
(geração de energia elétrica). A emissão de radiação (raios gama e nêutrons) é resultado
das reações de fissão de elementos pesados, tal como o urânio.

1.2. CLASSIFICAÇÃO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES


Ao ionizar a matéria a radiação transfere a sua energia, produzindo pares iônicos
(íon positivo e íon negativo) ao longo de sua trajetória. Nos sistemas biológicos esses
pares iônicos irão reagir com outros átomos e moléculas, interferindo no metabolismo
celular ou danificando o DNA. Dependendo da forma como a radiação transfere a sua
energia para o meio será classificada como radiação diretamente ionizante ou radiação
indiretamente ionizante.

1.2.1. RADIAÇÕES DIRETAMENTE IONIZANTES


As partículas carregadas ao se aproximarem de um átomo ou molécula irão atrair
ou repelir o elétron orbital. Durante essa interação parte da energia da partícula é
transferida para o átomo, arrancando o elétron de sua órbita e desacelerando-a. Por
transferir a energia gradativamente, em atrações e repulsões sucessivas, as partículas
carregadas são denominadas radiações diretamente ionizantes. Estão nessa categoria as
partículas alfa e as beta.

1.2.1.1. Partículas Alfa


As partículas alfa consistem de 2 prótons e 2 nêutrons, e são emitidas quando o
núcleo apresenta excesso de partículas nucleares. Seguindo a emissão da partícula alfa,

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
9

na maioria dos decaimentos, ocorre também a emissão de radiação eletromagnética


(raios gama). Nesse processo como a proporção de prótons e nêutrons no interior do
núcleo é alterada, ocorre a transformação de um elemento químico em outro, conforme a
reação de desintegração:

A
Z X → ZA−−42Y + 24α + γ

Ra→222 + 2α + γ
226 4
88 86 Rn
Na Figura 1.7. é apresentado o esquema parcial de decaimento do Rádio-226. No
esquema pode-se notar que o Rádio-226 tem três caminhos para transformar-se em
Radônio-222, sendo que em dois deles ocorre a emissão de radiação gama. O elemento
formado (Radônio) é instável e, portanto, também sofrerá transformação nuclear.

Figura 1.7. Esquema parcial de decaimento do Rádio-226

Os átomos alfa emissores naturais apresentam número atômico elevado (Z>82) e


emitem partículas com energia maior o igual 3,93 MeV. A probabilidade de ocorrência da
desintegração aumenta com a energia da partícula alfa. Desse modo, os átomos que se
desintegram mais rapidamente emitem as partículas alfa mais energéticas.
Como as partículas alfa são massivas e apresentam carga elétrica duplamente
positiva, as interações com os elétrons orbitais são mais fortes e a trajetória por ela
percorrida é linear. Em virtude da forte atração, a transferência da energia ocorre mais
rapidamente, resultando em uma densidade de ionização elevada e um curto alcance no
meio. Por exemplo, uma partícula alfa com energia de 3 MeV produz tem um alcance de

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
10

2,8 cm no ar e produz 4000 pares iônicos/mm. Para a maioria dos alfa emissores, quando
a fonte está localizada externamente ao corpo não se constitui em risco, posto que
mesmo as partículas alfa mais energéticas não atravessam a camada morta da pele.
Entretanto, em caso de irradiação interna, quando o material radioativo foi incorporado, o
risco para o indivíduo é elevado. Nestas condições toda a energia da radiação é
dissipada em tecidos vivos, produzindo o dano.
Na tabela 1.2. são apresentados alguns exemplos de fontes emissoras de
partículas alfa e as suas principais aplicações. Na coluna referente à energia o valor em
parênteses corresponde à porcentagem de desintegrações em que são emitidas
partículas alfa com essa energia, e o termo em colchete é a energia do raio gama emitido
após algumas das desintegrações.

Tabela 1.2. Fontes emissoras de partículas alfa, segundo a meia vida física, energia da
radiação e uso

Fonte Meia-Vida Usos
(MeV)
Reator nuclear.
3,950 (23%)
No passado (1928 a 1955), como
1,41x1010anos
232
Th 4,011 (77%)
90
contraste em diagnóstico radiológico
[γ (0,059)] (Thorotrast - dióxido de tório).
4,150 (23%)
238
92 U 9
4,51x10 anos 4,200 (77%) Reator nuclear.
[γ(0,048)]
210 5,305 (100%) Eliminadores de eletricidade estática.
Po 138,4 dias
84
[γ (0,803)]
5,456 (28%)
238 5,499 (72%) Detectores de fumaça.
94 Pu 86 anos
[γ(0,044; 0,010;
0,153)]
Diagnóstico (fonte radioativa do
analisador de mineral ósseo).
Terapêutico (fonte radioativa
5,443 (13%) intracavitária no tratamento de
241
95 Am 458 anos 5,486 (86%) malignidades).
[γ(0,060)] Medidor de gramatura de papel.
Detector de fumaça.
Eliminador de eletricidade estática.
Terapêutico (tratamento de
4,599 (5%) malignidades tais como: câncer uterino,
226
Ra 1602 anos 4,782 (95%) orofaríngeo, de bexiga, de pele e câncer
88
[γ(0,187)] metastático dos nódulos linfáticos).
No passado, como tinta de marcação.
Terapêutico (tratamento de
222 5,486 (100%) malignidades tais como: câncer uterino,
86 Rn 3,825 dias orofaríngeo, de bexiga, de pele e câncer
[γ(0,510)]
metastático dos nódulos linfáticos).

o
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11

1.2.1.2. Partículas Beta


As partículas beta são emitidas pelo núcleo quando há um excesso de nêutrons. O
nêutron excedente se desintegra em um próton e um elétron, sendo esse último expulso
do interior do núcleo. Desse modo, a carga e a massa dessa partícula são iguais às do
elétron orbital. No decaimento beta ocorre a transformação de um elemento químico em
outro, conforme a reação de desintegração:

A
Z X →Z +A1Y + −10e + antineutrino
1
0 n→11H + −10e + antineutrino
32
15 P→1632S + −10e + antineutrino
Na Figura 1.8. é apresentado o esquema de decaimento do Fósforo-32. No
esquema de decaimento pode-se notar que o Fósforo-32 transforma-se no Enxofre-32
por um único caminho. O elemento formado (Enxofre) é estável.

32
15 P

β-

32
16 S
Figura 1.8. Esquema de decaimento do Fósforo 32

As partículas beta são emitidas com energia inferior à das alfa, apresentando a
maior parte valores abaixo de 4 MeV. Como a massa dessa partícula é da ordem da
massa do elétron orbital, a sua trajetória dentro do meio é irregular e a sua velocidade é
maior do que a da alfa. A densidade de ionização é relativamente elevada para as
partículas com energia mais baixa, posto que a velocidade é menor e, portanto, o tempo
de interação é maior. À medida que a energia aumenta o número a densidade de
ionização decresce, até o valor mínimo em 1 MeV. Em virtude de sua menor carga e
maior velocidade a partícula beta será mais penetrante do que a alfa. Como
exemplificado no tópico anterior, uma partícula beta com energia de 3MeV terá um
alcance no ar de 1000 cm e produzirá 4 pares iônicos/mm.
Em relação aos sistemas biológicos, a camada morta da pele já não oferece
blindagem suficiente para essa radiação, sendo necessárias energias tão baixas quanto
70 keV para penetrá-la. As partículas beta com energia inferior a 200 keV apresentam
uma penetrabilidade baixa, e as fontes que as emitem não são consideradas perigosas,

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
12

quando estão fora do corpo. Apesar do alcance da partícula beta ser maior do que o da
alfa, suas fontes emissoras são consideradas potencialmente perigosas em caso de
irradiação interna.
Uma atenção especial deve ser dada em relação ao material que encapsula ou
blinda essas fontes, posto que ocorre a emissão de radiação eletromagnética penetrante,
durante a desaceleração das partículas beta. A probabilidade de emissão aumenta com o
número atômico do absorvedor. Blindagens com material de número atômico inferior a 13
(por exemplo, alumínio), são as mais recomendadas.
Na tabela 1.3 são apresentados alguns exemplos de fontes emissoras beta puras
e as suas principais aplicações. Na coluna referente à energia o valor em parênteses
corresponde à porcentagem de desintegrações em que são emitidas partículas beta com
essa energia.

Tabela 1.3. Fontes beta-emissores puros, segundo a meia vida física, energia da
radiação e uso

Fonte Meia-Vida Usos
(MeV)
Diagnóstico (metabolismo de esteróides,
consumo total de água).
3
1 H 12,35 anos 0,018 (100%) Pré-ionização de tubos eletrônicos.
Tintas de marcação.
14 Diagnóstico (metabolismo, metabolismo
6 C 5730 anos 0,156 (100%) de esteróides).
Diagnóstico (taxa de destruição de
eritrócitos, estudo de doença vascular
periférica, localização de tumores ocular,
de cérebro e de pele, estudo de
32
P 14,28 dias 1,710 (100%) carcinoma de mama, determinação de
15
volume sanguíneo).
Terapêutico (leucemia mielóide crônica,
leucemia linfóide crônica, metástase
esqueletal).
Terapêutico (tratamento de condições
benignas dos olhos tais como: pterígio,
ulceração traumática corneal, cicatrizes
90
Sr 28,5 anos 0,546 (100%) corneais, hemangioma da pálpebra,
38
vascularização da córnea e preparação
para transplante de córnea).
Medidor de espessura fixo.
35 Diagnóstico (determinação do volume de
16 S 87,51 dias 0,167 (100%) fluído extracelular).

1.2.2. RADIAÇÕES INDIRETAMENTE IONIZANTES


O nêutron e as radiações eletromagnéticas por não possuírem carga elétrica, não
podem transferir sua energia por meio de atração ou repulsão dos elétrons orbitais. Em
sua interação com o meio transferem parte ou a totalidade de sua energia para partículas

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
13

carregadas, e estas é que irão ionizar o meio de forma semelhante a das radiações
diretamente ionizantes. Por necessitar de uma partícula secundária para produzir a
ionização, essas radiações são denominadas indiretamente ionizantes.

1.2.2.1. Raios Gama


Em grande parte das desintegrações por emissão de partículas alfa ou beta, o
núcleo resultante ainda apresenta um excesso de energia, sendo por isso instável. A fim
de atingir a estabilidade o núcleo excitado emite esse excesso de energia na forma de
radiação eletromagnética, denominada radiação gama. Como nesse processo há apenas
mudança de nível energético, sem alteração na proporção de prótons e nêutrons, o
elemento químico será o mesmo. Geralmente essa desexcitação ocorre imediatamente
após a desintegração do núcleo, e dependendo dos níveis de energia do núcleo formado,
pode haver a emissão de um ou mais raios gama. São exemplos desse processo as
reações de decaimento, abaixo, ilustradas no esquema de decaimento da Figura 1.9.
60
27 Co→ 28
60
Ni ∗ + −10e
60
28 Ni ∗ →28
60
Ni + 2γ

60
27 Co

β-

γ1

γ2
60
28 Ni

Figura 1.9. Esquema de decaimento do Cobalto-60

O elétron é a partícula secundária emitida após a absorção dos raios gama pelos
átomos do material por ele atravessado. São três os mecanismos de interação gama com
a matéria: a absorção fotoelétrica, o espalhamento Compton e a produção de pares.
Na absorção fotoelétrica toda a energia do raio gama é transferida para o elétron
fortemente ligado (Figura 1.10.), sendo a energia do fotoelétron dada pela relação:

E fe = E γ − E L

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
14

K L M

Figura 1.10. Absorção do raio gama com a emissão de elétron (Efeito Fotoelétrico)

O fotoelétron irá dissipar a sua energia produzindo ionização ao longo de sua


trajetória no meio. A absorção fotoelétrica é o mecanismo de interação predominante
para raios gama de baixa energia e materiais de número atômico baixo.
No espalhamento Compton ocorre a colisão elástica do raio gama com o elétron
orbital cuja energia de ligação seja muito inferior à do raio gama (Figura 1.11.).

K L M

γ
Figura 1.11. Espalhamento do raio gama pelo elétron (Espalhamento Compton)

Nesse processo parte da energia do raio gama é transferida para o elétron, que por
sua vez irá dissipar sua energia produzindo ionização. A probabilidade de ocorrência
desse tipo de interação decresce com o aumento da energia do raio gama e com o
aumento do número atômico do absorvedor. Esse é o principal mecanismo de interação
em elementos com baixo número atômico.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
15

Para raios gama de energia superior a 1,02 MeV ocorre a produção de pares.
Nesse mecanismo o fóton de raio gama ao passar nas proximidades de um núcleo,
desaparece, formando um pósitron e um elétron (Figura 1.12.).

K L M

Figura 1.12. Absorção do raio gama com a emissão de pósitron e elétron


(Produção de Pares)

A energia excedente na produção do par aparece como energia cinética do pósitron


e do elétron criados, segundo as relações:

E e + + E e− = 1,02 MeV

E cpar = E γ − 1,02
Em geral, o pósitron criado é aniquilado ao interagir com o elétron orbital do átomo
em cujo núcleo foi produzido o par. Desse modo a ionização produzida é decorrente da
dissipação da energia cinética do elétron produzido por esse mecanismo. A produção de
pares é o mecanismo predominante em materiais com número atômico elevado.
Na interação do raio gama com a matéria, cada fóton é removido individualmente
em um único evento. A redução da intensidade do feixe de raios gama é dada pelo
coeficiente de atenuação linear, segundo a relação:

I = I 0 × e − μlx
Onde:
I0 = intensidade do feixe sem o absorvedor
x = espessura do absorvedor

I = intensidade do feixe transmitida

μl = coeficiente de atenuação linear

o
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16

O coeficiente de atenuação linear corresponde à fração do feixe de raio gama


atenuada por unidade de espessura do absorvedor, e representa a probabilidade de que
a interação com a matéria ocorra. Esse coeficiente é dependente da energia do raio
gama e do tipo de material do absorvedor, sendo a soma da probabilidade de ocorrência
de cada um dos três mecanismos de interação:

μ l = μ ef + μ ec + μ pp
Onde:
μef = probabilidade efeito fotoelétrico

μeC = probabilidade espalhamento Compton

μpp = probabilidade produção de pares

Em virtude de sua forma de interação, os raios gamas apresentam grande poder de


penetração. Para os sistemas biológicos, a irradiação por fonte externa ao corpo,
apresenta risco elevado, posto que a energia pode ser dissipada em tecidos mais
profundos do corpo.
Na tabela 1.4 são apresentados alguns dos emissores beta-gama mais comumente
utilizados em atividades médicas e industriais. Na coluna referente à energia o valor em
parênteses corresponde à porcentagem de desintegrações em que são emitidas
partículas beta, e radiação gama com essa energia.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
17

Tabela 1.4. Fontes emissoras beta-gama, segundo a meia vida física, energia da
radiação e uso
E
Fonte Meia-Vida Usos
(MeV)
Medidores de espessura fixos.
147 β:0,224
Pm 2,62 anos Pré-ionização de tubos eletrônicos.
61
γ:0,122 Tintas de marcação.
β:1,392(100%)
Diagnóstico (determinação de sódio total,
γ:1,369(100%)
24
11 Na 15 horas circulação periférica).
γ:2,754(100%)
Diagnóstico (absorção intestinal de
gordura, função pancreática, fluxo vascular
β:0,250(3%) periférico, fluxo vascular cerebral,
β:0,336(9%) mapeamento do cérebro, localização da
β:0,607(87%) placenta, determinação do volume
β:0,810(1%) plasmático, conversão de trioleína, função
hepática, excreção hepática, função renal,
γ:0,080(2%)
131
I 8,04 dias
53
fluxo sanguíneo renal, obstrução do tracto
γ:0,284(5%) urinário, cintilografia estomacal,
γ:0,364(80%) cintilografia renal, cintilografia do fígado,
γ:0,637(9%) cintilografia cerebral, cintilografia da
γ:0,723(3%) tiróide, função da tiróide, cisternografia).
Terapêutico (câncer da tiróide,
hipertiroidismo).
β:0,672(95,5%)
γ:0,296(29%)
γ:0,308(30%)
192 γ:0,317(81%) Medidores de nível.
Ir 74,2 dias
77
γ:0,468(49%) Radiografia industrial.
γ:0,589(4%)
γ:0,604(9%)
γ:0,612(7%)
Terapêutico: fonte de teleterapia no
tratamento de malignidades.
Medidores de espessura.
β:0,514(93,5%) Medidores de densidade.
137
55 Cs 30 anos β:1,176(6,5%) Medidores de nível.
γ:0,662(93,5%) Chaves de nível.
Radiografia industrial.
Esterilização de produtos médicos,
farmacêuticos e alimentícios.
Diagnóstico (teste de Schilling).
β:0,314(100%) Terapêutico (fonte intersticial ou
intracavitária, ou fonte de teleterapia no
γ:1,173(100%)
60
Co 5,26 anos
27
tratamento de malignidades).
γ:1,332(100%) Esterilização de produtos médicos,
farmacêuticos e alimentícios.

o
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18

1.2.2.2. Raios X
A desaceleração de elétrons rápidos por colisão com um alvo resulta na emissão de
radiação eletromagnética, denominada raios X. A maior parte da energia do elétron é
transformada em calor e uma pequena parte na forma de raios X. Nos dispositivos
eletrônicos à vácuo, os elétrons emitidos por um filamento aquecido (o cátodo) são
acelerados pela diferença de potencial estabelecida entre o cátodo e o ânodo. Esses
elétrons ao colidirem com o alvo (ânodo) são bruscamente desacelerados, aquecendo o
alvo e emitindo radiação eletromagnética. O rendimento na produção de raios X é
proporcional ao número atômico do alvo, ou seja, quanto mais elevado for o número
atômico maior será a emissão de raios X. A energia máxima com que os raios-X são
emitidos é proporcional à diferença de potencial aplicada (voltagem de operação), e a
intensidade do feixe é proporcional à corrente e à voltagem. Como a proporção da
energia do elétron que é emitida na forma de radiação eletromagnética segue uma
distribuição normal, o espectro de emissão é contínuo.
Por ser uma radiação eletromagnética, os mecanismos de transferência da energia
dos Raios X para o meio são idênticos aos observados para os raios gama. Desse modo,
a ionização será produzida pelos elétrons secundários emitidos nos processos de
absorção fotoelétrica, espalhamento Compton e produção de pares. O poder de
penetração dos raios-X dependerá da energia da radiação. Assim os raios X de energia
muito baixa (E<5keV) serão prontamente absorvidos pelo alvo e estruturas do
equipamento. Os raios X usados para fins de diagnóstico têm sua a energia ajustada em
função do tecido a ser radiografado, sendo a voltagem de operação mais elevada para
tecidos mais profundos do corpo, tais como ossos.
Na tabela 1.5 são apresentadas algumas fontes de raios X, intencional e não
intencional, mais comumente utilizadas ou encontradas em ambientes de trabalho.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
19

Tabela 1.5. Fontes emissoras de raios X, segundo a voltagem de operação, a corrente e


o uso
V I
Equipamento Usos
(kV) (mA)
Raio X Analítico 10-50 Análise de materiais.
Sistema de Inspeção de Inspeção de bagagem.
50-130 10-3-10
Aeroportos
Radiografia odontológica.
Raio X Diagnóstico 40-150 Radiografia médica.
Fluoroscopia médica.
Raio X Terapêutico 10-500 Radioterapia.
Raio X Industrial 100-400 Ensaios não-destrutivos.
Tomógrafo Diagnóstico médico.
120-140 28-1600
Computadorizado
20x10-3 Análise de
Microscópio Eletrônico 25-3x103 espécimes/amostras.
30x10-3
Evaporação de materiais.
Sistema de Feixe de
10-150 >100 Soldagem de materiais.
Elétrons a Vácuo
Fusão de materiais.
Geradores de Raio-X médico.
Retificadores e
Alimentador de tensão de
Estabilizadores Termiônicos >15
equipamento analítico de
de Alta Voltagem
Raio-X.
Aquecedores industriais
Triodos de Alta Voltagem >15 Válvulas transmissoras de
alta potência.
Unidades de Alta Voltagem Transmissor de alta potência
a Vácuo (Interruptor, Chave,
15-100 Estação comutadora de
Relê, Capacitor, Divisor de
potência.
Voltagem)
15,00 15000,00 Radar da Marinha.
Magnetron
30,00 97000,00 Radar de alta potência.
Klystron Radar.
(Fonte Pulsante - pulso: 20 2000
Transmissor de alta
280 25000
2,2μs - 50/s) freqüência.

1.3. GRANDEZAS E UNIDADES


As grandezas e unidades mais utilizadas em proteção radiológica são aquelas para
mensuração de características da fonte radioativa e as relacionadas à energia absorvida
da radiação pelo meio (dose).

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
20

1.3.1. ATIVIDADE
A atividade expressa a quantidade de transformações nucleares que ocorre por
unidade de tempo em um material contendo átomos com núcleos instáveis. Como em
cada transformação é emitida 1 partícula, e em muitos casos, 1 ou mais raios gama, a
atividade é uma medida da produção de radiação pelo material radioativo, e nos permite
avaliar quão radioativo é o material. A atividade é dada pela relação:
− λ t
A = A0 × e
Onde:
A = atividade atual de fonte
A0 = atividade inicial da fonte
λ = constante de decaimento (probabilidade de ocorrência da desintegração)
t = intervalo de tempo transcorrido

Quando estamos interessados em saber a radioatividade de um material, a massa


expressa em gramas não é uma boa medida da produção de radiação. Por exemplo, em
1 grama de rádio-226 irão ocorrer 3,7x1010 desintegrações por segundo com emissão
igual quantidade de partículas, já em 1 grama de césio-137 ocorrerão 314,5x1010
desintegrações por segundo. Uma unidade adequada para quantificação da
radioatividade deve ser baseada na atividade. Esta unidade é o Becquerel (Bq), a qual é
definida como a quantidade de material radioativo na qual um núcleo se desintegra por
segundo.
1Bq=1dps
Antes da padronização dessa unidade pelo Sistema Internacional, era adotada
como referência a atividade de 1 grama de Rádio, denominada Curie (Ci). Essa unidade
era definida como a quantidade de material radioativo na qual 3,7 x1010 núcleos se
desintegram por segundo. A equivalência entre as unidades é dada pela relação:
1Ci = 3,7x1010 Bq

1.3.2. MEIA-VIDA FÍSICA


A meia-vida física (T1/2) corresponde ao intervalo de tempo necessário para que a
quantidade de núcleos instáveis na amostra, ou seja, a atividade se reduza à metade da
quantidade inicial. A meia-vida física é inversamente proporcional à constante de
decaimento, segundo a relação:
0,693
T1/ 2 =
λ
A constante de decaimento é uma medida da probabilidade de ocorrência da
desintegração, e quanto maior é essa probabilidade menor é o tempo necessário para
que a atividade da fonte se reduza à metade.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
21

Quadro 1.1.
Sabendo-se que a atividade de uma fonte de Irídio-192 a 150 dias atrás era de 120
Curies, calcular a atividade atual da fonte.

Resposta:

A atividade atual e determinada a partir da equação:

• Primeiro temos de determinar a constante de decaimento a partir do valor da

meia-vida que é apresentado na tabela 1.4 - Meia-vida da fonte de Irídio 192

é 74,2 dias.

• Agora, vamos calcular o expoente :

• Com este valor podemos determinar o fator de decréscimo da atividade da

fonte desde a data de sua aquisição (faremos arredontamento até a segunda

casa decimal):

• Interpretando este resultado obsersamos que após 150 dias temos apenas

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
22

25% da atividade inicial. Aplicando este fator de redução ao valor da

atividade inicial, determinamos a atividade atual da fonte:

• Como o enunciado pede o valor da Atividade em becquereis, precisamos

fazer a conversão usando a relação:.

• O múltiplos do becquerel são:

(quilobecquereis)

(megabecquereis)

(gigabecquereis)

(terabecquereis)

(petabecquereis)

• Portanto a atividade atual será:

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
23

1.3.3. DOSE DE EXPOSIÇÃO


A quantidade de energia da radiação eletromagnética transferida para uma unidade
de massa de ar é denominada Dose de Exposição. A dose corresponde à densidade de
ionização produzida por unidade de massa de ar, e a unidade será dada em termos da
carga elétrica produzida por kg de ar. Portanto, a unidade de exposição (UE) é definida
como a quantidade de raios X ou gama que produz íons carregando 1 Coulomb de carga
de mesmo sinal por kg de ar, ou seja:
1 UE =1C/kg de ar
A equivalência entre a unidade de exposição definida pelo SI e a unidade de
exposição antiga (Roentgen) é dada pela relação:
1 UE =3881R
Como essa quantidade é uma função do campo de radiação, e este depende da
taxa de produção da radiação, geralmente o que se mede é a Taxa de dose de
Exposição. Ao multiplicarmos a taxa de dose pelo tempo total de exposição determinados
a dose recebida, conforme a equação:

X = X × Δt

1.3.4. DOSE ABSORVIDA


Como a dose de exposição não permitia quantificar a energia absorvida de
qualquer tipo de radiação ionizante por qualquer material, foi definida uma nova grandeza
de dose. A dose absorvida é definida como a quantidade de energia da radiação
absorvida por unidade de massa de material, sendo a sua unidade o Gray (Gy). O Gray é
a dose absorvida de 1 Joule por quilograma, ou seja:
1Gy=1J/kg
A equivalência entre a unidade de dose absorvida definida pelo SI e a unidade
antiga (rad) é dada pela relação:
1 Gy= 100 rad
Como essa dose depende da taxa de produção de radiação, o que se mede é a
taxa de dose absorvida, sendo a dose dada pela integração da taxa no tempo, conforme
a relação:

D = D× Δt
1.3.5. DOSE EQUIVALENTE OU DOSE DE EFEITO
Em sistemas biológicos, a mesma quantidade de dose absorvida de diferentes tipos
de radiação resultará em efeitos diferentes, posto que o efeito ou dano depende da
densidade de ionização produzida. Em virtude dessa variabilidade foi necessária a
definição da dose equivalente, a qual corresponde à dose absorvida necessária para
produzir um determinado efeito ponderada pela eficiência da radiação em produzir esse
efeito, ou seja:

H = D× Q , onde os valores do fator Q são dados na tabela 1.6.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
24

Tabela 1.6. Fator de qualidade segundo o tipo de radiação ionizante

Radiação Ionizante Fator Q


X, gama, beta e elétrons 1
Prótons e partículas com 1 unidade de carga,
10
massa >1 u.m.a. e energia desconhecida
Nêutrons de energia desconhecida 20
Alfa, fragmentos de fissão, íons pesados 20

A unidade de dose equivalente é o Sievert (Sv), o qual é definido como a dose


equivalente de radiação de 1 Joule por quilograma, ou seja:
1Sv=1J/kg
A equivalência entre a unidade de dose absorvida definida pelo SI e a unidade
antiga (rem) é dada pela relação:
1 Sv= 100 rem
Como essa dose depende da taxa de produção de radiação, o que se mede é a
taxa de dose equivalente, sendo a dose dada pela integração da taxa no tempo,
conforme a relação:

H = H × Δt

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
25

1.4. TESTES

1. As propriedades físico-químicas de um átomo são determinadas pela quantidade


de elétrons que tem em seus orbitais. Sendo o átomo eletricamente neutro ele
possui igual quantidade de prótons no seu núcleo que de elétrons nos seus orbitais.
Portanto átomos com igual número de prótons constituem um elemento químico.
Em relação aos elementos químicos, assinale a alternativa correta:
a) Os isótopos de um elemento químico são átomos com quantidades
diferentes de nêutrons;
b) Os isótopos de um elemento químico são átomos com quantidades diferentes de
elétrons;
c) Os isótopos de um elemento químico podem ter características observáveis, tais
como forma ou cor, diferentes;
d) Os isótopos de um elemento químico podem reagir quimicamente com outras
substâncias de forma diferente;
e) Os isótopos de um elemento possuem massa atômica igual.

2. A ionização e a excitação são os processos físicos que levam a alterações na


distribuição dos elétrons nos orbitais dos átomos. Estas alterações quando ocorrem
em átomos que constituem o corpo humano dão início a uma série de reações
químicas que podem danificar ou comprometer o funcionamento adequado das
células. Em relação a estes processos, pode-se afirmar que:
a) Na ionização o elétron ao absorver energia passa a executar uma órbita de raio
maior e ocupará um nível superior dentro da camada eletrônica;
b) Excitação é o processo físico no qual o elétron ao absorver a energia afasta-se
da influencia do campo elétrico nuclear a ponto de ser removido;
c) A quantidade de energia necessária para ionizar o elétron mais fracamente
ligado ao átomo é chamada de potencial de ionização;
d) Tanto na excitação quanto na ionização o elétron mais fracamente ligado ao
átomo é arrancado e forma-se um par eletrônico;
e) Os fragmentos gerados nesse processo (íons e radicais livres), são pouco
reativos.

3. A classificação da radiação como ionizante está relacionada à sua capacidade de


produzir ionização no corpo humano. Em relação à radiação ionizante assinale a
alternativa incorreta:
a) A energia mínima transportada pela radiação capaz de produzir ionização no
corpo humano é 12,4 eV;
b) Somente as partículas emitidas pelo núcleo têm energia cinética suficiente
para produzir ionização no corpo humano;
c) As radiações eletromagnéticas de comprimento de onda inferior a 100nm
transportam energia suficiente para produzir ionização no corpo humano;
d) Os elétrons, prótons e nêutrons com energia cinética superior a 12,4 eV são
radiações ionizantes;
e) Partículas alfa são exemplos de radiação ionizante

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
26

4. Ao ionizar o corpo humano a radiação transfere a sua energia produzindo pares


iônicos ao longo de sua trajetória. Esses pares iônicos irão reagir com outros
átomos interferindo no metabolismo celular ou danificando o DNA. Dependendo da
forma como a radiação transfere sua energia será classificada como diretamente ou
indiretamente ionizante. Assinale a alternativa incorreta:
a) As radiações diretamente ionizantes são partículas carregadas, pois a ionização
ocorre diretamente pela atração ou repulsão do elétron orbital;
b) As radiações indiretamente ionizantes são assim denominadas porque precisam
transferir sua energia para partículas carregadas existentes no meio;
c) As partículas alfa, partículas beta e os nêutrons são exemplos de radiações
diretamente ionizantes;
d) Os raios-X e os raios gama são exemplos de radiações indiretamente ionizantes;
e) Partículas gama são radiações indiretamente ionizantes.

5. Em geral, o medidor de gramatura em indústria de papel consiste de um


dispositivo contendo uma fonte de amerício-241, a qual emite basicamente
partículas alfa. O processo é automatizado e o operador atua apenas quando há
problemas e sua intervenção é movendo o dispositivo manualmente, fazendo o
alinhamento e acionando comandos no painel de controle. Quando existiria risco de
exposição que causasse dano ao operador?
a) durante a troca da fonte e alinhamento do dispositivo.
b) quando inalasse ou ingerisse o material radioativo durante a manipulação da
fonte.
c) quando se posicionasse em frente ao feixe de radiação.
d) não existe risco para o operador.
e) n.d.a.

6. Na indústria de tabaco a pesagem do fumo na linha de produção de cigarros é


feita com uso de fonte de estrôncio-90, a qual é emissora beta pura. A fonte fica
encerrada em dispositivo de aço. O operador trabalhando bem próximo ao
dispositivo estaria exposto a alguma radiação ionizante?
a) estaria exposto a partícula beta.
b) não teria risco de exposição à radiação ionizante.
c) estaria exposto aos Raios X.
d) estará exposto as partículas alfa.
e) estará exposto as partículas gama.

o
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Capítulo 1. Radiações Ionizantes I
27

7. Nos procedimentos de radiografia da arcada dentária os dentistas solicitam ao


paciente que segure o filme. Em termos de exposição à radiação ionizante, qual a
diferença de o paciente ou o dentista segurar o filme?
I. Caso o dentista segurasse o filme a sua dose anual seria maior que a do paciente
e sua exposição é freqüente.
II. Não existe diferença na exposição, o procedimento é meramente operacional.
III. O benefício recebido pelo paciente justifica a sua exposição e sua exposição é
eventual.
IV. Caso o dentista segurasse o filme, ele estaria protegido apenas se estivesse
com luvas.
Assinale a alternativa com as afirmativas corretas:
a) Apenas a I
b) Afirmativas I e II
c) Afirmativas I e III
d) Afirmativas II e IV
e) Todas as alternativas estão corretas

8. Assinale Verdadeiro ou Falso:


A radioatividade é definida como o fenômeno físico de emissão espontânea de
radiação ionizante por núcleos atômicos instáveis. Este fenômeno e as
propriedades radioativas de um núcleo dependem do estado físico ou químico em
que este se apresenta.
a) Verdadeiro
b) Falso

9. Assinale Verdadeiro ou Falso:


O eletron-volt é a energia adquirida por um elétron ao ser acelerado por uma
diferença de potencial de 1 volt.
a) Verdadeiro
b) Falso

10. Assinale Verdadeiro ou Falso:


A energia máxima com que os raios-X são emitidos é proporcional à diferença de
potencial aplicada (voltagem de operação), e a intensidade do feixe é proporcional
à corrente e à voltagem.
a) Verdadeiro
b) Falso

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
28

CAPÍTULO 2. RADIAÇÕES IONIZANTES II

OBJETIVOS DO ESTUDO
Possibilitar a compreensão dos aspectos principais da proteção radiológica. Neste
capítulo serão apresentados os efeitos biológicos, as normas básicas de proteção
radiológica e os meios controle das exposições.

Ao término deste capítulo você deverá estar apto a:


• Descrever os mecanismos de dano direto e indireto causado pela radiação
ionizante no corpo humano;
• Definir radiossensibilidade;
• Definir efeito determinístico e efeitos não-determinístico;
• Definir e aplicar os princípios básicos de proteção radiológica na análise do risco
de exposição à radiação ionizante;
• Definir áreas livre, restrita, controlada e supervisionada;
• Definir níveis de registro e de investigação;
• Calcular o limite derivado para trabalhadores e indivíduos do público a partir do
limite anual máximo admissível;
• Explicar os princípios para controle da exposição a fonte externa de radiação
ionizante;
• Calcular a dose recebida por indivíduo exposto a fonte externa de radiação
gama.
• Calcular a distância para isolamento de área em operações com fonte externa de
radiação gama;
• Dado o coeficiente de atenuação linear calcular a espessura da blindagem para
fonte externa de radiação gama;
• Calcular a número de camadas semi-redutoras necessárias para blindagem de
fonte externa de radiação gama;

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
29

2.1. EFEITOS BIOLÓGICOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE


O primeiro efeito, que ocorre quase instantaneamente após a irradiação, é físico e
consiste na ionização e excitação dos átomos e moléculas constituintes da célula. Os
fragmentos gerados nesse processo (íons e radicais livres), altamente reativos e
difusíveis, reagem quimicamente com as moléculas vizinhas e entre si. Essas reações
dão origem a outras, nas quais macromoléculas, tais como proteínas, e cadeias
metabólicas importantes sofrem alterações. Como resultado, ocorre a inibição ou retardo
na síntese de constituintes essenciais da célula, especialmente aqueles necessários para
manutenção da estrutura e função celulares ou para divisão e crescimento. Essas
alterações interferem temporariamente nas funções celulares ou, em casos mais
extremos, causam a morte celular.

2.1.1. AÇÃO DIRETA E INDIRETA DA RADIAÇÃO


A absorção da energia da radiação que ocorre por meio da ionização de outras
moléculas protoplasmáticas que não a água, pode diretamente danificar estruturas
celulares e comprometer funções vitais. A probabilidade de que as alterações em
estruturas essenciais levem ao caos celular depende de sua importância dentro da célula,
ou seja, quanto mais específicas, maior o dano. Quando as moléculas modificadas pela
ionização são um ácido nucléico, uma enzima ou uma proteína, podem ocorrer efeitos
específicos. A dissociação do ácido desoxirribonucléico danifica genes e, quando os
danos não são adequadamente reparados, leva a mutações que são transmitidas para a
próxima geração da célula irradiada.
Uma forma indireta de danificar moléculas importantes, tal como o DNA, é mediante
a produção de radicais livres no interior da célula. A ionização da água presente na
célula, decorrente da absorção da energia da radiação, resulta na formação desses
radicais que são altamente reativos. No caso de radiações com alta transferência linear
de energia (elevada densidade de ionização), tal como as partículas alfa, os radicais são
formados muito próximos, podendo reagir entre eles e formar peróxido de hidrogênio. Por
ser altamente estável, o peróxido pode difundir-se para pontos remotos danificando
moléculas ou células que não sofreram dano direto.

2.1.2. RADIOSSENSIBILIDADE
A rápida e intensa resposta da matéria viva frente ao impacto de uma irradiação é
denominada radiossensibilidade. Essa sensibilidade pode ser de uma célula, tecido ou
indivíduo.
A radiossensibilidade celular depende do estágio de divisão em que a célula se
encontra, sendo máxima entre a última telófase e o começo da prófase seguinte, quando
a cromatina oferece área superficial maior para irradiação. São mais sensíveis à radiação
as células que possuem taxa mitótica mais alta e mantêm por mais tempo a capacidade
de divisão. Outros fatores que aumentam a sensibilidade são a atividade metabólica
elevada e o maior grau de especialização da célula. A presença de oxigênio em elevada
concentração favorece a formação de peróxidos, conferindo maior sensibilidade à célula.
Estas características explicam a classificação apresentada na tabela 2.1., onde a maior

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
30

radiossensibilidade é para as células precursoras de células sangüíneas, menos


especializadas e com alta taxa mitótica.

Tabela 2.1. Classificação das células segundo a radiossensibilidade


Radiossensibilidade Tipo de Célula
Linfócitos, eritoblastos, mieloblastos, megacariócitos,
Máxima
epiteliais, basais da cavidade intestinal
Basais da pele, basais das glândulas secretoras,
Intermediaria
alveolares do pulmão, ductos biliares

Mínima Musculares, ósseas, cerebrais, nervosas, túbulos renais,


endoteliais

A quantidade de células precursoras e de células diferenciadas, a capacidade de


restauração e a freqüência de mitoses são as características teciduais que influem na
radiossensibilidade do tecido. A sensibilidade será aumentada em tecidos mais
vascularizados e com concentração elevada de oxigênio, principalmente pelo
favorecimento na formação dos peróxidos. Na tabela 2.2. nota-se que tecidos com
quantidade elevada de células precursoras são os mais radiossensíveis.

Tabela 2.2. Classificação dos tecidos segundo a radiossensibilidade


Radiossensibilidade Tipo de Tecido

Máxima Leucócitos, formadores de sangue, endócrino

Vasos sangüíneos, estruturas dérmicas, intestino, fígado,


Intermediária
pâncreas
Mínima Rim, músculo, fibrocartilagem, osso, nervo, gordura

2.1.3. SÍNDROME AGUDA DAS RADIAÇÕES


Quando o corpo todo ou a maior parte dele é exposto a uma grande dose aguda de
radiação penetrante (nêutrons, raios X e gama), desenvolve-se um quadro de afecções
denominada síndrome aguda das radiações. A síndrome envolverá mais órgãos ou
sistemas dependendo da dose recebida, e quanto maior a dose maior será o impacto
sobre o organismo. Em função da sua gravidade a síndrome aguda das radiações é
subdividida em síndrome hematopoiética, síndrome gastrintestinal e síndrome do sistema
nervoso central. Os sinais e sintomas comuns a todas as categorias são a ocorrência de
náuseas e vômitos, mal-estar e fadiga, estado febril e contagem alterada de células
sangüíneas.
A síndrome apresenta-se em três estágios: inicial ou prodrômico, latência e doença
manifesta. A rapidez com que a síndrome evolui de um estágio para outro depende da
dose recebida pelo indivíduo, sendo que para as doses letais o período de latência não
ocorre, evoluindo direto do estágio inicial para o da doença manifesta.
A fase prodrômica, também denominada fase tóxica, é caracterizada pela
ocorrência de náuseas e vômitos. A sua duração é de 1 a 2 dias, sendo que o período

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
31

tempo transcorrido entre a irradiação e o surgimento dos sintomas iniciais está


diretamente relacionado com a magnitude da dose. Passada essa fase o indivíduo sente-
se relativamente bem, devido o abrandamento dos sintomas, porém internamente estão
ocorrendo mudanças que irão produzir o quadro da doença manifesta. A extensão da
fase de latência varia com a dose recebida, podendo ser de dias, semanas ou ainda nem
ocorrer.
A fase da doença manifesta corresponde à culminação das alterações que vinham
se processando, desde a irradiação, na pele, tecidos hematopoiéticos e no revestimento
do intestino delgado. Os sinais e sintomas associados a cada órgão ou sistemas mais
diretamente envolvidos são:
• Pele: a epilação ocorre para doses a partir de 3,5 Gy, sendo completa e
permanente em 7,5 Gy. A perda de pelos ou cabelos é mais evidente nas
regiões do corpo que ficaram mais próximas da fonte de radiação;
• Órgãos Formadores de Sangue: seguindo doses relativamente baixas (acima
de 2 Gy) há a atrofia da medula óssea, do baço e dos gânglios linfáticos. Em
doses de 2 Gy ocorre a depressão medular e em 4 - 6 Gy há a aplasia medular.
O decréscimo das células do sangue periférico depende do tempo de vida da
célula em circulação e do tempo de maturação das células imaturas. Ocorre
inicialmente uma leucopenia, ficando o organismo susceptível a infecções,
particularmente na boca e garganta, podendo ocorrer pneumonia. A diminuição
da quantidade de plaquetas circulante, leva a hemorragias na pele e nos tratos
gastrintestinal, urinário e respiratório. As hemorragias podem ser pequenas,
como as petéquias, ou profusas. Algumas semanas após, com queda na
contagem de eritrócitos, a anemia fica evidente;
• Intestino Delgado: os distúrbios gastrintestinais aparecem em doses iguais ou
superiores a 10 Gy como resultado da destruição das células epiteliais do
intestino. Como as vilosidades ficam desnudadas ocorrem vômitos e diarréias
com grande perda de líquidos, incapacidade de absorção de alimentos e
infecções, decorrentes da invasão bacteriana nas paredes intestinais. Pode
ocorrer insuficiência renal ou circulatória;
• Sistema Nervoso Centra (SNC): doses superiores a 20 Gy causam graves
danos ao sistema nervoso central. Alguns minutos após a irradiação, ocorre a
inconsciência, com o óbito acontecendo em horas ou poucos dias. Os sinais e
sintomas específicos do comprometimento do SNC incluem ataxia,
desorientação, choque e convulsões. O edema cerebral pode vir a ser um
evento terminal.

2.1.4. OUTROS EFEITOS AGUDOS


Em circunstâncias de irradiação parcial aguda, em que nenhum sistema ou órgão
vital tenha sido exposto, efeitos localizados podem ser observados. Em face da sua
localização no corpo a pele é órgão que freqüentemente recebe doses elevadas em
irradiações acidentais. Para doses mais baixas (2 a 3 Gy) é observada a epilação.
Entretanto, à medida que a dose aumenta, mais estruturas cutâneas são envolvidas
ocorrendo eritema, radiodermatite, vesiculação, ulceração e necrose (>20 Gy). Nos olhos,

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
32

a inflamação da córnea e da conjuntiva pode ocorrer seguindo doses de vários Grays. A


irradiação dos ovários ou dos testículos com doses de poucos Grays pode levar à
esterilidade temporária, e em doses mais elevadas, à infertilidade.

2.1.5. EFEITOS TARDIOS


Os efeitos tardios são decorrentes de uma única irradiação aguda e elevada ou
exposição contínua a níveis de radiação mais baixos. Essa exposição contínua pode ser
devida à irradiação externa ou como resultado da ingestão ou inalação de radioisótopos,
que por sua similaridade química com metabólitos normais ficam depositados em tecidos
ou órgãos. Durante o tempo de residência desses radioisótopos dentro do organismo, os
tecidos ou órgãos são continuamente irradiados. Os efeitos tardios incluem o câncer, os
efeitos hereditários e as cataratas. Os tipos de câncer observados com maior freqüência
são aqueles afetando o sistema hematopoiético, os pulmões, a tiróide, os ossos e a pele.

2.1.6. ACIDENTES COM FONTES RADIOATIVAS


1983 – Constituyentes, Argentina
Morte de um indivíduo, seguindo uma excursão acidental durante a modificação do
núcleo do reator. A dose recebida foi estimada ser 7 - 20 Gy de raios γ e 14 - 17 Gy de
nêutrons.

1983 – Cidade Juarez, México


Exposição de 300 a 500 indivíduos, dez dos quais a doses de 1 a 3 Gy. Não houve
relato de mortes. A fonte consistiu de uma bomba de cobalto, armazenada
inadequadamente, a qual foi levada junto com um carregamento de sucatas metálica e
posteriormente convertida em aço processado.

1984 – Mohammedia, Marrocos


Uma fonte de Irídio-192, usada em radiografia industrial, extraviou-se e foi achada
por um transeunte que a levou para casa. Oito pessoas morreram em conseqüência da
exposição à dose elevada de radiação.

1986 – Texas, Estados Unidos


Duas mortes ocorreram em função de uma superexposição acidental em um
acelerador linear de partículas (duas mortes adicionais ocorreram do mesmo mau
funcionamento no Canadá e Yakima)

1986 – Chernobyl, antiga União Soviética


Acidente ocorrido durante testes de engenharia no reator de potência, para os quais
os sistemas de segurança foram desligados. Ocorreram duas mortes imediatas do
pessoal envolvido na operação do reator, em decorrência da explosão. Cerca de 145
indivíduos sofreram de síndrome aguda da radiação, dos quais 29 morreram nos
primeiros 3 meses.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
33

1987 – Goiânia, Brasil


13 de Setembro: Aparelho de radioterapia (bomba de césio) levado, de um prédio
abandonado, por catadores de papel. Os catadores apresentam vômitos.
15 de Setembro: Um dos catadores procura assistência médica por causa de
queimaduras na mão e antebraço.
19 de Setembro: O aparelho é vendido a um ferro-velho.
21 de Setembro: O dono do ferro-velho leva a maior parte da fonte para a sala da
sua casa. A fonte, com atividade de 1375 Ci, é violada, deixando livre o cloreto de césio
empastilhado. O dono distribui o pó a parentes e amigos, dando início a uma
contaminação de 250 pessoas. Maria Gabriela Ferreira, esposa do dono do ferro-velho, é
examinada em um hospital por apresentar vômitos e diarréia.
24 de Setembro: Leide das Neves Ferreira, 6 anos, passa o cloreto de césio em seu
corpo, e ingere um pouco do pó ao segurar com a mão contaminada o pão que comia.
28 de Setembro: A esposa do dono do ferro-velho, suspeitando que o mal-estar de
seus familiares fosse devido ao pedaço da fonte, auxiliada por dois empregados leva este
pedaço dentro de um saco plástico até o Centro de Vigilância Sanitária.
29 de Setembro: A CNEN é avisada do acidente, logo após a confirmação da
suspeita.
30 de Setembro: Chegam à localidade o diretor da DIN da CNEN, acompanhado de
dois técnicos, acionando o plano de emergência.
1 de Outubro: Seis pacientes são enviados ao Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio
de Janeiro.
3 de Outubro: Mais quatro pacientes são enviados para o Hospital Naval.
14 de Outubro: Um dos catadores teve o antebraço direito amputado.
23 de Outubro: Falece a esposa do dono do ferro-velho, Maria Gabriela Ferreira, e
sua sobrinha, Leide das Neves Ferreira.
27 de Outubro: Um dos funcionários do ferro-velho que manuseou o equipamento
vem a falecer.
28 de Outubro: Outro funcionário do ferro-velho que manipulou a fonte também
falece.
1 de Outubro: Seis pacientes são enviados ao Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio
de Janeiro.
30 de Setembro a 20 de Dezembro:
• 112.800 pessoas foram monitoradas pela CNEN. Dessas, 1000 (não
contaminadas) foram irradiadas com exposição acima da radiação natural.
Cerca de 97% receberam doses entre 0,20 e 10 mGy.
• 249 pessoas apresentaram contaminação interna e/ou externa, das quais 49
tiveram que ser internadas.
• 21 dessas pessoas demandaram atendimento médico intensivo. 10
apresentaram estado grave com complicação, e 1 teve o seu antebraço
amputado.
• Ocorreram 4 óbitos, 2 por hemorragia e 2 por infecção.
A dosagem citogenética dos 20 pacientes com síndrome aguda da radiação foi:
Grau I – 4 pacientes com dose entre 0,2 e 1 Gy
Grau II – 3 pacientes com dose entre 1 e 2 Gy

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
34

Grau III – 11 pacientes com dose entre 2 e 6 Gy (4 óbitos)


Grau IV – 2 pacientes com dose maior que 6 Gy

2.2. LIMITES PARA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE


Os limites para exposição humana à radiação ionizante, são estabelecidos para
proteger tanto o trabalhador que tem contato direto com a fonte de radiação, quanto
aquele cujo posto de trabalho ou área de trânsito é próxima à fonte. O primeiro é
denominado indivíduo ocupacionalmente exposto e o segundo, indivíduo do público.
Entretanto, a limitação da dose individual, é o terceiro princípio das normas de
proteção radiológica a ser considerado. O primeiro estabelece que a exposição deve ser
justificada, ou seja, os benefícios devem ser comprovados e superar os danos
eventualmente associados à prática. O segundo princípio determina que todos os
esforços devem ser feitos para manter as doses o mais baixo que for praticável.
Os limites ocupacionais de exposição foram fixados para prevenir os efeitos
determinísticos e limitar a ocorrência dos efeitos não-deterministicos. As principais
características dos efeitos determinísticos são:
• A curva dose resposta é sigmóide, ou seja, tem a forma de S. A gravidade do
efeito aumenta suavemente até um valor de dose a partir do qual o aumento é
mais acentuado chegando a um patamar de gravidade máxima, no qual
acréscimos de dose não resultam em mudança na gravidade;
• Apresenta limiar de dose, abaixo da qual nenhum efeito é esperado;
• À medida que a dose aumenta, a gravidade do efeito aumenta até atingir o
patamar, onde a gravidade é máxima;
• O indivíduo pode apresentar recuperação, quando o dano não é permanente.
São efeitos determinísticos a síndrome aguda das radiações, a catarata, a
radiodermatite e a radionecrose.
Os efeitos não-determinísticos apresentam as características:
• A curva dose resposta é linear;
• Não há limiar de dose, qualquer dose é eficaz para produzir o efeito;
• À medida que a dose aumenta, a probabilidade de ocorrência do efeito
aumenta;
• O indivíduo não apresenta recuperação – irreversibilidade do efeito;
• Uma única ionização pode dar origem ao efeito.
Os principais efeitos não-determinísticos são o câncer e os efeitos hereditários.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
35

Quadro 2.1.
Seguindo uma exposição da pele aos raios gama observou-se que dose absorvida
inferior a 3Gy não resultava no aparecimento de sinais clínicos. Após receber uma dose
absorvida de 3Gy de raios gama a pele irradiada apresentará eritema (avermelhamento).
Ao aumentar a dose para 8Gy ocorrerá descamação seca. Aumentando para 15Gy
ocorrerá a descamação úmida. Acima de 25Gy ocorrerá a necrose da pele.
O efeito descrito acima é determinístico, ou não determinístico? Explicar.

Resposta:

O efeito descrito acima, que se manifesta na pele seguindo a irradiação por

uma fonte externa de radiação gama, é determinístico. As suas característica são:

• Apresenta um limiar de dose abaixo do qual nenhum efeito é esperado –

abaixo de 3Gy não há evidencia de sinais clínicos na pele.

• A gravidade do efeito aumenta com o aumento da dose – para 3Gy ocorre o

sinal clínico mais brando(eritema) e a medida que a dose aumenta o

comprometimento do tecido vai aumentando até atingir a gravidade máxima

que é a morte da pele (necrose).

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
36

2.2.1. DIRETRIZES BÁSICAS DE RADIOPROTEÇÃO – CNEN NE 3.01


Princípios Básicos:
Justificação: nenhuma prática deve ser autorizada a menos que sua introdução
produza um benefício líquido positivo para a sociedade.
Otimização: todas as exposições devem ser mantidas tão baixas quanto
razoavelmente exeqüíveis, levando-se em conta fatores sociais e econômicos.
Limitação da Dose Individual: as doses individuais de trabalhadores e indivíduos do
público não devem exceder os limites anuais de dose equivalente estabelecidos na
Norma.
Limitação da Dose:
• Nenhum trabalhador deve ser exposto sem que seja necessário, que tenha
conhecimento dos riscos e esteja devidamente treinado;
• Em exposições de rotina, nenhum trabalhador deve receber, por ano, doses
equivalentes superiores aos limites da Tabela 2.3.;
• Nenhum indivíduo do público deve receber, por ano, doses superiores aos
limites estabelecidos na Tabela 2.3.;

Tabela 2.3. Limites primários anuais de dose equivalente

Dose Equivalente Trabalhador Indivíduo do Público


50 mSv (5 rem)*
Dose equivalente efetiva 1 mSv (0,1 rem)
20 mSv (2 rem)**
Dose equivalente para órgão ou tecido t 500 mSv (50 rem) 1 mSv/wt (0,1 rem/wt)
Dose equivalente para pele 500 mSv (50 rem) 50 mSv (5 rem)
Dose equivalente para cristalino 150 mSv (15 rem) 50 mSv (5 rem)
Dose equivalente paras as extremidades 500 mSv (50 rem) 50 mSv (5 rem)
*limite de dose para exposições eventuais
**limite de dose para exposições freqüentes
Fonte: Diretrizes Básicas de Radioproteção – NE-3.01 – CNEN.

Observação: extremidades são mãos, antebraços, pés e tornozelos. Wt é o fator de


ponderação para tecido ou órgão t.
A tabela 2.4. apresenta os riscos específicos a que indivíduos estão expostos
segundo tecido/órgão afetado.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
37

Tabela 2.4. Fator de ponderação para órgão ou tecido t

Tecido/ Órgão Risco (Sv-1) Wt


Risco genético para as duas primeiras
Gônadas 4,0x10-3 0,25
gerações
Média para todas as idades e ambos
Mama 2,5x10-3 0,15
os gêneros
Medula óssea vermelha 2,0x10-3 Leucemia 0,12
-3
Pulmão 2,0x10 Câncer 0,12
-4
Tiróide 5,0x10 Câncer fatal 0,03
-4
Superfície dos ossos 5,0x10 Osteossarcoma 0,03
Câncer, assumindo que nenhum
-3
Restante 5,0x10 tecido contribui com mais de 1/5 0,30
desse total
Total 1,6x10-2 1,00
Fonte: Diretrizes Básicas de Radioproteção – NE-3.01 – CNEN.

Controle de Área:
Área Livre: isenta de regras especiais, onde as doses equivalentes efetivas anuais
(DEEA) não ultrapassam o limite primário para indivíduos do público.
Área Restrita: sujeita a regras especiais, onde as condições de exposição podem
ocasionar DEEA superiores a 2/100 do limite primário para trabalhadores.
Área Controlada: área restrita onde as DEEA podem ser iguais ou superiores a 3/10
do limite primário para trabalhadores.
Área Supervisionada: área restrita onde as DEEA são mantidos inferiores a 3/10 do
limite primário para trabalhadores.
Controle dos Trabalhadores:
• Nível de registro deve ser 1/10 da fração do limite anual aplicado ao período de
monitoração;
• Nível de investigação deve ser 3/10 da fração do limite anual aplicado ao
período de monitoração;
• Em áreas controladas as pessoas devem ser monitoradas individualmente;
• Imediatamente após exposições acidentais ou de emergência as doses devem
ser avaliadas;
• Devem ser submetidos a controle médico, trabalhadores que receberem, em
uma única exposição, dose superior a 2 vezes o limite primário.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
38

Quadro 2.2.
A gamagrafia industrial é um ensaio não-destrutivo no qual é feita a radiografia de
peças com uso de radiação gama, normalmente gerada por fonte de Irídio-192. Durante a
operação a fonte é posicionada em um dos lados da peça e do lado diametralmente
oposto é colocado um filme radiográfico. A exposição do filme à radiação gama produzirá
a precipitação dos sais de prata, sendo o grau de enegrecimento do filme proporcional a
quantidade de precipitado. Nas áreas mais espessas da peça passará menos radiação,
consenquentemente haverá menor precipitação e a coloração do filme será mais clara.

Para efetuar a radiografia o operador posiciona o filme na face oposta da peça em


relação à incidência da radiação, de modo que no filme aparecerão as características
estruturais da peça. Nesta atividade o operador de gamagrafia industrial está
frequentemente exposto à radiação gama.

Calcular a taxa de dose equivalente em mSv/h (limite derivado), considerando uma


jornada de 40 horas por semana e um total de 50 semanas por ano.

Resposta:

Como o operador está diretamente envolvido na atividade com fonte de

radiação ele é considerado trabalhador (indivíduo ocupacionalmente exposto). Da

tabela 2.3. temos que para exposição freqüente de trabalhador a dose equivalente

anual não pode exceder a 20 mSv.

Devemos primeiro calcular o limite de dose equivalente por semana, dividindo

a dose anual pelo total de semanas no ano:

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
39

Agora calculamos a taxa de dose equivalente em mSv/h dividindo o limite por

semana pelo total de horas trabalhadas na semana:

Portanto a taxa de dose equivalente para o trabalhador é 0,01mSv/h.

2.3. CONTROLE DA EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE


2.3.1. FONTE DE RADIAÇÃO EXTERNA
As formas básicas de proteção contra a irradiação por uma fonte externa de
radiação ionizante são:

2.3.1.1. Tempo
A dose recebida pelo indivíduo é diretamente proporcional ao tempo de exposição,
desse modo quanto menos tempo ele permanece junto à fonte de radiação menor será a
sua dose. Por exemplo, se a taxa de dose equivalente a que um indivíduo estaria exposto
fosse 100 Sv/h, teríamos as doses equivalente de 100 Sv para 1hora, 50 Sv para 30
minutos e 25 Sv para 15 minutos.

H = H × Δt
• Sv
H = 100 ×
h
1h → H = 100 × Sv
30 min → H = 50 × Sv
15 min → H = 25 × Sv

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
40

2.3.1.2. Distância
A dose varia aproximadamente com o inverso do quadrado da distância, então
quanto maior a distância mantida entre o indivíduo e a fonte, menor é a dose recebida.
No caso de fontes emissoras alfa e emissoras beta a distância em relação à fonte já é
uma forma eficiente de proteção, posto que essas partículas têm um alcance
relativamente curto, tendo sua energia absorvida pela camada de ar existente entre a
fonte e o indivíduo. A relação da taxa de dose de exposição para uma fonte emissora
gama é:
• ΓA
X =
d2

Onde:
Γ = a constante de emissão específica de raios gama da fonte, a qual depende da
energia e da quantidade de raios gama emitidos.
A = a atividade da fonte.
D = distância entre a fonte e o ponto de medição

X = taxa de dose de exposição

Na tabela 2.5. são apresentados os valores da constante força da fonte, nas


unidades do SI e antiga, para alguns dos radioisótopos mais utilizados.

Tabela 2.5. Valores da constante Γ segundo o radionuclídeo

Γ
Radionuclídeo -1 2 -1 -1
Ckg m Bq h Rm2Ci-1h-1
Césio-137 2,30x10-15 0,33
-15
Cobalto-60 9,19x10 1,32
-15
Irídio-192 3,34x10 0,48
-15
Iodo-131 1,53x10 0,22
-15
Potássio-42 1,39x10 0,14
-15
Rádio-226 5,75x10 0,825
-15
Sódio-22 8,36x10 1,2
-15
Sódio-24 12,80x10 1.84

Por exemplo, se a taxa de dose de exposição à qual o indivíduo estivesse exposto


a 1 metro da fonte fosse 100 Ckg-1h-1, ao dobrarmos a distância esse valor seria reduzido
a 25 Ckg-1h-1, ao triplicarmos seria 11,1 Ckg-1h-1 e ao quadruplicarmos seria
6,25 Ckg-1h-1.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
41

Quadro 2.3.
Em decorrência de um acidente operacional o operador do irradiador para
esterilização de seringas descartáveis permaneceu a 50cm (0,5m) da fonte de Cobalto-
60, cuja atividade no dia era de 48.000 Curies, por um tempo estimado em 27 minutos.
Qual a dose de exposição a que o trabalhador esteve exposto? Algum limite foi
ultrapassado?
Resposta:

Sabe-se que:

a) A fonte de gamagrafia é de Cobalto-60 e sua atividade no dia do acidente

era de 48.000 Ci

b) Como está diretamente envolvido na atividade com a fonte radioativa

este trabalhador é considerado como ocupacionalmente exposto.

c) Da tabela 2.3. temos que a dose equivalente efetiva H dever ser inferior a

2 rem no período de 1 ano e que a dose equivalente H por órgão ou tecido deve ser

inferior a 50 rem;

d) Da tabela 2.5. temos que a constante de emissão específica de raios

gama da fonte é:

e) Considere que:

f) Como, para raio gama, FQ = 1, então H=D (1 rem = 1 rad)

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
42

g) Uma unidade de dose absorvida em rad é aproximadamente igual a uma

unidade de dose de exposição em R. (1 rad ≅ 1 R)

Calculemos a taxa de dose de exposição:

Calculemos a dose recebida nos 27 minutos em que esteve exposto:

Calculemos a dose absorvida de radiação gama:

Calculemos a dose equivalente de radiação gama:

como para raio gama FQ=1rem/rad

Comparando este valor (114048rem) com os valores da tabela 2.3 (2rem e

50rem), temos que os limites foram ultrapass

ados.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
43

Quadro 2.4.
Ao realizar a atividade de gamagrafia de solda um dos procedimentos requeridos é
o isolamento físico da área com uso de cordas, conhecido como balizamento. O objetivo
é que as taxas de dose a partir da delimitação sejam tais que os limites anuais máximos
admissiveis não sejam ultrapassados. Como a dose para trabalhadores e para indivíduos
do público são diferentes, serão delimitadas duas áreas: a restrita (acesso permitido
apenas para indivíduos ocupacionalmente expostos à radiação ionizante) e a livre
(acesso livre para todos os trabalhadores). A dose para trabalhadores é maior do que
para indivíduos do público, portanto a distância para delimitação da área restrita será
menor do que a distância para área livre.
Sabendo que na operação de gamagrafia de solda é usada uma fonte de Irídio-192
com atividade no dia da operação de 30Ci, calcule a distância de balizamento para
trabalhadores e indivíduos do público. Para o cálculo da distância o valor de dose
equivalente a ser considerado deve ser o mais retritivo, ou seja o menor valo, de modo
que nenhum limite venha ser ultrapassado. O valor considerado é de dose equivalente
efetiva. A exposição dos operadores de gamagrafia é frequente.

Resposta:

Primeiro devemos calcular a taxa de dose de exposição (limite derivado) para

trabalhadores e indivíduos do público. Para este cálculo iremos considerar o ano

com 50 semanas, e a jornada com 40h semanais.

Da tabela 2.3 temos que a dose equivalente efetiva para trabalhadores com

exposição freqüente é 2rem e a dose equivalente efetiva para indivíduos do público

é 0,1 rem.

Portanto a taxa de dose equivalente para indivíduos do público será:

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
44

Como para raios gama FQ=1

Para raios gama o fator de conversão de dose absorvida para dose de

exposição é 1:

Fazendo cálculos similares para trabalhadores temos:

Agora iremos calcular distância de balizamento usando a equação que

relaciona a taxa de dose de exposição com o distância:

Passando a distância para a esquerda e a taxa de dose de exposição para a

direita:

Extraindo a raiz quadrada:

o
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45

Da tabela 2.5 temos que a constante de emissão específica de raios gama da

fonte de Irídio-192 é:

Calculando a distância para indivíduos do público, temos:

Calculando a distância para trabalhadores, temos:

2.3.1.3. Blindagem
Se o indivíduo tiver que trabalhar próximo à fonte por um longo período, a proteção
mais eficiente é a blindagem da fonte ou a interposição de uma barreira.
A atenuação de um feixe de raios gama é dada por:
I = I 0 × e − μx
Onde:
I = intensidade final do feixe de raios gama (após atravessar a blindagem).
I0 = intensidade inicial do feixe de raios gama (antes de atravessar a blindagem).
μ = coeficiente de atenuação linear do material, o qual é dependente da energia do raio
gama.
x = espessura do material.
A intensidade inicial (I0) pode ser determinada a partir da relação:
• ΓA
X =
d2

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
46

O coeficiente de atenuação linear é uma medida da probabilidade que a interação


do raio gama com o material ocorra, assim para uma dada energia quanto maior o
número atômico do material, maior é essa probabilidade. Portanto, o termo e-μx
representa o fator de redução do feixe de raios gama, o qual varia de 1 a 0. Ao ser
aplicado sobre a intensidade inicial nos fornece o quanto sobrou após a interposição da
barreira. Por exemplo, se o fator de redução é 0,25 isto significa que após interpor a
barreira sobraram 25% dos raios gama que existiam inicialmente no feixe. Na tabela 2.6
são apresentados os valores do coeficiente de atenuação linear para água, alumínio e
chumbo para alguns valores de energia de raio gama.

Tabela 2.6. Valores de camada semi-redutora segundo material e energia do raio gama

Energia Água Alumínio Chumbo


(MeV) μ(cm-1) HVL(cm) μ(cm-1) HVL(cm) μ(cm-1) HVL(cm)

0,2 0,196 3,536 0,360 1,925 5,000 0,139

0,5 0,133 5,210 0,230 3,013 1,600 0,433

1,0 0,071 9,761 0,168 4,125 0,790 0,877

1,5 0,057 12,158 0,136 5,096 0,590 1,175

2,0 0,050 13,860 0,117 5,923 0,504 1,375

2,5 0,044 15,750 0,104 6,664 0,472 1,468

3,0 0,040 17,325 0,096 7,219 0,460 1,507

4,0 0,035 19,800 0,083 8,349 0,468 1,481

5,0 0,031 22,355 0,075 9,240 0,488 1,420

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
47

Quadro 2.5.
Um irradiador usado para esterilização de seringas descartáveis irá operar com
uma fonte de Cobalto-60 cuja atividade máxima será de 125000Ci. Para proteção dos
trabalhadores que ficarão na sala de controle adjacente à sala de irradiação será
construída uma parede de chumbo. Sabendo que a fonte ficará a 2m da parede, calcular
a espessura de chumbo necessária para que a dose anual para trabalhadores não seja
ultrapassada.

Resposta:

Sabe-se que:

A fonte é de Cobalto-60 e sua atividade será 125000 Ci

Como a exposição à radiação dos trabalhadores que operam o irradiador é

frequente. Da tabela 2.3 temos que a dose equivalente efetiva é 2rem e a taxa de

dose de exposição é 0,001R/h (conforme cálculo efetuado no quadro 2.3).

Da tabela 2.5. temos que a constante de emissão específica de raios gama da

fonte é:

Primeiramente devemos calcular a taxa de dose de exposição a 2m da fonte.

Agora vamos calcular qual seria o fator de redução necessário para que o

limite não seja ultrapassado:

Temos que a intensidade do feixe que atravessa a blindagem deve ser igual a

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
48

taxa de dose de exposição de 0,001R/h

Usando a equação de atenuação de raios gama e passando I0 para a esquerda

podemos determinar o fator de redução:

Aplicando o logarítimo neperiano em ambos os termos:

Passando o coeficiente de atenuação linear para a direita

Para determinar o valor de μ consultamos a tabela 1.4 e verificamos que a

energia maior do raio gama emitido pelo Cobalto-60 é 1,332MeV. Comparamos este

valor com os apresentados na tabela 2.6. Como não há o valor exato, por

segurança, adotamos o valor imediatamente superior (1,5MeV). Para esta energia o

coeficiente de atenuação linear para o chumbo é 0,590cm-1. Substituindo este valor

na equação:

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
49

Para que a

dose equivalente efetiva anual para trabalhadores não seja excedida a

espessura da parede deverá ser 29,71cm de chumbo.

Uma grandeza muito utilizada é a camada semi-redutora ou HVL (Half Value Layer)
que corresponde à espessura de material que reduziria a intensidade do feixe de
radiação gama à metade. A relação entre a camada semi-redutora e o coeficiente de
atenuação linear é obtida ao substituir-se I por I0/2,:
I0
= I 0 × e − μ HVL
2
Passando a exponencial para a esquerda e I0/2 para a direita temos:
2
e μ HVL = I 0 × ⇒ e μ HVL = 2
I0
Aplicando logarítimo neperiano em ambos os termos da equaçao temos:
ln e μ HVL = ln 2
Segundo a propriedade dos logarítimos podemos passar o expoente para a frente
do logarítimo:
μ HVL ln e = ln 2
Como lne=1 e ln2=0,693, substituindo na equação temos:
μ HVL = 0 , 693 0,693
ou HVL =
μ
Na tabela 2.6. são apresentados valores de camada semi-redutora para água,
alumínio e chumbo.

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
50

A eficiência da blindagem para controle da exposição a fonte de externa de


radiação gama pode ser notada no exemplo abaixo:
• Sv • Sv
H = 1000 × H = 4000 ×
h h
Sv Sv
1HVL → 500 × 1HVL → 2000 ×
h h
Sv Sv
2 HVL → 250 × 2 HVL →1000 ×
h h
Sv Sv
3HVL → 125 × 3HVL → 500 ×
h h
Sv
4 HVL → 250 ×
h
Sv
5HVL → 125 ×
h
Neste exemplo verificamos que uma taxa de dose equivalente de 1000 Sv/h será
reduzida a 125 Sv/h com 3 HVL, ao quadruplicarmos a taxa de dose, serão necessárias
apenas mais 2 HVL para reduzi-la a 125 Sv/h.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
51

Quadro 2.6.
Um irradiador usado para esterilização de seringas descartáveis irá operar com
uma fonte de Cobalto-60 cuja atividade máxima será de 125000Ci. Para proteção dos
trabalhadores que ficarão na sala de controle adjacente à sala de irradiação será
construída uma parede de chumbo.
• Sabendo que a 2m da fonte a taxa de dose de exposição é 41250R/h, calcular
quantas camadas semi-redutoras será necessário para reduzir a taxa de dose
de exposição a 0,001R/h.
• A partir do total de camadas semi-redutoras obtidas no item anterior, calcular a
espessura de água, alumínio e chumbo necessária para blindagem. Usar os
valores correspondentes à energia de raio gama de 1,5MeV.

Resposta:

A camada semi-redutora (HVL) é definida como a espessura de material

necessária para reduzir a intensidade do feixe de raios gama à metade. Portanto

aplicando este conceito temos:

Colocando a primeira camada semi-redutora a intensidade do feixe será:

Colocando a segunda camada semi-redutora a intensidade do feixe será:

Colocando a terceira camada semi-redutora a intensidade do feixe será:

o
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Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
52

Ao adicionarmos a enésima camada semi-redutora a intensidade do feixe

será:

a) Usando esta equação para a determinação do número de HVL temos:

Passando 2n para a esquerda e a intensidade final para a direita:

Aplicando o logaritmo neperiano nos dois lados da equação:

Da propriedade dos logaritmos, passamos o expoente para frente do termo

da esquerda:

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
53

Para reduzir a taxa de dose de exposição inicial a 0,001R/h será necessária a

interposição de 25,3 camadas semi-redutoras.

b) Para este cálculo usaremos a equação:

Da tabela 2.6. temos que a HVL para a água é 12,158cm, substituindo este

valor na equação

Da tabela 2.6. temos que a HVL para o alumínio é 5,096cm, substituindo este

valor na equação

Da tabela 2.6 temos que a HVL para o chumbo é 1,175cm, substituindo este

valor na equação:

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
54

2.4. TESTES
1. Nos procedimentos de radiografia da arcada dentária os dentistas solicitam ao
paciente que segure o filme. Em termos de exposição à radiação ionizante, qual a
diferença de o paciente ou o dentista segurar o filme?

I. Caso o dentista segurasse o filme a sua dose anual seria maior que a do paciente
e sua exposição é freqüente.
II. Não existe diferença na exposição, o procedimento é meramente operacional.
III. O benefício recebido pelo paciente justifica a sua exposição e sua exposição é
eventual.
IV. Caso o dentista segurasse o filme, ele estaria protegido apenas se estivesse
com luvas.

a) Apenas a alternativa II está correta.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas I e III estão corretas.
d) Apenas as alternativas III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

2. Em um acidente ocorrido em 2005 com uma fonte de cobalto-60 utilizada para


esterilização de seringas descartáveis, o operador ficou a 0,3 metro da fonte,
durante 30 minutos. Qual a dose equivalente, em rem, recebida pelo operador
nesse acidente, sabendo-se que a atividade da fonte em 2005 era 20.000Ci?

a) 146.666 rem.
b) 293.333 rem.
c) 44.000 rem.
d) 8.799.990 rem.
e) 1.466.666 rem.

3. Para realização de uma operação de gamagrafia de solda com uma fonte de


12Ci de Irídio-192, deve ser feita a delimitação da área de acesso livre (indivíduos
do público) e de acesso restrito (indivíduos ocupacionalmente expostos). Sabendo-
se que o limite em taxa de dose de exposição para indivíduos do público é
0,00005R/h e para indivíduos ocupacionalmente expostos é 0,001R/h, quais os
valores de distância para delimitação das áreas?

a) 16 m para trabalhadores e 1520 m para indivíduos do público.


b) 76 m para trabalhadores e 1520 m para indivíduos do público.
c) 16 m para trabalhadores e 339 m para indivíduos do público.
d) 76 m para trabalhadores e 339 m para indivíduos do público.
e) 76 m para trabalhadores e 678 m para indivíduos do público.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 2. Radiações Ionizantes II
55

4. Deve ser construído um recipiente para transporte de fonte de Irídio-192 com


capacidade máxima para 30Ci. Sabendo-se que fonte ficará uma distância de 10cm
de cada parede do recipiente, qual a espessura de chumbo requerida para
blindagem? Considerar no cálculo a taxa de dose de exposição para trabalhadores
(0,001R/h).

a) 8,86 cm.
b) 17,95 cm.
c) 16,17 cm.
d) 32,75 cm.
e) 35,90 cm.

5. Quantas camadas semi-redutoras são necessárias para reduzir a taxa de dose


de exposição de 100R/h à taxa de dose de exposição de 0,00005R/h?

a) 7,3 camadas semi-redutoras.


b) 17,6 camadas semi-redutoras.
c) 27,6 camadas semi-redutoras.
d) 20,9 camadas semi-redutoras.
e) 2,1 camadas semi-redutoras.

o
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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
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CAPÍTULO 3. RADIAÇÕES IONIZANTES III

OBJETIVOS DO ESTUDO
Possibilitar a compreensão dos aspectos principais da proteção radiológica. Neste
capítulo serão apresentados os conceitos de irradiação interna e contaminação
radioativa, procedimentos de descontaminação, meios para controle do risco de
irradiação interna e tipos de equipamentos para detecção das radiações ionizantes.

Ao término deste capítulo você deverá estar apto a:


• Definir irradiação interna e contaminação radioativa;
• Descrever os mecanismos de contaminação radioativa;
• Descrever os procedimentos para descontaminação interna e externa;
• Descrever os meios para controle do risco de irradiação interna;
• Definir os termos: meia-vida biológica e meia-vida efetiva;
• Explicar os critérios técnicos para seleção de detectores de radiação ionizante;
• Descrever os tipos de medidores de radiação ionizante e respectivos
mecanismos para detecção da radiação.

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
57

3.1. RADIAÇÃO INTERNA


A irradiação interna é decorrente da ingestão, inalação ou absorção percutânea de
material radioativo. A irradiação ocorre durante a passagem do material radioativo dentro
do corpo e após a sua deposição em órgãos ou tecidos. Este material permanecerá
irradiando os tecidos até sua completa eliminação pelo organismo.
As formas de proteção adotadas quando existe o risco de irradiação interna visam
prevenir o contato com o material radioativo, bem como a sua inalação ou ingestão. O
tipo de controle ou de equipamento de proteção individual a ser adotado dependerá das
características físico-químicas do radioisótopo. As formas de controle geralmente
adotadas são:
• Uso de roupas, máscaras, luvas e sapatos para prevenir a contaminação da
pele e a inalação de gases, vapores ou partículas radioativas;
• Manipulação de material radioativo em capelas ou sistemas enclausurados;
• Sistema de ventilação local exaustora provido de dispositivo de purificação do
ar (filtros, lavadores de gases) nos locais de manipulação e ventilação geral nas
áreas de trabalho.

3.2. CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA


A incorporação e subseqüente retenção das substâncias radioativas em tecidos ou
órgãos específicos do corpo resultam na irradiação dos locais em que se encontram
concentrados, o que poderá causar danos. O tipo ou grau de dano causado depende da
quantidade de isótopo radioativo depositado e da natureza (partículas carregadas,
radiação eletromagnética, nêutrons) e energia da radiação emitida. As características
físico-químicas do isótopo determinam a rota de entrada preferencial, o grau de retenção
e o caminho percorrido dentro do corpo até sua excreção.
As rotas de entrada para os radioisótopos são a inalação, ingestão e absorção
percutânea. Após a sua ingestão ou inalação o isótopo é absorvido nos tratos digestivo e
respiratório, atinge a corrente sangüínea, e por meio dessa é distribuído pelo corpo,
depositando-se em tecidos corpóreos. Em geral, os materiais insolúveis não são
absorvidos, e sua eliminação pelos tratos digestivo e respiratório é razoavelmente rápida.
No caso de materiais insolúveis, dependendo do tamanho e forma dos
aerodispersóides, eles podem ser removidos pela ação ciliar da mucosa do trato
respiratório ou penetrarem nos sacos alveolares, ficando ali retidos. Apenas partículas
com diâmetro igual ou inferior a 10 micrômetros atingem esse ponto dentro da árvore
respiratória. Uma parte do material depositado nos alvéolos é capturado pelo sistema
linfático e drenado para várias regiões do pulmão, podendo permanecer nos gânglios
linfáticos por um longo período. Uma pequena fração pode atingir a corrente sangüínea e
ser capturada pelo sistema reticulendotelial em várias regiões do corpo.
O material insolúvel ingerido permanece no trato gastrintestinal, misturando-se ou
fazendo parte do bolo fecal no intestino grosso, até ser eliminado. Entretanto, quando a
substância ingerida é solúvel a absorção pelo sistema digestivo é eficiente, atingindo
rapidamente a corrente sangüínea.
Algumas substâncias, tal como o trítio, são prontamente absorvidas através da pele
intacta, atingindo a corrente sangüínea. Nesse caso a rota dérmica é uma via importante
de incorporação do radioisótopo. As demais substâncias depositam-se na pele,

o
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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
58

irradiando-a até serem removidas. Nesse caso, o risco de incorporação é considerável


apenas quando a pele que está em contato com a substância radioativa apresenta-se
danificada (presença de cortes ou ferimentos).
Os principais meios de eliminação do material incorporado são pelas fezes ou
urina. A taxa de eliminação é normalmente expressa como meia-vida biológica, e
depende da metabolização da substância pelo organismo. Essa grandeza é definida
como o período de tempo necessário para que metade do material incorporado seja
eliminado ou excretado. O risco total representado pela incorporação de radioisótopos
depende dose recebida, a qual é uma função da quantidade do material radioativo
depositado. Portanto a meia-vida efetiva corresponde ao período de tempo requerido
para que a quantidade de material radioativo incorporado se reduza à metade. Essa
quantidade irá variar em função da meia-vida física e da meia-vida biológica desse
radioisótopo, segundo a relação:
T1 / 2 biológica × T1 / 2 física
T1 / 2 efetiva =
T1 / 2 biológica + T1 / 2 física

Na tabela 3.1. são apresentados a meias-vida e o local de deposição de alguns


isótopos radioativos.

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Tabela 3.1. Meias-vida efetiva, biológica e física segundo o radionuclídeo e órgão de


deposição

T1/2física T1/2biológica T1/2efetiva


Isótopo Órgão
(dias) (dias) (dias)
3
1 H (óxido) Tecidos corpo 4,5x103 12 12
22
11 Na Corpo todo 950 11 11
32
15 P Ossos 14,3 1155 (257) 14,1
36
17 Cl Corpo todo 1,2x108 29 29
45
20 Ca Ossos 164 1,8x104(1,64x104) 162
59
26 Fe Baço 45,1 600 (800) 41,9
60
27 Co Corpo todo 1,9x103 9,5 9,5
65
30 Zn Corpo todo 245 933 194
90
38 Sr Ossos 1,0x104 1,8x104 (1,3x104) 6,4x103
131
53 I Tiróide 8 138 7,6
137
55 Cs Corpo todo 1,1x104 70 70
140
56 Ba Ossos 12,8 65 10,7
226
88 Ra Ossos 5,9x105 1,64x104(900) 1,6x104
234
92 U Ossos 9,1x107 300(100) 300
235 11
92 U Rim 2,6x10 15 (100) 15
239 4 4
93 Np Ossos 2,33 7,3x10 (3,9x10 ) 2,33
239 6 4 4
94 Pu Ossos 8,9x10 7,3x10 (6,5x10 ) 7,2x104
241
94 Pu Ossos 4,8x103 7,3x104 (6,5x104) 4,5x103
Fonte: adaptada da Publicação 2 do ICRP.

Observação: T1/2biológica para o órgão críticos e para o corpo inteiro, em parênteses,


quando diferente do órgão crítico.

3.3. DESCONTAMINAÇÃO
O material radioativo deve ser removido ou eliminado do corpo o mais prontamente
possível, a fim de reduzir a dose interna e externa que o indivíduo venha a receber. Na
descontaminação pessoal externa adota-se métodos progressivamente agressivos, até a
total remoção do material depositado. Este procedimento deve ser cuidadosamente
realizado para preservar ao máximo a barreira mecânica proporcionada pela pele intacta.
Os métodos em ordem agressividade são apresentados na tabela 3.2.

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Tabela 3.2. Procedimentos para descontaminação externa segundo agressividade


Grau
Método de Descontaminação Pessoal Externa
Agressividade
I Jateamento com água
II Água morna e sabão
III Sabão abrasivo suave, escova macia e água
IV Detergente
V Mistura 50% detergente em pó e 50% fubá
VI Solução quelante
VII Ácido orgânico suave (ácido cítrico)

Após a descontaminação externa, os indivíduos devem tomar um banho completo,


com especial atenção para lavagem dos cabelos, mãos e unhas.
Em caso de contaminação interna, o objetivo dos métodos adotados é reduzir a
absorção e eliminar a maior parte retida no organismo. Os métodos de eliminação
incluem a excreção renal dos materiais mais solúveis, eliminação nas fezes daqueles
retidos no trato gastrintestinal ou secretados por via biliar, e a exalação de gases e
substâncias voláteis.
Os procedimentos de descontaminação pessoal interna estão compreendidos em
duas fases, a primeira de ordem mecânica e a segunda de natureza química. A fase
mecânica intervém durante o período pré-metabólico e visa impedir a permanência da
substância no organismo ou acelerar a sua excreção, sendo o procedimento dependente
da rota de entrada da substância. Em caso de inalação de substâncias insolúveis
administra-se expectorante comum. Quando há a ingestão de materiais radioativos
procede-se à lavagem estomacal e administra-se purgantes e eméticos.
A implementação fase química ocorre após a metabolização do material radioativo
e visa aumentar a quantidade de material radioativo excretado, sendo que para cada
isótopo adota-se um procedimento particular. Esses procedimentos incluem a diluição
isotópica e administração de sais ou quelantes. No caso dos quelantes, a terapia é mais
eficiente se for administrado logo após a contaminação ou no período em que estão nos
tecidos moles, e ainda não foram complemente absorvidos. Na tabela 3.3. são
apresentados os procedimentos adotados para algumas substâncias radioativas.

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
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Tabela 3.3. Procedimentos de descontaminação pessoal externa segundo o radioisótopo

Isótopo Procedimento
Administração de diuréticos
Trítio
Aumento da ingestão de líquidos
Césio Administração de adsorvente (azul da prússia)
Tálio Administração de adsorvente (azul da prússia)
Iodo Administração de iodeto de potássio
Rádio Administração de EDTA (sal de cálcio e sódio)
Estrôncio Administração de EDTA (sal de cálcio e sódio)
Plutônio Administração de EDTA (sal de cálcio e sódio)
Cádmio Administração de EDTA (sal de cálcio e sódio)

3.4. DETECTORES DE RADIAÇÃO IONIZANTE


A radiação ionizante não pode ser detectada por nenhum dos sentidos humanos,
sendo para tanto necessários instrumentos para sua detecção. Os detectores de radiação
podem ser usados para medição das taxas de dose de radiação, por meio de leituras
instantâneas, ou para quantificação da dose com leituras integradas no tempo total de
exposição individual à radiação.
A escolha do detector deve ser cuidadosa e levar em conta aspectos como o tipo
de radiação, a energia, as taxas de dose máxima e mínima esperadas, condições de
emissão da radiação (contínua ou em pulsos) e variável a ser avaliado (dose ou taxa de
dose). Estes critérios são fundamentais, pois o uso de equipamento inadequado pode
levar à subestimação dos níveis de radiação efetivamente existentes no local.

3.4.1. CÂMARA DE IONIZAÇÃO


Em geral, esse detector consiste em uma câmara formada por dois discos
paralelos. O espaço entre os discos é preenchido por volume de ar ou material
equivalente. As faces externas são pintadas com tinta preta que proporciona o isolamento
elétrico e previne a ocorrência de fuga de corrente. A radiação ao atravessar a câmara
produz ionização no gás, sendo o número de íons coletados igual ao número de íons
formados durante a irradiação. A corrente elétrica gerada é proporcional à intensidade do
feixe de radiação eletromagnética.
A câmara de ionização é um detector sensível a choques mecânicos, não
possibilitando o seu uso em qualquer ambiente. É o mais indicado para avaliação de
raios X, particularmente quando a fonte emite raios X em pulsos.

3.4.2. DETECTOR GEIGER MÜLLER


O detector Geiger Müller consiste de um tubo metálico ou ampola de vidro
preenchido com gás, podendo ser provido de extremidade ou lateral mais delgada (em
geral mica). Ao atravessar o tubo, a partícula produz uma avalanche de ionizações, as
quais geram um pulso elétrico. Cada partícula detectada produzirá um pulso elétrico,
sendo o detector GM um excelente contador de partículas. Entretanto, como a amplitude

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
62

dos pulsos independe da ionização inicial, não há proporcionalidade com a energia da


radiação e nem discriminação do tipo de radiação detectada.
Este detector é o mais amplamente utilizado, por ser versátil e apresentar maior
resistência a choques mecânicos. Pode ser usado na detecção de partículas alfa e beta,
e de raios gama e X.

3.4.3. DETECTOR DE CINTILAÇÃO


O detector de cintilação é constituído por um cristal, geralmente iodeto de sódio
com impurezas de tálio e um tubo fotomultiplicador. O tubo fotomultiplicador possui na
face de entrada, em contato com o cristal, um cátodo fotossensível. Ao longo do seu
corpo possui uma série de placas paralelas, denominadas dinodos. Na extremidade de
saída está localizado o ânodo.
A radiação eletromagnética ao ser absorvida pelo cristal é re-emitida na forma de
luz visível, sendo a sua quantidade proporcional à energia da radiação incidente. Essa luz
é dirigida para o cátodo, no qual a absorção da luz resultará na emissão de elétron. Os
elétrons incidentes ao colidirem com o primeiro dinodo geram mais elétrons, que colidem
no segundo dinodo gerando mais elétrons e assim sucessivamente até serem coletados
no ânodo. Esse efeito multiplicador de elétrons a cada colisão, é responsável pela
amplificação da corrente possibilitando a sua leitura pelo medidor.
Esse tipo de detector pode ser danificado quando submetido a choques mecânicos,
o que restringe o seu uso a condições de campo mais controladas. Por sua sensibilidade
(permite detectar baixos níveis de radiação) e precisão é muito utilizado em medicina
nuclear (procedimentos de radioterapia e de diagnóstico com uso de radiofármacos). Os
cintiladores são também usados como medidores de corpo inteiro para detecção e
quantificação das doses internas decorrentes da incorporação de fontes radioativas.

3.4.4. CANETA DOSIMÉTRICA


A caneta dosimétrica, ou eletroscópio, consiste de uma câmara selada e
preenchida com gás, provida de dois eletrodos de fibra de quartzo, sendo um fixo e o
outro móvel. Na extremidade de leitura é possível visualizar a escala, ao longo da qual o
eletrodo móvel se desloca, registrando a dose. Quando o eletroscópio é carregado, os
dois eletrodos ficam juntos, representando o zero na escala. À medida que ocorrem
ionizações no interior da câmara, o eletroscópio é descarregado, sendo a descarga
proporcional à intensidade de ionização produzida.
Este instrumento é adequado para leitura diária de dose, a qual pode ser requerida
em situações de ingresso eventual e não rotineiro em áreas controladas (onde estão as
fontes de radiação).
As principais desvantagens apresentadas por esse detector são a impossibilidade
de calibração com ajuste da escala e a leitura de falsa dose, decorrente da sua descarga
por meio de choques mecânicos, umidade e fuga de corrente.

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
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3.4.5. FILME DOSIMÉTRICO


Consiste de dois filmes radiográficos, encerrados em invólucro de plástico ou de
metal. À medida que o filme absorve a energia da radiação ocorre a precipitação dos sais
de prata presentes na emulsão, aumentando a sua densidade óptica (enegrecimento do
filme). A mudança na densidade óptica é proporcional à dose absorvida da radiação. A
leitura da dose é feita com um densitômetro fotoelétrico, que mede a densidade óptica do
filme. A correspondência entre essa grandeza e a dose é obtida por meio da curva de
calibração do filme que contém a relação entre dose e densidade óptica.
Este dosímetro pode ser usado tanto para partículas beta e nêutrons, quanto para
raios X e gama.

3.4.6. DOSÍMETRO TERMOLUMINESCENTE


Certos cristais como, fluoreto de cálcio dopado com magnésio e fluoreto de lítio, ao
serem expostos à radiação ionizante e posteriormente aquecidos emitem luz. Por esta
característica tais cristais são denominados termoluminescentes.
A absorção da energia da radiação excita os átomos no cristal. O aquecimento do
cristal produz a desexcitação dos átomos com a emissão de luz. A quantidade total de luz
é proporcional ao número de elétrons excitados, que por sua vez é proporcional à
quantidade de energia absorvida da radiação. A correspondência entre a quantidade de
luz e a dose é obtida por meio da curva de calibração do cristal.
Os dosímetros termoluminescentes podem ser usados para medida de dose
associada à exposição a partículas beta, elétrons, prótons, raios X e raios gama.

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
64

3.5. TESTES
1. A irradiação é denominada interna quando o material radioativo encontra-se
dentro do corpo. Assinale a alternativa incorreta:
a) Uma das medidas de controle especificamente voltada para prevenir a entrada
no corpo do material radioativo em forma de poeira é o uso de EPIs.
b) Após a desposição do material radioativo nos órgãos ou tecidos é que dá-
se início à irradiação, porque durante o transito dentro do corpo a passagem
é rápida e a dose é dependente do tempo de exposição.
c) As principais formas pelas quais o material radioativo pode ingressar dentro do
corpo é a inalação, a ingestão e a absorção percutânea.
d) O tipo de controle ou de equipamento de proteção individual a ser adotado para
prevenir a irradiação interna dependerá das características físico-químicas do
radioisótopo.
e) O uso de sistemas enclausurados para manipulação de material radioativos é a
forma de controle preferencial contra a irradiação interna.

2. A contaminação radioativa é a deposição de material radioativo na superfície e


dentro do corpo. As características físico-químicas do isótopo determinam a rota de
entrada preferencial, o grau de retenção e o caminho percorrido dentro do corpo até
sua excreção. Em relação à contaminação radioativa é correto afirmar:
a) No caso de materiais insolúveis, apenas partículas com diâmetro igual ou inferior
a 20 micrômetros penetrarem nos sacos alveolares, ficando ali retidos.
b) O material insolúvel ingerido permanece no trato gastrintestinal, misturando-se
ou fazendo parte do bolo fecal no intestino delgado, até ser eliminado.
c) As principais formas pelas quais o material radioativo pode ingressar dentro do
corpo é a inalação e a ingestão.
d) Os principais meios de eliminação do material incorporado são pelas fezes, urina
e suor.
e) A taxa de eliminação é normalmente expressa como meia-vida biológica, e
depende da metabolização da substância pelo organismo.

3. Em relação à descontaminação, assinale a alternativa incorreta:


a) A fase mecânica intervém durante o período pré-metabólico e visa impedir a
permanência da substância no organismo ou acelerar a sua excreção
b) A implementação fase química ocorre após a metabolização do material
radioativo e visa aumentar a quantidade de material radioativo excretado.
c) Em caso de inalação de substâncias insolúveis administra-se expectorante
comum.
d) Os métodos de eliminação incluem a excreção renal dos materiais
insolúveis.
e) Quando há a ingestão de materiais radioativos procede-se à lavagem estomacal
e administra-se purgantes e eméticos.

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Capítulo 3. Radiações Ionizantes III
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4. Na descontaminação pessoal externa adota-se métodos progressivamente


agressivos, até a total remoção do material depositado. Marque o grau de
agressividade (de I a VII), sendo I o menos agressivo e VII o mais agressivo.
( ) Ácido orgânico suave (ácido cítrico).
( ) Mistura 50% detergente em pó e 50% fubá.
( ) Solução quelante.
( ) Sabão abrasivo suave, escova macia e água.
( ) Jateamento com água.
( ) Água morna e sabão.
( ) Detergente.

a) VII, V, VI, III, I, II, IV.


b) VII, VI, V, IV, I, II, III.
c) VII, IV, VI, III, II, I, V.
d) V, IV, III, VI, VII, I, II.
e) VII, VI, IV, III, II, I, V.

5. Em relação aos detectores de radiação, assinale a alternativa incorreta:


a) O detector Geiger-Muller pode ser usado na detecção de partículas alfa e beta,
de raios gama e raios X contínuo.
b) Os dosímetros termoluminescentes podem ser usados para medida de
dose associada à exposição a todos os tipos de radiação ionizante.
c) O filme dosimétrico pode ser usado para medida de dose tanto para partículas
beta e nêutrons, quanto para raios X e gama.
d) A câmara de ionização é um detector sensível a choques mecânicos, não
possibilitando o seu uso em qualquer ambiente.
e) A escolha do detector deve levar em conta o tipo de radiação, a energia, as taxas
de dose máxima e mínima esperadas, as condições de emissão da radiação e a
variável a ser avaliado.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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CAPÍTULO 4. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES

OBJETIVOS DO ESTUDO

A intenção deste capítulo é apresentar noções fundamentais fornecendo ao


profissional envolvido na proteção, na segurança e na saúde do homem uma visão geral
das radiações e a possibilidade de analisar alguns aspectos dos efeitos nocivos das
radiações não ionizantes.
Denominamos de “radiação não ionizante” à energia eletromagnética sem
potencialidade para ionizar a matéria, com freqüências de até 3000 Thz e comprimentos
de onda até cerca de 100 nm (10-9 metros), cujos efeitos à saúde, em função da
qualidade, região do copo atingida e do tempo de exposição à RNI (radiação não
ionizante) podem causar efeitos nocivos ao corpo humano e, portanto, exigem ações
corretivas e de controle.
Após este capítulo você deverá ser capaz de:
• Definir radiação não ionizante;
• Listar os principais tipos de radiação não ionizante nocivos ao ser humano;
• Conhecer os usos da radiação não ionizante;
• Descrever instrumentos disponíveis para medir;
• Conhecer a legislação de proteção do trabalhador à radiação não ionizante, e
• Apresentar várias maneiras pelas quais se pode reduzir os efeitos danosos da
radiação não ionizante.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.1. A CIÊNCIA DA RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE


Historicamente sabemos que a cada dia a ciência e a tecnologia evoluem, novas
técnicas são desenvolvidas nos diversos campos da atividade humana, possibilitando a
execução de tarefas impossíveis de serem realizadas pelos meios convencionais. A
medicina, a indústria, agricultura e energia nuclear são algumas das áreas beneficiadas
até o momento e em contrapartida surgem, também, patologias ocupacionais até então
inexistentes e desconhecidas, devendo ser realizados novos estudos e aplicadas novas
medidas de proteção. Como exemplo, temos os problemas associados a forno de
microondas, a terminais de vídeo, sistemas de telefonia móvel (celulares), a aplicação de
ressonância magnética ou os apontadores de laser, que constituem alguns destes novos
instrumentos tecnológicos que utilizam o agente físico “RNI” e exigem a atenção dos
profissionais quanto a estudos e pesquisas de nocividade e da sociedade na vigilância
contínua dos riscos intrínsecos, dos seus efeitos biológicos, dos controles necessários e
da legislação que envolve a produção, o uso e o manuseio desse tipo de energia, criando
uma consciência quanto a necessidade de atendimento às normas de segurança e
proteção e a implantação e acompanhamento de medidas de controle capazes de
assegurar a efetiva proteção do homem e de seu meio ambiente contra os efeitos nocivos
da radiação.
Certamente a radiação é um tipo de energia que está presente no cotidiano da vida
do homem sob diversas formas sendo, sob qualidade e intensidade compatíveis e dentro
de situações naturais totalmente tolerável ou normal à humanidade que se expôs durante
milhares de anos a esse agente sem sofrer danos significativos, contudo exposições ou
contaminações a níveis elevados resultarão em efeitos nocivos e promoverão patologias
muitas vezes irreversíveis ou até mesmo a morte. Portanto, de uma forma geral e
também sob o nosso ponto de vista todas as atividades que envolvam a aplicação do
agente físico "Radiação" requerem cuidados especiais quanto à interação dessa forma de
energia com o homem e com seu ambiente, devendo somente ser utilizada e aplicada
segundo preceitos e normas de controle e proteção, capazes de promover a saúde e
assegurar a integridade física do homem, assim como a conservação do meio ambiente.

4.1.1. CLASSIFICAÇÃO DAS RADIAÇÕES


As radiações são uma forma de energia de natureza eletromagnética (ondulatória)
e de natureza corpuscular (partículas). Podem ser classificadas em não ionizantes e
ionizantes. As não ionizantes são divididas em “ELF, radiofreqüência, microondas,
infravermelho, luz visível e ultravioleta” e as ionizantes são “ Raios X e Raios δ”
(Figura 4.1.)
Outra forma de radiação é constituída por partículas (massa) dotadas de alta
velocidade (energia cinética), emitidas por núcleos de átomos instáveis, sendo
classificada como “radiação ionizante”. Tais radiações são chamadas corpusculares do
tipo “Alfa α, Beta β e nêutrons”.
• Classificação quanto a forma da energia  Eletromagnética ou corpuscular
• Classificação quanto a potencia da energia  Ionizante ou não ionizante

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
68

radiofreqüência,
microondas, NÃO
infravermelho, IONIZANTE
ELETROMAGNÉTICA luz visível e ultravioleta
RADIAÇÃO Raios χ, δ

IONIZANTE
CORPUSCULAR Raios α, β, neutrons

Figura 4.1. Classificação da radição

A interação dessa forma de energia com a matéria, constituída de átomos, pode


produzir dois efeitos principais, a Ionização e a Excitação, ambos os efeitos, quando
desenvolvidos no organismo humano, podem promover o aparecimentos de alterações
biológicas, mutações, lesões, doenças e até mesmo a morte.
Ionização  Ocorre o fenômeno “ionização” (Figura 4.2.) quando a radiação, ao
interagir com um (ou mais) átomos, que integram a matéria, tem energia capaz de
subdividi-lo em duas partes eletricamente carregadas, denominado par iônico ( íon
positivo + átomo sem o elétron íon negativo + elétron livre).
Dessa forma a ionização ocorre quando a radiação incidente possui energia
superior a 12,4 eV (elétron-Volt) podendo promover a remoção do orbital com seu núcleo.
eV - elétron-volt  Unidade de medida de energia, igual à energia adquirida por
um elétron quando é acelerado por uma diferença de potencial de um volt, que equivale a
1,602177 x 10-19 J, e é largamente usado na física atômica, nuclear e de partículas
elementares

eV =1,602177 x 10-19 J
IONIZAÇÃO
Radiação secundária
Radiação primária
(a+)

Energia mínima para


ionização 12,4 eV

Elétron ejetado -
(e )

Figura 4.2. Fenômeno “ionização”

Excitação  É o fenômeno que ocorre quando a radiação ao atingir um átomo


cede parte ou toda sua energia promovendo alterações ou perturbações no movimento

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
69

orbital do elétron podendo ocorrer transferências dos elétrons orbitais entre camadas.
Excitação causa o aumento da energia interna no(s) elétron (s) do átomo com o qual
interagiu, contudo a energia cedida não tem potencialidade para ionizá-lo. A Energia
potencial da radiação é inferior a 12,4 eV.

4.2. RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS - EM


Radiação eletromagnética pode ser descrita como uma série de ondas de energia
composta por oscilações senoidais elétricas e magnéticas formando um movimento
ondulatório, que se propagam no espaço numa mesma velocidade, conhecida como
velocidade da “Luz” (Figura 4.3.). Pode ser classificada como ionizantes (Raios X e
Gama) e não ionizantes (ELF (extra low frequency), Radiofreqüência, microondas,
infravermelho, luz visível e ultravioleta).

c ⇒ Velocidade da luz (m/Seg)


( 3 x 1010 cm/Seg)

Figura 4.3. Radiação eletromagnética

A radiação eletromagnética possui as seguintes características:


• Se propagam em linha reta através de um movimento ondulatório determinado
por sua freqüência e comprimento de onda:
c
f =
v
Onde:
Comprimento de onda (λ): Velocidade da luz (c):
É a distância entre os dois pontos Constante = 3.1010 cm/seg
extremos da onda, ou seja, entre o
início e o fim, medido em cm.

Freqüência (f):
É o número de repetições da
onda, por unidade de tempo.
Medida em Hertz ou
CPS (ciclos por segundo).

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
70

• Conservam sua energia quando se propagam através do vácuo;


• Atenuam-se proporcionalmente ao quadrado da distância da fonte ao receptor;
• Podem ser refletidas, transmitidas, absorvidas ou espalhadas quando interagem
com a matéria (Figura 4.4.).

Radiação I
It
Io Incidente

Ir Ie

Figura 4.4. Interação das ondas eletromagnéticas com a matéria

A absorção, transmissão, reflexão ou espalhamento será função do tipo de material


(kλ) e do comprimento de onda (λ).
I t = I 0 × e − kλ × x
Onde:
It = radiação transmitida
e = número de Neper (k)
x = espessura do material
Ic = radiação incidente
kλ = coeficiente de absorção do material

4.2.1. ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO


O espectro eletromagnético (Figura 4.5.) é composto de todos os tipos de radiação
eletromagnética. Ar radiações não ionizantes são: ELF, ultravioleta, visível, infravermelha,
microondas, radiofreqüência e ELF.

Figura 4.5. Espectro eletromagnético

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
71

4.3. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES


São aquelas que não possuem energia suficiente para promover a ionização,
provocando tão somente a excitação. As radiações não ionizantes são sempre de
natureza eletromagnética, não possuem massa, sendo constituídas por oscilações
elétricas e magnéticas formando ondas que viajam numa mesma velocidade e diferem
tão somente no comprimento de onda e consequentemente por sua freqüência. São
subdivididas em ELF (“Extra Low Frequency” ou ondas de freqüência muito baixas),
radiofrequência, microondas, infravermelho, luz visível e ultravioleta. Com exceção
da parte visível do espectro, todas as outras radiações são invisíveis e dificilmente
detectáveis pelas pessoas através de seus outros sentidos.
Tal agente físico é empregado na comunicação, aparelhos domésticos,
equipamentos e processos industriais, da construção civil, agrícolas, médicos e
odontológicos, de pesquisa e desenvolvimento, etc...
A interação do homem e de seu meio ambiente com esse agente físico “Radiação
não ionizante - RNI” pode se processar em doses muito variáveis, e serem entendidas
como normais ou nocivas, dependendo da qualidade, da intensidade da radiação e do
grau de exposição, havendo limitação que estabelece a zona de risco a saúde e
integridade física do trabalhador.
No Brasil a legislação estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, Lei
6.514/77, que deu força de Lei a Portaria nº. 3.214/78 - NR 15 - Anexo 7, estabelece
condições de proteção e Limites de tolerância, determinando que em algumas situações
as atividades envolvendo RNI sejam consideradas insalubres.
A insalubridade tem o conceito legal dado pelo artigo 189 da Consolidação das Leis
do Trabalho CLT, nos seguintes termos: "Serão consideradas atividades ou operações
insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham
os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em
razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus
efeitos".
Essa conceituação complementa-se ao tomarmos a Portaria 3.214/78 em sua
Norma Regulamentadora nº. 15 combinada com a Norma regulamentadora nº 9, onde
classificam-se os riscos ambientais promovidos por agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho que são capazes de causar danos à saúde do
trabalhador e se estabelecem os limites de tolerância correspondentes.
A condição de insalubridade originada pelo agente de risco radiação não ionizante,
dependendo da situação, pode gerar o direito ao trabalhador de receber um pecúnio
adicional ao salário, que nesse caso corresponde a 20% (vinte por cento) incidente sobre
o salário mínimo vigente.
Na ausência ou insuficiência de especificações ou Limites de tolerância da
Legislação Brasileira poderão ser adotadas as recomendações estabelecidas na ACGIH
– American Conference governmental Industrial Higienist, que estabelece os limites de
tolerância para a exposição às radiações. Essa é uma publicação periódica
indispensável, adotada e aceita mundialmente, excelente fonte de consulta para os
higienistas e demais profissionais que atuam na área de segurança e saúde ocupacional,
constituindo-se num guia confiável para a avaliação e controle dos riscos ambientais nos
locais de trabalho.

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
72

A tabela 4.1. apresenta as radiações não ionizantes, em ordem crescente de


comprimento de onda. Como o produto do comprimento de onda pela freqüência é
constante (igual à velocidade de propagação da onda de 300000 km/s), à medida que o
comprimento de onda aumenta, diminui proporcionalmente a freqüência. Quanto maior a
freqüência, maior a energia associada à radiação eletromagnética.

Tabela 4.1. Radiação não ionizante e suas denominações em função dos parâmetros
comprimento de onda e freqüência
Comprimento
Nome Freqüência Observação
de onda
Ultravioleta 380 nm a 1 nm 7,5x1014 a 3x1017 Hz Até o
infravermelho é
380nm a 780 mais comum
Visível 4,3x1014 a 7,5x1014 Hz
nm classificar a
Infravermelho 780 nm a 1 mm 11
3x10 a 4,3x1014 Hz radiação em
termos do
Microondas 1mm a 30 cm 3 GHz a 300 GHz comprimento de
TV, FM, AM, CB 30 cm a 100 km 3 KHz a 3 GHz onda; para os
comprimentos
maiores costuma-
ELF 100 km - 3 KHz a zero Hz se usar a
freqüência.

4.3.1. ELF – EXTRA LOW FREQUENCY


No princípio da escala de freqüências encontram-se a ELF (ondas de freqüência
extra baixa), que são geradas normalmente a partir da passagem de energia elétrica em
meios condutores. Os geradores (concessionárias de energia elétrica) produzem energia
na freqüência de 60 Hz, a qual pode ser transmitida a centenas de quilômetros através de
fios condutores criando um campo eletromagnético no seu entorno.
Um valor arbitrário de 3.103 Hz separa o final das ELF das ondas de rádio
(radiofreqüência). Todavia algumas aplicações elétricas usam freqüências acima deste
valor e alguns usos de radiofreqüência se localizam abaixo deste valor limítrofe.

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
73

Figura 4.6. Influência EM no corpo humano

São geradas quando da passagem da corrente elétrica alternada nos meios


condutores, com significativa nocividade quando empregam-se elevadas potências
(níveis de tensão e de corrente elevados). Os efeitos possíveis no organismo humano
decorrente da exposição ao campo eletromagnético são de natureza elétrica e
magnética. Os efeitos do campo elétrico são de ordem elétrica (choques, queimaduras,
parada cardíaca, quedas). Quanto aos de origem magnética citamos os efeitos térmicos,
endócrinos e suas possíveis patologias produzidas pela interação das cargas elétricas
com o corpo humano.

4.3.2. RADIOFREQÜÊNCIAS - RF
São radiações de baixa freqüência e grande comprimento de onde e classificam-se
segundo a tabela 4.2.

Tabela 4.2. Classificação das radiofreqüências


VLF LF MF HF VHF
Muito baixa Baixa Média Alta Muito alta
frequência frequência frequência frequência frequência
3 30 kHz 30 300kHz 0,3 3 MHz 3 30 MHz 30 300MHz

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
74

4.3.2.1. Aplicações
• Modulação de freqüência Áudio;
• Aplicações médicas;
• Fornos elétricos, aquecimento, solda, fusão e refino por indução e tratamento
por eletro-erosão;
• Monitor de vídeo;
• Radionavegação, comunicação da marinha/aeronáutica, monitor de vídeo.

4.3.2.2. Efeitos no organismo humano


• Efeitos térmicos;
• Cuidados com próteses metálicas e circuitos eletrônicos incorporados ao corpo
humano.

4.3.2.3. Limites de Tolerância


• Portaria nº. 3.214/78 - NR 15 - Anexo 7 (nada consta);
• ACGIH – American Conference governmental Industrial Higienist.

4.3.2.4. Controle dos riscos


• Enclausuramento;
• Dispositivos de bloqueio (fornos);
• Sinalização adequada.

4.3.3. MICROONDAS - MO
A radiação de microondas se localiza entre o infravermelho distante e as ondas de
rádio, tendo sido uma das últimas a serem criadas em laboratório e terem aplicação
comercial.
A energia de microondas é uma forma muito conveniente de aquecimento e em
determinadas situações apresenta várias vantagens sobre outras fontes de calor. É
limpa, flexível e reage instantaneamente ao mecanismo de controle. Além disso, impede
que os produtos de combustão ou o calor convectivo sejam adicionados ao ambiente de
trabalho. A facilidade com que esta energia é convertida em calor proporciona altas taxas
de conversão e aquecimento.

4.3.3.1. Aplicações
• Aquecimento doméstico e industrial - secagem - desidratação – esterilização;
• Radiodifusão FM, televisão, radares;
• Vulcanização de caucho, baquelite, poliéster e polimelana;
• Iluminação (lâmpadas fluorescentes);
• Ressonância magnética.

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.3.3.2. Efeitos no organismo humano


A potencialidade dos efeitos no organismo humano dependem da freqüência, da
potência dos geradores e do tempo de exposição, classificando-se em efeitos térmicos e
magnéticos:
• Térmicos: queimaduras (internas e externas) e cataratas;
• Magnéticos: Elevação da pressão arterial
• Distúrbios cardiovasculares e endócrinos;
• Alterações no sistema nervoso central.

Observação: Cuidado especial com pessoas (trabalhadores) portadores de marca-


passo e demais equipamentos eletrônicos no corpo, pontes e pinos metálicos, próteses,
para não se exporem a essa radiação.

Fornos de microondas
Existem algumas controvérsias sobre a segurança dos fornos de microondas, onde
a radiação é absorvida pelos alimentos produzindo-se um quase instantâneo aumento de
temperatura. A energia gerada num forno de microondas provém do magnetrom
(transdutor da energia elétrica em radiação eletromagnética), sendo similar àquela
emitida pelos radares. Os maiores perigos estão associados a vazamentos desta energia,
e estes normalmente ocorrem junto às aberturas (portas, furos,...) do forno e envolvem as
vizinhanças desta. Os vazamentos normalmente decorrem de vedações já gastas, trincos
e fechaduras defeituosos e visores com trincas, etc. A falha do sistema de desligamento
do forno quando a porta se abre, pode expor pessoas nas proximidades a níveis de
radiação muito acima dos níveis seguros. Se adequadamente projetados e instalados, os
fornos de microondas raramente originam vazamentos, sendo o maior problema o
inadequado uso pelas pessoas e manutenções irregulares.

Telefonia celular (móvel)


Os sistemas existentes de comunicação móvel se utilizam da radiação não
ionizante (microondas) para a transmissão de sinais (dados,voz,imagem), ocupando as
freqüência e sistemas abaixo:
• CDMA (code division multiple access) - Bandas A e B - freqüência de 806 a 902
MHz (cerca de 7,8 milhões de usuários);
• TDMA (time division multiple access) - Bandas A e B (com cerca de 15,4
milhões de usuários);
• GSM (global system for mobily communications) Bandas C , D e E - freqüência
de 1,84 a 1,93 GHz (Todas as novas operadoras – ainda em implantação no
país).

4.3.3.3. Limites de Tolerância


A Portaria nº. 3.214/78 – NR 15 – Anexo 7 – Somente considera a radiação -
microondas, insalubre, sem a proteção adequada. Não estabelece limite de tolerância,
contudo, conforme comentário anterior poder-se-á usar a ACGIH e obter-se os limites de
tolerância referem-se a freqüência entre 100 GHZ e 100 MHZ, conforme transcritos a
seguir:

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
76

• Para 8 horas de trabalho o nível médio de densidade de potência não deve


exceder a 10 mW/cm2 (miliwatt por centímetro quadrado);
• Para no máximo 10 minutos para cada 60 trabalhados o nível médio de
densidade de potência não deve exceder a 25 mW/cm2;
• Não é permitido trabalho com nível de densidade de potência acima de
25 mW/cm2, por tempo superior a 10 minutos.

Figura 4.7. TLVs para radiação de radiofreqüência/microondas nos locais de trabalho


(SAR de corpo inteiro < 0,4W/kg)

4.3.3.4. Medição de microondas


Os aparelhos de medição utilizados baseiam-se no método de medida "bolemetria",
que consiste na absorção da potência por um elemento resistivo sensível à temperatura,
sendo a mudança da resistência proporcional à potência absorvida. A unidade de medida
é o mW/cm2 (miliWatt por cm2).

4.3.3.5. Controle dos riscos


• Enclausuramento dos trabalhadores com dispositivos de desligamento
automático (ex.: áreas de antenas de radares, forno de microondas, etc.);
• Barreiras construídas em função da freqüência de radiação (malhas, telas
metálicas, etc.);
• E.P.I (óculos, telas metálicas e roupas especiais);
• Sinalização adequada da área (figura 4.8.).

Figura 4.8. Símbolo da radiação não ionizante

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
77

4.3.4. INFRAVERMELHO
Também chamada de calor radiante, é uma radiação com comprimento de onda (λ)
compreendido entre 1 μm a 780 ηm (0,78 μm), sendo subdividida em:
• 1,4 μm >λ>1 μm  Infravermelho A
• 3,0 μm >λ> 1,4 μm  Infravermelho B
• (780 ηm) 0,78 μm >λ> 3,0 μm  Infravermelho C

A região do infravermelho se estende aproximadamente desde o vermelho visível


(cerca de 780 nm) até a região de microondas (1 mm). A exposição a raios
infravermelhos pode ocorrer para qualquer superfície que esteja a uma temperatura
inferior à da superfície emissora, ocorrendo transferência de calor radiante quando a
energia emitida por um corpo é absorvida por outro. É também chamada de "calor
radiante".

4.3.4.1. Aplicações
A radiação infravermelha tem inúmeras aplicações associadas a aquecimento, e
industrialmente pode-se citar:
• Operação de fornos metalúrgicos e siderúrgicos;
• Fabricação e transformação do vidro;
• Forja e operações com metais quentes;
• Secagem e cozedura de tintas, vernizes, etc.;
• Solda elétrica;
• Desidratação de material têxtil, papel, couro, carnes, vegetais, potes de argila,
etc.;
• Doméstico - aquecimento residencial.

4.3.4.2. Efeitos no organismo humano


A radiação infravermelha é percebida pela pele como uma sensação de calor, com
o aumento de temperatura da epiderme dependendo do comprimento de onda, do tempo
de exposição e da quantidade total de energia transferida ao tecido.

4.3.4.3. Limites de Tolerância


Os limites de tolerância, efeitos ao organismo humano, métodos de medição,
controle dos riscos serão melhor analisado no capítulo sobre "TEMPERATURAS
EXTREMAS" a ser ministrado neste curso.

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.3.5. RADIAÇÃO – LUZ VISÍVEL


É uma radiação eletromagnética com comprimento de onda (λ) compreendido entre
780 ηm (0,78 μm) e 380 ηm. Tem a propriedade de ser sensível ao olho humano e,
portanto, responsável pela iluminação natural e artificial. As leis da radiação foram
primeiro estudadas para a luz visível, e os problemas ocupacionais da iluminação são
discutidos em capítulo a parte.

4.3.6. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA


São radiações eletromagnéticas no extrato freqüêncial final das radiações não
ionizantes, contendo sub-classificação conforme o comprimento de onda em UVA UVB
UVC. A faixa mais distante, denominada UVC (200 a 280 nm), é usada para aplicações
bactericidas como a eliminação de germes. As lâmpadas que geram radiação de 245 nm
podem também ser utilizadas para destruir bactérias e vírus.
A radiação UVB é chamada também de eritemal e compreende a faixa de 280 a
320 nm. Os seus efeitos benéficos incluem o bronzeamento da pele e a formação de
vitamina D.
A faixa ultravioleta mais próxima da visível vai de cerca de 320 a 380 nm, também é
chamada de “luz negra”, pois faz com que certos materiais fosforesçam.
O espectro da luz solar natural se inicia em cerca de 295 nm, com os comprimentos
de onda mais curtos sendo filtrados pela atmosfera. De modo similar, a composição e a
espessura do vidro de lâmpadas, bem como as camadas de recobrimento de fósforo nas
fontes de mercúrio e fluorescentes, atuam como filtros para as ondas de menores
comprimentos de onda.
A figura 4.9. apresenta as faixas UVA, UVB e UVC da radiação ultravioleta.

λ (ηm) 100 280 320 400 (ηm)

U -C U -B U -A

λ
próximo Luz
Visivel
Ozon Eritema

Ação sobre ligações Luz negra e ação


moleculares Germicid fotoquímica

12,4 eV Energia 3,1 eV

Figura 4.9. Faixas de ultravioleta

Observações:
• 1 eV (elétron Volt) = 1,6 x 10-19 Joule;
• Radiação não ionizante: Onda eletromagnética com energia fóton inferior a
12,4 eV.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.3.6.1. Aplicações
• Trabalhos com exposição à radiação solar;
• Esterilização;
• Processos industriais;
• Controle de qualidade;
• Soldagem (elétrica/mig/tig);
• Uso médico (fisioterapia) e Odontologia.

4.3.6.2. Efeitos no organismo humano


• Térmicos (eritemas);
• Carcinogênicos;
• Conjuntivite;
• Queratite.

4.3.6.3. Limites de Tolerância


A Portaria nº. 3.214/78 - NR 15 - Anexo 7 - considera a radiação ultravioleta com
λ < 320 nm, insalubre, quando o trabalhador não está adequadamente protegido.
A ACGIH recomenda uma série de valores de limites de tolerância para exposições
a radiações ultravioleta, limites que variam em função do comprimento de onda da
radiação.

4.3.6.4. Medição de radiação ultravioleta


Os equipamentos mais utilizados são os que se utilizam de célula foto voltaica e os
de termopilhas. Sua leitura é dada em W/cm2 (Watts por cm2), ou seu equivalente J/s/cm2
(Joule por segundo por cm2).
Devem ser tomados cuidados especiais nas medições de UV, pois alguns
ambientes com substâncias no ar (ozona, vapor de mercúrio) e materiais como vidros ou
plásticos interferem na absorção e transmissão de UV.

4.3.6.5. Controle dos riscos


• As radiações com λ < 200 nm, são fortemente absorvidas pelo ar e portanto,
apresentam riscos desprezíveis, com exceção dos laseres, onde deve-se
observar as recomendações dos fabricantes.
Para radiação com λ > 200 nm, deve-se usar barreiras/anteparos.
• Enclausuramento das fontes.
• E.P.I: para os trabalhadores agrícolas deve-se fornecer chapéus e proteção do
pescoço, ombros e braços.
@ Para os trabalhadores diretamente expostos recomenda-se o uso de protetores
oculares e faciais e proteção das mãos, braços, tórax.

o
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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
80

4.3.7. LASER
É a amplificação de radiação não ionizante, que tem como característica principal a
multiplicação de um único comprimento de onda da radiação tomada, dentre as radiações
já comentadas.
O termo laser é uma abreviação para “light amplification by stimulated emission of
radiation”, ou seja, amplificação da luz por estimulação da emissão de radiação.

Os equipamentos de LASER são construídos para operarem numa determinada


freqüência podendo variar em MICROONDAS, INFRAVERMELHO, VISÍVEL e
ULTRAVIOLETA.
A luz de fontes convencionais tem variados comprimentos de onda e se irradia em
todas as direções, com interferências construtivas e destrutivas. É denominada de luz
incoerente. Por outro lado, a luz de uma fonte laser vibra num único plano, se propaga
numa única direção e é monocromática (tem um único comprimento de onda). É
denominada de luz coerente.
Um instrumento que gera radiação laser produz um feixe de apenas uma
freqüência, mas esta não precisa ser apenas da faixa visível. Um dos feixes mais
poderosos utiliza dióxido de carbono e gera um fluxo contínuo e muito quente de radiação
infravermelho. Outros lasers operam nas freqüências ultravioletas.
São vários os tipos de laser, todos empregam sólidos e líquidos e gases. O primeiro
a ser construído nesse sentido, empregava uma mistura de hélio e neônio. O
bombeamento era realizado pela passagem de uma corrente elétrica no interior do Gás.
Primitivamente, esse laser era utilizado para obter radiação infravermelha de
comprimento de onda igual a 1,15 micrometros; atualmente, são empregados
principalmente para produzir luz vermelha.

4.3.7.1. Aplicações
• Indústria: microusinagem, soldagem de peças/corte de aço, alinhamento ótico,
levantamentos telemétricos e topométricos, fotocoagulação e holografia;
• Medicina: microcirugias, eliminação de tumores, tratamentos de pele;
• Odontologia.

4.3.7.2. Efeitos no organismo humano


Seus riscos variam em função da aplicação, usos, potência aplicada, faixa de
freqüência em que opera, etc..., porém todos afetam principalmente os olhos e a pele,
ainda que com baixa potência, podem causar danos na córnea (catarata) e deterioração
epidérmica (tipo de queimadura). A exposição prolongada pode causar danos variando
de leves queimaduras na retina até perda total da visão. A visualização restrita e óculos
de lente podem oferecer alguma proteção exceto aos lasers muito potentes. As medidas
de proteção são semelhantes às para os que trabalham com solda a arco, não se
devendo olhar diretamente para a fonte.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.4. A NATUREZA DO PROBLEMA


4.4.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
A radiação ultravioleta pode ser absorvida pelos tecidos humanos causando danos
biológicos à pele e aos olhos. Para a pele pode-se ter erithema, envelhecimento precoce,
câncer, enquanto para os olhos pode-se ter fotossensibilização e fotoconjuntivite, que é
uma espécie de queimadura dos olhos pelo sol.
A exposição à radiação ultravioleta provoca, através de reações químicas, danos
não ionizantes às células da pele. Estas reações químicas podem induzir um precoce
envelhecimento da pele devido à dilatação dos finos capilares sangüíneos, efeito
conhecido como erithema, e ser a causa de 90% de todos os cânceres de pele. O câncer
resulta da reação dos raios ultravioletas com o material genético das células, produzindo
mutações. As maiores taxas de incidências ocorrem para as latitudes tropicais e pessoas
de pele clara, como são os casos do Brasil, da Austrália e da África do Sul.
A radiação UVC é retida eficientemente pela camada de ozônio da atmosfera
terrestre. Quando a atividade solar se torna anormalmente alta, esta camada não é 100%
eficiente na retenção e pode ocorrer uma excessiva exposição na superfície da terra. O
câncer de pele conhecido como melanoma em geral aumenta num período de 2 a 3 anos
após um período de atividade solar anormal.
A banda de raios solares UVB tem comprimento de onda inicial com cerca de 295
nm, sendo responsável pelo bronzeamento e queimaduras na pele, além de também
promover o câncer de pele. A banda UVB é conhecida como banda eritemal e pode
sensibilizar a pele com relação à exposição à radiação UVA. A exposição a UVB permite
ao corpo produzir vitamina D, mas esta exposição não requer mais do que 30 minutos
diários ao sol.
A banda UVA, também conhecida como ultravioleta próxima ou “luz negra”, é a
maior responsável pelo bronzeamento da pele e seus efeitos danosos são importantes
também na visão. Pode ocorrer exposição excessiva a UVA em regiões com neve, onde
a reflexão de mais de 85% da radiação UV incidente pode causar a chamada “cegueira
da neve”. Neste fenômeno ocorre a morte de células nas camadas mais externas do olho,
com a conseqüente opacidade da cobertura do olho.
Radiação UV de comprimento de onda muito curto, é extremamente destrutiva ao
olho. A exposição por alguns poucos minutos produz inflamações severas e dolorosas,
com efeitos posteriores que podem durar anos. A exposição a UV de curto comprimento
de onda gera poucos sinais exteriores, como inchaço e vermelhidão não pronunciados.
Todavia, ocorre muita dificuldade para focalizar na leitura, principalmente sob luz artificial,
e as dores internas sentidas no olho se tornam quase intoleráveis. A recuperação é lenta,
requerendo meses ou mesmo anos, com alguns efeitos como a sensibilidade a curtos
comprimentos de onda sendo permanentes.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
82

4.4.2. RADIAÇÃO VISÍVEL


A luz visível pode ser nociva ao olho humano pois, como uma forma de radiação,
ao ser interceptada e absorvida converte-se em outra forma de energia, usualmente
calor. Assim ao entrar no olho a luz se transforma em calor e se a potência for
considerável, pode ser nociva e até destrutiva, causando inflamação e queimaduras.
Estes efeitos danosos associados à radiação excessiva são maiores nas faixas do
vermelho e violeta, sendo menores nas faixas do verde ou amarelo. Isto porque para o
mesmo nível de “visibilidade” as potências associadas são menores para as bandas
verde ou amarela.
A luz direta de solda a arco ou do sol produzem intensidade excessiva e se houver
visualização por períodos prolongados ocorrerá queimadura. Os mecanismos de
proteção automática do olho, como fechamento da pupila ou fechamento das pálpebras,
não fornecem proteção adequada para as radiações excessivas. Uma queimadura
decorrente de uma intensidade muito alta surge logo após a exposição, gerando
vermelhidão nos olhos, inchaço e muito lacrimejamento, todavia a recuperação ocorre em
poucos dias mesmo nos casos mais severos.
Um dos problemas da luz visível associado à higiene ocupacional e a segurança do
trabalho é o problema do ofuscamento. Denominamos de ofuscamento ao desconforto,
incômodo, perda de visibilidade e diminuição de desempenho causado por uma
luminância no campo visual maior que aquela para o qual o olho pode se adaptar.
Apesar das múltiplas causas do ofuscamento, na maioria dos casos ele pode ser
classificado como desconfortante ou desabilitante.
O ofuscamento desconfortante é incômodo, mas não conduz necessariamente ao
impedimento da tarefa visual. Em geral é atribuído à tendência do olho de se fixar nos
pontos mais brilhantes do campo visual. O grau de desconforto produzido por uma
luminária é dependente de 4 fatores: a luminância da fonte, o tamanho da fonte, o ângulo
entre a fonte e o observador e o nível de adaptação do olho do observador.
O ofuscamento desabilitante impede a execução da tarefa visual e pode ser
causado de 3 modos diferentes:
• Pela dispersão da luz na lente do olho produzindo uma luminância na retina;
• Pela insuficiência de tempo para o olho se adaptar a um nível muito diferente de
luminância;
• Por imagens fantasmas, normalmente ocorrentes após se olhar para uma fonte
muito brilhante. Os processos fotoquímicos essenciais para a visão ficam
temporariamente alterados pelo fato do olho ter ficado sobrecarregado de
luminosidade. O cérebro fica confuso se continua a “ver” uma sucessão de
imagens do objeto brilhante. A visão perfeita é restaurada em cerca de 5 a 10
minutos.

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eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
83

4.4.3. TERMINAIS DE VÍDEO


Até o presente não se caracterizou a emissão de radiações perigosas pelos
terminais de vídeo, mas eles podem causar cansaço visual. Apesar das autoridades
concordarem que trabalho em frente a terminais de vídeo não conduz a significantes
danos à visão, existem relatórios reclamando de problemas visuais associados a eles. As
reclamações variam de leves dores de cabeça após longos períodos em frente a vídeos
até dores mais fortes, imagens fantasmas e perturbações do sistema visual. Não há
dúvidas que o trabalho com terminais exige bastante da visão, mas em essência não
mais que outras tarefas que também exigem muito do sistema visual.
As exigências sobre a visão são sobre seu mecanismo de funcionamento,
principalmente focalização e convergência, se o foco é mantido num ponto fixo por muito
tempo, os músculos ciliares que controlam a acomodação podem ter espasmos. Isto
pode ser desconfortável e causar certa ardência, mas não é perigoso para a vista e o
espasmo pode ser diminuído com relaxamento e, portanto é melhor prevenir do que
curar.
Estes espasmos são menos prováveis de ocorrer se o foco for mudado
regularmente e o objetivo de uma pausa é exatamente evitar o início da fadiga. Uma
possibilidade operacional é permitir aos operadores uma certa flexibilidade para decidir
quando efetuar paradas.

4.4.4. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA


A exposição à radiação infravermelha de curto comprimento de onda (750 a
1500 nm) pode causar aguda queimadura e aumento de pigmentação da pele. Pode
também causar danos à córnea, à íris e ao cristalino. A excessiva exposição à radiação
visível e infravermelha de fornalhas, fornos e outros corpos quentes similares têm sido
conhecida como causadora da “doença dos sopradores de vidro” ou “catarata do calor”.
Esta doença está associada a um embaçamento da superfície posterior do cristalino.

4.4.5. MICROONDAS
4.4.5.1. Ondas de rádio
A única preocupação com as ondas de radio se refere ao aquecimento através de
aquecedores de radiofreqüência. Apesar da exposição poder eventualmente ocorrer, ela
usualmente é bem localizada.

4.4.5.2. Radiação de freqüência extra baixa (ELF)


Linhas de transmissão de energia e certos instrumentos industriais operam com
campos magnéticos e elétricos de baixas freqüências, com 50 Hz na Europa e Ásia e 60
Hz nos Estados Unidos, Canadá e Brasil.
Uma corrente de pesquisa afirma que estas freqüências podem afetar o sistema
nervoso central e o funcionamento do cérebro, havendo energia ressonante muito similar
à que o cérebro usa. Numerosos estudos relatam efeitos biológicos em animais em
laboratório, mas não foram ainda confirmados efeitos patológicos. Quaisquer que sejam

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eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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os mecanismos envolvidos nos efeitos induzidos por estes campos, eles ainda não são
totalmente conhecidos e pesquisas continuam a serem efetuadas.
A maioria dos estudos efetuados com seres humanos envolve trabalhadores
atuando na área de linhas de eletricidade e pessoas que vivem nas proximidades de
linhas de transmissão de altas voltagens. Estes estudos analisam fatores como a
incidência de câncer, desordens no sistema reprodutor, saúde geral e disfunções
congênitas, comparando os valores com dados da população geral. O que normalmente
tem sido obtido são resultados sugestivos, mas não conclusivos, principalmente devido a
problemas relativos a:
• Amostras pequenas com limitada validade estatística;
• Ausência de dados quantitativos apropriados quanto à duração da exposição e
dos níveis envolvidos;
• Incertezas no que se refere ao conceito de grupo de controle adequado.
Os problemas com as pesquisas e experimentos não os tornam inválidos, apenas
dificultam sua validação e os tornam suspeitos em certo grau. Mas o fato é que cada vez
mais se torna difícil vender casas próximas a linhas de alta voltagem!

4.5. EXEMPLOS REAIS


4.5.1. O PROBLEMA DOS CAMPOS MAGNÉTICOS
As primeiras indicações de que campos magnéticos associados a linhas de
transmissão e eletrodomésticos poderiam gerar riscos à saúde de seres humanos
surgiram na antiga União Soviética. No início da década de 60, trabalhadores soviéticos
de uma estação de transmissão começaram a se queixar de náuseas, dores de cabeça e
falta de apetite sexual. Por falta de uma explicação adequada, cientistas soviéticos
especularam que talvez estes efeitos estivessem associados aos campos magnéticos em
torno do local. Todavia outros cientistas duvidaram da hipótese levantada.
O tema permaneceu dormente até que no meio da década de 70, dois
epidemiologistas da Universidade do Colorado, Nancy Wertheimer e Ed Leeper,
analisaram novamente a questão. Eles encontraram um número incomumente alto de
casos de leucemia em crianças moradoras perto de certos tipos de linhas de transmissão
elétrica na cidade de Denver. Surgiram muitas críticas ao estudo, mas outro
epidemiologista, David Savitz, encontrou resultados semelhantes num relatório da
Comissão de Energia de Nova York.
Desta vez o tema não foi esquecido e recebeu muita atenção quando, em junho de
1989, uma revista de Nova York publicou uma série de artigos do escritor científico Paul
Brodeur. Ele apontava para a possibilidade de uma correlação entre campos magnéticos
e certos tipos de câncer. Desde então o tema tem sido alvo de muita discussão, com
certo alarde nas áreas residenciais dos Estados Unidos e Canadá que se situam junto a
linhas de alta voltagem. O tema tem sido discutido com estudos favorecendo a correlação
e outros nada indicando, e como muitas vezes acontece na área científica, conclusões
claras e definitivas ainda não foram obtidas.
Atualmente a maioria dos cientistas concorda que campos magnéticos têm algum
efeito sobre organismos biológicos, uma hipótese que teria sido considerada radical
demais há alguns anos. Contudo, existem profundas divisões sobre a natureza dos
efeitos, e alguns especialistas lembram que a vida se desenvolveu sob condições muito

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
85

distintas do ambiente urbano moderno, diariamente bombardeado por campos


magnéticos artificiais. Alguns hospitais usam campos eletromagnéticos pulsantes para
estimular o crescimento e recuperação de ossos, mostrando que nem todos os efeitos
são maléficos.
No estágio atual a situação parece bem definida por Paul Héroux, professor
associado de eletromagnetismo e saúde na faculdade de medicina da Universidade
McGill: “Acredito que haja um risco, mas ninguém sabe o quão grande ele é”.

4.5.2. CAMPOS MAGNÉTICOS E LEUCEMIA


Um artigo apresentado no jornal canadense “Globe and Mail” em 1994 apresentava
dados relativos à associação entre elevadas taxas de leucemia e campos magnéticos. O
estudo envolvera 223.000 trabalhadores que trabalhavam na área industrial e elétrica nas
províncias canadenses de Ontário e Quebec bem como na França. A pesquisa custou
U$ 4,5 milhões, sendo uma das maiores do tipo já realizadas no mundo, e envolveram
trabalhadores das empresas Ontario Hydro, Hydro-Quebec e Eletricité de France, no
período de 1979 a 1989. Durante o período de estudo, os trabalhadores desenvolveram
4151 casos de câncer, sendo 140 de leucemia.
O estudo mostrou que aqueles expostos a campos magnéticos acima da média
tinham taxas de leucemia 3 vezes maiores que aqueles expostos a campos mais fracos.
Mostrou também que a incidência de câncer do cérebro nos trabalhadores expostos aos
campos magnéticos mais intensos era 12 vezes maior que para aqueles expostos
campos mais fracos. Os resultados, todavia não foram conclusivos porque o número de
casos não era suficientemente grande.
Os pesquisadores concluíram que os resultados indicavam uma associação entre
exposição ocupacional a campos magnéticos e pelo menos um tipo de leucemia. Mas
também admitiram que a evidência não era suficientemente forte para afirmar que a
exposição a campos magnéticos causava leucemia. Não foram encontradas associações
com outras formas de câncer, incluindo melanoma de pele, câncer mamário em homens
e câncer de próstata. Os resultados completos foram apresentados no American Journal
of Epidemiology de junho de 1994.
Participaram da pesquisa durante 5 anos 3 internacionalmente renomados
epidemiologistas, os doutores Gilles Thériault da Universidade McGill em Montreal,
Anthony Miller da Universidade de Toronto e Marcel Goldberg do Instituto Nacional da
Saúde e da Pesquisa Médica de Paris. Os resultados se adicionaram às controvérsias
sobre os efeitos dos campos magnéticos na saúde humana, os quais são gerados por
todos os eletrodomésticos, de tostadoras a televisão, além dos fios de alta tensão.
O doutor Miller, então chefe do Departamento de Medicina Preventiva e
Bioestatística da Universidade de Toronto, e que conduziu a pesquisa com os
trabalhadores da Ontario Hydro, afirmou que os estudos foram valiosos porque
reforçavam pesquisas anteriores associando leucemia e campos magnéticos. Frisou
porém que os resultados não eram diretamente aplicáveis à população em geral, pois ela
estaria exposta a diferentes intensidades magnéticas com relação à exposição dos
trabalhadores das empresas elétricas. Enfatizou também, que fontes como linhas de
transmissão geram campos cuja intensidade cai drasticamente com a distância. Assim,
as pessoas que vivem perto das linhas de transmissão não estão expostas aos mesmos

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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níveis que os trabalhadores que operam junto às linhas. Finalmente concluiu que não se
sabe ainda se as curtas, mas intensas exposições dos trabalhadores causam efeitos
similares a exposições mais longas a níveis menores, como a que a estão submetidos
moradores próximos das linhas de transmissão.
Um dos resultados intrigantes da pesquisa é que não foi encontrada uma clara
correlação entre as doses recebidas pelos trabalhadores e a taxa de incidência de
câncer. Também não houve consistência para os resultados para cada empresa. Estes
fatos levaram os pesquisadores em relutar em afirmar que tinham encontrado evidências
conclusivas, relacionando câncer do sangue com exposição a campos magnéticos. Para
a população geral a leucemia afeta 3 em cada 200 pessoas durante a vida média do ser
humano no Canadá e França.
Os trabalhadores analisados tinham sido expostos a campos magnéticos médios de
até 5,4 microtesla, que é a unidade usada para medir este tipo de radiação. Estes
resultados foram obtidos com dosímetros usados por grupos de 2000 trabalhadores
durante uma semana. De acordo com a Ontario Hydro, o valor médio nos domicílios é da
ordem de 0,1 a 0,15 microtesla. Todavia, pessoas junto a aparelhos como fornos e
secadores de cabelo podem ser expostas a campos mil vezes maiores.

4.6. LIMITES ADMISSÍVEIS


A ACGIH publica anualmente seus limites de tolerância (TLV) e a radiação não
ionizante aparece na parte relativa a agentes físicos. A norma brasileira NR-15 trata do
assunto no Anexo 7.

4.6.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA


Como a radiação ultravioleta de curto comprimento de onda pode causar reações
químicas como queimaduras de pele, esta banda tem limites de tolerância mais restritivos
que a faixa ultravioleta mais próxima do espectro visível.
Já no livreto de 1994-1995 da ACGIH, à página 102, aparece um valor denominado
função afáquica de risco (aphakic risk function), com o valor diminuindo de 6,00 para
305 nm para 1,43 para 400 nm. Acima de 380-400 nm adentramos as faixas da luz
violeta e azul.

4.6.2. RADIAÇÃO VISÍVEL


A CIE – Comissão Internacional de Iluminação é uma organização orientada à
cooperação e troca de informações entre seus países membros em todos os assuntos
relativos à iluminação. Suas publicações cobrem desde níveis recomendados até
metodologias de medição e definições de parâmetros.
Os limites da ACGIH são indicados para fontes de luz visível e infravermelho
próximo com emissão de mais de 1 nit (1 candela por metro quadrado), com cuidado
especial para a luz azul principalmente na faixa 425 a 450 nm. Para lasers a ACGIH
dedica muitas páginas.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.6.3. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA


O TLV para exposição ao infravermelho é de 10 mW/m2, para exposições
superiores a 1000 segundos. Este valor é especificado para proteção a córnea e o
cristalino do olho. A ACGIH também fornece uma fórmula para a proteção da retina com
relação a lâmpadas de aquecimento por infravermelho. Isto decorre do fato de que
algumas destas lâmpadas emitem muito pouca luz visível, e a pupila não corta
automaticamente o excesso de radiação como acontece com a faixa visível.

4.7. METODOLOGIA DE MEDIÇÃO


4.7.1. RADIÔMETROS
Para a radiação ionizante todos os instrumentos de medição se baseiam no fato de
que a energia da radiação desloca elétrons de suas órbitas normais, criando íons
(partículas carregadas). Estes íons podem produzir outros efeitos como um feixe de luz
ou uma corrente elétrica, que podem então ser amplificados e medidos.
A radiação não ionizante não tem energia suficiente para retirar um elétron de sua
órbita e formar um íon. A medição, portanto, segue outro princípio, com a energia
radiante atingindo células feitas de materiais especiais e contidas nos instrumentos
denominados radiômetros. Estes materiais permitem facilmente que se crie um fluxo de
elétrons em seu interior ao serem atingidos pela energia radiante. Com o uso de tubos
fotomultiplicadores pode-se fazer com que os elétrons liberados desloquem mais outros
elétrons, de modo que a corrente possa ser lida numa escala. Ajustando-se a resposta
pode-se obter uma leitura de um número proporcional à intensidade da radiação.
Com o uso de filtros pode-se bloquear todas as radiações menos as de interesse,
de modo que a combinação adequada de filtros permita que se meça com um mesmo
instrumento faixas específicas do espectro não ionizante. Estes instrumentos permitem
que se faça medições de intensidade radiante com diferenças de várias ordens de
magnitude.

4.7.2. MÉTODOS MISTOS


Detectores de radiação podem operar também com base em outros princípios. Um
simples termômetro pode detectar radiação infravermelha, pois a energia transformada
em calor aumenta a energia das moléculas de álcool ou mercúrio, com a conseqüente
expansão do fluido. Este termômetro pode ser protegido de outros tipos de fontes de
calor de modo que apenas a energia radiante seja medida. Este tipo de termômetro será
discutido com mais pormenores no capítulo sobre calor.
A energia radiante pode afetar a resistência elétrica de um fio, de modo que pela
detecção de pequenas alterações de corrente pode-se ter um instrumento para medir
intensidades de uma faixa do espectro eletromagnético.
Radares são instrumentos que captam os ecos do sinal por eles emitidos, sendo
usados desde aviação até controle de velocidade nas estradas. Apesar de operarem na
banda de freqüência entre 100 Hz e 100 GHz, eles não medem exatamente radiação não
ionizante e não podem ser classificados como radiômetros.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
88

4.8. AÇÕES CORRETIVAS


4.8.1. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
A camada de ozônio bloqueia os efeitos da radiação UVC, com a radiação UVA e
UVB sendo maiores na primavera e no verão. Em geral, a UVB é mais intensa entre
10 horas e 14 horas, enquanto a UVA é mais nociva no início da manhã e no final da
tarde. Num dia ensolarado de verão, ao meio dia, 15 minutos podem ser suficientes para
se criar uma queimadura numa pele desprotegida.
Para proteger trabalhadores da radiação UV quando estão sob luz solar direta,
deve ser usada roupa tightly-woven cobrindo o máximo possível do corpo, além de se
usar um chapéu. Proteção contra raios UV pode ser obtida também com o uso de loções
e cremes contendo óxido de zinco e de titânio (ZnO e TiO2), e classificados de acordo
com uma escala de proteção entre 1 e 18. A proteção será eficiente se for mantido um
adequado filme sobre a pele e for usado um fator de proteção alto (>14).
As telas de proteção e os óculos com lentes especiais podem proteger efetivamente
contra UVA e UVB. Óculos de segurança de plástico são menos eficientes, mas filtram
também a radiação UV.

4.8.2. RADIAÇÃO VISÍVEL


Existem muitos modos de se evitar o ofuscamento desabilitante, incluindo evitar luz
direta pela colocação de anteparos, instalando cortinas em janelas, reduzindo a reflexão
pelo uso de material fosco e pela disposição cuidadosa de mesas, terminais, e fontes de
luz. Visores e óculos escuros auxiliam quando ao ar livre num dia muito ensolarado.

4.8.2.1. Terminais de Vídeo


O melhor procedimento é fazer pausas curtas e freqüentes, antes que se inicie a
fadiga do músculo ciliar. Pausas longas e mais espaçadas não são tão eficientes na
prevenção de espasmos do músculo, e a mudança de foco auxilia no controle do início da
fadiga visual.

4.8.2.2. Lasers
Alguns procedimentos para diminuir os efeitos de lasers são os seguintes:
• Usar roupas pesadas e reflexivas (brancas);
• Adotar as mesmas medidas protetoras dos soldadores a arco, como uso de
óculos com filtros para certos comprimentos de onda. Eles protegem contra
quase todos os lasers menos os mais potentes. O uso apropriado de óculos
deve levar em conta sua densidade ótica com relação ao comprimento de onda
do laser;
• As pessoas operando com lasers devem ser instruídas sobre os perigos dos
mesmos para a visão e evitar olhar diretamente o feixe primário ou reflexões
especulares do mesmo;
• Deve haver boa comunicação entre o operador do laser e as pessoas
trabalhando nas proximidades, de modo que todos recebam um aviso quando o
laser for ligado;

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eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
89

• Devem ser colocados avisos de perigo;


• Para levantamentos deve ser utilizado um laser de baixa energia, aumentando a
segurança geral.

4.8.3. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA


Devem ser usados protetores de olhos e de face, com as medidas contra o calor
desta radiação sendo discutidas no capítulo sobre calor e conforto termocorporal.

4.8.4. MICROONDAS
Os radares comumente usados para medir a velocidade nas estradas ou para
mapear o clima não geram uma condição de perigo, a menos que sejam visualizados
diretamente na frente da antena durante a operação e a uma distância de alguns metros.
Todavia, radares maiores como os de busca ou de alarme podem gerar campos de
intensidades perigosas, devendo ser checados antes que qualquer pessoa trabalhe em
frente à antena. As pessoas que trabalham perto ou ao redor de antenas de radares de
alta potência ou de instrumentos de teste de radares devem ser adequadamente
treinadas e supervisionadas para diminuir a exposição, além de ficar o menor tempo
possível perto das regiões de risco.
Para toda a gama de radiações de microondas, o dano só ocorrerá se as instruções
do fabricante não forem seguidas. Cada equipamento tem suas instruções específicas e
generalizações não devem ser feitas.

4.8.5. RADIOFREQÜÊNCIAS
As ações corretivas para os aquecedores de radiofreqüência são as mesmas que
as para os aquecedores de microondas. Devem ser seguidas as recomendações do
fabricante e os aquecedores devem ser bem blindados para conter ou divergir a energia
de radiofreqüência.

4.8.6. FREQUÊNCIAS EXTREMAMENTE BAIXAS


Para as freqüências extremamente baixas (ELF – “extremely low frequencies”)
praticamente qualquer superfície é uma eficiente barreira ao campo elétrico. As pessoas
trabalhando com linhas de transmissão de alta voltagem ou em regiões de altos campos
usam roupas de proteção condutivas. E uma ação administrativa é diminuir ao máximo o
tempo de trabalho em locais com altos campos.
Infelizmente não existe ainda um método prático de redução da exposição aos
campos magnéticos ELF. As ações práticas incluem a diminuição do tempo de exposição
ou a limitação dos campos magnéticos a níveis considerados seguros. Todavia o que
seria um nível seguro ainda é motivo de estudos e controvérsias.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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4.9. TESTES

1. Qual dessas radiações não faz parte das radiações não ionizantes?
a) Ultravioleta.
b) Visível.
c) Microondas.
d) Cósmica.
e) ELF.

2. Qual dessas radiações eletromagnéticas é comumente utilizada em equipamentos


de aquecimento elétrico?
a) Radiofreqüência.
b) Ultravioleta.
c) Raios X.
d) Infravermelha.
e) Visível.

3. Analise as informações abaixo sobre radiações ionizantes:


I – Pesquisas mostram que campos magnéticos aumentam o risco de leucemia;
II – As microondas geram material radioativo;
III – Não há provas de que há emissão de radiações perigosas pelos terminais de
vídeo.
Qual a alternativa correta?
a) Apenas I e II são verdadeiras.
b) Apenas II e III são verdadeiras.
c) Apenas II é falsa.
d) Todas são falsas.
e) Todas estão corretas.

4. Qual desses procedimentos não é eficiente para diminuir os potenciais perigos de


equipamentos de lasers?
a) Evitar olhar o feixe primário e ou suas reflexões especulares.
b) Devem ser colocados avisos e sinalização de perigo.
c) O feixe de radiação do equipamento deve terminar em um alvo que seja não
refletor e resistente a energia do feixe.
d) O operador deve receber treinamento para o correto uso e operação;
e) Utilização de óculos contra calor.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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5. A exposição ocupacional, situação em que as pessoas são expostas a campos


eletromagnéticos das radiações não ionizantes em conseqüência do seu trabalho, de
acordo com a legislação do Ministério do Trabalho e Emprego – Portaria 3.214/78 ,
NR 15 , anexo 7, podem caracterizar a condição de:
a) Periculosidade.
b) Penosidade.
c) Insalubridade.
d) Risco de vida
e) Perigo de contaminação.

6. A expressão "efeito biológico" para o ser humano, é entendida como uma resposta
a um estímulo externo. No caso, o estímulo provocado pela energia das ondas
eletromagnéticas, podem causar respostas que promovem efeitos biológicos
patológicos para os trabalhadores. Então, podemos afirmar que a nocividade do
efeito biológico promovido pela radiação eletromagnética depende da:
I. Distância entre a pessoa exposta e a fonte emissora da radiação,
II. Intensidade das ondas de radiofreqüências emitidas;
III. Freqüência da radiação;

a) Apenas a alternativa II está correta.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas I e III estão corretas.
d) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

7. A interação da radiação com a matéria pode provocar a “ionização” ou a


“excitação”, assim sendo podemos afirmar:
a) Ionização é o fenômeno que caracteriza a expulsão do núcleo do átomo,
subdividindo-o em duas partes eletricamente carregadas (formar par de íons).
b) Excitação é quando a radiação, ao interagir com um ou mais átomos, tem energia
capaz de arrancar um ou mais elétrons das camadas eletrônicas, desenergizando-o
parcialmente.
c) A radiação ao ceder parte ou toda sua energia ao núcleo do átomo promove
alterações ou perturbações no seu movimento, com o aumento da energia interna do
átomo com o qual interagiu.
d) A ionização é o fenômeno que caracteriza as radiações não ionizantes, conquanto
a excitação caracteriza as radiações ionizantes.
e) Ionização é um fenômeno que ocorre quando a radiação, ao interagir com
um (ou mais) átomos que integram a matéria, tem energia capaz de subdividi-lo
em duas partes eletricamente carregadas, denominado par iônico.

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Capítulo 4. Radiações não Ionizantes
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8. Quanto às unidades de medida das grandezas abaixo, podemos afirmar:


a) Freqüência da radiação eletromagnética “f”, é normalmente medida em
ciclos por segundo;
b) O comprimento de onda eletromagnética, representado pela letra grega “γ”, é uma
grandeza medida em Hertz (Hz).
c) O campo magnético formado pela radiação eletromagnética é medido em
miliWatts por centímetro quadrado (mW/cm²);
d) energia eletromagnética depositada pela radiação em um volume de matéria pode
ser medida em Coulomb por quilograma (C/Kg)
e) O campo elétrico é medido em microtesla.

9. O termo Laser se refere a:


a) “largest allowable sample error”.
b) “long amplitude source evaluation results”.
c) "light amplification by stimulated emission of radiation".
d) “light amplitude series emitted by radiation”.
e) “let all senior enter the restroom”.

10. Um exemplo de um instrumento que não pode ser utilizado como um radiômetro
é:
a) Um fotômetro.
b) Um luxímetro.
c) Um termômetro.
d) Um radar.
e) Detector de metais.

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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
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CAPÌTULO 5. AVALIAÇÃO E CONTROLE DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO


CALOR

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste capítulo serão discutidos os efeitos de altas temperaturas no ser humano.


Calor e umidade nos locais de trabalho podem gerar efeitos indesejáveis como eficiência
mais baixa, aumento do descaso com conseqüente geração de acidentes e condução a
doenças e fatalidades.

Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a:


• Listar os fatores componentes da carga térmica;
• Diferenciar entre carga térmica e esforço termocorporal;
• Explicar os principais efeitos do calor no trabalhador;
• Utilizar os limites de tolerância relativos a cargas térmicas ;
• Avaliar se uma dada operação oferece uma exposição dentro dos limites legais
admitidos; e
• Apresentar algumas medidas mitigadoras com relação ao conforto
termocorporal.

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eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
94

5.1. INTRODUÇÃO
Grande parte dos ambientes de trabalho oferecem condições propícias para a
sobrecarga térmica, que pode provocar reações fisiológicas como: sudorese intensa,
aumento da freqüência das pulsações e o aumento da temperatura interna do corpo, que
por sua vez, acabam provocando no trabalhador fadiga, diminuição da percepção e do
raciocínio e perturbações psicológicas que o levam ao esgotamento. Esta sobrecarga
térmica com o tempo pode provocar danos à saúde do trabalhador, com reflexos no
sistema circulatório e endócrino.
Os processos de trabalho como siderurgia, metalurgia, fundições, vidraria e outros
aliados ao arranjo físico deficiente, pé direito muito baixo e ausência de elementos para a
ventilação natural ou artificial, tornam os ambientes de trabalho inadequados sob o ponto
de vista de calor, tornando necessária a adoção de medidas de controle, algumas
bastante simples outras mais complexas, que exigem o conhecimento das características
do ambiente de trabalho para a sua execução.
Com a finalidade de se determinar os limites aceitáveis dessas exposições,
utilizam-se diversos índices de sobrecarga térmica e dentre eles, o mais utilizado é o
IBUTG, que por sua simplicidade, foi adotado pela nossa legislação.

5.2. MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS.


A sobrecarga térmica no organismo humano é resultante de dois tipos de carga
térmica: uma carga externa (ambiental) e outra interna (metabólica). A carga externa é
resultante de trocas por condução/convecção e radiação e a carga metabólica é
resultante do metabolismo basal e da atividade física. A seguir é apresentada uma breve
descrição dos mecanismos de trocas térmicas:
• CONDUÇÃO: Troca térmica entre dois corpos em contato, geralmente sólidos.
No organismo essas trocas são muito pequenas, geralmente por contato com o
corpo com ferramentas e superfícies;
• CONVECÇÃO: Troca térmica realizada geralmente entre dois fluidos por
diferença de densidade provocada pelo aumento da temperatura. Geralmente
utilizamos a expressão condução/ convecção para esse tipo de troca;
• RADIAÇÃO: Através da emissão de radiação infravermelha, os corpos de maior
temperatura tendem a perder calor para corpos de menor temperatura numa
tentativa de equilíbrio. As trocas por radiação, correspondem a 60% das trocas
totais;
• EVAPORAÇÃO: É a troca de calor produzida pela evaporação do suor, através
da pele. Quando um líquido passa para o estado gasoso, ganha energia interna
(a entalpia de vaporização da água é de 590 Cal/grama), assim sendo, absorve
o calor da pele resfriando-a. Essa troca térmica é ainda facilitada, pois nesse
momento, está acontecendo a vasodilatação periférica.
O mecanismo da evaporação é o único meio de perda de calor para o ambiente,
quanto a temperatura está mais alta que a temperatura do corpo, pois nesse caso, o
corpo ganharia calor por condução/convecção e por radiação.

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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
95

Pelo mecanismo de trocas térmicas, o organismo ganha ou perde calor para o meio
ambiente segundo a equação do equilíbrio térmico:
M ±C ± R−E = S
Onde:
M = calor produzido pelo metabolismo, sendo um calor sempre ganho (+)
C = calor ganho ou perdido por condução/convecção
R = calor ganho ou perdido por radiação (+/-)
E = calor sempre perdido por evaporação (-)
S = calor acumulado no organismo (sobrecarga)

Sendo:
S >0 hipertermia
S <0 hipotermia.

5.3. REAÇÕES DO ORGANISMO AO CALOR


À medida que o calor ambiente aumenta, o organismo dispara certos mecanismos
de troca térmica para manter a temperatura interna constante, sendo os principais
mecanismos de defesa contra a sobrecarga térmica a vasodilatação periférica e a
sudorese.
• VASODILATAÇÃO PERIFÉRICA: A vasodilatação periférica permite o aumento
de circulação de sangue na superfície do corpo, aumentando a quantidade de
calor, permitindo uma troca mais rápida para o meio ambiente. O fluxo
sangüíneo transporta calor do núcleo do corpo para a periferia. Como o fluxo
sangüíneo fica maior na periferia, em certas circunstancias pode haver dano em
alguns órgãos internos por deficiência de irrigação sangüínea.
• SUDORESE: A sudorese permite a perda de calor através da evaporação do
suor. O número de glândulas ativadas pelo mecanismo termo-regulador, é
proporcional ao desequilíbrio térmico existente. A quantidade de suor produzido
pode em alguns instantes atingir o valor de dois litros por hora. A evaporação de
um litro por hora permite uma perda de 590 kcal. para o meio ambiente.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
96

Calor perdido
radiação e convecção Calor perdido
menor que o produzido
pelo metabolismo por evaporação

Maior perda de A temperatura


calor por radiação da pele sobe SUDORESE Perda CÃIBRAS
e convecção de sal DE CALOR

Aumento do fluxo VASODILATAÇÃO Perda de


de calor do núcleo PERIFÉRICA água
para a periferia
Fadiga das
Retorno glândulas
Fluxo sangüíneo inadequado de sudoríparas
inadequado nas sangue venoso
áreas vitais para o coração

Diminuição da
Sudorese
Circulação
inadequada na pele

Elevação na
temperatura do corpo

Distúrbio circulatório
EXAUSTÃO DO CALOR
(SÍNCOPE)

Distúrbio no mecanismo
central de controle
(Sudorese cessa)

Rápida elevação da
temperatura do corpo

CHOQUE TÉRMICO (HIPERTERMIA)


(GOLPE DE CALOR)

Figura 5.1. Reações do organismo ao calor

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
97

5.4. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE ENFERMIDADES – OMS/75


A tabela 5.1. apresenta uma relação de doenças provocadas pela exposição ao
calor.

Tabela 5.1. Classificação Internacional de Enfermidades

Código Designação clínica Categoria etiológica


Golpe de calor
992.0 Falha termoreguladora
Apoplexia devido ao calor
Hipotensão ortostática
992.1 Síncope do calor
(instabilidade circulatória)
992.2 Cãibras de calor
Prostração hídrica devido ao
992.3
calor
Prostração térmica devida à
Desequilíbrio entre a
992.4 queda do teor de cloreto de
quantidade de sal e de água
sódio
Prostração térmica não
992.5
especificada
Fadiga transitória e crônica
992.6 Perturbação do comportamento
pelo calor
992.7 Edema do calor
Erupção cutânea,
Perturbação da pele e dano
705.1 esgotamento aniódrico pelo
das glândulas sudoríparas
calor

5.4.1. GOLPE DE CALOR (HIPERTERMIA OU CHOQUE TÉRMICO)


Quando o sistema termorregulador é afetado pela sobrecarga térmica, a
temperatura interna aumenta continuamente, produzindo alteração da função cerebral,
com perturbação do mecanismo de dissipação do calor, cessando a sudorese. Como os
danos ás células nervosas são irreversíveis, é importante que os outros trabalhadores
reconheçam imediatamente os sinais e sintomas do golpe de calor, para que o
tratamento seja feito imediatamente.
O golpe de calor produz sintomas como: colapsos, convulsões, delírios, alucinações
e coma, sem aviso prévio, sendo parecido com convulsões epilépticas.
Os sinais externos do golpe de calor são: pele quente, seca e arroxeada. A
temperatura interna sobe a 40,5°C ou mais, podendo atingir 42°C a 45°C no caso de
convulsões ou coma. O golpe de calor é freqüentemente fatal e no caso de sobrevivência
ficam sempre algumas seqüelas devido aos danos causados ao cérebro, rins e outros
órgãos. Quando a fonte de calor for o sol, de sintomas e efeitos recebe o nome de
insolação.
O golpe de calor pode ocorrer durante a realização de tarefas físicas pesadas, em
condições de calor extremo, quando não há a aclimatização e quando existem certas
enfermidades como o diabetes mellitus, enfermidades cardiovasculares e cutânea ou
obesidade.
O médico deve ser chamado imediatamente e enquanto não chega o corpo do
trabalhador deve ser resfriado em imersão em água com gelo e massagem da pele
resfriada para ativar a circulação ou enrolando-o em uma toalha molhada com água ou

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
98

com álcool e com sopro forte de um ventilador, seguido de massagem da pele resfriada.
A etapa de resfriamento deve ser parada quando a temperatura corpórea atingir 39°C.

5.4.2. SÍNCOPE PELO CALOR (EXAUSTÃO PELO CALOR)


A síncope pelo calor resulta da tensão excessiva do sistema circulatório, com
sintomas como: enjôo, palidez, pele coberta pelo suor e dores de cabeça.
Quando a temperatura corpórea tende a subir, o organismo sofre uma
vasodilatação periférica na tentativa de aumentar a quantidade de sangue nas áreas de
troca, com isso há uma diminuição de fluxo sangüíneo nos órgãos vitais, podendo ocorrer
uma deficiência de oxigênio nessas áreas, comprometendo particularmente o cérebro e o
coração.
Essa situação pode ser agravada quando há a necessidade de um fluxo maior de
sangue nos músculos devido ao trabalho físico intenso.
A recuperação é rápida e ocorre naturalmente se o trabalhador deitar-se durante a
crise ou sentar-se com a cabeça baixa. A recuperação total é complementada por
repouso em ambiente frio.

5.4.3. PROSTRAÇÃO TÉRMICA POR DESIDRATAÇÃO


A desidratação ocorre quando a quantidade de água ingerida é insuficiente para
compensar a perda pela urina, sudação ou pelo ar exalado.
Com a perda de 5 a 8% do peso corpóreo, ocorre a diminuição da eficiência do
trabalho, sinais de desconforto, sede, irritabilidade e sonolência, além de pulso acelerado
e temperatura elevada.
Uma perda de 10% do peso corpóreo é incompatível com a atividade e com 15%
pode ocorrer o choque térmico ou golpe pelo calor.
O tratamento consiste em colocar o trabalhador em local frio, fazer a reposição
hídrica e salina.
Infelizmente temos dificuldades em perceber uma situação de desidratação,
principalmente se estivermos em um clima seco e com alta velocidade do ar, onde a
evaporação do suor é mais rápida não sendo facilmente percebida. Nestas condições a
desidratação poderá atingir níveis que comprometam o estado físico, a tolerância ao calor
e a capacidade mental, produzindo perda da habilidade e um tempo de reação maior que
o normal.

5.4.4. PROSTRAÇÃO TÉRMICA PELO DECRÉSCIMO DO TEOR SALINO


Se o sal ingerido for insuficiente para compensar as perdas por sudorese, podemos
sofrer uma prostração térmica. As pessoas mais susceptíveis são as não aclimatizadas.
A prostração térmica é caracterizada pelos sintomas: fadiga, tonturas, falta de
apetite, náuseas, vômitos e cãibras musculares. As dores de cabeça, a constipação e a
diarréia são bastante comuns, podendo ocorrer até a síncope pelo calor.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
99

5.4.5. CÃIBRAS DE CALOR


Apresenta-se na forma de dores agudas nos músculos, em particular os
abdominais, coxas e aqueles sobre os quais a demanda física foi intensa. Elas ocorrem
por falta de cloreto de sódio perdido pela sudorese intensa, sem a devida reposição e/ou
aclimatização.
O tratamento consiste no descanso em local fresco, com a reposição salina através
de soro fisiológico (solução a 1%).
A reposição hídrica e salina deve ser feita porém com orientação e
acompanhamento médico, a fim de evitar uma possível hipertensão por administração
inadequada de cloreto de sódio. A administração de uma solução a 0,1% tem sido
adotada em muitos ambientes fabris com bons resultados, não se excluindo o
acompanhamento médico.

5.4.6. ENFERMIDADES DAS GLÂNDULAS SUDORÍPARAS


A exposição ao calor por um período prolongado e particularmente em clima muito
úmido pode produzir alterações das glândulas sudoríparas que deixam de produzir o suor
agravando o sistema de trocas térmicas, podendo levar os trabalhadores á intolerância
ao calor. Esses trabalhadores deverão receber tratamento dermatológico e em alguns
casos devem ser transferidos para tarefas onde não haja a necessidade de sudorese
para a manutenção do equilíbrio térmico.

5.4.7. EDEMA PELO CALOR


Consiste no inchaço das extremidades, em particular os pés e tornozelos.
Ocorre comumente em pessoas não aclimatizadas, sendo muito importante a
manutenção do equilíbrio hídrico-salino.

5.4.8. OUTROS EFEITOS À SAÚDE


• Aumento da susceptibilidade a outras doenças (maior susceptibilidade às
dermatoses e potencialização dos efeitos pela presença de outros agentes);
• Diminuição do rendimento (pela sobrecarga do sistema cardiovascular,
redução na atividade cerebral e do tempo de reação);
• Catarata (exposição à radiação infravermelha provoca a degeneração do
cristalino do olho, muito comum em pessoas idosas);
• Efeitos nos órgãos solicitados pela sobrecarga térmica (cardiovascular,
respiratório e glândulas internas).

5.5. ACLIMATIZAÇÃO
A aclimatização é a adaptação do organismo a um ambiente quente. Quando um
trabalhador se expõe ao calor intenso pela primeira vez, tem sua temperatura interna
significativamente elevada, com um aumento do ritmo cardíaco e baixa sudorese,
gerando um desconforto muito grande, com tonturas, náuseas, desmaios etc.
A aclimatização ocorre através de três fenômenos:
• Aumento da sudorese;

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
100

• Diminuição da concentração de sódio no suor (4 g/l para 1,0 g/l) e a


quantidade de sódio perdido por dia passa de 15 a 25 gramas para
3 a 5 gramas;
• Diminuição da freqüência cardíaca, através do aumento do volume cistólito
devido ao aumento da eficiência do coração no bombeamento.
A aclimatização é realizada através de diversas etapas:
• O tempo de exposição a altas temperaturas deve ser limitado nas primeiras
semanas, ficando, no entanto exposto no mínimo duas horas por dia;
• A climatização é iniciada após 4 a 6 dias e satisfatória após 2 a 3 semanas;
• Os fenômenos circulatórios associados à aclimatização são mais lentos que o
aumento da sudorese e a diminuição do sódio no suor;
• O diagnóstico da aclimatização é feito com base na temperatura retal, no grau
de sudorese e na freqüência cardíaca;
• À medida que a freqüência cardíaca vai baixando próximo aos níveis que
seriam obtidos se o esforço fosse feito em um ambiente neutro, conclui-se que o
processo de aclimatização está sendo realizado.
A especificidade da aclimatização ao calor é um conceito muito importante, pois o
trabalhador estará aclimatizado para aquela carga de trabalho naquele ambiente. Se
mudarmos o ambiente ou a carga de trabalho, podem ocorrer danos físicos.
O afastamento do trabalho por uma semana pode fazer com que o trabalhador
perca de 1/4 a 2/3 da aclimatização e após três semanas a perda será total.

Tabela 5.2. Aclimatização ao Calor


Mecanismo Causa
Inicial: 1,5 l/h Não aclimatização. Início do suor
a 36°C
Em 10 dias: 3,0 l/h Aclimatizados início do suor a
Aumento da sudorese 33°C
Em 6 semanas: 3,5 l/h Aumento da sudorese mais no
dorso que no peito, ativando
novas glândulas
Diminuição da concentração 4,0 g/l ⇒ 1,0 g/l
de sódio no suor
15 a 25 g/dia ⇒3 a
Adosterona
5g/dia
Aumento do volume
Aumento da eficiência cardíaca
Sistólico
Diminuição da freqüência
Temperatura sobe
cardíaca diante da mesma Aumento da sudorese
menos
carga de trabalho
Aumento do Fluxo
Vasodilatação
sanguíneo periférico

Observação: os fatores que dificultam a aclimatização do organismo são: sexo


feminino, obesidade, desnutrição, força aeróbica baixa e uso de drogas (atropina,
salicilatos, anfetaminas, meprobanato).

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
101

5.6. CONFORTO TÉRMICO


O conforto térmico nos ambientes de trabalho depende da temperatura, velocidade
e umidade relativa do ar, além do metabolismo das tarefas a serem executadas.

5.7. VELOCIDADE DO AR
A movimentação do ar é muito importante para o conforto térmico, pois aumenta as
trocas de calor bem como possibilita a retirada de ar quente e umidade e a insuflação de
ar frio nos ambientes.
Ela é medida através dos anemômetros que podem ser de dois tipos:
• Mecânicos: Formados por palhetas rotatórias e devido à sua baixa sensibilidade
são utilizados somente para velocidades mais que 0,75 m/s;
• Termoanemômetros: São bem mais sensíveis e se prestam para medir
velocidades muito baixas ou altas. São constituídos por duas espirais de níquel,
que formam os ramos de uma ponte de Wheatstone, sendo uma delas
aquecida. A velocidade do ar tem um efeito refrigerante sobre o fio aquecido, o
que faz variar sua resistência, que é medida em uma escala proporcional à
velocidade do ar.
Existe ainda um outro equipamento que serve para medir a velocidade do ar, que é
o catatermômetro, que é usado em sistemas de refrigeração. É um termômetro de álcool
com um bulbo maior que o normal e possui um depósito na parte superior e duas marcas
de referencia em sua haste. Devido à sua alta sensibilidade, se presta para medir
velocidades de 0,25 m/s ou menores.
Muitas vezes torna-se necessário estimar a velocidade do ar, que pode ser feita da
seguinte forma:
• Quando não se sente a movimentação do ar, provavelmente a sua velocidade é
Inferior a 0,30 m/s;
• Quando se sente uma ligeira brisa, a velocidade do ar está entre 0,30 e
0,60 m/s;
• Se o movimento do ar é suficientemente forte para movimentar peças leves de
vestuário, ou os cabelos, sua velocidade é superior a 0,5 m/s;
• Quando a sensação é de se estar em uma corrente forte de ar, a velocidade é
provavelmente de 1,5 m/s

5.8. UMIDADE RELATIVA DO AR


A umidade relativa do ar é a relação em porcentagem da quantidade real de vapor
de água que o ar contêm e a quantidade que o ar poderia conter se estivesse saturado à
mesma temperatura. A umidade relativa do ar é medida através de um psicrômetro, que é
constituído por dois termômetros, um de bulbo seco e outro de bulbo úmido.
Existem dois tipos de psicrômetro:
• Giratório: Através de movimentos giratórios, o ar entra em contato com os
termômetros e evapora a água do bulbo úmido, numa relação inversamente
proporcional à sua umidade relativa, resfriando o bulbo úmido. Com as duas
temperaturas, entramos na carta psicrométrica e obtemos a umidade relativa.

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
102

Quanto menor for a diferença entre as duas temperaturas, maior será a umidade
relativa do ar.
O psicrômetro é girado manualmente, numa velocidade constante de uma
rotação por segundo, durante aproximadamente 1 minuto para atingir o ponto de
equilíbrio.
Existem tabelas, nas quais entramos com a temperatura de bulbo seco e com a
diferença entre ela e a de bulbo úmido, obtendo a umidade relativa do ar.
• De aspiração: O ar é forçado a passar pelos dois bulbos, através de uma
ventoinha mecânica ou elétrica.

A tabela 5.3 apresenta valores de umidade relativa calculados a partir da


temperatura debulbo secoebulboúmido.

Tabela 5.3. Cálculo da umidade relativa do ar a partir da temperatura do bulbo seco e


úmido.
Tbs-
Tbu 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Tbs
15 100 88 78 69 61 53
16 100 88 79 69 61 54 48
17 100 88 79 70 62 54 48 42
18 100 89 79 70 62 55 49 44
19 100 89 79 71 63 56 50 44 38
20 100 89 80 71 63 57 51 45 39
21 100 89 80 72 63 57 51 45 40 35
22 100 90 81 72 64 58 52 46 41 36
23 100 90 81 72 65 58 42 46 41 37
24 100 90 81 72 65 58 52 47 42 37 33
25 100 91 82 74 67 60 54 48 43 38 33 28
26 100 92 84 76 68 61 55 49 44 39 34 30 25
27 100 93 85 78 70 63 56 50 45 40 35 31 26 21
28 100 93 86 79 71 65 57 51 45 41 36 32 27 23 18
29 100 93 86 80 73 66 59 53 47 42 37 33 28 24 20
30 100 93 86 80 73 66 59 53 47 42 37 32 28 24 20
31 100 93 87 80 74 68 62 56 50 45 40 34 31 26 22 19 14
32 100 93 87 80 74 68 62 57 51 46 41 36 31 27 23 20 16 20 12
33 100 93 87 81 74 68 63 58 52 47 42 38 33 29 25 21 17 13 10
34 100 94 87 81 75 69 63 59 54 49 44 39 34 30 26 22 19 14 12
35 100 94 88 82 76 70 64 59 54 49 44 40 36 32 28 23 20 17 13
-
-
40 100 94 88 83 77 72 67 62 57 53 48 44 40 36 32 29 26 22 19

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
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Quadro 5.1.
Em um ambiente onde a temperatura de bulbo seco é de 26°C e a de bulbo úmido
é de 24°C, qual é a umidade relativa?

Resposta:

Cálculo da Umidade Relativa

Utilizando-se uma carta psicrométrica, entrando com a Tbu (24°C) e a Tbs

(26°C), no encontro das duas retas obtemos a Umidade Relativa de 84%.

Utilizando-se uma tabela de Umidade Relativa, precisamos da temperatura de

bulbo seco e da diferença entre as duas temperaturas.

5.9. ÍNDICES DE AVALIAÇÃO TÉRMICA


Na avaliação das situações térmicas nos ambientes de trabalho existe um grande
número de índices, no entanto os mais utilizados são:
TE - TEMPERATURA EFETIVA
TEC - TEMPERATURA EFETIVA CORRIGIDA
IST - ÍNDICE DE SOBRECARGA TERMICA
TGU - TEMPERATURA DE GLOBO ÚMIDO
IBUTG - ÍNDICE DE BULBO ÚMIDO - TERMÔMETRO DE GLOBO
Os dois primeiros (TE e TEC) são chamados de Índice de Conforto Térmico, pois
levam em consideração apenas as variáveis ambientais.
Os outros índices: IST, TGU e IBUTG são chamados de Índices de Sobrecarga
Térmica, pois levam em consideração todos os fatores que interferem na situação de
exposição ao calor (variáveis ambientais e características da atividade).

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
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5.9.1. TEMPERATURA EFETIVA (TE)


A temperatura efetiva leva em consideração apenas as condições climáticas do
ambiente como: temperatura, umidade e velocidade do ar). Esse índice não é adequado
para avaliações térmicas dos ambientes de trabalho, pois não leva em consideração o
calor radiante e nem o metabolismo desenvolvido pelo trabalhador.
Para a sua determinação, medimos: temperatura de bulbo seco, temperatura de
bulbo úmido e velocidade do ar e entramos com esses valores em um nomograma que
nos fornece a temperatura efetiva. Esse nomograma é constituído de uma escala vertical
à esquerda, onde encontramos a temperatura de bulbo seco, na direita do nomograma,
temos uma escala vertical com as temperaturas de bulbo úmido. Unindo esses dois
valores, obtemos uma reta e na interseção desta reta com a curva de velocidade do ar,
obtemos a temperatura efetiva.

Exemplo: Em um ambiente de trabalho obtivemos os seguintes valores:


Temp. de bulbo seco = 30ºC → 86F
Temp. de bulbo úmido = 22ºC → 71,6F
Velocidade do ar = 1,5 m/s → 295,3 ft/min

Unindo o valor 30 da escala da esquerda (tbs) com o 22 da escala vertical da


esquerda (tbu), obtemos uma reta que passa sobre uma figura central que fornece a
temperatura efetiva em função da velocidade do ar, portanto onde a reta encontrar a
curva de velocidade 1,5 m/s, obtemos a TE = 24ºC ou 73F.

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
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Figura 5.2. Nomograma para o cálculo da Temperatura Efetiva

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
106

5.9.2. ÍNDICE DE SOBRECARGA TÉRMICA (IST) DE BELDING E HATCH


O Índice de Sobrecarga Térmica indica a porcentagem da evaporação necessária
em relação à máxima evaporação possível.

EVAPORAÇÃO REQUERIDA
IST = -------------------------------------------- x 100
EVAPORAÇÃO MÁXIMA POSSÍVEL

Se o IST for maior que 100%, o ambiente é insalubre sofrendo o trabalhador uma
sobrecarga térmica, pois o calor trocado por evaporação será maior que a máxima
evaporação possível.
No entanto se o IST é menor que 100% não significa que tudo esteja bem, pois
para cada porcentagem da evaporação necessária sobre a máxima evaporação possível,
indica uma situação de decréscimo no rendimento do trabalhador conforme a figura 5.3.
A Evaporação Requerida é a quantidade de calor que o corpo deve dissipar através
da evaporação do suor, a fim de manter o equilíbrio térmico, isto é a ausência de
aumento significativo da temperatura corporal.
Quando Ereq = Emax, significa que o IST = 100% isto é, a quantidade de calor que
o corpo pode perder é igual à quantidade de calor que deve perder, para manter o
equilíbrio térmico. É uma situação crítica, tolerada por 8 horas de trabalho somente por
trabalhadores jovens, aclimatados e em excelente estado de saúde.
O IST é difícil de ser calculado, no entanto é muito útil para estudos sobre a
exposição ao calor, em particular quando se projeta e avalia a eficiência das medidas de
controle ambiental.

o
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Figura 5.3. Índice de Sobrecarga Térmica

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
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Tabela 5.4. Avaliação do Índice de Sobrecarga Térmica


Conseqüências fisiológicas e higiênicas da
IST
exposição por 8 horas
-20 Tensão leve por frio. Esta condição se encontra com
freqüência em áreas nas quais as pessoas se
-10 recuperam da exposição ao calor.
0 Não há tensão térmica
+10 Tensão térmica leve a moderada. Quando um
trabalho requer altas funções intelectuais, destreza ou
estado de alerta, podem esperar-se diminuições sutis
a substâncias no rendimento.
20 Pode esperar-se uma diminuição ligeira no
desempenho de tarefas físicas pesadas, a menos que
a habilidade das pessoas para desempenhar esse
30 trabalho, sem tensão térmica, seja marginal.
40 Tensão térmica severa, com ameaça para a saúde, a
menos que as pessoas estejam em bom estado físico.
São necessários períodos de adaptação para os não
previamente aclimatados.
50 Pode-se esperar diminuição do desempenho de
trabalhos físicos.
É desejável a seleção médica do pessoal, porque
essas condições são inadequadas para os que tem
problemas cardiovasculares e respiratórios ou
dermatites crônicas.
60 Estas condições de trabalho são também
inadequadas para atividades que requeiram um
esforço mental constante.
Tensão térmica grave. Pode-se esperar que apenas
uma pequena porcentagem da população esteja
70 qualificada para este trabalho. O pessoal deve ser
selecionado: (a) mediante exame médico e (b)
mediante exame no trabalho (transaclimatação).
São necessárias medidas apropriadas para assegurar
um insumo adequado de água e sal. É bastante
80 desejável que se melhorem as condições de trabalho
por todos os meios possíveis e cabe esperar que isto
diminua o risco para a saúde e aumente, ao mesmo
tempo, a eficiência no trabalho. As indisposições
ligeiras que, na maioria das tarefas seriam suficientes
90 para afetar o rendimento, podem incapacitar os
trabalhadores para esta exposição.
100 A máxima tensão tolerada por homens jovens, em
bom estado físico e aclimatados.

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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
109

Quadro 5.2.
Calcule o IST em um ambiente de trabalho com as seguintes características:
Tg = 40°C
Tbu = 25°C
Tbs = 30°C
Velocidade do ar = 1m/s
Metabolismo = 300 kcal/h

Utilizando o gráfico do IST, utilizar os seguintes passos:

→ Início no canto superior esquerdo do gráfico

• trace uma linha horizontal(A) na temperatura de globo 40°C

• no encontro da linha com velocidade do ar = 1 m/s, trace uma vertical (B)

• no encontro dessa vertical(B) com o metabolismo de 5kcal/min, trace

uma horizontal (C)

→ Início no canto inferior esquerdo do gráfico

• na temperatura de bulbo seco = 30°C, trace uma vertical (D)

• no encontro dessa vertical(D) com a TBU = 25°C, trace uma horizontal (E)

• no encontro de E com velocidade do ar = 1 m/s, trace uma vertical (F)

Assim, no encontro de F com C, teremos a reta 110 %

O IST nesse caso é de 110%, isto é o calor requerido é maior que a capacidade

máxima de evaporação, sendo o ambiente insalubre, isto é o trabalhador terá

sobrecarga térmica.

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
110

5.9.3. ÍNDICE DE BULBO ÚMIDO – TERMÔMETRO DE GLOBO (IBUTG)


O conforto térmico é avaliado também através de um índice chamado IBUTG
(Índice de Bulbo Úmido - Termômetro de Globo).
Esse índice deve ser medido através do conjunto chamado árvore dos
termômetros, que é composto de três termômetros:
Tbs - Termômetro de bulbo seco
Tbn - Termômetro de bulbo úmido natural
Tg - Termômetro de Globo.
O IBUTG para ambientes internos sem carga solar é calculado a partir da medição
de duas temperaturas: Tbn e Tg
IBUTG INT = 0,7 × Tbn + 0,3 × Tg
Para ambiente externos com carga solar o IBUTG é calculado a partir de três
medições: Tbs, Tbn e Tg
IBUTGEXT = 0,7 × Tbn + 0,2 × Tbs + 0,1 × Tg
O termômetro de bulbo úmido Natural possui uma manga de algodão imersa em
água destilada, envolvendo o seu bulbo, tornando-o constantemente úmido e serve para
avaliar a Umidade Relativa do ar, em conjunto com o termômetro de bulbo seco.
O termômetro de globo é formado por uma esfera de cobre de 6", pintada de preto
fosco, ficando o bulbo do termômetro no centro dessa esfera e serve para avaliar o Calor
Radiante.
O IBUTG leva ainda em consideração o tipo de atividade desenvolvida (LEVE,
MODERADA e PESADA)
A legislação prevê um regime de trabalho (trabalho/descanso) em função do valor
do IBUTG e do tipo de atividade para duas situações: Regime de trabalho intermitente
com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço e regime de trabalho
intermitente com descanso em outro local.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
111

5.10. NORMA REGULAMENTADORA N.15 - ANEXO N. 3


Tabela 5.5. Classificação da atividade em relação ao regime de trabalho intermitente com
descanso no próprio trabalho

Regime de trabalho Tipo de atividade


intermitente com descanso no
próprio local de trabalho Leve Moderada Pesada
Trabalho Contínuo até 30,0 até 26,7 até 25,0
45 min. Trabalho
30,1 a 30,6 26,8 a 28,0 25,1 a 25,9
15 min. Descanso
30 min. Trabalho
30,7 a 31,4 28,1 a 29,4 26,0 a 27,9
30 min. Descanso
15 min. Trabalho
31,5 a 32,2 29,5 a 31,1 28,0 a 30,0
45 min. Descanso
Não é permitido o trabalho sem
Adoção de medidas adequadas Acima de 32,2 acima de 31,1 acima de 30,0
de controle.

Nesse caso se faz uma avaliação do local de trabalho que é o mesmo de descanso
e com os valores de Tbn e Tg, calculamos o IBUTG e de acordo com o tipo de atividade
(leve, moderada ou pesada), verificamos se o trabalho pode ser realizado continuamente,
se no pode ser realizado sem que se adote uma medida de controle ou se pode ser
realizado adotando-se um regime de trabalho/descanso no próprio local.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
112

Quadro 5.3.
TRABALHO E DESCANSO NO PRÓPRIO LOCAL
Um operador de forno carrega a carga em 2 minutos, a seguir aguarda 8 minutos o
aquecimento da carga, sem sair do local e gasta outros 2 minutos para a descarga. Este
ciclo de trabalho é continuamente repetido durante a jornada de trabalho. No
levantamento ambiental obtivemos os seguintes valores:
Tg = 36 ºC
Tbn = 24ºC
O tipo de atividade é moderada.

Resposta:

Cada ciclo de trabalho é de 12 minutos, portanto em uma hora teremos 5

ciclos e o operador trabalha 4x5= 20 minutos e descansa 8x5 = 40 minutos.

Como o ambiente é interno, não tendo incidência solar, o IBUTG será:

Consultando-se a tabela 5.13 a seguir, da NR-15 Anexo 3 verificamos que o

regime de trabalho nesse caso deve ser de 45 minutos e 15 minutos de descanso, a

cada hora, para que não haja uma sobrecarga térmica. Como o operador trabalha

somente 20 minutos e descansa 40 minutos essa atividade não provoca sobrecarga

ter

mica.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
113

Quadro 5.4.
Em um ambiente de trabalho interno, com regime de trabalho e descanso no
próprio local, com uma atividade pesada, obtivemos os seguintes valores de
temperaturas:
Tbs=26°C
Tbn=25°C
Tg=30°C
Qual deve ser o regime de trabalho?

Resposta:

Regime de trabalho e descanso no próprio local

Atividade pesada.

Conforme NR-15, Anexo 3 e tabela 5.5, o regime de trabalho/descanso deverá

ser de 30 minutos de trabalho e 30 minutos de descanso.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
114

Quadro 5.5.
Para as mesmas condições de temperatura do quadro 5.4., se houver exposição
solar em ambiente externo, qual deve ser os regimes de trabalho para os três tipos de
atividade (leve, moderada e pesada)?

Resposta:

Para o mesmo ambiente de trabalho do quadro 5.4., porém com exposição

solar, o IBUTG seria:

Para atividades:

LEVE ------------ 60 minutos de trabalho

MODERADA---- 60 minutos de trabalho

Pesada----------- 30 minutos de trabalho e 30 de descanso.

5.11. REGIME DE TRABALHO INTERMITENTE COM DESCANSO EM OUTRO


LOCAL
Nesse caso, calculamos o IBUTG do ambiente de trabalho e o IBUTG do ambiente
de descanso e com esses valores, calculamos o IBUTG médio da atividade analisada,
bem como o metabolismo médio e entramos na tabela 3.8 que nos fornece o máximo
valor do IBUTG médio para cada grau do metabolismo.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
115

Quadro 5.6.
REGIME DE TRABALHO COM DESCANSO EM OUTRO LOCAL
Um operador de forno demora 2 minutos para carregar o forno, a seguir aguarda o
aquecimento por 4 minutos, fazendo anotações em um local distante do forno, para
depois descarregá-lo durante 4 minutos. Verificar qual o regime de trabalho/descanso.
Nesse caso temos duas situações térmicas diferentes, uma na boca do forno e
outra na sala de descanso. Temos, portanto que fazer as medições nos dois lugares.

Local 1 - Tg = 50 ºC
(TRABALHO) Tbn = 26 ºC
Atividade metabólica M = 300 kcal/h.

Máximo IBUTG (Quadro no 2 NR-15, Anexo no 3)


M (Kcal/h) Máximo IBUTG
175 30,5
200 30,0
250 28,5
300 27,5
350 26,5
400 26,0
450 25,5
500 25,0

Resposta:

Calculando-se o IBUTG = 0,7x26x0,3x50

Temos que: IBUTG = 18,2 + 15,0 (IBUTG)t = 33,2°C

Local 2 - Tg = 26 ºC

(DESCANSO) Tbn = 20 oC

M = 125 kcal/h

Temos que calcular o IBUTG médio e o metabolismo médio, que será a média

ponderada entre o local de trabalho e de descanso.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
116

O tempo de trabalho no ciclo é de 6 minutos e o de descanso de 4 minutos,

como os ciclos se repetem, em uma hora teremos portanto 6 ciclos de 10 minutos

cada um. Teremos, portanto em uma hora 36 minutos de trabalho e 24 minutos de

descanso.

Importante:

Esse Limite de Tolerância é válido para períodos de 1 hora (60 minutos),

mesmo que o ciclo ou conjunto de ciclos seja diferente de uma hora, por exemplo

50 minutos. Nesse caso utilizaríamos o conjunto de 50 minutos , mais 10 minutos

do próximo ciclo.

Exemplo: Trabalha 30 min. e descansa 20 min.

Nesse caso teríamos na primeira hora: Trabalho (30 + 10) e descanso (20)

Na segunda hora: Trabalho (20 +20) e descanso (20) e o resultado final seria

equivalente a um ciclo de 40min de trabalho e 20 minutos de descanso.

Se o ciclo ou conjunto de ciclos for maior que 60 minutos, procedemos da

mesma forma, consideramos os ciclos de trabalho e descanso até perfazer 60

minutos, o restante ficaria para a segunda hora de trabalho.

O IBUTG médio será:

Consultando o anexo nº 3 da NR-15, Quadro nº2 a procura do máximo IBUTG

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
117

para o metabolismo médio de 230 kcal/h da legislação, não encontramos esse

valor, adotamos o valor de 250 kcal/h por motivo de segurança. Encontramos o

valor de 28,5 ºC. Como o IBUTG médio calculado foi de 28,6 ºC, concluímos que

esse ciclo de trabalho é incompatível com as condições térmicas existentes, não

podendo ser realizada essa atividade sem que se adote uma medida de controle

ambiental ou uma medida de controle administrativo, reduzindo o nº. de ciclos por

hora, até que a atividade seja compatível com as condições térmica dos locais.

Existe uma tabela mais completa, onde encontraremos para um metabolismo

médio de 231 Kcal/h, um máximo IBUTG de 29,3 °C, porém a tabela da legislação é

mais simples e protege mais o trabalhador, desde que se use o critério da variável

mais crítica

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
118

5.12. NORMA REGULAMENTADORA N° 15 - ANEXO 3 - QUADRO N° 3


Tabela 5.6. Taxas de Metabolismo por Tipo de Atividade
KCal/h
Tipo de atividade
SENTADO EM REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco 125
exemplo: datilografia.
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas 150
exemplo: dirigir
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, principalmente 150
com os braços.
TRABALHO MODERADO
Sentado, movimentos vigorosos com braços e pernas 180
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma 175
movimentação.
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com 220
alguma movimentação.
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar. 300
TRABALHO PESADO
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar peso 440
(ex.: remoção com pá)
Trabalho fatigante 550

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
119

5.13. LIMITE DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO CALOR


Tabela 5.7. Máximo Valor de IBUTG médio para cada grau do metabolismo

Max IBUTG Max. IBUTG


M (Kcal/h) M (KCal/h)
(oC) (oC)
125 32,0 268 28,4
128 31,9 272 28,3
132 31,8 277 28,2
136 31,7 282 28,1
139 31,6 286 28,0
143 31,5 290 27,9
146 31,4 295 27,8
150 31,3 299 27,7
154 31,2 303 27,6
157 31,1 307 27,5
162 31,0 311 27,4
165 30,9 316 27,3
169 30,8 321 27,2
173 30,7 327 27,1
176 30,6 333 27,0
181 30,5 338 26,9
184 30,4 344 26,8
188 30,3 350 26,7
192 30,2 356 26,6
196 30,1 361 26,5
200 30,0 367 26,4
204 29,9 373 26,3
209 29,8 379 26,2
213 29,7 385 26,1
218 29,6 391 26,0
222 29,5 397 25,9
227 29,4 400 25,8
231 29,3 406 25,7
236 29,2 416 25,6
240 29,1 425 25,5
244 29,0 434 25,4
247 28,9 443 25,3
250 28,8 454 25,2
259 28,6 470 25,1
263 28,5 - -

M t × Tt + M d × Td IBUTGt × Tt + IBUTG d × Td
M = IBUTG =
60 60

Onde:
t = trabalho
d = descanso
M = metabolismo
T = tempo

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
120

Quadro 5.7.
Um processo de trabalho interno, utiliza um ciclo de 50 minutos, sendo 30 minutos
de trabalho e 20 minutos de descanso.
ÁREA DE TRABALHO
Tbn = 25°C
Tbs = 30°C
Tg = 45°C
Metabolismo da tarefa = 300 kcal/h
Tempo de exposição = 30 minutos

ÁREA DE DESCANSO
Tbn = 20°C
Tbs = 25°C
Tg = 28°C
Metabolismo da tarefa = 150 kcal/h
Tempo de exposição = 20 minutos
Calcular o IBUTG e comentar sobre a adequação desse ambiente de
trabalho.

Reposta:

Como o tempo de trabalho do ciclo é de 30 minutos e o de descanso é de

20 minutos, dá uma somatória de 50 minutos, no entanto o limite de tolerância é

para período de 60 minutos, logo teremos:

30 minutos de trabalho

20 minutos de descanso

10 minutos de trabalho do próximo ciclo

Portanto o tempo de trabalho no ciclo de 60 minutos é de 40 minutos

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
121

ÁREA DE TRABALHO:

IBUTG = 31° C
Metabolismo = 300 kcal/h
Tempo = 40 minutos

ÁREA DE DESCANSO

IBUTG = 22,4° C
Metabolismo = 150 kcal/h
Tempo = 20 minutos

CÁLCULO DO IBUTG MÉDIO

IBUTG = 28,1 ° C

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
122

CÁLCULO DO METABOLISMO MÉDIO

M = 250 kcal/h

Conforme NR 15, Anexo no3 Quadro no2

Para um Metabolismo médio de 250 kcal/h, o máximo IBUTG é de 28,5° C

Como obtivemos um IBUTG de 28,1° C, o valor está abaixo do máximo

permitido, no entanto está muito próximo do Limite de Tolerância, recomenda-se

adoção de medidas de controle para redução do IBUTG.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
123

Quadro 5.8.
Em dois ambientes internos de trabalho diferentes, foram feitas avaliações de
calor, obtendo-se os seguintes valores:

AMBIENTE 1 : Tbn = 25°C AMBIENTE 2 : Tbn = 25°C


Tbs = 25°C Tbs = 30°C
Tg = 30°C Tg = 35°C
M = M =
350kcal/h 250kcal/h
Qual desses ambientes é pior para se trabalhar sob o ponto de vista de sobrecarga
térmica? Explique.

Resposta:

Calculando-se o IBUTG para o ambiente 1 teremos 26,5° C, segundo o

Quadro no2 do Anexo no3 da NR-15, para um metabolismo de 350 kcal/h, o máximo

IBUTG é exatamente de 26,5 °C.

Para o ambiente 2, obteremos IBUTG = 28,0° C, comparando os valores com

o Quadro no2 do Anexo no3 da NR-15, verificamos que o máximo IBUTG para 250

kcal/h é de 28,5° C.

Aparentemente o ambiente 1 é menos agressivo, pois apresenta um IBUTG

menor do que o ambiente 2, no entanto, no ambiente 1 a Umidade Relativa é de

100%, o que o tornando extremamente desconfortável

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
124

5.14. TEMPERATURA DE GLOBO ÚMIDO (TGU)


A temperatura de globo úmido é obtida através do termômetro de globo úmido ou
de Botsball, que é um termômetro de globo revestido com um tecido preto,
constantemente umedecido, levando em consideração a velocidade do ar, sua umidade
relativa e o calor radiante ambiente.
Possui uma haste formada por dois tubos concêntricos de alumínio, passando pelo
tubo central o termômetro e o externo serve de reservatório de alimentação de água para
embeber o tecido do globo.
Na extremidade superior da haste, está colocado o mostrador do termômetro.
É recomendado para avaliação de calor em câmaras hiperbáricas e em tubulðes,
onde a temperatura de globo úmido não deve ser superior a 27ºC.
Os fabricantesa fornecem tabelas de limites de tolerância para a temperatura de
globo úmido, bem como correlações entre o IBUTG e o TGU.
Uma das correlações sugeridas é a seguinte:
IBUTG = 0,0212 × B 2 + 0,192 × B + 9,5
Onde:
B = temperatura do Botsball

Figura 5.4. BOTSBALL ou Termômetro de Globo Úmido

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
125

5.15. LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA O TRABALHO EM AMBIENTES QUENTES


Na tabela 5.8. veremos os limites de tolerância para o trabalho em ambientes
quentes, em função da carga metabólica e da relação entre o tempo de trabalho e
descanso, utilizando os índices: IBUTG e TGU (Botsball), em (ºC)

Tabela 5.8. Limites de Tolerância para o trabalho em ambientes quentes


Carga Trabalho Trabalha 45 min Trabalha 30 min. Trabalha 15 min
Metabólica Contínuo Descansa 15 min Descansa 30 min. Descansa 45 min.
(kcal/hora) IBUTG TGU IBUTG TGU IBUTG TGU IBUTG TGU

200 30,0 26,2 30,6 26,7 31,4 27,5 32,2 28,3

350 26,7 23,2 27,8 24,2 29,4 25,7 31,1 27,2

500 25,0 21,7 25,8 22,5 27,8 24,2 30,0 26,2

Onde:
Trabalho Leve 100 a 200 kcal/h (200 kcal/h)
Trabalho Moderado 200 a 350 kcal/h (350 kcal/h)
Trabalho Pesado 350 a 500 kcal/h (500 kcal/h)
Correlação IBUTG e TGU sugerida:
IBUTG = 1,01 × TGU + 2,6

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
126

Quadro 5.9.
Existem dois ambientes de trabalho com as seguintes características:

AMBIENTE A
Tbu = 25° C
Tbs = 25° C
Tg = 40° C

AMBIENTE B
Tbu = 25° C
Tbs = 35° C
Tb = 40° C

Para uma atividade extenuante (M = 400 Kcal/h), qual dos dois ambientes é
termicamente pior? Porque?

Resposta:

Considerando Tbu como Tbn, e como não foi dado o regime com ou sem

exposição solar, podemos calcular os IBUTGs, para ambientes internos sem

incidência solar e ambientes externos com incidência solar.

Ambiente Interno:

→ Tbu = tbs → 100% UR

Ambiente externo:

→ UR = 100%

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
127

INTERNO EXTERNO
IBUTG
(sem carga solar) (com carga solar)
29,5° C
28,0° C
AMBIENTE A (UR=100%)
(UR = 100%)
AMBIENTE B 29,5° C 29,0° C

Considerando o ambiente interno, teremos igualdade nos IBUTGs, apesar de

no caso B a temperatura de bulbo seco ser maior, o Metabolismo da tarefa é muito

grande (400kcal/h) e no caso A, a Umidade Relativa é de 100%, isto é não haverá

perda de calor por evaporação do suor, tornando o ambiente extremamente

desconfortável e com possível hipertermia.

Considerando o ambiente externo com carga solar, o ambiente B tem um

IBUTG um pouco maior, no entanto o ambiente A tem 100% de Umidade Relativa o

que torna esse ambiente extremamente desconfortável.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
128

Quadro 5.10.
Um trabalhador carrega uma estufa com peças leves durante 20 minutos e durante
10 minutos executa tarefas leves em um ambiente de recuperação térmica.

Estufa Local de
descanso
Tbn = 30°C Tbn = 22 °C
Tbs = 38 °C Tbs = 26 °C
Tg = 47 °C Tg = 28 °C
M = 300 kcal/h M = 150 kcal/h

Essa atividade é insalubre?

Resposta:

Para um regime de trabalho de 20 minutos com 10 minutos de descanso, em

uma hora, trabalhará 40 minutos e descansará 20 minutos.

Ambiente de Trabalho (estufa):

Tempo de trabalho = 40 minutos

Metabolismo da tarefa = 300 kcal/h

AMBIENTE DE DESCANSO

CÁLCULO DO

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
129

CÁLCULO DO METABOLISMO MÉDIO

Segundo a tabela 3.14 do Anexo 3 da NR 15, para um metabolismo médio de

250 kcal/h, o Máximo IBUTG deve ser de 28,5 ° C, como o IBUTG real é de 31,5° C,

esse ambiente é insalubre e os trabalhadores terão sobrecarga térmica, portanto o

trabalho não pode ser realizado sem que haja modificação do ambiente através de

adoção de medidas de controle. Enquanto essas medidas não forem implantadas,

a solução seria reduzir o número de ciclos de trabalho por hora, no caso se

realizaria somente um ciclo de trabalho de 20 minutos e o resto (40 minutos) de

descanso da exposição. Refazer o cálculo para verificar se esse regime é

suficiente para evitar a sobrecarga térmica.

Refazendo os cálculos para 20 minutos de trabalho e 40 minutos de

descanso, obteremos: (e)

No Quadro no2 do Anexo no3 da NR-15, para 200 kcal/h o máximo IBUTG é de

30° C, como no nosso caso o IBUTG médio foi de 27,5° C , não haveria sobrecarga

térmica e a empresa teria de contratar mais trabalhadores ou fazer rodízio entre

eles.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
130

5.16. A EXPOSIÇÃO AOS AMBIENTES FRIOS


A exposição ao frio pode se dar em trabalhos ao ar livre em climas frios ou em
ambientes fechados como em câmaras frigoríficas. O mecanismo termo-regulador,
localizado no hipotálamo, ativa os mecanismos para o controle térmico mantendo a
temperatura interna constante. No caso do aumento da temperatura corpórea havia uma
vasodilatação, agora o mecanismo é de vasoconstrição, pois o objetivo é reduzir as
perdas de calor e o fluxo sanguíneo é agora diminuído numa razão diretamente
proporcional à queda de temperatura.
Se a temperatura corpórea ficar abaixo de 35ºC, ocorre uma diminuição gradual de
todas as atividades fisiológicas, caindo a pressão arterial, a freqüência dos batimentos
cardíacos e diminuindo o metabolismo interno.
Os tremores ocorrem como uma tentativa de geração de calor metabólico para
compensar as perdas.
Se as perdas de calor continuar, em função da baixa temperatura, e ao atingir a
temperatura interna de 29ºC, o mecanismo termo-regulador localizado no hipotálamo é
reprimido, caminhando para um estado de sonolência e coma.
Todos os sinais clínicos da progressão da hipotermia podem ser vistos na tabela
adiante.
Um fator importante na troca térmica em ambientes frios é a velocidade do ar, que
ao retirar as camadas de ar aquecidas próximas à superfície da pele, aumenta muito a
troca térmica, exercendo um efeito de resfriamento, que pode ser avaliador através da
temperatura equivalente, que pode com velocidades de vento de 64 km/h ser de -100ºC
quando a temperatura ambiente é de -51ºC, isto é a sensação de frio sentida é muito
maior que a da temperatura real.
Como medidas de proteção contra o frio citamos a utilização de roupas protetoras,
o regime de trabalho/descanso e a aclimatação, que se realiza principalmente através do
aumento da irrigação sangüínea das extremidades.
Os exames médicos admissionais devem levar em consideração a exclusão de
diabéticos, fumantes, alcoólatras, que tenham doenças articulares ou vasculares
periféricas.
Nos exames admissionais deve-se atentar para o diagnóstico de vasculopatias
periféricas, ulcerações térmicas, dores articulares, perda de sensibilidade, pneumonias e
infecções das vias aérea superiores.
Os limites de tolerância para exposição ao frio são sugeridos conforme a tabela de
máxima exposição permitida.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
131

5.17. REGIME DE TRABALHO/DESCANSO PARA AMBIENTES FRIOS


Tabela 5.9. Máxima Exposição Permitida
Faixa de temperatura de
Máxima exposição diária permissível para pessoas
bulbo seco (Tbs) oC
adequadamente vestidas para exposição ao frio.
15,0 a - 17,9 * Tempo total de trabalho no ambiente frio de 6 horas e
12,0 a - 17,9 ** 40 minutos, sendo quatro períodos de 1 h e 40 min.
alternados com 20 min. de repouso e recuperação
10,0 a - 17,9 *** térmica fora do ambiente frio.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 4 horas,
- 18,0 a - 33,9 alternando-se uma hora de trabalho com uma hora
para recuperação térmica fora do ambiente frio.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de uma hora,
sendo em dois períodos de 30 minutos com separação
- 34,0 a - 56,9
mínima de 4 horas para recuperação térmica fora do
ambiente frio.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 5 minutos,
- 57,0 a - 73,0 sendo o restante da jornada cumprido obrigatoriamente
fora do ambiente frio.
Não é permitida a exposição ao frio, seja qual for a
abaixo de - 73,0
vestimenta utilizada.
* Faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática quente , de acordo com o mapa oficial do
IBGE.
** Faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática sub-quente, de acordo com o mapa oficial do
IBGE.
*** Faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática mesotérmica, de acordo com o mapa oficial
do IBGE.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
132

5.18. SINAIS CLÍNICOS PROGRESSIVOS DE HIPOTERMIA


Tabela 5.11. Sinais clínicos progressivos de hipotermia
Temperatura Interna
Sinais clínicos
(°C) (°F)
37,6 99,6 Temperatura retal “normal”
37 98,6 Temperatura oral “normal’
Taxa metabólica aumenta para compensar as perdas por
36 96,8
calor
35 95 Calafrio máximo
Vítima consciente e com resposta, com pressão arterial
34 93,2
normal
33 91,4 Hipotermia severa abaixo dessa temperatura
Consciência diminuída; dificuldade de tomar a pressão
32 89,6
sangüínea; dilatação da pupila, mas ainda reagindo à luz;
31 87,8
cessa o calafrio
Perda progressiva da consciência; aumento da rigidez
30
86,0 muscular; pulso e pressão arterial difíceis de determinar;
29
84,2 redução da freqüência respiratória.
Possível fibrilação ventricular; com irritabilidade
28 82,4
miocárdia
Parada do movimento voluntário; as pupilas não reagem
27 80,6
à luz; ausência de reflexos profundos e superficiais
26 78,8 Vítima raramente consciente
25 77 Fibrilação ventricular pode ocorrer espontaneamente
24 75,2 Edema pulmonar
22 71,6
Risco máximo de fibrilação ventricular
21 69,8
20 68 Parada cardíaca
18 64,4 Vitima de hipotermia acidental mais baixa de recuperar
17 62,6 Eletroencéfalograma isoelétrico
Vítima de hipotermia por resfriamento artificial mais
9 48,2
baixa de recuperar.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
133

5.19. INFLUÊNCIA NA VELOCIDADE DO VENTO NA TEMPERATURA


EQUIVALENTE DE RESFRIAMENTO
Tabela 5.11. Temperatura real lida no termômetro em função da velocidade do vento
Velocidade Temperatura real lida no termômetro (°C)
do vento
10 4 -1 -7 -12 -19 -23 -29 -34 -40
(Km/h)
Calmo 10 4 -1 -7 -7 -19 -23 -29 -34 -40
9 3 -3 -9 -12 -20 -26 -32 -38 -43
8
16 4 -2 -9 -16 -14 -29 -36 -43 -50 -57
24 2 -6 -13 -21 -23 -38 -42 -50 -58 -65
32 0 -8 -16 -23 -28 -39 -47 -55 -67 -70
40 -1 -9 -18 -26 -32 -43 -50 -59 -68 -75
48 -2 -11 -20 -28 -34 -44 -53 -61 -70 -78
56 -3 -12 -21 -29 -37 -45 -55 -65 -72 -80
64 -3,5 -12 -21 -29 -38 -56 -65 -73 -82
-48
Em
velocidades AUMENTO DO
PERIGO PEQUENO
superiores a PERIGO
Para pessoa adequadamente GRANDE PERIGO
64km/h, (congelamento das
vestida
pouco efeito partes expostas)
adicional

5.20. MEDIDAS DE CONTROLE (SOBRECARGA TÉRMICA)


5.20.1. MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE
Ventilação
• Introdução de ar fresco e eliminação do ar quente e umidade
• Aumento da velocidade de troca de calor pela evaporação
• Aumento da perda de calor por condução/convecção(Tar<35°)

Barreiras refletoras
• Quando o calor radiante for significativo.

Mecanização dos processos


• A mecanização dos processos além de permitir que o trabalhador fique longe
das fontes, diminuem o ganho de calor metabólico.

Áreas de descanso
• Os locais de descanso devem ser adequados para a recuperação térmica,
conforme o IBUTG e o Grau de Atividade.

3.20.2. MEDIDAS RELATIVAS AO TRABALHADOR


Exames médicos
• Admissionais com atenção aos sistemas cardio-vascular, endócrino, renal e
respiratório.

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
134

• Periódicos para avaliação da resposta do trabalhador aos ambientes quentes.


Aclimatização
• O tempo depende do tipo de atividade.

Equipamento de proteção individual


• Quando o tempo de exposição for curto, ou quando a Medida de Proteção
Coletiva estiver sendo implantada ou for insuficiente.

Reposição hídrica e salina


• Sob orientação médica.

o
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Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
135

5.21. TESTES

1. Qual desses mecanismos de trocas térmicas corresponde à maior parte das


trocas totais?
a) Radiação.
b) Convecção.
c) Condução.
d) Evaporação.
e) Calefação.

2. Qual dessas doenças pode causar convulsões ou coma em seu estágio crítico,
devido ao aumento de temperatura do corpo?
a) Síncope do calor.
b) Cãibras de calor.
c) Golpe de calor.
d) Prostração hídrica devido ao calor.
e) Edema do calor.

3. Quais desses fatores não dificultam a aclimatização?


a) Desnutrição.
b) Obesidade.
c) Boa força aeróbica.
d) Sexo feminino.
e) Uso de drogas.

4. Qual desses índices é chamado de Índice de Conforto Térmico?


a) IST.
b) TGU.
c) TEC.
d) IBUTG.
e) TST.

5. Qual das alternativas abaixo representa uma medida de controle relativa ao


trabalhador?
a) Barreiras refletoras.
b) Áreas de descanso.
c) Aquecimento do ar.
d) Aclimatização.
e) Ventilação.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 5. Avaliação e Controle da Exposição ao Calor
136

6. Assinale a alternativa incorreta.


a) A temperatura de bulbo úmido leva em consideração a U.R. do ar.
b) O termômetro de globo faz parte do equipamento de medição do IBUTG citado
na legislação brasileira.
c) Quando existe uma fonte importante de calor radiante, podemos controlar
essa situação aumentando a circulação de ar sobre o trabalhador.
d) O anemômetro de ventoinha depende da direção do vento.
e) O psicrômetro, aparelho que mede a U.R. do ar, é constituído por dois
termômetros: um de bulbo seco e outro de bulbo úmido.

7. Qual das alternativas abaixo é a correta?


a) O termômetro de Botsball fornece a TGU.
b) Com 0% de umidade relativa fica mais difícil evaporar o suor da pele.
c) Na equação do balanço calórico quando S=0, a temperatura do núcleo do corpo
aumenta devagar.
d) Na equação do balanço calórico, quando S < 0, temos uma hipertermia.
e) Na equação do balanço calórico, quando S > 0, temos uma hipotermia.

8. Assinale a alternativa incorreta.


a) Quando a Tg é igual a Tbs, o calor radiante não é significativo.
b) Uma hipotermia produz dentre outros efeitos uma vasodilatação.
c) Na montagem da árvore dos termômetros, os três termômetros deverão estar
alinhados a fim de que a distância à fonte seja igual para todos.
d) A Tbn leva em consideração a umidade relativa do ar.
e) Uma hipertermia produz efeitos de vasodilatação.

9. Qual das alternativas abaixo é a correta?


a) O TGU é geralmente maior que o IBUTG em um mesmo ambiente.
b) Quando a Tbs é igual a Tbn, a umidade relativa é 0%.
c) Na equação do equilíbrio térmico, quando S = 0, a temperatura do núcleo do
corpo aumenta devagar.
d) Quando a temperatura do ar está acima de 38°C perdemos calor somente
através da evaporação do suor.
e) Em ambientes externos, com forte incidência solar, o IBUTG é medido segundo a
equação: IBUTG = 0,7 × Tbn + 0,3 × Tg

10. Assinale a alternativa correta.


a) Quando existe uma fonte importante de calor radiante, podemos controlar a
sobrecarga térmica aumentando a circulação de ar sobre o trabalhador.
b) O IBUTG é o índice adotado pela nossa legislação para a avaliação da
sobrecarga térmica.
c) Quando a umidade relativa do ar está em torno de 0% a evaporação do suor
torna-se mais difícil.
d) O psicrômetro giratório serve para medir a velocidade do ar.
e) O psicrômetro de aspiração serve para medir a ventilação de um ambiente.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
137

CAPÍTULO 6. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL AO FRIO

OBJETIVOS DO ESTUDO

Possibilitar a compreensão dos aspectos principais da exposição humana ao frio.


Neste capítulo serão apresentados os tipos de ambientes ou condições em que ocorrem
a exposição ocupacional ao frio, a fisiologia do frio, medidas de temperatura,
procedimentos para avaliação da exposição, efeitos biológicos e formas para controle da
exposição.

Ao término deste capítulo você deverá estar apto a:


• Identificar ambientes ou condições que resultem na exposição ao frio;
• Explicar os mecanismos de troca térmica e a sobrecarga biológica produzida
pelo frio;
• Reconhecer os efeitos biológicos da exposição ao frio;
• Avaliar os riscos potenciais de trabalhos realizados em condições de baixas
temperaturas;
• Identificar as formas básicas para controle da exposição humana ao frio.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
138

6.1. INTRODUÇÃO
As atividades ocupacionais em ambientes frios cobrem uma longa faixa de
temperaturas, como mostra a tabela 6.1.

Tabela 6.1. Valores de temperatura segundo a atividade ocupacional

Temperatura Atividade
-120 °C Câmara para crioterapia
Câmara fria para armazenagem de carne e peixe
-55 °C
congelados e produção de produtos congelados
-28 °C Câmara fria para armazenagem de produtos congelados
Armazenagem, preparação e transporte de alimentos
+2/+12 °C
frescos

Trabalhos leves que demandem destreza manual precisam ser realizados em


ambientes com temperatura superior a 0°C, enquanto trabalhos mais pesados
envolvendo atividade física elevada podem ser conduzidos em temperaturas tão baixas
quanto -30 ou -40°C. Devido a essa ampla variação das condições para manutenção do
equilíbrio térmico no frio, nem sempre é fácil ou prático o estabelecimento de valores de
temperatura aceitáveis para o trabalho no frio.

6.1.1. TEMPERATURA DO NÚCLEO DO CORPO


A temperatura basal normal no núcleo do corpo é 36-38°C. Essa é a temperatura
mantida nos tecidos profundos do tórax e abdome. A manutenção dessa temperatura
dependerá da geração de calor interno por meio de atividade metabólica e da troca
térmica com o ambiente, na qual o corpo pode perder calor por radiação, condução e
convecção.

6.1.2. TAXA DE RESFRIAMENTO PELO VENTO


Corresponde à perda de calor por um corpo, expressa em W/m2, a qual é uma
função da temperatura do ar e da velocidade do vento incidindo sobre a pele. Se o vento
for de 16 km/h a temperatura será equivalente a -43 °C, para qual ocorre o congelamento
da pele dentro de 1 ou 2 minutos. Se o vento for de 40 km/h a temperatura equivalente
será de -67 °C, para qual ocorre o congelamento da pele em menos de 30 segundos.
Outras temperaturas equivalentes podem ser verificadas na tabela 6.2.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
139

Tabela 6.2. Potência de resfriamento do vento expressa em temperatura equivalente

Velocidade Temperatura real (°C)


Estimada do 10 4 -1 -7 -12 -18 -23 -29 -34 -40 -46 -51
Vento (km/h) Temperatura equivalente de resfriamento (°C)
calmo 10 4 -1 -7 -12 -18 -23 -29 -34 -40 -46 -51
8 9 3 -3 -9 -14 -21 -26 -32 -38 -44 -49 -56
16 4 -2 -9 -16 -23 -31 -36 -43 -50 -57 -64 -71
24 2 -6 -13 -21 -28 -36 -43 -50 -58 -65 -73 -80
32 0 -8 -16 -23 -32 -39 -47 -55 -63 -71 -79 -85
40 -1 -9 -18 -26 -34 -42 -51 -59 -67 -76 -83 -92
48 -2 -11 -19 -28 -36 -44 -53 -62 -70 -78 -87 -96
56 -3 -12 -20 -29 -37 -46 -55 -63 -72 -81 -89 -98
64 -3 -12 -21 -29 -38 -48 -56 -65 -73 -82 -91 -100
PERIGO MENOR
Ocorre em <60 min PERIGO MAIOR
(vento com com pele seca. Perigo de PERIGO EXCESSIVO
v>64 km/h Falsa sensação de congelamento da parte O corpo pode congelar
tem pouco segurança resulta do corpo exposta dento de 30 segundos
efeito em um perigo dentro de 1 minuto
adicional)
acentuado
Pé-de-trincheira ou pé-de-imersão pode ocorrer em qualquer ponto da
tabela
Fonte: 1998 TLVs and BEIs – ACGIH

Observação: os valores originais são dados em °F e quando convertidos para °C,


conforme tabela abaixo sofre uma variação dentro de 1°C.
Importante: As regiões de perigo, delimitadas na tabela acima, requerem o uso de
vestimentas secas que para manter a temperatura do núcleo do corpo acima de 36 °C.

6.2. FISIOPATOLOGIA DO FRIO


O efeito direto do frio é o resfriamento dos tecidos. O resfriamento pode ser
induzido pelo esfriamento do corpo todo, esfriamento das extremidades, esfriamento da
pele por convecção, esfriamento da pele por condução (contato com superfície fria) e
esfriamento do tracto respiratório pela inalação de ar frio.
Outro fator climático que influencia no resfriamento do corpo é a umidade do ar,
posto que a condutividade térmica do ar úmido é mais elevada.
A situação mais crítica na exposição ao frio é quando o corpo todo resfria levando a
queda da temperatura central a valores inferiores a 35°C. Quando a temperatura cai
abaixo desse limite ocorre a hipotermia. Em um ar mais frio, ou se a perda de calor for
aumentada pelo efeito do vento, chuva ou imersão em água fria, a temperatura do corpo
tende a cair e o risco de hipotermia é aumentado. Independentemente da temperatura

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
140

central, pode ocorrer em certas condições o resfriamento das extremidades, sendo que
em temperaturas inferiores a -0,5°C.
As estratégias para adaptação fisiológica ao frio são a preservação do calor pela
redução da transferência de calor do núcleo do corpo para os tecidos superficiais e o
aumento da produção metabólica de calor (tiritar). A vasoconstrição periférica reduz o
fluxo sanguíneo para a superfície do corpo, conforme a Figura 6.1., diminuindo
conseqüentemente a transferência de calor e temperatura e desse modo tende ao
equilíbrio térmico com o ambiente frio. As extremidades tendem a resfriarem-se quando o
fluxo sanguíneo é diminuído. A maior perda de calor nas mãos, pés, nariz e orelhas
ocorre porque a razão superfície-volume é elevada, desse modo essas regiões são
congeladas para que o centro do corpo permaneça aquecido. Quando a temperatura das
mãos e pés caem abaixo de zero, podem ocorrer lesões congelantes, e a uma
temperatura de -50 °C a pele congela em 1 minuto. Com a progressiva redução da
temperatura do tecido, desenvolve-se sensação de desconforto e as funções e
desempenho das extremidades são comprometidas e eventualmente perdidas devido a
paralisia dos receptores (dormência). A temperatura do ar crítica para destreza manual é
12 °C e para sensibilidade do toque é 8 °C . Às baixas temperaturas as terminações
nervosas que transmitem a sensação de dor são paralisadas, ocorrendo a anestesia.
Quando a temperatura cai abaixo de 10 °C, os vasos sanguíneos superficiais dilatam-se,
se a temperatura continuar a cair períodos de vasodilatação e vasoconstrição se
alternam. Nestas condições podem ocorrer ciclos de reaquecimento e resfriamento em
torno da baixa temperatura e, temporariamente restaurar funções normais das
extremidades. Essas oscilações impedem que a pele seja danificada, assegurando um
suprimento mínimo de oxigênio. Entretanto, quando as temperaturas são muito baixas os
vasos sanguíneos contraem-se continuamente, resfriando as extremidades à temperatura
ambiente o que pode causar ulcerações.

Alterações do Fluxo Sanguíneo


14
Fluxo Sanguíneo (L/min)

12
Pele
10 Núcleo
8 Músculos
Órgãos
6
4

2
0
Frio Calor
Figura 6.1. Gráfico das alterações do fluxo sangüíneo

A vasoconstrição pode ser insuficiente para controlar a perda de calor para o


ambiente, levando a uma queda gradual da temperatura dos tecidos mais profundos do

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
141

corpo. Os estímulos provocam forte desconforto térmico e gradualmente ativa os


músculos em contrações rítmicas, os tremores de frio. Esses tremores começam nos
músculos do tronco e braços, progredindo para as mandíbulas. As temperaturas centrais
de 33 a 35 0C estão associadas com tremores intensos e reduzida capacidade de
trabalho físico e mental. Esta condição muda gradualmente para um estágio de exaustão,
fadiga, incapacidade neuromuscular, confusão mental, inconsciência e diminuição da
respiração e circulação. Nestas condições, há risco para o indivíduo que fica incapacitado
de lidar com a situação e controlar a exposição.
Apesar dos ajustamentos fisiológicos serem efetivos na redução da perda de calor
como resposta ao resfriamento, eles interferem com o conforto e o desempenho. O
resfriamento das extremidades reduz a capacidade para o trabalho manual e o
resfriamento geral afeta o desempenho físico e mental.
O contato da pele desprotegida com metais provoca o seu congelamento, posto
que o metal é um excelente condutor térmico. Em condições de frio extremo, as mãos
desprotegidas aderem-se fortemente ao metal porque o contato faz a água presente na
pele congelar, as tentativas de liberar as mãos podem remover a camada de pele
congelada.
A condutividade térmica da água é cerca de 20 vezes maior do que a do ar, desse
modo a imersão em água com temperatura menor que a 21°C pode ser suficiente para
causar a hipotermia. A movimentação do corpo durante a imersão aumenta a perda de
calor, posto que o movimento desloca a camada de água aquecida pela pele
substituindo-a por uma camada fria, para qual o corpo troca calor por condução. A
remoção de roupas tende a acelerar a perda de calor, posto que no contato direto com a
água a perda por condução é maior.

Quadro 6.1.
O uso das roupas especiais para mergulhos visa a prevenir qual efeito? Por que
este efeito ocorre?

Resposta:

As roupas para mergulho proporcionam o isolamento térmico e visam

prevenir a hipotermia. Este efeito é mais acentuado em mergulhos em virtude da

elevada condutividade térmica da água.

Na tabela 6.3. são apresentados os tempos médios de sobrevivência durante a


imersão em água a diferentes temperaturas.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
142

Tabela 6.3. Valores de tempo de sobrevivência segundo a temperatura da água

Temperatura da Água (°C) Tempo de Sobrevivência


>21 Indefinido
21-16 Menos de 12 horas
16-10 Menos de 6 horas
10-4 Menos de 3 horas
4-2 Menos de 1hora e 30 minutos
<2 Menos de 3/4 de hora

A inalação de ar frio pode induzir ou agravar sintomas relacionados com doenças


cardiorespiratórias, tais como asma e angina pectoris. Se além de frio o ar estiver seco,
as células de revestimento do pulmão podem ser destruídas e desprender-se do tecido.
Como no frio o volume de sangue periférico é reduzido, aumenta a eliminação de
fluídos corporais pela urina. A temperaturas muito baixas, longos períodos de exposição
podem causar desidratação.

6.3. EFEITOS BIOLÓGICOS DA EXPOSIÇÃO AO FRIO


6.3.1. LESÕES NÃO-CONGELANTES
6.3.1.1. Hipotermia
A hipotermia é definida quando a temperatura basal do núcleo do corpo cai abaixo
de 35°C. Os sintomas agravam-se à medida que a temperatura diminui. A hipotermia
branda é caracterizada por calafrios, adormecimento das mãos e redução da destreza
manual. Em dias mais frios, esse estágio pode ser facilmente alcançado por pessoas que
trabalham em área aberta e ao ar livre por longos períodos, e por motociclistas não
protegidos adequadamente. Quando a temperatura basal cai abaixo de 35°C ocorre a
hipotermia moderada. Esse estágio é caracterizado por tremores violentos, deterioração
da destreza manual fina e da coordenação muscular, com dificuldade em caminhar e
risco de quedas. A fala torna-se indistinta, o raciocínio fica lento prejudicando a
capacidade de tomada de decisões. A temperatura basal inferior a 32°C os tremores
cessam, em função do esgotamento das reservas de energia. Em virtude disso, a
temperatura cai mais rapidamente, resultando na incapacidade de caminhar e um estado
de semiconsciência. A perda da consciência ocorre para temperaturas abaixo de 30°C.
Na hipotermia profunda ocorre a desaceleração do ritmo cardíaco e a respiração fica
lenta e irregular. A pele apresenta-se pálida e fria, os membros ficam retesados e as
pupilas dilatam-se. A uma temperatura abaixo de 28°C podem ocorrer arritmias
cardíacas. O coração para quando a temperatura do núcleo do corpo chega a 20°C. Os
diferentes estágios da hipotermia podem ser verificados na tabela 6.4.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
143

Tabela 6.4. Sinais clínicos da hipotermia segundo a temperatura central


Temperatura
Central (°C) Sinais Clínicos
37,6 Temperatura retal "normal"
37 Temperatura oral "normal"
Aumento da taxa metabólica para compensar a perda de
36
calor
35 Tremor máximo
Vítima consciente e respondendo, com pressão sanguínea
34
normal
33 Grave hipotermia abaixo desta temperatura
Semiconsciência, dificuldade de obter a pressão, pupilas
32 – 31
dilatadas mas reagindo à luz, cessação dos tremores
Progressiva perda da consciência, aumento da rigidez
30 – 29 muscular, pulso e pressão difíceis de obter, decréscimo da
taxa respiratória
28 Possível fibrilação ventricular com irritabilidade miocardial
Cessam movimentos voluntários, pupilas não-reativa à luz,
27
reflexos de tendões e superficiais ausentes
26 Vítima raramente consciente
25 Fibrilação ventricular pode ocorrer espontaneamente
24 Edema pulmonar
22 – 21 Risco máximo de fibrilação ventricular
20 Parada cardíaca
18 Vítima de hipotermia acidental mais baixa
17 Eletroencéfalograma isoelétrico
9 Paciente de hipotermia induzida artificialmente mais baixa
Fonte: 1998 TLVs and BEIs – ACGIH

6.3.1.2. Geladura ou Queimadura do Frio


A queimadura do frio resulta da exposição prolongada ao frio úmido, e ocorre
particularmente no dorso das mãos e dos pés. Nessas áreas a pele apresenta-se
avermelhada, inchada e quente. Podem estar associadas com edema ou bolhas e são
agravadas com o aquecimento. Em exposições prolongadas podem aparecer lesões
ulcerativas ou hemorrágicas. Pode ocorrer o formigamento, adormecimento e dor.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
144

6.3.1.3. Síndrome de Imersão (“Pés de Imersão” ou “Pés de Trincheira”)


A síndrome de imersão é causada pela imersão prolongada em água fria ou gelada,
e afeta particularmente mergulhadores. A permanência por 12 horas ou mais em água à
temperatura de 10°C é suficiente para o desenvolvimento da síndrome. Este efeito ocorre
porque a perda rápida de calor pelas extremidades, leva os vasos sanguíneos a
contraírem-se, com o conseqüente déficit de oxigênio e morte do tecido. Os tecidos mais
profundos, tais como músculo e nervos, podem ser danificados antes da pele. A
síndrome apresenta-se em três estágios:
• Estágio isquêmico: tem uma duração de vários dias e a área afetada apresenta-
se inchada, fria, adormecida e branca ou cianótica;
• Estágio hiperêmico: tem duração de 2 a 6 semanas e a área afetada apresenta-
se dolorida, formigando, avermelhada, inchada, com bolhas e ulceração;
• Estágio pós-hiperêmico: pode ter a duração de alguns meses, e a área afetada
apresenta prurido, dormência, sensibilidade ao frio e pele cinza-azulada.
Pode ocorrer a necrose do pé, com a conseqüente amputação.

6.3.2. LESÕES CONGELANTES


6.3.2.1. Congelamento (“Frostbite”)
O congelamento do tecido ocorre quando a pele se resfria a temperaturas próximas
de zero. Esse congelamento envolve a formação nos tecidos de cristais de gelo e ruptura
das células. Em geral atinge as áreas periféricas do corpo, tais como dedos, nariz,
orelhas e bochechas. No congelamento superficial a pele e os tecidos subcutâneos são
congelados, e a pele apresenta-se cinza-esbranquiçada, seca, dura e com perda da
sensibilidade. O reaquecimento causa dor, vermelhidão, inchaço e formação de bolhas, a
pele fica azul-arroxeada. No congelamento profundo são congelados músculos, ossos e
tendões, além da pele e tecido subcutâneo. A área afetada apresenta-se pálida e sólida.
Pode ocorrer a formação de vesículas hemorrágicas profundas, ulceração e necrose. A
gangrena seca pode ser seguida de auto-amputação.

Quadro 6.2.
Para se evitar a ocorrência de congelamento das mãos e dos pés, que
procedimentos devem ser adotados pelo trabalhador?

Resposta:

O trabalhador deve usar luvas isolantes térmicas, calçados provendo

isolamento térmico e usar meias de algodão, as quais devem estar secas.

o
eHO – 003 Agentes Físicos II / PECE, 3 ciclo de 2009.
Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
145

6.4. AVALIAÇÃO E CONTROLE DA EXPOSIÇÃO AO FRIO


Os métodos para avaliação da exposição ao frio são usados para avaliar ou
predizer condições críticas para a sobrevivência, risco de efeito agudos ou crônicos sobre
a saúde, desempenho, produtividade e manutenção do conforto. As exposições
ocupacionais ao frio em geral abrangem todas essas condições. Os limites e normas
técnicas estabelecidas para essas exposições visam proteger os trabalhadores da
hipotermia e do congelamento das extremidades. O objetivo principal é evitar que a
temperatura central caia abaixo de 36°C e prevenir a ocorrência das lesões congelantes
nas extremidades.

6.4.1. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


A exposição ao frio é tratada de forma específica na CLT – Consolidação das Leis
do Trabalho – há muitos anos, tendo no seu artigo 253 recomendações específicas para
trabalhos no interior de câmaras frias e transporte de mercadorias entre ambientes
quentes e frios. Impõe um regime de trabalho de 1h40min seguido de um descanso de 20
min e divide o país em regiões climáticas. O Mapa de Clima foi definido em 26/12/1994,
pela Portaria do Ministério do Trabalho nº. 21.
Esclarece a Portaria 21, no Artigo 2º, o seguinte: ...” para atender ao disposto no
parágrafo único do Artigo 253 da CLT, como primeira, segunda e terceira zonas
climáticas do mapa oficial do MTb, a zona climática quente, a quarta zona, como a zona
climática subquente, e a quinta, sexta e sétima zonas, como a zona climática
mesotérmica (branda ou mediana) do mapa referido no Artigo 1º desta Portaria. “

Figura 6.2. Unidades climáticas do Brasil

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Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
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6.4.2. ACGIH
A ACGIH estabelece os TLV para exposição ao frio, baseado na Tabela 6.2,
apresentada anteriormente, que basicamente tem duas variáveis: temperatura e
velocidade do ar.
A temperatura do ar é medida por meio de termômetro com escala em 0C e a
velocidade do ar por meio de um anemômetro calibrado em m/s (Figura 6.3.).

Figura 6.3. Anemômetro

A taxa metabólica é ainda um terceiro parâmetro importante, porém difícil de ser


dimensionado em campo, permitindo somente estimativas a partir de tabelas de atividade
físicas, determinando o ganho de calor internamente. O tipo de atividade realizada em
determinadas condições de temperatura e movimentação do ar definirá o procedimento a
serem adotados e o tipo de roupa a ser usada na sua execução. Na tabela 6.5 são
apresentadas recomendações específicas para trabalhos a serem realizados em
ambiente com temperatura do ar ou temperatura efetiva de resfriamento na faixa de
–32 a 16 °C.

o
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Capítulo 6. Exposição Ocupacional ao Frio
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Quadro 6.3.

Um trabalhador executa atividade pesada em uma área com temperatura abaixo


de 0°C, que efeitos do frio seriam esperados e quais as formas de preveni-lo?

Resposta:

Seria esperada a ocorrência de hipotermia e congelamento das

extremidades, particularmente as mãos. Para prevenir a hipotermia as roupas

devem ser em camadas, sendo a última de tecido que facilite a respiração

diminuindo o risco de sudorese, prever períodos de descanso em área aquecida

para troca das roupas umidificadas pelo suor. O congelamento das mãos é

prevenido usando-se luvas com características isolantes térmicas apropriadas

para a faixa de temperatura do local de trabalho.

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Capítulo 6. Frio
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Tabela 6.5. Recomendações para trabalho em ambientes frios segundo a temperatura


Temperatura
(°C) Recomendação
-32 Evitar atividade contínua com a pele desprotegida (TER)*

-17,5 Adotar o uso de luvas de mitene


Introduzir sistema de trabalho em duplas (TER)
Evitar atividades que produzam sudorese (TER)
-12 Trabalhos pesados - descanso e troca de roupa em sala de
descanso aquecida (TER)
Evitar longos períodos de inatividade durante o trabalho (TER)
Jornada parcial para empregados novos (TER)
Atividades moderadas - adotar uso de luvas
-7 Evitar contato acidental da pele com superfícies metálica
Prover sala de descanso aquecida
Registrar as temperaturas equivalentes de resfriamento inferiores
Revestir partes metálicas com isolante térmico
Medição e registro, a cada 4 horas, da temperatura de bulbo seco
-1 Trabalho interno, var > 2m/s - medir e registrar velocidade do ar
Atividades ao ar livre - medir e registrar a temperatura do ar e a
velocidade do vento.
2 Trabalhos com roupas úmidas – prever troca de roupa e
tratamento para hipotermia
4 Fornecer roupa isolante térmica
Atividades leves – adotar uso de luvas
Atividades de precisão com mãos nuas – introduzir sistema de
16 aquecimento artificial das mãos
Atividades sedentárias - adotar uso de luvas
Prover Termômetro para monitoramento da temperatura
*TER: Temperatura Equivalente de Resfriamento

o
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Capítulo 6. Frio
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Quadro 6.4.
Um trabalhador executa atividade pesada e em seguida ingressa em uma área
com temperatura abaixo de -3°C, na qual realiza atividade leve. As suas roupas estão
úmidas de suor e as luvas que usa são de algodão. Quais os riscos a que estaria
sujeito? Como preveni-los?

Resposta:

Em virtude da umidade da roupa a perda de calor para o ambiente é maior,

aumentando o risco de hipotermia. Em relação às mãos, o baixo isolamento

térmico do algodão e da umidade pode ocorrer o congelamento. A recomendação

seria a troca das vestimentas úmidas e o uso de luvas que proporcionem

isolamento térmico adequado.

As atividades conduzidas em ambiente frio devem ser planejadas, prevendo-se


regime de trabalho com pausas para reaquecimento em local mantido a temperatura
amena. Durante essas pausas, os procedimentos adotados visam elevar a temperatura
central, seja pelo ganho de calor do ambiente ou pelo aumento do calor interno com a
ingestão de líquidos quentes. A perda de calor também é evitada pela troca constante
das roupas que tenham ficado úmidas pelo suor gerado na atividade ou por contato com
líquidos no processo de trabalho. Para o planejamento das atividades podem ser
utilizadas as tabelas 6.6 e 6.7.

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Capítulo 6. Frio
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Tabela 6.6. Regime de Trabalho / Reaquecimento para jornada de 4 horas com atividade
de moderada a pesada
Vento de Vento de Vento de Vento de
Sem vento
1,6 m/s 3,2 m/s 4,8 m/s 6,4 m/s
Tar (°C)
tmax n° tmax nº tmax nº tmax nº tmax nº
(min) pausas (min) pausas (min) pausas (min) pausas (min) pausas
-26 a -
120 1 120 1 75 2 55 3 40 4
28
-29 a -
120 1 75 2 55 3 40 4 30 5
31
-32 a -
75 2 55 3 40 4 30 5
34
-35 a -
55 3 40 4 30 5
37
-38 a -
40 4 30 5
39
-40 a -
30 5
42
≤ -43 APENAS TRABALHOS DE EMERGÊNCIA
tmáx – tempo máximo de exposição contínua ao frio
Nº pausas – cada pausa corresponde a período de 10 minutos

Tabela 6.7. Regime de trabalho e reaquecimento (norma DIN 33403.5)


Tar (°C) tmáx (min) treaq (min)
15 a 10 150 10
<10 a -5 150 10
<-5 a -18 90 15
<-18 a -30 90 30
<-30 60 60
tmáx – tempo máximo de exposição contínua ao frio
treaq – tempo de reaquecimento

As roupas de proteção contra o frio são definidas segundo a faixa de temperatura


do ambiente, o tipo de trabalho realizado e a carga de atividade física. Um maior
isolamento térmico é obtido com vestimentas em múltiplas camadas, pois o ar existente
entre as camadas forma uma barreira isolante bastante eficiente. A proteção dos pés é
por meio de calçados de couro com solado de borracha, forrados com feltro e providos de
palmilha isolante térmica removível.
O controle da exposição ao frio abrange procedimentos que visam evitar a perda de
calor corpóreo e a vasoconstrição, tais como:
• Proibir o consumo de bebidas alcoólicas e restringir o fumo;
• Estimular a ingestão de água para prevenir a desidratação;
• Limitar o consumo de cafeína, a qual aumenta a produção de urina e a
circulação do sangue.

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Capítulo 6. Frio
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Algumas condições médicas aumentam a susceptibilidade individual aos efeitos do


frio. Indivíduos apresentando doenças cardíacas, hipertensão, diabetes, doença de
Raynaud e doenças respiratórias requerem um acompanhamento e cuidados especiais.
Também requerem cuidados especiais trabalhadores que estejam usando medicamentos
que aumentem a sensibilidade ao frio, tais como antidepressivos, tranqüilizantes,
hipnóticos, psicotrópicos, anestésicos, hipoglicêmicos, antitiroideanos e insulina.

Quadro 6.5.
Nas noites mais frias do inverno, é comum ocorrer morte de moradores de rua.
Porque isso ocorre? Quais os meios de prevenção?

Resposta:

Como as vestimentas por eles usadas são insuficientemente isolantes e por

estarem dormindo a geração de calor interno é baixa, ocorre a hipotermia. Os

meios de prevenção incluem o uso de vestimentas isolantes e cobertores, a

ingestão de líquidos quentes, e acomodação em abrigos.

Quadro 6.6.

Durante o trabalho de entregas de documento, em dias mais frios, um motociclista


estaria sujeito a que risco? Como evitá-los?
Resposta:

Pode ocorrer hipotermia, em grau leve e por isso imperceptível, o que

aumenta o risco. O motociclista deve estar usando roupas isolantes térmicas,

capacete e luvas, para prevenir a perda de calor em decorrência do resfriamento

pelo vento

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Capítulo 6. Frio
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6.5. TESTES

1. Analise as afirmações abaixo sobre o frio:


I – Trabalhos pesados devem ser conduzidos em temperaturas mais altas em
relação à trabalhos que demandem destreza manual;
II – A perda de calor de um corpo é função apenas da temperatura ambiente, sendo
o vento desprezível;
III – Em –20ºC o corpo pode congelar dentro de 30 segundos.
Qual a alternativa correta?
a) Apenas I é verdadeira.
b) Apenas II é verdadeira.
c) Apenas I e III são verdadeiras.
d) Apenas I e II são verdadeiras
e) Nenhuma das afirmativas é verdadeira.

2. Qual desses sintomas não aparecem quando há exposição aos ambientes frios?
a) Vasoconstrição.
b) Aumento da pressão arterial.
c) Diminuição do metabolismo interno.
d) Diminuição do fluxo sangüíneo.
e) Adormecimento das mãos.

3. Qual dessas medidas não é eficiente no controle ao frio?


a) Limitar o consumo de cafeína.
b) Ingestão de água para prevenir a desidratação.
c) Restringir o fumo.
d) Aumentar o consumo de bebidas alcoólicas.
e) Todas são eficientes.

4. O controle da exposição ao frio abrange procedimentos que visam evitar a perda


de calor corpóreo e a vasoconstrição, qual das alternativas abaixo não representa
um desses procedimentos.
a) Proibir o consumo de bebidas alcoólicas.restringir o fumo.
b) Estimular a ingestão de água para prevenir a desidratação.
c) Limitar o consumo de cafeína, a qual aumenta a produção de urina e a circulação
do sangue.
d) Ingerir quantidade de sal acima do normal.
e) Restringir o fumo.

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Capítulo 6. Frio
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5. Assinale a alternativa incorreta.


a) O congelamento do tecido ocorre quando a pele fica exposta a
temperaturas próximas de –10°C
b) No congelamento superficial a pele e os tecidos subcutâneos são congelados.
c) No congelamento profundo são congelados músculos, ossos e tendões, além da
pele e tecido subcutâneo.
d) A área afetada no congelamento profundo apresenta-se pálida e sólida e pode
ocasionar a formação de vesículas hemorrágicas profundas, ulceração e necrose.
e) n.d.a.

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Bibliografia
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BIBLIOGRAFIA

1. Goeltzer, Berenice – Avaliação da Sobrecarga Térmica no Ambiente de Trabalho –


ABPA/OMS
2. Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho- FUNDACENTRO – 1981
3. Limites de Exposição para substâncias químicas e agentes físicos – ACGIH 1999 -
tradução da ABHO
4. Limites de Tolerância – FUNDACENTRO –1973
5. Portaria 3214 de 08/06/78 do MTb
6. Wells Astete, Martin; Giampaoli, Eduardo; Zidan, Leila Nadin – RISCOS FÍSICOS-
FUNDACENTRO- 1981

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