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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

JÚLIA CRESPO CALDEIRA MONARI


83127

DARK SIDE OF THE MONEY


ANÁLISE DA MÚSICA “MONEY” NO CONTEXTO DO SISTEMA CAPITALISTA

Viçosa
2014
DARK SIDE OF THE MONEY: ANÁLISE DA MÚSICA “MONEY” NO CONTEXTO
DO SISTEMA CAPITALISTA

O ÁLBUM

Em 24 de março do ano de 1973, Pink Floyd lança um dos álbuns mais


importantes de sua carreira e da música popular: The Dark Side of the Moon,
alcançando o ápice da popularidade da banda. A obra, considerada conceitual por
abordar um tema único e sem divisões (no caso, sem intervalo entre as canções),
tem como fundamento as angústias humanas: a violência, a incompreensão das
particularidades vividas pelo homem, doenças mentais, o mau-uso do tempo,
dinheiro, o envelhecimento, a alienação e a cobiça.

“MONEY”

Entre as faixas encontra-se “Money”, single cuja letra faz uma crítica à
maneira com que o ser humano lida com o dinheiro no atual sistema vigente no
mundo.
“Money, get away Don't give me that do goody good bullshit
Get a good job with more pay and you're okay I'm in the high-fidelity first class travelling set
And I think I need a lear jet
Money, it's a gas
Grab that cash with both hands and make a Money, it's a crime
stash Share it fairly, but don't take a slice of my pie
New car, caviar, four star daydream
Think I'll buy me a football team Money, so they say
Is the root of all evil today
Money, get back But if you ask for a raise, it's no surprise that
I'm all right, Jack, keep your hands off of my they're
stack. Giving none away
Money, it's a hit (…)”

Segundo F. Massao Yabushita, em seu livro “The Dark Side of the Moon: A
obra-prima do Pink Floyd segundo a psicologia Junguiana” (2012): o homem visa o
acúmulo do capital e os gastos excessivos devido à satisfação do ego e o complexo
do poder, “a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga
emocional e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude habitual da
consciência”. O complexo possui um caráter compulsivo, portanto faz com que o
indivíduo perca o controle e seja invadido por pensamentos e ações de cunho
afetivo sobreposto à suas vontades e sua capacidade de reflexão e decisão. Tal fato
desperta a subordinação de tudo ao seu ego, sempre pensando em benefício
próprio e sentindo-se poderoso.
As estrofes geralmente são iniciadas por uma frase de efeito que demonstra
repulsão em relação ao dinheiro, mas logo no verso seguinte é possível reparar uma
ideia completamente contrária: são passagens que demonstram apego ao capital,
retratando a hipocrisia daqueles que criticam não só o dinheiro como também o
sistema capitalista e sua forma de organização social, mas ao mesmo tempo o
veneram e se apropriam dele para exercer uma dominação que, segundo Max
Weber, é exatamente o fator responsável por essa organização social.

(Dinheiro, afaste-se
Money, get away Arrume um bom emprego com um
Get a good job with more pay and you're salário melhor e você fica ok
okay Dinheiro é um gás
Money, it's a gas Agarre essa grana com as duas mãos e
Grab that cash with both hands and faça um estoque
make a stash Carro novo, caviar, sonhos acordados
New car, caviar, four star daydream de quatro estrelas
Think I'll buy me a football team Acho que comprarei um time de futebol
para mim)

Na primeira estrofe, a frase inicial remete à ideia de que devemos nos libertar
do dinheiro, mas o segundo verso demonstra ganância ao almejar um emprego de
salário mais alto para ficar bem, retratando a riqueza como algo que liberta, e não
algo da qual se deve desprender. Ao dizer que “dinheiro é um gás”, entende-se que
ele é combustível; aquilo que move o mundo e, portanto devemos nos apoderar dele
custe o que custar. Estocá-lo permitiria a posterior aquisição de bens como um
carro novo, casas exuberantes e até mesmo um time de futebol.
Money, get back (Dinheiro, volte
I'm all right, Jack, keep your hands off of Eu estou bem, Jack, mantenha suas mãos
my stack. fora da minha grana
Money, it's a hit Dinheiro é um sucesso
Don't give me that do goody good bullshit Mas não me venha com essa grande
I'm in the high-fidelity first class travelling bobagem
set Estou no grupo de viagem de primeira
And I think I need a lear jet classe e alta fidelidade
E acho que preciso de um jatinho)

Em “Eu estou bem, Jack, mantenha suas mãos fora da minha grana”, Jack faz
alusão a um trabalhador de baixa renda que, no caso, é privado de sua parte no
custo da produção já que ela se direciona de forma majoritária aos indivíduos já
abastados que detêm os meios de produção. Nas outras estrofes, repara-se que o
dinheiro é visto como sinônimo de sucesso, que de maneira alguma será alcançado
pelo proletariado. Tem-se então a presença da teoria marxista da mais-valia, onde:

“o valor que o trabalhador pode produzir durante o tempo em que


trabalha para aquele que o contrata é superior àquele pelo qual
vende suas capacidades”. (OLIVEIRA; QUINTANEIRO, 2003, p. 47).

É evidente a crítica feita ao sistema capitalista, no qual é necessária a existência de


um indivíduo miserável para que exista, por outro lado, o indivíduo milionário já que
o último se apropria da força de trabalho do primeiro para a obtenção do lucro,
caracterizando assim o tempo de trabalho excedente apropriado. Relaciona-se
também com a necessidade dos gananciosos de imprimir cada vez mais sua
situação e/ou “superioridade” social.

Money, it's a crime (Dinheiro é um crime


Share it fairly, but don't take a slice of my Divida-o de modo justo, mas não pegue
pie um pedaço da minha torta
Money, so they say Dinheiro, assim eles dizem
Is the root of all evil today É a raiz de todo o mal hoje em dia
But if you ask for a raise, it's no surprise Mas se você pedir um aumento, não é
that they're surpresa que eles
Giving none away Não estejam dando nenhum)
Iniciando a terceira estrofe, o verso que traz o dinheiro visto como “crime” é
carregado de cinismo ao constatarmos, no verso seguinte, que o verdadeiro crime
seria repartir o dinheiro de maneira injusta assim como sentir-se no direito de se
apropriar da parte alheia do capital, aquela à qual o proletariado supostamente não
possui direitos. Pensando dessa maneira não haveria, portanto, justiça social, já que
o patronato se contradiz ao afirmar que o dinheiro “é a razão de todo mal hoje em
dia”, mas se nega a aumentar o salário de seus empregados para que eles possam
abandonar a vida miserável que é, por sua vez, o fundamento de várias mazelas
como a fome, a violência, problemas de saúde e a desordem social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É claramente possível perceber na música conceitos e críticas ao sistema


capitalista presentes nas obras de Karl Marx. O capitalismo atua como um forte fator
de segregação dos indivíduos entre aqueles que dominam os meios de produção e o
proletariado, que está sujeito, além dessa dominação, ao poder do patronato.
Essas relações de dominação e poder, por sua vez, são tratadas por Max
Weber como responsáveis pela organização social. Estão presentes nos monopólios
econômicos, na relação de autoridade e no poder de dar ordens. A primeira
consiste na “oportunidade de encontrar uma pessoa pronta a receber uma ordem de
conteúdo determinado que precise de justificativa”. Já o poder “é a probabilidade de
impor a própria vontade dentro de uma relação social; mesmo contra toda
resistência e qualquer que seja o fundamento”.
O patronato exerce poder sobre o proletariado por impor sobre ele suas
condições tanto de trabalho quanto no regulamento do salário sem se importar com
suas necessidades, suas lutas e seus princípios. O trabalhador por sua vez
encontra-se dominado pelo sistema, pois em um mundo onde tudo – inclusive ele
próprio – é transformado em mercadoria e facilmente descartado ou substituído, é
nesse mesmo patrão que encontra as condições para sua sobrevivência, por mais
precárias que elas sejam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARBACHE, Michel. 'The Dark Side of the Moon' – Uma análise geral. Juiz de For a.
10/09/2008. Disponível em:
<http://letrasincertas.blogspot.com.br/2008/07/money.html>. Acessado em: 02 jun.
2014.

ASCENÇÃO, Érico. The Dark Side of the Moon (Pink Floyd) - A obra-prima do
Rock. São Paulo. 27/07/2009. Disponível em:
<http://albunsdecabeceira.blogspot.com.br/2009/07/dark-side-of-moon-pink-floyd-
obra-prima.html>. Acessado em: 02 jun. 2014.

RAMONE, Raul. The Dark Side of the Moon: A obra-prima do Pink Floyd segundo
a psicologia Junguiana. 12/10/2012. Disponível em:
<http://www.rocknbeats.com.br/2012/10/12/the-dark-side-of-the-moon-a-obra-prima-
do-pink-floyd-segundo-a-psicologia-junguiana-leia-trechos-do-livro/>. Acessado em:
02 jun. 2014.

SALA, Alex. Pink Floyd - Discografia. São Paulo. 19/11/2010. Disponível em:
<http://murodoclassicrock4.blogspot.com.br/2010/11/pink-floyd-discografia.html>.
Acessado em: 02 jun. 2014.

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