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EXPLORAÇÃO E

SUPEREXPLORAÇÃO NA TEORIA
DO IMPERIALISMO

JOHN SMITH

Imperialismo e seus negadores


“O comunismo não é uma doutrina, mas um movimento; procede não de
princípios, mas de fatos” (Engels, 1977, p. 291). As grandes diferenças
internacionais na taxa de exploração, a enorme mudança global da produção
e do centro de gravidade da classe trabalhadora industrial para países e
regiões onde a exploração é mais intensa, a dependência dramaticamente
aumentada de empresas com sede em países imperialistas (e, da mesma
forma, de prosperidade e paz social nesses países) sobre os rendimentos
dessa exploração – esses são os fatos mais importantes sobre o chamado
capitalismo neoliberal a partir dos quais devemos avançar.
Taxas extremas de exploração nas fábricas de roupas de Bangladesh, nas
linhas de produção chinesas, nas plantações de chá e café e em outros
lugares – muito mais altas do que as suportadas pela maior parte dos
trabalhadores nos países imperialistas – são um fato palpável e diretamente
observável, experimentado todos os dias em carne e osso por centenas de
milhões de trabalhadores em países com baixos salários. Não precisamos de
uma teoria para saber disso, precisamos apenas remover nossas vendas e
abrir os olhos. Mas nós precisamos sim de uma teoria para entender o que
podemos ver, e descobrir as consequências que decorrem disso.
Não contradiz o postulado fundamental da lei do valor de Marx para a qual
a forma salarial oculta a relação intrinsecamente exploradora entre
capitalista e trabalhador, ou o princípio da dialética materialista de que a
oposição entre essência e aparência é uma lei de todos os sistemas
dinâmicos que contêm contradições.14 O que torna o imperialismo e a
superexploração imediatamente visíveis – mesmo que o visível seja apenas
a ponta de um iceberg – é precisamente a violação sistemática da igualdade
entre os proletários e, consequentemente, uma violação sistemática da lei do
valor.
Na era da produção globalizada, ainda mais do que nos estágios anteriores
da evolução imperialista do capitalismo, os trabalhadores não são
igualmente móveis e livres para vender sua força de trabalho pelo maior
lance. A remoção de impedimentos aos fluxos transfronteiriços de produtos
básicos e capital estimulou a migração da produção para países de baixos
salários, mas as fronteiras militarizadas e a crescente xenofobia tiveram o
efeito oposto na migração de trabalhadores desses países – não a impedindo
por completo, mas inibindo seu fluxo e reforçando o status vulnerável e de
cidadãos de segunda classe dos migrantes. E, assim, as fábricas atravessam
livremente a fronteira EUA-México e passam com facilidade pelos muros
da “Fortaleza Europa”, assim como as mercadorias produzidas nelas e os
capitalistas que as possuem, mas os seres humanos que trabalham nelas não
têm direito de passagem. Isso é um paradoxo da globalização – um mundo
sem fronteiras para tudo e todos, exceto para os trabalhadores.
As disparidades salariais globais entre países imperialistas e países em
desenvolvimento, geralmente maiores que 10 para 1 e nunca menores que 3
para 1, em grande parte resultantes da supressão da livre circulação de
trabalhadores, fornecem um reflexo distorcido das diferenças globais na
taxa de exploração (simplesmente, a relação entre o valor gerado pelos
trabalhadores e o que eles recebem em salários). A mudança em grande
escala da produção para países de baixos salários no quarto de século que
levou à crise financeira mundial, impulsionada pela arbitragem laboral
global – isto é a redução dos custos de produção e o aumento das taxas de
lucro ao substituir os trabalhadores relativamente bem remunerados no país
sede por trabalhadores de baixos salários no estrangeiro –, significa que os
lucros das empresas sediadas na Europa, América do Norte e Japão, o valor
de todos os tipos de ativos financeiros derivados das quais se derivam esses
lucros e os padrões de vida dos cidadãos dessas nações tornaram-se
altamente dependentes das taxas mais altas de exploração dos trabalhadores
das nações de baixos salários. Portanto, a globalização neoliberal deve ser
reconhecida como um novo estágio imperialista do desenvolvimento
capitalista, no qual o imperialismo é definido por sua essência econômica: a
exploração do trabalho vivo do Sul pelos capitalistas do Norte. Enquanto
isso, os capitalistas do Sul dirigem as maquiladoras da mesma forma que o
sádico traficante de escravos que bate com o látego nas costas daqueles.
Mas ele não é o capitão, para encontrá-lo, temos que ir até o topo da cadeia
de valor que está localizada na Europa, América do Norte e Japão.
Em vez da superação do imperialismo e da convergência entre países
“desenvolvidos” e países eternamente “em desenvolvimento”, o
imperialismo hoje se manifesta em um sistema global de racismo, opressão
nacional, humilhação cultural, militarismo e violência estatal semelhante ao
apartheid, que nega seu status formal de cidadãos livres de sua nação e do
mundo e transformou seus países em reserva de força de trabalho
superexplorável para alimentar as corporações transnacionais e seus agentes
locais.
Nada disso está oculto. O caráter abertamente explorador do capitalismo do
apartheid na África do Sul foi exatamente isso, aberto, explícito, evidente
para todos que tivessem olhos para ver; e isso não é menos verdade no
capitalismo imperialista do século XXI. A violação sistemática da
igualdade entre os proletários afeta profundamente a operação global da lei
do valor. Como poderia ser de outro modo, dado que as relações de valor
são relações sociais? A violação sistemática da igualdade entre proletários é
incontestável, assim como também o são as taxas divergentes de exploração
que necessariamente decorrem disso. Ainda assim, muitos marxistas
insistem dogmaticamente que as relações de valor da economia global
contemporânea são idênticas às do mercado idealizado analisado por Marx
em sua busca por uma “teoria geral” do capital, e que nenhuma das
hipóteses simplificadoras que ele fez para esse fim precisam ser ajustadas.15
A teoria de Marx fornece as chaves essenciais necessárias para revelar a
relação exploradora e antagônica que está oculta na aparência superficial de
liberdade e igualdade entre comprador e vendedor. Mas o que temos aqui é
uma inversão perversa disso: o uso da teoria de Marx não para revelar o que
está oculto, mas para ocultar o que é bastante visível para qualquer
observador não instruído, mas sem preconceitos.
A negação do imperialismo marxista vem em diferentes tonalidades.
William Robinson e David Harvey declaram abertamente que a era do
imperialismo acabou e que o termo é obsoleto. Muitos outros evitam o
assunto o máximo que podem e, quando não o conseguem, evitam se referir
ao imperialismo pelo nome, preferindo eufemismos anódinos como “centro
e periferia” ou “desenvolvidos e em desenvolvimento”. Por exemplo,
Robert Brenner, para quem a mudança global de produção para países de
baixos salários significou “enormes, mas frequentemente, redundantes
aumentos de capacidade de fabricação ao mercado mundial, que tendem a
reduzir os preços e ganhos globais” (Brenner, 2009, p. 9) – mas não é uma
nova fonte de superlucros para as empresas transnacionais estadunidenses e
europeias.
E há aqueles que continuam a descrever a economia capitalista global e
suas principais empresas e nações como imperialistas, mas negam a
relevância ou inclusive a existência das diferenças internacionais na taxa de
exploração. The Global Class War [A guerra de classes global], um artigo
da revista Catalyst, é um exemplo recente da última dessas tendências.
Nele, Ramaa Vasudevan critica dois livros recentes, incluindo um escrito
por mim (Smith, 2016), nos quais se propõe o reconhecimento da realidade
da superexploração e a procura de um conceito teórico para ela.16
Nas palavras dela,
Um argumento que foi apresentado recentemente [...] é o de que os países
capitalistas avançados extraem superlucros imperialistas através da
submissão dos trabalhadores da periferia à superexploração. O
imperialismo estadunidense, nessas formulações, sujeita sistematicamente
trabalhadores nos EUA e trabalhadores em Bangladesh, China e México a
diferentes taxas de exploração. Os trabalhadores dos EUA enfrentam uma
taxa mais baixa e essa taxa mais baixa depende da superexploração dos
trabalhadores nos outros países. Em vez dos trabalhadores de todo o
mundo encontrarem uma causa comum contra as investidas do capital,
esses argumentos colocam trabalhadores nos EUA e trabalhadores na
periferia em posições estruturalmente separadas, e também implicam os
trabalhadores dos EUA nos mecanismos de renda imperialistas.
(Vasudevan, 2019, p. 112)
Apesar de sua imprecisão com relação: às expressões “depende”,
“estruturalmente separadas” e “mecanismos de renda imperialista” que
ficam abertos a diferentes interpretações; a considerar os “EUA” como
“EUA e outros países imperialistas”; à condição de que “trabalhadores em
Bangladesh, China” etc. se refiram especificamente aos cerca de meio
bilhão dos que trabalham nos níveis de baixos salários das cadeias de valor
globais; e com o acréscimo de que essa iteração global de dividir e
conquistar tem dinâmica muito diferente em tempos de crise, como agora;
isso resume adequadamente minha visão. O que ela contrapõe a isso:
À medida que o capital corporativo liderado pelos EUA se expande e
estreita sua rede de controle através das fronteiras para explorar direta ou
indiretamente trabalhadores com salários mais baixos na América Latina,
Ásia e África, ele tem à sua disposição uma reserva de trabalho maior, da
qual a mais-valia pode ser extraída e reivindicada. O acesso a esse vasto e
crescente conjunto global de mão de obra e a crescente concorrência entre
os trabalhadores deste grupo permitem que o capital corporativo dos EUA
aumente a taxa geral de exploração. Esse é o verdadeiro significado da
expansão global do capital corporativo dos EUA e da arbitragem global do
trabalho. (Vasudevan, 2019, p. 130)
O que é “a taxa geral de exploração”? Ela se refere à média global? Se sim,
isso implica que a taxa de exploração difere em todo o mundo. Ou ela quer
dizer que existe apenas uma “taxa geral de exploração” e quaisquer
variações são minúsculas e insignificantes? Vasudevan evita essas perguntas
óbvias, embora a passagem a seguir sugira que ela acredita na segunda
opção:
Os defensores da tese da superexploração têm razão em apontar para a
degradação absoluta das vidas e dos meios de subsistência dos
trabalhadores na periferia. Eles também têm razão em chamar a atenção
para o impacto da expansão do exército de reserva global do trabalho a
serviço do capital corporativo. Mas o verdadeiro significado da
globalização do capital é que ele reforçou um aumento na taxa global de
exploração. (Vasudevan, 2019, p. 135)
Em outras palavras, se os trabalhadores nas fábricas de roupas de
Bangladesh ou nas linhas de produção chinesas estão sujeitos a uma taxa de
exploração mais alta do que os trabalhadores nos países imperialistas, isso
não tem importância, não se deve ser tomado em consideração. De fato, até
mesmo fazer perguntas sobre isso é “colocar os interesses dos trabalhadores
de baixa renda na periferia contra os trabalhadores dos Estados Unidos”
(Vasudevan, 2019, p. 110).17
Este é um argumento curioso. Pela mesma lógica, não devemos investigar a
desigualdade de gênero, por medo de colocar os interesses das mulheres
contra os dos homens; nem deveríamos reconhecer a discriminação racial,
por medo de jogar negros contra brancos – embora a violação da igualdade
entre os trabalhadores resultante da divisão e conquista imperialista,
refletida nas diferenças no preço da força de trabalho, seja muito mais grave
daquela que resulta do racismo e da opressão das mulheres nos países (e o
racismo, é claro, é fundamentalmente uma expressão do imperialismo).18
Então, por que Vasudevan ignora a estrutura de apartheid do mercado
global de trabalho, suas conexões óbvias com o imperialismo e suas
grandes implicações para o funcionamento da lei do valor? Porque,
suspeitamos, ela teme as implicações de reconhecer que os dois grupos de
trabalhadores estão, de fato, em “posições estruturalmente separadas” e que
os trabalhadores nos países imperialistas estão de alguma maneira
“implicados nos mecanismos da renda imperialista”.
Apesar de seus temores, reconhecer esses fatos não significa que a
revolução socialista seja impossível nos EUA, no Reino Unido e em outros
países imperialistas, e tampouco contradizem a visão de que trabalhadores
de todas as partes do mundo estão presos em uma “corrida global para o
fundo do poço”. Tais conclusões, que de fato foram extraídas por alguns
autores que os reconhecem (por exemplo, Cope, 2019; Amin, 2018), são
demasiado pessimistas por três razões: não reconhecem a profundidade da
crise atual do capitalismo, ainda em seu estágio inicial, como a crise mais
profunda de sua história e as possíveis consequências e implicações
derivadas disso; não reconhecem como nas últimas décadas a classe
trabalhadora dentro dos países imperialistas foi transformada pela migração
e pela afluência massiva de mulheres em suas fileiras; e subestimam o
potencial dos avanços revolucionários nas nações do Sul para catalizar o
surgimento do internacionalismo revolucionário dentro dos países
imperialistas. Mas reconhecer esses fatos nos ajuda a entender por que o
caminho revolucionário é tão difícil e por que a luta econômica espontânea
– a tentativa dos trabalhadores de defender ou melhorar sua posição no
capitalismo no lugar de travar uma luta política para derrocá-lo – conduz
precisamente à sua subordinação à ideologia burguesa, como Lenin
argumentou em Que fazer?19

Concepções burguesas versus marxistas sobre produtividade


A negação do imperialismo de Vasudevan difere da de seus copensadores
em um aspecto importante. Enquanto ela evita expressar uma opinião sobre
se as taxas de exploração mais altas são frequentes em países de salários
inferiores, outros não são tão tímidos.
Nigel Harris expressou a opinião de consenso dos oponentes marxistas da
teoria da dependência20 da seguinte maneira:
Em igualdade de condições, quanto maior for a produtividade do trabalho,
maior será a renda paga ao trabalhador (já que seus custos de reprodução
são mais altos), e quanto mais explorado seja, maior será a proporção da
produção do trabalhador [de que] o empregador se apropria. (Harris, 1986,
p. 119-120)
Ampliando isso, Alex Callinicos argumentou que
Um trabalhador altamente remunerado pode muito bem ser mais explorado
do que um trabalhador com remuneração inferior, uma vez que o primeiro
produz, em relação a seu salário, uma quantidade maior de mais-valia do
que o último. De fato, há razões para acreditar que os salários geralmente
mais altos pagos aos trabalhadores ocidentais refletem os custos maiores
de sua reprodução; mas os gastos, em particular, com educação e
treinamento que fazem parte desses custos, criam uma força de trabalho
mais altamente qualificada que, portanto, é mais produtiva e mais
explorada do que seus colegas do Terceiro Mundo. (Callinicos, 1992,
ênfase minha)21
Considerando que todos, exceto os trabalhadores mais bem pagos, gastam
todo o seu salário em bens de consumo, “salário” e “custo de reprodução”
são sinônimos; não se pode utilizar um para explicar o outro. Essa parte do
argumento de Callinicos é uma tautologia que não explica nada. Ele atribui
particular importância ao custo da educação e do treinamento dentro dos
custos gerais de reprodução dos trabalhadores nos países imperialistas.22 O
impacto destes conceitos na capacidade destes trabalhadores para gerar
mais-valia é tão grande, argumenta, que necessitam menos tempo para
substituir um valor muito maior de sua força de trabalho que os
trabalhadores menos produtivos e menos remunerados em países de salários
inferiores. Portanto, são mais explorados. Contudo, é difícil entender por
que os trabalhadores da linha de montagem dos Estados Unidos e do Reino
Unido, enfermeiras, caminhoneiros etc. deveriam ser muito mais
habilidosos que seus homólogos mexicanos e chineses. Callinicos e seus
seguidores deveriam refletir sobre a sabedoria de Marx:
A diferença entre trabalho superior e trabalho simples, skilled e unskille
labour, baseia-se, em parte, em meras ilusões, ou pelo menos diferenças
que há muito tempo cessaram de ser reais e só perduram em convenções
tradicionais; em parte, baseia-se na situação desamparada de certas
camadas da classe trabalhadora, situação que lhes permite menos que as
outras exercer pressão para obterem o valor de sua força de trabalho.
(Marx, [1894] 1991, p. 242)
Como veremos, o argumento de Callinicos baseia-se em uma confusão
subjacente entre as definições de produtividade de valor de uso e valor de
troca e a conseguinte reprodução, no jargão marxista, de uma concepção
burguesa da produtividade – que serve como pedra angular para tentar, em
nome da teoria do valor marxista, negar não só a importância da
superexploração nos elos de salários baixos das cadeias de valor mundiais,
mas também sua existência. O efeito é normalizar as grotescas diferenças
salariais, que se convertem em uma consequência natural do
desenvolvimento desigual, não em um local de superexploração em
expansão, não em algo importante para a luta pela unidade de classe; e
excluir, assim, a possibilidade de que os salários, pensões e assistência
médica gratuita posteriores à Segunda Guerra Mundial possam, ao menos
em parte, ser resultado da luta de classes dentro e fora, obrigando os
capitalistas nos países imperialistas a fazer concessões, mas isso implicaria
uma taxa mais baixa de exploração que naqueles países onde as lutas
econômicas dos trabalhadores enfrentam metralhadoras e ditaduras
militares.
A ênfase que Callinicos coloca no trabalho qualificado tem suas raízes
intelectuais no trabalho de Michael Kidron, um dos fundadores da
“Tendência Socialista Internacional” à qual Callinicos e Harris pertencem.
Kidron (1974, p. 100) argumentou que:
Se há uma diferença notável [entre trabalhadores britânicos e indianos],
ela reside nos diferentes graus em que eles são culturalmente enriquecidos.
Espera-se que o trabalhador britânico médio possa ler e dirigir;
normalmente, será capaz de lidar com uma ampla gama de ferramentas e
conceitos e responder a uma ampla gama de estímulos, com base no
conhecimento e não na experiência pessoal. O trabalhador indiano não o
será [...].
O custo de mantê-los de maneira efetiva, seu valor, certamente deverá
refletir essa diferença. Por exemplo, um motorista de caminhão não se
atreve a dormir ao volante e, portanto, deve ser capaz de garantir seu
descanso em um lar; um motorista de carro de boi ousa e frequentemente
costuma cochilar, então sua moradia é menos importante para o
empregador [...] e seu salário não precisará conter um componente de
moradia tão grande. Os novos participantes em uma fábrica na Grã-
Bretanha precisam ser capazes de ler, e o salário de seus pais precisa
conter, portanto, um componente de manutenção infantil e educação. Os
novos trabalhadores das fábricas da Índia não precisam ler, e geralmente
não leem, então a pressão sobre o salário de seus pais é menor. E assim por
diante.
O argumento de Kidron não é apenas um chauvinismo repugnante
(especialmente sua afirmação ultrajante de que os trabalhadores indianos,
diferentemente dos britânicos, são incapazes de pensar em conceitos),
também é sem sentido. Sem dúvida, os caminhoneiros indianos precisam
estar mais alertas e serem mais hábeis do que seus colegas britânicos – uma
vez que são mais propensos a ter que se esquivar de bois e buracos
enquanto transportam suas cargas. É provável que “os trabalhadores das
fábricas” indianas tenham mais filhos e um grupo familiar estendido para
sustentar, e seu salário terá que cobrir seus cuidados com saúde e educação,
ao contrário da Grã-Bretanha, onde esses serviços são fornecidos
gratuitamente pelo Estado.23
A maioria das tentativas de negar a superexploração imperialista, apontando
para a maior produtividade dos trabalhadores nos países imperialistas,
insiste não na qualificação do trabalho, mas sim nos meios de produção
mais avançados e mais intensivos em capital (que geralmente são
acompanhados de destreza), por exemplo, em Charles Bettelheim que, em
sua crítica da troca desigual, de Arghiri Emmanuel (Bettelheim, 1972, p.
302), argumentou que “quanto mais as forças produtivas são desenvolvidas,
mais os proletários são explorados”. Essa visão foi repetida inúmeras vezes
por marxistas reconhecidos, por exemplo, Claudio Katz, que escreveu que
a taxa de mais-valia é superior no centro. É ali que se concentram os
investimentos mais significativos e se obtêm o maior volume de trabalho
excedente [...]; a magnitude do trabalho confiscado é claramente superior
nas economias mais produtivas do centro. (Katz, 2017, p. 10)24
Em primeiro lugar, essa visão amplamente difundida parece confusa por um
fato simples: os bens consumidos pelos trabalhadores no Norte não são
mais produzidos exclusiva ou principalmente no Norte; em uma extensão
cada vez maior, eles são produzidos por força de trabalho com baixos
salários no Sul Global. Sua produtividade, seus salários determinam
significativamente o valor da cesta de bens de consumo que reproduz a
força de trabalho nos países imperialistas e, portanto, o valor dessa força de
trabalho.
Mas isso diz respeito apenas ao valor da força de trabalho, “v”, o
denominador em s/v da fórmula enganadoramente simples de Marx para a
taxa de exploração. O valor gerado por essa força de trabalho, uma vez que
“v” foi subtraído, fornece “s”, trabalho excedente, o numerador. Quando
examinamos este elemento da equação, descobrimos que a visão de
Callinicos, Bettelheim, Katz entre outros tem um problema muito mais
profundo: se baseia em um conceito burguês de produtividade, que é
antitético à teoria do valor de Marx.
Marx considerava como uma de suas maiores descobertas “o caráter duplo
do trabalho, conforme se expressa em valor de uso ou valor de troca”
(Marx, [1867] 1987, p. 407).25 Ao caráter duplo do trabalho corresponde o
caráter duplo da produtividade do trabalho: a definição universal de
produtividade do trabalho, verdadeira para a sociedade humana em todas as
suas etapas de desenvolvimento, é a quantidade de valores de uso que
podem ser produzidos em um dia ou em uma semana de trabalho. Mas para
os capitalistas, a produção de valores de uso é apenas um meio para um fim
muito diferente, a produção de valores de troca. Disso deriva um conceito e
uma medida de produtividade totalmente diferente e essencialmente
burguesa: quanto o “valor agregado” de uma empresa é aumentado em uma
hora, um dia ou uma semana de mão de obra.
O valor agregado é a base das estatísticas padrão sobre o PIB, a
produtividade e muito mais. O conceito de valor agregado – o valor de uma
mercadoria é igual ao custo total dos insumos mais o “valor agregado” da
empresa, isto é, um aumento em seus custos de produção, se parece muito
com o conceito de preço de produção de Marx, sobre o qual ele diz:
os mesmos economistas que se voltam contra a determinação do valor das
mercadorias pelo tempo de trabalho, pela quantidade de trabalho nelas
contido, falam sempre dos preços de produção como centros em torno dos
quais flutuam os preços de mercado. Eles se permitem fazê-lo porque o
preço de produção é uma forma já totalmente exteriorizada e, prima facie,
absurda do valor-mercadoria; uma forma que se apresenta na concorrência,
portanto, na consciência do capitalista vulgar e, logo, também na do
economista vulgar. (Marx. [1894] 2007, p. 250)
Os preços das mercadorias produzidas em relações capitalistas são “prima
facie irracionais” porque a concorrência entre capitais por lucros faz com
que os preços de produção se separem do tempo de trabalho socialmente
necessário, por outro lado ocultam que este é o conteúdo do valor da
mercadoria. As estatísticas baseadas no valor agregado ou nos preços de
produção não revelam o valor e a mais-valia gerados em nenhuma empresa,
setor (se há algum, recordando que algumas empresas e setores se dedicam
a atividades não produtivas) ou nação; contudo, o que se revela na
concorrência e se mede nas estatísticas do PIB e da produtividade são
valores transformados, valores irracionais.

Existe uma ampla e rica literatura de tentativas de derivar a massa e a taxa
de mais-valia utilizando dados constituídos a partir do valor agregado, ou
utilizar a última como um proxy para a primeira, a fim de calcular a taxa de
lucro e a taxa de mais-valia, mas todas elas esbarram neste problema. Seu
êxito ou não está além do alcance deste texto, mas, a partir da discussão que
vimos até agora, podemos concluir que tal movimento a partir de um alto
nível de abstração da realidade concreta, da produção globalizada
contemporânea requer, entre outras coisas uma crítica rigorosa do valor e do
fetichismo dos preços de produção que este conceito implica, para descobrir
o que – na era do imperialismo – está escondido pelos dados sobre o PIB e
sobre a produtividade e o comércio (ver Smith, 2012).
A produtividade, isto é, a produtividade do trabalho vivo, é definida pela
economia vulgar como valor agregado por trabalhador. O conceito marxista
de produtividade se opõe radicalmente a essa visão. De forma introdutória,
ajuda a refletir sobre o fato de que, medido em termos de valores de uso, os
trabalhadores são, hoje, muito mais produtivos que, digamos, há 100 anos.
Mas em termos de valor de troca, nenhum tipo de comparação pode ser
feito entre hoje e 100 anos atrás, uma vez que os produtos do trabalho vivo
de hoje são apenas comparados na realidade com outros produtos do
trabalho vivo de hoje.
Uma composição de capital mais alta aumenta a produtividade do trabalho
dos valores de uso, mas não faz nenhuma diferença na geração de valor de
troca (deixo de lado o caso especial de um capital individual que possui um
monopólio temporário sobre uma técnica de produção mais avançada). Isso
é o que Callinicos e Katz acreditam: que os trabalhadores dos ramos
industriais de alta tecnologia (ou seja, intensivos em capital) produzem mais
valor e são, portanto, mais explorados do que os trabalhadores das
indústrias de baixa tecnologia. Marx, por outro lado:
assumindo que o grau de exploração do trabalho, ou a taxa de mais-valia, é
o mesmo [...] nos capitais que põe em marcha quantidades desiguais de
trabalho social [isto é, sejam eles intensivos em capital ou trabalho].
E essa suposição, por sua vez, repousa na “concorrência entre
trabalhadores, e uma equalização que ocorre pela constante migração entre
uma esfera de produção e outra” (Marx, [1894] 1991, p. 275).
A produtividade aparentemente maior dos trabalhadores nos ramos de
produção intensiva em capital é uma ilusão criada pelas transferências de
valor dos ramos de produção intensivos em mão de obra. O que o capitalista
considera lucros obtidos magicamente do trabalho morto, isto é, de sua
maquinaria e outros insumos, é de fato um valor criado pelo trabalho vivo
empregado por capitalistas rivais com composições orgânicas mais baixas.
Quando os marxistas argumentam o contrário, que os trabalhadores das
indústrias intensivas em capital produzem mais valor que os das indústrias
intensivas em mão de obra, assim como opositores da teoria da dependência
aqui considerados, estão pensando em conceitos burgueses, sem importar o
quanto estejam vestidos com palavrório marxista.
Assumindo uma força de trabalho de intensidade média, e assumindo que
ela é trocada pelo mesmo salário e deixando de lado a questão da força de
trabalho qualificada ou complexa, o novo valor gerado por uma dada
quantidade de trabalho é totalmente independente da composição orgânica
do capital que o põe em movimento. Isso significa que, supondo novamente
que os dois trabalhos sejam de intensidade média e supondo que recebam o
mesmo salário, a quantidade de valor produzido em um dia de trabalho
padrão pelo chapeiro de um carrinho de lanche que fica no estacionamento
de uma fábrica de aço é a mesma que aquela produzida durante o mesmo
tempo pelo metalúrgico dentro dessa fábrica.
Para concluir esta discussão das concepções de produtividade burguesas
versus marxistas, imaginemos agora que, devido à organização sindical
superior, o metalúrgico recebe um salário maior do que o trabalhador que
produz seu almoço. Com todas as outras premissas ainda em vigor, o
trabalhador de fast-food agora suporta uma taxa mais alta de exploração.
Tudo isso deveria ser elementar para quem é versado nos princípios básicos
da lei do valor de Marx. Então por que tantos marxistas têm tanta
dificuldade de entender o que acontece quando os trabalhadores que
produzem os bens de consumo de nossos metalúrgicos não estão localizados
no estacionamento das siderúrgicas, mas em outro país? Já discutimos um
fator que contribui para isso: o fetichismo do valor agregado e as
concessões às concepções burguesas do valor que implica. Outro, a que
agora nos referimos, são os erros e omissões na grande obra de Marx.

O imperialismo e O capital de Marx


Em continuação à última passagem citada, Marx afirma:
Teoricamente parte-se do pressuposto de que as leis do modo de produção
capitalista se desenvolvam em estado de pureza. Na realidade, as coisas se
dão sempre de modo aproximado; mas a aproximação é tanto maior
quanto mais desenvolvido se encontrar o modo de produção capitalista e
quanto mais se elimina sua mescla e seu entrelaçamento com os vestígios
dos sistemas econômicos anteriores.
Em particular, Marx tratou a divergência dos salários como resultado de
fatores temporais ou contingentes que o capital e o trabalho
incessantemente móveis erodiriam com o tempo, e que poderiam excluir-se
da análise, com segurança, como deixou claro no livro III d’O capital:
Por mais importante que seja o estudo deste tipo de conflitos salariais [os
obstáculos locais que obstruem a equalização dos salários] para cada
trabalho específico, pode-se desconsiderá-los, contudo, no que se relaciona
com a investigação geral da produção capitalista, por serem casuais e
irrelevantes. (Marx, [1894], 2007, p. 656)
Sabemos agora que Marx estava errado sobre isso. Estes conflitos temporais
resultaram exatamente no contrário. No mundo imperialista atual, a
condição de igualdade entre os trabalhadores é violada profunda e
impactantemente; e a concorrência global não produziu nenhum progresso
mensurável com relação à equilização internacional dos salários reais.26 Ele
escreveu eloquentemente sobre por que o imperialismo era uma condição
necessária para o surgimento do capitalismo, mas não conseguiu prever
como a evolução imperialista do capitalismo resultaria na opressão das
nações tornando-se uma propriedade intrínseca da própria relação capital-
trabalho. Como Andy Higginbottom apontou,
A relação de trabalho assalariado não é apenas entre capital e trabalho,
mas entre capital do Norte e trabalho do Sul. Nesse sentido, a exploração
de classes e a opressão racial ou nacional são fundidas [...]. A classe
trabalhadora das nações oprimidas/Terceiro Mundo/Sul Global é
sistematicamente paga abaixo do valor da força de trabalho da classe
trabalhadora das nações opressoras/Primeiro Mundo/Norte Global. Isso
não ocorre porque a classe trabalhadora do Sul produz menos valor, mas
porque é mais oprimida e mais explorada. (Higginbottom, 2011, p. 284)
Essa é a razão fundamental pela qual O capital de Marx não contém uma
teoria da superexploração, ou (o que é a mesma coisa) uma teoria do
imperialismo; uma lacuna que não pode ser explicada exclusiva ou
principalmente por uma decisão de deixar esses assuntos para um volume
d’O capital que nunca chegou a ser escrito. Se Marx poderia ou não ter
antecipado esse estágio qualitativamente novo na evolução da relação
capital-trabalho, é uma questão que está aberta ao debate. A importância
excepcional da contribuição de Ruy Mauro Marini para a teoria marxista do
imperialismo reside, em parte, em sua observação de que, durante a vida de
Karl Marx, as importações de alimentos mais baratos e outros bens de
consumo produzidos por mão de obra superexplorada provinham das
colônias e neocolônias britânicas que ajudaram a aumentar a mais-valia
relativa na própria Grã-Bretanha, reduzindo o tempo de trabalho necessário
sem diminuir os níveis de consumo. Higginbottom ressalta que:
Marini coloca a necessidade da superexploração do trabalho da mão de
obra em meados do século XIX, isto é, antes do surgimento do
imperialismo moderno como um sistema mundial, tal como retratado por
Lenin. A transição na Inglaterra, de uma produção dominada por métodos
de mais-valia absoluta para mais-valia relativa, dependia de importações
baratas e de maior produtividade [...]. O trabalho de Marini mostra que
Marx não estava correto em todos os aspectos, mesmo em seu próprio
tempo. (Higginbottom, 2014, p. 31-32)27
Não se encontra um conceito concreto de superexploração na grande obra
de Marx, isso foi deixado para gerações futuras. Algumas geraçoes depois,
a brecha permanece e se tornou terrível. Tanto a necessidade imperiosa de
tal conceito quanto a possibilidade de sua existência é colocada pela própria
evolução do imperialismo, em particular pela proliferação de cadeias de
valor global. Seu lugar no centro de uma teoria marxista daquilo que John
Bellamy Foster chamou de imperialismo tardio (Foster, 2019) determinará
criticamente se o renascimento do marxismo, no qual repousa o futuro da
humanidade, está natimorto. Sim! É realmente tão importante!
É claro, nós temos a grande vantagem da perspectiva a posteriori. Para
mitigar Marx, se não para eximi-lo completamente, devemos recordar uma
premissa fundamental da dialética materialista: não pode haver um conceito
concreto de um sistema de interação que não seja totalmente concreto e
desenvolvido. Assim como Karl Marx não poderia ter escrito O capital
antes da forma madura e totalmente desenvolvida do capitalismo, que
surgiu com o capitalismo industrial na Inglaterra, tampouco é razoável
esperar encontrar em seus escritos – ou nos de Lenin e de outros que
escreveram no tempo do nascimento do estágio imperialista do capitalismo
– uma teoria do imperialismo capaz de explicar sua forma moderna
completamente evoluída. E Marx não apenas forneceu fundamentos
teóricos para uma teoria da forma imperialista da lei do valor, mas também
forneceu pistas e ideias copiosas que apontam nessa direção – embora os
“marxistas” que negam o imperialismo prestem tanta atenção a elas quanto
os “cristãos” de hoje o fazem sobre as palavras de Jesus com relação aos
obstáculos no caminho dos homens ricos que entram no reino dos céus.
Essa analogia é adequada – nossos marxistas negadores do imperialismo
tratam O capital como um texto sagrado, enquanto ignoram o que lhes
parece incomôdo.
No livro I d’O capital, Marx analisou em profundidade e detalhe duas
maneiras pelas quais os capitalistas se esforçam para aumentar a taxa de
exploração. Uma é prolongar a jornada de trabalho, aumentando assim a
mais-valia absoluta; e a outra é aumentar a mais-valia relativa, por meio do
aumento da produtividade dos trabalhadores que produzem bens de
consumo, reduzindo assim o tempo de trabalho necessário. Em vários
lugares, ele descreve brevemente uma terceira maneira, como no capítulo
intitulado “O conceito de mais-valia relativa”, no qual escreve:
O mais trabalho [...] somente seria obtido mediante a compressão do
salário do trabalhador abaixo do valor de sua força de trabalho. [...] Apesar
do papel importante que esse método desempenha no movimento real do
salário, ele é aqui excluído pelo pressupostos de que as mercadorias,
inclusive portanto a força de trabalho, sejam compradas e vendidas por seu
pleno valor. (Marx, [1867] 2001, p. 380-381)
Empurrar o salário do trabalhador para abaixo do valor de sua força de
trabalho, ou seja, a superexploração, de acordo com uma definição estrita,
já que pressupõe uma economia unitária e idealizada em que a força de
trabalho tem um valor único, é algo mencionado novamente dois capítulos
depois, durante uma discussão sobre as consequências para os trabalhadores
quando
a maquinaria [...] gradualmente se apodera de todo o campo da produção
[com o resultado de que] uma parte da classe trabalhadora que a
maquinaria transforma deste modo em população supérflua [...] inunda
todos os ramos industriais mais facilmente acessíveis, enche o mercado de
trabalho e, portanto, derruba o preço da força de trabalho para abaixo de
seu valor. (Marx, [1867] 2001, p. 524)
Aqui Marx está falando sobre o desemprego setorial esporádico decorrente
da mecanização de um novo ramo da indústria, mas sua relevância para a
era moderna precisa apenas ser esclarecida. Uma grande parte da classe
trabalhadora no Sul Global se tornou supérflua pela incapacidade dos
métodos de produção modernos absorverem força de trabalho suficiente
para evitar o aumento do desemprego, e isso por si só – mesmo antes de
levarmos em conta a violenta repressão à livre circulação de trabalhadores,
bem como os regimes trabalhistas mais severos e a repressão política que
prevalecem nos países de baixos salários – exerce uma força poderosa,
fazendo com que o preço de sua força de trabalho caia abaixo de seu valor.
Mesmo antes de estabelecer a conexão precisa entre o salário, o valor da
força de trabalho e a taxa de exploração, isso já constitui evidência prima
facie de que o valor da força de trabalho foi reduzido muito mais
cruelmente nas nações do Sul do que nas do Norte, a ponto de forçar um
valor permanentemente mais baixo da força de trabalho sobre esses
trabalhadores. Também é uma evidência poderosa de que as diferenças
salariais são determinadas, em grande parte, por fatores que são bastante
independentes da produtividade dos trabalhadores no ato do trabalho, tais
como a ausência de seguridade social, o desemprego estrutural e os regimes
repressivos de trabalho.
Marx não apenas deixou de lado a redução dos salários abaixo de seu valor,
mas fez uma abstração adicional que, embora necessária para sua análise
geral do capital, também deve ser relativizada se quisermos analisar o
estágio atual de desenvolvimento do capitalismo: “A diferença entre as
taxas de mais-valia em diferentes países e, portanto, entre os graus
nacionais de exploração do trabalho, é totalmente irrelevante para a
presente investigação” (Marx, K. [1894] (2007), p. 180). Assim, dois
elementos cruciais para uma teoria do imperialismo contemporâneo – as
variações internacionais no valor da força de trabalho e na taxa de
exploração – foram explicitamente excluídos por Marx de sua teoria geral,
conforme elaborada n’O capital. Anwar Shaikh estava, portanto, errado ao
afirmar que “o desenvolvimento da lei do valor n’O capital contém todos os
elementos necessários para sua extensão ao comércio internacional”
(Shaikh, 1980, p. 208).

Taxa de exploração e taxa de mais-valia


Ao longo deste ensaio, “taxa de mais-valia” tem sido utilizado como
sinônimo e termo intercambiável de “taxa de exploração”. Mas essa
identidade só se mantém em um alto nível de abstração, em outra palavras,
só se fizermos várias simplificações significativas.
Primeiro, é necessário excluir a distinção entre trabalho produtivo e
improdutivo. Todos os produtos consumidos empregados em tarefas
relacionadas com a circulção de títulos de propriedade e a proteção dos
direitos de propriedade, inclusive o trabalho vivo, são custos de produção,
gastos gerais; seus custos são assumidos pelos capitalistas na esfera da
produção, que consomem parte de sua mais-valia e reduzem seus lucros.
Estas funções, embora necessárias para a sociedade capitalista, são formas
sociais de consumo que se subtraem da massa total de riqueza (isto é, o
capital social total, a massa total dos valores de uso mercantilizados), em
contraste com os capitais na esfera da produção que são aqueles que
agregam valor.
Considerando que seguranças, funcionários de bancos, advogados e outros
trabalhadores improdutivos não produzem valor nem mais-valia, é
inapropriado falar da taxa de mais-valia nesses casos. Ainda assim, sua
jornada de trabalho ainda é dividida entre o trabalho necessário (o tempo
necessário para substituir o tempo de trabalho socialmente necessário
incorporado em sua cesta de bens de consumo, ou seja, o valor de sua força
de trabalho, “v”) – e o trabalho excedente (a quantidade pela qual sua
jornada de trabalho excede “v”). Em outras palavras, estes trabalhadores,
exceto aqueles que recebem supersalários, são explorados. Esta condição
não depende de sua força de trabalho excedente ser utilizada para tarefas de
produção ou tarefas que não são de produção, ou mesmo se o trabalho é
desperdiçado. Tarefas que não são de produção, tarefas relacionadas à
circulação de títulos de propriedade desde publicidade até finanças e
seguridade constituem uma grande parte da economia imperialista
contemporânea, reduzindo a massa de mais-valia disponível para a
redistribuição como lucro em todas as suas formas.
Segundo, a “taxa de mais-valia” se aplica apenas ao trabalho vivo
empregado por um capitalista para produzir mercadorias, seja porque ele
comprou esse trabalho vivo por um salário seja porque é proprietário do
trabalhador, como no emprego capitalista de escravos (Higginbottom,
2018). Trabalhadores autônomos não produzem mais-valia; se eles recebem
menos do que o valor de seu produto, então estão sujeitos a uma troca
desigual. Os trabalhadores empregados capitalisticamente constituem a
esmagadora maioria da população economicamente ativa nos países
imperialistas, mas isso não acontece na maioria dos países da África, Ásia e
América Latina. Como Paul Sweezy apontou,
a taxa de exploração é e sempre foi muito maior na periferia do que no
centro. No centro, a taxa de exploração é, para todos os efeitos práticos,
igual à taxa de mais-valia.28 Isso não é válido para a periferia, onde apenas
uma pequena parte da força de trabalho é empregada como assalariada na
indústria capitalista, com uma proporção muito maior sendo explorada
direta e indiretamente por proprietários, comerciantes e usurários,
principalmente no campo, mas também nas cidades e nos povoados. Aqui,
todo ou quase todo o excedente extorquido dos trabalhadores não
empregados na indústria capitalista é comercializado e torna-se
indistinguivelmente misturado com a mais-valia produzida
capitalisticamente. Nessas circunstâncias, podemos falar de uma taxa
social de exploração, mas não devemos confundir o conceito com a taxa
de mais-valia no sentido usual. (Sweezy, 1981, p. 76)
Em continuação, ele diz (em um argumento que tem muito em comum com
a tese de Marini) que a maior taxa de exploração nas nações subordinadas
permite que
as classes dominantes locais e as elites aliadas vivam em um nível
compatível com o das burguesias do centro, ao mesmo tempo que
possibilita um fluxo massivo de produto excedente monetizado (na forma
de lucros, juros, aluguéis, royalties etc.) da periferia para o centro.
Ele acrescenta, resumindo bastante em um pequeno trecho:
a contrapartida da taxa de exploração muito alta (e frequentemente
crescente) na periferia é uma taxa mais baixa (e relativamente estável no
tempo) de mais-valia no centro. Existem duas razões básicas e inter-
relacionadas para isso. Por um lado, a classe trabalhadora do centro é mais
altamente desenvolvida e está em uma melhor posição para organizar e
lutar por seus próprios interesses. Por outro lado, as burguesias do centro
aprenderam, através da experiência histórica, que uma situação que
permite que o padrão de vida do proletariado aumente ao longo do tempo
(uma taxa estável de mais-valia combinada com o aumento da
produtividade) não é apenas funcional, mas também indispensável para a
operação do sistema como um todo.
Escrito há quase quatro décadas, estas palavras resistiram ao tempo, com a
adição necessária de que esta estratégia de estabilização contém em seu
interior as sementes da instabilidade, isto é, novas contradições inerentes.

Monopólio e superexploração
Antes de nos aprofundarmos na natureza da exploração capitalista e da
superexploração imperialista, é válido considerar como essas duas
categorias estreitamente relacionadas se colocam em relação a outro
elemento constitutivo essencial do capitalismo: o monopólio. O monopólio
está inscrito no DNA do capitalismo, os capitalistas individuais não se
empenham tanto para concorrer quanto para encontrar uma maneira de
evitar a concorrência, obter uma vantagem sobre os rivais, exercitar alguma
forma de monopólio que lhes dará lucros acima da média. A lei do valor,
que em sua forma mais simples explica que as mercadorias compradas e
vendidas livremente são vendidas pelo seu valor, resulta dos esforços
incessantes dos capitalistas individuais para violar essa lei. Sua compulsão
selvagem só pode ser contida por uma força externa, daí a necessidade de
um Estado e de um sistema de leis independentes dos capitalistas
individuais e, portanto, também as tentativas incessantes de capitalistas
individuais e grupos de capitalistas de fugir destas leis ou de aparelhar o
Estado para obter uma vantagem sobre seus rivais.
O monopólio se apresenta de várias formas. Alguns dizem respeito à
produção, inovações tecnológicas que permitem que um capitalista
individual produza uma determinada mercadoria de forma mais eficiente
que outros; outras à distribuição, marca ou outras formas de monopólio no
mercado, como barreiras a novos participantes no mercado, captura do
Estado, acesso privilegiado a insumos baratos etc.); tudo isso pode ter vida
curta ou duradoura. Para cada instância de monopólio corresponde uma
renda, um rendimento não derivado do trabalho, um lucro extra pelo
monopólio à custa de lucros mais baixos para o restante. O monopólio,
portanto, redistribui a mais-valia entre os capitais, mas não agrega nada a
ela.
Isso vale mesmo para inovações tecnológicas que reduzem a quantidade de
trabalho necessária para produzir bens de consumo para os trabalhadores,
somente quando essa inovação se generaliza, ou seja, quando deixa de ser
monopolizada por um capitalista individual – em outras palavras, quando
deixa de ser uma inovação – se traduz em uma redução do valor da força de
trabalho e em um aumento correspondente na taxa de mais-valia. Somente
então, e se os trabalhadores não obtiverem nenhuma porção destes lucros
por meio de salários reais mais altos, a taxa de mais-valia aumenta.
Embora o monopólio esteja relacionado à distribuição da mais-valia, a
exploração está relacionada com sua extração. E assim como todo
capitalista sonha em se tornar um monopolista, também está no DNA de
todo capitalista procurar maneiras de maximizar a extração da mais-valia.
Como acabamos de ver, n’O capital, Marx analisa detalhadamente duas
maneiras pelas quais os capitalistas fazem isso – estendendo a jornada de
trabalho para além do “tempo de trabalho necessário”, isto é, o tempo
necessário para substituir os valores consumidos pelo trabalhador e sua
família, que Marx chamou mais-valia absoluta; e alterando a proporção
entre o tempo de trabalho necessário e o tempo excedente de trabalho em
um dia de trabalho inalterado por meio de avanços na produtividade que
barateiam os bens de consumo dos trabalhadores, que ele chamou de mais-
valia relativa. Ambas são totalmente distintas da redução do tempo de
trabalho necessário ao “empurrar salário do trabalhador abaixo do valor de
sua força de trabalho” a definição padrão de superexploração, criticada mais
adiante neste ensaio.
Resulta do exposto que a renda e a superexploração imperialistas são
conceitualmente distintas, mesmo que na realidade elas estejam
intimamente relacionadas. Samir Amin estava, portanto, errado ao
confundir os dois: “a parte visível da renda imperialista [...] surge do grau
dos preços da força de trabalho [...]. A parte submersa da renda [surge do]
acesso aos recursos do planeta” (Samir Amin, 2018, p. 110).
Agora podemos juntar os dois elementos constitutivos do capitalismo –
monopólio / concorrência e exploração / superexploração. Todo capitalista
sonha em se tornar um monopolista, mas para os capitalistas do Vietnã,
Camboja, México e outras nações do Sul, seus sonhos permanecem
somente isso, sonhos; eles não têm escolha senão depender exclusivamente
da extração da mais-valia de seus próprios trabalhadores, ao explorá-los
além dos limites, ou mais precisamente, retirar deles o que resta depois que
os monopolistas e imperialistas tenham tomado sua parte.29 Em contraste, o
capital monopolista imperialista tem a opção de compartilhar parte de suas
rendas monopolistas e rendas imperiais com seus próprios trabalhadores,
comprar a paz social e expandir o mercado de seus bens , junto com
recursos para financiar o gasto estatal com poder duro e brando, a fim de
reforçar sua dominação imperialista sobre as nações subordinadas.
Se os conceitos de mais-valia absoluta e relativa de Marx são insuficientes
para explicar as realidades da exploração nas redes de produção globais
contemporâneas, de que mais precisamos? Em poucas palavras, de um
conceito teórico de superexploração. Mas antes que possamos
conceitualizar a superexploração, precisamos de um conceito mais profundo
e rico de exploração.

A teoria marxista da exploração (I): o valor da força de trabalho


A fórmula aparentemente simples para a taxa de exploração, s/v, é – em
uma análise mais minuciosa – qualquer coisa, menos simples. O valor da
força de trabalho e o valor gerado por ela são muito mais diferentes entre si
do que normalmente se supõe. O fato de que tanto o numerador quanto o
denominador de s/v poderem ser expressos como simples números, cada um
expressando duas partes do mesmo dia de trabalho, com a taxa de
exploração dada pela simples proporção entre eles, leva muitos a esquecer o
quão extremamente diferentes são, de fato, entre si. Isso fica claro quando
fazemos duas perguntas elementares. O que determina o valor da força de
trabalho? O que determina a quantidade de valor gerado pela força de
trabalho?
Levando essas perguntas em consideração, os determinantes do valor da
força de trabalho podem ser divididos em sete elementos:
1) a fecundidade da natureza, isto é, a disponibilidade imediata de
alimentos, materiais de construção; e sua hospitalidade – a
necessidade de proteção contra os elementos etc. Por exemplo, se
o tempo para pescar um peixe aumentar, o valor da força de
trabalho que depende deles para o sustento deve aumentar se os
níveis de consumo permanecerem os mesmos;
2) a proporção de valores de uso exigidos para a reprodução da
força de trabalho que são fornecidos gratuitamente pelo trabalho
doméstico, a economia não capitalista etc.;
3) a produtividade do trabalho nos ramos da economia capitalista
que produzem os bens de consumo para os trabalhadores;
4) a incidência de superexploração nesses ramos;
5) o tamanho do chamado componente “moral e histórico” do
valor da força de trabalho, isto é, até que ponto a luta de classes e
a evolução social geral (diferentes maneiras de dizer a mesma
coisa) resultaram na incorporação de novas necessidades à
reprodução da força de trabalho;
6) o grau médio de complexidade/qualificação do trabalho em
uma economia nacional, que está intimamente relacionado à sua
estrutura produtiva, mas que também está relacionado ao
elemento “moral e histórico” mencionado anteriormente;
7) a intensidade da opressão e subjugação dos trabalhadores em
uma dada economia nacional, incluindo a ferocidade da repressão
patronal/estatal, o grau de unidade/desunião da classe
trabalhadora, a escassez estrutural ou superabundância da força de
trabalho, controles de fronteira suprimindo a livre mobilidade do
trabalho.
Cada um dos determinantes do valor da força de trabalho requer um
capítulo para si próprio, e cada um se presta à pesquisa empírica, bem como
à reflexão teórica. Aqui só temos espaço para uma breve discussão.
Nenhum desses fatores, nem mesmo o primeiro, são puramente endógenos.
Considere, por exemplo, as consequências para as centenas de milhões de
trabalhadores em todo o Sul global da pesca excessiva pelas frotas
pesqueiras imperialistas ou o impacto das mudanças climáticas provocadas
pelo imperialismo sobre a fecundidade e a hospitalidade da natureza.
O segundo fator listado, ou seja, a força do patriarcado, o tamanho da
economia não capitalista etc. é fundamentalmente uma consequência do
imperialismo. De seu “desenvolvimento do subdesenvolvimento” destaca-
se a necessidade de que a teoria do valor adote a teoria da reprodução
social, cuja negligência por parte da Economia Política marxista tem muito
a ver com a reticência desta abandonar as simplificações que Marx fez para
alcançar sua “teoria geral” do capital.
O terceiro fator passou por uma enorme transformação durante a era
neoliberal, com a realocação massiva de indústrias que produzem bens de
consumo para os trabalhadores de países de baixos salários.
O quarto fator deve ser considerado em conjunto com o terceiro, o valor da
força de trabalho é determinado não apenas pela produtividade dos
trabalhadores empregados na produção de bens de consumo, mas também
pelo grau em que são superexplorados. A produção em oficinas clandestinas
barateia estes produtos e reduz o valor da força de trabalho que depende
deles.
O quinto fator, o elemento “moral e histórico”, é determinado pela luta de
classes, e isso ocorre nos níveis nacional e internacional. O que os
trabalhadores conseguem incorporar no valor de sua força de trabalho em
qualquer país é o resultado da luta de classes global, não apenas da luta
dentro desse país em particular. Por exemplo, foi o aumento das lutas de
libertação nacional nas colônias e neocolônias britânicas, não apenas o
movimento de reforma social na própria Grã-Bretanha, que convenceu seus
governantes imperialistas a conceder assistência médica e educação
gratuitas aos trabalhadores britânicos após a Segunda Guerra Mundial. Seu
objetivo não era apenas pacificar os trabalhadores dando-lhes o que eles
queriam, mas forjar um “contrato social” com líderes dos sindicatos e do
Partido Trabalhista, e assim garantir seu apoio ativo às guerras contra os
povos insurgentes em suas colônias e neocolônias. Por outro lado, mesmo
que os trabalhadores de fora dos países imperialistas tenham sido impedidos
de usufruir desses ganhos, eles foram progressivamente incorporados ao
que todos os trabalhadores consideravam ser seus direitos, suas
prerrogativas.
O sexto fator também é uma função do desenvolvimento imperialista: nas
nações imperialistas uma proporção muito maior (embora ainda
minoritária) da classe operária funciona como mão de obra
complexa/qualificada, em comparação com o capitalismo dependente. Mas
também devemos lembrar o aviso de Marx de que em grande parte da classe
trabalhadora a distinção entre mão de obra qualificada e não qualificada se
baseia na “pura ilusão”, como descobriram, por exemplo, as mulheres que
lutam por salários iguais.
O sétimo fator, por fim, expressa o grau de opressão nacional suportado
pelos trabalhadores em uma determinada nação, ou seja, o grau em que sua
igualdade com os trabalhadores em outras partes do mundo é violada.
Argumenta-se aqui que, na era neoliberal, isso se tornou o fator mais
importante de todos e é um determinante-chave do quarto fator, cuja
importância também aumentou enormemente.
É interessante comparar esta lista de fatores que determinam o valor da
força de trabalho com uma lista fornecida por Marx:
O valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos meios de
subsistência habitualmente exigidos pelo operário médio. A massa destes
meios de subsistência, ainda que possa mudar sua forma, em uma época
determinada e em uma sociedade determinada, é dada, e, portanto, pode
ser tratada como uma magnitude constante. O que muda é o valor dessa
massa. Outros dois fatores entram na determinação do valor alcançado
pela força de trabalho. Por um lado, seus custos de desenvolvimento, que
variam de acordo com o modo de produção; por outro, sua diferença de
natureza, segundo se trate da força de trabalho masculina ou feminina,
madura ou imatura. (Marx, [1867] 2001, p. 629)
Disto podemos extrair quatro fatores; sua correspondência com os sete
fatores do valor da força de trabalho em minha lista é anotada entre
parênteses no final de cada um deles:
1) a quantidade de meios de subsistência exigida pelo trabalhador
médio (1, 5, 6);
2) o valor dessa quantidade (ou seja, a quantidade de trabalho
socialmente necessário para produzi-la) (3, 4, 7);
3) o custo do desenvolvimento da força de trabalho (ou seja, seus
custos de reprodução, incluindo os custos dos dependentes do
trabalhador) (2, 6);
4) a diversidade natural da força de trabalho (isto é, de homens e
mulheres, crianças e adultos): isso não é aplicável. Deixo de lado
a força de trabalho das crianças e contesto que haja qualquer coisa
de “natural” no valor da força de trabalho masculina e feminina.
As diferenças entre as duas listas refletem a diferença nos níveis de
abstração empregados por Marx em sua busca por uma “teoria geral” do
capital e o objetivo deste trabalho – uma teoria de valor do imperialismo; e
também refletem a evolução do capitalismo nos 150 anos desde que Marx
publicou o livro I d’O capital. É claro que muitos fatores determinam o
valor da força de trabalho e que seu peso relativo muda muito de um
período histórico para outro e de um país para outro; tudo isso sublinha por
que nosso conceito de exploração deve ser concreto, atualizado e baseado
em análises empíricas, não apenas simplesmente retirado d’O capital de
Marx e aplicado mecanicamente à realidade imperialista contemporânea,
como se as transformações do último século e meio nunca tivessem
acontecido.

A teoria marxista da exploração (II): o valor gerado pela força de


trabalho
Agora, passemos a considerar o outro elemento da fórmula da taxa de
exploração, “s”. A lei do valor baseia-se em um princípio fundamental: “o
valor que a força de trabalho produz [...] não depende do próprio valor da
força de trabalho, mas da duração de seu funcionamento” (Marx, [1867]
2001, p. 656). Além disso, como vimos anteriormente, o valor que a força
de trabalho produz em um determinado período de tempo também é
completamente independente de seu valor, de sua produtividade e da
composição orgânica do capital do qual é parte. Marx enfatizou
repetidamente o princípio fundamental em muitos lugares ao longo de sua
grande obra, por exemplo:
A jornada de trabalho de dada magnitude se representa sempre no mesmo
produto de valor, por mais que varie a produtividade do trabalho e, com
ela, a massa de produtos e portanto o preço da mercadoria singular. Se o
produto de valor de uma jornada de trabalho de 12 horas é, por exemplo, 6
xelins, ainda que a massa de valores de uso produzidos varie com a força
produtiva do trabalho e, portanto, o valor de 6 xelins se distribua entre um
número maior ou menor de mercadorias. (Marx, [1867] 2001, p. 630-631)
Que outros fatores, além da duração, entram em jogo? A intensidade do
trabalho é um deles: um trabalhador que trabalha duas vezes mais rápido
que outro produzirá o dobro do valor no mesmo tempo. Entretanto, está
longe de ser comprovado que os trabalhadores dos países imperialistas
trabalham com maior intensidade do que os dos países de baixos salários, e
inclusive a jornada de trabalho e a semana de trabalho tendem a ser muito
mais extensas em países de baixos salários. Podemos, portanto, deixar isso
de fora da nossa análise e assumir, como o próprio Marx fez na citação, que
todo trabalho vivo é gasto com a mesma intensidade.
Outro é o grau de qualificação ou habilidade, discutido anteriormente ao
refutar o argumento de Callinicos e Kidron, de que as diferenças no grau de
qualificação da força de trabalho entre os países explicam tanto as
diferenças nos salários entre eles quanto as diferenças na quantidade de
valor que geram em um determinado período de tempo. Pelas razões
expostas, isso também pode ser excluído do nosso “conceito universal
concreto” (Ilyenkov, 1960, pp. 84-88) de exploração capitalista.
Também deve-se considerar que o valor gerado pelo trabalho vivo é
determinado ex post, quando o valor dos produtos produzidos por esse
trabalho é realizado através de sua venda:
O valor de uma mercadoria não se determina pela quantidade de trabalho
realmente objetivado nela, mas pela quantidade de trabalho vivo
necessário para sua produção. Suponhamos que uma mercadoria
representa seis horas de trabalho. Se se realizam invenções graças às quais
se pode produzir em três horas, o valor da mercadoria já produzida
também cai pela metade. (Marx, [1867] 2001, 653)
Esse é um assunto importante e complexo, mas pode ser excluído com
segurança da discussão atual por dois motivos. Primeiro, embora a
determinação ex post do valor afete a taxa de mais-valia e a taxa de lucro,
ela não tem nenhum efeito sobre a taxa de exploração, uma vez que a
divisão da jornada de trabalho em força de trabalho necessária e força de
trabalho excedente não se vê afetada pelo fato de a força de trabalho estar
sendo empregada produtivamente ou não, ou se é desperdiçada ou se os
produtos produzidos por seus produtos são vendidos). Segundo, isso só
entra em jogo quando a produtividade do trabalho avança. Isso ocorrerá
mais ou menos rapidamente em diferentes ramos da produção e em
diferentes países, e está longe de ficar claro que a produtividade esteja
avançando nos países imperialistas mais rapidamente que em outras
regiões. A subcontratação da produção em países com baixos salários tem
sido uma alternativa cada vez mais difundida diante dos lucros obtidos que
o investimento doméstico em tecnologias novas e mais produtivas.
Finalmente, devemos considerar o caso especial dos trabalhadores
empregados por um capitalista individual que possui uma inovação técnica
ou tecnológica que lhe permite produzir uma mercadoria de maneira mais
eficiente, ou seja, mais barata do que o normal para esse ramo de produção
específico. Marx diz: “O trabalho cuja força produtiva é excepcional opera
como trabalho potenciado intensificado; isto é, em períodos iguais de tempo
gera valores superiores aos produzidos pela média do trabalho social do
mesmo tipo.” (Marx, 2001, p. 386). À primeira vista, isso parece
contradizer a afirmação de Marx de que o mesmo trabalho produz o mesmo
valor total, independentemente da variação da produtividade.
A contradição entre as duas afirmações de Marx é apenas aparente porque,
na primeira dessas citações, Marx se concentra nos níveis de produtividade
específicos da empresa, enquanto na segunda ele abstrai isso. As diferentes
taxas de mais-valia que Marx menciona na primeira citação tratam
exclusivamente das diferenças de produtividade entre empresas individuais
dentro de um ramo da produção de produtos idênticos, mas em diferente de
tempo de trabalho. Transpor essas diferenças de produtividade específicas
da empresa para diferenças entre setores inteiros com diferentes
composições orgânicas é um erro grave, uma leitura fundamentalmente
equivocada da teoria do valor de Marx. Contudo, é exatamente isso que os
marxistas negadores do imperialismo argumentam, pois estão muito
interessados em “provar” que trabalhadores nas indústrias mais avançadas e
intensivas em capital produzem mais valor por hora de trabalho vivo, e que,
por extensão, os trabalhadores em nações mais avançadas produzem mais
valor do que aqueles em nações subdesenvolvidas e, portanto, são
igualmente explorados.
A distribuição desigual da mais-valia é entre capitalistas “no mesmo
negócio”, isto é, que produzem os mesmos produtos. O capitalista mais
produtivo capturará uma parcela extra da mais-valia às custas dos
concorrentes cuja produtividade é menor que a média nesse ramo de
produção específico.30 Deve ficar claro que isso se aplica apenas aos capitais
individuais em concorrência direta entre si, e não implica de forma alguma
que os ramos de produção com composições orgânicas mais altas tenham
uma taxa de mais-valia mais alta do que aqueles em ramos de produção
com menores composições orgânicas. Discuto esse assunto fascinante e
importante com mais profundidade em Imperialism in the Twenty-First
Century [O imperialismo no século XXI ](Smith, 2016, p. 241-244),
concluindo da seguinte forma:
[...] supondo uma mão de obra de intensidade e complexidade médias [...]
toda a força de trabalho gasta pelos trabalhadores empregados em capitais
menos produtivos conta igualmente para o valor total, mesmo que uma
parte desproporcional dela seja capturada pelos capitalistas mais
produtivos. Os lucros extras dos capitalistas mais produtivos não derivam
de seus próprios trabalhadores mais produtivos, mas do trabalho excedente
extraído de trabalhadores empregados por capitais tecnologicamente
deficientes [...]. Assim, o valor gerado pelos trabalhadores produtivos em
um determinado período de tempo é independente de sua produtividade,
mesmo se o valor agregado capturado por seus empregadores permanecer
altamente dependente disso. Isso é tão fundamental que é preciso repetir:
um metalúrgico operando maquinaria mais sofisticada tecnologicamente
não produz mais valor de troca, simplesmente permite que seu empregador
capitalista capture uma parcela maior dele. Segue-se que a taxa de
exploração, supondo salários iguais, igual intensidade de trabalho etc., não
é maior em capitais mais produtivos do que em capitais menos produtivos,
como argumentam os críticos marxistas da teoria da dependência.
Com base nas simplificações e esclarecimentos acima, fica claro que
nenhum dos sete fatores que determinam o valor da força de trabalho
discutido anteriormente têm alguma influência no valor gerado por ela.
Mesmo se relativizarmos as simplificações e incluirmos a intensidade,
qualificação e determinação ex post do valor, fica claro que os
determinantes do numerador e do denominador na fórmula da taxa de
exploração têm muito pouco em comum entre si; que nossa pequena e
simples fórmula, s/v, é muito mais complexa do que geralmente se supõe; e
que as referências à taxa de exploração que não levam isso em consideração
de maneira apropriada se configuram como uma ciência pobre.

A teoria marxista da superexploração


No decorrer deste ensaio, vimos muitos exemplos do “constante
entrelaçamento do pagamento da força de trabalho por seu valor e abaixo de
seu valor ao longo d’O capital” (Osorio, 2018, p. 166). A maneira como
Marx colocou a questão, a “redução dos salários abaixo de seu valor”, se
ajustou à sua “análise geral do capital”, na qual assumiu uma economia
unitária única e uma concorrência perfeita entre os capitalistas e
trabalhadores, condição para que todas as mercadorias fossem vendidas
pelo seu valor,31 e para que a força de trabalho tenha um único valor.
Conceituar a superexploração no nível não do “capital em geral”, mas da
economia capitalista global contemporânea, exige uma modificação
significativa da formulação de Marx: em âmbito global, não se trata tanto
de os salários estarem acima ou abaixo do comum, de um valor único, mas
sim de que o valor da força de trabalho, e não apenas o salário, seja
rebaixado em alguns países, mas não em outros.
Em outras palavras, o crucial não é tanto se o valor da força de trabalho é
violado por sub-remuneração, mas, como enfatizado no início deste ensaio,
a vulnerabilidade da igualdade entre trabalhadores, uma violação que se
reflete em sua força de trabalho com valores diferentes. A tentativa de Katz
de “corrigir” o conceito de Marini, afirmando que a força de trabalho tem
valores diferentes dependendo de onde reside e que, por causa disso, “o
conceito de pagamento de força de trabalho abaixo de seu valor deve ser
substituído por uma remuneração menor desse recurso” (Katz, 2017, p. 10)
não nos leva a lugar algum, por duas razões. Primeiro, se aceitarmos (como
deveríamos) que o valor da força de trabalho varia amplamente entre os
diferentes países, a pergunta que deve ser respondida é por que varia tão
amplamente? Segundo, Katz argumenta que essa correção transforma a
superexploração em um fenômeno menor, não sistêmico, que é tão provável
de ser encontrado nos países “centrais” quanto na “periferia”.32 Mas isso só
pode ser verdade se concordarmos com sua afirmação de que “a magnitude
do trabalho excedente [...] é claramente maior nas economias mais
produtivas do centro” (Katz, 2017, p. 10). Isso é idêntico ao argumento
desenvolvido pelos marxistas negadores do imperialismo, discutidos
anteriormente neste ensaio, um argumento enraizado na fusão das
definições de produtividade de valor de uso e valor de troca. Em outras
palavras, nada mais do que a economia burguesa disfarçada de economia
marxista.
Como vimos, Marx excluiu repetida e explicitamente a supressão de
salários abaixo do valor da força de trabalho de sua “teoria geral” do
capital, enfatizando repetidamente a importância disso na vida real. A
redução no valor da força de trabalho ao suprimir os níveis de consumo (ou
o que equivale à mesma coisa, transferindo a produção para países onde os
níveis de consumo e, com eles, o valor da força de trabalho, são muito
menores) é uma terceira maneira distinta de aumentar a mais-valia,33 e isso
adquiriu uma enorme importância durante a era neoliberal, tornando-se a
força motriz de sua maior transformação, o meio mais importante de
aumentar a taxa de mais-valia e contrapor a tendência de queda da taxa de
lucro.
A redescoberta dessa terceira forma de mais-valia é o avanço que torna
possível aplicar os conceitos dinâmicos e científicos contidos n’O capital à
realidade imperialista concreta e foi feito por Andy Higginbottom em um
artigo de 2009 intitulado “The Third Form of Surplus Value Increase” [“A
terceira forma de aumento da mais-valia”], no qual ele se baseia no trabalho
de Marini, e o desenvolve ainda mais em uma série de artigos inovadores,
alguns deles citados neste ensaio. Em seu artigo de 2009, ele diz:
Marx analisa três formas distintas pelas quais o capital pode aumentar a
mais-valia, mas ele menciona apenas duas delas, mais-valia absoluta e
mais-valia relativa. O terceiro mecanismo, a redução dos salários abaixo
do valor da força de trabalho, Marx remete à esfera da concorrência e à
parte de sua análise.
Ele desenvolve essa ideia em artigos posteriores, em que, por exemplo,
criticando a leitura ortodoxa padrão d’O capital, afirma:
Não está claro [...] por que prolongar a jornada de trabalho [mais-valia
absoluta]; e o efeito indireto, não intencional e mediado, do aumento da
produtividade do trabalho na diminuição do valor da força de trabalho
[mais-valia relativa] pertence à natureza intrínseca do capital, enquanto
que o capital que diminui diretamente os salários não. Os três mecanismos
aumentam a taxa de mais-valia [...]. A redução direta dos salários [é]
crucial para a análise do capitalismo como imperialismo e como um
sistema mundial. (Higginbottom, 2011, p. 284)
O impulso de monopólio dos capitalistas, ou seja, o desejo de capturar
mais-valia às custas de outros capitalistas, junto ao seu desejo insaciável
por mão de obra superexplorável, se combinam para ditar a trajetória
imperialista inata e inexorável do capitalismo, o único caminho possível
que o capitalismo poderia ter tomado. Ambos os elementos, o monopólio e
a superexploração, são absolutamente essenciais ao conceito de
imperialismo; definir imperialismo unicamente em termos de monopólio é
uma análise unilateral e, portanto, falsa, e esquece a outra definição, muitas
vezes repetida, de Lenin: “a divisão das nações em opressoras e oprimidas
[é] a essência do imperialismo” (Lenin, [1915] 1964, p. 409), que hoje se
expressa na estrutura de apartheid da força de trabalho global e da
superexploração engendrada por ela.
Se é assim, por que a superexploração não está no centro do conceito de
imperialismo de Lenin, como exposto em Imperialismo, estágio superior do
capitalismo (Lenin, [1916] 1964), ao lado do monopólio?
A resposta curta é que ela está no centro, e o leitor pode encontrá-la se
procurar, mas está encoberta e por boas razões. Como argumentado
anteriormente, não é razoável que esperemos encontrar, nos escritos de
Lenin e em outros escritos no momento do nascimento do estágio
imperialista do capitalismo, uma teoria do imperialismo capaz de explicar
sua forma moderna completamente desenvolvida. Há um século, a relação
entre nações imperialistas e oprimidas era, em grande medida, uma relação
entre formações sociais capitalistas e pré-capitalistas, em flagrante contraste
com o mundo de hoje, em que as relações sociais capitalistas estabeleceram
um domínio quase total, e as relações entre nações imperialistas e oprimidas
ocorrem quase inteiramente na órbita da relação capital-trabalho. Lenin não
poderia ter incluído uma concepção de como o valor é produzido nos
processos de produção globalizados porque a ocorrência em larga escala
desse fenômeno pertence a uma fase posterior do desenvolvimento
capitalista do que aquela em que vivia. Essas circunstâncias resultaram em
uma inevitável desconexão, persistindo até os dias de hoje, entre a teoria do
imperialismo de Lenin e a teoria marxista do valor, embora não fosse
inevitável que essa desconexão persistisse até hoje; por isso não temos que
culpá-lo.
Como Lenin disse no prefácio da edição francesa e alemã de sua famosa
brochura sobre o imperialismo, “superlucros enormes” se acumulam em
“um punhado de países excepcionalmente ricos e poderosos que saqueiam o
mundo inteiro” (Lenin, [1921] 1964, p. 193). Esses superlucros surgem do
privilégio imperial, da violação monopolista da troca equitativa. Os
superlucros imperialistas podem assumir várias formas: da escravidão e
todas as outras formas vis de extorsão, roubo e ilegalidade; ou da
superexploração, na qual a troca violada é aquela que ocorre entre capital e
trabalho (mediada por empregadores diretos, burguesias nacionais etc.).
Nesse caso, a igualdade violada é a igualdade entre proletários, cuja
importância central foi enfatizada no início deste ensaio.
O desejo insaciável dos capitalistas por mão de obra superexplorável, junto
com seu desejo permanente de colher onde não semearam, de violar a
igualdade de trocas entre agentes livres, fornece o impulso para o
imperialismo, razão pela qual o imperialismo não pode ser reduzido ao
monopólio ou à maturidade/hipertrofia do capital ou a qualquer outro de
seus efeitos. A arbitragem global do trabalho, a substituição de
trabalhadores relativamente bem pagos por trabalhadores de baixos salários
nos países subordinados, a força motriz da globalização e da mudança
global de produção que caracterizou a era neoliberal, é a expressão mais
pura desse impulso.
A superexploração do trabalho assalariado desempenhou um papel menor
nos estágios iniciais do imperialismo capitalista, quando a pilhagem
imperial se manifestou na extração voraz de recursos minerais,
frequentemente com o uso de trabalho forçado, junto a diversas formas de
usura e extorsão financeiras. A troca desigual, ou seja, os termos de troca
desvantajosos e deteriorados das exportações de mercadorias primárias do
Sul (já presentes, como Marini apontou, em meados do século XIX),
alcançaram uma importância proeminente no longo período que levou à era
neoliberal; contribuiu largamente para o aumento exponencial da dívida,
que se tornou uma fonte importante e contínua de pilhagem por si só;
finalmente, a globalização da produção característica da era neoliberal
transformou o trabalho vivo na lavoura a ser cultivada e o recurso a ser
extraído. E isso, durante a era neoliberal, tornou-se a forma predominante
de pilhagem imperial.
Isso traz à mente uma ideia luminosa de Evald Ilyenkov, que está anos-luz
além das banalidades da “teoria do desenvolvimento desigual e combinado”
(que, para muitos marxistas que negam o imperialismo, serve como um
substituto insípido de uma teoria do imperialismo): “Muitas vezes [...], a
causa objetiva genuína de um fenômeno aparece na superfície do processo
histórico depois de sua própria consequência” (Ilyenkov, 1960, p. 217).

Conclusão
O impulso dos capitalistas ao monopólio, ou seja, seu desejo de capturar
mais-valia às custas de outros capitalistas, junto ao seu desejo insaciável
por trabalho superexplorável, se combinam para definir a trajetória
imperialista inata e inexorável no capitalismo. O imperialismo e a
superexploração estão, portanto, inseperavelmente ligados. Uma teoria do
imperialismo do século XXI deve explicar como a superexploração
modifica a relação de valores. Uma teoria do imperialismo que não o faça é
inútil, nula e, necessariamente, uma negação do imperialismo, mesmo se
aqueles que o negam continuem a usar “imperialismo” como um termo
descritivo.

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VASUDEVAN, R. The global class war. In: Catalyst (3)1, 2019

14
“Vemos, cotidianamente, ‘sair’ o Sol, dar uma volta à Terra, para depois
se esconder. Sabemos, não porque o vemos, mas por conhecimentos, que
não é o Sol que gira em torno da Terra, mas o contrário” (Osorio, 2019, p.
2).
15
“O que é uma hipótese para a ‘análise geral do capital’, isto é, ao nível do
modo de produção, é assumido por algumas correntes marxistas como uma
lei de ferro. Se assume com isso que hipótese deve prevalecer no
capitalismo em todos os níveis de análise, em todos os lugares e espaços e o
tempo todo” (Osorio, 2018, p. 157).
16
O outro livro criticado por Vasudevan é Amin, 2018.
17
Esta citação é da epígrafe que antecede o artigo de Vasudevan. Não está
claro se as palavras são dos editores do Catalyst ou de Vasudevan.
18
Não é minha intenção fazer uma comparação loquaz entre a opressão
imperialista e a opressão das mulheres, que em qualquer caso não pode ser
medida pelo acesso relativo a bens materiais. É verdade que as mulheres
contribuem com uma vasta quantidade de trabalho doméstico não
remunerado – mas o ponto relevante aqui é que os níveis de consumo,
acesso à saúde e educação etc. dependem muito mais da nacionalidade do
que do gênero.
19
Diz Lenin: “O movimento espontâneo da classe trabalhadora é o
sindicalismo [...], e o sindicalismo significa a escravização ideológica dos
trabalhadores pela burguesia. Portanto, nossa tarefa [...] é combater o
espontaneísmo e desviar o movimento da classe trabalhadora do
sindicalismo espontaneísta que se esforça para ficar sob o controle da
burguesia, e colocá-lo sob o controle da social-democracia revolucionária”
(Lenin, [1902] 1978, p. 50).
20
“Dependência” é um eufemismo para o imperialismo, uma concessão feita
ao desejo da burguesia nacional e “elites modernizadoras” das nações
sujeitas para o desenvolvimento capitalista independente, e para as partes
falsamente chamadas de “comunistas”, que procuravam formar um bloco
com aqueles nessa base. O termo agora passou para a história e não pode
ser reescrito, mas pode ser e está sendo preenchido com novo conteúdo
revolucionário, especialmente no renascimento vívido e em rápida expansão
do marxismo e da teoria da dependência na América Latina.
21
Callinicos voltou brevemente neste tema em seu livro: “Da perspectiva da
teoria do valor de Marx, o erro crítico [dos teóricos da dependência] é não
levar em conta a importância dos altos níveis de trabalho produtividade nas
economias avançadas” (Callinicos, 2009, p. 179-180).
22
A participação do trabalho no PIB nos países imperialistas caiu
aproximadamente 60%, enquanto o gasto em educação no Reino Unido, em
2019, consumiu 4% do PIB, ou aproximadamente 7% da receita bruta do
trabalho. Esta aproximação indica a magnitude relativa dos custos de
educação diante dos custos totais de reprodução da força de trabalho. A
“participação do trabalho” fica distorcida pelos supersalários dos CEOs das
principais empresas. Por outro lado, o gasto com educação dos
trabalhadores compõe apenas uma parte do gasto total em educação, pois a
proporção real entre eles não se distanciará de 7%. Com relação aos custos
de treinamento... a maioria dos trabalhadores não recebe treinamento.
23
Estas conquistas estão agora sob grave ameaça já que o imperialismo do
Reino Unido se afunda cada vez mais na crise e seus governantes procuram
acelerar a destruição do contrato social posterior à Segunda Guerra
Mundial.
24
Ele afirma que Marini “sempre” concordou com isso e também afirma que
“este diagnóstico é aceito também pelos defensores contemporâneos do
conceito de superexploração”. Infelizmente, ele não apoia essas afirmações
com uma única citação de qualquer uma das fontes por ele mencionadas.
25
A sentença da qual isso se derivou: “os melhores pontos em meu livro
são: 1) o caráter duplo do trabalho, segundo o modo com que é expresso em
valor de uso ou valor de troca (toda a compreensão dos fatos depende disso)
[...] 2) o tratamento da mais-valia, independentemente de suas formas
particulares, como lucro, juros, aluguel de terreno etc.”.
26
Ao contrário, a dispersão salarial internacional e intranacional aumentou
durante a era neoliberal. Se a China ficar fora da cena, há pouco evidência
de convergência salarial ou de entradas, e a hipótese de convergência fica
ainda mais débil. Durante a crise financeira mundial, quando as taxas de
crescimento nos países imperialistas ruíram, ao mesmo tempo, se produziu
um “superciclo de matérias-primas” alimentado pela especulação que
melhorou temporalmente os termos de troca e o crescimento econômico em
uma franja de nações do Sul.
27
Como apontou Amanda Latimer (2016, p. 1.142), “o trabalho de Marini
mina o mito de que a mudança para a mais-valia relativa na Inglaterra foi
inteiramente o produto da luta de classes nacional”.
28
Como em seus outros escritos, Sweezy desconsidera a distinção entre
trabalho produtivo e improdutivo, uma distinção que é sem dúvida muito
mais importante nos países imperialistas desenvolvidos do que em suas
colônias e neocolônias.
29
A China é uma exceção extremamente importante, mas ainda parcial, e é
por isso que está em rota de colisão com as potências imperialistas em
exercício, principalmente o Japão e os Estados Unidos
30
“Quando Marx afirma que as empresas que operam com uma
produtividade abaixo da média obtêm menos do lucro médio [...] tudo isso
[...] significa que o valor ou mais-valia realmente produzido por seus
trabalhadores é apropriado no mercado pelas empresas que funcionam
melhor. Isso não significa, em absoluto, que eles tenham criado menos valor
ou mais-valia do que o indicado pela quantidade de horas trabalhadas nelas”
(Mandel, 1975, p. 101).
31
Ou melhor, vender a preços que correspondam à forma modificada de seu
valor, que Marx chamou de “preços de produção”, preços consistentes com
a equalização da taxa de lucro entre diferentes capitais.
32
Com base nisso, Claudio Katz argumentou que “a teoria da dependência
não precisa de um conceito de superexploração omitido por Marx” (Katz,
2017, p. 15); Jaime Osorio respondeu que a proposta de Katz de
“reformulação da teoria marxista da dependência nada mais é do que um
chamado ao seu repúdio” (Osorio, 2018, p. 179).
33
Em A dialética da dependência, Marini argumenta: “o conceito de
superexploração não é idêntico ao de mais-valia absoluta, já que inclui
também uma modalidade de produção de mais-valia relativa – a que
corresponde ao aumento da intensidade do trabalho. Por outra parte, a
conversão do fundo de salário em fundo de acumulação de capital não
representa rigorosamente uma forma de produção de mais-valia absoluta,
posto que afeta simultaneamente os dois tempos de trabalho no interior da
jornada de trabalho, e não somente o tempo de trabalho excedente, como
ocorre com a mais-valia absoluta. Por tudo isso, a superexploração é melhor
definida pela maior exploração da força física do trabalhador, em
contraposição à exploração resultante do aumento de sua produtividade, e
tende normalmente a se expressar no fato de que a força de trabalho se
remunera abaixo de seu valor real (Marini, 1973, p. 93). Citado conforme a
edição brasileira “Sobre a dialética da dependência”. In: Stedile, J. P;
Traspadini, R. Ruy Mauro Marini: vida e obra. São Paulo: Expressão
Popular, 2011.

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