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TEORIA GERAL DA

ADMINISTRAÇÃO I

Ligia Maria Fonseca Affonso


Desafio para a
Administração em um
ambiente global
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o significado de empresa global e sua atuação.


 Apontar as vantagens competitivas que devem ser alcançadas nas
empresas para que alcancem o nível de global.
 Demonstrar como a combinação de elementos das vantagens com-
petitivas pode favorecer a melhoria do desempenho empresarial.

Introdução
A globalização não só influenciou a vida das sociedades, como também
o mundo organizacional e as formas de administrar. As mudanças aconte-
cem de forma cada vez mais rápida, gerando novas necessidades, fazendo
com que as organizações se tornem mais complexas e sem fronteiras
e dependam cada vez mais de uma administração de qualidade que
garanta seu crescimento e sucesso no mercado.
Neste capítulo, você verá o que é uma empresa global e como ela
atua. Saberá quais vantagens competitivas são necessárias para que as
empresas alcancem o nível global e como a combinação de elementos
das vantagens competitivas pode contribuir para a melhoria do desem-
penho empresarial.

Empresa global e sua atuação


Antes de abordarmos as empresas globais, é importante que falemos um pouco
sobre a globalização e seus efeitos. Além de integrar mercados, a comunicação
e os transportes, a globalização influenciou e continua influenciando a vida
2 Desafio para a Administração em um ambiente global

nas sociedades, em todo o mundo, incluindo aspectos políticos, econômicos,


sociais e culturais. Com ela, os mercados se ampliaram e, consequentemente,
a concorrência aumentou e está cada vez mais acirrada (Figura 1). Os consu-
midores estão mais criteriosos e exigentes; novas tecnologias surgem a cada
momento, tornando-se obsoletas rapidamente, e as sociedades exigem das
empresas comprometimento com a ética e responsabilidade social e ambien-
tal, colocando um grande desafio nas mãos dos administradores (SOBRAL;
PECI, 2013).

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Figura 1. A globalização une os países, colocando-os em estreito contato.


Fonte: Stuart Miles/Shutterstock.com.

A globalização trouxe benefícios, como o livre comércio de mercadorias,


o aumento do fluxo da informação e o livre fluxo de capital. No entanto, ela
também possui um lado negativo e as consequências disso são a diminuição
da soberania dos países, a velocidade da globalização diferente em cada país, o
empobrecimento cultural, os riscos da padronização e o livre fluxo de recursos
financeiros, dependendo das circunstâncias.
Há uma preocupação em relação aos países emergentes quanto aos im-
pactos negativos que a globalização pode causar na taxa de crescimento, na
Desafio para a Administração em um ambiente global 3

estabilidade macroeconômica, na distribuição internacional de renda e na


governabilidade nacional (CAMPOS, 1999). Apesar desses impactos negativos,
ela é considerada benéfica e um evento inevitável. Campos (1999) afirma que
resistir à globalização de mercados é perder eficiência, dificultar o crescimento,
o comércio internacional e a capacidade de absorver investimentos. Ele afirma,
ainda, que conviver com o sistema financeiro internacional é inevitável, pois
até mesmo empresas exclusivamente nacionais fazem parte de uma economia
mundial e são influenciadas pelas variações da cotação de sua moeda e de
outras. Isso quer dizer que, mesmo as empresas que não realizam operações
de compra e venda fora do país, sofrem influências abruptas da moeda, o que
demonstra que todos os países estão interligados (Figura 2).

Figura 2. A globalização é um evento inevitável e que possibilita interligações


dos países.
Fonte: Vasin Lee/Shutterstock.com.

Desta forma, é necessário que as empresas revejam suas estratégias e


valores. É preciso saber administrá-las sob uma visão global para aproveitar
suas vantagens, minimizando riscos e prejuízos. Ao se instalarem em outras
regiões ou países, as empresas devem considerar o mercado, a cultura, os cos-
tumes locais e outros aspectos, como se fossem empresas locais (LACOMBE;
HEILBORN, 2008).
4 Desafio para a Administração em um ambiente global

Empresas globais são grandes corporações com sede em determinado país


e que buscam outros países em desenvolvimento ou continentes para construir
suas filiais, ou seja, são empresas que operam em diversos países ao mesmo
tempo e descentralizam suas operações. O que isso quer dizer? Que parte de
seus produtos, peças e componentes são fabricados em diversos países e a
montagem dos produtos finais também é realizada em países e/ou continentes
diferentes, com o intuito de aproveitar as vantagens oferecidas por cada região.
Empresas globais planejam, operam e coordenam suas atividades em nível
mundial. Os caminhões da Ford, por exemplo, têm sua cabine fabricada na
Europa, chassi norte-americano, são montados no Brasil e exportados para
os Estados Unidos. Os elevadores da OTIS têm suas portas fabricadas na
França, as pequenas engrenagens fabricadas na Espanha, o sistema eletrônico
fabricado na Alemanha, o motor no Japão e a integração dos sistemas nos
Estados Unidos (FLEMING; LOPES, 2002 apud KOTLER; KELLER, 2006).

A Marcopolo é um exemplo de empresa brasileira que atua no mercado global. Ela


possui quatro fábricas no Brasil e sete no exterior: China, Egito, África do Sul, Argen-
tina, México, Colômbia e Índia. Produz suas carrocerias nos diversos países, fabrica
componentes, adquire acessórios e desenvolve política de alianças com fabricantes
locais de chassis (MUSSI, 2014).

Quer saber quais foram as empresas globais mais susten-


táveis de 2015? Leia o artigo “As 100 maiores empresas
globais mais sustentáveis em 2015” (BARBOSA, 2015).

https://goo.gl/Q36sj6
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Vantagens competitivas para o alcance


do nível global
Cada vez mais empresas se internacionalizam, deslocando-se para as mais
variadas regiões do globo terrestre. Neste centro de globalização, as empresas
buscam, aos poucos, além de aumentar sua participação em locais onde já
atuam, ingressar em novos mercados. Internacionalizar uma empresa signi-
fica torná-la global, buscando novos mercados e novas culturas, produzindo
ou sendo representada em outros países (SUEN; KIMURA, 1997; MUSSI,
2014) e, no contexto atual, internacionalizar tem deixado de ser uma opção
de competitividade para assumir-se como uma questão de sobrevivência no
mercado (AMR CONSULT. ADREGO & ASSOCIADOS, 2017).
É importante ressaltar que a internacionalização não se refere apenas ao ato
de exportar produtos ou serviços, mas também o de adquirir uma estratégia
operacional sustentável para criar valor em relacionamentos econômicos per-
manentes com o exterior, seja por meio de parcerias estratégicas com empresas
locais, contratos com agentes distribuidores, criação ou aquisição de unidade
produtiva local (AMR CONSULT ADREGO & ASSOCIADOS, 2017).
Veja alguns meios de internacionalizar uma empresa:

 investimento direto no exterior;


 aquisição de empresas;
 instalação de plantas, subsidiárias ou filiais;
 fusões;
 participação acionária;
 parcerias e associações para montagem, fabricação e distribuição de
produtos importados no mercado escolhido;
 franchising: licenciamento para usar determinada marca;
 transferência de tecnologia;
 exportação direta e indireta;
 associação/aliança estratégica com empresas estrangeiras.

Empresas brasileiras que se internacionalizaram: Petrobras, Vale, Gerdau, Odebrecht,


Camargo Corrêa, Embraer, Marcopolo, Brasil Foods e Marfrig (MUSSI, 2014).
6 Desafio para a Administração em um ambiente global

Você sabe o que é competitividade? É a capacidade que a empresa possui de


elaborar e implementar estratégias que lhe permitam ampliar ou conservar, de
forma duradoura, sua sustentabilidade no mercado frente à concorrência (FERRAZ
et al., 1995). E vantagem competitiva, você sabe o que é? São muitas as definições
sobre vantagem competitiva que vêm sendo construídas ao longo do tempo por
vários estudiosos. Interessante é que todas se intercalam e se contradizem.
Vamos considerar aqui duas definições: vantagem competitiva é o conjunto
de atributos da empresa e de seus produtos e serviços que influenciam a
decisão do cliente. É a razão pela qual os consumidores preferem um produto
ou serviço em vez de outro (MAXIMIANO, 2012). Porter (1985) considera
que vantagem competitiva é o resultado do valor que a empresa cria para seus
clientes em oposição ao custo que tem para criá-la. Dessa forma, a elaboração
de uma estratégia competitiva é essencial para a empresa criar uma posição
única e valiosa.
A vantagem competitiva pode ser alcançada por meio das estratégias de
diferenciação de produtos e serviços, cultura organizacional, inovação, efici-
ência, liderança de custos, eficácia operacional, informação, conhecimento,
tecnologia, qualidade, preço, relacionamento com clientes, flexibilidade,
posicionamento da marca, entre outros.
Ainda podem funcionar como estratégias competitivas a exportação direta
e indireta; o licenciamento (contrato que dá direito ao uso de uma marca,
processo ou patente); a associação ou aliança estratégica com empresas es-
trangeiras; o franchising e a instalação de subsidiária ou unidade de produção
própria (MUSSI, 2014).
É importante ter em mente que se tornar uma empresa global não é tão
simples. Apesar de muitos benefícios, alguns fatores podem dificultar este
processo, como fatores históricos, culturais e estruturais; as diferenciações das
moedas; o idioma, entre outros (MAIA, 2003), enfraquecendo os elementos
de vantagem competitiva. Por isso, é preciso ter cuidado com alguns aspectos,
como (MINERVINI, 2008):

 Obstáculos legais e administrativos: os produtos ou serviços da empresa


devem obedecer às regras e à legislação vigente no país em que pretende
operar. Além disso, é necessário obter licenças específicas e regular-se
pelos regimes fiscais de cada país.
 Adaptação do produto ao tipo de mercado: os produtos ou serviços, se
necessário, devem ser adaptados às necessidades e cultura do mercado
onde pretendem operar. Tal adaptação pode representar um aumento
nos custos da empresa.
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 Especificidades dos produtos: alguns produtos exigem certo cuidado ao


serem exportados devido ao transporte de longa distância. Em alguns
casos, a exportação só é possível se o produto for produzido perto dos
locais de onde será comercializado, o que aumenta significativamente
os custos de entrada no mercado.
 Necessidade da contratação de funcionários especializados: para operar
no mercado internacional é preciso ter conhecimento sobre o mesmo, de
modo a obter os melhores resultados. Dessa forma, às vezes, a empresa
precisa contratar funcionários que saibam trabalhar e se articular no
meio externo.

As barreiras apresentadas dificultam o processo de internacionalização,


mas não impedem que as empresas se internacionalizem. No entanto, todas
elas incorrem em custos para a empresa.
Cabe lembrar que o desconhecimento das características do mercado
externo, como por exemplo, a concorrência, pode colocar tudo a perder. A
concorrência internacional é extremamente forte, e as empresas nacionais
certamente irão encontrar outras empresas já consolidadas e que possuem
como forte vantagem um relacionamento comercial com o exterior, mais
profundo, consolidado e integrado.

Patente é um documento formal expedido por uma repartição pública, por meio do
qual se conferem e se reconhecem direitos de propriedade e uso exclusivo para uma
invenção descrita amplamente. Quer saber mais? Leia o texto “Propriedade intelectual:
definição de patente” (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 2017).

Vantagens competitivas na melhoria do


desempenho empresarial
A melhor forma de uma empresa concorrer no mercado estrangeiro é aperfei-
çoando continuamente seus produtos nacionais e sua expansão nos mercados
internacionais, pois, no setor global, as posições estratégicas dos concorrentes são
influenciadas por todas as suas posições globais gerais (PORTER, 1980) (Figura 3).
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Competição
entre empresas

Figura 3. A competição entre empresas é uma forma de medir forças e descobrir


qual é a melhor organização – ou a que faz mais sucesso no seu ramo.
Fonte: hvostik/Shutterstock.com.

A exportação é a forma natural de se envolver com o mercado internacional,


e geralmente as empresas iniciam essas atividades de forma indireta, por meio
de agentes de exportação, cooperativas ou empresas de gestão de exportações,
que cobram por isso. A vantagem desse tipo de exportação é que ela exige
menor investimento, uma vez que a empresa não precisa criar um departamento
de exportação e nem equipes de venda ou contatos no mercado internacional.
A outra vantagem é que a empresa corre menor risco de cometer erros, uma
vez que os intermediários já agregam know-how e serviços de relacionamento
com o mercado. A exportação direta, por sua vez, envolve maior investimento
e, consequentemente, maiores riscos. No entanto, o retorno também é maior
(KOTLER; KELLER, 2006).
Além de ser um meio de poder avaliar o mercado antes de optar pela
construção de uma fábrica e produzir a mercadoria no exterior, a expor-
tação é uma estratégia de vantagem competitiva, uma vez que permite à
empresa diversificar seu mercado de atuação, ampliando sua carteira de
clientes, e não dependendo de um único mercado; aumenta sua produ-
tividade e, consequentemente, o poder de negociação para a compra de
matéria-prima, reduzindo seu custo e o custo da fabricação das merca-
dorias, o que a torna mais competitiva e com maior margem de lucro. A
Desafio para a Administração em um ambiente global 9

exportação permite também a melhoria da qualidade do produto, pois uma


vez que necessita adaptá-lo às exigências do mercado externo, a empresa
tem que aperfeiçoá-lo; diminui a carga tributária, pois pode compensar o
recolhimento dos impostos internos como o IPI, ICMS, COFINS, PIS e
o IOF, e melhora a empresa como um todo, pois quando ela exporta, cria
novos modelos gerenciais, novas tecnologias, qualifica sua mão-de-obra,
melhora sua imagem junto aos stakeholders (KOTLER; KELLER, 2006;
OLIVEIRA, 2013).

Os stakeholders “são todos os grupos de pessoas impactadas pelas ações da sua em-
presa, desde os acionistas, funcionários, fornecedores, clientes até o governo e demais
envolvidos” (ENDEAVOR BRASIL, 2015).

A aliança é uma união entre duas ou mais empresas que possuem inte-
resses em comum. Aqui, as empresas se ajudam e compartilham habilidades
e riscos para atingirem seu objetivo. As empresas que se unem em aliança
conseguem aproveitar as oportunidades e neutralizar as ameaças; auxiliam-
-se na melhoria do desempenho da empresa, melhorando suas operações;
estimulam a criação de um ambiente competitivo e facilitam a entrada ou a
saída de uma empresa de novos mercados ou setores e criam valor econômico.
Veja outras formas de as alianças estratégicas criarem valor econômico
(BARNEY, 2010, p. 253):

1. Explorando economias de escala; 2. Aprendendo com os concorrentes; 3.


Gerenciando o risco e compartilhando os custos; 4. Criando um ambiente com-
petitivo favorável a um desempenho superior; 5. Facilitando o desenvolvimento
de padrões tecnológicos; 6. Facilitando o conluio tácito; 7. Facilitando a entrada
ou a saída; 8. Entrada de baixo custo em novos setores e novos segmentos de
setor; 9. Saída de baixo custo em novos setores e novos segmentos de setor;
10. Gerenciando a incerteza; 11. Entrada de baixo custo em novos mercados.

Cabe destacar que as alianças podem ser realizadas entre empresas com
fornecedores ou distribuidores, entre competidores do mesmo país ou de ou-
tros, e entre empresas de negócios distintos que operam em diferentes países
(LACOMBE; HEILBORN, 2008).
10 Desafio para a Administração em um ambiente global

O licenciamento permite a uma empresa utilizar o processo de fabricação,


a marca, a patente, os segredos comerciais e outros itens de valor, em troca
de pagamento de taxas ou royalties. O licenciamento ainda pode ocorrer na
fabricação por contrato, onde a empresa contrata organizações locais para
fabricar seus produtos e tem a chance de iniciar suas atividades no exterior
com maior rapidez e menor risco, e com possibilidade de formar uma parceria
com o fabricante local ou comprá-lo posteriormente. Por meio da franquia,
forma mais completa de licenciamento, o franqueador oferece o conceito da
marca e o sistema operacional, e o franqueado faz um investimento inicial e
paga determinada quantia ao franqueador. O McDonald’s entrou em muitos
países por meio de concessão de franquias (KOTLER; KELLER, 2006).
Uma ótima estratégia para o licenciador fazer com que o licenciado dependa
continuamente dele é inovando constantemente.
A instalação de subsidiárias próprias no exterior demanda grande inves-
timento, envolve maiores riscos, mas oferece à empresa controle total das
operações no exterior. Tal instalação pode acontecer por meio da aquisição de
uma planta no país ou da fusão de duas empresas ( joint venture). Além dos
ganhos com o controle total da produção e negociação direta com os players
locais, as subsidiárias propiciam a criação de vantagens competitivas por
meio do ganho na qualidade e prazo da produção e com o conhecimento do
mercado local. Como isso acontece? Quando um novo produto, processo ou
modelo de gestão é criado por uma subsidiária, esse conhecimento é repas-
sado para a matriz ou outras filiais, gerando diferenciais competitivos para
a organização (ARGOTE; INGRAM, 2000; CANABAL; WHITE III, 2008;
MORSCHETT et al., 2010; FORTE; MOREIRA, 2007 apud MACHADO;
BAUER, 2014).

Você sabe o que significa o termo joint venture? É a união de investidores locais para
criar um empreendimento conjunto, onde possam dividir o controle e a propriedade
(KOTLER; KELLER, 2006).
Desafio para a Administração em um ambiente global 11

A instalação de unidade de produção no exterior requer alto investi-


mento, conhecimento profundo da legislação e normas que regem o país ou a
região, a adaptação do produto ao tipo de mercado e à cultura, a contratação
de funcionários especializados em operação no mercado internacional e
a adaptação interna da empresa em relação aos recursos e capacidades.
Por outro lado, ao instalar-se em outro país, a empresa ganha com acesso
a fatores de produção de baixo custo, como abundância de matéria prima,
mão de obra local mais barata, tecnologia. Esses fatores geram vantagem
competitiva em relação aos concorrentes, uma vez que há uma redução
nos custos de produção e também nos custos de transporte. A entrada
de novos clientes fora do mercado doméstico também gera vantagem
competitiva, aumentando o faturamento da empresa (BARNEY, 2010). A
vantagem competitiva é potencializada se o empreendimento se instalar
em locais com grande concentração de empresas de alta tecnologia ou de
fornecedores locais.

A Coca-Cola e a Nestlé se juntaram para desenvolver o mercado internacional de chá


e café instantâneos (KOTLER; KELLER, 2006).

A vantagem competitiva por meio da diferenciação de produtos e servi-


ços, segundo Porter (1985), é oferecer um produto ou serviço que agregue
valor ao cliente; oferecer exatamente aquilo que o cliente necessita, sem
mais, nem menos; trabalhar com preços que aumentam sua lucratividade;
compreender todos os custos envolvidos e, principalmente, criar um diferen-
cial que seja difícil de ser imitado. Na forma mais básica, diferenciação se
refere aos atributos do produto que o distingue do produto dos concorrentes,
tornando-o único, ou seja, para que seja bem-sucedida, a diferenciação deve
ser exclusiva, isto é, os atributos distintivos devem ser difíceis de copiar
(KOTLER; KELLER, 2006).
12 Desafio para a Administração em um ambiente global

Veja um exemplo de diferencial competitivo: a Otis desenvolveu um elevador inte-


ligente onde você digita o andar desejado em um painel central. O painel informa
qual elevador irá levá-lo ao andar desejado. Após deixá-lo no andar solicitado, ele
retorna rapidamente ao andar térreo. Essa mudança permite que você chegue ao
andar desejado com maior rapidez e que não tenha de esperá-lo por muito tempo.
Essa mudança nos elevadores foi benéfica para os construtores, pois, como os prédios
precisam de menos elevadores, o espaço é aproveitado para acomodar as pessoas em
vez de serem utilizados para transportá-las (KOTLER; KELLER, 2006).

A competitividade está relacionada à capacidade de desenvolver pro-


cessos sistemáticos para encontrar novas oportunidades com a superação
de barreiras por meio de conhecimentos, buscando a excelência no desem-
penho, eficiência técnica e meios de garantir a capacidade de inovação das
empresas. Nesse sentido, inovar refere-se à criação de algo que ainda não
existe ou realizar mudanças que alterem o status atual de produtos, serviços,
tecnologias, processos e organizações. Cabe ressaltar que o processo de
inovação acontece por meio da combinação de conhecimento, criatividade
e empreendedorismo. Juntos, esses três elementos contribuem para a efe-
tivação e prática da inovação, estratégia pela qual as empresas têm como
foco o desempenho econômico e a criação de valor. É importante lembrar
que, em um sistema de produção em crescente evolução, a capacidade de
inovar torna-se mais importante do que a capacidade de racionalizar, ou
seja, a eficácia é mais importante que a eficiência (FREITAS FILHO, 2013;
LACOMBE; HEILBORN, 2008).
O conhecimento é um elemento essencial para as organizações, e muitas
vezes toma uma importância maior do que os recursos financeiros. É um valioso
instrumento de vantagem competitiva. A capacidade que uma empresa tem
de aprender contribui para a geração de ideias e disseminação das mesmas,
causando impacto significativo. Quanto mais fácil e rápido o conhecimento
transita pela empresa, mais ela se diferencia das demais (LACOMBE; HEIL-
BORN, 2008).
Desafio para a Administração em um ambiente global 13

A informação atua como elemento de vantagem competitiva, uma vez que,


a partir dela, as decisões estratégicas podem ser tomadas com maior grau
de confiança e menores riscos. Mas é preciso ter cuidado ao selecionar tais
informações e sua procedência, principalmente com o maior fluxo e quantidade
de informações que circulam no mundo todo o tempo.
As vantagens competitivas alcançadas por meio da tecnologia se referem,
não somente às automatizações de processos administrativos e de produção,
como seu uso combinado à informação, comunicação interna e externa, co-
nhecimento, inovação, relacionamento com clientes, eficácia operacional,
qualidade, preço e posicionamento da marca. A tecnologia da informação,
por exemplo, tem sua importância não apenas na utilização operacional das
informações como, cada vez mais, torna-se essencial para a tomada de decisões
estratégicas das empresas (BALARINE, 2002).
É importante ter em mente que uma empresa global deve pensar globalmente
e atuar localmente, de modo a desenvolver vantagem competitiva nos produtos/
serviços com padrões globalizados. Outra preocupação deve ser a de desenvolver
a capacidade de prever as necessidades e expectativas dos clientes e implementar
produtos/serviços capazes de satisfazê-las e, se possível, antecipá-las.
Desenvolver estratégias para aproveitar as vantagens das políticas governa-
mentais e neutralizar as suas desvantagens é fundamental para reduzir os riscos
e as incertezas, bem como atuar como organizações de aprendizado contínuo
(learning organizations), capazes de desenvolver práticas permanentemente
inovadoras, seja em seus processos, seus produtos, seus serviços, na gestão,
nos relacionamentos, etc.

Você sabe o que significa o termo learning organizations (organizações que aprendem)?
Para saber mais sobre o assunto, leia o livro “A quinta disciplina” (SENGE, 2009).
14 Desafio para a Administração em um ambiente global

Manter a equipe de trabalho atualizada e sempre disposta a aprender e


desenvolver vantagens competitivas que agreguem valor aos produtos/serviços
capazes de assegurar a atratividade e a posição de mercado (market share) e sua
competitividade são outras estratégias preciosas nos mercados interno e externo.

Market Share é a participação de uma empresa no mercado, é a fatia de mercado que


ela possui (EGESTOR, 2017).

Conhecer as necessidades e as expectativas dos clientes, ter indicadores de


desempenho que revelem a posição da organização em relação à concorrência,
medir permanentemente as margens de contribuição do produto/serviço, canais
de distribuição e clientes, fazer as análises absolutas (quanto está ganhando) e
relativa em relação à concorrência (quanto poderia estar ganhando), também
fazem parte do cenário empresarial.
Após a leitura atenta de todo o tema tratado, é possível concluir que ser uma
empresa global e adotar estratégias combinadas capazes de gerar vantagem
competitiva contribui para a melhoria do desempenho global da empresa,
proporciona maior estabilidade nos resultados econômicos e financeiros,
proporciona maior economia de escala e de escopo, torna a empresa menos
dependente do mercado doméstico, a empresa ganha expertise e conhecimento
em tecnologia e, quanto maior a empresa, melhores são os resultados em
termos de valorização de mercado (FUNDAÇÃO DOM CABRAL, 2002).

A economia de escala é obtida quando o aumento da produção reduz o custo médio


do produto. A economia de escopo é quando o custo total de uma empresa para
produzir um ou mais produtos/serviços em conjunto com outra empresa é menor
do que se essas empresas produzissem os mesmos produtos separadamente. Leia o
artigo “Economias de escala e de escopo: desmistificando alguns aspectos da transição”
(SZWARCFITER; DALCOL, 1997).
Desafio para a Administração em um ambiente global 15

Leia o artigo “Vantagens competitivas sustentáveis: um estudo exploratório do setor


de telefonia móvel brasileiro” sobre vantagem competitiva (FELIPE; BOAVENTURA;
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alguns aspectos da transição. Produção, Belo Horizonte, v. 17, n. 2, p. 1l7-129, nov.
1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prod/v7n2/v7n2a01>. Acesso em:
04 dez. 2017.

Leitura recomendada
PORTER, E. M. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior.
Rio de Janeiro: Campus, 1989.

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