Você está na página 1de 3

Análise do poema

Mudam se os tempos, mudam-se as vontades


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.As esperanças não são correspondidas
« Continuamente vemos novidades / diferentes em tudo da esperança; »
O bem é quase inexistente
« e do bem (se algum houve) as saudades »

Contínuamente vemos novidades,


diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


outra mudança faz de mor espanto:
que não se muda já como soía.

Tema: mudança.
Assunto: todas as coisas que estão em constante mudança.

Análise formal

O poema de Luís Vaz de Camões, "Mudam-se os tempos, mudam se as vontades", está escrito de acordo
com a lírica clássica, sendo um soneto. O soneto quanto à estrutura poética é constituído por 4 estrofes,
em que as duas primeiras estrofes são quadras, e as outras duas estrofes são tercetos e os seus versos
têm dez sílabas métricas, ou seja, são versos decassilábicos. Neste soneto, a rima é interpolada,
emparelhadas e cruzada, sendo o esquema rimático da primeira e segunda quadra: abba/abba; e o
esquema rimático do primeiro e segundo terceto: cdc/dcd.

Análise de conteúdo

O poema tem como principal tema a mudança, sendo que o sujeito poético refere as mudanças que vão
acontecendo.
Na 1ª quadra, o sujeito poético refere que as pessoas mudam como por exemplo em relação á
personalidade, aos interesses e aos sentimentos e que, por isso, a confiança em si próprio e nos outros
também muda. Assim podemos ver que na primeira quadra o sujeito poético apresenta a ideia que vai
desenvolver, que é a mudança. A iniciar a segunda quadra, o advérbio "Contínuamente" reforça esta
ideia de que a mudança constante do mundo não se controla e que as mudanças são, normalmente,
para pior, ou seja, as mudanças, a acontecerem são sempre diferentes do que se esperava, as más, ficam
as mágoas na memória e as boas, ficam as saudades. Assim podemos ver que na segunda quadra, o
poeta desenvolve a ideia apresentada na primeira quadra.
Nos tercetos verifica-se a seguinte oposição: na Natureza, tudo se renova, mas no Homem as mudanças
são irreversíveis, sem retorno. Após a descrição de uma série de mudanças ocorridas numa realidade ao
nível dos sentimentos, podemos verificar que existe uma alteração a nível físico, que ocorre na Natureza,
e que sendo inicialmente para melhor, é depois classificada como tendo sido para pior. No 2° terceto, 1°
verso, retoma-se a ideia desta mudança contínua e incontornável já expressa pelo advérbio da 2ª
quadra, “Contínuamente”. O sujeito fica espantado, pelo facto de já não reconhecer o que vai mudando,
porque até a própria mudança está a mudar. Podemos ver que no primeiro terceto, o poeta confirma, de
modo concreto, o desenvolvimento das ideias: a mudança que se efetua na natureza como no seu
espírito; já no segundo terceto e última estrofe, faz a síntese do tema, ou seja, a conclusão, acabando
com a noção de que a mudança mais surpreendente é a de que já não se muda como era costume, isto
é, a mudança da própria mudança.
Todas as coisas estão em constante alteração, mas existem principalmente dois aspetos que incomodam
o sujeito: as mudanças da sua vida não acompanharem o caráter cíclico das que que ocorrem na
Natureza e o facto de a própria mudança mudar. Numa fase triste da sua vida, o sujeito poético
encontra-se desiludido com a mudança dos tempos, como revela no verso "do mal ficam as mágoas na
lembrança, / e só bem (se algum houve) as saudades." e das pessoas, como revela o verso "muda-se o
ser mudam-se a confiança", ou seja, para o eu lírico o que teve mais valor para ele, o que prevaleceu
mais foram os momentos mais negativos da vida, pois o tempo levou a sua esperança.

Principais estados de espírito do autor: - desilusão:


- saudade;
-mágoa;

Ao longo do soneto, o poeta, refere que "muda-se o ser; muda-se a confiança e todo o mundo é
composto de mudança". O poeta faz isto para mostrar uma objeção entre o tempo da natureza e o
tempo humano. O sujeito poético mostra-se desiludido com a vida, referindo que o ciclo da natureza
volta sempre à fase inicial enquanto diz que a sua vida só muda para pior, com isto o poeta demonstra
que está num momento baixo da sua vida, mostrando sentimentos maus a cada verso, por exemplo: “O
tempo cobre o chão de verde manto, / que já coberto foi de neve fria, / e enfim, converte em choro o
doce canto.”

Mudanças que se verificam ao longo do poema

Mudam-se os hábitos e as ideias variam em conformidade com a época em que se vive


« Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades »
À medida que as pessoas vão envelhecendo e vão adquirindo maior experiência, vai-se mudando a
perspetiva da vida
« muda-se o ser, muda-se a confiança »
A natureza muda
« O tempo cobre o chão de verde manto / que já coberto foi de neve fria »
O estado espírito do poeta muda
« e, em mim, converte em choro o doce espanto »
A própria mudança muda
« que não se muda já como soía

Consequências da mudança
Várias coisas atingem novas qualidades
« todo o mundo é composto de mudança / tomando sempre novas qualidades »
Coisas novas aparecem
« Contínuamente vemos novidades / diferentes em tudo da esperança: »
O mal que sofremos ficam na memória
« do mal, nicam as magoas da lembrança »
Saudades dos momentos bons
« e do bem (se algum houve) as saudades »

As coisas mudam para pior

As esperanças não são correspondidas


« Continuamente vemos novidades / diferentes em tudo da esperança; »
O bem é quase inexistente
« e do bem (se algum houve) as saudades »

Análise estilística

Na primeira quadra do poema encontram-se duas anáforas.


A primeira encontra-se no primeiro verso “mudam-se/mudam-se” e no segundo verso está a segunda
anáfora “muda-se/muda-se”. Este recurso expressivo tem como objetivo realçar a mudança já que este é
o tema deste poema.
No primeiro e no segundo verso do primeiro terceto está uma antítese, (“verde manto/neve fria”) e esta
é utilizada para dar exemplos de mudanças que ocorrem na Natureza, o “verde manto” caracteriza a
primavera e “neve fria” o inverno.
No quarto verso do mesmo terceto está outra antítese (“choro/doce canto”) e é usado pelo poeta para
exprimir uma ideia contraditória em relação aos seus sentimentos. Com “choro” o poeta refere-se á
tristeza e “doce canto” á felicidade que sente em relação a estas mudanças.

Conclusão

Concluímos que a noção de que a mudança mais surpreendente é a de que já não se muda como era
costume, ou seja, a mudança da própria mudança.

trabalho realizado por: Madalena Valentim, Natacha Lopes e Sofia Samokh 11G

Você também pode gostar