Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
A adoção dos princípios da reforma psiquiátrica como diretrizes orientadoras das políticas
públicas de saúde mental no Brasil resultou do reconhecimento formal de que não era mais possível
aceitar a sobrevivência dos manicômios, entidades anacrônicas, resquícios de concepções
ideológicas que orientaram a assistência aos doentes em séculos passados e que, na era moderna,
representavam um inaceitável desrespeito aos mais elementares direitos das pessoas. A extinção do
anacronismo e do desrespeito aos direitos das pessoas com sofrimento mental exige ações
planejadas e coordenadas entre todas as instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde (SUS) para
a implantação de rede de atenção com potência para resolver, em ambiente ambulatorial e
comunitário, as necessidades coletivas no campo da saúde mental, com qualidade e acessibilidade,
dignidade e preservação dos vínculos familiares e sociais dos doentes.
DIRETRIZES
1. Garantir o direito à saúde com base nos princípios do SUS (universalidade, integralidade e
equidade).
2. Adotar os princípios da hierarquização, regionalização e descentralização para organização
dos serviços.
3. Adotar os princípios da reforma psiquiátrica.
4. Adotar práticas respeitosas aos direitos das pessoas em todos os atos e momentos de atenção
à saúde aos doentes e a seus familiares.
5. Adotar práticas de gestão colegiada, com espaços de construção coletiva das equipes dos
serviços, e implantação de instâncias de deliberação para o conjunto de serviços de saúde
mental dos municípios e das regiões.
6. Atuar em harmonia com as instâncias do controle social do SUS.
7. Adotar o conceito de rede de atenção e incluir nessa rede todos os serviços de saúde
existentes no território do município, com foco na linha de cuidado dos portadores de saúde
mental;
8. Definir para cada serviço atribuições e responsabilidades compatíveis com seu grau de
competência e de complexidade para atenção em saúde mental.
9. Priorizar a integração dos serviços de saúde mental à rede abrangente de atenção à saúde da
população e recusar a segregação desses serviços e dos pacientes por eles atendidos,
trabalhando para romper com o isolamento no contexto assistencial e social dos municípios
e das regiões.
10. Integrar os serviços de saúde mental dos municípios ao ambiente regional, e estabelecer
mecanismos de apoio mútuo, de cooperação técnica e atividades de educação permanente
dos trabalhadores, articulando os serviços do conjunto de municípios da região e com os de
gestão estadual.
11. Adotar, como instrumento de gestão, protocolos assistenciais, metas qualitativas e
quantitativas para acompanhamento dos pacientes e, quando necessário, correção de rumos
para aperfeiçoamento dos meios de acesso, dos fluxos para garantia de cuidado em rede.
1. Atenção Básica (AB): constituída pelo conjunto de Unidades Básicas de Saúde (UBS),
Unidades de Saúde da Família, Equipes de Saúde da Família e a parte do Pronto
Atendimento responsável por responder à demanda de casos agudos e de baixa
complexidade clínica. Cabe à AB, como porta de entrada preferencial da rede de assistência
do SUS, identificar situações que representem alterações das funções psíquicas, classificar
seu grau de risco, adotar as primeiras medidas assistenciais (diagnóstico, orientações,
terapêuticas compatíveis com o grau de organização do serviço), referenciar, quando
necessário, para serviço da rede local de atenção psicossocial, ou para atendimento de
urgência, quando houver risco imediato para integridade física ou psíquica do paciente, e
manter o seguimento do paciente em cooperação com o serviço de saúde mental para o qual
ele foi referenciado, na perspectiva da integralidade da assistência.
2. Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF): constituídos por equipe interdisciplinar com
objetivos de prover apoio matricial a Equipes de Saúde da Família de um território
determinado e de participar da linha de cuidado e Projeto Terapêutico Singular de
pacientes, sob-responsabilidade da equipe de AB.
3. Atendimento de Urgência e Emergência: constituído pela parte do Pronto Atendimento que
responde à demanda de situações de risco mediato ou imediato para a integridade física ou
psíquica do paciente (cfe Resolução SMS 9/2011 – “Regimento Interno do Pronto
Atendimento”, Anexo I), as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
4. Cabe às instâncias que integram a rede de urgência e emergência do município realizar a
primeira abordagem ao paciente em risco, por intermédio de diagnóstico clínico e adoção
de medidas terapêuticas, classificar o risco e orientadas, onde houver, pela Central
Municipal de Regulação de Urgência, destinar o paciente para o serviço mais adequado
para responder pela continuidade dos cuidados, conforme protocolo de fluxo de
atendimento de pacientes psiquiátricos.
5. Equipamentos especializados em atenção a portadores de transtornos mentais, constituídos
por:
a. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): (I, II, III, Infantil, Álcool e Drogas) com as
atribuições de prestar assistência nos moldes preconizados pela Portaria 336/02, com
oferta de tratamento intensivo, semi-intensivo ou internação breve (CAPS III) e com
recurso a estratégia multiprofissional integrada. Os CAPS devem operar em constante
integração com os ambulatórios de especialidades, tanto os municipais quanto os
regionais, para garantia de linhas de cuidado em conformidade com os casos.
b. Serviço de Residências Terapêuticas (SRT): com a atribuição de oferecer suporte social
e material para reintegração de pessoas oriundas de internações crônicas em instituições
manicomiais e que perderam vínculos familiares e sociais.
c. Enfermarias hospitalares: com a atribuição de garantir tratamento em regime de
internação para pacientes em situação de risco clínico ou psíquico decorrente da doença
psiquiátrica de que são portadores.
d. Assistência Farmacêutica (AF): com padronização de lista de medicamentos específicos
para uso em portadores de distúrbios das funções psíquicas e farmácias nas Unidades
Especializadas, com pessoal qualificado para a dispensação e orientação aos pacientes.
e. Grupos de Economia Solidária: constituídos por usuários dos serviços e técnicos,
apoiados pela gestão local, com o objetivo de desenvolver projetos e ações que
viabilizem a sustentabilidade financeira e a inserção comunitária e social.
A organização dos serviços e dos processos de trabalho das unidades integrantes da rede de
atenção psicossocial subordina-se aos princípios da Política Nacional de Saúde Mental e das
regulamentações legais e sub-legais que a regem. Destaca-se neste tópico um conjunto mínimo de
fundamentos e diretrizes, a saber:
Ao tempo em que há competências específicas de cada ente, há também aquelas que são
comuns às três esferas e que quando não assumidas plenamente e permanentemente põem em risco
o equilíbrio e a continuidade da rede, de suas ações, serviços e equipamentos. O desenho das redes e
a partilha de responsabilidades e competências devem ser cuidadosamente estabelecidos e
consolidados nas instâncias interfederativas de pactuação e gestão, as Comissões Intergestores
Regionais (CIRs), a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e a Comissão Intergestores Tripartite
(CIT). Não se admitem arranjos adotados em pactuações externas às instâncias colegiadas de
gestão, sem a imprescindível deliberação e homologação consensual de todos os integrantes destes
colegiados.
com a realidade local e loco- regional. Se há, por exemplo, viabilidade em implantar, como
único componente da rede, um CAPS I em um município pequeno, e articulá-lo à rede
assistencial local (ESF) mais ampla e aos demais equipamentos da rede psicossocial regional
(serviços de residências terapêuticas, CAPS AD, CAPS III, leitos em hospitais gerais
existentes em outros municípios da região), é absolutamente inviável implantar, no mesmo
município, serviço que dependa do suporte direto de outros equipamentos ou para o qual não
haja dimensão demográfica ou epidemiológica que o justifique (CAPS III em município
com menos de cem mil habitantes, SRT em município sem CAPS, etc.)
6. O financiamento suficiente e regular para a continuidade da atenção, compartilhado de
modo eqüitativo entre os três entes federativos, adotando o critério de 50% de participação
da União, 25% do estado e 25% do município. O formato adotado hoje para o financiamento
da RAPS no estado de São Paulo é incapaz de prover a sustentabilidade da rede, mesmo em
curto prazo, inviabilizando-a em perspectivas cronológicas mais amplas. Os valores de
investimento e de custeio de origem federal são insuficientes, sobrecarregando os
municípios de maneira insustentável, e comprometendo a ampliação da RAPS. Como
método de transição da atual situação de desequilíbrio do financiamento, extremamente
prejudicial e injusta para os municípios, o que se espera é que o estado participe de maneira
permanente do custeio e futuramente atinja valores iguais aos da União.
Atenciosamente,