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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

AGRAVO REGIMENTAL NA PRESTAÇÃO DE CONTAS N° 131 6-25.


2012.6.00.0000— CLASSE 25— BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

Relator: Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto


Embargante: Partido Prôressista (PP) - Nãcional
Advogados: Herman Ted Barbosa - OAB: 10001/DE e outros

ELEIÇÕES 2012. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


PRETENSÃO INFRINGENTE. DECISUM
MONOCRÁTICO. RECEBIMENTO. AGRAVO
REGIMENTAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS DE
CAMPANHA. DIRETÓRIO NACIONAL. PARTIDO
PRÕGRESSISTA. RECIBOS ELEITORAIS. AUSÊNCIA.
BENEFICIÁRIOS. DOAÇÕES. EXTRATOS BANCÁRIOS.
NÃÕ IÕENTIFICAÇÃO. ART. 21 DA RES.-TSE
N° 23.376/2012. OFENSA. DESPROVIMENTO.
Embora. o art. .1.022 do CPC disponha sobre a
possibilidade de oposição de aclaratorios contra qualquer
decisão judicial, inclusive as monocraticamente
proferidas, facultando-se ao relator o exame individual,
nos termos do art. 1.024, § 31, do mesmo diploma legal,
os embargos declaratórios serão conhecidos como
agravo interno se a pretensão for nitidamente modificativa
e o recurso não preencher os requisitos próprios da via
então eleita. Precedentes.
In casu, a. unidade técnica esclarece que não forarn
apresentados os recibos eleitorais e não foram
identificados os beneficiarios das doações, por meio dos
extratos bancários, o que impossibilitou aferir os
destinatarios dos recursos doados pelo diretorio nacional
no importe de R$ 253.100,00 (duzentos e cinquenta e três
mil e cem reais) oriundos do' Fundo Partidário.
O art. 21 da Res.-TSE n° 23.376/20 12 determina que,
quando realizadas doações do Fundo Partidário para
candidatos nas Eleições de 2012, esses valores devem
estar. contabilmente escriturados a fim de se possibilitar a
identificação do destinatário dos recursos ou o seu
beneficiário.

AgR-PC n° 1316-25.2012.6.00.0000/DF 2

4. Embargos de declaração recebidos como agravo


regimental, ao qual se nega provimento

AgR-PC n° 1316-25.2012.6.00.0000/DF 3

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO


NETO: Senhor Presidente, trata-se de embargos de declaração opostos pelo
Partido Progressista (PP) - Nacional contra a decisão de fis. 1266-1283, pela
qual aprovei, com ressalvas, as contas da grei partidária, relativas à campanha
eleitoral de 2012, nos termos do art. 51, II, da Res.-TSE n° 23.376/2012,
e determinéi à agremiação que devolvesse ao Erário o valor de R$ 253.100,00
(duzentos e cinquenta e três mil e cem reais), mediante recursos próprios e
devidamente atualizado.

Contra a decisão monocrática, o partido opôs embargos de


declaração por entender que a decisão objurgada apresenta vício de omissão,
porquanto deixou de se manifestar sobre a responsabilidade do doador quanto
à emissão de recibos eleitorais, visto que não seria possível emiti-los antes de
efetivada a própria doação.

Aduz ainda que a decisão é omissa quanto à ausência de


manifestação do Parquet sobre a Informação n° 155/2017 (fls. 1223-1264), fato
que afronta o disposft no art. 50 da Res.-TSE n° 23.376/2012.

Pugna, assim, pelo provimento dos embargos com efeitos


infringentes para que se afastem as omissões citadas e, consequentemente,
seja removida a determinação de ressarcimento ao Erário no valor de
R$ 253.100,00 (duzentos e cinquenta e três mil e cem reais).

É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO


NETO (relator): Senhor Presidente, recebo os presentes embargos

P1
AgR-PC n° 1316-25.2012.6.00.0000/DF 4

declaratórios como agravo regimental, haja vista terem sido opostos contra
decisão monocrática e com pretensão infringente (art. 1.024, § 30, do CPC).
Inicialmente, não há falar em nulidade processual em virtude da
ausência de intimação do Ministério Público Eleitoral para manifestação sobre
a última informação da Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias
(Asepa) de fls. 1223-1264, uma vez que referido exame pela unidade técnica
foi determinado por discricionariedade deste relator, quando os autos já se
encontravam conclusos para' julgamento, após percorrido todo o trâmite
processual regularmente, tendo o Parquet sido devidamenté intimado nos
autos para manifestação anteriormente, no momento processual oportuno.
Na aludida Informação de n° 155/2017, apenas foram
esclarecidas questões sobre irregularidades já apontadas anteriormente e que
este relator julgou pertinente para a formação de sua convicção.
Superada essa questão preliminar, no mérito, melhor sorte não
socorre ao partido agravante, não sendo possível modificar o entendimento
exarado na decisão monocrática. Para melhor elucidação, transcrevo o
decisum naquilo que interessa:

A Asepa apontou, ainda, impropriedade na prestação de contas no


valor de R$ 472.703,00 (quatrocentos e setenta e dois mil,
setecentos e três reais), referente à ausência de apresentação
dos correspondentes recibos eleitorais. Porém, a unidade
técnica identificou os beneficiários das doações por meio dos
extratos bancários encaminhados pela instituição financeira.
Essa ocorrência, segundo sua classificação no contexto das falhas
verificadas no processo de análise das contas eleitorais, é
considerada impropriedade que demonstra o descumprimento de
obrigação de natureza eleitoral, porém, não compromete,
isoladamente, a regularidade das contas prestadas, reclamando tão
só as ressalvas de praxe.
Desse modo, considerando tratar-se de mera impropriedade que
não compromete, isoladamente, a regularidade das contas
prestadas, haja vista que foram efetivamente identificados os
beneficiários das doações, adoto a manifestação da Asepa
nesse ponto tão somente para fazer as ressalvas de praxe.
Quanto à irregularidade na aplicação de recursos no montante de
R$ 409.032,50 (quatrocentos e nove mil e trinta e dois reais e
cinquenta centavos), a unidade técnica esclarece que não foram
apresentados os recibos eleitorais e não foram identificados os
beneficiários das doações, por meio dos extratos bancários, o

AgR-PC no 1316-25.2012.6 .00.0000/DE 5

que impossibilitou aferir os destinatários dos recursos doados


pelo diretório nacional.
Deste total, R$ 253.100,00 (duzentos e cinquenta e três mil e cem
reais) são provenientes do Fundo Partidário, aí incluído o valor de
R$ 9.000,00 (nove mil reais), referente ao item 42 da Informação
n° 155/2017, e R$ 155.932,50 (cento e cinquenta e cinco mil,
novecentos e trinta e dois reais e cinquenta centavos) referentes a
outros recursos.
No ponto, importa destacar que a Res.-TSE n° 23.376/2012 exige
que para toda e qualquer doação ou arrecadação deve ser
emitido o respectivo recibo eleitoral. É o que preconiza o inciso IV
do art. 20, art. 40, 24 e 26 desse instrumento normativo.
Conforme bem observado pela unidade técnica, não foi possível
sanar a ausência desses recibos eleitorais, pois não se mostrou
factível o batimento das doações e a identificação dos seus
beneficiários, com as informações contidas nos extratos
bancários, o que impõe'o ressarcimento ao Erário do montante
de R$ 253.100,00 (duzentos e cinquenta e três mil e cem reais)
provenientes do Fundo Partidário, mediante recursos próprios e
devidamente atualizado, nos termos do que determina
o art. 52, parágrafo único da Res.-TSE n° 23.376/201 21.
Quanto ao tema, o entendimento dessa Corte Superior é no
sentido de que as irregularidades pela não emissão de recibos
eleitorais, em tese, são insanáveis e ensejam a desaprovação
das contas. Vejam-se os seguintes precedentes:
PRÈSTAçÃO DE CONTAS DE CAMPANHA. VEREADOR.
RECIBOS ELEITORAIS E EXTRATOS BANCÁRIOS.
AUSÊNCIA.

Segundo a jurisprudência do TSE, a ausência de emissão


de recibos eleitorais e a não apresentação de extratos
bancários para aferir a integralidade da movimentação
financeira da campanha comprometem a regularidade das
contas, o que enseja, em tese, a sua desaprovação.
Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgR-Al n° 496-32/MT, ReI. Mm. Henrique Neves,
DJe 13.10.2014)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


PRESTAÇÃO DE CONTAS DE PARTIDO. ELEIÇÕES DE
2012.

1
Art. 52. A decisão que julgar as contas dos candidatos eleitos será publicada até 8 dias antes da diplomação
(Lei n° 9.504/97, art. 30, § 10).
Parágrafo ÚnICO: Na hipótese de gastos irregulares de recursos do Fundo Partidário ou da ausência de sua

(Redação dada pela Resolução n°23.382/2012)


AgR-PC no 1316-25.2012.6.00.0000IDF

Se o Tribunal de origem, soberano na análise de fatos e


provas, entendeu que as falhas detectadas - divergência
quanto aos nomes dos fornecedores constantes da
prestação de contas e da base de dados da Receita Federal,
não apresentação de extratos bancários, e não
apresentação de recibos éleitorais referentes a gastos de
campanha - são graves e impediram o efetivo controle da
regularidade da movimentação financeira da campanha, a
revisão de tal conclusão demandaria o reexame do contexto
fático-probatório, providência vedada em sede extraordinária, a
teor das Súmulas 279 do Supremo Tribunal Federal e 7 do
Superior Tribunal de Justiça.
"A ausência de emissão de recibos eleitórais e a não
apresentação de extratos bancários para aferir a integralidade
da movimentação financeira da campanha comprometem a
regularidade das contas, o que enseja, em tese, a sua
desaprovação" (AgR-Al n° 49632, reI. Mm. Henrique Neves da
Silva, DJede 13.10.2014).
Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgR-Al n° 850-79/GO, ReI. Mm. Henrique Neves da Silva,
DJe 7.8.201 5)
Contudo, a irregularidade em questão, no valor de R$ 409.032,50
(quatrocentos e nove mil e trinta e dois reais e cinquenta
centavos); corresponde a um percentual de 1,75% (um vírgula
setenta e cinco por cento) do total das despesas realizadas em
campanha no montante de R$ 23.431.651,33 (vinte e três
milhões, quatrocentos e trinta e um mil reais e trinta e três
centavos).
Constata-se, portanto, que o referido percentual
mostra-se irrisório no contexto da campanha e não tem o
condão de atrair a desaprovação das aludidas contas.
Nessa linha, a jurisprudência deste Tribunal tem decidido pela
aplicabilidade dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, nos processos de prestação de contas, quando
verificadas falhas que correspondem a percentual ínfimo e, por
conseguinte, não inviabilizam o seu efetivo controle pela Justiça
Eleitoral. Cito, a propósito, os seguintes julgados:
ELEIÇÕES 2010. RECURSO ESPECIAL. DESAPROVAÇÃO.
PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CAMPANHA. INCIDÊNCIA
DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. PERCENTUAL ÍNFIMO EM RELAÇÃO AO
TOTAL DE GASTOS. RECURSO PROVIDO.
1. O valor irrisório das falhas apontadas - no percentual
de 1,95% do total de recursos despendidos - permite a
aprovação das contas com ressalvas, tendo em conta os
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
Precedentes.
2. Recurso especial provido para aprovar as contas com
ressalvas.

AgR-PC no 1316-25.2012.6.00.0000/DF 7

(REspe n° 2207-64/TO, Rei. Mm. Dias Toffoli,


DJe de 11.2.2014 - grifei)

Recurso especial. Prestação de Contas de Campanha.


Aprovação com ressalvas.
Embora tenha sido constatada, na prestação de contas do
candidato, a existência de doação referente à confecção de
material gráfico que não adveio da atividade econômica
desenvolvida pelo doador, o Tribunal de origem assentoU que
essa irregularidade não afetou a transparência da contabilidade
de campanha do candidato, que declarou e comprovou
devidamente as receitas arrecadadas, as quais totalizaram
ínfimo valor.
A conclusão do Tribunal de origem está de acordo com
a jurisprudência desta Corte, no sentido de que as contas
devem ser aprovadas com ressalvas caso os vícios
identificados não comprometam a análise da sua
regularidade.
Agravo regimental a que se nega provimento
(AgR-REspe n° 9163-81/CE, ReI. Mm. Henrique Neves da
Silva, DJe de 2.10.2013 - grifei)
De to-dá forma, oportuno ressaltar que as contas prestadas a esta
Justiça Especializàda seguem rito padrão para todas as agremiações
e se resumem nas informações apresentadas pelo Partido Político,
consubstanciadas em receitas do Fundo Partidário, de doações e de
contribuições de pessoas físicas e jurídicas (ainda possível nas
eleições de 2012), receitas financeiras, sobras de campanhas,
comprovantes de despesas e outras receitas.
Assim, deve ficar evidenciado que a Justiça Eleitoral, por meio do
seu órgão técnico, analisa as contas partidárias a partir dos dados
apresentados e realiza as circularizações que se mostram
necessárias, tudo isso, sem prejuízo de eventuais ilícitos civis e
penais que porventura venham a ser identificados e apurados pelos
demais órgãos de controle e investigação.
Nesse contexto, cumpre consignar que o entendimento aqui exarado
encontra amparo, única e exclusivamente, nas informações que
constam dos autos. Outras irregularidades daí decorrentes devem
ser apuradas nos meios próprios e pelos órgãos competentes.
Ante' o exposto, aprovo, com ressalvas, as contas do Partido
Progressista (PP) - Nacional, relativas à campanha eleitoral de
2012, nos termos do art. 51, II, da Res.-TSE n° 23.376/2012,
e determino à agremiação que devolva ao Erário o valor
de R$ 253.100,00 (duzentos e cinquenta e três mil e cem reais),
mediante recursos próprios e devidamente atualizado.
(FIs. 1278-1283 - grifei)

Nas razões do agravo regimental, o partido não apresenta


nenhum argumento que se sobreponha aos fundamentos lançados na decisão
AgR-PC n° 1316-25.2012.6.00.0000IDF 8

impugnada, na qual foram devidamente enfrentadas as teses suscitadas pelo


agravante.

Conforme delineado na decisão atacada, não foram


identificados pelo órgão técnico os beneficiários das doações feitas
às campanhas eleitorais de 2012, posto que, nos autos da prestação de
contas, o partido não apresentou os recibos eleitorais, como exige
art. 26 da Res.-TSE n° 23.376/20122, tampouco foi possível identificar os
candidatos beneficiários nos extratos bancários apresentados.

Ademais, é cediço que aos partidos políticos é permitido aplicar


recursos do FundÕ Partidário nas campanhas eleitorais do seús
correligionários. Porém, o uso desses recursos em campanha deve estar
efetivamente evidenciado nos autos da prestação de contas, dentro do que
determina a legislação de regência.

Nesse sentido, o art. 21 da Res.-TSE n° 23.376/2012


determina que, quando realizadas doações do Fundo Partidário para
candidatos, esses valorés devem estar contabilmente escriturados a fim de se
possibilitar a identificação do destinatário dos recursos ou do seu bêneficiário.

Desse modo, não assiste razão ao partido agravante quando


alega não ser sua a responsabilidade pela emissão dos referidos recibos das
doações realizadas. Isso porque não é a referida responsabilidade qüe ensejou
apontamento da irregularidade em tela, mas o fato de não ter sido
demonstrado, nos autos da prestação de contas, a identificação dos
beneficiários das apontadas doações, o que era de responsabilidade do
partido agravante, nos termos do que determina o já mencionado art. 21 da
Res.-TSE n°23.376/2012.

Assim, não havendo documento capaz de comprovar os


destinatários dos valores doados às campanhas eleitorais, deve ser mantida a

2
Res.-TSE n° 23.376/2012

Art. 26. As doações entre candidatos, comités financeiros e partidos políticos deverão ser realizadas mediante recibo
eleitoral e não estãó sujeitas aos limites fixados nos incisos 1 e li do art. 25 desta resolução.
Res-TSE n° 23.376/2012

Art. 21. Os partidos políticos, em todos os níveis de direção, poderão aplicar nas campanhas eleitorais os recursos do
Fundo Partidário, inclusive de exercícios anteriores, por meio de doações a candidatos, e a comitês financeiros,
devendo manter escrituração contábil que identifique o destinatário dos recursos ou o seu beneficiário.
AgR-PC n° 1316-25.2012.6.00.0000IDF 9

determinação de devolução ao Erárk, da importância de R$ 253.100,00


(duzentos e cinquenta e três mil e cem reais), mediánte recursos próprios e
devidamente atualizada.

Ante o exposto, recebo os embargos de declaração como


agravo regimental e nego-lhe provimento.

É como voto.
AgR-PC n° 131625.2012.6.00.0000IDF 10

EXTRATO DA ATA

ED-PC n° 131625.2012.6.00.0000/DF. Relátor: Ministro


Tarcisio Vieira de Carvalho Neto Embargante Partido Progressista (PP) -
Nacional (Advogados Herman Ted Barbosa - OAB I0001IDF e outros)

Decisão O Tribunal, por unanimidade, recebeu os embargos


de declaração como agravo regimental e negou-lhe provimento, nos termos do
voto do relator

compos;ção Minisfros Luiz Fux(no exercic,o da Fresid'ência),


Rosa Weber, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Admar Gonzaga e
Tarõisio Vieira de Carvalho Neto. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Gilmar
Mendes.

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